UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE AGRONOMIA DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA ESTUDO DA BACIA DO RIO SANTA BRANCA, AFLUENTE DO RIO SANTANA EM MIGUEL PEREIRA – RJ: QUALIDADE E DISPONIBILIDADE DE AGUAS SUPERFICIAIS Marcus Louzada Altoé Euzébio José Gil Abril de 2013 AGRADECIMENTOS Queria agradecer ao professor Euzébio José Gil por aceitar a orientar este trabalho. Também agradeço aos meus amigos de curso Francisco Heelton e Rodrigo Restine pela força e, principalmente com a parte do software na produção dos mapas. A Ana Bezerra pelo apoio e motivação durante todo este tempo. RESUMO Este presente trabalho consiste em um mapeamento geológico-geotécnico da quadrícula da Bacia do Rio Santa Branca, com o objetivo de realizar um estudo de redução dos impactos de cheias, através da indicação da localização de uma barragem de amortecimento para contenção de ondas de cheia e também o aproveitamento dessa água para distribuição e geração de energia para a região. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 1 2. OBJETIVO ............................................................................................................................... 2 3. MAPA DE LOCALIZAÇÃO E ACESSO .................................................................................... 3 4. METODOLOGIA ...................................................................................................................... 4 5. GEOLOGIA REGIONAL ........................................................................................................... 6 6. GEOLOGIA LOCAL ................................................................................................................. 8 6.1 BATÓLITO SERRA DOS ÓRGÃOS.................................................................................. 8 6.2 BATÓLITO SERRA DAS ARARAS ................................................................................... 8 6.3 UNIDADE RIO NEGRO .................................................................................................... 8 6.4 ROCHAS BASÁLTICAS E ALCALINAS ............................................................................ 9 7. GEOMORFOLOGIA E RELEVO DA BACIA DO RIO SANTA BRANCA ................................. 11 8. CLIMA, VEGETAÇÃO E SOLO.............................................................................................. 12 9. ESTRUTURAS HIDRÁULICAS .............................................................................................. 13 9.1 ARRANJO DAS ESTRUTURAS HIDRÁULICAS ............................................................. 13 10. GERAÇÃO PREVISTA ....................................................................................................... 14 11. DISTRIBUIÇÃO .................................................................................................................. 17 12. CONCLUSÕES .................................................................................................................. 18 13. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 19 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 - Mapa de localização da área de estudo. Fonte google mapas........................................ 3 Figura 2 - Medição de profundidade do Rio Santa Branca. ............................................................. 4 Figura 3 - Largura do Rio Santa Branca. ......................................................................................... 4 Figura 4 - Perfil da linha d’água. ..................................................................................................... 5 Figura 5 - Perfil transversal do Rio Santa Branca no local onde se terá a barragem. ...................... 5 Figura 6 - Mapa geológico regional na escala original 1:500.000. Fonte CPRM (2000). ................. 