Sexualidade e pudores no nordeste brasileiro do século XVI - XVII Renato Rocha Lima e Maria Fátima de Melo Toledo Universidade de Taubaté/ Departamento de Ciências Sociais e Letras [email protected] Resumo O objetivo dessa pesquisa é analisar as influências que a Igreja Católica exerceu sobre a sociedade colonial no nordeste brasileiro nos séculos XVI e XVII, cujo desenvolvimento histórico está ligado aos grandes processos sociais, políticos e econômicos da história do Brasil. Assim, pretendemos analisar o impacto da Inquisição nos comportamentos íntimos e o domínio da instituição no cotidiano colonial das diferentes esferas sociais. Nos primórdios da colonização, essa região se tornou importante pelo solo fértil que permitia a produção de cana de açúcar e o seu comércio a altos preços no mercado europeu. O nordeste então se transformou no centro econômico colonial, povoado por índios, negros escravizados da África e, europeus que atravessaram o Atlântico em busca da riqueza. Tendo a missão de evangelizar os índios e consequentemente, expandir a fé cristã, o catolicismo atravessou o oceano e instaurou aqui uma sociedade pautada nos mandamentos e normas religiosas. Mesmo com a diversidade de costumes do Brasil seiscentista, a Igreja Católica buscou formas de implantar suas doutrinas no Novo Mundo. Porém, devido às condições da colônia e a grande extensão territorial, muitos foram os casos de desvios da conduta pregada pela igreja católica. Para combater as heresias e os pecados da carne, foi instaurada em dois momentos a Inquisição no Brasil. Iniciou-se então a perseguição àqueles considerados pecadores, espalhando a todos o medo de ver seus “pecados” na boca dos denunciantes e ouvidos dos visitadores. Concluímos assim, que a Igreja Católica junto ao Estado Português, por meio do Padroado Régio, tentou ditar os comportamentos sexuais e sociais para a sociedade colonial, na qual, quem ousasse infringir as normas da igreja na busca dos prazeres sexuais seria perseguido e punido pela Inquisição do Santo Oficio. Palavras Chaves: Sexualidade, Igreja Católica, Brasil. Abstract The objective of this research is to analyze the influences exerted by the Catholic Church over the Brazilian society on the sixteenth and seventeenth century’s Brazilian northeast region, a region whose historical development is connected to the great social, political and economical processes in the history of Brazil. On this research, we also intend to analyze the impact of the Inquisition on the intimate behaviors of the different social spheres and the control of the institution on the colonial day-to-day life. In a first moment of the colonization this region has become important due to the proximity of it to Europe and to the fertile soil which allowed the production of Sugar Cane to be commercialized in a high price level on the European market. The northeast then becomes the Brazilian economic center, having a high population of Indians, African slaves and Europeans which crossed the Atlantic searching for easy wealth. Having the mission of evangelize the Indians and therefore expand the Christian faith, the catholic religion crosses the ocean and establishes here a society based on the religious commandments and the divine rules. Even with the diversity of habits of the sixteenth century’s Brazil, the Catholic Church looked for ways to implant its doctrines on the new world. However, due to the precarious conditions of the colony and its great territorial extension, many were the cases of deviation from the catholic paths. In order to fight the heresies and the sins of flesh, in two moments the Inquisition was established in Brazil. It was then the beginning of the persecution of the sinners, spreading to all people the fear of seeing their sins exposed to the visitants. We conclude, therefore, that the Catholic Church, along with the Portuguese State and by means of the Royal Patronage, stated the sexual and social behaviors on the Brazilian colonial society, where a person who dared to infringe the divine rules, looking for pleasure, would be persecuted and punished by the Holy Office. Key words: Sexuality, Catholic Church, Brazil SIICUSP 2014 – 22º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP Introdução Desde a chegada dos portugueses ao Brasil, as relações de intimidade foram presentes no contato entre portugueses e indígenas. Além dos interesses comerciais, este contato foi marcado pela admiração à beleza nativa. As noções de intimidade que se viveria, desde então, seriam de quase “intoxicação sexual”, como destacou Gilberto Freyre em seu livro Casa Grande e Senzala (1990). No inicio, a beleza indígena era vista com bons olhos, sendo o nu