A fonte de energia das estrelas - fusão e nucleo-síntese Com base num trabalho da Swinburne University of Technology Estrelas, fusão e nucleo nucleo--síntese 2 A cadeia PP A maior parte da energia nuclear das estrelas resulta da fusão de hidrogénio para dar núcleos de He, numa série de reacções chamada cadeia PP (de protão-protão). Globalmente, as reacções de toda a cadeia produzem, a partir de seis protões, um núcleo de He nucleus, dois positrões, dois neutrinos e dois gammas, deixando para trás dois protões. Há três caminhos para esta reacção. 1 Estrelas, fusão e nucleo nucleo--síntese 3 Caminhos da cadeia PP A importância relativa dos diferentes ramos depende das condições no interior da estrela, que vão condicionar as “razões de mistura” (a vermelho indicam-se valores típicos para o Sol). 69% PP I 31% 99.7% 0.3% PP II PP III Estrelas, fusão e nucleo nucleo--síntese 4 Energia libertada na cadeia PP Independentemente do caminho seguido, verifica-se sempre: Energia libertada Diferença de massa entre os núcleos iniciais e os produtos de reacção 2 Estrelas, fusão e nucleo nucleo--síntese 5 O que varia, sim, entre os diferentes caminhos é a energia transmitida aos meutrinos. P. ex.: E(ν) = 0.26 MeV. E(ν) = 7.2MeV. OBS.: Na cadeia PP dos 26,72 MeV disponíveis, apenas ~0,52 MeV são levados pelos neutrinos É a detecção destes neutrinos, em detectores como o SuperKamiokande (no Japão), permite investigar o que se passa dentro das estrelas. Estrelas, fusão e nucleo nucleo--síntese 6 Super-Kamiokande (Japão) Cilindro: h=41.4 m Φ =39.3 m Água pura 50000 t Sensores ópticos: PMTs 3 Estrelas, fusão e nucleo nucleo--síntese 7 Outras reacções de fusão importantes CNO cycle Conjunto de reacções cíclicas envolvendo carbono, azoto e oxigénio possibilita a conversão de 4 protões num núcleo de He Helium “burning” Carbon “burning” Desintegração do Si Fusão de três núcleos de He para dar um de C, chamada “triple-alpha reaction”. Fusão de núcleos de C em núcleos mais pesados; estes processos permitem atingir o Fe. Ao absorverem raios gama de energia elevada, os núcleos de Si libertam núcleos leves que, por sua vez, podem ser absorvidos por outros de Si, formando elementos mais pesados Estrelas, fusão e nucleo nucleo--síntese 8 Dependência em ordem à temperatura A importância relativa dos diversos processos de fusão depende sobretudo da temperatura do núcleo das estrelas. Atente-se nos seguintes limiares de reacção: Nuclear Fuel H H He C O Si Process p-p chain CNO cycle 3α C+C O+O Disintegration Threshold Temperature ~ 4 x 106 K 15 x 106 K 100 x 106 K 600 x 106 K 1000 x 106 K 3000 x 106 K Products He He C, O O, Ne, Na, Mg Mg, S, P, Si Co, Fe, Ni Reacções c/ elementos mais pesados exigem temperaturas maiores (para a energia cinética poder contrariar a repulsão de Coulomb). Ora as estrelas mais massivas têm temperaturas mais elevadas ! Qual será o processo mais importante no Sol (Tcore~1,5x107 K) ? 4 Estrelas, fusão e nucleo nucleo--síntese 9 O ciclo CNO CNO, outro processo de “queimar” hidrogénio. ciclo CNO 4 protões sujeitos a pressão e temperatura eneormes He + 2 raios gama + 2 positrões + 2 neutrinos … Resultado equivalente ao da cadeia PP OBS.: Contudo os neutrinos no ciclo CNO retiram 1,71 MeV Globalmente o Sol perde ~3% da energia nos neutrinos Estrelas, fusão e nucleo nucleo--síntese 10 Passos do ciclo CNO (i) (f) ou 5 Estrelas, fusão e nucleo nucleo--síntese 11 Em resumo… Tthreshold Tthreshold Tthreshold A temperaturas de core superiores, a maior parte da energia é gerada nos processos 3α α log [ (εε / ρ X2)/ m3 W kg2] A temperaturas baixas, a energia é produzida essencialmente pela cadeia PP ε ≈ T41 3α α CNO ε ≈ T19.9 ε ≈ T4 PP A temperaturas de core intermédias 0 10 20(estrelas 30 40 60maior 70 que 80o Sol) 90 com 50 massa 100 110 120 130 domina o ciclo T CNO (106 K) Estrelas, fusão e nucleo nucleo--síntese 12 O problema da incineração do He À medida que a cadeia PP e o ciclo CNO transformam protões em núcleos de 4He, torna-se provável que dois 4He se fundam em 8Be. Porém a vida média do 8Be é de apenas 2.6 x 10-16 s, pelo que se desintegrará antes de participar em novas reacções de fusão. Este estrangulamento do berílio, devido à instabilidade do 8Be impede a formação de núcleos mais pesados após a criação do 4He via PP ou ciclo CNO. Em 1952, E. Salpeter(*) mostrou que apesar da “transitoriedade” do 8Be o tempo médio de colisões entre núcleos de 4He acima de 108 K é ainda mais curto. Assim, acima de 108 K, a probabilidade de o 8Be reagir com 4He para produzir 12C não é desprezável, permitindo a série de reacções chamado triplo processo alfa. (*) Posteriormente, Fred Hoyle mostrou que a probabilidade de reacção tem valor superior ao estimado por Salpeter, dado que o 12C tem um nível energético próximo do da soma das energias dos núcleos