FONOLOGIA NO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA E DE LÍNGUA

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FONOLOGIA NO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA E DE LÍNGUA
ESTRANGEIRA
Profa. Dra. Carmen Lúcia Barreto Matzenauer – UCPEL
EMENTA:
A Fonética e a Fonologia no funcionamento de línguas naturais. Caracterização dos
sistemas fonológicos do Português, do Inglês e do Espanhol. A aquisição do Português
como Língua Materna. A interfonologia no ensino de Línguas Estrangeiras. Implicações do
comportamento dos sistemas fonológicos no ensino do Português como Língua Materna e
no ensino, para brasileiros, do Espanhol e do Inglês como Língua Estrangeira.
DESCRIÇÃO SUCINTA DO MINICURSO:
Partindo do pressuposto de que os professores de Língua Portuguesa e de Línguas
Estrangeiras e os professores em formação (ou seja, alunos dos Cursos de Graduação em
Letras) têm de conhecer o(s) sistema(s) lingüísticos que é(são) objeto de seu
estudo/trabalho, o minicurso intitulado FONOLOGIA NO ENSINO DE LÍNGUA
MATERNA E DE LÍNGUA ESTRANGEIRA focalizou a análise de aspectos do componente
fonológico do Português Brasileiro, bem como do Inglês e do Espanhol. Foi defendida a
posição de que esse conhecimento do(s) sistema(s) lingüísticos, por parte do professor, não
pode restringir-se à simples descrição dos fatos da língua (por exemplo: regras de
acentuação ortográfica, ou pronúncia acurada de determinados sons), mas tem de estar
embasado em modelos teóricos que sejam capazes de explicar por que determinado sistema
lingüístico funciona de uma maneira e não de outra, assim como tem de dar subsídio ao
entendimento da causa de determinados ‘erros’ apresentados por alunos, durante o processo
de aquisição de uma Língua Estrangeira (LE).
Considerando que todo falante tem a gramática da língua internalizada, foi feita
discussão a respeito do fato de que cabe ao professor de Língua Portuguesa o papel de ser
mediador, junto a seus alunos, da explicitação dessa gramática, seja no uso da língua oral
em diferentes variedades, seja no uso da manifestação escrita da língua. Vários modelos
teóricos, particularmente aqueles que a literatura da área identifica como integrantes da
‘fonologia não-linear’, como a Fonologia Autossegmental, a Fonologia da Sílaba, a
Fonologia Métrica, por exemplo, podem oferecer suporte a uma ação docente segura,
consistente e de resultados efetivos no ensino da Língua Materna (LM).
Em se tratando do ensino de Línguas Estrangeiras, com base na concepção de que o
aluno brasileiro, aprendiz de uma LE, tem internalizada a gramática de sua LM, foram
discutidos os seguintes temas: aquisição da fonologia da LE, etapas de aquisição, influência
da LM e interfonologia.
Ao tratar-se da aquisição da fonologia de uma LE, foi reconhecida a necessidade de
estabelecer-se com clareza a diferença entre ‘capacidade fonética’ (que implica a
capacidade de articular os sons da LE) e ‘capacidade fonológica’ (que implica a capacidade
de empregar os fonemas da LE de acordo com a gramática da língua, de distribuí-los e
organizá-los para veicular significado). Assim sendo, adquirir uma LE implica
particularmente a aquisição da fonologia da nova língua, com o seu ‘inventário de fonemas’
e com o ‘conjunto de regras e/ou restrições’ que lhe são específicos e que a diferenciam de
todos os outros sistemas lingüísticos.
Com esse encaminhamento, foram analisados quatro níveis do componente
fonológico da língua, nos quais é observada com maior freqüência a interferência da LM e
que, concomitantemente, são determinantes da existência, no processo de aquisição de uma
LE, de ‘interfonologias’ apresentadas pelos aprendizes, podendo também ser
caracterizadores de etapas de aquisição da LE. Os quatro níveis discutidos foram:
a) o nível do segmento,
b) o nível da sílaba,
c) o nível do acento,
d) o nível das regras fonológicas.
Analisaram-se com detalhe os sistemas fonológicos do Português, do Inglês e do
Espanhol – analisaram-se os segmentos (o sistema vocálico e o sistema consonantal) que
compõem cada língua, examinaram-se as estruturas silábicas licenciadas por cada um dos
três sistemas lingüísticos, observaram-se características de atribuição do acento primário
em cada sistema, bem como se verificaram regras características do Português que não
integram a fonologia das duas outras línguas.
Utilizando-se exemplos das três línguas referidas – Português, Inglês e Espanhol –,
pôde concluir-se que a interferência da LM no processo de aquisição de uma LE, o
funcionamento da(s) interfonologia(s) criadas pelos alunos, assim como as fases de
desenvolvimento lingüístico nesse processo podem ser explicados pelo “simples fato” de
que cada sistema lingüístico possui um ‘inventário de segmentos’ que lhe é próprio, uma
‘série de restrições quanto a seqüências de segmentos que são licenciadas, dando origem às
estruturas silábicas possíveis’ na língua, um ‘algoritmo de atribuição de acento primário’
que o caracteriza, bem como um ‘conjunto de regras’ que lhe é peculiar. Na verdade, esse
“simples fato” passa a ser efetivamente “simples” somente à luz de teorias fonológicas,
porque aí se encontram os fundamentos para a explicação do funcionamento da fonologia
de cada língua, identificando-o como um sistema particular, que apresenta especificidades
que lhe são próprias, mas que também compartilha características com outros sistemas
lingüísticos. Esse conflito entre especificidades/compartilhamento – seja de segmentos, de
estruturas silábicas, de acento e de regras fonológicas – está permanentemente presente no
processo de aquisição de uma LE, em se considerando que os alunos já possuem uma
gramática, que é a da LM.
Assim, concluiu-se ser indispensável, para o professor de LE, conhecer a fonologia
das línguas que estão em contato em sua sala de aula, a fim de ser capaz de constatar e de
compreender as características da(s) interfonologia(s) de seus alunos, das etapas de
aquisição por que passam e a fim de estabelecer estratégias de ensino mais eficazes. Na
verdade, todo professor de línguas, seja Língua Portuguesa ou Línguas Estrangeiras, tem de
ser capaz de descrever e explicar os fenômenos da gramática da(s) língua(s) com que
trabalha, e isso somente pode ser alcançado com base em modelos teóricos – é a ciência
lingüística e a aplicação da ciência, em uníssono, participando do processo de ensino e
aprendizagem de línguas.
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