Fernando Kinach Loureiro GRR20092351 Mapeamento de estudos sobre a aquisição de expertise em performance de música popular instrumental brasileira nos congressos da ABRAPEM e do SIMCAM entre 2006 e 2015 Projeto apresentado à disciplina OA027 (Trabalho de Conclusão de Curso), como requisito parcial à conclusão do curso de bacharelado em música. Setor de Artes, Comunicação e Design Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Danilo Ramos CURITIBA 2015 AGRADECIMENTOS Sem os quais este trabalho não teria sido possível, agradeço inicialmente à minha querida mãe Claudenice Kinach Loureiro pelo imenso amor e apoio em todos os meus planos e sonhos, desde a infância até a atualidade; a meu irmão Mario Carta Loureiro Junior (in memorian) pela amizade eterna e por ter me ensinado a paixão pela música; a meu pai Mario Carta Loureiro (In memorian) por todo sacrifício e esforço; e à minha amada Brendali Perocelli por ser uma grande luz no meu caminho e por toda a ajuda em cada passo da empreitada. Por fim agradeço ao professor Danilo Ramos por todos os apontamentos e por compartilhar sua experiência durante o desenrolar do presente trabalho com paciência e generosidade. RESUMO A expertise musical pode ser definida como o conjunto de estratégias cognitivas empregadas pelos músicos (compositores ou instrumentistas) para a execução de performances musicais em nível de excelência, considerando diferentes contextos. A literatura científica aponta o desenvolvimento de um grande número de estudos dessa natureza realizados atualmente, sobretudo na América do Norte, Europa e Ásia. Entretanto, no Brasil, essa constatação parece não ser uma realidade, especialmente se o foco dessas pesquisas for a música popular instrumental brasileira, definida como uma música que pode englobar grande variedade de gêneros e estilos em que as peças musicais em geral apresentam curta duração. Sendo situada num contexto urbano e moderno e consumida por um público heterogêneo, tem a característica de ser executada apenas por instrumentos, ou mesmo pela voz, porém sem a preocupação da veiculação de um texto literal. Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho é a realização de um levantamento sobre as principais pesquisas realizadas sobre a aquisição da expertise em performances da música popular instrumental brasileira nos dos principais congressos brasileiros da área de cognição e performance musical: SIMCAM e ABRAPEM. Concluiu-se que existe um número maior de estudos sobre performance em música de concerto não-brasileira do que música brasileira, seja ela de concerto, popular, popular instrumental ou folclórica nos congressos abordados. Este estudo, portanto, revelou uma escassez de trabalhos sobre a aquisição de expertise em música popular instrumental brasileira. Acredita-se que esta pesquisa pode proporcionar condições para a construção de estruturas conceituais que sirvam de base para a realização de estudos empíricos futuros sobre a expertise musical, especialmente aqueles relacionados às vertentes musicais de nossa própria cultura. Palavras-chave: expertise musical; performance; música popular instrumental brasileira. ABSTRACT Musical expertise can be defined as the set of cognitive strategies used by musicians (composers or performers) to make musical performances in an excellent level, by regarding distinct contexts. The scientific literature indicates the development of a great number of studies in this domain made currently, especially in North America, Europe and Asia. However, in Brazil, this finding seems not to be true, notably if their subject concerns Brazilian Instrumental Popular Music, defined as a type of music that covers a large variety of genres and styles in which musical pieces, generally, have a short length. Located in a modern and urban context and consumed by a heterogeneous public, this repertoire is commonly executed only by instruments, or even by voice, however, without carrying a literal text. In this sense, the goal of the present work is to make up a survey by concerning researches about the acquisition of performance expertise in Brazilian Instrumental Popular Music in the main Brazilian symposiums in this domain: SIMCAM and ABRAPEM. We concluded that there are a larger number of studies concerning non-Brazilian concert music in relation to Brazilian music, either concert, popular, instrumental popular or folk ones. Thus, this study showed the lack of studies about the acquisition of expertise in Brazilian Instrumental Popular Music. We believe that this research may provide conditions to the construction of conceptual structures to serve of base to make future empiric researches about musical expertise by regarding musical strands of our own culture. Keywords: musical expertise; performance; Brazilian Instrumental Popular Music. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 1 2. REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................................ 3 2.1. Expertise e performance ...................................................................................................... 3 2.1.1. Um breve histórico a respeito do estudo da expertise ................................................. 3 2.1.2. Conceitos iniciais a respeito de expertise .................................................................... 6 2.1.3. Expertise musical ........................................................................................................ 8 2.1.4. Performance musical.................................................................................................. 11 2.2. Educação musical formal no Brasil ................................................................................... 13 2.3. Vertentes da música brasileira .......................................................................................... 14 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ......................................................................... 21 4. RESULTADOS ........................................................................................................................ 25 5. DISCUSSÃO ............................................................................................................................ 35 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 38 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 40 FONTES PRIMÁRIAS ............................................................................................................... 42 ANEXOS ...................................................................................................................................... 43 Os cursos de graduação em música no Brasil........................................................................... 43 Pesquisa em música no Brasil .................................................................................................. 47 1 1. INTRODUÇÃO Acerca da definição e significado do termo expert, Ericsson aponta que as enciclopédias definem um expert como uma pessoa que é muito hábil e bem informado em alguma área em específico, ou alguém amplamente reconhecido como uma fonte confiável de conhecimento, técnica ou habilidades, cujo julgamento é dotado de autoridade e status pelo público ou por seus pares. Experts têm experiência prolongada ou intensa através da prática e/ou educação em um campo em particular (2006, p.12-13)1. As diferenças entre as capacidades musicais de indivíduos notórios sempre foram motivo de espanto entre músicos (Lehmann & Gruber, 2006). Muito se discute acerca da importância do talento versus a importância da prática e estudo no campo da música e qual dos dois lados é o que mais contribui para a formação de um expert. Mesmo que a prática seja um fator presente na obtenção da expertise musical em todos os estilos de música, diferentes culturas e seus estilos musicais possuem diferentes tipos de prática. Apesar das diferenças, a importância da prática deliberada (um conjunto de atividades estruturadas consideradas importantes pelos experts no sentido de melhorar suas performances) é reconhecida dentre todos os músicos como parte importante de seus desenvolvimentos. Os autores ainda afirmam que, conforme o nível de performance vai aumentando, a influência da prática deliberada torna-se cada vez mais evidente. Lehmann, Woody e Sloboda (2007) apresentam um número grande de variáveis culturais a serem consideradas pelos pesquisadores da área no estudo da aquisição da expertise musical. Assim, os autores que argumentam que um expert em determinada cultura pode não ser considerado um expert em outra e o que define este argumento são as variáveis extrínsecas relacionadas à própria noção do uso, do valor e da função da música em uma determinada sociedade. Segundo Ray (2015), o estudo da perfomance musical tende, cada vez mais, a tomar forma no universo acadêmico brasileiro. O estudo de Borém (2015) mostra um crescimento significativo pelo interesse do estudo acadêmico de assuntos relacionados à performance, dentre as teses e dissertações produzidas no Brasil no período de 1986 até meados de 2001. Quanto ao termo performance, Ray (2015) define-a como “o momento em que o músico (instrumentista, cantor ou regente) executa uma obra musical exposto à crítica de outro ou outros”, podendo esse(s) outro(s) serem uma audiência ou um ou mais professores, em que se pode simular uma apresentação. Segundo a autora, o fato de estar sendo observado “muda a atitude do performer diante da música que ele executa”. 1 Tradução do autor 2 A cognição musical é a ciência que se propõe a investigar os processos psicológicos que regem a mente dos indivíduos engajados em atividades de escuta, performance ou composição musical (Ilari, 2006). Uma parte dos pesquisadores da área procura investigar questões referentes ao planejamento motor da performance e à aquisição da expertise musical, que envolve um conjunto de estratégias cognitivas empregadas pelos performers para a execução de performances musicais em nível de excelência, considerando diferentes contextos. A literatura científica aponta o desenvolvimento de um grande número de estudos dessa natureza realizados atualmente, sobretudo na América do Norte, Europa e Ásia. Entretanto, no Brasil, em se tratando da música brasileira, esta constatação parece não ser uma realidade, especialmente se o foco dessas pesquisas for a música popular instrumental brasileira (MPIB). Este estilo musical é definido por Rodrigues, que diz: podemos, a princípio e de forma bem generalizada, considerar a música popular instrumental brasileira como uma música destinada ao entretenimento, podendo englobar grande variedade de gêneros e estilos e as peças musicais em geral apresentam curta duração, podendo infringir estes limites e tangenciar com a música de concerto, em especial quando o conteúdo musical chega a um grau maior de sofisticação estética e complexidade formal. Situada num contexto urbano, moderno, transmitida por meios de comunicação transnacionais e consumida por um público heterogêneo, tem a característica de ser executada apenas por instrumentos, ou mesmo pela voz, porém sem a preocupação da veiculação de um texto literal” (2006, p. 12-13). O objetivo do presente trabalho é a realização de um levantamento sobre as principais pesquisas realizadas sobre a aquisição da expertise em performances da música popular instrumental brasileira nos dos principais congressos brasileiros da área de cognição e performance musical: Simpósio de Cognição e Artes Musicais (SIMCAM) e o simpósio da Associação Brasileira de Performance Musical (ABRAPEM) entre os anos de 2006 a 2015. Para tanto, foi necessário realizar um estudo de levantamento bibliográfico, com o intuito de mapear o estado da arte em que este nicho se encontra. Acredita-se que este mapeamento poderá auxiliar pesquisadores a respeito dessa temática no Brasil, de modo à proporcionar condições para a construção de estruturas conceituais que sirvam de base para a realização de estudos empíricos futuros sobre o tema em questão. Busca-se, com a realização do presente trabalho, auxiliar professores de música (em diferentes níveis) a formar alunos que executem suas performances musicais em nível de excelência, considerando este tipo de aprendizado no contexto brasileiro. As variáveis culturais consideradas por Lehmann, Woody e Sloboda (2007) e o número aparentemente escasso sobre trabalhos desenvolvidos na área no Brasil justificam a realização da presente pesquisa. 3 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1. Expertise e performance Segundo Chi (2006), a caracterização de um expert envolve três suposições. A primeira assume que experts acumulam e organizam mais precisamente o conhecimento em determinada área do que novatos. A segunda assume que o conhecimento e capacidades cognitivas gerais de experts e não experts fora de domínios específicos são semelhantes, e por fim, a terceira suposição assume que as diferenças entre performances de experts e não experts são determinadas pelas diferenças na forma como o seu conhecimento é representado. Segundo a autora, a expertise, portanto, diz respeito ao conhecimento e habilidades que diferenciam esses experts de pessoas com menos experiência em um determinado campo de atuação. A “performance expert" pode ser definida como a atuação de um indivíduo em nível de excelência em tarefas representativas em um determinado domínio, como, por exemplo, médicos que são capazes de diagnosticar doenças de forma mais eficaz e precisa, mesmo em relação à estudantes avançados de medicina, ou músicos instrumentistas capazes de executar uma peça de uma forma que seria inexequível para músicos menos habilidosos (Ericsson, 2006). 