UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UnU de Ciências Exatas e Tecnológicas Curso de Ciências Biológicas – Modalidade Licenciatura Diversidade genética do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus): Uma análise da produção científica Caroline de Almeida Jansen Anápolis, Junho, 2011 Caroline de Almeida Jansen Diversidade genética do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus): Uma análise da produção científica Trabalho de Conclusão de Curso Apresentado à Universidade Estadual de Goiás, UnUCET de Anápolis, para a obtenção do grau de Biólogo Licenciado. Orientadora: Profa. Dra. Flávia Melo Rodrigues. Anápolis, Junho, 2011 Dedicatória Dedico esse trabalho de conclusão de curso a toda minha família, principalmente aos meus pais e a minha irmã, que foram essenciais durante a minha caminhada universitária. Em especial ao meu tio Américo e ao meu padrinho Professor Odair Firmino, que não se encontram mais entre nós, mas que com certeza estão orgulhosos do meu empenho e esforço para fazer o melhor. Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus e a todos que me ajudaram durante esses quatro anos de estudo, aos meus professores, que me fizeram crescer intelectualmente e aos meus amigos que me fizeram amadurecer emocionalmente. Agradeço também a Universidade Estadual de Goiás, e a seu programa de bolsa para iniciação científica, no qual fui beneficiada. Sumário Resumo ............................................................................................................................. 8 Abstract ............................................................................................................................. 9 1. Introdução ................................................................................................................... 10 2. Objetivos..................................................................................................................... 13 2.1. Objetivo geral .......................................................................................................... 13 2.2. Objetivos específicos ............................................................................................... 13 3. Revisão Bibliográfica ................................................................................................. 14 3.1. Bioma Cerrado ......................................................................................................... 14 3.2. Lobo Guará (Chrysocyon brachyurus) .................................................................... 14 4. Material e Métodos ..................................................................................................... 21 5.Resultados e Discussão ................................................................................................ 22 6. Conclusões .................................................................................................................. 28 7. Referências ................................................................................................................. 29 Lista de Figuras Figura 1 – Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) no Parque Nacional das Emas – GO (RODRIGUES, 2005). .................................................................................................... 15 Figura 2 – Área de distribuição do Lobo-gurá. (Fonte: RODDEN et al., 2004). ........... 16 Lista de Tabelas Tabela 1 – Produção científica referente a diversidade genética do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus). .............................................................................................. 22 Tabela 2 – Principais regiões e Unidades de Conservação com estudos da diversidade genética do lobo-guará.................................................................................................... 23 Tabela 3 – Número de indivíduos utilizados nos estudos da diversidade genética do lobo-guará. ...................................................................................................................... 24 Tabela 4 – Marcadores moleculares utilizados e as características genéticas analisadas em cada estudo................................................................................................................ 25 Tabela 5 – Marcadores moleculares utilizados e as características genéticas analisadas em cada estudo................................................................................................................ 26 8 Resumo O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) é um canídeo típico da região do Cerrado brasileiro. A espécie possui hábitos solitários, só é vista em grupos durante a época de acasalamento. Possui uma dieta bastante variada, come desde frutos da lobeira (Solanum lycocarpum) até pequenos roedores, por isso é tido como um animal oportunista. O objetivo deste trabalho foi descrever toda a produção científica desenvolvida até o presente momento (2011), sobre a diversidade genética do loboguará (Chrysocyon brachyurus). Para a análise quantitativa dos estudos sobre a diversidade genética do lobo-guará foi utilizada a produção bibliográfica como indicador dos resultados obtidos. O levantamento dos estudos foi realizado por meio do banco de dados publicado no sítio do Scirus (for Scientific