7 Figura 7 - Foliação da rocha. .......................................................................................................... 9 Figura 8 - Granulometria da rocha. ................................................................................................. 9 Figura 9 - Mapa geológico da bacia do Rio Santa Branca............................................................. 10 Figura 10 - Cachoeira do Rio Santa Branca na elevação de 140m próximo a sua foz no Rio Santana. Local muito agradável sendo usado como área de lazer nos finais de semana ........... 11 Figura 11 - Solo argilo-arenoso marrom de boa plasticidade......................................................... 12 Figura 12 - Teste de plasticidade do solo....................................................................................... 12 Figura 13 - Mapa topográfico da bacia do Rio Santa Branca em escala 1:50.000. Fonte IBGE 1966 ..................................................................................................................................................... 14 ÍNDICE DE EQUAÇÕES Equação 1 - Área do reservatório ................................................................................................. 15 Equação 2 - Potencial da bacia. Retirada de SCHREIBER (1978) ................................................ 15 1. INTRODUÇÃO Santa Branca, considerada um bairro de Miguel Pereira, situa-se no Vale do Rio Santana e retrata o crescimento urbano dentre os núcleos da região serrana. Crescimento este estimulado pela atividade turística, principalmente relacionada à natureza, atraindo novos moradores para a região por aumento na oferta de trabalho. Juntamente com esse crescimento urbano, têm-se a necessidade do suprimento de necessidades básicas como abastecimento de água e energia. Segundo os dados de IBGE (2000), dos 7.150 domicílios particulares permanentes no município de Miguel Pereira, apenas 1.761 (24,6%) são atendidos pelo serviço de abastecimento advindo da rede pública. Grande parte dos domicílios, 73,7% utilizam água retirada de poço ou nascentes e, um número de 119 domicílios (1,6%) utilizam outras formas de abastecimento. Com o aumento na demanda por energia e água, e as frequentes notícias sobre problemas em relação a enchentes, o presente trabalho, baseado em mapeamento geológico-geotécnico, tem como objetivo uma redução de impactos de cheias e outros benefícios quanto ao uso da água deste rio; sendo assim o presente estudo prevê a indicação de uma barragem de amortecimento para contenção das ondas de cheia do Rio Santa Branca e ainda o aproveitamento múltiplo desse represamento visando o abastecimento de energia e água para o município de Miguel Pereira e região. Este trabalho é um estudo preliminar de propostas que podem vir a ser feitas na região da Bacia do Rio Santa Branca em Santa Branca, Miguel Pereira – RJ, com intuito de otimizar o uso de suas águas. Esta Monografia é parte integrante das exigências do Departamento de Geociências da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro para obtenção da graduação no curso de Geologia. 1 2. OBJETIVO Este trabalho, apoiado em um estudo geológico da região, tem como objetivo a indicação da localização de uma barragem de amortecimento para contenção das ondas de cheia do Rio Santa Branca, o aproveitamento das águas represadas para geração de energia para atendimento da região e a utilização destas águas para abastecimento do município de Miguel Pereira e adjacências. 