Claudemar Silva: Olá, muito boa noite a todos. Senhoras e Senhores, Hélia Carla. Hélia Carla: E agora, Claudemar? A teologia acabou? "Permita que eu feche os meus olhos, pois é muito longe e tão tarde! Pensei que era apenas demora, e cantando pusme a esperar-te. Permita que agora emudeça: Há uma doce luz no silencio e a dor é de origem divina. Permita que eu volte o meu rosto para um céu maior que este mundo, e aprenda a ser dócil no sonho como as estrelas no seu rumo", como me ensinou Lispector. Mas se o tempo é de “ainda não”, então que nos ajude Cora: “se temos de esperar, que seja para colher a semente boa que lançamos hoje no solo da vida. Se for para semear, então que seja para produzir milhões de sorrisos, de solidariedade e amizade”. Claudemar Silva. A teologia não acabou, cara Hélia! Agora é que se inicia. E o nosso discurso sobre Deus só será compreensível e relevante se a pauta necessariamente passar pelo Ser Humano. Afinal, um bom teólogo é antes um exímio antropólogo. Para falar bem de Deus é preciso entender de gente. E para compreendê-lo, é preciso ir a cada homem em particular, pois o excesso de gente, como dizia Quintana, “impede de ver as pessoas”. Mas de que mundo, de que homem e de que Deus o teólogo se propõe falar? O homem é o objeto de estudo por excelência do teólogo. É para o homem de hoje que falamos, retrabalhamos conceitos e ressignificamos dogmas e doutrinas. O mundo, por sua vez, é este que está aí, dado a nós como dom, como oferta generosa do amor gratuito de Deus. Mas é também aquele outro que está por ser construído. É tarefa. De fato, o mundo, assim como o ser humano, é algo a ser construído. Hélia Carla: O mundo, o homem; e Deus? A ousadia que nos arrogamos só não é maior por que, como cristãos, temos em Jesus o revelador por excelência de Deus. Ele nos explica as escrituras e nos diz quem é Deus e quem é o Ser Humano na sua inteireza e na sua mais profunda verdade. Diante dessa missão que se avizinha, é preciso alargar o coração: que ele seja do tamanho de Deus! Nossos barcos já estão preparados e nossa rota mais ou menos traçada. Que esperar então? É hora de partir, companheiros! É hora de singrar os mares longínquos que nos esperam. Mas, ninguém é só barco; somos também mares e rios: ao passo que vamos, somos também percorridos. Deixemos que nos fale o poeta. Deixemos que João Cabral nos diga e nos conclame ao mar: Claudemar Silva: “Quando um rio corta, corta-se de vez o discurso-rio que ele fazia; cortado, a água se quebra em pedaços, em poços de água, em água paralítica. Em situação de poço, a água equivale a uma palavra em situação dicionária: isolada, estanque no poço dela mesma, e porque assim estanque, estancada; e mais: porque assim estancada, muda, e muda porque com nenhuma comunica, porque cortou-se a sintaxe desse rio, o fio de água por que ele discorria. O curso de um rio, seu discurso-rio, chega raramente a se reatar de vez; um rio precisa de muito fio de água para refazer o fio antigo que o fez; um rio precisa de muita água em fios para que todos os poços se enfrasem: se reatando, de um para outro poço, em frases curtas, então frase e frase, até a sentença-rio do discurso único em que se tem voz a seca ele combate”. Hélia Carla: E lembremo-nos: O que verdadeiramente somos é aquilo que o Impossível cria em nós. Que saibamos esperar o inesperado e aguardar o inalcançável. Claudemar Silva: E Que Ele, no fim de tudo, nos livre da pretensão de pensar possui-lo e que falemos mais com Ele do que dELe. Avante, amigos! O tempo da missão chegou! Ambos: Felicidade, sucesso e... corações ao alto.