Information Only) e Google acadêmico, utilizando as palavras-chaves: diversity* genetic* e Chrysocyon brachyurus, diversidade genética* e lobo-guará. Foram encontrados no total, 10 estudos referentes a este tema, porém só se teve acesso a 9 estudos. A maioria dos trabalhos encontrados foram artigos científicos, cinco no total, três teses e uma dissertação. A maioria dos estudos sobre diversidade genética do lobo-guará foi realizada em áreas do centro-oeste do Brasil. Foram utilizados, em média, nesses estudos 40 indivíduos das populações, e os marcadores moleculares utilizados para verificarem a diversidade genética dos mesmos, foram na maioria os marcadores STR. As principais conclusões obtidas neste estudo foram que existem poucas publicações sobre a diversidade genética do loboguará, e que a partir das análises realizadas em cada estudo detectou-se uma redução da diversidade genética do mesmo, porém a maioria dos estudos não detectou endogamia. Palavras-chave: moleculares. Canídeo, endogamia, genética da conservação, marcadores 9 Abstract The maned wolf (Chrysocyon brachyurus), is a typical canid of the Brazilian Cerrado. The species has solitary habits, is only seen in groups during the mating season. It has a quite varied diet, eating since fruit from the lobeira (Solanum lycocarpum) until small rodents, that’s why is considered an opportunist animal. The objective of this study was to describe the whole scientific production until the present time (2011), about the genetic diversity of the maned wolf (Chrysocyon brachyurus). For quantitative studies on the genetic diversity of the maned wolf were used as an indicator, the bibliographic production results. The collection of studies were conducted through the data base published on the website of Scirus (for Scientific Information Only) and Google Scholar, using the keywords: genetic diversity*and Chrysocyon brachyurus, diversidade genética* and maned wolf. Were found in total ten studies on this subject, but we only had access to nine of this studies. Most of the studies had found, were scientific papers, five in total, three theses and one dissertation. Most studies on genetic diversity of the maned wolf were conducted in areas of central-western Brazil. Were used in these studies averaged 40 individuals within populations, and the molecular markers most used to verify the genetic diversity were STR markers. The main conclusions obtained in this study were that there are few reports about the genetic diversity of the maned wolf, and that from the analysis performed in each study were found a reduction of genetic diversity of it, but in the majority of the studies weren`t found endogamy. Keywords: Canid, endogamy, conservation genetic, molecular markers. 10 1. Introdução O Lobo Guará, ou simplesmente Guará (Chrysocyon brachyurus) é o maior representante da família dos canídeos da América do Sul. A espécie possui características singulares, patas finas e longas, orelhas grandes e a coloração do pelo é avermelhada e laranjada, com algumas áreas do corpo de pelagem preta, como o pescoço e a cauda. Este canídeo pesa entre 20 Kg e 30 Kg (DIETZ, 1984). É um animal onívoro, se alimenta de pequenos mamíferos e frutas típicas de regiões áridas, uma das frutas mais apreciadas pela espécie é a lobeira (Solanum lycocarpum), (SILVA e TALAMONI, 2003). O lobo-guará é uma espécie de hábitos noturno e facultativamente monogâmico, os casais são vistos separados frequentemente (DIETZ, 1984). Por serem animais de aspectos de vida solitários e possuírem uma grande área de vida, os lobos-guarás apresentam baixas densidades por toda a sua distribuição (LION, 2007). Por necessitarem de uma área territorial grande, a espécie sofre com a constante perda de seu habitat natural, devido a queimadas e desmatamentos decorrentes de plantações; outro risco são os atropelamentos e doenças originárias dos cachorros domésticos (PRATES-JÚNIOR, 2008). Esta espécie possui uma grande importância para a manutenção da diversidade do bioma Cerrado por sua função ecológica de predador de topo de cadeia e dispersor de sementes, portanto, importante para a estabilidade deste ecossistema. Atualmente está classificado pela IUCN (2010) como espécie LR/nt, ou seja, com pequeno risco de extinção, mas próximo a ser considerado vulnerável à extinção. A espécie também está incluída na lista de espécies brasileiras ameaçadas de extinção do IBAMA (Instituo Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) (IBAMA, 2010). Decorrente desta ameaça de extinção, alguns estudos foram realizados a fim de evitar esse risco e compreender melhor o comportamento do lobo-guará, assim como o estudo populacional da espécie ( RODRIGUES et al., 2006; LION, 2007; SALIM et al., 2007; FONTOURA-RODRIGUES et al., 2008 ). Cada vez mais o conhecimento genético e biológico das espécies se torna importantes para sua conservação, porque é na variação de seus genes que está a possibilidade de sobrevivência das espécies. Uma nova abordagem no estudo da 11 biodiversidade, a genética da conservação, surgiu há alguns anos atrás e se tornou importante em programas de conservação (DESALLE e AMATO, 2004; MANEL et al., 2003). A genética da conservação prevê o estudo da variabilidade genética das populações naturais e artificiais com fins de determinar o potencial