Entrevista Marta Heloísa Lopes, professora da Faculdade de Medicina da USP: “O mapa da febre amarela aumentou” Pág. 8 Jornal do Simesp Nº 20 • Publicação mensal do SIMESP Sindicato dos Médicos de São Paulo • março 2017 Pág. 3 Médicos com pagamentos atrasados são intimidados pela prefeitura de Guarulhos­­­­ Em visita a unidades de urgência sem serviços de limpeza e segurança, prefeito e secretário de Saúde culparam profissionais pelas péssimas condições de atendimento Pág. 4 Pág. 4 Vitórias! Ribeirão Preto Médicos de quase 400 cidades terão reajuste salarial de 9,62%. Só este mês foram 113 novos municípios contemplados Crise da Saúde municipal inclui atrasos salariais, falta de médicos, insumos e segurança. Foram sete assaltos em UBSs só neste ano! Pág. 5 Santa Casa de São Carlos Simesp aciona prefeitura de São Carlos para quitar pagamentos atrasados de médicos dispensados Editorial Não admitiremos retrocessos Diretoria do Simesp As atuais crises políticas e econômicas agudizaram problemas que já eram crônicos em relação às ofertas de serviços de saúde no Brasil. Para o médico não foi diferente. Temos observado uma precarização do nosso trabalho sem precedentes. Em vez de encarar o cerne do problema de gestões pouco qualificadas e de financiamento insuficiente, que têm resultado em atrasos e calotes de salários aos médicos e aos demais profissionais de saúde, os gestores públicos têm optado por usar meios de comunicação para jogar a população contra os profissionais que têm tentado trabalhar para manter os atendimentos. Um exemplo é o da Prefeitura Municipal de Guarulhos, que suspendeu o pagamento de maneira unilateral às organizações sociais (OS) que, por consequência, atrasaram os salários dos médicos e demais profissionais de saúde. A solução que o prefeito encontrou para escapar de sua responsabilidade foi assediar os funcionários nas unidades de saúde com transmissão nas redes sociais em uma tentativa de demonstrar que estava trabalhando para resolver a situação. Infelizmente, o prefeito Guti não é um caso isolado. O colapso na saúde e nos atendimentos se reproduz em diferentes municípios do estado de São Paulo. Atinge a capital e cidades de diferentes portes como São Carlos, Catanduva e Itaquaquecetuba. A união dos médicos em Ribeirão Preto tem conseguido fazer frente ao verdadeiro descaso da Secretaria Municipal de Saúde e, em Guarulhos, o Simesp em conjunto com os médicos, fez uma reunião com a Secretaria Municipal de Saúde e está organizando um abaixo-assinado pedindo a retratação do prefeito pelos atos abusivos praticados. Além das questões específicas da saúde, nos deparamos com grandes desafios para a nossa aposentadoria com uma proposta de Reforma da Previdência que prevê contribuição por 49 anos para um indivíduo se aposentar de forma integral. No caso de nós, médicos, formados a partir dos 25 anos, trabalharemos até depois dos 74 anos para termos direito ao descanso merecido. Essa reforma não promoverá justiça, pelo contrário, tornará ainda mais difícil o acesso à previdência no Brasil e privilegiará apenas uma casta do Estado (Poder Judiciário, Ministério Público, militares de alta patente, procuradores e parlamentares). É necessário um sindicato forte, que confronte todas as adversidades juntamente com os médicos como temos feito. Só nesse início de ano, médicos de santas casas, hospitais filantrópicos e organizações sociais de quase 400 cidades foram contemplados com reajuste salarial que cobre a inflação. É preciso ter trabalho, seriedade e disposição para lutar. É bom estar ao lado dos médicos de São Paulo. Não admitiremos retrocessos. SECRETARIAS DIRETORIA Presidente Eder Gatti Fernandes [email protected] Geral Denize Ornelas P. S. de Oliveira Comunicação e Imprensa Gerson Salvador Administração Ederli M. A. Grimaldi de Carvalho Finanças Juliana Salles de Carvalho Assuntos Jurídicos Gerson Mazzucato Formação Sindical e Sindicalização Marly A. L. Alonso Mazzucato Relações do Trabalho José Erivalder Guimarães de Oliveira Relações Sindicais e Associativas Otelo Chino Júnior EQUIPE DO JORNAL DO SIMESP Diretor Gerson Salvador Coordenadora de comunicação Flávia Martinelli Reportagem e revisão Leonardo Gomes Nogueira Nádia Machado Nicolli