2.1.1. Um breve histórico a respeito do estudo da expertise Segundo Ericsson (2006), existe um interesse a respeito do conhecimento sobre as chamadas “habilidades superiores” possuídas por especialistas em determinadas áreas desde o início da civilização ocidental. Muitas vezes tais habilidades eram atribuídas à talentos divinos e dons especiais (Ericsson, et al., 1993). De qualquer forma, a história mostra que sempre houve uma distinção e uma valorização das opiniões dos experts quando se trata da tomada de decisões em áreas de seu domínio, ou no ensino de estudantes que almejam alcançar aperfeiçoamento em sua área. No primeiro capítulo do Handbook of expertise sciences, Ericsson aponta um relato de Sócrates sobre esta distinção dos experts em relação aos novatos nas mais diversas áreas do saber daquela época: Eu observo que, quando uma decisão deve ser tomada na assembleia em matéria de construção, seus membros pedem aos construtores um conselho acerca das construções. Quando se trata de construção de navios, eles pedem aos carpinteiros navais e este tipo de decisão é similar em todos os casos em que estejam lidando com um assunto no qual pensam que pode ser aprendido e ensinado. Mas se alguém que não se considere um expert tenta dar conselhos, não importa o quão belo ou rico e bem-nascido ele seja, ainda assim, a única reação que ele obteria seria a de zombaria. Criar-se-ia, então, um tumulto, até que o orador em questão se cale e desista por 4 vontade própria, ou então até que os guardas o arrastem para fora ou o coloquem à ordem dos presidentes (2006, p.4-5)2. Segundo Ericsson (2006), ao compilar seus livros a respeito das ciências, Aristóteles pedia informações a profissionais das áreas sobre as quais escrevia, como pescadores, caçadores, apicultores e pastores, e a partir de seu bom senso, por vezes, corrigia noções errôneas divulgadas pelos mesmos. Muito posteriormente, durante a idade média, os artesãos formaram guildas3 para protegerem-se da concorrência, através das quais mantinham itens com padrão de qualidade sob monopólio e passavam seus conhecimentos para aprendizes a fim de perpetuarem seus conhecimentos. Os aprendizes começavam seus estudos perto dos 14 anos de idade e tinham em média cerca de sete anos para estudarem com seus mestres, que, em seguida, lhes davam uma carta de recomendação para que pudessem trabalhar pra outros mestres em outras localidades em troca de um salário. Em geral, quando um trabalhador assalariado acumulava dinheiro e experiência suficiente, ele normalmente retornava à sua cidade natal a fim de adquirir ferramentas para tentar tornar-se um mestre de guilda, e o conseguia por meio de um teste submetido pela guilda de sua profissão. Este trabalhador seria responsável pela qualidade de suas produções artesanais se obtivesse o aval da guilda, devendo ser, também, responsáveis por aceitar e treinar novos aprendizes. Nos séculos XII e XIII começaram a se estabelecer guildas de mestres e estudantes (universitas magistribus et pupilorum) em que, normalmente, eram ministradas aulas em latim. Os estudantes se iniciavam no estudo das artes e concluíam sua formação em programas mais avançados de medicina, lei ou teologia. Naquela época, o estudante deveria acumular e organizar o conhecimento e no final de seu curso defender uma tese na praça da cidade, respondendo a questões de artesãos locais. Com essa nova metodologia de obtenção, acumulação, explicação e organização do conhecimento em diversos domínios do saber, não havia mais a necessidade de indivíduos descobrirem por si mesmos os métodos e saberes de uma determinada área de conhecimento (Ericsson, 2006). O autor ainda comenta que o monopólio de conhecimento e produção obtido pelas guildas no período medieval e moderno foi, juntamente com a opressão dos reis e da nobreza da época, grande alvo da revolução francesa no século XVIII. Neste mesmo período estava sendo publicada a primeira versão da Enciclopédia (Encyclopedie) por Diderot e D’Alembert em 17511780. Assim, Diderot ficou comprometido em apresentar descrições compreensivas das artes 2 Tradução do autor. Guildas eram organizações de profissionais e artesãos que, em acordo com o prefeito e/ou monarca, obtinham o monopólio no fornecimento de certos bens e serviços com um determinado padrão de qualidade (Ericsson, 2006, p.5, tradução do autor). 3 5 mecânicas para fazer o seu conhecimento estar à disposição do público e para encorajar a pesquisa e o desenvolvimento em todas as fases de sua produção e em todos os tipos de habilidades. Diderot encontrou dificuldades em obter todos os conhecimentos e informações que gostaria, pois os membros das guildas não estavam totalmente dispostos a dividir seu conhecimento. Neste sentido, Diderot mandava seus assistentes ganhar acesso aos conhecimentos por meio de afiliação nas guildas como aprendizes. Apesar de todo o esforço para fazer tal compêndio de conhecimento, Diderot não almejava cobrir todas as minúcias das áreas as quais discorria e dizia que era a prática, e não os livros, que fazia o artesão. Com a derrocada do sistema de guildas e do monopólio do conhecimento e dos ofícios com a revolução francesa, a prática da medicina e da advocacia passou a não mais requerer certificados, tanto na França quanto nos EUA que recém haviam conquistado sua independência, na tentativa de afastar tendências elitistas. Mas durante o século XIX ambos perceberam a necessidade de uma regulamentação quanto a essas profissões (Ericsson, 2006). As relações entre aluno e mestre modificaram-se significativamente durante os séculos XIX e XX. Em uma sociedade embasada no capital, os mestres treinavam seus alunos em troca de uma parte de suas remunerações quando os mesmos tornassem-se profissionais atuantes. Dessa forma, os governos tomavam conta do ensino não apenas de advogados, médicos, engenheiros e outros profissionais de áreas acadêmicas tradicionais, mas também de músicos, artistas e atletas com objetivos de competir em eventos internacionais. No século XX existe uma geração de capital em eventos e competições que são capazes de sustentar variados domínios de expertise, como artistas, treinadores, desportistas e professores e tanto esses profissionais quanto os acadêmicos tradicionais são constantemente testados, regulamentados e ensinados por seus meios de trabalho. Até pouco tempo atrás, a acumulação de conhecimento e os métodos e práticas que visavam a obtenção de expertise em um domínio determinado ocorria exclusivamente dentro do meio daquele domínio específico, com pouco cruzamento entre domínios diferentes a respeito de informações, técnicas e métodos de treinamento acerca do objetivo comum de obtenção da expertise. A ideia de que a expertise possa ser estudada como uma área à parte pode ser de difícil percepção. Ericson (2006), neste sentido, questiona os seus leitores: “O que pode ser compartilhado pelas habilidades de tocar peças difíceis de Chopin, correr uma milha em menos de quatro minutos e jogar xadrez em alto nível?”. Neste sentido, pelo fato de todas as áreas terem sido desenvolvidas por seres humanos, elas devem compartilhar fatores biológicos, fisiológicos, psicológicos e culturais. É da tentativa de organizar esse conhecimento que permeia diversos domínios de expertise, com o objetivo de melhorar as formas de aprendizado em varias áreas, 6 além de facilitar o reconhecimento de pessoas com grande potencial em determinado domínio, que se trata a recente ciência do estudo da expertise. 2.1.2. Conceitos iniciais a respeito de expertise Os estudos acerca da expertise e de indivíduos experts devem levantar os elementos de ordem genética e de ordem comportamental e cultural que compõe o quadro da expertise, assim como especificar com clareza o que diferencia um indivíduo expert de um indivíduo ordinário em um dado domínio. Segundo pesquisas recentes, a prática deliberada e o estudo têm se mostrado mais relevantes na obtenção da expertise do que antes era considerado possível, em detrimento à fatores totalmente genéticos, o que, portanto, faz com que os estudos sobre expertise precisem levar em conta fatores como as circunstâncias ambientais, a duração e estrutura das atividades desenvolvidas pelo indivíduo e os atributos biológicos mínimos que levam à aquisição de tais características e de um nível condizente de performance (Ericsson, et al., 1993). Segundo os autores supracitados, Sir Francis Galton (1822-1911) descobriu que a expertise tem fatores genéticos determinantes, observando grupos de familiares, cujos indivíduos se destacavam em variadas áreas com grande proeminência. Segundo Galton, são três os elementos que corroboram para a formação da expertise em um domínio: a) habilidade natural (talento); b) entusiasmo; c) capacidade de trabalho. Embora apenas o primeiro seja diretamente associado com fatores genéticos, existe a influência genética no segundo e no terceiro elemento também. Nos trabalhos que sucederam a Galton, o fator enfatizado nos estudos sobre a expertise vem sendo a habilidade natural dos indivíduos, ou seja, o fator genético. Não há dúvidas que fatores físicos como ter uma grande estatura, por exemplo, sejam de origem genética. Esta característica física pode ser considerada como uma característica que auxiliaria um jogador de basquete, por exemplo, a alcançar sua performance expert. Entretanto, outros elementos mais subjetivos, como a capacidade de memória, velocidade de impulsos nervosos, apesar de serem de ordem genética estável, não são determinantes no sucesso ou falha da obtenção da expertise. Estudos mostram que a velocidade de raciocínio e capacidade de memória geral em músicos e enxadristas experts, por exemplo, não é necessariamente maior que o da maioria da população, mas a supera em muito quando o âmbito é música ou xadrez, respectivamente (Ericsson, et al., 1993). Com relação à chamada dicotomia “talento versus estudo”, existem duas abordagens a serem consideradas para que estudos sobre a expertise sejam realizados. Pode-se pensar, por 7 exemplo, que o talento nasce ao acaso, sendo unicamente influenciado por fatores genéticos inatos (Chi, 2006) ou pode-se pensar, por exemplo, que muitas vezes uma carga genética favorável também corrobora para uma carga maior de estudo e prática, como em pais que percebem que seu filho(a) tem facilidades em determinada atividade, estimulando-o a praticá-la com regularidade. Nesses casos, o fator a ser considerado como mais determinante na obtenção da expertise, de acordo com estudos, é o estímulo e a motivação por parte dos pais ou mestres e não os traços de talento inato (Ericsson, et al., 1993). Um fato que corrobora com essa conclusão é a de que pesquisas que tentam predizer, com base genética, os traços que gerarão um expert em um ou outro domínio tem sido consideradas como infrutíferas, excetuando-se raros casos em que os atributos físicos sejam o fator primário para a proeminência em um dado domínio, como em alguns esportes. Chi (2006) aponta sete características gerais que um expert possui, de modo a se sobressair em relação a um novato (indivíduo com menos experiência): - Experts se sobressaem em gerar a melhor solução, a melhor ideia, a melhor obra, etc.; - Experts conseguem perceber características, problemas, padrões e estruturas que novatos não percebem dentro de sua área de atuação; - Experts têm uma grande capacidade de análise qualitativa de problemas relacionados ao seu domínio; - Experts têm maior capacidade de monitoramento. Conseguem, por exemplo, perceber o quão longe podem ir na resolução de um problema, ou o quanto uma situação é de difícil resolução; - Experts são mais precisos ao escolher que estratégia ou rumo de ação seguir dentro de seu campo de atuação; - Experts são mais oportunistas e sabem aproveitar conhecimentos de fontes que novatos não saberiam; - Experts conseguem resgatar conhecimento da memória com menos esforço cognitivo e também têm maior automaticidade ao desempenhar tarefas que novatos. Da mesma forma, Chi (2006) também lista sete formas nas quais experts “falham" em relação a novatos no cumprimento de tarefas relacionadas ao seu campo de atuação. São elas: - Experts são limitados por seu domínio de excelência, isto é, não têm mais conhecimento ou habilidade em áreas que não fazem parte de seu domínio ou contextos que não tendem a enfrentar em sua prática; 8 - Experts tendem a ter um excesso de confiança em suas capacidades, o que pode levar a erros; - Experts tendem a ignorar informações que não são estritamente relacionadas à sua área de domínio e, por vezes, essas informações têm relação direta com o problema a ser resolvido; - Dentro de seu domínio, experts tendem a depender de um contexto para fornecer informações precisas, contexto esse que, se for omitido ou diferente do esperado, gera confusão e imprecisão. Por exemplo, um médico ao qual são apresentados sintomas diferentes do que seria esperado para a idade e sexo de um dado paciente pode ter dificuldades em diagnosticar o problema em questão; - Experts, por vezes, se mostram inflexíveis a mudanças. Uma vez que sua rotina estabelecida seja modificada, têm dificuldades em adaptar-se à nova realidade; - Experts ocasionalmente falham em julgar ou predizer quanto tempo um novato levará para cumprir certa tarefa em seu domínio, ou o quão fácil ou difícil seria para determinado indivíduo cumprir tal tarefa. Quanto maior a expertise do sujeito, maior tende a ser essa dificuldade; - Experts geralmente têm uma fixação com seu campo de domínio, o que faz com que possam olhar uma situação pelo viés que estão acostumados. Por exemplo: na medicina, médicos cardiologistas tendem a gerar mais hipóteses relacionadas a patologias cardíacas, mesmo que esse não seja o caso, do que de qualquer outro tipo de médico. 