adaptativo e evolutivo de uma espécie (DESALLE e AMATO, 2004). Quanto maior é a variação genética de uma espécie, maior será sua chance de sobreviver, e se adaptar a um novo ambiente e evitar assim sua extinção (HEDRICK, 2001). A genética da conservação, bem como os outros campos interessados na conservação biológica, é motivada pela necessidade de se reduzir a atual taxa de extinção (como no caso do Guará) e preservar a biodiversidade. Para atingir tal objetivo, são estudados os fatores genéticos que afetam o risco de extinção e o controle genético que é necessário para minimizar esse risco (FRANKHAM et al., 2002). As técnicas moleculares são amplamente utilizadas para monitorar a variabilidade genética das populações (PARKER et al.,1998). Os avanços na biologia molecular abriram novas perspectivas para a pesquisa em conservação de espécies e para estudos de biologia populacional como um todo. Vários estudos nesse sentido são desenvolvidos no Brasil e no mundo (DE MATTOS et al., 2004; FARREL et al., 2000; IYENGAR et al., 2005; MENGONI et al., 2000). A partir desses avanços as variações encontradas nas espécies naturais podem ser analisadas em nível de DNA. Os marcadores moleculares compõem essas técnicas da biologia molecular e existe hoje uma grande variedade de classes de marcadores moleculares (FERREIRA e GRATTAPAGLIA, 1998). Em adição as técnicas baseadas em RFLP (Restriction Fragment Length Polymorphism) (BOSTEIN et al,, 1980), muitas tecnologias baseadas na Reação em Cadeia da Polimerase, a PCR (Polymerase Chain Reaction) (MULLIS e FALOONA, 1987), que permite a síntese enzimática de milhões de cópias de um segmento específico de DNA, têm sido desenvolvidas. Essa técnica provocou uma verdadeira revolução na biologia molecular, facilitando bastante os trabalhos desenvolvidos nos laboratórios. Desde então, várias técnicas baseadas em PCR são desenvolvidas e dentre elas se destacam os Microssatélites (TAUTZ, 1989) e o polimorfismo de DNA amplificado ao acaso, o RAPD (Random Amplified Polymorphic DNA) (WELSH e MCCLELLAND, 1990). 12 Portanto, com o uso dessas tecnologias, vários estudos têm como objetivo estimar a diversidade genética das populações de espécies naturais, como o lobo-guará (RODRIGUES, 2002; DE MATTOS et al., 2004; RODRIGUES, 2005; RODRIGUES et al., 2006; LION, 2007; SALIM et al., 2007; FONTOURA-RODRIGUES et al., 2008; PRATES JÚNIOR, 2008; LION et al., 2011). A análise quantitativa da produção bibliográfica (cienciometria) de uma determinada área da ciência permite avaliar as tendências nas publicações (LIMARIBEIRO, 2007). Assim, torna-se possível analisar as publicações sobre diversidade genética do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), a fim de descrever os principais estudos que são realizados, além de caracterizar os tipos de marcadores moleculares utilizados e conhecer de uma maneira mais global, o que todos estes estudos encontraram quanto à diversidade genética da espécie. 13 2. Objetivos 2.1. Objetivo geral O objetivo geral deste trabalho foi descrever toda produção científica desenvolvida até o presente momento (2011) sobre a diversidade genética do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus). 2.2. Objetivos específicos - Quantificar os trabalhos realizados sobre a diversidade genética do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) no Brasil; - Apresentar as principais revistas (artigos) e universidades (teses e dissertações) que publicaram sobre o tema, ao longo dos anos; - Caracterizar os estudos quanto ao local e tamanho das populações de lobo-guará estudadas; - Identificar os tipos de marcadores moleculares utilizados para as análises de diversidade genética da espécie; - Descrever a diversidade genética (heterozigosidade, número de locos e alelos) encontrada para a espécie para cada tipo de marcador usado; - Apresentar as principais conclusões obtidas nos estudos levantados; - Subsidiar estudos mais aprofundados sobre a diversidade genética da espécie em questão. 14 3. Revisão Bibliográfica 3.1. Bioma Cerrado O Cerrado, segundo o censo de 2004 do IBGE, ocupa uma área de 204,7 milhões de hectares na porção central do Brasil e abrange parte dos estados da Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Piauí, São Paulo e Tocantins, além do Distrito Federal. O Cerrado é um dos maiores biomas brasileiros, só perde em extensão e biodiversidade para a floresta amazônica, ocupa cerca de 23% do território nacional (IBGE, 2004). Por ser uma região com altos índices de espécies endêmicas, principalmente de plantas, o Cerrado é considerado um Hotspot (Conservation Internacional, 2005). O Cerrado é o mais diversificado bioma tropical do mundo, possui uma grande diversidade de habitats e alternância de espécies. De acordo com algumas revisões e inventários realizados, o cerrado possui aproximadamente 914 espécies de árvores e arbustos, 199 espécies de mamíferos, 830 espécies de aves, e o número de peixes e répteis são elevados, e os invertebrados possuem uma riqueza de 90.000 espécies. A biodiversidade do Cerrado é elevada, porém não é dado o devido valor a sua diversidade e riqueza, apenas 2,2 % do bioma cerrado está protegido legalmente, e cerca de 173 espécies que ocorrem no cerrado estão ameaçadas de extinção (KLINK e MACHADO, 2005). A conservação do Cerrado é de extrema importância para a proteção dos animais e plantas que nele vivem, e que estão na lista de animais com risco de extinção, como por exemplo, o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus). 