2 3. MAPA DE LOCALIZAÇÃO E ACESSO Figura 1 - Mapa de localização da área de estudo. Fonte google mapas. A área de estudo se localiza em Santa Branca, bairro do município de Miguel Pereira – RJ tendo como principal meio de acesso a Rodovia Presidente Dutra e a RJ-125. Partindo da Rodoviária Novo Rio percorre-se a distância de 96 km. Para o acesso ao local partindo-se da Rodoviária Novo Rio, segue-se em direção a Avenida Brasil, entrar no acesso a Linha Vermelha, continuar pela Rodovia Presidente Dutra percorrendo-se 54 km até a saída para a estrada de Miguel Pereira. Seguir 15 km em direção ao município de Japeri pela RJ-125. Ainda pela RJ-125, cerca de 27 km depois de Japeri, em sentido ao município de Miguel Pereira, chega-se em Santa Branca, local deste estudo. 3 4. METODOLOGIA O trabalho começou com a definição do tema e da área de estudo, localizada nas cartas topográficas MI-2745/1 de Cava e MI-2744/2 de Paracambi, em escala 1:50.000 do IBGE. Após a sua definição foi feita a delimitação da bacia do rio Santa Branca, escolhida pela sua expressão em área de drenagem. A partir dai foi feito um perfil da linha d`água desde as nascentes até o local de barramento e perfis transversais, inclusive no local da barragem, com a intenção de conhecer melhor a topografia das vertentes transversais e longitudinais (linha d´água) do rio Santa Branca. Para a confecção do mapa geológico foram usados os mapas geológicos do estado do Rio de Janeiro (CPRM, 2000) em escala de 1:500.000 e do DRM, 1983 na escala de 1:50.000, envolvendo as Folhas Cava e Paracambi. O mapa geológico da CPRM foi usado para caracterização da geologia regional e o do DRM usado para caracterização da geologia local. O estudo da geologia foi baseado nos mapas geológicos já citados juntamente com o relatório final da GEOSOL – Projeto Carta Geológica do Estado do Rio de Janeiro – Folhas Piraí, Paracambi, Itaguaí e Marambaia, Niterói, 1983. Foi feito reconhecimento do local de estudo, onde foram constatados os aspectos físicos e geológicos previamente consultados, e também foi possível a medição de profundidade, largura e velocidade do rio, o que permitiu o cálculo de sua vazão, e tomada de fotos. Figura 2 - Medição de profundidade do Rio Santa Branca. Figura 3 - Largura do Rio Santa Branca. 4 Figura 4 - Perfil da linha d’água. Figura 5 - Perfil transversal do Rio Santa Branca no local onde se terá a barragem. 5 5. GEOLOGIA REGIONAL A geologia regional apresentada tem por base o mapa da CPRM (2000) na escala 1:500.000. Ocorrem na região de estudo sete unidades de mapeamento que são apresentadas em ordem estratigráfica conforme mostradas na Figura 4. A Unidade São Fidelis, inserida no Complexo Paraíba do Sul, é pouco expressiva em área e ocorre na parte central-superior da região, possui uma geometria lenticular com direção nordeste. É composta por granada-biotita-sillimanita gnaisse e metagrauvaca. São frequentes intercalações de gnaisse calcissilicático e quartzito. São comuns horizontes de xistos grafitosos. A Unidade Duas Barras corta a região central no sentido SW-NE. É uma fácies homogênea, foliada, de composição tonalítica, intrudida por veios e bolsões de leucogranito. É bastante expressiva em área e nesta unidade se encontram as cabeceiras do rio Santa Branca. A Unidade Rio Negro, inserida no Complexo homônimo, ocorre paralelamente a Unidade Duas Barras e é composta por ortognaisse bandado de granulação grossa, de texturas porfiríticas recristalizadas. Intercalações de metagabro e metadiorito deformados (anfibolito) ocorrem localizadamente. Intrusões de granada leucogranitos e de granitóides do Batólito Serra dos Órgãos ocorrem regionalmente. Nesta unidade se desenvolve a parte central da bacia do rio Santa Branca. A Unidade Santo Aleixo, localizado na porção oeste da região e inserida na Suíte Serra dos Órgãos, é uma fácies marginal do Batólito da Serra dos Órgãos e é constituída por granadahornblenda-biotita granodiorito, rico em xenólitos de paragnaisse. Intrusões tardias de leucogranito são comuns. A Unidade Serra dos Órgãos, também inserida na Suíte Serra dos Órgãos, localiza-se na porção S-SE da região. É composta por hornblenda-biotita granitóide de granulação grossa e composição de tonalítica a granítica. Localmente podem ser observados enclaves de paleodiques anfibolíticos. A Suíte Serra das Araras, posicionada a N-NW da região, é constituída de (granada) granito a duas micas com granulação grossa, equigranular a porfirítico, com foliação transcorrente, rico em enclaves de paragnaisse. Por ultimo, focalizado apenas na parte sul da região, apresentam-se as rochas alcalinas cretácicas/terciárias da Suíte Alcalina de Tinguá representada por sienito nefelítico, tinguaitos e fenitos. 