2.1.3. Expertise musical desenvolvimentos, embora esse tipo de prática, reconhecidamente, possa ser mantida por tempo limitado a cada dia, sob o risco de exaustão psicológica ou fisiológica. Em estudantes mais jovens, a quantidade de prática deliberada não se mostra tão eficaz quanto em estudantes mais velhos, por isso, em estudantes jovens, o que tende a ser mais importante é a habilidade nata. Conforme o nível de performance vai aumentando, a influência da prática deliberada torna-se cada vez mais evidente nos resultados obtidos. Segundo Lehmann e Gruber (2006), embora a duração da prática deliberada seja preditiva com relação à expertise do músico, o mesmo pode não ocorrer no que se refere à performances de um estilo em específico, como, por exemplo, um estudante que não é treinado em música barroca e acaba 9 deparando-se com obstáculos na interpretação, os quais demais músicos versados na performance de música barroca não têm maiores dificuldades. Segundo Ericsson et al. (1993) em uma seção de prática deliberada pode ser cansativa e não prazerosa, pois requer muito esforço físico e mental. Os músicos, em geral, desfrutam do desenvolvimento adquirido com a prática, mas isso não significa que apreciem as seções de prática inerentemente. Estudos apontam que músicos tendem a achar apresentações em público (performances) muito mais apreciáveis do que seções de prática, mas se a seção de prática envolver preparo de alguma peça com o intuito de apresentá-la futuramente, esse tipo de prática será mais prazerosa do que o mero estudo de técnica e atividades de natureza preparatória, mesmo que estas atividades tenham grande relevância na melhora da capacidade do estudante. Um estudo de Chaffin et al. (2002), mostra distintamente quatro etapas nas quais um músico pode encontrar-se ao praticar uma peça. São elas: - Em um primeiro momento o músico procura conhecer a peça de forma ampla, buscando suas características e forma geral. Dependendo do estilo, faz uma leitura e a primeira vista, análise da música, ou busca ouvir gravações da peça - No segundo estágio, a peça é estudada em etapas, memorizada, e/ou analisada em detalhes. O músico trabalha em pontos críticos e problemas encontrados no desenvolvimento do estudo até automatizar e memorizar boa parte da obra. - Na terceira etapa, a peça é integralizada e os pedaços que foram estudados na etapa anterior são juntados, de forma que o músico crie um mapa mental da peça em sua memória. Nesse momento a peça é preparada para uma performance real, seja de forma imaginária ou para um público informal, no intento de reformar e polir os detalhes da interpretação. Em geral, estuda-se a peça de forma mais lenta, e então, pouco a pouco, o músico traz o andamento para o correto ou desejado. - A quarta etapa é a etapa de manutenção, que serve para que o músico mantenha a peça em sua memória. Normalmente é executada essa etapa entre concertos e apresentações de um repertório que se repete. A prática em si é uma capacidade à parte e esta capacidade de praticar precisa ser treinada por si só. Experts diferenciam-se de novatos na sua habilidade de praticar. Em um momento inicial, como no caso de estudantes em idade escolar, a supervisão de um professor é importante, para assegurar que o aluno esteja estudando por tempo suficiente e utilizando seu tempo de estudo de maneira eficaz. Estudos de Barry e Hallam (2001) comprovam que procedimentos escritos também são mecanismos eficazes para que alunos consigam estruturar suas práticas e gerenciar seus erros e acertos. Após um período de prática supervisionada, o músico pode tomar a estrutura de sua prática em suas próprias mãos, sendo que uma rotina de 10 autorregulação deve ser ensinada desde o princípio dos estudos. Assumir esse tipo de rotina, sem a supervisão constante do tutor, requer uma grande motivação pessoal do aluno. O tempo de prática que, de forma geral, se aceita como sendo padrão para alguém que iniciou os estudos na infância torne-se um expert é de aproximadamente dez anos de prática naquele domínio. (Lehmann & Gruber, 2006) Um modelo descrito por Fitts e Posner (1967, como citado em Lehmann & Gruber, 2006), descreve os estágios aquisição de uma determinada habilidade como sendo primeiramente cognitivo, depois associativo e por último autônomo, necessitando cada vez menos esforço cognitivo para o desempenho daquela habilidade. Por exemplo, enquanto para novatos o esforço cognitivo encontra-se todo voltado para aspectos puramente técnicos, um expert pode alocar sua atenção em elementos estéticos e estratégicos. Experts têm uma memória notória no que se refere ao seu domínio e isso não é exceção em relação à música. Segundo Lehmann e Gruber (2006) o fator essencial no desenvolvimento da expertise é a capacidade de acumular padrões cada vez mais complexos na memória, como por exemplo, músicos proficientes tendem a conseguir guardar informações a respeito de elementos musicais (como sequências de notas) de forma muito mais eficiente do que não músicos, o que acontece de forma mais acentuada em casos de música tonal, e menos acentuada quando trata-se de música atonal ou de sequências randômicas de notas. Em se tratando de habilidades motoras, os músicos tendem a aprimorar movimentos e capacidade referentes a seu instrumento, como por exemplo, um pianista tem maior capacidade de bater seus dedos contra uma superfície mais rapidamente que uma pessoa comum, mas isso não se reflete na sua capacidade de bater os calcanhares (Keele, Pokorny, Corcos, & Ivry, 1985, como citado em Lehmann & Gruber, 2006). No campo da percepção, músicos tendem a possuir uma melhor capacidade de discriminação de frequência e amplitude sonora do que não músicos (Lehmann & Gruber, 2006). Também é notável que músicos que executam instrumentos que necessitem de uma afinação fina a cada nota durante a performance desenvolvem um senso de afinação mais preciso e que percussionista tenham uma noção mais apurada de duração sonora (Rauscher & Hinton, 2003). Tipicamente, as adaptações motoras e sensoriais que os músicos desenvolvem estão relacionadas aos estímulos encontrados durante a prática de seu instrumento respectivo, conclui-se que tais adaptações são vinculadas à essa prática. De acordo com Sloboda (2008) o instrumentista que se proponha a atingir um nível de expert deve ser capaz de desempenhar algumas habilidades musicais sem falhas e concomitantemente, subordinando-as à estrutura geral da peça. São elas: - Executar uma peça com dinâmica, fraseado, precisão rítmica, ornamental etc; - Quebrar os trechos da peça em estruturas menores para estudo e memorização; 11 - Ter a capacidade de “flutuação”, ou seja, executar uma performance de forma automática, sem que seja necessária uma grande quantidade de concentração; - Escolher de maneira eficaz o dedilhado em instrumentos pertinentes; - Variar entre duas performances distintas de uma mesma peça quanto à acentuação, dinâmica, fraseado, timbre etc.); - Ter coerência interna na arquitetura da obra na repetição, variação e encadeamento dos temas que a compõem; - Ter controle sobre progressões de velocidade e dinâmica, ou seja, controle do tempo e dinâmica de forma hierárquica, de modo à respeitar a estrutura maior da peça; - Controlar as modulações de altura e timbre no caso de instrumentos de sopros, cordas friccionadas e voz; - Sincronizar a peça em conjunto com outros músicos; - Ter um feedback do som que se obtém em comparação a uma representação clara do som que se deseja obter, ou seja, saber o que deve-se ouvir e tomar medidas imediatas para corrigir qualquer desvio do resultado esperado. 2.1.4. Performance musical Segundo Ray (2015), o estudo da performance musical tende, cada vez mais, a tomar forma no universo acadêmico brasileiro. O estudo de Borém (2015) mostra um crescimento significativo pelo interesse do estudo acadêmico de assuntos relacionados à performance, dentre as teses e dissertações produzidas no Brasil no período de 1986 (24,5% dos trabalhos analisados) até meados de 2001 (65,7% dos trabalhos analisados). Segundo o autor, a diversidade de interfaces apresentadas nas pesquisas possibilita uma grande interação entre a área da música e as demais áreas. Ainda assim, segundo Borém (2015), a performance musical é uma área “carente de quadros teóricos de referência específicos ou procedimentos metodológicos consolidados”. Quanto ao termo performance, Ray (2015) define-a como “o momento em que o músico (instrumentista, cantor ou regente) executa uma obra musical exposto à crítica de outro ou outros”, podendo esse(s) outro(s) serem uma audiência ou um ou mais professores, em que se pode simular uma apresentação. Segundo a autora, o fato de estar sendo observado “muda a atitude do performer diante da música que ele executa. Segundo Sloboda (2008), o termo performance musical pode se referir a uma ampla quantidade de manifestações humanas, como o cantarolar de uma melodia por uma criança, a participação de um rito com cantares e tocar de tambores e a dança ao som da música. Entretanto, em um sentido mais restrito, a performance 12 musical pode ser definida pelo autor como um ou mais indivíduos executando uma peça de música conscientemente para um grupo de ouvintes e, na sociedade ocidental, frequentemente os executantes não são os mesmos indivíduos que compuseram a música. Existem momentos em que o executante também é o criador da música. Estes momentos são chamados de improvisação. Segundo Ray (2015), durante uma performance musical, há pelo menos um agente (instrumentista, cantor ou regente) e quatro fundamentos: (1) o domínio da manipulação física do instrumento; (2) o amplo conhecimento do texto musical a ser interpretado, bem como as considerações estéticas a ele relacionadas; (3) condições de interagir com os aspectos psicológicos envolvidos no exercer da profissão e, finalmente, (4) condições de reconhecer os limites do seu corpo constantemente e prioritariamente no contato com o instrumento. Ray também destaca seis elementos presentes na prática de qualquer performance musical (ou EPM): - Conhecimento do conteúdo - referente ao entendimento do performer no campo estético-musical em que é formado ou busca formação; - Aspectos técnicos - que dizem respeito ao domínio do instrumento, a produção musical, a qualidade do material de estudo e a orientação adequada; - Aspectos músculo-esqueléticos - que trata da demanda física exigida pelo corpo e o preparo do performer; - Aspectos psicológicos - que trata da estrutura emocional e psicológica do performer; - Aspectos neurológicos - que trata do funcionamento do cérebro e das respostas neurológicas do performer no momento de seu estudo ou de suas apresentações; - Musicalidade e expressividade - referente à capacidade do performer expressar sua própria musicalidade ao interpretar conteúdo musical. Segundo Sloboda (2008) a preparação da performance, cujo material esteja escrito em partitura apresenta três momentos: (1) leitura a primeira vista (o contato inicial do músico com a partitura na tentativa de reproduzir o material musical conhecê-lo previamente); (2) ensaio (ou prática do material musical) e (3) performance em nível de expert. Para Sloboda, uma leitura à primeira vista boa, assim como um bom ensaio, identificam um expert. A pesquisa sobre a representação cognitiva que a estrutura musical assume na mente do músico para um melhor entendimento de como funciona a performance musical vem sendo estudada por Palmer (1997). Essa autora explica que a noção de que ritmo gera movimento deriva de nossa percepção de ações motoras, como a regularidade dos passos de um indivíduo que anda ou que corre e suas diferenças em questão de tempo. Seus estudos também comprovam que a percepção e/ou a expressão de notas alongadas ou encurtadas é subjetiva à expectativa que o músico tem em relação à posição que aquela nota ocupa em estruturas maiores da peça. Um sistema triangular proposto por Lehmann e Ericsson (1997) sugere que a expressão musical pode 13 ser representada em três fases. Primeiramente, um músico imagina antecipadamente o resultado que deseja obter. Em seguida, ele executa a sua performance tentando chegar ao resultado planejado e, finalmente, uma representação mental é necessária, a respeito de como um plano em específico pode ser implementado para tal objetivo. Pelo fato de este estudo estar relacionado a estratégias de ensino voltadas à aquisição de expertise musical na prática da música popular instrumental brasileira que visam auxiliar professores de música (em diferentes níveis) a formar alunos experts neste tipo de repertório, acredita-se ser viável a exposição de um breve histórico sobre a educação musical formal no Brasil. Esse tópico será apresentado a seguir. 