Oliveira Fotos Osmar Bustos Relações-Públicas Juliana Carla Ponceano Moreira Ilustração Célio Luigi Redação e administração Rua Maria Paula, 78, 3° andar 01319-000 – SP – Fone: (11) 3292-9147 [email protected] www.simesp.org.br PROJETO GRÁFICO Med Idea - Design para médicos Oscar Freire, 2189, Pinheiros São Paulo/SP 05409-011 Fone: (11) 99897-8787 [email protected] www.medidea.com.br Editor de arte e diagramação Igor Bittencourt Tiragem: 15 mil exemplares Circulação: Estado de São Paulo Todas as matérias publicadas terão seus direitos resguardados pelo Jornal do Simesp e só poderão ser publicadas (parcial ou integralmente) com a autorização, por escrito, do Sindicato. A versão digital desta publicação está disponível no site do Simesp. Caso não queira receber a edição impressa, basta mandar e-mail para [email protected] 2 • Jornal do Simesp Capa Abuso de autoridade, atraso nos pagamentos e falta de condições sanitárias em Guarulhos Prefeito e secretário de saúde intimidaram e constrangeram profissionais em ações fiscalizatórias que podem ser caracterizadas como assédio. Em vez de cobrar a empresa prestadora de serviços, o gestor culpabilizou funcionários Nicolli Oliveira Histórico de atrasos salariais Os serviços administrados pela organização social (OS) Fundação ABC (Pronto Atendimento Maria Dirce, Pronto Atendimento Paraíso e Unidade de Pronto Atendimento São João) tiveram 13º e salário de janeiro de seus funCom condutas intimidadoras população é essencial, porém, in- tes em risco”, conta Gatti. que podem ser enquadradas dependentemente de ter sido em O caos instaurado motivou os médicos que atuam como como assédio e abuso de auto- gestões anteriores, foi opção da a criação de uma comissão para pessoa jurídica (PJ), estive- ridade, o prefeito de Guarulhos, prefeitura contratar uma organi- definir pautas e prioridades. O ram com pagamentos atrasa- Gustavo Henric Costa (Guti), e zação social para prestar esse ser- grupo é formado por médicos da dos desde novembro. o secretário de Saúde, Roberto viço. Deve-se cobrar essa empresa urgência e emergência de unida- Os profissionais com vín- Lago, constrangeram profissio- e não os funcionários, como foi des que são administradas pela culo empregatício da organi- nais que atuam no Pronto Aten- demonstrado nos vídeos.” organização social (OS) Funda- zação social SPDM (Hospitais cionários CLT atrasados. Já dimento (PA) Maria Dirce e na O fato foi só a ponta do iceberg. ção ABC, de unidades de pronto Pimentas e Bonsucesso) per- Unidade de Pronto Atendimen- Os médicos rechaçados estavam atendimento da administração maneceram mais tempo com to (UPA) São João, no início de trabalhando em condições pre- direta (servidores públicos) e o 13º e salário de janeiro atra- fevereiro. O objetivo da ação era cárias sem equipe de limpeza e médicos de família e comuni- sados. A empresa priorizou o fiscalizar as causas da falta de de segurança (em greve por fal- dade da rede de atenção primá- pagamento de fornecedores atendimento de casos não carac- ta de pagamentos), com falta de ria do município. A comissão em vez dos empregados. terizados como urgência e emer- materiais e de insumos básicos, vai, juntamente com o Simesp, Médicos que atuam como PJ gência no serviço, mas o que além .disso, sem receberem seus procurar os gestores públicos da também tiveram pagamentos acabaram fazendo foi oprimir salários. “O problema da rede cidade para tentar formar uma atrasados desde novembro. médicos e profissionais de enfer- municipal tem a ver com a gestão mesa de negociações permanen- magem das unidades. O episódio dos governantes e não dos profis- te de propostas. foi amplamente divulgado nas sionais que atuam nas unidades”, redes sociais, o que desencadeou explica o presidente do Simesp. “Não pagar os profissionais é um desrespeito bila- Além da comissão, os médi- teral por parte da prefeitura cos servidores do município e o de Guarulhos e das organi- uma campanha de desvaloriza- Segundo denúncias recebi- Simesp divulgaram, no início de zações sociais”, diz Gatti. ção dos profissionais que, além das pelo Sindicato, no Hospital março, carta aberta em repúdio As duas empresas alegaram de coagidos, foram expostos. Municipal de Urgência (HMU), às atitudes dos gestores. Questio- falta de repasse de verbas. De acordo com o presiden- por exemplo, os médicos traba- nada a repeito do posicionamen- “Salário é um direito. Sejam te do Sindicato dos Médicos de lharam em plantões com falta to da prefeitura sobre as fiscali- quais forem os intermediá- São Paulo (Simesp), Eder Gatti, é de gaze, luvas, fios para sutura e zações e uma possível retratação rios, o bom funcionamento importante que o poder público medicamentos essenciais para o pública em relação ao ocorrido, a da rede de saúde é responsa- inspecione a boa execução dos tratamento de pacientes graves. assessoria de imprensa da gestão bilidade da prefeitura”, pon- serviços, mas sem constranger “Os colegas relataram grande municipal disse, apenas, que foi tua. Após aporte de verbas, os funcionários. “Fiscalizar para preocupação sobre a possibilida- realizada uma reunião sobre o os vencimentos atrasados garantir bons serviços para a de de colocar a vida dos pacien- tema com entidades médicas. foram quitados. Jornal do Simesp • 3 Ribeirão Preto Médicos e pacientes sofrem com descaso da prefeitura presidente do Simesp na cidade. Sofrem os trabalhadores. So- Assaltos frem os munícipes. Mas os servi- Ribeirão Preto viveu uma onda de dores estão mobilizados. Já con- assaltos a Unidades Básicas de seguiram receber os pagamentos Saúde (UBS). Foram sete casos atrasados e permanecem fazen- só do início do ano a 19 de feve- do pressão na administração reiro, data do último assalto re- > Servidores fazem pressão na Câmara Municipal em busca de melhorias para reverter o quadro caótico. gistrado. “A insegurança impacta Os problemas na área da saúde da dro funcional, de medicamentos As principais reivindicações são: negativamente na qualidade do Prefeitura de Ribeirão Preto estão (antibióticos a anticoagulantes) reajuste anual de salários; plano atendimento. Há comentários generalizados. Nos últimos três e até falta de segurança (leia ao de carreira; fim das terceiriza- de médicos que querem pedir meses, os médicos servidores do lado). “Para piorar, o governo ções (com prioridade para con- demissão”, alerta Strogoff e com- município sofreram com falta de anunciou que os servidores não tratações por concursos); aposen- pleta: “A prefeitura não adota ne- pagamento de salários, de concur- terão reajuste salarial este ano”, tadoria integral; e segurança no nhuma medida concreta. Temos so público para completar o qua- conta Ulysses Strogoff, diretor- local de trabalho. medo de que aconteça algo pior.” Catanduva Ribeirão Preto e Vale do Paraíba Em debate: irregularidades nas contratações de médicos Médicos de quase 400 cidades terão reajuste salarial de 9,62% O Sindicato dos Médicos de Eder Gatti, presidente do Si- São Paulo (Simesp) negocia mesp, discutiu o assunto com o com a Prefeitura de Catandu- secretário municipal de Saúde, va a regularização dos víncu- representantes da organização los trabalhistas dos médicos social Mahatma Gandhi e com da única Unidade de Pronto os médicos da UPA. “Os profis- Atendimento (UPA) do muni- sionais vivem inseguros. Além cípio de 120 mil habitantes. do calote do ano passado, já ti- Médicos que trabalham em quase 400 municípios. No ano passado, houve veram perdas salarias em 2015, santas casas, hospitais filan- O presidente do Simesp, atraso salarial do mês de se- quando a gestão da unidade trópicos e organizações sociais Eder Gatti, afirma que o Sin- tembro e o Simesp prestou passou das mãos do Instituto (OSs) de Ribeirão Preto e re- dicato tem como norte não auxílio para que esse direito Americano de Pesquisa, Me- gião, além de profissionais do aceitar básico do trabalhador fosse dicina e Saúde Pública (Iape- Vale do Paraíba terão reajuste salarial abaixo da inflação. respeitado. O pagamento foi mesp) para a do atual gestor.” salarial de 9,62%. Isso equivale Nada, portanto, que contri- O Simesp denunciou as ir- ao Índice Nacional de Preços bua para diminuição do salá- regularidades e a Prefeitura se ao Consumidor (INPC) do mês rio do médico. realizado após os médicos cogitarem uma paralisação. nenhum reajuste A UPA é administrada, des- mostrou disposta a negociar. agosto de 2015 até o mesmo As convenções assinadas de 2015, pela