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Revista Brasileira de Geografia Física 01 (2011) 161-173
Revista Brasileira de
Geografia Física
ISSN:1984-2295
Homepage: www.ufpe.br/rbgfe
A Formação de Dolinas em Áreas Urbanas: o Caso do Bairro de Cruz das
Armas em João Pessoa-PB
Max Furrier 1, Saulo Roberto de Oliveira Vital 2
1
Professor Adjunto do Departamento de Geociências da Universidade Federal da Paraíba. E-mail: [email protected]
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco. E-mail:
[email protected]
2
Artigo recebido em 16/11/2010 e aceito em 01/02/2011
RESUMO
Evidências de dolinas são bastante comuns na cidade de João Pessoa-PB, mas ainda pouco estudadas. As dolinas são
consideradas depressões fechadas, circulares, associadas a rebaixamento topográfico coadjuvado por fenômenos
cársticos de sub-superfície, caracterizando um carste inumado. Assim como as encostas e os vales entalhados, as dolinas
também são alvo da intensa ocupação nas cidades por parte da camada social menos favorecida, tendo em vista, serem
áreas bastante deprimidas e susceptíveis a enchentes. A partir de então, esta pesquisa tem como objetivo, identificar os
principais fatores de predisposição do terreno para criação de relevo do tipo carste, exclusivamente as dolinas e os
riscos associados. Para isso, foram levantados dados sobre o embasamento geológico a partir do mapa geológico do
Estado da Paraíba, e informações sobre a morfologia do terreno, coletadas a partir do radar SRTM (Shuttle Radar
Topography Mission), além das observações de campo. Como produto, obteve-se os Modelos Digitais do Terreno, por
meio dos quais se tornou possível realçar as evidências de subsidência do relevo local, corroborado pelas informações
sobre a geologia local, marcada por uma intensa interação dinâmica entre as Formações Barreiras e Gramame (Subbacia Sedimentar Alhandra). Concluiu-se que os planos de falha existentes nos calcários da Formação Gramame
contribuem de forma conspícua para percolação da água nessa formação, perfazendo uma reação química capaz de
dissolver o calcário, rebaixando a Formação Barreiras que se encontra sobreposta, dando origem a depressões
circulares.
Palavras-Chave: Dolinas, Formação Gramame, Formação Barreiras, João Pessoa.
The Formation of Dolines in Urban Areas: The Case of Cruz das Armas in João
Pessoa-PB
ABSTRACT
Evidence of dolines are much common in João Pessoa, the capital of the state of Paraíba, but they are still poorly
studied. The dolines are considered to be closed and circled depressions, associated to a topographic smoothing assisted
by subsurface karstic phenomenons, characterizing an inhumed karst. As well as the slopes and the carved valleys, the
dolines are also intensively occupied in the city by people who are less favoured, what represents a serious problem
considering that these are depressed areas and susceptible to flooding. The research aims to verify the major factors of
the terrain susceptibility to the karst features formation, exclusively the dolines, and the associated risks. In view of this
objective, the geological basement data were gathered from the geological map of the State of Paraíba and the terrain
morphological information were collected from the SRTM radar (Shuttle Radar Topography Mission), besides the
observations of the fieldwork developed. As result, the Digital Terrain Models were achieved enabling to present the
evidences of the local subsidence features, corroborated by the information about the local geography marked by a
intense dynamic interaction between Barreiras and Gramame Formation (Alhandra Sedimentary Sub-Basin). The
analysis showed that the failed plans presented in the limestones of the Gramame Formation contribute evidently to the
percolation of water on this formation totalizing a chemical reaction able to dissolve the limestone, lowering the
superposed Barreiras Formation, what give rise to circular depressions.
Key-Words: Dolines, Gramame Formation, Barreiras Formation, João Pessoa.
* E-mail para correspondência: [email protected]
(Furrier, M.).
Furrier, M.; Vital, S. R. O.
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bastante solúvel (Kohler, 2007).
