UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Andréia Abreu TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CURITIBA 2006 Andréia Abreu TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná como requisito parcial para obtenção do título de Medico Veterinário. Orientador: Dr. Ricardo Maia. CURITIBA 2006 TERMO DE APROVAÇÃO Andréia Abreu TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Este Trabalho de Conclusão de Curso e Monografia foi julgada e aprovada para a obtenção de título de Médica Veterinária por uma banca examinadora do curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 31 de outubro de 2006 Medicina Veterinária Universidade Tuiuti do Paraná Orientador: Prof. Ricardo Maia Universidade Tuiuti do Paraná Prof. Tais Marchand Rocha Moreira Universidade Tuiuti do Paraná Prof. Uriel Vinicius Cotarelli Andrade Universidade Tuiuti do Paraná APRESENTAÇÃO Este Trabalho de Conclusão de Curso (T.C.C.) apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Médico Veterinário é composto de um Relatório de Estágio, no qual são descritas as atividades realizadas durante o período de 01/08 a 29/09/2006, período este em que estive no Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina UEL, localizada no município de Londrina cumprindo estágio curricular e também de uma Monografia que versa sobre o tema: “Hepatite Crônica Ativa”. Aos meus pais, Vilmar Abreu e Sueli do Rocio Abreu, pela dedicação e apoio em todos esses anos me ajudando a realizar meu grande sonho de ser Médica Veterinária. DEDICO AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente a Deus por ter sempre me iluminado e ajudado a seguir os caminhos certos. Juntamente, agradeço aos meus irmãos, Sandra Abreu e Vilmar Abreu Júnior, que sempre me deram força. Ao meu sobrinho maravilhoso Mateus Nunes da Silva e minha prima Juliana Ramos que sempre estiveram por perto. Às minhas amigas que sempre me deram todo o apoio nas horas em que eu precisei Ana Letícia, Débora, Eloíse, Gisele e Meire. Às Médicas Veterinárias e eternas amigas Mônica Thaís de Christo e Iracema Maria da Cruz que sempre me incentivaram e me ensinaram com toda paciência a prática de Medicina Veterinária. Aos professores Ricardo Maia, Lucas Alécio Gomes, Neide Tanaka e Elza Ciffoni pela força e incentivo “Na hora da luta, a sabedoria vale mais que a força bruta para conseguirmos a vitória.” Pv.21.22 SUMÁRIO LISTA DE ABREVIATURAS................................................................................... 9 1 HEPATITE CRÔNICA ATIVA ............................................................................ 10 1.1 Revisão literária............................................................................................... 10 1.1.1 Introdução .................................................................................................... 10 1.2.1 Epidemiologia............................................................................................... 10 1.2.2 Anatomia do fígado ...................................................................................... 10 1.2.3 Localização do fígado................................................................................... 12 1.2.4 Capacidade de regeneração ........................................................................ 12 1.2.6 Etiologia........................................................................................................ 13 1.2.7 Fisiopatologia ............................................................................................... 14 1.2.8 Sinais clínicos............................................................................................... 15 1.2.9 Diagnóstico................................................................................................... 16 1.2.10 Tratamento ................................................................................................. 19 2 CONCLUSÃO .................................................................................................... 21 3 REFERÊNCIAS.................................................................................................. 22 LISTA DE ABREVIATURAS ALT: Alanina-transaminase AST: Aspartato-transaminase BID: A cada 12 horas cp: Comprimido g/dl gramas por decilitro HCA Hepatite Crônica Ativa IM: Aplicação por via intra muscular IV: Aplicação por via endovenosa mg/dl: miligramas por decilitro mg/kg: miligramas por kilograma 1 HEPATITE CRÔNICA ATIVA 1.1 Revisão literária 1.1.1 Introdução A Hepatite Crônica Ativa (HCA) pode ser definida como uma desordem hepática crônica inflamatória e fibrosante de humanos que pode ocorrer como seqüela da hepatite B, ou hepatite não-A, não-B. Nos cães que exibem alterações histológicas similares às da desordem humana têm sido denominadas também de “ Hepatite Crônica Ativa” (THONSON, 1997; OLSSON, 1998). 