Aula-10 Indução e Indutância Curso de Física Geral F-328 2o semestre, 2013 F328 – 2S20123 1 Indução Aprendemos que: Uma espira condutora percorrida por uma corrente i na presença de um campo magnético sofre ação de um torque: espira de corrente + campo magnético à torque Será que... Uma espira sem corrente ao girar no interior de uma região onde há um campo magnético B, faz aparecer uma corrente i na espira? Isto é: torque + campo magnético à corrente? F328 – 2S20123 2 Experimentos de Faraday As respostas a essas questões foram dadas por Faraday. Ele observou que o movimento relativo de um conjunto de ímãs e circuitos metálicos fechados fazia aparecer nestes últimos correntes transientes. Primeiro experimento: Espira conectada a um galvanômetro – não há bateria! Observa-se que: 1- se houver movimento relativo ímãespira, aparecerá uma corrente no galvanômetro; 2- quanto mais rápido for o movimento relativo, maior será a corrente na espira. F328 – 2S20123 corrente induzida 3 Experimentos de Faraday Segundo experimento: Figura ao lado: duas espiras condutoras próximas uma da outra, mas sem se tocarem. Fechando-se S (para ligar a corrente na espira da direita) aparece um pico momentâneo de corrente no galvanômetro G. Abrindo-se S (para desligar a corrente), aparece um pico momentâneo de corrente no galvanômetro, no sentido oposto à da anterior. Embora não haja movimento das espiras, temos uma corrente induzida ou uma força eletromotriz induzida (fem). Nesta experiência, uma fem é induzida na espira somente quando o campo magnético que a atravessa estiver variando. F328 – 2S20123 4 A Lei de Faraday da Indução Fluxo do campo magnético: φB = ∫ B. nˆ dA S A unidade SI para fluxo é o weber (Wb) 1weber = 1Wb = 1T.m2 A intensidade da fem induzida ε é igual à taxa de variação temporal do fluxo do campo magnético : dϕ B ε=− dt F328 – 2S20123 (Lei de Faraday) O sinal negativo indica que a fem deve se opor à variação do fluxo que a produziu. 5 A Lei de de Lenz O sentido da corrente induzida é tal que o campo que ela produz se opõe à variação do fluxo magnético que a produziu. Oposição ao movimento F328 – 2S20123 Oposição à variação do fluxo 6 Indução e gerador de corrente senoidal Espira sendo rodada numa região de campo B com velocidade angular ω constante. Como φB = φB (t ) , aparece uma fem induzida na espira. Temos: φB = ∫ B.nˆ dA= ∫ B cos θ dA S S φB = Babcos θ ; θ = θ 0 +ω t . Se θ 0 = 0 ⇒ θ = ω t dφ ε = − B = Babω sen (ω t ) dt ε (t ) Babω i (t ) = = sen (ω t ) R R ∴ uma corrente que varia senoidalmente com t. F328 – 2S20123 7 Indução e transferência de energia Espira sendo deslocada para direita com velocidade constante v . Como o fluxo está diminuindo, aparece uma fem e portanto uma corrente induzida na espira. φB = BLx ⇒ ε = BLv ∴ ε BLv i= R = R (sentido horário) Forças sobre a espira: Fapl (não mostrada ), F1 , F2 e F3 B 2 L2 v v = constante Fap + F1 = 0 ou Fap = F1 = iLB = R B 2 L2 v 2 Potência aplicada: Pap = Fap ⋅ v = Fap v = R Taxa de