1. Introdução
De acordo com Oliveira (1997) o carste
O constante contato entre a água e estas
é caracterizado como uma zona potencial de
rochas produz diversas aberturas que podem
riscos geotécnicos, à medida que a ocupação
se manifestar através de formas endocársticas
desordenada pode acelerar o processo de
e exocársticas. Exemplos típicos de formas
colapso e subsidência do solo urbano. Este
endocársticas são as cavernas. As formas
tipo de modelado se desenvolve sobre áreas
exocársticas ocorrem por meio
constituídas por rochas calcárias e dolomíticas
processo que envolve a concentração de água
que possuem como característica principal a
e
fácil dissolução quando posta em contato com
formando feições como dolinas e uvalas,
a água.
sendo esta última uma espécie de coalescência
Um dos parâmetros mais importantes na
consequente
dissolução
do
de um
calcário,
das dolinas.
identificação de uma dolina é a sua própria
Karmann (2009) considera que as
morfologia. Em geral, apresentam-se como
dolinas são associadas a drenagens centrípetas
estruturas
bastante
e representam feições de relevo bastante
deprimidas em relação ao nível de base local,
típicas de drenagens cársticas, podendo se
podendo ser classificada como uma bacia
manifestar como dolinas de colapso e dolinas
fechada.
de dissolução, variando em diâmetro e
em
Outro
semicírculo,
fator
importante
para
a
profundidade.
identificação deste tipo de relevo diz respeito
Outro fator muito importante que age
ao seu processo de formação, evidenciado
determinando o grau de dissolução das rochas
pela susceptibilidade da rocha à dissolução
em ambientes cársticos é o clima. Geralmente
química.
em
Para
formação
deste tipo
de
regiões
tropicais
ocorre
dissolução
morfologia, incluindo também o caso das
elevada, enquanto na zona temperada ocorre
dolinas, é preciso que haja três fatores de
dissolução em grau menor, pois a temperatura
predisposição do terreno: rocha solúvel com
da água influencia diretamente no gradiente
permeabilidade de
de dissolução.
fraturas,
relevo
com
gradientes hidráulicos moderados a altos e
Outra típica manifestação de relevo
clima com disponibilidade de água, neste
cárstico são os pseudocarstes. Kohler (2007)
caso, clima tropical úmido (Karmann, 2009).
conceitua pseudocarste como sendo uma
A reação que contém a água como
feição
topográfica do
tipo
carste,
não
agente degradante das rochas calcárias, ocorre
elaborada por processos de desgaste químico
a partir da retenção do gás carbônico por meio
e abatimento físico. Para Bigarella (1994), são
da água, reagindo em contato com o calcário e
todas aquelas feições que apresentam formas
formando bicarbonato de cálcio, substância
típicas de terrenos cársticos como: marmitas,
Furrier, M.; Vital, S. R. O.
162
Revista Brasileira de Geografia Física 01 (2011) 161-173
uvalas etc., sem precisar necessariamente ser
Este
trabalho
podem ocorrer em arenitos ou quartzitos. Isto
morfometria da Lagoa Antônio Lins, e
nos leva a crer que a conceituação de carste
verificar a hipótese de que essa lagoa tenha
está mais ligada à morfologia do que aos
sua gênese relacionada a formação de uma
processos de origem do mesmo. Para Hart
dolina de dissolução.
em
morfologia
e
.
termos
de
portanto,
do
O bairro de Cruz das Armas pertence ao
processo de formação. Esta definição não
município de João Pessoa-PB que está
depende da litologia ou dos processos
localizado na Mesorregião da Mata Paraibana.
formadores, mas se atém somente as formas
Situa-se entre os limites dos bairros de
resultantes.