1.2.1 Epidemiologia A HCA acomete igualmente cães machos e fêmeas. Geralmente ocorre em animais com idade média de 5-6 anos, mas podem ser afetados cães adultos de qualquer idade ou raça, porém existem as raças mais predispostas como Doberman, Cocker Spaniel e Skye Terrie, Bedlington Terrie e W.H.W Terrie (CENTER, 1996; JOHNSON, 1997). 1.2.2 Anatomia do fígado O fígado é a maior glândula do corpo, compostos de seis lobos: lóbulo lateral direito, lóbulo lateral esquerdo, lóbulo medial direito, lóbulo medial esquerdo, lóbulo quadrado e lóbulo caudado. Os lobos são recobertos por uma cápsula fibrosa de tecido conjuntivo que continua com o tecido conjuntivo intersticial (LOPES, 1996; HOWARD, 2000). A porta hepatis representa a fissura transversal na superfície ventral do fígado, onde a veia porta, artéria hepática, ducto biliar principalmente, e linfáticos ingressam e deixa o fígado (CENTER,1997). Os hepatócitos são as células parenquimatosas do fígado e os componentes celulares remanescentes são as células de kupffer, esses dois tipos de células desempenham as diversas funções do fígado (LOPES, 1996; CENTER, 1997). O sistema de ductos biliares do fígado é composto por canalículos biliares, ductos intra-hepáticos e ductos extra-hepáticos, para a condução da bile dos hepatócitos para a vesícula biliar, onde fica armazenada e concentrada até que seja eliminada para o duodeno. Os sistemas de células secretoras e de túbulos condutores formam os componentes glandulares exócrinos no fígado (CENTER, 1997). O lóbulo hepático é formado por cordões de hepatócitos que se irradiam concentricamente em torno de uma veia hepática central, tendo com limites as tríades portais, compostas por vênulas portais, arteríolas, ductos biliares, linfáticos e nervos. O ácino hepático compreende o parênquima hepático, sendo delimitado pelas vênulas terminais centrais dos lóbulos hepáticos (LOPES, 1996; CENTER, 1997). 1.2.3 Localização do fígado O fígado é um órgão parenquimatoso que tem duas vias aferentes de sangue, a artéria hepática e a veia portal; e uma eferente, a veia hepática. Dois terços do suprimento do sangue hepático derivam-se da veia porta, e o restante, da artéria hepática, tendo essa função nutricional (CENTER, 1997). Devido à sua estratégica localização, o fígado está entre as circulações portal e sistêmica, portanto está exposto a substâncias tóxicas potencialmente nocivas e agentes infecciosos. O sangue proveniente do estômago, intestinos, baço e pâncreas é drenado para o fígado, através da veia porta. O fígado recebe também sangue arterial proveniente da artéria hepática, e assim é freqüentemente afetado por processos sistêmicos (THONSON, 1997). 1.2.4 Capacidade de regeneração O fígado possui enorme capacidade de regeneração. Alguns pacientes conseguem sobreviver com uma ressecção de aproximadamente 80% do órgão 1.2.5 Funções do fígado O fígado desempenha uma série de diferentes funções diretamente relacionados com os hepatócitos (LOPES, 1996; NOGUEIRA, 1998), que são: • Síntese e armazenamento (albumina, fibrinogênio, α e βglobulinas, lipoproteínas, colesterol, glicose, lipídios, vitaminas – A, D, K, complexo B, proteínas e todos os fatores da cascata de coagulação – com exceção do Fator de Von Willebrand e do Cálcio). • Secreção e excreção (colesterol, gorduras, fosfolipídios, eletrólitos e outros componentes da bile; além da bilirrubina). • Biotransformação (hormônios, metabólitos, toxinas, fármacos e compostos biologicamente ativos e/ou tóxicos). • Metabolismo (carbohidratos, proteínas, lipídios). • Hematopoiese. 1.2.6 Etiologia As hepatites podem ser de origem primária e secundária dependendo da sua causa. Primárias quando são causadas por vírus(CAV 1), bactérias (Leptospira interrogans), medicamentos (anticonvulsivantes), toxinas, endotoxinas, reações auto-imunes e idiopáticas. Secundárias são decorrentes de infecções sistêmicas, neoplasias ou doenças derivadas em outros órgãos (CENTER, 1996). A causa da maioria dos casos de HCA, em humanos, é o vírus da hepatite B (VHB), porém a freqüência é maior com o vírus da hepatite não-A, não-B (VNANB) e VHB-VHD (vírus da hepatite delta) associados (OLSSON, 1998). Nos cães, o vírus da hepatite infecciosa canina (adenovírus canino I: CAV I) é uma causa bem estabelecida de hepatite aguda (CENTER, 1996). O agente da vasta maioria dos casos espontâneos de hepatite crônica ativa é indeterminado, embora a HCA de cães tenha sido descrita com a infecção leptospiral e com a infecção pelo vírus da hepatite infecciosa canina experimentalmente (THONSON, 1997). Existem características que HCA tenha possível base auto-imune, pois incluem a simultaneidade freqüente de outras doenças auto-imunes, tais como tireóite, artrite, vasculite e Síndrome de Sjögren, uma vez que pacientes tratados com esteróides tiveram respostas benéficas, porém nem todos. Assim como qualquer outra doença auto-imune à etiologia e a patogenia são desconhecidas (CENTER, 1996; THONSON, 1997). 