organização social “Foi combinado que haverá período do ano passado. A da- entre o Simesp e o Sindicato das Hospital Psiquiátrico Espírita formalização dos contratos de ta-base do Sindicato dos Médi- Santas Casas e Hospitais Filan- Mahatma Gandhi, que contra- prestação de serviços e discus- cos de São Paulo (Simesp) é 1º trópicos do Estado de São Paulo ta os médicos como pessoa ju- são sobre a regularização para de setembro. (Sindhosfil) de Ribeirão Preto e rídica. Conhecido como “pejoti- CLT sem necessidade de apelar As duas Convenções Co- do Vale do Paraíba têm vigên- zação”, esse vínculo de trabalho para outras instâncias”, expli- letivas contemplam médicos cia até 31 de agosto deste ano. deixa o empregado sem garan- cou Gatti. A organização tam- de 113 cidades dos estado de O acordo contempla pessoas tias legais enquanto diminui os bém se mostrou aberta a ne- São Paulo. E esse reajuste já regularmente contratadas. Ou custos do empregador. Hoje, a gociar. Em assembleia com os tinha sido aplicado para os seja: os benefícios são para tra- luta dos médicos de Catanduva médicos da UPA, foram traça- profissionais que estão sob balhadores com vínculo CLT. é para que, no futuro, a contra- das estratégias de mobilização a abrangência do Sindhosfil- Daí o princípio do Sindicato em tação se dê por CLT. para manter a categoria unida. SP, em fevereiro. Totalizando combater a “pejotização”. 4 • Jornal do Simesp São Carlos Hever Costa Lima Médicos são dispensados e não recebem pagamento de dois meses Déficit de profissionais provocou o fechamento de unidades de saúde. Para piorar, a santa casa que passou a receber casos de urgência e emergência sofreu incêndio A Prefeitura de São Carlos, cida- para esses profissionais. de a cerca de 240 quilômetros da Com a redução do número capital paulista, encerrou a con- de médicos, duas Unidades de tratação de médicos por Recibo Pronto Atendimento (UPA) fo- de Pagamento Autônomo (RPA) ram temporariamente fechadas > Incêndio no final de fevereiro destruiu lavanderia da Santa Casa de São Carlos de forma abrupta, sem alterna- e os atendimentos de urgência e tura administrativamente requi- lavanderia do hospital, roupas tiva de substituição, o que cau- emergência agora têm se concen- sitando a quitação dos pagamen- usadas em cirurgias, lençóis, sou uma considerável redução trado na Santa Casa do município tos atrasados dos médicos que fronhas e toalhas de banho. Não do corpo clínico. Não há vínculo sem qualquer aporte financeiro, trabalhavam por RPA e continua- houve feridos. empregatício na RPA e, por isso, o material ou de recursos huma- rá acompanhando a evolução da O setor fica em uma área ex- Sindicato dos Médicos de São Pau- nos à instituição. O aumento do situação, lutando sempre contra terna do hospital, distante dos se- lo (Simesp) considera que essa atendimento levou à sobrecarga a precarização do trabalho e em tores de internação dos pacientes. forma de contratação fraudulen- no serviço, comprometendo a prol da população. As cirurgias eletivas foram cance- ta. “Os municípios precisam fazer qualidade e causando tempo de concursos públicos para suprir o espera que chega a passar de qua- Incêndio gunda semana de março. Segun- déficit de médicos”, avalia Eder tro horas. “Existe um problema Para agravar a situação, no dia 22 do o vice-provedor da Santa Casa, Gatti, presidente do Simesp. sanitário grave no município”, de fevereiro, houve um incêndio Marco Nagliati, o prejuízo pode alerta Gatti. na da Santa Casa de Misericór- chegar a R$ 1 milhão. A causa do dia de São Carlos que destruiu a incêndio ainda não foi divulgada. Além disso, a prefeitura ficou devendo dois meses de salários O Sindicato acionará a prefei- ladas e retomadas a partir da se- Itaquaquecetuba FGTS Prefeitura usa manobra do Ministério da Saúde para demitir médicos Ao menos quatro médicos da cação de tipo de especialidade. acordo com Gatti, a prefeitura fugiu da própria responsabilidade, alegando que as irregularidades Atenção, médicos do AHM e HSPM seriam apuradas e regularizadas, Após vitória do Simesp na mas nada foi feito. “Agora os mé- Justiça, os médicos da Au- Unidade de Pronto Atendimento Para o presidente do Simesp, dicos estão sem emprego e