aparecimento de energia térmica na espira: 2 F328 – 2S20123 2 2 2 BLv B L v (igual à potência aplicada) ⎛ ⎞ P = Ri 2 = ⎜ R = ⎟ R R ⎝ ⎠ 8 Força de Lorentz e fem induzida Barra transversalmente numa região de metálica movendo-se campo B com velocidade v constante. FB = qv × B e FE = qE F = qE + qv × B No equilíbrio, a força elétrica é oposta à força magnética: qE + qv × B = 0 ⇒ E = vB Por outro lado, temos que: ε = ∫ E ⋅dl = BLv − F328 – 2S20123 + 9 Campos elétricos induzidos Seja um anel de cobre de raio r numa região onde há um campo magnético variável no tempo (com módulo crescendo à taxa dB/dt). A variação temporal de B faz aparecer uma corrente no anel. Portanto, aparece um campo elétrico induzido no anel. Pode-se então dizer que: um campo magnético variável com o tempo produz um campo elétrico (Lei de Faraday reformulada). ∂B ⇒E ∂t As linhas do campo elétrico induzido são tangentes ao anel, formando um conjunto de circunferências concêntricas. F328 – 2S20123 E E E E B 10 Campos elétricos induzidos Trabalho sobre uma partícula com carga q0 , movendo-se ao redor de uma circunferência de raio r: (ou: ΔW = q0 E.2π r) ΔW = ∫ F ⋅ dl = q0 ∫ E ⋅ dl Mas, também: ΔW = q0ε ( ε = fem induzida) Então: Ou: ε = ∫ E ⋅ dl dφB ∫ E.dl = − dt (Lei de Faraday) Note que não se pode associar um potencial elétrico ao campo elétrico E induzido! F328 – 2S20123 11 Exemplo 2 Para a figura do slide anterior, adotar dB/dt = 0,13 T/s e R = 8,5 cm. Determinar as expressões da intensidade do campo elétrico induzido para r < R e r > R . Obtenha os valores numéricos para r = 5,2 cm e r = 12,5 cm . a) r < R: dφB ∫ E.dl = − dt Para r =5,2 cm: dB r dB E (2πr ) = (πr ) ⇒E= dt 2 dt 2 5,2 × 10 −2 m E= (0,13T / s ) = 3,4 mV / m 2 b) r > R: dφB ∫ E.dl = − dt 2 dB R dB E (2πr ) = π R 2 ⇒ E= dt 2r dt Para r =12,5 cm: (8,5 × 10 −2 m ) 2 E= (0,13T / s ) = 3,8mV / m −2 2 × 12 ,5 × 10 m F328 – 2S20123 Gráfico de E(r) 12 Freio Magnético Um magneto em queda livre dentro de um tubo atinge uma velocidade terminal devido ao campo induzido por uma corrente nas paredes do tubo. Uma dada secção transversal do tubo pode ser vista como uma pequena espira. Durante a queda do magneto duas situações se apresentam: a) b) a) magneto se aproxima da “espira” b) magneto se afasta da “espira” Em ambos os casos a Lei de Faraday e a Lei de Lenz nos ensinam que aparecerá uma força magnética induzida no magneto apontando para cima. Freio magnético F328 – 2S20123 13 Auto-indutância Consideremos uma bobina de N voltas, chamada de indutor, percorrida por uma corrente i que produz um fluxo magnético ϕB através de todas as espiras da bobina. Se i = i(t), pela lei de Faraday aparecerá nela uma fem dada por: d ( NφB ) εL =− dt ( NφB = fluxo concatenado) Na ausência de materiais magnéticos, NφB é proporcional à corrente: NφB = Li ou: L = Então: NφB i d ( Li ) di εL = − = −L dt dt (L: auto-indutância) i crescendo i decrescendo (fem auto-induzida) O sentido de ε L é dado pela lei de Lenz: ela deve se opor à variação da