3.2. Lobo Guará (Chrysocyon brachyurus) A colonização dos canídeos na sub-região neotropical brasileira se desenvolveu em duas linhas distintas, através da ocupação de habitats disponíveis das florestas ou de áreas abertas. A primeira desenvolveu tipos únicos na família Canidae, como por exemplo, os cachorros do mato de orelha curta (Atelocynus microtis), e ocupou os habitas de vegetação fechada, a outra linha evolutiva ocupou os habitats de vegetação aberta e originou espécies como o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e o cachorro- 15 do-mato (Dusicyon thous), espécies de corpo esguio e hábitos alimentares generalistaoportunista (BIBEN, 1983). A dieta do lobo-guará é bastante variada, o animal consome vegetais, pequenos mamíferos, aves, répteis, insetos e ovos, citados em ordem decrescente de consumo. Os itens de origem animal da dieta, representam cerca de 42,5% e os itens de origem vegetal, são maioria, representam cerca de 57,4%. A variedade dos itens consumidos, pelo lobo-guará, varia em relação à sazonalidade, em meses secos os animais apresentam uma menor variedade em sua dieta e nos meses chuvosos, a variedade dos itens na dieta é maior. Este fato é decorrente da presença ou não de presas durante as distintas estações do ano, por isso é classificado como sendo um animal oportunista (JÁCOMO, 1999). O lobo-guará apresenta o extremo de adaptação de um canídeo típico de áreas abertas como o Cerrado. A espécie é o maior representante da família Canidae na América do Sul, com altura média de 97cm e comprimento total de 147cm (dos quais 45cm são atribuídos à cauda), pesando aproximadamente 23kg, o corpo é vermelhodourado e os membros e parte inferior de sua crina são pretos, a região interna do pescoço, a parte interna das orelhas e um pouco da cauda (na maioria das vezes, a ponta) são brancas (REDFORD e EISENBERG, 1992) (Figura 1). Figura 1 – Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) no Parque Nacional das Emas – GO (RODRIGUES, 2005). 16 Os lobos guará são monogâmicos e defendem territórios permanentes, que variam de aproximadamente de 27 km² a 70 km² (DIETZ, 1984). São animais que não vivem em grupo, só se juntam na época de reprodução. O número de filhotes por casal varia entre 1 a 5 filhotes, o tempo de gestação é de entorno de 65 dias, o cuidado com a prole é de responsabilidade materna (RODDEN et al., 2004; REDFORD e EISENBERG, 1992). Hoje a espécie ocupa áreas do centro-sul do estado do Maranhão até o Uruguai, e do extremo leste do Peru até o estado do Espírito Santo e sul da Bahia, incluindo em seu mapa de distribuição, áreas em seis países latino-americanos: Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai, Peru e Uruguai (DE PAULA et al., 2007) (Figura 2). Acredita-se que a distribuição atual sofreu grandes modificações, em especial na porção sul de seu limite. Aparentemente, houve uma expansão em sua área de distribuição em áreas antropizadas de Floresta Amazônica e Mata Atlântica nos seus limites norte e leste (DE PAULA et al., 2007). Apesar de possuir uma ampla distribuição, a espécie está listada entre as ameaçadas de extinção no Brasil, segundo o IBAMA (2010) na categoria vulnerável, e quase ameaçada pela classificação da IUCN (2010). Figura 2 – Área de distribuição do Lobo-gurá. (Fonte: RODDEN et al., 2004). 17 A sobrevivência do Lobo-guará está ameaçada pela grande degradação do meio em que ele vive o cerrado. O Cerrado sofre com a constante agressão, devido à expansão da agricultura, construção de estradas e hidrelétricas, desmatamento e urbanização. O impacto causado por essas agressões ao Cerrado, leva à fragmentação e perda de habitats nativos. Esse processo de redução e isolamento da vegetação natural acaba modificando a estrutura e os processos na paisagem, podendo gerar extinções locais e alterar a composição e a abundância de certas espécies, tanto vegetais quanto animais e, consequentemente, perda de biodiversidade (OLIVEIRA et al., 2007). Em paisagens onde a fragmentação encontra-se avançada, restando poucos fragmentos da vegetação nativa, a maioria das populações de animais residentes nos fragmentos também sofre com o isolamento, pois este pode levar a ocorrência de cruzamentos endogâmicos, diminuição da área de vida e de nutrientes necessários à dieta de cada uma das espécies e, portanto uma maior chance de extinção (OLIVEIRA et al., 2007). 