2.2. Educação musical formal no Brasil O início da educação musical formal no Brasil se dá quando jesuítas liderados por Inácio de Loyola influenciam os índios que aqui habitavam com métodos de ensino e instrumentos musicais europeus e linguagens ibéricas, a partir de práticas de música europeia. Mais tarde, no período em que se sucedeu à vinda da família real para o Brasil em 1808, no qual a música sai do âmbito religioso das igrejas e entra para o âmbito profano dos teatros, o repertório musical praticado não extrapolava os limites da música produzida na Europa e, embora se saiba pouco acerca dos métodos de ensino praticados à época, é possível supor que estes métodos não tenham sofrido grandes variações ao modo de ensino europeu adotado no período. Assim, os métodos progressivos, com grande ênfase na memorização e no confronto entre objetivos propostos e metas alcançadas foram os mais utilizados (Fonterrada, 2008). Segundo essa mesma autora, enquanto, no decorrer do século XIX, havia esforços no sentido de implementar o ensino de música no âmbito escolar no Brasil, essas medidas não tomaram o rumo desejado, ou por serem vagas e sem direcionamento, ou por considerarem apenas alguns grupos de “indivíduos talentosos" como tendo algum aproveitamento deste ensino de base europeia. Na questão do ensino especializado de música, em 1845, surge o Conservatório Brasileiro de Música, no Rio de Janeiro e em 1906 o Conservatório Dramático e Musical em São Paulo, ambos dotados de um corpo docente alinhado ao pensamento, repertório e instrumentos musicais europeus. Ao mesmo tempo em que o ensino formal da música ocorria a essas trilhas, sucedia-se na informalidade a "música popular brasileira", sendo aprendida e executada de forma improvisada e espontânea. Assim, com Anísio Teixeira e Mário de Andrade, começou-se um direcionamento para discussões sobre movimentos artísticos que prezassem tanto o ensino 14 quanto a criação de uma música legítima brasileira, tirando-a do pedestal de uma arte para poucos privilegiados e trazendo-a para perto do folclore e dia-a-dia da população. Posteriormente, além de fazer esforços para "nacionalizar" a nossa música e com suas constantes viagens à Europa, Villa-Lobos ajudou a popularizar no Brasil novas metodologias de ensino europeias, como a de Zoltan Kodály e sua manossolfa e o canto orfeônico. Neste período, a música era ensinada nas escolas brasileiras, levando em conta as contribuições de Mário de Andrade, Villa-Lobos, Koellreutter, entre outros educadores e pensadores. Entretanto, a partir de 1971, a disciplina de música nas escolas é substituída por uma prática de educação artística, que englobava, além da música, as artes plásticas e as artes cênicas e, em 1974, é criado um curso de nível superior em artes, para suprir a necessidade de professores capacitados nestas três áreas artísticas em pouco tempo. A legislação de 1996 retornou à música sua independência em relação às outras artes no ensino escolar, mas a situação das escolas e as condições das mesmas não refletiam as iniciativas governamentais e, neste sentido, a distância entre o ideal e o que se praticava ainda era bastante grande no que dizia respeito a um ensino eficiente de musicalização básica no Brasil (Fonterrada, 2008). A partir de agosto de 2008, com a aprovação da lei 11.769 que “explicita ser a música um conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do ensino da arte na educação básica”, esse quadro vem mudando, de forma que, diferentemente das situações anteriores, a música tem agora o lugar de uma disciplina específica e obrigatória, ministrada por professores licenciados na área de música, em detrimento de profissionais generalistas de educação artística. Visto que a implementação dessa legislação é bastante recente, nos encontramos ainda em um processo de transição de uma realidade para outra (Penna, 2010). Este breve histórico sobre o desenvolvimento de procedimentos relacionados ao ensino de música no Brasil ilustra caraterísticas típicas de nossa cultura em relação ao aprendizado, à escuta, à execução e à composição musical no curso de nossa história. 2.3. Vertentes da música brasileira Uma vez que o presente trabalho tem a música popular instrumental brasileira como o principal foco de análise afim de descobrir o estado da arte que a pesquisa nesse nicho específico se encontra, um panorama acerca da história da música popular (instrumental) brasileira foi elaborado de forma sucinta e levando em consideração apenas os estilos que mais se destacaram, dentre os inúmeros existentes. Nos estudos sobre a música brasileira dos séculos XVI a XVIII, pela falta de referências documentais, a origem de alguns gêneros presentes do Brasil no período é incerta (Bastos, 2008). 15 A proibição da existência de casas de impressão ou periódicos no período impediam a iniciativa documental de qualquer estirpe. Apesar disso, algumas canções de melodias simples desse período, como “Conde Claros”, “A bela infanta” e “Gerineldo”, passadas por tradição oral, sobreviveram até os dias presentes tanto em Portugal como no Brasil. Além desses, havia cantos de trabalho, acalantos e cantigas. Também eram comuns as bandas de corporações militares ou de escravos, mantidas pelos latifundiários mais destacados como aparato de ostentação e demonstração de poder, ao realizarem entradas pomposas nas vilas ao som dos clarins, ou para impressionar visitantes. Tais festas e procissões, tal qual em Portugal, muitas vezes funcionavam como pretexto para a socialização e diversão, como satirizaria o poeta Gregório de Mattos no final do século XVII (Budasz, 2006). A partir de meados do século XVIII, tal produção musical passou a ser documentada (Bastos, 2008), período a partir do qual, então, segundo Bastos e Piedade (2006), os gêneros lundu (dotado sistematicamente de síncopes e acordes de sétima menor) e a modinha (ritmicamente acentuada, lírica, melancólica) podem ser considerados as raízes da música popular brasileira. Ambos, modinha e lundu eram gêneros vocais. Porém, o lundu tem sua origem encontrada em danças instrumentais (Bastos, 2008). A modinha por sua vez, tratava-se de uma música de salão, comum tanto no Brasil como em Portugal, de ritmo inicialmente binário ou quaternário, passou, em um segundo momento, a ser tocada no “corte rítmico da valsa” ou em “movimento binário em tempo de schottisch" (Alvarenga, 1982). No século XIX, o maxixe se popularizou, sendo o primeiro tipo de dança urbana criada no Brasil e era proveniente da fusão e mistura de elementos de várias fontes (Alvarenga, 1982). Suscitando à corporalidade africana, teve seu ápice nesse período e decaimento em inícios do século XX, quando foi, por vezes, confundido com o samba. Trata-se de um gênero instrumental, comumente interpretado por flauta transversal, violão, cavaquinho e piano. (Bastos 2008). Segundo Alvarenga (1982), esse estilo musical teve uma grande recusa, em um primeiro momento, entre os salões burgueses, dada a sua corporalidade e sensualidade, mas na posterioridade foi aceita com ressalvas impostas em sua coreografia. O tango brasileiro, segundo Tinhorão (1986), é também um gênero instrumental, semelhante ao maxixe, ou como dizia: “um maxixe bem cuidado", mas foi menos popular que o último, e ambos, apesar de terem perdido popularidade no início do século XX, ainda hoje são tocados por intérpretes de choro. Ao final do século XIX, o choro origina-se no Rio de Janeiro, com grupos chamados de “pau e corda”, constituídos por violão, cavaquinho e flauta. O trio de Antônio da Silva Callado era o grupo mais conhecido da época, intitulado “O Choro Carioca”. Callado e seu trio contribuíram muito para a afirmação do choro como gênero musical (Bastos & Piedade, 2006). 16 O choro, atualmente, é um gênero instrumental consagrado, que tem por características principais a presença de um ou mais instrumentos solistas (normalmente flauta ou outros instrumentos de sopro) acompanhada por cavaquinho, violão (muitas vezes de sete cordas) e pandeiro, dividido em três partes em forma rondó (A-B-A-C-A), modulante e improvisatório, geralmente rico em variações por conta das improvisações entre os músicos. (Alvarenga, 1982) e (Bastos 2008). Atualmente, existem choros com improvisos em seções do tipo chorus, ou seja, o foco no improviso de um músico solista sobre a base harmônico-polifônica do tema. Este tipo de improviso com chorus é provavelmente uma influência do jazz no choro (Bastos, 2006). A marcha e a marchinha foram gêneros do mesmo período, sendo vocais e tocados em sua maioria às ruas em tempo de carnaval, mas também podiam ser ouvidas em salões, em coreografias simples. Geralmente de um caráter despretensioso e banal, dentre as marchas, por vezes, surgiam as chamadas marchas de rancho, estas mais melodicamente ricas e livres e ritmo menos vivo. A primeira marcha carnavalesca de grande sucesso foi “Ó abre alas” de Chiquinha Gonzaga de 1897 ou 1899 (Alvarenga, 1982). No início do século XX, surge o frevo, na cidade de Recife. Segundo Bastos (2008), apesar de bastante regional, o frevo não se trata de uma música folclórica, pois sempre foram bem definidos os autores das obras. Segundo Alvarenga (1982) trata-se de uma variação de marcha, também tocada nas festas carnavalescas, embora o frevo seja exclusivamente instrumental e de andamento mais acelerado. A figura conhecida por ter consagrado o frevo como gênero musical foi o capitão José Lourenço da Silva (Zuzinha), com sua banda da brigada militar de Pernambuco. Segundo Alvarenga (1982), o samba surgiu também no início do século XX. Embora o termo já tenha sido utilizado desde 1838 (primeiro registro) para designar qualquer evento musical e dançante dos negros. (Bastos, 2008). O samba pode ser dividido em duas categorias bem específicas, uma sendo o samba dos morros do Rio de Janeiro, das escolas de samba, cujo objetivo principal era a apresentação durante o carnaval e era composto de duas partes: A primeira, cantada em coro e sempre bem definida inicialmente, e a segunda do solista que podia ser definido ou ser cantado de forma improvisada ou com mudanças de última hora. Antes da entrada do coro, precede-se uma introdução instrumental com dois violões, cavaquinho e pandeiro, e durante o canto o acompanhamento instrumental é composta por surdo, pandeiro, tamborim e cuíca. A segunda categoria de samba foi consagrada no ano de 1917 pela canção “Pelo telefone” de Donga e Mário de Almeida. Tratava-se de um samba mais urbano, elaborado por músicos mais conhecidos do Rio de Janeiro. Essa modalidade de samba foi bastante gravada em discos e veiculada nas rádios e é o estilo de samba que constitui atualmente a consagrada dança de salão. O samba de salão é constituído de uma introdução instrumental, estrofes e refrão, 17 acompanhado por violão e instrumentos de percussão, ou então por grupos de choro. Algo importante de salientar é a expressão sentimental das letras dos sambas, “por vezes dotados de grande beleza e que se mantém muito acima da produção poética das canções urbanas de outros países" (Alvarenga, 1982). Também na primeira metade do século XX ocorreu a popularização e gravação no Rio de Janeiro de variados estilos nordestinos, como o baião, com Luís Gonzaga e Humberto Teixeira, de ritmo dançante, modal e com letras referenciando a vida no nordeste. O xote, o xaxado e o coco também foram gravados e ganharam popularidade internacional. Os instrumentos utilizados nesses gêneros são a sanfona, o triângulo e a zabumba (Bastos, 2008). Nos anos da década de 1950, surgiu o movimento da bossa nova, considerado um marco de renovação da música popular brasileira. No ano de 1958 com o lançamento da música “Chega de saudades” de João Gilberto, com sua batida típica ao violão, as influências provenientes da estrutura harmônica do jazz, e outras influências da música erudita como Debussy e Ravel e da música popular urbana brasileira de 30 e 40 (Rodrigues, 2006). A bossa nova veio romper com a estética do excesso, que era arraigada, à época, na canção brasileira com a utilização de bandas grandiosas. Utilizava-se de pequenas formações e interpretação vocal sem floreios ou vibratos e as letras eram cantadas de forma pouco melodramática (Bastos, 2008). Segundo Rodrigues (2006), a bossa nova, nos anos seguintes, se desdobrou em variadas vertentes estilísticas e recebeu grande reconhecimento nacional como gênero. Scarabelot (2004, como citado em Rodrigues, 2006) aponta para três pilares da bossa nova: os sambas peculiares de João Gilberto, a experiência erudita de Tom Jobim e a vivência musical jazzística de