Jaguaribe ao norte, Oitizeiro ao sul, ao leste
morfologia,
somente
a
objetivo
levantar
estabelecida
sobre
como
elaborada em rochas calcárias, ao contrário,
(2003) a definição de carste deve ser
dados
tem
independente,
1.1 Localização da área de estudo
Nas áreas onde ocorrem pseudocarstes,
com o Cristo Redentor e ao oeste com o
são encontradas evidências que caracterizam
bairro da Ilha do Bispo, entre as coordenadas
este ambiente como sendo um ambiente de
expostas abaixo (Figura 1).
natureza cárstica, a exemplo de diáclases,
marmitas e caldeirões. No caso das diaclases,
elas abrem caminho para um processo inicial
de transformação da paisagem, já que pelas
suas fraturas a ação do intemperismo químico
e biológico é facilitada. Neste sentido, a água
é
um
agente
que
possui
importância
fundamental no processo de formação do
ambiente cárstico. Para Hart (2008), o carste é
um tipo de paisagem, onde o intemperismo
químico, através da dissolução da rocha
encaixante, determina as formas de relevo.
A ação do intemperismo físico também
se constitui como de bastante importância
Figura 1. Mapa de localização do bairro de
para a formação de ambientes cársticos, a
Cruz das
partir do momento em que abre caminho para
Silveira.
Armas.
Organização:
Thyago
ação direta dos agentes químicos e biológicos,
acelerando o processo de dissolução da rocha
exposta (Toledo et al., 2008).
Furrier, M.; Vital, S. R. O.
O bairro de Cruz das Armas é um dos
mais antigos da cidade de João Pessoa e sua
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origem remonta das primeiras décadas do
extraídos do Mapa Geológico do Estado da
século XX, como importante vetor de
Paraíba publicado pelo CPRM (Serviço
expansão da cidade, juntamente com a
Geológico do Brasil) no levantamento sobre a
Avenida Epitácio Pessoa. A partir de então, o
Geologia e os Recursos Minerais do Estado
bairro passou a ser uma importante zona de
da
interligação entre o centro, onde se originou a
geomorfológicos obtidos de Furrier et al,
cidade, e as BR 230 e BR 101, tornando-se
(2006) e Furrier (2007). Os dados altimétricos
umas das principais portas de entrada da
foram obtidos através das imagens do Radar
cidade de João Pessoa (Leandro, 2006).
Interferométrico
Paraíba
(2002),
SRTM
e
os
(Shuttle
dados
Radar
A ocupação mais acentuada veio a
Topography Mission) contidas na folha
ocorrer de fato a partir dos anos de 1960,
07_36_ZN, disponível no Banco de Dados
coincidindo com o apogeu da expansão
Geomorfométricos
urbana, que se deu de forma bastante
(TOPODATA/INPE).
acelerada na maioria das capitais brasileiras.
Neste
período,
cidades
populações
vizinhas,
sobretudo
oriundas
do
do
Brasil
Para obtenção das coordenadas de
de
localização e mapeamento da morfologia
interior
cárstica, foi utilizado um GPS modelo MAP
paraibano, passaram a ocupar diversos setores
76S.
As
informações
obtidas
da cidade de João Pessoa, inclusive o bairro
processadas em ambiente SIG.
foram
de Cruz das Armas. Neste entremeio, foram
ocupadas áreas impróprias como as várzeas e
3. Resultados e Discussão
terraços fluviais do rio Jaguaribe e as
Através das informações do SRTM foi
depressões cársticas (dolinas), a exemplo da
possível construir um Modelo Digital do
área de estudo deste trabalho.
Terreno (MDT), hierarquizando 16 classes de
altitude (Figura 2). Este modelo do terreno
2. Material e Métodos
auxiliou na identificação e compartimentação
Através de avaliação em campo, foi
geomorfológica do bairro, onde, através da
possível a primeira observação direta da
qual se tornou possível, também, a construção
morfologia cárstica na área de estudo, através
de um perfil topográfico da depressão em
da qual se tornou evidente o acentuado
questão, que possibilitou avaliar e quantificar
desnível do centro do terreno em relação às
os desníveis acentuados do terreno. As
adjacências. Para corroborar esta hipótese
informações sobre o embasamento geológico
foram levadas em consideração informações
e sobre a geomorfologia da área serviram para
sobre a geologia, geomorfologia e altimetria
corroborar
do terreno. Os dados geológicos foram
observada ser uma dolina.