6 Figura 6 - Mapa geológico regional na escala original 1:500.000. Fonte CPRM (2000). CRETÁCEO/TERCIÁRIO Legendas: Suíte Alcalina de Tinguá NEOPROTEROZÓICO (BRASILIANO III) Suíte Serra das Araras NEOPROTEROZÓICO (BRASILIANO II) TARDICOLISIONAL Unidade Serra dos Órgãos Unidade Santo Aleixo NEOPROTEROZÓICO (BRASLIANO II) PRÉ-SIN COLISIONAL Unidade Rio negro Unidade Duas Barras MESOPROTEROZÓICO A Unidade São Fidelis Área de estudo 7 6. GEOLOGIA LOCAL De acordo com o DRM (1983), na área da bacia do Rio Santa Branca são encontradas quatro unidades geológicas, que são o Batólito Serra das Araras, situado na porção noroeste; o Batólito Serra dos Órgãos, localizado na parte centro-sul da região; a Unidade Rio Negro, predominante na área, não ocorrendo apenas nas áreas dos batólitos; e as rochas de diques basálticos e alcalinos ocorrendo na parte NW e S-SE da região. Os contatos entre essas unidades se dão predominantemente por falhas, de sentido preferencial SW-NE, e o caimento da foliação varia geralmente de 40º a 80º no sentido NW. 6.1 BATÓLITO SERRA DOS ÓRGÃOS Na área de estudo, este batólito ocupa uma área semi-ovalada de aproximadamente 125 km . A zona de contato do batólito é marcada, possivelmente, por injeções de granito deste Batólito intercaladas na Unidade Rio Negro, bem como por xenólitos gnáissicos no mesmo. Nesta região se tem as nascentes e cabeceira do rio Santa Branca. São encontrados plutonitos foliados, cinzentos, com composição granítica a granodiorítica de granulometria média a grossa; mostramse cortados por diques de granito e pegmatito (pEbso). Há ocorrência de rocha de dique alcalino. 2 6.2 BATÓLITO SERRA DAS ARARAS Localizado a noroeste da bacia do Rio Santa Branca. Do ponto de vista estrutural, os processos cataclásticos destruíram, mas não totalmente, a textura original das rochas granitóides do batólito, transformando-as em granito gnaissóide, protomilonito gnaisse e blastomilonito de granito. As rochas deste batólito têm caráter intrusivo e generalizada migmatização com as encaixantes. As rochas características deste batólito são um granitóide cinzento, protomilonítico a milonítico, de granulometria média, com feldspato róseo a esverdeado, granatífero (pEbsagr); e migmatitos com paleosoma da Unidade Itaocara (pEbsam2). Esse paleosoma é constituído por biotita gnaisse, biotita-anfibólio gnaisse e gnaisse granítico. 6.3 UNIDADE RIO NEGRO Nesta unidade se desenvolve a parte central e baixa do rio Santa Branca. O DRM (1983) descreve para a Unidade Rio Negro três tipos litológicos distintos, sendo eles: gnaisse granítico, migmatito e quartzitos, conforme mostrado na Figura 9. A unidade em si é caracterizada por uma associação de migmatitos e gnaisses graníticos. O neosoma dos migmatitos é constituído por material granítico, de granulação fanerítica média a fina, usualmente duas micas. Os migmatitos são derivados da Unidade Itaocara. Supõe-se que os gnaisses graníticos correspondem à homogeneização dos migmatitos através de granitização. a) Gnaisse granítico - É um granito acinzentado, pouco foliado, fino e médio, com aspecto porfiroclástico em amplos domínios (pEVrngr). b) Migmatito - Migmatito com paleosoma de biotita-anfibólio gnaisses e neosoma de rocha granitóide, fino-médio (pEVrnm). c) Quartzito - Gnaisses xistosos com intercalações de camadas de quartzito (pEVrnqt). 