instrumentistas de Copacabana. Munidos da influência da geração da bossa nova e tendo nela uma de suas inspirações, Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso, Tom Zé, entre outros, davam início, na segunda metade da década de 60, ao movimento que ficou sendo conhecido como tropicália. Tratava-se de um movimento mais interessado em expor e implantar um novo posicionamento crítico por parte dos músicos do que em criar novas formas musicais propriamente ditas. Apesar disso, os tropicalistas empregavam uma musicalidade mais universal em sua música, a partir da fusão de estilos tradicionais brasileiros com o pop, o rock e o blues e a utilização de instrumentos elétricos. Suas atitudes e influências foram “herdadas e usufruídas, em maior ou menor medida, por quase todos os artistas que se dedicaram à música popular brasileira” entre as décadas de 70 e 90 (Calado, 2000). Nos anos 60, dotados das influências do jazz trazidas pela bossa nova e das modernizações dos gêneros da música brasileira, surgiram diversos conjuntos de música popular instrumental brasileira (MPIB), como os trios a base de piano, baixo e bateria, a citar: Tamba 18 Trio (1962-1992), Zimbo Trio (1964), Sambalanço Trio (1964-1967) e Bossa Três (1961-1967; 2000), dentre outros, e também formações maiores como J.T. Meirelles e os Copa 5 (1963), Sexteto Bossa Rio (1962-1964), quarteto Oscar Castro Neves (1962), Octeto César Camargo Mariano (1967), dentre outros. A atuação desses grupos foi importante para a valorização da música instrumental e mudou o sentido de apreciação da performance instrumental, a qual até então era vista como música de fundo ou música para danças (Rodrigues, 2006). Segundo a autora: podemos, a princípio e de forma bem generalizada, considerar a música popular instrumental brasileira como uma música destinada ao entretenimento, podendo englobar grande variedade de gêneros e estilos e as peças musicais em geral apresentam curta duração, podendo infringir estes limites e tangenciar com a música de concerto, em especial quando o conteúdo musical chega a um grau maior de sofisticação estética e complexidade formal. Situada num contexto urbano, moderno, transmitida por meios de comunicação transnacionais e consumida por um público heterogêneo, tem a característica de ser executada apenas por instrumentos, ou mesmo pela voz, porém sem a preocupação da veiculação de um texto literal (2006, p. 12-13) Segundo Bahiana (1979), a censura dos tempos de ditadura dos anos 60 e 70, por ter emudecido as vozes dos cantores do período, trouxe um maior público para a música popular instrumental brasileira, mas tal transição não se deu de imediato. Depois de um certo vácuo cultural ao final da década de 60 e início de 70, em 1974 começam a surgir mais interessados no gênero instrumental. De acordo com a autora, tal interesse ocorreu a partir da entrada do rock no cenário nacional, que conquistava a nova geração com a grande capacidade de improvisação característica do estilo. O público jovem afeiçoado pelo rock passava, então, a frequentar concertos de Egberto Gismonti e Hermeto Pascoal. Conjuntos como Som Imaginário, ricos da influência do rock fizeram parte desse período, mas outros movimentos também surgiram na década de 70 derivados de estilos diversificados, como exemplo temos o Movimento Black Rio, influenciados pelo movimento black americano, o Quinteto Violado com influências de música folclórica brasileira, e vários grupos de choro que surgiram no período (Rodrigues, 2006). Segundo o estudo de Borém (2015), o interesse por temas brasileiros no meio acadêmico vem crescendo de forma acentuada nas ultimas décadas. Entre 1981 e 1985, das 20 teses e dissertações analisadas, nenhuma delas tratava de temas relacionados à música brasileira, e no período de 1999 a 2000, das 113 teses e dissertações analisadas 64,6% eram de temas brasileiros, e em 2001 a proporção subiu para 82,8% dos trabalhos. Borém acrescenta: 19 Ainda que essa temática imponha limitações devido à minguada bibliografia publicada, a desorganização da maioria dos acervos, o grande número de acervos particulares, a indisponibilidade de fontes primárias e secundárias, as restrições financeiras e geográficas na pesquisa de campo etc. os resultados de pesquisas sobre temas brasileiros têm apresentado um efeito multiplicador (temas revisitados e temas com sub-tópicos paralelos) e apontam para uma tendência que deve se consolidar cada vez mais (2015, p. 18). No que se refere ao repertório, os trabalhos analisados são classificados em sete categorias que, por sua vez, são originados de dois parâmetros. Um deles aborda a origem da música ou do compositor analisado, ou seja, se é brasileiro ou não brasileiro e o outro parâmetro aborda os estilos da música ou compositor analisado, podendo ser música de concerto, música popular ou música folclórica. A sétima categoria é a música popular instrumental brasileira, como um recorte da música popular brasileira, para que se possa analisar esse estilo em separado. A tabela 1 abaixo, desenvolvida por Tagg (1982)4, ajuda a esclarecer o significado destes termos. 4 Tradução do autor 20 Tabela 1 Distinções entre música folclórica, de concerto e popular, um triângulo axiomático (Tagg, 1982, p.4). Música folclórica Característica (em maioria) profissionais Música de concerto Música popular X X Produzida e transmitida por (em maioria) amadores X Usual X Distribuição em massa Principal modo de armazenamento e distribuição Não-usual X Transmissão oral X Notação musical X X Som gravado Nômade ou agrária Tipo de sociedade na qual a categoria de música ocorre com mais frequência X X Agraria ou industrial X Industrial X Incomum X Comum X Anônimo X X Teoria escrita e estética X Compositor / Autor Não-anônimo X X Pode-se perceber, analisando a tabela, que a música folclórica se trata de uma música produzida e transmitida, em maioria, por amadores, geralmente de origem anônima e em sociedades agrárias ou nômades, cuja distribuição e transmissão não tende a ser para as massas, mas sim pela oralidade e pode ou não ser abordada em trabalhos teóricos e estudos estéticos escritos. Quanto à música de concerto, em geral, ela é produzida e transmitida por profissionais não anônimos de sociedades agrárias ou industriais, armazenada e transmitida por meio de notação musical, de distribuição de massas incomum e normalmente abordada em trabalhos teóricos e estudos estéticos escritos. Por sua vez, a música popular, de forma geral, é produzida por profissionais, não anônimos de sociedades industriais, armazenada e transmitida por meio de gravações sonoras e comumente distribuída às massas. Segundo o autor, não é comum que a música popular seja abordada em trabalhos teóricos e estudos estéticos escritos. 21 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O presente estudo trata-se de uma pesquisa descritiva que, segundo Gil: tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis. São inúmeros os estudos que podem ser classificados sob este título e uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistemática (2002, p.42). No caso do presente trabalho, a metodologia utilizada para descrever as características das pesquisas em performance e expertise no contexto brasileiro conta com o apoio de tabelas que foram alimentadas com os dados de textos retirados dos anais dos principais congressos da área de cognição e performance (5SIMCAM e ABRAPEM) que foram realizados no intervalo de 2006 até 2015. Assim como no estudo realizado por Borém (2015), as categorias utilizadas na tipologia dos estudos encontrados são arbitrárias, tornando o estudo uma espécie de aproximação à realidade, com o intuito de "mostrar tendências, gerando dados quantitativos passivos de um estudo mais aprofundado”. A tipologia do presente trabalho se apropria de boa parte da utilizada por Borém (2015), tendo como primeiro eixo tipológico a classificação dos temas em: (1) Performance pura, no qual o tema principal é a performance e não chega-se a caracterizar interfaces claras com outras subáreas; (2) Performance musical e análise musical, no qual a ideia principal é a “de dissecar e explicar o texto musical e prover subsídios para sua interpretação”, aliada à prática performática e à obtenção de resultados aplicando a referida análise; (3) Performance e musicologia, como coloca Borém, muitas vezes “os performers musicais transformam-se em musicólogos” em um estudo acerca de performance e vêm acrescentar ao campo da musicologia, o que os auxilia na interpretação de peças de determinados compositores e/ou períodos históricos; (4) Performance e educação musical, com o intento de adequar e integrar o ensino à realidade do músico brasileiro, trazendo metodologias e didáticas para a iniciação musical; (5) Performance musical e composição, que trata da relação entre composição e performance, improvisação e questões relacionadas à grafia, musicalização e sua leitura; 5 SIMCAM (Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais); ABRAPEM (Associação Brasileira de Performance Musical). 22 (6) Performance musical e medicina / educação física, que contempla estudos relacionados à postura, detecção e prevenção de lesões em instrumentistas, aspectos fisiológicos, psiquiátricos, aspectos de aprendizagem motora e estudo dos movimentos na performance. (7) Performance musical e sociologia / filosofia, que contempla estudos voltados para a inserção social da música na sociedade, frisando a função social de performers musicais e/ou a aplicação de abordagens sociológicas e/ou filosóficas em questões relativas à performance ou aos performers. Uma das classificações utilizadas por Borém (2015), performance e MPB, não foi utilizada no presente trabalho, pois esta classificação de repertório foi contemplada no terceiro eixo tipológico de classificação (abordado abaixo), o qual sofrerá cruzamento posterior com o eixo de performance, para obtenção de resultados quantitativos independentes. O segundo eixo tipológico contemplado no presente trabalho diz respeito aos elementos da performance musical, ou EPM, de Ray (2015), mencionadas no capitulo 2.1.5 (Performance musical), que trata do principal aspecto da performance abortado pelo trabalho em análise, quando for pertinente. Para reiterar, os aspectos são: (1) conhecimento do conteúdo; (2) aspectos técnicos; (3) aspectos músculo-esqueléticos; (4) aspectos psicológicos; (5) aspectos neurológicos e (6) musicalidade e expressividade. Como nos eixos posteriores, uma opção (7) “nenhuma das alternativas” (N/A) foi acrescida nesse eixo para os casos em que nenhum EPM seja abordado de forma específica no trabalho em questão. O terceiro eixo tipológico é referente ao repertório, sendo utilizadas as seguintes classificações: (1) Música de concerto não brasileira: qualquer música de concerto, desde o período renascentista ao contemporâneo, que tenha sido composta fora do Brasil; (2) Música de concerto brasileira, qualquer música de concerto que tenha sido composta no Brasil; (3) Música popular não brasileira: qualquer música de âmbito popular que tenha sido composta fora do Brasil; (4) Música popular brasileira: qualquer música de âmbito popular que tenha sido composta no Brasil. Nesta categoria enquadram-se todas as músicas consideradas populares segundo os parâmetros de Tagg (1982) e não necessariamente as músicas do gênero insigne MPB. (5) Música folclórica não brasileira: qualquer música folclórica que não possua origem brasileira. (6) Música folclórica brasileira: qualquer música folclórica que possua origem brasileira. 23 (7) Música popular instrumental brasileira ou MPIB: recorte de qualquer música inserida no âmbito da música popular brasileira, sendo essas com características instrumentais, improvisatórias e de fusão de variados estilos, a exemplo de Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti; (8) Nesse eixo tipológico, foi acrescida uma oitava opção, denominada “nenhuma das alternativas” (N/A), que significa que nenhuma das outra opções se aplica, nos casos em que o foco do trabalho não seja vinculado a nenhum tipo de repertório em específico, ou que não esteja explícito nas partes lidas para triagem do material, ou seja, título, resumo e/ou metodologia, quando necessário. Um quarto e último eixo tipológico para a presente análise é referente à expertise e toma como modelo a ideia de Galton (abordada no capítulo 2.1.3) de que o desenvolvimento da expertise em qualquer domínio passa por três áreas complementares e primordiais. São essas: (1) habilidade natural (talento); (2) entusiasmo e (3) capacidade de trabalho. Para uma melhor análise dos resultados, a categoria (3) foi subdividida em duas, sendo essas: (3) capacidade de trabalho (motora) e (4) capacidade de trabalho (cognitiva), sendo a primeira relacionada à questões de corporalidade, planejamento motor, saúde e questões músculo-esqueléticas e a segunda relacionadas à questões de técnicas de cunho cognitivo, como leitura, percepção, aprendizado, estudo etc. Também foi acrescida uma opção (5) “nenhuma das alternativas” (N/A) nos casos em que nenhuma área em específico fosse abordada pelo trabalho em questão. Do cruzamento desses quatro eixos tipológicos, pôde-se obter um detalhamento bastante específico, ainda que resumido, acerca da localização temática dos trabalhos analisados pela presente pesquisa. O processo de triagem seguiu um protocolo que foi criado com a intenção de focar de forma prática no assunto aqui pesquisado, ou seja, aprendizado e expertise em performance musical. O protocolo envolveu a categorização de fatores em forma de perguntas. Os fatores que obtiveram uma ou mais respostas positivas, faziam com que o texto fosse selecionado a passar pela segunda etapa, que, caso houvesse alguma resposta positiva faria com que o texto fosse, então, desconsiderado do âmbito da presente análise. Quando o texto recebia pelo menos uma resposta afirmativa na primeira etapa e nenhuma resposta afirmativa na segunda, ele era incluído na tabela para análise qualitativa posterior dentro dos quatro eixos tipológicos supracitados. Os fatores que poderiam incluir os textos utilizados foram: - O texto é relacionado à performance musical? - É relacionado à pratica e/ou aprendizagem instrumental ou vocal? - É relacionado ao talento ou entusiasmo (motivação) do performer? 