uma demonstração de inocência; “sua nudez e despudor eram lidos numa chave de desconhecimento do mal, ligando, portanto, a ‘formosura’ à ideia de pureza” (PRIORE, 2011). Esta foi apenas a imagem inicial, pois, a Igreja Católica por todo o período colonial impôs olhares do conservadorismo ibérico sobre a nudez indígena, tornando a figura do índio bestial à medida que o processo de colonização portuguesa avançava para o interior brasileiro. Conforme Giraldi (2010), “o português que chegava ao Brasil vinha de uma Europa medieval bastante contida no que dizia respeito ao vestir e aos hábitos sexuais”, e se deparava com a nudez. Como a colonização portuguesa aqui no Brasil foi marcada pela característica do povoamento e da miscigenação, se tornou comuns relacionamentos entre elementos das diferentes esferas étnicas e sociais que aqui se encontraram. Vale destacar que, para alguns autores, devido à ausência de mulheres brancas no Brasil, índias e escravas africanas se tornaram símbolos de desejos sexuais para os europeus. Para frear a liberdade sexual com que muitos viviam além-mar e fazer prevalecer as palavras e normas da Igreja, a instituição se estabeleceu através das missões evangelizadoras, levando a catequização aos nativos e africanos. Considerado pela Igreja como adúlteros explícitos, homens que viviam com índias e negras sofreram fortes perseguições por parte do Santo Oficio da Inquisição, que vem para a Bahia em 1591, a princípio para verificar se cristãos-novos ainda praticavam ritos judaicos, mas se deparou com um ambiente percebido como de desordem sexual, passando a perseguir os que praticavam pecados nefandos e a luxúria. Objetivos O Objetivo dessa pesquisa é analisar as influências da religião católica nos comportamentos sexuais da sociedade colonial no nordeste nos séculos XVI e XVII, observando as especificidades nas sociedades indígenas e africanas e compreender os efeitos que a vinda da Inquisição do Santo Oficio, que perseguia e punia os que praticavam atos que julgavam estar fora das normas católicas, acarretou para a sociedade. Materiais e Métodos O instrumento será à bibliografia específica que deverá nortear a realização da pesquisa e a elaboração das hipóteses de estudo. O corpus bibliográfico se compõe de estudiosos do tema da sexualidade na colônia, como Ronaldo Vainfas, Gilberto Freyre, Mary Del Priore, historiadores que destacam os aspectos comportamentais em torno da sexualidade nos séculos XVI e XVII. Esta bibliografia é fundamental, pois ela evidencia que o Brasil foi marcado pela miscigenação devido à união sexual e ao domínio de portugueses sobre indígenas e africanos e revela as influências da religião atuando em todas as esferas da sociedade e do cotidiano do Brasil colonial. Resultados Os padrões de sexualidade na colônia sofreram transformações com as imposições da Igreja Católica que, com o Padroado Régio, combateu práticas consideradas “nefandas” e comuns ao Novo Mundo. Entre elas, a bigamia, a sodomia e o adultério se tornaram pecados fortemente perseguidos e inaceitáveis aos padres e jesuítas portugueses. Vindo do ideal religioso ibérico e para lutar contra as supostas heresias, a Inquisição se instaura no Brasil transmitindo medo, perseguindo e punindo quem desviava das normas da Igreja. Junto a isso firmava também um novo centro social e dinâmico no Brasil, promovendo missas, procissões e uma nova sociabilidade. Conclusões Nesta pesquisa concluímos que o Brasil sofreu diretamente influências nos padrões de sexualidade e intimidade durante todo o período colonial devido ao encontro de várias etnias como europeus, índios e negros, que entraram em contato na colônia, gerando uma cultura híbrida. A Igreja, unida ao Estado Português por meio do Padroado Régio, tentou estabelecer formas rígidas de convivência para a população SIICUSP 2014 – 22º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP seiscentista punindo os supostos pecadores, mas, devido à pluralidade cultural, novos padrões de sociabilidade surgiram e foram considerados pela Igreja como desvios das condutas cristãs. Referências Bibliográficas FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. Rio de Janeiro: Record,1990. GIRALDI, A. Sexo do lado de baixo do Equador. Revista Unesp Ciência, ano 1, no. 8, maio/2010. Disponível em http://www.unesp.br/aci/revista/ed08/. Acesso 26 out 2013. HOLANDA, Sérgio Buarque de (orgs). História Geral da Civilização Brasileira, tomo I A época colonial. São Paulo. Difel. 1985. PRIORE, Mary Del. Histórias intimas: sexualidade e erotismo na história do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2011. SOUZA, Laura de Mello e (org.). 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