8 6.4 ROCHAS BASÁLTICAS E ALCALINAS São rochas de diques basálticos (Ktβ) aparecendo como uma faixa estreita e alongada na parte nordeste do mapa e rochas de diques alcalinos (Ktλ), de ocorrência pontual na região sul do mapa. Figura 7 - Foliação da rocha. Figura 8 - Granulometria da rocha. 9 Figura 9 - Mapa geológico da bacia do Rio Santa Branca. 10 7. GEOMORFOLOGIA E RELEVO DA BACIA DO RIO SANTA BRANCA As nascentes do Rio Santa Branca ocorrem na elevação de cerca de 800m. O rio tem seu curso com declive acentuado e seu maior afluente pela margem direita. De suas nascentes até a sua foz no Rio Santana percorre uma linha de talvegue da ordem de 5,0km e desnível próximo de 700m. O relevo na área de estudo é do tipo Vale Fluvial, que corresponde às formas do relevo associadas a amplas vertentes que levam às drenagens por onde correm preferencialmente as águas de superfície. Essas águas, no leito principal, correm normalmente na forma de cachoeiras e corredeiras, condicionadas pelas estruturas, modelando as rochas em formas arredondadas. Esses vales apresentam forma em “V” e as margens dos rios e córregos apresentam acentuada inclinação adjacentes às encostas e escarpas. Esse tipo de vale fluvial não favorece a formação de terraços aluviais, ou de outras formas de acúmulo de sedimentos, agindo, na realidade, em fase de erosão. Em suas margens predominam solos argilo-arenosos, de espessura variada podendo alcançar alguns metros nas quedas de relevo. São normalmente bem drenados e raramente ocorrem áreas com solos hidromórficos. Figura 10 - Cachoeira do Rio Santa Branca na elevação de 140m próximo a sua foz no Rio Santana. Local muito agradável sendo usado como área de lazer nos finais de semana. 11 8. CLIMA, VEGETAÇÃO E SOLO Apesar de ser um bairro de Miguel Pereira, Santa Branca não pode ter seu clima classificado igual ao de Miguel Pereira (Tropical de Altitude), devido a uma diferença de altitude de aproximadamente 400 metros. Posto isso, o clima definido para Santa Branca e tido como Tropical Litorâneo, em que sua temperatura média é próxima dos 30º Celsius durante boa parte do ano e a precipitação ocorre principalmente no verão, ou seja, de meados de dezembro a meados de março. A bacia do Rio Santa Branca encontra-se dentro da zona de Mata Atlântica e nela ocorre uma mancha de vegetação florestal com grande representatividade na região. A vegetação local apresenta-se pouco adensada e sem uma estratificação definida, cobrindo área de solo raso com afloramento rochoso nas encostas e solo espesso nas baixadas. Os solos se apresentam em distintas condições e relacionados ao relevo. Nas áreas de relevo movimentado são comuns afloramentos de rochas e matacões associados à erosão dos vales e inclinação das encostas. Os solos tem pouca profundidade e são bem drenados. Nas baixadas onde o relevo é suave, os solos têm espessuras mais expressivas e nível d´água mais próxima a superfície. Figura 11 - Solo argilo-arenoso marrom de boa plasticidade. Figura 12 - Teste de plasticidade do solo. 12 9. ESTRUTURAS HIDRÁULICAS As estruturas hidráulicas para geração de energia envolvem barragem, túnel de adução e casa de força. A barragem é para elevar o nível d’água e criar condição de captação de água e derivação para o conduto forçado. O conduto forçado conduz as águas da barragem em cotas mais elevadas para a usina de geração de energia e posterior restituição das águas ao curso do Rio Santa Branca. O barramento para geração, que atenda também na redução do impacto de cheias, deverá ter uma maior altura para funcionar como reservatório temporário e posterior escoamento, deixando um volume mínimo de espera para as próximas chuvas. Quanto à captura de água para distribuição poderá ficar logo a jusante da usina de geração. 