24 - É relacionado à habilidades que auxiliem diretamente na performance musical (como coordenação motora, leitura musical ou preparo do corpo)? Os fatores que poderiam excluir os textos utilizados foram: - O texto envolve apenas performance regencial? - O texto envolve apenas pessoas com necessidades especiais? - O texto envolve apenas formação de docentes e habilidades de ensino, mesmo que relacionadas ao ensino da performance? - O textos envolve apenas crianças com menos de 7 anos de idade, em educação préescolar? - O texto envolve apenas indivíduos com altas habilidades / superdotação? - O texto envolve apenas aulas de performance como meio de inclusão social (por exemplo: aulas de instrumento para adolescentes em situação social de risco)? - O texto envolve apenas escolha e/ou definição de repertório? Tendo esse procedimento em vista, foram obtidos os textos dos anais dos congressos acima citados e, primeiramente, observados os títulos dos mesmos, o que, algumas vezes, já foi o suficiente para o processo de seleção do mesmo na triagem. Quando os dados necessários não estavam tão explícitos no título, foi efetuada a leitura do resumo do texto, o que, na maioria das vezes, deixava claro se o texto entraria ou não para análise. Nos momentos da análise qualitativa dos quatro eixos tipológicos, por vezes teve-se que recorrer à leitura da seção de metodologia e/ou conclusão dos textos, quando presentes, principalmente para obter informações referentes ao repertório (terceiro eixo tipológico) abordado no trabalho, quando havia um repertório definido. Os demais eixos tipológicos, em geral, ficavam mais claros apenas com a leitura do resumo do texto. Para um exemplo dessa análise qualitativa inicial, vide tabela 5. Após os textos terem sido selecionados e analisados, efetuou-se um processo de análise quantitativa, no software Numbers, utilizando filtros e organizadores no intuito de obter a quantidade de textos em cada categoria de cada eixo tipológico (vide tabela 2). Posteriormente, obtidos já os números, os mesmos foram transformados em percentagens, tanto referentes ao montante de textos analisados (vide tabela 3 e gráficos 1 a 4), quanto referentes ao montante total de textos presentes nos anais dos congressos (vide tabela 4). Por fim, foram selecionados os textos referentes ao objetivo específico do presente trabalho de esmiuçar os estudos acerca da música popular instrumental brasileira, ou seja, que possuíam a categoria "7) MPIB” no eixo tipológico 3, e então foi elaborada uma tabela com a análise detalhada destes textos para apreciação. 25 4. RESULTADOS Os resultados obtidos na análise dos dados são apresentados a seguir na forma de tabelas e gráficos. A tabela 2 mostra a quantidade de textos que foram encontrados e enquadrados em cada categoria de cada um dos eixos tipológicos utilizados na presente pesquisa, sendo que o total de textos da ABRAPEM que foram analisados, ou seja, aprovados no processo de triagem), foi de 46 dentre os 57 textos nos anais deste congresso e o total de textos analisados da SIMCAM foi de 202 dentre os 607 textos. Isso resultou em uma análise e categorização de 248 textos dentre o total de 664 textos presentes em ambos os congressos. 26 * Tabela 2 Quantidade de textos encontrados e enquadrados em cada categoria dos eixos tipológicos da presente pesquisa, nos anais de congressos da ABRAPEM e do SIMCAM entre 2006 e 2015. Eixo 1 - Performance e ABRA outras interfaces PEM SIMC AM Total Geral Eixo 2 - Elementos da performance musical ABRA PEM SIMC AM Total Geral 1) Performance musical pura 11 69 80 1) Conhecimento do conteúdo 2 9 11 2) Performance musical e análise musical 5 8 13 2) Aspectos técnicos 24 35 59 3) Performance musical e musicologia 16 9 25 3) Aspectos músculoesqueléticos 3 29 32 4) Performance e educação musical 6 57 63 4) Aspectos psicológicos 8 77 85 5) Performance musical e composição 4 15 19 5) Aspectos neurológicos 0 11 11 6) Performance musical e medicina / educação física 2 28 30 6) Musicalidade e expressividade 8 32 40 7) Performance musical e sociologia / filosofia 2 16 18 7) Nenhuma das alternativas 1 9 10 Eixo 3 - Repertório ABRA PEM SIMC AM Total Geral Eixo 4 - Expertise ABRA PEM SIMC AM Total Geral 1) Música de concerto não brasileira 12 27 39 1) Habilidade natural 0 9 9 1∩2) Música de concerto em geral 2 10 12 2) Entusiasmo 0 28 28 2) Música de concerto brasileira 7 17 24 3) Capacidade de trabalho (motora) 5 36 41 3) Música popular não brasileira 0 5 5 3∩4) Capacidade de trabalho em geral 12 30 42 3∩4) Música popular em geral 0 2 2 4) Capacidade de trabalho (cognitiva) 27 90 117 4) Música popular brasileira 6 13 19 5) Nenhuma das alternativas 2 9 11 5) Música folclórica não brasileira 0 3 3 6) Música folclórica brasileira 0 1 1 7) Música popular instrumental brasileira 2 2 4 8) Nenhuma das alternativas 17 122 139 27 A tabela 3 apresenta as porcentagens da representatividade dos textos em cada categoria dos eixos tipológicos em relação ao total de textos analisados nos dois congressos abordados pela presente pesquisa. Obtiveram-se essas porcentagens ao dividir o número de textos encontrados em uma determinada categoria (vide tabela 1) por 248, isto é, o total de textos analisados. A tabela indica que as categorias de textos mais prolíferas são “performance musical pura”, no eixo um, com 32,3% dos textos; “aspectos psicológicos” no eixo dois, com 34,3% dos textos; "música de concerto não brasileira" no eixo três, com um total de 20,5% (somando 15,7% com 4,8% que representa textos que contemplam tanto música de concerto brasileira quanto não brasileira), levando em conta que a maioria dos textos não especifica nenhum repertório (56%); e “capacidade de trabalho (cognitiva)” no eixo quatro, com um total de 64,1% (somando 47,2% com 16,9%, que representa textos que contemplam tanto a capacidade de trabalho cognitiva quanto motora). 28 Tabela 3 Representatividade dos textos em cada categoria dos eixos tipológicos em relação ao total de textos analisados nos dois congressos abordados pela presente pesquisa. Eixo 1 Performance e outras interfaces % Eixo 2 - Elementos da performance musical % Eixo 3 - Repertório % Eixo 4 - Expertise % 1) Performance musical pura 32,3 % 1) Conhecimento do conteúdo 4,4 % 1) Música de concerto não brasileira 15,7 % 1) Habilidade natural 3,6% 2) Performance musical e análise musical 5,2% 2) Aspectos técnicos 23,8 % 1∩2) Música de concerto em geral 4,8 % 2) Entusiasmo 11,3 % 3) Performance musical e musicologia 10,1 % 3) Aspectos músculoesqueléticos 12,9 % 2) Música de concerto brasileira 9,7 % 3) Capacidade de trabalho (motora) 16,5 % 4) Performance e educação musical 25,4 % 4) Aspectos psicológicos 34,3 % 3) Música popular não brasileira 2,0 % 3∩4) Capacidade de trabalho em geral 16,9 % 5) Performance musical e composição 7,7% 5) Aspectos neurológicos 4,4 % 3∩4) Música popular em geral 0,8 % 4) Capacidade de trabalho (cognitiva) 47,2 % 6) Performance musical e medicina / educação física 12,1 % 6) Musicalidade e expressividade 16,1 % 4) Música popular brasileira 7,7 % 5) Nenhuma das alternativas 4,4% 7) Performance musical e sociologia / filosofia 7,3% 7) Nenhuma das alternativas 4,0 % 5) Música folclórica não brasileira 1,2 % 6) Música folclórica brasileira 0,4 % 7) Música popular instrumental brasileira 1,6 % 8) Nenhuma das alternativas 56,0 % Os gráficos de 1, 2 ,3 e 4 representam de uma forma mais visual os dados obtidos na tabela 3. Por uma questão de praticidade, o gráfico 3, referente ao eixo tipológico 3 não tem a categoria “8) nenhuma das alternativas” incluída no mesmo”, que foi omitida, uma vez que ela representa 56% dos textos, de forma que, tendo-se isso em mente, a visualização dos 44% remanescentes é facilitada por essa omissão. 29 Gráfico 1 - Representatividade dos textos em cada categoria do eixo tipológico 1 (performance e outras interfaces) em relação ao total de textos analisados nos dois congressos abordados pela presente pesquisa. Gráfico 1 - Legenda VII VI 7,3% 12,1% V 7,7% I 32,3% IV 25,4% II III 10,1% 5,2% I - Performance musical pura II - Performance musical e análise musical III - Performance musical e musicologia IV - Performance e educação musical V - Performance musical e composição VI - Performance musical e medicina / educação física VII - Performance musical e sociologia / filosofia Gráfico 2 - Representatividade dos textos em cada categoria do eixo tipológico 2 (elementos da performance musical) em relação ao total de textos analisados nos dois congressos abordados pela presente pesquisa. V 4,4% VI 16,1% I 4,4% VII 4% IV 34,3% Gráfico 2 - Legenda II 23,8% III 12,9% I - Conhecimento do conteúdo II - Aspectos técnicos III - Aspectos músculo-esqueléticos IV - Aspectos psicológicos V - Aspectos neurológicos VI - Musicalidade e expressividade VII - Nenhuma das alternativas 30 31 Gráfico 3 - Representatividade dos textos em cada categoria do eixo tipológico 3 (repertório) em relação ao total de textos analisados nos dois congressos abordados pela presente pesquisa. A categoria “nenhuma das alternativas” foi omitida para melhor compreensão do gráfico IX, 1,6% VII, 1,2% Gráfico 3 - Legenda VIII, 0,4% VI, 7,7% V, 0,8% I, 15,7% IV, 2% III, 9,7% II, 4,8% I - Música de concerto não brasileira II - Música de concerto em geral III - Música de concerto brasileira IV - Música popular não brasileira V - Música popular em geral VI - Música popular brasileira VII - Música folclórica não brasileira VIII - Música folclórica brasileira IX - Música popular instrumental brasileira (MPIB) Gráfico 4 - Representatividade dos textos em cada categoria do eixo tipológico 4 (expertise) em relação ao total de textos analisados nos dois congressos abordados pela presente pesquisa. VI 4,4% II 11,3% I 3,6% V 47,2% III 16,5% IV 16,9% Gráfico 4 - Legenda I - Habilidade natural II - Entusiasmo III - Capacidade de trabalho (motora) IV - Capacidade de trabalho em geral V - Capacidade de trabalho (cognitiva) VI - Nenhuma das alternativas 32 Na tabela 4, as porcentagens encontradas se referem ao total de textos encontrados nos congressos investigados de forma geral, ou seja, tanto os analisados quanto os não analisados (664 textos). Obtiveram-se essas porcentagens a partir da divisão do número de textos encontrados em uma determinada categoria por 664. Nesse sentido, dentre todos os textos apresentados nos congressos da ABRAPEM e do SIMCAM nos anos de 2006 a 2015, aproximadamente 12% tratam de “performance pura”, 12,8% tratam dos aspectos psicológicos da performance, e assim por diante. Tabela 4 Representatividade dos textos em cada categoria dos eixos tipológicos em relação ao total geral de textos (analisados e não analisados) nos dois congressos abordados pela presente pesquisa. Eixo 1 Performance e outras interfaces % Eixo 2 - Elementos da performance musical % Eixo 3 - Repertório % Eixo 4 - Expertise % 1) Performance musical pura 12,0 % 1) Conhecimento do conteúdo 1,7% 1) Música de concerto não brasileira 5,9 % 1) Habilidade natural 1,4% 2) Performance musical e análise musical 2,0 % 2) Aspectos técnicos 8,9% 1∩2) Música de concerto em geral 1,8 % 2) Entusiasmo 4,2% 3) Performance musical e musicologia 3,8 % 3) Aspectos músculoesqueléticos 4,8% 2) Música de concerto brasileira 3,6 % 3) Capacidade de trabalho (motora) 6,2% 4) Performance e educação musical 9,5 % 4) Aspectos psicológicos 12,8 % 3) Música popular não brasileira 0,8 % 3∩4) Capacidade de trabalho em geral 6,3% 5) Performance musical e composição 2,9 % 5) Aspectos neurológicos 1,7% 3∩4) Música popular em geral 0,3 % 4) Capacidade de trabalho (cognitiva) 17,6 % 6) Performance musical e medicina / educação física 4,5 % 6) Musicalidade e expressividade 6,0% 4) Música popular brasileira 2,9 % 5) Nenhuma das alternativas 1,7% 7) Performance musical e sociologia / filosofia 2,7 % 7) Nenhuma das alternativas 1,5% 5) Música folclórica não brasileira 0,5 % 6) Música folclórica brasileira 0,2 % 7) Música popular instrumental brasileira 0,6 % 8) Nenhuma das alternativas 20,9 % 33 Finalmente, a tabela 5 mostra em mais detalhes os quatro textos relacionados à performance de música popular instrumental brasileira (MPIB) encontrados no processo de triagem do presente trabalho, seus detalhamentos e classificações tipológicas. Pode-se observar, nas primeiras seis linhas, as especificações de cada um dos textos, como fonte (de qual documento o texto foi retirado), a página na qual se inicia o texto no referido documento, os autores, ano de publicação, título e palavras-chave quando presentes. Da sétima à décima linha apresenta-se a análise qualitativa de cada texto nos eixos tipológicos. Como esta tabela se trata de um recorte de uma tabela maior, com o objetivo de referenciar apenas os textos encontrados no repertório de MPIB, a linha 9 da tabela contempla apenas esse resultado. 