corrente que a originou (figura). F328 – 2S20123 14 Indutância de um solenoide Solenoide longo de comprimento l e área A: NφB = (nl )( BA) Lembrando que neste caso B é dado por B=µ0in, da definição de indutância tem-se: NφB (nl )(µ0ni)( A) = = µ0n 2lA i i (L só depende de fatores geométricos do dispositivo e do meio). L= L = µ0n 2 A (Indutância por unidade de comprimento) l A unidade SI de indutância é o henry: 1henry =1 H =1T⋅m 2 /A = 1Wb / A F328 – 2S20123 15 Indutância de um toroide Vimos que o campo magnético no interior de um toroide é: B= Nµ0 i 2π r b µ0 iNhdr ˆ φB = ∫ B.n dA= ∫ Bhdr = ∫ = 2π r a µ0 iNh ⎛ b ⎞ = ln ⎜ ⎟ 2π ⎝a⎠ Então: NφB µ0 N 2 h ⎛ b ⎞ L= = ln ⎜ ⎟ i 2π ⎝a⎠ N espiras r Circuito RL Circuitos RL são aqueles que contêm resistores e indutores. Neles, as correntes e os potenciais variam com o tempo. Apesar das fontes (fem) que alimentam estes circuitos serem independentes do tempo, a introdução de indutores provoca efeitos dependentes do tempo. Estes efeitos são úteis para controle do funcionamento de máquinas e motores. a) Fechando-se a chave S, no instante t = 0, estabelece-se uma i corrente crescente no resistor . εL Circuito básico para analisar correntes em um indutor. F328 – 2S20123 t = 0 ⇒ i (0) = 0 → t ≠ 0 ⇒ i (t ) Resolver (estudar) este circuito é encontrar a expressão para a corrente i(t) que satisfaça à equação: di ε − Ri − L = 0 dt 17 Circuito RL A equação anterior fica: a di R ε + i= dt L L Resolvendo esta equação diferencial para i(t), vamos ter: b ε L : voltagem no indutor ε i (t ) = (1− e − Rt / L ) ⇒ i (t ) = I (1− e −t /τ L ), onde R L ε ( τ L : constante de tempo indutiva) τL = e I = R R (I : corrente máxima, assintótica) Para t muito grande, a corrente atinge um valor máximo constante, como se o indutor fosse um fio de ligação comum. F328 – 2S20123 Circuito RL Voltagens no resistor e no indutor – figura abaixo di ε − RL t VR = Ri e VL = L dt = L L e VL = ε e − Rt / L t = 0, VL = máximo → equivalente a um circuito aberto t >>τ L , VL = 0 → equivalente a um curto−circuito Interpretação de τ L: L Para t = τ L = : R ε ε −1 i= (1 − e ) = 0,63 R −1 VL = ε e = 0,37ε F328 – 2S20123 R 19 Circuito RL b) Fechando-se a chave S2: neste caso, a equação das quedas de potencial será: di Ri + L = 0 dt i A solução desta equação é: i (t ) = ε R e − Rt / L = I 0 e −t / τ L Variações das voltagens com o tempo: Ao lado, temos gráficos das tensões Em VL, VR e VR+VL= ε para várias situações a) e b). F328 – 2S20123 20 Energia armazenada no campo magnético Do circuito abaixo tem-se: di di 2 ε = Ri + L → ε i = R i + Li dt dt Os termos εi, Ri2 e Lidi/dt são, respectivamente, a potência fornecida pela bateria, a potência dissipada no resistor e a taxa com que a energia UB é armazenada no campo magnético do indutor, isto é: dU B di = Li → dU B = Lidi dt dt a UB ∫ 0 F328 – 2S20123 i dU B = ∫ Lidi 0 1 2 U B = Li 2 b 21 Densidade de energia do campo magnético É a energia por unidade de volume armazenada em um ponto qualquer do campo