3.3. Marcadores moleculares e Diversidade Genética A biologia da conservação é um novo ramo da biologia, onde estudiosos buscam minimizar os efeitos nocivos causados pelo desenvolvimento urbano como um todo no meio ambiente. Os principais objetivos da biologia da conservação são: analisar as populações que estão em perigo de extinção, para poder fazer um manejo adequado destas, para áreas de proteção ambiental, onde encontram condições ideais para a sua sobrevivência e ajudar nas pesquisas em relação aos problemas encontrados com a diminuição da população (EIZIRIK, 1996). Para entendermos melhor as técnicas moleculares aplicadas na conservação de espécies/populações, compreender o que é uma espécie/população é essencial. Entre indivíduo e espécie existe um nível de inter-gradação de interesse especial para o evolucionista: a população. Todos os membros de uma população local têm um patrimônio gênico único, e este tipo de população também pode ser definido como: “um grupo de indivíduos situados de tal forma que qualquer um deles tem a probabilidade de se cruzar e possuir descendentes”, desde que sexualmente maduros, de sexo oposto e equivalente com respeito à seleção sexual. Por definição, uma população local é uma unidade panmítica (com cruzamento ao acaso). Uma espécie é composta de numerosas 18 populações no tempo e no espaço, cada uma se comunicando e integradas com as demais (MAYR, 1970). Hoje em dia são utilizadas técnicas de marcadores moleculares para se calcular a similaridade entre populações, o que auxilia geneticistas e melhoradores genéticos na detecção de variabilidade populacional. Os marcadores moleculares têm-se mostrado uma poderosa ferramenta no estudo tanto de populações naturais quanto domesticadas, auxiliando em trabalhos que visam a análise da variabilidade genética entre e dentro de populações, espécies ou outros grupos taxonômicos (AMARAL, et al., 2001). Existem vários tipos de marcadores moleculares que variam desde os mais baratos (PCR-RAPD) até os mais caros e elaborados (STR). Os marcadores moleculares mais utilizados em análises voltadas para estudos populacionais, evolutivos e de conservação são: a tradicional eletroforese de proteínas, que foi o marcador pioneiro por assim dizer, em estudos da genética de populações; o RFLP (Restriction Fragment Length Polymorphism), sequenciamento de DNA mitocondrial/genes nucleares, utilizando sondas para regiões de minissatélites; RAPD (Random Amplified Polymorphic DNA); e polimorfismos em regiões de microssatélites (STR) (HOELZEL, 1992; AVISE, 1994). O marcador molecular SNP (Single Nucleotide Polymorphisms) é considerado a base molecular dos marcadores moleculares como os: RFLP (Restriction Fragment Length Polymorphism), RAPD (Random Amplified Polymorphic DNA), AFLP (Amplified fragment Length Polymorphism). Os marcadores SNP têm como base as alterações mais elementares da molécula de DNA, ou seja, mutações em bases únicas da cadeia de bases nitrogenadas (adenina, citosina, timina e guanina). As mutações mais comuns são as transições, onde ocorrem trocas de uma purina por outra purina (A, G) ou de uma pirimidina por outra pirimidina (C, T). Menos frequentes, as transversões ocorrem quando há troca de uma purina por uma pirimidina, ou vice-versa (C/T, A/G). Normalmente, os marcadores SNP são bi-alélicos, ou seja, geralmente são encontrados apenas dois variantes em uma espécie (Ex: um alelo corresponde a um par de bases A/T e o outro a um G/C). Os SNPs podem ocorrer em regiões codificadoras ou com função regulatória, porém, na maior parte das vezes são encontrados em espaços intergênicos, sem função determinada. Os SNPs são extremamente abundantes nos genomas de espécies não endogâmicas. Além dos marcadores SNP serem abundantes, suas bases 19 moleculares permitem que haja uma distribuição homogênea de SNPs pelo genoma (CAETANO, 2009). Os Marcadores microssatélites ou STRs (Short Tandem Repeats ), são definidos como seqüências repetidas em tandem compostas de números variáveis de motivo com 1 a 6 pares de bases, encontrados no genoma de vertebrados, outros animais e vegetais. São marcadores genéticos codominates, multialélicos e neutros. As sequências que rodeiam os STRs são conservadas, o que facilita a seleção de um par de pequenos fragmentos de nucleotídeos iniciadores e sua amplificação através do PCR (LI et al., 2002).Os marcadores STRs ( Short Tandem Repeats) são bastante utilizados para quantificar a variabilidade genética em populações naturais, devido a seu alto índice informativo e pela facilidade de se detectar polimorfismos. São também utilizados para estudos de genética de populações, fluxo gênico e análise de paternidade, apesar de seu alto custo e por serem desenvolvidos normalmente para uma única espécie, ou seja, não são transferíveis para serem utilizados em outras espécies (BRONDANI et al., 2003; WANDELER et al., 2003; IYENGAR et al., 2005). Outro marcador molecular bastante utilizado é o RAPD, pois este é mais fácil de ser obtido, o que facilita o estudo que tenha que analisar vários locos, e fornece uma amostragem randômica maior do DNA. Estes marcadores são gerados pela amplificação de segmentos desconhecidos do genoma, utilizando um simples e curto primer de sequência arbitrária, contendo 10 pb. As vantagens de se utilizar marcadores RAPDs são inúmeras, tais como: não utilizar radioatividade, necessita de pequenas quantidades de DNA, não requerem um conhecimento prévio da sequência alvo a ser amplificada, ser aplicável em qualquer espécie, dentre outras características. Contudo existem também limitações a cerca do uso de marcadores moleculares RAPD, pois são marcadores dominantes, ou seja, não possibilitam o reconhecimento do genótipo heterozigoto, limitando assim a estimativa de parâmetros genéticos (FERREIRA e GRATTAPAGLIA, 1998 apud RODRIGUES, 2005). Os dados obtidos com o uso de marcadores moleculares podem fornecer uma estimativa de distâncias ou similaridades genéticas que quantificam o grau de diferenciação entre dois táxons (conjunto de organismos), ou entre indivíduos da mesma