34 Tabela 5 Textos relacionados à performance de música popular instrumental brasileira (MPIB) encontrados no processo de triagem do presente trabalho, seus detalhamentos e classificações tipológicas. Fonte SIMCAM 2 SIMCAM 4 ABRAPEM ABRAPEM página 177 103 1 475 Autor(es) Acácio Tadeu de Camargo Piedade Jorge Luiz Schroeder Diogo Monzo Igor Brasil Rocha, Hermilson G Nascimento Ano 2006 2008 2014 2014 O ouvido popular: notas sobre o relativismo da musicalidade. Conhecimento, prática e corporalidade musicais A interpretação na improvisação: uma compreensão inicial a partir da performance de “Luiz Eça Trio” na música “Samba de uma nota só” apresentada no programa “Jazz Brasil”, em 1990 A Guitarra Solo de Heraldo do Monte: Apontamentos Analíticos no Arranjo de “Pau de Arara” Palavras-chave --- conhecimento, cultura, corporalidade musical Performance musical. Luiz Eça. Interpretação. Improvisação. Guitarra elétrica. Heraldo do Monte. Música Instrumental Brasileira. Arranjo para guitarra solo. Eixo 1 Performance e outras interfaces 7) Performance musical e sociologia / filosofia 6) Performance musical e medicina / educação física 5) Performance musical e composição 3) Performance musical e musicologia Eixo 2 - Elementos da performance musical 2) Aspectos Técnicos 3) Aspectos músculoesqueléticos 6) Musicalidade e expressividade 6) Musicalidade e expressividade Eixo 3 - Repertório 7) MPIB 7) MPIB 7) MPIB 7) MPIB Eixo 4 - Expertise 4) Capacidade de trabalho (cognitiva) 3) Capacidade de trabalho (motora) 4) Capacidade de trabalho (cognitiva) 4) Capacidade de trabalho (cognitiva) Título 35 5. DISCUSSÃO O objetivo do presente trabalho foi o de efetuar um levantamento sobre as principais pesquisas realizadas sobre a aquisição da expertise em performances da música popular instrumental brasileira (MPIB), por meio de uma análise quantitativa dos trabalhos produzidos nos congressos da ABRAPEM e do SIMCAM nos anos de 2006 a 2015. Para tanto, foi necessário destacar categorias específicas relativas à expertise e à performance com o intuito de mapear o estado da arte em que este nicho científico se encontra. Os resultados do presente trabalho mostram que à partir do eixo um (performance e outras interfaces), quase um terço dos textos analisados (32,3%) categorizam-se como “performance pura”, isto é, abordam o tema de performance sem nenhuma outra influência de outras áreas do conhecimento musical. Dos textos que possuem outros temas concomitantes à performance, os mais numerosos são os que abordam o ensino de música (25,4%). Pode-se concluir, portanto, que dentre os pesquisadores da área de performance musical, uma parcela significativa deles abordam metodologias e técnicas de ensino de performance em instrumentos ou canto. No que diz respeito à análise musical, muitos textos com essa temática foram encontrados, mas em se tratando de textos de análise musical que abordam concomitantemente a performance musical, eles são poucos (apenas 5,2% dos textos analisados). No segundo eixo tipológico (elementos da performance musical), pode-se observar que os "aspectos psicológicos" da performance são os mais abordados pelos autores, com mais de um terço do total de textos analisados (34,3%). Desses aspectos, há um grande destaque para a temas relacionados à ansiedade de performance, assim como para o incentivo familiar e escolar no sentido de motivar o estudante de música à prática deliberada instrumental. Os dados revelaram, ainda, uma escassez de textos que tratem da importância do “conhecimento do conteúdo” para o desenvolvimento de uma performance expert (4,4%). Quanto ao eixo três (repertório), percebe-se que mais da metade (56%) dos textos não especificam um repertório, mas entre os que o fazem, a maior parte trata de música de concerto não brasileira, com um total de 20,5% (somando-se 15,7% com os 4,8% referentes à textos que abordam música de concerto em geral, tanto brasileira quanto não brasileira). A representatividade total da música de concerto brasileira encontrada foi de 14,5% (em que 9,7% dos textos referenciam apenas música de concerto brasileira e 4,8% referenciam música de concerto em geral). Conclui-se que nos congressos abordados pelo presente trabalho, considerando-se a música de concerto, a produtividade científica de estudos envolvendo música estrangeira é maior do que a produção científica de estudos sobre a música brasileira. Em se 36 tratando da música popular brasileira, os resultados apontam que apenas 8,5% tratam desse repertório (em que 7,7% referenciam apenas música popular brasileira e 0,8% referencia música popular em geral), o que é mais representativo que a abordagem acerca de música popular não brasileira (com um total de 2,8%), mas ainda assim, muito menos representativo que música de concerto não brasileira. A música folclórica não brasileira (1,2% - três artigos) também possui uma maior representatividade do que a música folclórica brasileira com apenas um texto (0,4%) dentre os 248 analisados. A partir da definição estabelecida por Rodrigues (2006) e empregada no presente trabalho, o repertório da música popular instrumental brasileira (MPIB) representa 1,6% dos textos analisados, ou seja, quatro textos. Se efetuada uma análise mais minuciosa dos textos categorizados como música popular não brasileira, na qual percebe-se que dos cinco textos que tratam exclusivamente deste tipo de repertório (excluindo os que tratam de música popular em geral), quatro tratam do estilo jazz e um trata do estilo rock. Ao considerar-se a aproximação da MPIB com uma forma de jazz brasileiro (Bastos & Piedade, 2006), pode-se dizer que o foco de pesquisa nos congressos abordados pelo presente trabalho, em ambos os repertórios, é de semelhante escassez. Analisando o eixo quatro (expertise), pode-se chegar à conclusão de que a categoria mais abordada pelos congressos aqui contemplados é a referente à "capacidade de trabalho (cognitiva)”, com 64,1% dos textos analisados (somando os 47,2% dos textos que são referentes à capacidade de trabalho cognitiva com 16,9% referentes à capacidade de trabalho em geral). Por sua vez, os textos referentes à habilidade musical considerada como natural no ser humano representam apenas 3,6% dos textos analisados. Pode-se concluir com esses dados que as pesquisas presentes nos congressos abordados tendem a focar mais em análises da influência da prática em detrimento da influência do talento ou habilidade natural que o estudo musical têm no desenvolvimento da expertise musical. Acerca da baixa representatividade dos textos encontrados na categoria “conhecimento do conteúdo” (4,4%), no eixo tipológico 2, Ray menciona que: A não obrigatoriedade do ensino da arte na formação básica (ensinos fundamental e médio) do brasileiro é responsável pela quase inexistente exposição do estudante ao conteúdo estético da música e das artes em geral. (…) O contato do performer com o conteúdo estético-musical se dá praticamente junto com o contato físico com o instrumento e junto com sua preparação para a exposição ao público. Entretanto, se este contato com o instrumento se intensifica à medida que o músico percebe seu próprio crescimento e desenvolvimento, o estudo do texto musical passa a ser um elemento de segundo plano, isto é, um item a ser estudado em uma disciplina específica (história, estética ou estruturação musical) cada vez mais dissociados do momento da performance ou de sua preparação (2015, p. 40-41). A autora também aponta a problemática dessa falha na educação no caso de intérpretes 37 de música contemporânea, cujo estudo estético é ainda mais raro e se faz ainda mais necessário “e por vezes indispensável” que em outros tipos de repertório, o que demanda um trabalho de pesquisa para o qual o estudante de música não foi treinado em sua formação como performer. Levando esses dados em consideração, pode-se traçar um paralelo entre a situação apontada por Ray (2015) e uma realidade corroborada pelo presente trabalho, mesmo que em sua amostragem limitada: a da escassez de pesquisas na área de “conhecimento do conteúdo” enquanto elemento da performance musical. Para ilustrar a escassez de cursos voltados ao ensino da música popular brasileira dentre as universidades do país, foi elaborada uma tabela (vide tabela 6, presente nos anexos) com todos os cursos de nível superior em música no Brasil atualmente. Pode-se observar que a quantidade de cursos de nível superior no Brasil, que são declaradamente voltados ao ensino da música popular brasileira é pequena (3,8%), contando com oito cursos dentre 208 no total. Esses cursos indicam, indubitavelmente, o ensino de música popular brasileira e estão grifados em negrito na tabela 6 em anexo. Percebe-se também que a concentração maior desse tipo de curso está na região sudeste e sul, enquanto que a menor concentração se dá na região norte do Brasil, o que indica uma carência na possibilidade da formação musical nessa última região. Também nos anexos, a tabela 7 demonstra a pequena quantidade de cursos de pós graduação em música no Brasil, o que novamente indica uma distribuição desigual desses cursos no território brasileiro, com maior concentração na região sudeste e a inexistência deles na região norte do país. Ao se observar a pequena representatividade dos cursos voltados para a MPB (3,8% dos cursos) no Brasil atualmente e a também pequena representatividade das publicações voltadas à MPB (8,5%) e à MPIB (1,6%) nos congressos contemplados pela presente pesquisa, é bastante urgente a necessidade de ampliar-se o foco sobre essa temática, no que diz respeito ao ensino superior e à pesquisa no Brasil, uma vez que identificou-se o estudo e a pesquisa em performance de repertórios pertencentes à outras culturas como sendo favorecido no meio acadêmico brasileiro em detrimento ao estudo e pesquisa da performance envolvendo a nossa própria cultura. 38 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Uma vez que o objetivo do presente trabalho foi o de mapear as principais pesquisas sobre aquisição de expertise em performance da MPIB nos congressos da ABRAPEM e do SIMCAM nos anos de 2006 a 2015, para esse fim, foi necessário um estudo elaborado acerca de todos os textos que abordam exclusivamente o tema de performance de instrumento ou canto nos anais desses congressos, submetendo os textos a um processo de triagem e categorização em quatro eixos tipológicos: o primeiro, ao relacionar se o texto teria um segundo tema concomitante ao tema de performance; o segundo, ao categorizar o principal aspecto da performance abrangido pelo texto; o terceiro, por sua vez, ao classificar o repertório abordado no texto; e por fim, o quarto e último eixo, ao demonstrar a qual área da expertise o texto se relaciona. Finalmente, foi efetuada uma análise quantitativa do montante de textos em cada categoria de cada eixo tipológico investigado. Por meio de uma análise de dados quantitativa e descritiva, concluiu-se que existe uma escassez de textos publicados na ABRAPEM e no SIMCAM que tratem do “conhecimento do conteúdo” como elemento da performance musical, classificado por Ray (2015), isto é, poucos textos discorrem sobre a necessidade do performer conhecer a entender o campo estéticomusical no qual é formado ou busca formação. Também pôde-se concluir que existem mais textos relativos à performance musical de repertórios não brasileiros do que brasileiros nos congressos abordados, principalmente em se tratando de música de concerto não brasileira. A respeito da música popular instrumental brasileira (MPIB), foco da presente pesquisa, foram encontrados apenas quatro textos dos 248 selecionados para a análise. Finalmente, sobre o ensino e aprendizado do repertório de música folclórica brasileira foi encontrado apenas um texto. Espera-se que a presente pesquisa possa ajudar a direcionar o foco dos pesquisadores de cognição e educação musical para áreas carentes de investigação científica, como é o caso da produção musical realizada no Brasil, em detrimento ao estudo de músicas de outras culturas. Nesse sentido, a pesquisa sobre a música criada e produzida por brasileiros parece estar sendo negligenciada em nosso país atualmente. Para uma maior aprofundamento sobre o estado da arte das pesquisas sobre a aquisição da expertise na prática da MPIB e também de outros estilos musicais, sugere-se que os anais de 39 outros congressos da área da música (como a ANPPOM e a ABEM, por exemplo)6, além de revistas científicas como a Per Musi, Música Hodie, a revista da ABEM, Opus, entre outras e ainda os bancos de teses e dissertações das universidades brasileiras sejam investigados. Além disso, acredita-se que pode ser de grande utilidade um levantamento preciso sobre quais os pesquisadores estão voltados especificamente para a produção científica na área da prática e do ensino da performance de música brasileira (de concerto, popular, ou folclórica). Isso poderá facilitar a identificação de centros de excelência e de grupos de pesquisa especializados na investigação desse tipo de repertório espalhados por todo o território nacional, o que certamente facilitará a identificação, o processo de escolha e a acolhida de futuros estudantes nos níveis de graduação ou pós-graduação, na busca pelo aumento de uma produção científica de qualidade, que contemple a música criada e desenvolvida em nossa própria cultura. 