9.1 ARRANJO DAS ESTRUTURAS HIDRÁULICAS a) Barragem - A barragem deverá ficar assentada na elevação de 500m onde se tem condições de relevo favorável, como vale apertado e ombreiras altas e presença de rocha praticamente aflorante, condições estas presentes nas cotas mais baixas desta bacia. A barragem deverá ser de concreto e sua crista deverá funcionar como vertedouro. Deve haver uma vazão ecológica na barragem para fins de diminuir impactos ambientais pela redução de vazão do caudal da bacia. Considerações importantes relativas aos aspectos construtivos ficam por conta de levantamento topográfico detalhado e mapeamento geológico-geotécnico, em que se deverá prever o comportamento do maciço rochoso frente à percolação e estabilidade dos taludes de escavação. Este estudo deverá indicar os tipos de tratamento indicados para cada caso. b) Túnel de adução - O túnel de adução deverá ter cerca de 3,0 metros de diâmetro por 3,0 km de comprimento. É escolhido este diâmetro pela maior facilidade de se escavar o túnel neste tamanho. Esta dimensão favorecerá a operação de passagem de equipamentos para apoio a escavação do próprio túnel como também para instalação da casa de força. Foi também estudada a alternativa de conduto forçado pelo vale do rio, mas foi descartada devido a dificuldades construtivas, custo elevado e impacto ambiental. É importante um cronograma de construção do túnel compatível com as demais estruturas hidráulicas, visto ser esta estrutura o caminho crítico da obra. O túnel deverá atravessar rochas como migmatito e gnaisse pouco foliado e fraturado da unidade Rio Negro prevendo-se boas condições de escavação do maciço rochoso. c) Casa de força - A casa de força deverá abrigar as estruturas de geração e restituição das águas do Rio Santa Branca ao seu leito. Ela deverá estar situada em rocha na margem do rio evitando-se inundações quando de grandes cheias no leito do rio. Da mesma forma deverão ser contemplados nos estudos as condicionantes geológico-geotécnicas relativas a escavação, fundação e contenção dos taludes remanescentes. O acesso a barragem pode ser feito por uma estrada não pavimentada existente que liga a RJ-125 até o local do barramento indicado. 13 Figura 13 - Mapa topográfico da bacia do Rio Santa Branca em escala 1:50.000. Fonte IBGE 1966. 14 10. GERAÇÃO PREVISTA A construção da barragem terá como principal função a derivação das águas do Rio Santa Branca por meio da barragem de contenção de ondas de cheias. Através dessa barragem poderá ser feito o aproveitamento múltiplo das águas com o intuito de prover a região saneamento e eletricidade através de uma PCH (pequena central hidrelétrica) e tubulações à jusante da casa de força para distribuição da água. Para a instalação de uma PCH é necessário seguir os seguintes critérios segundo a ANEEL na Resolução Nº652/2003 de 09 de janeiro de 2003, publicada no Diário Oficial de 10/12/2003. 1 - Ter aproveitamento hidrelétrico com potência superior a 1.000 kW e igual ou inferior a 30.000 kW, destinado a produção independente, autoprodução ou produção independente autônoma, com área do reservatório inferior a 3,0 km2 2 - A área do reservatório não poderá ser superior a 13,0 km² e deve atender à equação: Equação 1 - Área do reservatório. Sendo: P = potência elétrica instalada em (MW – megawatt); A = área do reservatório em (km²); Hb = queda bruta em metros, definida pela diferença entre os níveis d'água máximo normal de montante e normal de jusante. Para o cálculo de potência da bacia deve-se usar a seguinte equação: P = 9,81 x η x Q x H (em kW) Equação 2 - Potencial da Bacia. Retirada de SCHREIBER (1978). Em que: P = potencial da bacia em kW - quilowatt; H = relação direta da queda dada em metro; Q = vazão em m3/s; 9,81 = valor da gravidade; η (0,93 aproximadamente) = perda da potência, geralmente em torno de 7%. 