Furrier, M.; Vital, S. R. O.
a
hipótese
da
morfologia
164
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Figura 2. Modelo Digital do Terreno do bairro de Cruz das Armas e traçado do perfil topográfico
da depressão onde está inserida a lagoa Antônio Lins, João Pessoa-PB. Fonte de Dados: Banco de
Dados Geomorfométricos do Brasil (TOPODATA/INPE) <http://www.dsr.inpe.br/topodata/>.
Organização: Saulo Vital.
Após o trabalho de campo e o
as cotas altimétricas tenderiam a se apresentar
processamento em ambiente SIG dos dados
semelhantes, pois a morfologia predominante
levantados a partir do SRTM, foi possível
na área é a de baixos tabuleiros com topos
identificar e quantificar a existência de um
planos, deixando claros indícios de uma
forte desnível existente no setor centro-sul do
considerável subsidência.
bairro de Cruz das Armas, numa área
popularmente
denominada
bairro
se
encontra
totalmente
lagoa
assentado sobre um considerável tabuleiro,
Antônio Lins. Este forte desnível do terreno
fortemente dissecado em suas bordas leste e
se encontra num ponto onde, provavelmente,
oeste, onde são encontradas diversas zonas de
Furrier, M.; Vital, S. R. O.
como
O
165
Revista Brasileira de Geografia Física 01 (2011) 161-173
ressurgência formando “bicas” e “fontes”. No
das informações contidas na imagem SRTM,
bairro de Oitizeiro, que também se encontra
tornou-se possível estimar o valor aproximado
assentado sobre um tabuleiro, e é vizinho ao
de altura e largura de toda depressão, onde
bairro de Cruz das Armas, encontra-se a lagoa
está contida a lagoa Antônio Lins, chegando
do Buracão, que foi caracterizada por Santos
aos valores de aproximadamente 14 metros de
(2005) como uma bacia fechada, mostrando
profundidade e 350 metros de diâmetro
características similares à lagoa Antônio Lins.
(Figura 3).
Através da análise em SIG, valendo-se
Figura 3. Perfil topográfico da depressão onde está inserida a lagoa Antônio Lins. Organização:
Saulo Vital.
De acordo com White (1988), para
medir a forma em perfil de dolinas (suave ou
íngreme),
utiliza-se
a
razão
0,04, caracterizando um perfil suave.
De acordo com Sallun Filho e Karmann
P/D
(2007), a definição da forma em perfil de
(profundidade/diâmetro), sendo consideradas
dolinas são bons indicadores quanto a sua
dolinas, poljes, corredores e canyons (quando
gênese. Em geral, dolinas pouco íngremes
menor ou a igual a 1), indicando um perfil
devem
mais largo que fundo, portanto suave. Por
dissolução, enquanto as dolinas bastante
outro lado, pode-se considerar outros tipos de
íngremes foram originadas a partir do
formas a exemplo de chaminés, poços,
fenômeno de abatimento e colapso.
abismos e fendas (quando maior que 1), sendo
então um perfil íngreme.
A
sua
origem
aos
determinação
processos
deste
de
índice
morfométrico, indica que a dolina Antônio
Ao aplicar este índice, utilizando-se dos
Lins apresenta amplas feições de uma dolina
dados gerados pelo perfil no software ArcGis
de dissolução. Vale ressaltar que, devido ao
9.2 disponível no Departamento de Ciências
processo de assoreamento que esta área vem
Geográficas da UFPE (Universidade Federal
sofrendo,
de Pernambuco), tem-se que: P/D = 14/350 =
densamente ocupada, restando apenas uma
Furrier, M.; Vital, S. R. O.
toda
a
depressão
encontra-se
166
Revista Brasileira de Geografia Física 01 (2011) 161-173
pequena parcela da lagoa. Desta forma, o
nível do mar no Cretáceo Superior, há
perfil representa toda a área rebaixada e não
aproximadamente 65 M.a.
apenas a lagoa.