sem tarquia Hospitalar Munici- (UPA) de Itaquaquecetuba foram Eder Gatti, a perda de médicos es- condições de se manterem até en- pal (AHM) e do Hospital do demitidos verbalmente no final pecialistas afetará a população de contrarem novos postos de traba- Servidor Público Municipal do ano passado, sem reposição Itaquaquecetuba, já que não foi lho por não terem recebido as ver- (HSPM) podem sacar o Fundo no quadro funcional, incluindo divulgado o que acontecerá com bas rescisórias e o FGTS”, explica. de Garantia do Tempo de Ser- os únicos ortopedistas e cirur- pacientes que quebrarem um bra- Como justificativa para a ela- viço (FGTS) retido desde o ano giões do serviço. Foram manti- ço, por exemplo. “A prefeitura está boração da Portaria nº 10, o minis- passado. A medida beneficia- dos apenas clínicos gerais, o que expondo a população a situações tro da Saúde, Ricardo Barros, ale- rá cerca de 900 trabalhadores deixa a população desassistida de risco, deixando sem cirurgião gou que a iniciativa seria apenas da cidade de São Paulo. de procedimentos específicos. É e ortopedista. Onde será a refe- para abrir novas UPAs que já es- Para sacar o FGTS, os mé- o que consta em denúncia feita rência para atendimento de casos tavam construídas, mas que não dicos devem comparecer pes- ao Sindicato dos Médicos de São específicos? O que vai acontecer tinham profissionais suficientes soalmente na sede do Simesp Paulo (Simesp). De acordo com com a população que ficará sem para atuarem nas unidades. “Era (rua Maria Paula, 78, 3º andar a própria Secretaria Municipal essa assistência?”, questiona. nítido que essa medida acabaria – Bela Vista), de segunda a de Saúde, em resposta aos ques- Além de terem sido demitidos autorizando as prefeituras a de- sexta-feira, das 9h às 18h30, tionamentos do sindicato, as de- sem nenhum tipo de documento mitirem médicos para reduzir o para pegar um kit de docu- missões foram feitas com base na ou pagamento de rescisão contra- quadro e o custeio dessas unida- mentos. Para mais informa- nova Portaria nº 10 do Ministério tual, os médicos, que trabalhavam des. As emergências caóticas co- ções, entre em contato com da Saúde, que autoriza as UPAS a com vínculo empregatício CLT, locam a saúde e a vida das pessoas o Simesp Relacionamento terem apenas dois médicos (um descobriram que o Fundo de Ga- atendidas em risco e expõem os pelo telefone (11) 3292-9147 ou durante o dia e outro à noite), a rantia do Tempo de Serviço (FGTS) médicos a situações de violência. pelo e-mail relacionamento@ critério da prefeitura, sem indi- nunca havia sido depositado. De O cenário só está se agravando.” simesp.org.br. . Jornal do Simesp • 5 Plantão Médico Edio Junior Na defesa do médico e da ampliação do SUS Especialista em Medicina de Família e Comunidade, Amin Ibn Chahrur, de Marília, luta por saúde pública de qualidade e participou de movimento que unificou trabalhadores de diferentes hospitais que estavam com salários atrasados > Chahrur: “É preciso ampliar e valorizar a Atenção Primária no SUS” Nádia Machado Diante do desrespeito que atrasos e um atendimento de qualida- médicos do Pronto Atendimento nhamento dos pacientes e seus recorrentes de salários represen- de para a população, Chahrur e Zona Sul (PA) que, por não terem familiares é fundamental para tam à categoria, o médico Amin outros médicos, com o apoio do nenhum vínculo de trabalho, prevenção de doenças”, conta. Ibn Chahrur se viu impelido a re- Simesp, se organizaram, fizeram não tinham direito de fazer greve Segundo Chahrur, a amplia- agir. Funcionário de unidades da paralisação e conquistaram a -- apesar de estarem com os paga- ção e a valorização da Atenção Estratégia Saúde da Família (ESF) quitação dos salários e décimo- mentos atrasados. Primária no Sistema Único de da cidade de Marília, município terceiro atrasados. Ele vê a união a 446 quilômetros da capital pau- dos médicos em prol de seus sa- Valorização da Atenção Primária nuir a superlotação dos serviços lista, desde 2008, decidiu se unir lários como algo positivo para a A luta do médico não é apenas secundário e terciário. “A popu- aos colegas e lutar contra a falta região. “O movimento foi impor- em defesa dos seus diretos traba- lação teria