de 8Be e 4He. 6 Estrelas, fusão e nucleo nucleo--síntese 13 O triplo processo alfa Só se atinge a temperatura limiar do triplo processo alfa depois de consumida e transformada em He uma larga quantidade de protões; nessa altura o núcleo da estrela começa a colapsar, crescendo a densidade e a temperature. Acima dos 108 K, os núcleos de 8Be reagem com os de 4He produzindo 12C. À medida que o He aumenta, sobe a densidade média do gás. A densidade lei dos gases Quando se atinge uma O núcleo inicial, sobretudo perfeitos diz-nos que isso diminui a muito elevada e temperatures protões, forma He acima pressão da região central e isso faz subir 8 de 10 K inicia-se o triplo processo a temperature e aumentar alfa. a densidade do core. triple alpha! Estrelas, fusão e nucleo nucleo--síntese 14 Energia da incineração do He A energia libertada no triplo processo alfa é ~7.3 MeV: Os núcleos de 12C assim criados podem capturar mais um 4He, produzindo 16O. Nessa reacção liberta-se uma energia de ~7.2 MeV. 7 Estrelas, fusão e nucleo nucleo--síntese 15 Estádio avançados de incineração Continuando a temperatura a subir, podem ocorrer novos processos de fusão. Por exemplo, quando existirem quantidades razoáveis de carbono e/ou oxigénio estes núcleos poderão fundir-se com núcleos de He dando lugar a elementos ainda mais pesados. O limiar de temperatura para a incineração do carbono é ~5x108K e o do oxigénio é ~109 K. Trata-se de temperaturas que praticamente só ocorrem nos núcleos de estrelas de grande massa e em estágios avançados da sua evolução. Em ambos os casos (C e O) forma-se um núcleo pesado que, depois, decai emitindo raios gama e uma partícula leve. Em média a incineração do C liberta ~13 MeV e a do O ~16 MeV. Estrelas, fusão e nucleo nucleo--síntese 16 8 Estrelas, fusão e nucleo nucleo--síntese 17 Os produtos destes processos (Ne, Na e Mg no caso do C; S, P e Si para o O) conduzem a uma composição do núcleo rica em 28Si. A partir de T ~ 3x109 K pode também ocorrer a incinaração do silício. Os produtos deste tipo de processos (Fe, Co, Ni) constituem o chamado grupo do ferro. Como é de esperar, a formação de núcleos mais pesados que o 56Fe é endotérmica. Consequentemente: OS ELEMENTOS MAIS PESADOS QUE O Fe NÃO RESULTAM DE MECANISMOS DE FUSÃO COMO OS ACIMA DESCRITOS, NÃO SENDO PORTANTO FORMADOS NOS NÚCLEOS DAS ESTRELAS. A nucleosíntese dos elementes pesados occurre durante a explosão de supernovas, no fim da vida das estrelas de grande massa. Estrelas, fusão e nucleo nucleo--síntese 18 Taxa de reacção e Luminosidade A taxa total de emissão de energia por uma estrela traduz-se na sua LUMINOSIDADE. Ora a fracção de luminosidade (dL) associada a um incremento de massa (dm) é: Equação da produção de energia. є = energia total libertada por unidade de massa da estrela e por unidade de tempo devido às reacções nucleares e à gravidade. Como já vimos 9 Estrelas, fusão e nucleo nucleo--síntese 19 Continuação da nucleo-síntese A existência da barreira de Coulomb sugere que o aumento de A se dê, preferencialmente, por (sucessiva) incorporação de neutrões (A,Z) + n → (A+1,Z) + γ (...+γ) (A+1,Z) + n → (A+1,Z+1) + e- + ν Se designarmos por wn a taxa (média) de captura de neutrões e por wβ a taxa (média) de decaimento beta percebemos que podem ocorrer dois regimes diferentes: i) wn << wβ ⇔ processo s (de slow) ii) wn >> wβ ⇔ processo r (de rapid) No processo s logo que há captura de um neutrão dá-se um decaimento beta e o núcleo evoluirá próximo da região de estabilidade. No processo r o núcleo pode enriquecer em neutrões antes de ocorrer um efeito significativo de reajuste da relação p/n; os nuclídeos podem aproximar-se da chamada “neutron drip line”, onde não absrvem mais neutrões; a estabilidade é encontrada através de decaimento beta. Estrelas, fusão e nucleo nucleo--síntese 20 Continuação da nucleo-síntese Este resumo é obviamente incompleto: -Nada diz sobre o acesso ao lado do “vale de estabilidade” pobre em neutrões... Para tal são necessários processos que envolvam a captura de protões através de reacções (p,n) ou (p,γ) – o chamado processo p Mais: é impossível atingir a região A>209 através do processo s, pois o decaimento alfa rapidamente destrói os núcleos criados ... A fonte de neutrões necessária ao processo r deve ser especialmente abundante, com fluxos da ordem de 1028 n cm-2 s-1 embora não precise de subsistir durante um período longo. Os modelos mais aceites apontam para que a camada exterior das supe-novas contenha núceos de Fe (e vizinhos) à mistura com muitos neutrões. 10 Estrelas, fusão e nucleo nucleo--síntese 21 Resumo http://www.fynu.ucl.ac.be/librairie/ocde/rapportocde/lr_oecd_vs16_2.htm Nós somos feitos de “pó das estrelas” … … e não existiríamos sem antes terem ocorrido as mais violentas explosões que o Universo conhece. Fim 11