A Formação Maria Farinha representa a
continuação
3.1
Caracterização
geológica
e
geomorfológica
sequência
Gramame,
calcária
sendo
da
diferenciada
apenas pelo seu conteúdo fossilífero, que é
O bairro de Cruz das Armas se encontra
totalmente
Formação
da
inserido
sobre
os
tabuleiros
considerada de idade paleocênica-eocênica
inferior
(Mabesoone,
1994).
Apresenta
dissecados da Formação Barreiras na Bacia
espessura máxima de 35 m, provavelmente
Sedimentar
erodida em parte pela exposição subaérea
Pernambuco-Paraíba
que
é
subdividida em várias sub-bacias onde estão
anterior
inseridas
continentais da Formação Barreiras (Leal e
as
respectivas
unidades
litoestratigráficas Beberibe, Gramame e Maria
à
deposição
dos
sedimentos
Sá, 1998).
Farinha. É importante ressaltar que, o
Os sedimentos da Formação Barreiras
entendimento da interação dinâmica entre
provêm basicamente dos produtos resultantes
ambas
da
as
camadas
é
de
substancial
ação
do
intemperismo
sobre
o
importância para a compreensão da gênese de
embasamento cristalino, localizado mais para
dolinas,
o interior do continente. No estado da Paraíba,
exclusivamente
no
tocante
às
Formações Gramame e Barreiras.
este embasamento é composto pelas rochas
A unidade litoestratigráfica basal da
Bacia Sedimentar
cristalinas
do
Planalto
da
Borborema.
Pernambuco-Paraíba é
Gopinath, Costa e Júnior (1993) em análises
denominada de Formação Beberibe. Essa
sedimentológicas realizadas na Formação
unidade é representada por um espesso pacote
Barreiras, no estado da Paraíba, constataram
de arenitos com granulação variável e com
que as fontes dos sedimentos seriam granitos,
espessuras médias de 230 a 280 m, e máxima
gnaisses
de 360 m (Leal e Sá, 1998).
predominantemente
Superposta
à
Formação
Beberibe,
repousa, de forma concordante, a Formação
e
xistos,
que
são
litologias
do
Planalto
da
Borborema.
De acordo com Brito Neves et al.,
Gramame. Essa unidade carbonática de
(2009),
ambiente marinho raso possui espessura
geológica W-E entre Alto da Boa Vista e
média inferior a 55 m, dos quais mais de dois
Tambaú, existem porções onde a Formação
terços
calcários
Gramame não é encontrada, como é o caso da
argilosos cinzentos (Leal e Sá, 1998). Esta
área que compreende o bairro Alto do Mateus
camada foi depositada a partir da subsidência
em João Pessoa. No entanto, nas zonas onde
lenta do continente e consequente elevação do
esta formação é encontrada, ela se apresenta
são
representados
Furrier, M.; Vital, S. R. O.
por
em
diversos
pontos
da
seção
167
Revista Brasileira de Geografia Física 01 (2011) 161-173
bastante
falhada,
influenciando
conspicuamente a espessura e o relevo da
Formação Barreiras.
formações sotopostas.
A disposição dos calcários na área
metropolitana de João Pessoa apresenta
Segundo Brito Neves (2004) apud
estratificação
sub-horizontal,
não
muito
Furrier et al., (2007), o relevo da borda
pronunciada, grosseira, em bancos ou então
oriental do estado da Paraíba está sendo
formando massas compactas, apresentando
explicado
fraturamentos
recentemente
por
estudos
de
e
dissolução
subterrânea
tectônica regional cenozoica, originadas por
(Lummertz, 1977). Estes planos de falha
reativações de antigas falhas no embasamento
contribuem
cristalino do Proterozoico. Furrier et al,
desencadeando uma reação química capaz de
(2006) e Furrier (2007), constataram que o
dissolver lentamente o calcário, dando origem
relevo esculpido sobre a Formação Barreiras
a dolinas de dissolução (Figura 4).
para
percolação
da
água
está fortemente atrelado aos falhamentos das
Figura 4. Seção geológica W-E na porção Alto da Boa Vista para a praia de Tambaú, baseada em
dados de vários poços tubulares profundos. Notar o intenso falhamento na Formação Gramame.