melhor acompanha- de regularidade de pagamentos tante porque melhorou o diálogo lhistas, no seu dia a dia Chahrur mento para se conscientizar do por parte da organização social entre os médicos da atenção bási- defende uma saúde pública de que é uma vida saudável e das Associação Feminina de Marília ca e os da urgência e emergência, qualidade. “Sou especialista em práticas do dia a dia que ajudam Maternidade e Gota de Leite (que o que auxiliará em ações futuras.” Medicina de Família e Comuni- a evitar o aparecimento de doen- Na ocasião, os profissionais dade pela Universidade de Ma- ças que se agravam com o tem- da ESF se solidarizaram a outros rília e acredito que o acompa- po”, avalia o médico. gere as unidades de saúde). Para garantir os vencimentos Saúde influenciariam até a dimi- Célio Luigi Direitos dos médicos Estabilidade por acidente de trabalho ou doença ocupacional É comum o empregado ser dispensado após o retorno de afastamento motivado por acidente de trabalho ou doença ocupacional O que a legislação garante aos por alguma doença ocupacional ter recebido auxílio-doença aci- materiais (decorrentes de redu- trabalhadores acidentados? que tenha estabilidade provisó- dentário pela Previdência Social ção de capacidade laborativa, se É dever do empregador prezar ria de 12 meses após a alta por (modalidade B-91). for o caso). pela manutenção da relação parte da previdência. O trabalhador pode ir à Justiça dicialmente a reintegração ao de emprego dos funcionários Também, é possível pedir ju- acometidos por acidente de Em quais situações o trabalha- reivindicar reconhecimento de serviço, caso o empregado ainda trabalho ou doença de origem dor tem direito à estabilidade doença? esteja dentro do período de esta- laboral. Porém, é bastante co- provisória? Caso avalie oportuno, o trabalha- bilidade, ou mesmo, a indeniza- mum a dispensa de emprega- Para aquisição do direito à esta- dor ou a trabalhadora pode levar ção substitutiva. dos ao retornarem da licença, bilidade provisória, o empregado a questão à Justiça, por meio de Caso o empregado seja dis- especialmente quando ficam deve ter sofrido doença laboral reclamação trabalhista com o pensado no gozo de sua estabili- com sequelas. Por isso, o art. 118 ou acidente de trabalho, motivo objetivo de que seja reconheci- dade provisória, recomendamos da lei 8.213/1991 garante ao em- que o tenha levado a afastamen- da a doença ocupacional ou do que procure assistência do Sindi- pregado que sofreu acidente de to previdenciário por prazo su- acidente de trabalho e pedido de cato, inclusive para que não haja trabalho ou que foi acometido perior a 15 dias. Deve, também, indenizações por danos morais e homologação de sua dispensa. > O que você gostaria de ler na próxima edição? Mande suas sugestões: [email protected] < 6 • Jornal do Simesp Processo Eleitoral Eleições do Simesp para o triênio 2017 a 2020 Entre os dias 10 e 13 de abril haverá eleição para a composição da Diretoria Executiva, das Secretarias e do Conselho Fiscal do Simesp, assim como suas Diretorias Regionais e Diretorias de Base. Veja como votar A votação para o triênio 2017 a 2020 será realizada em mesa coletora das 10h às 18h na sede do Sindicato (rua Maria Paula, 78, 1º andar) entre os dias 10 e 13 de abril. Há ainda a possibilidade de votar por correspondência nas localidades não abrangidas por mesas coletoras fixas ou itinerantes. Concorrem ao mandato duas chapas: Simesp Independente e Muda Simesp. contribuição associativa, também QUEM É ELEITOR? O QUE É SER SÓCIO DO SIMESP? É eleitor todo o associado que, Todo sindicato, tal como o Simesp, é a anuidade prevista em Esta- na data da eleição: defende os interesses gerais e a tuto que é devida apenas pelos - contar com mais de seis me- melhoria das condições de sua ca- médicos associados ao sindicato. ses de inscrição como sócio do tegoria. Isso não significa, porém, O Simesp oferece isenção para Simesp que todo profissional seja associa- médicos aposentados. Importante: - estiver quite com a contribuição do ao seu sindicato. Os que optam diferente da contribuição social, a associativa, que poderá ser qui- por essa condição fortalecem a contribuição sindical é um imposto tada até o dia do pleito