espécie. Portanto, permite a transformação de toda a informação genética disponível sobre as relações entre dois táxons em um único número que pode ser utilizado para 20 proporcionar uma classificação objetiva e estável, tanto quanto possível, dos itens sob estudo (AMARAL, et al., 2001). Muitas populações possuem atributos de grande vantagem seletiva para a população como um todo, mas, pelo menos à primeira vista, não para qualquer indivíduo ou genótipo dela. Entre estes atributos encontram-se: aumento da longevidade da geração, prolongamento do estágio imaturo, redução do número de ovos ou zigotos produzidos, taxa sexual desequilibrada, heterogeneidade em impulsos de dispersão e fenômenos semelhantes. Em alguns desses casos, não é óbvio como a seleção de indivíduos estabelecerá o equilíbrio particular de genótipos, que produz o melhor resultado para uma população (MAYR, 1970). As pesquisas populacionais, feitas com marcadores moleculares, estudam essas variações naturais e/ou causadas pelo ser humano nas espécies estudadas, visando à conservação das mesmas. 21 4. Material e Métodos Para a análise quantitativa dos estudos sobre a diversidade genética do loboguará foi utilizada a produção bibliográfica como indicador dos resultados obtidos. O levantamento dos estudos (teses, dissertações e artigos científicos) foi realizado por meio do banco de dados publicado no sítio do Scirus (For Scientific Information Only) e Google acadêmico, utilizando as palavras-chaves no inglês “diversity* genetic* and Chrysocyon brachyurus*” e em português “diversidade genética* e lobo-guará*”. O uso do asterisco indica que qualquer terminação da palavra pode ser aceita, garantindo a busca de palavras no singular e no plural. Nas publicações selecionadas foram coletadas as seguintes informações: (i) Ano de publicação do estudo; (ii) Periódico ou universidade em que o trabalho foi publicado; (iii) Tipo de marcador molecular utilizado, (iv) Local e tamanho da população de lobo-guará estudada; (v) Parâmetro de estimativa da diversidade genética, tais como: heterozigosidade, número de locos e número de alelos. (vi) Principais Conclusões obtidas sobre as análises de diversidade genética da espécie. Enfim, após a coleta dos dados, os mesmos foram apresentados em tabelas e gráficos para melhor visualização dos resultados. Para as variáveis quantitativas (heterozigosidade, número de locos e número de alelos) foram calculados as médias e desvios-padrões. Para estas análises foi usado o programa BIOESTAT versão 5.0 (AYRES et al., 2007). 22 5. Resultados e Discussão Foram encontrados dez estudos (artigos, teses e dissertações) com a temática diversidade genética do lobo-guará, com o período variando de 1998 a 2011. Mas somente nove dos dez trabalhos foram analisados, pois não foi possível encontrar o trabalho de Moreira (1998), assim os trabalhos analisados foram os publicados entre os anos de 2002 a 2011 Entre os trabalhos selecionados, a maioria foi artigo científico (5– 56%) e apenas uma dissertação de mestrado (Tabela 1). Os estudos três e quatro, são da mesma autoria, porém o artigo de 2006 publicou apenas os dados de microssatélites (STR) e na tese de 2005 consta os dados de STR e RAPD, mas só serão considerados os dados de RAPD da tese. Já nos estudos cinco e nove, os dados são da mesma autoria e não há variação entre os dados publicados e os da tese, portanto será considerado nas próximas análises apenas o estudo nove (artigo). Tabela 1 – Produção científica referente a diversidade genética do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus). Estudo Autor/ano Tipo Nome da Revista/Universidade 1 Rodrigues (2002) Tese Universidade Estadual de Campinas. 2 De Mattos et.al., (2004) Artigo Brazil Jornal of Biology. 3 Rodrigues (2005) Tese Universidade Federal de Goiás. 4 Rodrigues et al., (2006) Artigo Genetics and Molecular Research-Online Jornal. 5 Lion (2007) Dissertação Universidade de Brasília. 6 Salim et al., (2007) Artigo 7 Fontoura-Rodrigues et.al., (2008) Artigo Molecular Ecology Resources. 8 Prates Júnior (2008) Tese Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do sul. 9 Lion et.al., (2011) Artigo Genética. Genetics and Molecular Research- Online Jornal. A maioria dos trabalhos analisados foram artigos científicos, seguidos das teses e por último a dissertação. É de grande importância que os trabalhos realizados pelos cientistas sejam publicados em revistas, periódicos e sites, assim podemos ter acesso as pesquisas científicas que são realizadas e ao conhecimento sobre qual tema a comunidade científica está trabalhando com mais afinco (MACIAS-CHAPULA, 1998; VANTI, 2002). Os trabalhos publicados referentes a diversidade genética do lobo-guará são poucos e recentes, (desde 2002 até 2011). Esse resultado pode ser explicado devido aos assuntos de preservação e conservação terem obtido real importância somente nos 23 últimos anos. Além da atual evolução científica ocorrida no ramo de biologia molecular, que veio facilitar os estudos de genética populacional (EIZIRIK, 1996). Outro fator relevante é o fato de que esse tipo de trabalho é caro, e poucas instituições possuem condições para a realização de estudos genéticos, o que foi observado já que os trabalhos encontrados foram realizados por Instituições de Ensino de renome e com posse de capital para pesquisas