Fonte: modificada de Brito Neves et al., 2009.
Lehmann (1932) apud Bigarella (1994)
destaca
a
importância
do
papel
da
circulaçãoda água subterrânea nas juntas e
Furrier, M.; Vital, S. R. O.
fraturas da rocha calcária, relacionando as
estruturas com as feições superficiais do
relevo cárstico.
168
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Em diversas regiões da cidade de João
decorrência
de
suas
características
Pessoa foram descritas outras superfícies
morfológicas, sendo consideradas, portanto,
rebaixadas, mas sem estudos pormenorizados
áreas de risco à ocupação humana.
e quantitativos.
De acordo com dados disponíveis em
Estas feições podem ser denominadas
Melo et al., (2001) através de poços
como bacias fechadas, pelo fato de que, o
perfurados pelo DNOCS-PB (Departamento
escoamento superficial que se acumula em
Nacional de Obras Contra as Secas), na região
seu interior, não se comunica por meio de
do 15º Batalhão de Infantaria em Cruz das
uma rede superficial com outros cursos
Armas, o calcário da Formação Gramame se
d’água. No entanto, tipicamente, possuem a
encontra
competência
sedimentar de 30 metros de espessura
de
criar
ressurgências
nas
recoberto
uma
composta
água conectando-se aos rios e riachos mais
evidenciando uma espessura mais delgada, já
próximos.
que esta formação tem em média 50 metros de
bastante
bacias
fechadas
susceptíveis
a
são
unidades
enchentes,
Formação
camada
adjacências, formando pequenos fluxos de
As
pela
por
Barreiras,
espessura (Tabela 1).
em
Tabela 1. Poços perfurados pelo DNOCS-PB (vários anos), destacando a profundidade da
Formação Barreiras e Gramame na região do 15º Batalhão de Infantaria. Notar que nessa localidade
a espessura da Formação Barreiras é inferior.
LOCALIZAÇÃO
PROF. TOTAL (m)
Parque de Exposição de
animais (Bairro Cristo
(Bairro Cruz das Armas)
(ESPESSURA)
Formação Barreiras (37m)
110
Redentor)
15 Batalhão de Infantaria
LITOLOGIA
Formação Gramame (48m)
Formação Beberibe (25m)
Formação Barreiras (30m)
81,5
Formação Gramame (45m)
Formação Beberibe (?)
Formação Barreiras (40m)
CEASA (BR-230)
67
Formação Gramame (18m)
Formação Beberibe (5m)
Formação Barreiras (48m)
CAMPUS DO UNIPÊ
120
Formação Gramame (53m)
Formação Beberibe (19m)
Fonte: modificado de Melo et al., (2001)
Furrier, M.; Vital, S. R. O.
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Revista Brasileira de Geografia Física 01 (2011) 161-173
Figura 5. Distribuição das localidades perfuradas. Organização: Saulo Vital.
A Formação Gramame alcança 20 km
rebaixamento topográfico coadjuvado por
de extensão no sentido leste-oeste da Bacia
fenômenos
Sedimentar
Sua
caracterizando uma dolina, é um fenômeno
abrangência contempla amplamente a área de
que merece maior atenção e aprofundamento
estudo, sendo base para um dos maiores
por parte dos estudos geomorfológicos,
pontos de extração de calcário da Paraíba,
sobretudo em áreas urbanas densamente
localizado nas dependências da Empresa
ocupadas.
