Sociologia e cotidiano: controle social

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Sociologia
e
controle social
cotidiano:
Por Cristiano Bodart
Controle social* é um conceito que teve sua origem junto à
germinação da Ciência Sociologia, sobretudo por meio das
colaborações de Émile Durkheim, vindo a se expandir ao longo
do século XX, sobretudo nos Estados Unidos, nos anos de 1920.
Grosso modo, designa um conjunto heterogêneo de recursos
materiais e simbólicos que mantém a ordem social, ou melhor,
garantem que os indivíduos comportem-se de maneira previsível
e de acordo com as normas sociais vigentes em sua sociedade.
Desta forma, controle social é a regulação do comportamento (e
até do pensar) dos indivíduos dentro de uma conduta desejável
por aqueles que governam e legislam sobre o grupo social
controlado. Trata-se de um “conjunto de métodos pelos quais a
sociedade influencia o comportamento humano, tendo em vista
manter determinada ordem” (MANNHEIM, 1971, p. 178)**.
O controle social pode ser formal ou informal. O controle
formal é aquele que está estabelecido em lei. O controle
informal seria aquele não estabelecido em lei, mas que são
regras de conduta socialmente reconhecida e compartilhada,
tais como os costumes e as crenças.
Para que exista controle social são necessários elementos
materiais e simbólicos de coação/repressão/influência que
atuem sobre os indivíduos. Um exemplo, facilmente observado no
cotidiano, é a Polícia. Cabe a polícia, com sua presença,
inibir e reprimir qualquer ação social contrária as normas
sociais. Inicialmente a Polícia faz isso de forma simbólica,
apenas com sua presença marcada pelo simbolismo existente em
sua farda, por exemplo. Em caso desse simbolismo falhar,
utiliza-se da força que lhe é atribuída por lei. Um exemplo,
não tão fácil de ser notado, são as disposições de objetos no
cotidiano que “regulam” nosso comportamento. A presença de
templos religiosos em lugares centrais e altos de uma cidade
tem como função transmitir um significado de poderio e
submissão de seus fieis, o que acaba coagindo o seu
comportamento. Outras disposições de objetos são mais claras
em sua influência, tais como as faixas pintadas no asfalto e
as placas de sinalização de trânsito.
O controle social é visto, grosso modo, por dois ângulos
antagônicos. Por um lado, como necessária para que possamos
viver em sociedade. A ideia de Thomas Hobbes nós é bastante
elucidativa em relação a esse ponto de vista. Para ele os
indivíduos são maus em sua origem e carecem de serem
“controlados” pelas regras sociais, a fim de viverem em
harmonia. A ausência de controle social poderia desencadear
crises sociais. Para exemplificar esse raciocínio, temos os
casos de saques e tumultos populares em momentos de greve da
polícia, tal como acorreu em Pernambuco (ver aqui). Por outro
lado, o controle social é visto como uma forma de manter a
estratificação social estabelecida. Nessa direção, um trecho
da música “Até quando”, de Gabriel Pensador, nos é bastante
elucidativa para compreendermos essa perspectiva: “a TV só
existe para manter você na frente, na frente da TV, que é para
você não ver que o programado é você”. Sob essa visão, o
Estado é o principal responsável por controlar as pessoas,
sobretudo de forma simbólica, o que chamou-se na teoria
marxista de “Aparelhos Ideológicos do Estado”. Esses
aparelhos, tais como a escola e as TVs estatais, teriam a
função de transmitir o que deseja a classe social dominante, a
fim de manter o status quo.
Agora, você já tem ciência de uma coisa: somos induzidos a
fazer o que a sociedade deseja, ou o que desejam os grupos
dominantes. Liberdade, só aquela apresentada por Paul Sartre,
de que somos livres para fazer tudo, tudo o que permitem as
regras e as leis.
*Não confundir esse conceito sociológico com outro mais muito
em Gestão Pública e Ciência Política, que é a ideia de
Controle Social da coisa pública (sociedade controlando as
decisões e os gastos públicos).
**MANNHEIM, K. Sociologia Sistemática: uma introdução ao
estudo de sociologia. 2.ed. São Paulo: Pioneira, 1971.
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