6 ANPPOM (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música); ABEM (Associação Brasileira de Educação Musical). 40 REFERÊNCIAS Alvarenga, O. (1982). Música popular brasileira (2a ed.). São Paulo: Duas Cidades. Bahiana, A. M., Wisnik, J. M., Autran, M. (1979). Anos 70. Rio de Janeiro: Europa. Barry, N., & Hallam, S. (2001). Practice. In R. Parncutt & G. McPherson (Eds.), Science and psychology of music performance. Oxford: Oxford University. Bastos, B. M. (2008). Tópicas na música popular instrumental brasileira: uma análise semiótica do choro e da música instrumental. Trabalho de conclusão de curso, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil. Bastos, B. M., Piedade A. T. de C. (2006) O desenvolvimento histórico da "música instrumental", o jazz brasileiro. Anais do XVI Congresso da Associação Nacional da Pesquisa e Pós-graduação em Música, Brasília, DF, Brasil, 931-936. Borém, F. (2015). Metodologias de pesquisa em performance musical no Brasil: tendências, alternativas e relatos de experiência. In Ray, S. (Org.). (2015). Performance musical e suas interfaces. Goiânia: Vireira. Budasz, R. (2006). Música e sociedade no Brasil colonial. Revista Textos do Brasil, 12, 14-21. Calado C. (2000). Tropicália: a história de uma revolução musical. (2nd ed.). São Paulo: 34 Chaffin, R., Imreh, G., Crawford, M. (2002). Practicing perfection: memory and piano performance. Empirical musicology review, 3 (3), 163-172. Chi, M. T. H. (2006). Two approaches to the study of experts’ characteristics. In Ericsson, K. A., Charness, N., Feltovich, P.J., Hoffman R. F. (Ed.). The cambridge handbook of expertise and expert performance (Chap. 2, pp. 21-30) New York: Cambridge University. Ericsson, K. A. (2006). An introduction to cambridge handbook of expertise and expert performance: its development, organization, and content. In Ericsson, K. A., Charness, N., Feltovich, P.J., Hoffman R. F. (Ed.). The cambridge handbook of expertise and expert performance (Chap. 1, pp. 3-19). Ericsson, K. A., Krampe, R. T., Tesh-Römer, C. (1993). The Role of deliberate practice in the acquisition of expert performance. Psychological review, 100 (3), 363-406. Fonterrada, M. T. O. (2008). De tramas e fios: um ensaio sobre música e educação. São Paulo: Editora UNESP. Gil, A.C. (2002). Como elaborar projetos de pesquisa (4a ed.). São Paulo: Atlas S.A. Ilari, B. (2006). Em busca da mente musical. Curitiba: Editora UFPR. Lehmann, A., Ericsson K. A. (1997). Research on expert performance and deliberate practice: implications for the education of amateur musicians and music students Psychomusicology, 16, 40-58. 41 Lehmann, A., Gruber, H. (2006). Music. In Ericsson, K. A., Charness, N., Feltovich, P.J., Hoffman R. F. (Ed.). The cambridge handbook of expertise and expert performance (Chap. 26, pp. 457-470) New York: Cambridge University. Lehmann, A., Woody, R. & Sloboda, J. A. (2007). Psychology for musicians: understanding and acquiring the skills. New York: Oxford University Press. Palmer, C. (1997). Music performance. Annual Review of Psychology, 48, 115-138. Penna, M. (2010). Música(s) e seu ensino (2nd ed.). Porto Alegre: Sulina. Rauscher, F. H., Hinton S. C. (2003). Type of music training sele6 ctively influences perceptual processing. University of Wisconsin Oshkosh and Medical College of Wisconsin, recuperado em 23 agosto, 2015, de http://www.researchgate.net/profile/Sean_Hinton/publication/253864307_TYPE_OF_ MUSIC_TRAINING_SELECTIVELY_INFLUENCES_PERCEPTUAL_PROCESSIN G/links/551a95f30cf26cbb81a302a3.pdf Ray, S. (2015). Os conceitos da EPM, potencial e interferência, inseridos numa proposta de mapeamento de estudos sobre performance musical. In Ray, S. (Org.). (2015). Performance musical e suas interfaces. Goiânia: Vieira. Rodrigues, K. D., (2006). Música popular instrumental brasileira (1970-2005): uma abordagem subsidiada pelo estudo da vida e obra de oito pianistas. Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Sloboda, J. A. (2008). A mente musical: a psicologia cognitiva da música. Londrina: Universidade Estadual de Londrina. Tagg, P. (1982). Analysing popular music: theory, method and practice. Popular music, 2, 3765. Tinhorão, J. R. (1986). Pequena história da música popular: da modinha ao tropicalismo (5a ed.). São Paulo: Art. 42 FONTES PRIMÁRIAS Instituições de educação superior e cursos cadastrados. Disponível em: http://emec.mec.gov.br. Acesso em 13/10/2015. Relação de cursos recomendados e reconhecidos no Brasil na área de música. Disponível em: http://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/ProjetoRelacaoCursosServlet?acao=pesq uisarIes&codigoArea=80300006&descricaoArea=LING%DC%CDSTICA,+LETRAS+ E+ARTES+&descricaoAreaConhecimento=ARTES&descricaoAreaAvaliacao=ARTES +/+M%DASICA. Acesso em 13/10/2015. Sobre a avaliação. Disponível em: http://www.capes.gov.br/avaliacao/sobre-a-avaliacao. Acesso em 13/10/2015. 43 ANEXOS Os cursos de graduação em música no Brasil Como fonte para a relação dos cursos de nível superior no Brasil na área de música (tabela 6), foi utilizada a ferramenta de consulta interativa do site do MEC (emec.mec.gov.br). A ferramenta foi consultada pela última vez na data 10/08/2015. Tabela 6 - Relação dos cursos de nível superior no Brasil na área de música (Fonte: emec.mec.gov.br). CURSO IES UF CURSO IES UF Música UFAC AC Música - Composição CBM/CEU RJ Música UFAL AL Música - Contrabaixo UFRJ RJ Música UEA AM Música - Cravo UFRJ RJ Música UFAM AM Música - Fagote UFRJ RJ Música - Educação musical UEA AM Música - Flauta UFRJ RJ Música IESAP AP Música - Harpa UFRJ RJ Música FACESA BA Música - Instrumento de percussão UFRJ RJ Música UCSAL BA Música popular brasileira CBM/CEU RJ Música UEFS BA Musicoterapia CBM/CEU RJ Música UFBA BA Música - Oboé UFRJ RJ Música popular UFBA BA Música - Órgão UFRJ RJ Música UECE CE Música - Regência CBM/CEU RJ Música UFCA CE Música - Regência coral UFRJ RJ Música UFC CE Música - Regência de banda UFRJ RJ Música - Composição UECE CE Música - Regência orquestral UFRJ RJ Música - Flauta transversal UECE CE Música - Saxofone UFRJ RJ Música - Piano UECE CE Música - Trombone UFRJ RJ Música popular - Saxofone UECE CE Música - Trompa UFRJ RJ Música UNB DF Música - Trompete UFRJ RJ 44 Tabela 6 - Relação dos cursos de nível superior no Brasil na área de música (Fonte: emec.mec.gov.br). CURSO IES UF CURSO IES UF Música - Canto UNB DF Música - Tuba UFRJ RJ Música - Composição UNB DF Música - Viola UFRJ RJ Música - Regência UNB DF Música UERN RN Música FAMES ES Música UFRN RN Música UFES ES Música - Canto UFRN RN Música UNIMES ES Música - Instrumento UFRN RN Música FASEM GO Música UNIR RO Música IFG GO Música UFRR RR Música - Canto UFG GO Música IPA RS Música - Composição UFG GO Música EST RS Música - Educação musical UFG GO Música UNIPAMP A RS Música - Instrumento musical UFG GO Música ISEI RS Música - Regência UFG GO Música UCS RS Musicoterapia UFG GO Música UPF RS Música UEMA MA Música UERGS RS Música UFMA MA Música UFPEL RS Música UNIS-MG MG Música UFSM RS Música CEUNIH MG Música UFRGS RS Música UNB MG Música - Canto UPF RS Música UEMG MG Música - Canto UFPEL RS Música UNIMONT ES MG Música - Ciências musicais UFPEL RS Música UFJF MG Música - Composição UFPEL RS Música UFMG MG Música - Flauta transversal UFPEL RS Música UFOP MG Música - Instrumento UPF RS Música FJSJ MG Música - Piano UFPEL RS Música UFU MG Música Popular UFPEL RS 45 Tabela 6 - Relação dos cursos de nível superior no Brasil na área de música (Fonte: emec.mec.gov.br). CURSO IES UF CURSO IES UF Música UNINCOR MG Música - Violão UFPEL RS Música - Acordeão UFU MG Música - Violino UFPEL RS Música - Canto UFJF MG Musicoterapia EST RS Música - Composição UFJF MG Música UDESC SC Música - Flauta Doce UFU MG Música UNC SC Música - Flauta Transversal UFJF MG Música UNOESC SC Música - Percussão UFU MG Música UNIVALI SC Música - Piano UFJF MG Música FURB SC Música - Saxofone UFU MG Música - Piano UDESC SC Música - Trombone UFU MG Música - Violão UDESC SC Música - Trompete UFU MG Música - Violino e Viola UDESC SC Música - Viola UFU MG Música - Violoncelo UDESC SC Música - Violão UFJF MG Música UFS SE Música - Violino UFJF MG Música UNASP SP Música - Violoncelo UFJF MG Música CEUCLAR SP Música UFMS MS Música UNISANT' ANNA SP Música UFMT MT Música CDMSP SP Música - Canto UFMT MT Música FACCAMP SP Música - Clarinete UFMT MT Música FAC-FITO SP Música - Composição UFMT MT Música FMCG SP Música - Regência UFMT MT Música FMSL SP Música - Violão UFMT MT Música F.I.C. SP Música - Violino UFMT MT Música FAMOSP SP Música UEPA PA Música FNB SP Música UFPA PA Música FPA SP Música UFPB PB Música FASC SP 46 Tabela 6 - Relação dos cursos de nível superior no Brasil na área de música (Fonte: emec.mec.gov.br). CURSO IES UF CURSO IES UF Música UFCG PB Música FASM SP Música - Educação musical UFPB PB Música FAVCOLESP SP Música - Instrumento/canto UFPB PB Música UNIFIAMFAAM SP Música popular UFPB PB Música UAM SP Música regência de bandas e fanfarras UFPB PB Música UNISANT OS SP Música IFPE PE Música UNICSUL SP Música IF SERTÃO PE Música UNAERP SP Música UFPE PE Música UNISO SP Música - Canto UFPE PE Música UNIOEST E SP Música - Instrumento UFPE PE Música UNICAMP SP Música UFPI PI Música UNESP SP Música PUCPR PR Música UFSCAR SP Música UEL PR Música UNIMEP SP Música UEM PR Música UNIMES SP Música UEPG PR Música - Canto FASM SP Música UNESPAR PR Música com habilitação em canto e arte lírica USP SP Música UNILA PR Música com habilitação em composição USP SP Música UFPR PR Música com habilitação em instrumento USP SP Música com habilitação em licenciatura em educação musical UEM PR Música com habilitação em regência USP SP Música popular brasileira UNICESU MAR PR Música - Composição FASM SP Música popular UNESPAR PR Música - Composição e regência UNESP SP Música - Regência coral UEM PR Música - Cordas UNESP SP Musicoterapia UNESPAR PR Música- Educação musical USC SP 47 Tabela 6 - Relação dos cursos de nível superior no Brasil na área de música (Fonte: emec.mec.gov.br). CURSO IES UF CURSO IES UF Música UBM RJ Música - Instrumento FASM SP Música CBM/CEU RJ Música - Instrumento USC SP Música FABAT RJ Música popular brasileira CEUNSP SP Música IBEC RJ Música - Percussão UNESP SP Música UCAM RJ Música - Regência FASM SP Música UNIRIO RJ Música - Regência USC SP Música UFRJ RJ Música - Regência coral UNIFIAMFAAM SP Música - Bandolim UFRJ RJ Música - Sopros UNESP SP Música - Canto CBM/CEU RJ Música - Teclado UNESP SP Música - Cavaquinho UFRJ RJ Música - Violão UNESP SP Pesquisa em música no Brasil Como fonte para a relação de cursos recomendados e reconhecidos no Brasil na área de música (tabela 7) foi utilizado o site da CAPES (www.capes.gov.br). A última data de atualização da tabela utilizada foi 20/03/2015. 48 Tabela 7 - Relação de cursos recomendados e reconhecidos no Brasil na área de música. (Fonte:http://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/ProjetoRelacaoCursosServlet?acao=pesquisarIes &codigoArea=80300006&descricaoArea=LING%DC%CDSTICA,+LETRAS+E+ARTES+&descricao AreaConhecimento=ARTES&descricaoAreaAvaliacao=ARTES+/+M%DASICA). Nota PROGRAMA IES UF Mestrado Academico Doutorado Mestrado Profissional Ensino das práticas musicais UNIRIO RJ - - 3 Música UFBA BA 3 3 - Música UFBA BA - - 3 Música UNB DF 3 - - Música UFG GO 3 - - Música UFMG MG 5 4 - Música UFU MG 3 - - Música UFPB/J.P. PB 4 4 - Música UFPR PR 4 4 - Música UFRJ RJ 4 - - Música UNIRIO RJ 5 5 - Música UFRN RN 3 - - Música UFRGS RS 7 7 - Música UDESC SC 3 - - Música USP SP 4 4 - Música UNICAMP SP 5 5 - Música UNESP SP 4 4 - Segundo o website da CAPES, a avaliação e designação das notas dos cursos de pósgraduação é orientada pela diretoria de avaliação / Capes e realizada com a participação da comunidade acadêmico-científica por meio de consultores. Tal avaliação tem por fundamentos: (1) o reconhecimento e confiabilidade fundados na qualidade assegurada pela análise dos pares, (2) critérios debatidos e atualizados pela comunidade acadêmico-científica a cada período 49 avaliativo e (3) transparência com ampla divulgação das decisões, ações e resultados no portal da CAPES e nas páginas das áreas de avaliação. A avaliação é realizada em 48 áreas de avaliação, número vigente em 2014, e segue uma mesma sistemática e conjunto de quesitos básicos estabelecidos no Conselho Técnico Científico da Educação Superior (CTC-ES).