Pernambuco-Paraíba.
CIMPOR (Grupo Cimento Português).
cársticos
de
sub-superfície,
As informações sobre a geologia e
tectônica do terreno serviram como base
inicial para levantamento desta hipótese,
4. Conclusão
A formação de depressões fechadas,
circulares,
provavelmente
Furrier, M.; Vital, S. R. O.
associadas
ao
tendo em vista as características litológicas e
geotectônicas
da
Bacia
Sedimentar
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Pernambuco-Paraíba, onde se encontra a
lixo não coletado, ampliando as implicações
Formação Gramame, e sobreposta a ela, a
de risco sobre a população residente na área e
Formação Barreiras, capeadora desta bacia.
em seu entorno.
Posteriormente, as imagens orbitais
coletadas a partir do SRTM se tornaram um
5. Agradecimentos
Agradeço
forte instrumento de apoio para identificação
das características deste tipo de morfologia,
possibilitando
a
aquisição
de
valores
numéricos de profundidade (P) e diâmetro (D)
empregados
na
obtenção
do
índice
Laboratório
ao
de
apoio
Estudos
técnico
do
Geológicos
e
Ambientais da Universidade Federal da
Paraíba (LEGAM/UFPB).
6. Referências
morfométrico proposto por White (1988),
Bigarella, J. J.; Becker, R. D.; Santos, G. F.
próprio para a identificação de tipos de
(1994). Estrutura e Origem das Paisagens
dolinas. O valor originário deste cálculo que
Tropicais
foi de 0,04 caracterizou a feição em estudo
geológicos-geográficos, alteração química e
como uma dolina de perfil suave, portanto,
física das rochas e relevo cárstico e dômico.
originada
Florianópolis, Editora da UFSC, 425p.
a
partir
de
fenômenos
de
e
Subtropicais:
fundamentos
dissolução.
Estas informações apontam para um
BRASIL. Ministério de Minas e Energia.
caminho que nutre a possibilidade de outros
CPRM. Geologia e recursos minerais do
estudos ainda mais aprofundados, destacando
Estado da Paraíba. (2002). Recife: CPRM.
a importância deste fato para o planejamento
142p. il. 2 mapas. Escala 1:500.000.
territorial e urbano da cidade de João Pessoa,
que tem grande parte de sua área assentada
sobre a Formação Barreiras sobreposta aos
calcários intensamente falhados da Formação
Gramame.
BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia.
INPE. Banco de Dados Geomorfométricos do
Brasil. (2008). São José dos Campos: INPE.
Disponível em: http://www.dsr.inpe.br/topoda
ta/. Acesso em: 29 out. 2010.
É importante ressaltar que a expansão
urbana sobre essa área representa um risco à
Brito Neves, B. B.; Albuquerque, J. P. T.;
população,
características
Coutinho, J. M. V.; Bezerra. F. H. R. (2009).
geomorfológicas e geotécnicas associadas às
Novos Dados Geológicos e Geofísicos para a
áreas de dolina. Os riscos mais frequentes são
Caracterização Geométrica e Estratigráfica da
as enchentes, já que a morfologia da área se
Sub-bacia de Alhandra (Sudeste da Paraíba).
apresenta como uma bacia fechada que
Revista do Instituto de Geociências – USP,
converge todo o escoamento superficial para o
Série Científica, São Paulo, v. 9, n. 2, p.63-
seu centro, além de carrear, também, todo o
87.
devido
Furrier, M.; Vital, S. R. O.
às
171
Revista Brasileira de Geografia Física 01 (2011) 161-173
Furrier,
M.
(2007).
Caracterização
Kohler,
H.
C.
(2007).
Geomorfologia
Geomorfológica e do Meio Físico da Folha
Cárstica. In: Guerra, A. T. G.; e Cunha, S. B.
João Pessoa – 1: 100.000. Tese (Doutorado) –
Geomorfologia, uma atualização de bases e
Departamento
conceitos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
de
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