científicas, como a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. A maioria dos estudos sobre a diversidade genética do lobo-guará foi realizada em áreas do centro-oeste do Brasil (Tabela 2). A grande parte desses estudos foi feito em áreas de proteção ambiental, no Parque Nacional das Emas, Estação Ecológica de Águas Emendadas e Parque Nacional do Instituto de Geografia de Brasília. O estudo de Lion (2007) não foi considerado, pois os resultados e conclusões obtidas neste trabalho foram os mesmos encontrados no artigo publicado em 2011, por se tratar de um artigo baseado na dissertação do primeiro autor. Tabela 2 – Principais regiões e Unidades de Conservação com estudos da diversidade genética do lobo-guará. Estudo Autor/ano Localidade 1 Rodrigues (2002) Estação Ecológica de Águas Emendadas- ESECAE 2 De Mattos et.al., (2004) Nordeste do Estado de São Paulo 3 Rodrigues (2005) Parque Nacional das Emas 4 Rodrigues et al., (2006) 5 Salim et al., (2007) Parque Nacional das Emas Brasília, Goiânia, Uberlândia, Uberaba, Araxá, Belo Horizonte, Varginha, Bauru, Sorocaba, São Paulo, e Curitiba Zológicos e ESECAE 6 Fontoura-Rodrigues et al., (2008) 7 Prates Júnior (2008) 8 Lion et.al., (2011) Serra da Canastra Nacional Park-MG Departamento de Corrientes, norte da Argentina e SC, SP, RJ, MG, ES, MS, MT,GO e DF, no Brasil Estação Ecológica de Águas Emendadas [ESECAE]; [PARNA]; [FAL] e Parque Nacional de Instituto de Geografia de Brasília As áreas em que os estudos sobre diversidade genética do lobo-guará foram realizados, abrangem em sua maioria, os estados de Goiás, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná, onde estão localizadas as unidades de Conservações: Parque Nacional das Emas, Serra da Canastra Nacional Park, Estação Ecológica de Águas Emendadas e o Parque Nacional do Instituto de Geografia de Brasília (Tabela 2). Os 24 locais de estudo são os que apresentam o bioma Cerrado, isto porque esta região é o habitat natural dos Lobos-guarás (Chrysocyon brachyurus) (DIETZ, 1984). A espécie é encontrada desde regiões do Cerrado no estado de Minas Gerias até regiões de savanas (semelhantes ao cerrado brasileiro) em países como Argentina e Peru (RODDEN et al., 2004). Em média, nesses estudos, foram utilizados 40 indivíduos das populações, com desvio-padrão de 24,42, variando de 15 a 87 indivíduos (Tabela 3). Tabela 3 – Número de indivíduos utilizados nos estudos da diversidade genética do lobo-guará. Estudo Autor/ano 1 Rodrigues (2002) Nº de Indivíduos 15 2 De Mattos et.al., (2004) 28 3 Rodrigues (2005) 38 4 Rodrigues et al., (2006) 38 5 Salim et al., (2007) 66 6 Fontoura-Rodrigues et.al., (2008) 25 7 Prates Júnior (2008) 87 8 Lion et.al., (2011) 23 Média (dp) dp= Desvio-padrão. 40 (± 24,42) Na natureza, o número de indivíduos de Lobos-guarás é desconhecido, mas sabe-se que não é um número grande, pois a espécie está classificada como vulnerável ao risco de extinção pelo IUCN (2010). O pequeno número de indivíduos utilizados nos estudos analisados, uma média de 40 indivíduos (Tabela 3), pode ser explicado pela reduzida população da espécie Chrysocyon brachyurus, de aproximadamente 20.000 espécimes, encontrada na natureza, como mencionado no trabalho de Cummings et al. (2007). O número de áreas em que os estudos foram realizados também influenciam no tamanho amostral da população de Lobo-Guará, o estudo 5 e 7 foram realizados em 13 e 11 áreas respectivamente, tendo assim um número maior de indivíduos analisados. Os demais estudos foram realizados em apenas 1 ou 4 áreas, assim tendo um número amostral menor de indivíduos de Lobo-Guará. A perda do hábitat natural e as paisagens fragmentadas são umas das principais causas da redução populacional de espécies selvagens (METZGER e DÉCAMP, 1997; FAHRIG, 2003). O lobo-guará é um canídeo de médio a grande porte e necessita de 25 uma área de vida, de 30Km², maior do que outros carnívoros (DIETZ, 1984), como a jaguatirica, 8Km² (EMMONS, 1998), e menor área de vida do que o puma, 155Km² (CRAWSHAW e QUIGLEY, 1984), para garantir a sua sobrevivência. O isolamento de áreas ocupadas por animais como o lobo-guará, pode não resultar em uma diminuição do número de indivíduos imediatamente, pois, pode haver um fluxo maior de animais indo para essas áreas em busca de refúgio, mas a tendência é que esse número se reduza devido à escassez de recursos naturais nos fragmentos. Assim as espécies que necessitam de grandes áreas de vida são excluídas dos fragmentos que não ofereçam uma área mínima para a sua sobrevivência levando assim a deriva genética e endogamia e a outros problemas referentes a pequenas populações (VIDOLIN e BRAGA, 2004). A tabela 4 mostra os dados moleculares de cada estudo. Entre os oito trabalhos, cinco utilizaram o marcador molecular STR, um RAPD, um mtDNA e um marcador protéico (Tabela 4). Também mostra que o número de locos e de alelos presentes nestes estudos. O número de locos variou de 5 a 20 locos (média de 9,28) e o número de alelos variou de 1,2 a 6,7 alelos (média de 4,42). A heterozigosidade esperada média (He) foi de 0,53 e a heterozigosidade observada (Ho) foi em média 0,48 nos oito estudos feitos (Tabela 4). Tabela 4 – Marcadores moleculares utilizados e as características genéticas analisadas em cada estudo. Estudo Marcador Molecular L/pb A He Ho STR 10 4 0.0014 --1 