15 Uma inspeção local executada no dia 22/02/2013 permitiu a medição da vazão do Rio Santa Branca na região da casa de força, e indicou valores de vazão na ordem de 1,5m3/s. Considerando a perda de área de contribuição de vazão, foi adotada uma perda de 0,5m3/s, resultando numa vazão efetiva de 1,0m3/s para o local da barragem de captação de água para geração. Para o presente caso uma vazão medida de 1,0m3/s para uma queda de 300 metros a equação acima citada indica a seguinte geração: P = 9,81 x η x Q x H (em kW) Substituindo, temos: P = 9,81 x 0,93 x 1,00 x 300 P = 2737 kW Assumindo estes valores pode-se dizer que é esperado uma geração de energia próxima a 2700 kW para a bacia do Rio Santa Branca. Considerando que a medição de vazão foi realizada em período de verão, ou seja, época de chuvas, foi adotado um fator de redução para vazão mínima de dimensionamento. Portanto, a potencia admissível sob essas condições é algo na ordem de 1350 kW. As PCHs tem sido de grande utilidade e tem trazido grandes benefícios gerando qualificação e empregos nos pequenos municípios do interior do país. Elas são consideradas um meio rápido e eficiente de promover a expansão da oferta de energia elétrica e tornam possível atender pequenos centros urbanos e regiões rurais, pois complementam o fornecimento do sistema interligado. Elas possuem grandes atrativos aos investidores pelos altos rendimentos e um retorno rápido do capital aplicado. 16 11. DISTRIBUIÇÃO A captação de água para a distribuição poderá ficar instalada a jusante da casa de força sem comprometer a geração de energia. Essa captação, na elevação prevista de 140 metros, indica carga hidráulica por condução de água para geradores por gravidade. Além disso, ficam preservadas as quedas d’água naturais localizadas a jusante da casa de força. 17 12. CONCLUSÕES Do exposto, pode-se concluir que o propósito do estudo foi atingido, sendo ele: a escolha do local da barragem, o local da casa de força para a geração de energia e a integração da tomada d’água para distribuição após a geração. Os aspectos geológico-geotécnicos abordados indicam que a obra pode ser viável, visto que as condições de fundações deverão ser em rocha, presente praticamente por todo o leito do rio. O tipo litológico onde se situam as estruturas (migmatitos e gnaisses) deverão resultar em taludes que poderão exigir tratamentos leves e custos atrativos. O túnel deverá ser escavado quase que totalmente em rocha, a exceção dos emboques que poderão encontrar rochas alteradas. Os custos, embora não contemplados neste trabalho, com certeza deverão se atrativos. As principais dúvidas quanto à viabilidade deste empreendimento ficam por conta da vertente ambiental, que poderá constituir um condicionante decisivo bem como a confirmação do caudal da vazão em tempos de estiagem, fornecendo parâmetros mais consistentes para o dimensionamento das turbinas e consequentemente da geração final da usina. Quanto a disciplinar as águas de chuva (minimizar os impactos de inundação) e favorecer o controle na distribuição de águas para a população de jusante pode-se afirmar que trará benefícios consistentes. 18 13. BIBLIOGRAFIA CPRM – Projeto Rio de Janeiro, CPRM 1:500.000, Rio de Janeiro, CD-ROM, 2000. GEOSOL – Projeto Carta Geológica do Estado do Rio de Janeiro – Folhas Piraí, Paracambi, Itaguaí e Marambaia, Niterói, 1983. MMA/IBAMA – Plano de Manejo da Reserva Biológica do Tinguá, 2006, 951p. DRM – Carta Geológica Cava, 1:50.000, 1983. DRM – Carta Geológica Paracambi, 1:50.000, 1983. IBGE - MI-2744/2 - Carta Topográfica Paracambi, 1:50.000, 1966. IBGE - MI-2745/1 – Carta Topográfica Cava, 1:50.000, 1966. OLIVEIRA, K. P. CARVALHO ; SILVA, P.A. ; SIGNORINI, R. (2010) - Estudos Gerais Para Projeto de Pequenas Centrais Hidrelétricas com Enfoque nas Avaliações Hidrológicas. Monografia de Graduação. Universidade Anhembi Morumbi. 95p. SCHREIBER , G. P. – Usinas Hidrelétricas, Rio de Janeiro, 1978, 238p. 19