defesa dos médicos em seu traba- devido ao Ministério do Trabalho e - for aposentado associado lho, garantindo representatividade Emprego, pagar a contribuição sin- e maior poder nas negociações. A dical não configura associação. chamada de contribuição social, Confira a relação nominal das chapas registradas: # Chapa 1 Simesp Independente # Chapa 2 Muda Simesp > Eder Gatti > Marta Maite Sevillano Diretoria Executiva – Presidente: Eder Gatti Fernandes; Secretária geral: Denize Ornelas Pereira Salvador de Oliveira; Secretária de finanças: Diângeli Soares; Secretária de assuntos jurídicos: Juliana Salles de Carvalho; Secretário de comunicações e imprensa: Gerson Sobrinho Salvador de Oliveira; Secretário de formação sindical e sindicalizações: Ademir Lopes Junior; Secretária de administração: Ederli M. de A. Grimaldi de Carvalho; Secretário de relações de trabalho: José Erivalder Guimarães de Oliveira; Secretário de relações sindicais e associativas: Otelo Chino Júnior; Secretarias: Secretaria geral: Diretora: Gabriela Cerqueira C. Pinto; Diretor adjunto: Luiz Gonzaga Francisco de Assis Barros D’Elia Zanella; Secretaria de finanças: Diretor: Carlos Alberto G. Izzo; Diretor Adjunto: José Augusto Barreto; Secretaria de assuntos jurídicos: Diretora: Márcia Affonso Fernandes; Diretor adjunto: Luiz Frederico Hoppe; Secretaria de administração: Diretora: Mayara Tiemi Ayres Sakuma; Diretor adjunto: Thiago Eugênio Gouveia Herbst; Secretaria de comunicação: Diretor: Rafael Conceição dos Santos; Diretor adjunto: Pedro Bonequini Júnior; Secretaria de formação sindical: Diretora: Stela Maris da Silva Grespan; Diretor adjunto: Antonio Carlos da Cruz Junior; Secretaria de relações de trabalho: Diretor: Antonio Carlos Barbosa Cintra de Souza; Diretor adjunto: Cristovão Canedo Gomes; Conselho fiscal: Efetivos: Aizenaque Grimaldi de Carvalho, Eurípedes Balsanufo Carvalho, Jane de Oliveira G. Teixeira; Suplentes: Cid Célio Jayme Carvalhaes, Djalma Silva Junior, Marco Tadeu Moreira de Moraes. Diretoria executiva – Presidente: Marta Maite Sevillano; Secretário geral: Gabriel Ramos Senise; Secretária de finanças: Renata Matsuura Endo; Secretário de assuntos jurídicos: Gerson Mazzucato; Secretário de comunicações e imprensa: José Carlos Arrojo Júnior; Secretária de formação sindical e sindicalização: Marly Aparecida Lopez Alonso Mazzucato; Secretário de administração: Jarbas Simas; Secretário de relações do trabalho: Paulo César Rozental Fernandes; Secretária de relações sindicais e associativas: Vera Lúcia Anacleto Cardoso Allegro; Secretarias: Secretaria Geral: Diretora: Maria Regina Montez Halász; Diretora adjunta: Maria Helena Yooko Suzuki Horie; Secretaria de finanças: Diretor: Ithamar Nogueira Stocchero; Diretor adjunto: Onassis Leme da Silva; Secretaria de assuntos jurídicos: Diretor: Antônio Noel Ribeiro; Diretor adjunto: Jefferson Kengi Sato; Secretaria de administração: Diretor: Carlos Riad Aoude; Diretora adjunta: Ieda Therezinha do Nascimento Verreschi; Secretaria de comunicação: Diretor: Aldemir Humberto Soares; Diretora adjunta: Vera Lúcia Polverini; Secretaria de formação sindical: Diretora: Sandra Maria Monetti; Diretora adjunta: Vanessa Castilho; Secretaria de relações do trabalho: Diretor: Gilberto Archero Amaral; Diretor adjunto: Mauro Saraiva Apocalypse; Conselho fiscal: Efetivos: Kimiko Ishitsu, Neife Zina, Carlos Roberto Vono; Suplentes: Maria Luiza Rodrigues de Andrade Machado, Carlos Carmelo Carpentieri, Bernardo Mazzini Ketzer. Jornal do Simesp • 7 Entrevista “O mapa da febre amarela aumentou” A médica Marta Heloísa Lopes é uma das coordenadoras do Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais, responsável pela vacinação das pessoas que, partindo da capital paulista, pretendam viajar para áreas endêmicas. Professora de moléstias infecciosas e parasitárias na Faculdade de Medicina da USP, ela diz que há o risco (teórico) da febre amarela voltar a circular nas cidades, lugar onde já estava erradicada desde 1942 > “Desmatamento e mudanças ecológicas aumentam o número de casos” Leonardo Gomes Nogueira De acordo com dados do Ministério da Saúde, vivemos o pior surto de febre amarela da história. Quão grave é a situação? Nós tínhamos, em um passado