magnético. Consideremos o campo magnético de um solenoide longo de comprimento l e seção transversal A, transportando uma corrente i. A densidade de energia será dada por: U B 1 Li 2 uB = = Al 2 Al 1 Como L = µ0 n lA→ u B = µ0 n 2 i 2 2 2 Lembrando que B = µ0in resulta que: B2 uB = 2 µ0 F328 – 2S20123 (densidade de energia magnética) 22 Exemplo 3 Cabo coaxial de raios a e b. Os cilindros interno e externo transportam correntes iguais em sentidos opostos. Determine: a) a energia magnética UB armazenada no campo entre os cilindros ao longo de um comprimento l do cabo; b) UB por unidade de comprimento, se a = 1,2 mm, b = 3,5 mm e i = 2,7 A. µ i i B= 0 ,a<r<b 2π r Da lei de Ampère tem-se: µ 0i B uB = = 2 2 2µ 0 8π r 2 a) 2 i B B =0,r >b µ0i 2 2π rldr U B = ∫ dU B = ∫ u B dV = ∫ a 8π 2 r 2 b µ 0i 2l b UB = ln 4π a U B µ 0 i 2 b (4π ×10 −7 H/m )( 2,7A) 2 3,5mm b) = ln = ln l 4π a 4π 1,2mm F328 – 2S20123 = 7,8 ×10 −7 J/m = 780nJ/m 23 Indutância mútua Fluxos conectados: variação de fluxo da bobina 1 produz uma fem na bobina 2 e vice-versa. Indução mútua L21 → M 21 M 21i1 = N 2φ 21 ou N2 dφ 21 dt M 21 = = M 21 N 2φ 21 i1 di1 dt A fem induzida na bobina 2: ε 2 = − M 21 A fem induzida na bobina 1: ε 1 = − M 12 di1 dt di 2 dt Pode-se provar que: M12 = M 21 = M A indução é de fato mútua F328 – 2S20123 ε1 = −M ε 2 = −M di 2 dt di1 dt 24 Exemplo 4 Duas bobinas circulares compactas, a menor delas (raio R2 e N2 voltas) sendo coaxial com a maior (raio R1 e N1 voltas) e no mesmo plano. Suponha R1 >> R2 . a) deduzir uma expressão para a indutância mútua deste arranjo ; b) Qual o valor de M para N1 = N2 =1200 voltas, R2 = 1,1 cm e R1 = 15 cm? a) φ 21 = B1 A2 → N 2φ 21 = N 2 B1 A2 B1 = N 1 µ0 i1 2R1 N 2φ 21 = πµ 0 N 1 N 2 R2 2 i1 2 R1 Então: M 21 N φ = 2 21 = M i1 M = πµ 0 N 1 N 2 R 2 2 2R1 b) F328 – 2S20123 25 Indução e indutores - Geral Para dois ou mais circuitos próximos, a variação das correntes em cada um deles produz campos e fluxos magnéticos nos demais. µ0in dln × (rm − rn ) B(rm ) = 3 4π C | rm − rn | n ∑ ∫ n O fluxo no circuito m será então: µ0in dln × (rm − rn ) φB = B(rm ) ⋅ dAm = 3 ⋅ dAm 4π C | rm − rn | n S S dφ Segue então da lei de Faraday ε = − B que dt µ0 d ⎧⎪ ⎡ dln ×( rm −rn ) ⎤ ⎫⎪ ε m =− ⎨ ∫ ⎢∑in ∫ 3 ⋅dAm ⎥ ⎬ 4π dt ⎪ Sm ⎢⎣ n Cn |rm −rn | ⎥⎦ ⎪⎭ ⎩ m ∫ m F328 – 2S20123 ∫∑ m ∫ n 26 Indutância - Geral Para Sm e Cn independentes do tempo podemos escrever a fem induzida na forma: ε m = −∑ Lm,n n din dt onde a indutância Lm,n é escrita na forma: Lm ,n µ0 = 4π ∫∫ S m Cn dln × (rm − rn ) 3 ⋅ dAm (*) | rm − rn | Na prática, os Lm,n são denominados de auto-indutância (L) quando n= m e indutância mútua (M) para n≠m. F328 – 2S20123 27 Lista de exercícios do Capítulo 30 Os exercícios sobre Lei de Faraday estão na página da disciplina : (http://www.ifi.unicamp.br). Consultar: Graduação à Disciplinas à F 328-Física Geral III Aulas gravadas: http://lampiao.ic.unicamp.br/weblectures (Prof. Roversi) ou UnivespTV e Youtube (Prof. Luiz Marco Brescansin) F328 – 2S20123 28