Protéicos 20 1.2 --0.057 2 RAPD 10 ------3 STR 6 4.5 0.533 0.564 4 STR 5 4.3 0.669 0.538 5 STR 9 6.7 0.727 --6 mtDNA 584pb ------7 STR 5 5.8 0.715 0.748 8 Média (± dp) 9,28 (±5,22) 4,42 (±1,88) 0,53 (±0,30) 0,48 (±0,29) L= Número de locos analisados; pb= tamanho do fragmento (mtDNA) em pares de bases; A= Número médio de alelos por loco, He= Heterozigosidade esperada; Ho= Heterozigosidade observada, dp= Desvio-padrão. Os trabalhos analisados, utilizaram em sua maioria os marcadores STR (microssatélites), pois são marcadores altamente polimórficos, que permitem definir um único genótipo multiloco. São utilizados também por suas características de serem facilmente encontrados em várias partes do genoma, e serem marcadores fáceis de serem reproduzidos várias vezes (ARANGUREN-MÉNDEZ et al., 2005). 26 No presente estudo a heterozigosidade esperada foi de 0,53 em média e a heterozigosidade observada foi de 0,48, para as populações estudadas de Lobo-Guará. Valores semelhantes foram encontrados nos estudos de Rodrigues (2002), De Mattos (2004), Rodrigues (2005), Rodrigues et al. (2006), Salim et al.(2007) FontouraRodrigues (2008), Prates Júnior (2008) e Lion et al. (2011) para populações de lobosguarás (Chrysocyon brachyurus). Em outras espécies de canídeos a heterozigosidade encontrada foi de 0,74 para Cerdocyon thous, de 0,79 para Lycalopex gymnocercus, e de 0,81 para Lycalopex vetulus (FONTOURA-RODRIGUES, 2008). As populações com maior heterozigosidade são as que possuem maior número de alelos por loco, que implica em uma diversidade genética maior de suas populações e consequentemente num menor risco de extinção. Em relação as principais conclusões obtidas em cada estudo, observa-se que na maioria dos estudos (estudos 1, 2,3,4 6 e 7) detectou-se uma redução na diversidade genética do lobo-guará. O que não foi detectado nos estudos cinco e oito. A presença de endogamia foi observada apenas nos estudos um e quatro (Tabela 5). Tabela 5 – Principais conclusões obtidas em cada estudo analisado. Reduzida Diversidade Estudo Genética 1 x 2 x 3 x 4 x 5 6 x 7 x 8 x-presença. Presença Reduzida de Endogamia x x Os estudos levantados nesse trabalho não encontraram altos índices de endogamia e perda da diversidade genética (Tabela 5), mesmo considerando que a maioria das populações estudadas de Lobo-Guará é de tamanho relativamente pequeno. Esse dado contrasta com os resultados de Carneiro et al. (2006), no qual ele conclui que para evitar endogamia e uma redução da diversidade genética na população, é necessário que a população seja grande e possua mais machos do que fêmeas. O loboguará é uma espécie ameaçada de extinção, porém a quantidade de locos analisados foi pequeno, em média nove locos (Tabela 4), o que possivelmente explicaria essa não detecção na redução da diversidade genética da espécie. Portanto, se mais regiões do 27 genoma da espécie forem analisadas em estudos futuros, certamente será constatada uma redução da sua diversidade e provavelmente um elevado índice de endogamia (Rodrigues, 2005). 28 7. Conclusões - Foi encontrado um total de 9 trabalhos referentes a estudos da diversidade genética do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus). - A maioria dos estudos foi realizada com populações de lobos-guarás que ocorrem nos estados de Goiás, Brasília, e São Paulo, entre outros, pois são estados que apresentam o bioma cerrado, que é o habitat natural da espécie. O tamanho das populações de lobosguarás no geral foi pequeno variando de 15 a 87 indivíduos. - As dissertações e teses defendidas com o tema em questão foram realizadas nos estados de Goiás, São Paulo, Brasília e Rio Grande do Sul, que coincide com a ocorrência das populações de guará estudadas nos respectivos trabalhos. E as revistas que publicaram os trabalhos de diversidade genética do guará, são revistas especializadas na área e com grande fator de impacto, o que mostra a importância dos estudos e também a urgência em se realizar novos estudos com essa espécies, uma vez que são escassas as publicações. - O marcador molecular mais utilizado nos estudos foi o marcador microssatélite - STR, uma vez que este marcador é ideal para essas análises, pois engloba regiões do genoma com alta variabilidade genética. - O número médio de locos e alelos encontrados nos estudos foi respectivamente, 9 (nove) e 4 (quatro). Quanto as heterozigosidades médias esperadas e observadas foi 0,53 e 0,48, respectivamente. - Os resultados obtidos na maioria dos trabalhos analisados foram de que a população de lobo-guará possui uma pequena redução da diversidade genética, porém a população se encontra estruturada e na maioria livre de endocruzamento. - Espera-se que este trabalho seja um impulso para que cada vez mais estudiosos se interessem pelo tema diversidade genética do lobo-guará e realizem mais estudos e pesquisas sobre o mesmo. 29 8. Referências AMARAL, G. A.; MARRA, R. P.; MONTEIRO, R. S. M.; RESENDE, V. L.; RODRIGUES, M. F.; SOARES, N. T.; TELLES, C. P. M. Marcadores rapd na análise da divergência genética entre raças de bovinos e número de locos necessários para a estabilidade da divergência estimada. Ciência Animal Brasileira, v. 2, n. 2. p. 87-95. 2001. ARANGUREN-MÉNDEZ, J. A.; ROMÁN-BRAVO, R.; ISEAN, W.; VILLASMIL, Y.; JORDANA, J. 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