remoto, a febre amarela urbana, que foi erradica. Transmitida, predominantemente, pelo Aedes aegypti. Nós erradicamos a febre amarela urbana desde 1942. A febre amarela silvestre nós não vamos erradicar nunca. Porque o inseto tá na mata e os primatas, macaco ou homem, vão ser picados pelo mosquito. Então esse ciclo silvestre não vai terminar nunca, pois você precisaria acabar com a mata. Mas ele ficava restrito à mata. O que tem acontecido nos últimos tempos? O homem tem se aproximado cada vez mais da mata. Então nós temos tido casos em que, às vezes, nós temos dificuldade em saber se são silvestres ou não, mas são silvestres porque eles são transmitidos pelos mosquitos que tem na mata, que são os Haemagogus e os Sabethes. Atualmente nós não temos casos de febre amarela transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. Por isso que a gente fala que nós não temos caso de febre amarela urbana. Mas nós temos muitas lo- 8 • Jornal do Simesp calidades onde o homem vive muito perto da mata. E estão acontecendo também alguns fenômenos como desmatamento, enfim, várias mudanças ecológicas que, provavelmente, explicam esse aumento do número de casos silvestres. Essa é uma das explicações. Agora, sem dúvida nenhuma, do que nós temos registrado, esse é o surto de maiores proporções. Minas Gerais é o estado mais afetado do país. A senhora vê alguma relação entre o aumento de casos e o crime ambiental (decorrente do rompimento da barragem da Samarco/Vale no final de 2015) que devastou o Rio Doce? Não sabemos. É umas das hipóteses. Mas não dá pra afirmar. Por exemplo: em 2008, 2009 nós tivemos um surto, também de febre amarela silvestre aqui no estado de São Paulo, na região de Botucatu, com menos casos, e naquela época nós não detectamos nenhuma grande agressão ao meio ambiente que pudesse explicar isso. Mas, em Minas, alguma coisa aconteceu. Mas certeza do que seja a gente não tem até o momento. Segundo o próprio Ministério da Saúde, há um problema de desabastecimento de vacinas que será resolvido até o fim desse ano. No caso da febre amare- la, há doses suficientes? Desabastecimento de vacina de febre amarela não houve. E até onde eu saiba também não houve desabastecimento nos outros estados. Porque a distribuição é toda pelo Ministério, é central. Neste momento, aumentou muito a procura, a demanda por vacina. Até o momento não houve falta. Mas está havendo um controle, uma restrição. Então, por exemplo, aqui que não é uma área endêmica, só vai tomar quem vai viajar para área de risco. E nós estamos preocupados com o abastecimento nesse momento. No futuro é uma preocupação. Se muitas pessoas precisarem ser vacinadas pode ser que os produtores não tenham capacidade de atender a demanda. Como há relatos de macacos assassinados por pessoas com medo da febre amarela, eu acho importante falar... É o mosquito quem transmite a doença e não o macaco, correto? É o mosquito. O macaco pode ter o vírus, mas não é o macaco diretamente quem transmite para o homem. O mosquito pica o macaco, que tem o vírus, pica o homem e transmite o vírus para o homem. O macaco funciona como sentinela dos casos humanos. A vigilância sanitária identifica e investiga macacos mor- tos. Se há um diagnóstico de febre amarela nesse macaco, isso é um alerta. É ele quem nos alerta que o vírus está circulando naquela região. Talvez seja necessária uma revisão das áreas consideradas endêmicas? O mapa da febre amarela, ele vem aumentando as zonas que estão circulando o vírus. Por causa das tais das epizootias. É quando o vírus está circulando e os mosquitos estão picando os macacos. Isso é uma epizootia. E a gente tem visto aumento das epizootia em várias regiões. O vírus da febre amarela vem se aproximando do leste. Porque ele era predominante nas regiões norte e centro-oeste do Brasil. Então, nesses casos, você vai ampliando a área de vacinação. Nos próximos meses nós vamos, provavelmente, discutir uma mudança nessa área de indicação. Por enquanto, sem alarme. Não tem necessidade. Por fim, há risco de a febre amarela voltar a circular em áreas urbanas? Teoricamente sim. Pois nós temos muito Aedes e ele é capaz de transmitir o vírus. É um risco teórico, não saberia quantificar. O risco existe.