1.2.7 Fisiopatologia A HCA se caracteriza pela progressiva destruição dos hepatócitos em associação comum a infiltração de células inflamatórias mononucleares. Quando o agente agressor inicia os danos nos hepatócitos desencadeia então a resposta inflamatória que é dividida em três eventos celulares e vasculares, que ao iniciar as alterações marcadas nos endotélios vasculares sanguíneos, liberam os mediadores químicos, que atraem as células inflamatórias para o local da lesão. Em primeiro lugar são atraídas as células mononucleadas e quando ocorre falha na degradação do agente pelos macrófagos ou, reação de hipersensibilidade, estimula a uma resposta inflamatória crônica, onde há extravasamento de grande quantidade de fibrinogênio, com formação de fibrina. Dependendo da resposta inflamatória pode causar fibrose ou necrose nos espaços portais e/ou nos hepatócitos que são características da hepatite crônica. Quando a fibrose invade os espaços portais, destrói os hepatócitos e conseqüentemente causa destruição do parênquima com necrose celular é denominado de HCA. As alterações morfológicas de HCA têm aspectos gerais específicos que são: • Exuberante infiltrado portal que transborda dos espaços portais; necrose em “saca-bocado” (o infiltrado em disseminação entra em contato direto com as células hepáticas que sofrem condensação peculiar e fragmentação apoptose, gerando o aspecto “roído por traças” do arranjo regular habitual da placa limitante) • Necrose em ponte (constitui a conseqüência da destruição lícita de numerosos aglomerados de hepatócitos, com coalescência desses focos para criar trajetos onde estão faltando todos os hepatócitos, deixando apenas a rede de reticulina em colapso). • Fibrose progressiva que se estende dos espaços-portal para dentro do parênquima hepático, em muitos casos resultando em cirrose plenamente desenvolvida, ao contrário da hepatite aguda onde a reação inflamatória fica limitada mais ou menos ao espaço-porta. 1.2.8 Sinais clínicos A maioria dos sinais clínicos são inespecíficos e intermitentes, como anorexia, depressão, debilidade, poliúria/ polidipsia, ascite, icterícia, perda de peso e êmese (JOHNSON, 1997). Encefalopatia hepática, tendência hemorrágica e hepatopatias são sinais específicos raciais como o que acontece nos Doberman, Cocker Spaniel e Terries (COSTA, 2001). 1.2.9 Diagnóstico Para chegar ao diagnóstico de HCA em cães é necessário associar os sinais clínicos; hemograma completo; elevação da atividade sérica de duas enzimas que são alanina-transaminase (ALT) e a aspartato-transaminase (AST); aumento da concentração hiperglobulinemia; sérica concentrações de séricas bilirrubina elevadas (hiperbilirrubinemia) de ácidos e biliares; prolongamento do tempo de protrombina; em casos de efusão abdominal o transudato ascítico tem menos que 2,5 g/dl de proteínas e biopsias hepáticas. Sendo a biopsia o único método de diagnóstico que tem base em critérios histológicos, que realmente fecha o diagnóstico para HCA em cães (THOMSON, 1998). Em relação ao hemograma há poucas alterações que possa ser observada que sugerem doenças hepatobiliar, geralmente está relacionada aos eritrócitos associados com fragmentação ou modificação no tamanho das células ou na comparação da membrana, ocorrência de anemia arregenerativa (normocítica e normocrômica); redução numérica ou funcional das plaquetas, e detecção de plasma ictérico ou lipêmico (CENTER, 1997; NOGUEIRA, 1998). A ALT é encontrada principalmente nos hepatócitos, além de estar presente no coração, rins e músculos. Está é uma enzima selecionada para refletir mais precisamente lesão hepatocelular, pois os aumentos ocorrem nos casos de necrose hepatocelular e inflamação (LOPES, 1996; CENTER, 1997; NOGUEIRA, 1998). Dentro da mitocôndria dos hepatócitos encontra-se a maior parte da enzima AST. Em cães e gatos as concentrações mais elevadas estão presentes no coração, fígado, músculo esquelético, rins, cérebro e plasma. Portanto, o aumento da atividade sérica de AST pode resultar de alterações na permeabilidade da membrana, necrose, inflamação e, no cão indução das enzimas microssômicas. Quando a atividade da AST acompanha a elevação da ALT é relacionada à doença hepática (CENTER, 1997; NOGUEIRA, 1998). As bilirrubinas são formadas através da degradação da hemoglobina, a partir da degradação metabólica de eritrócitos velhos pelo macrófago. A bilirrubina não conjugada (indireta) é liberada pelos macrófagos e carreada pela bilirrubina até o fígado, assim aquela é removida da albumina e formam um diglicuronato de bilirrubina (direta ou conjugada) que será secretada pelos canalículos biliares até a bile. O aumento da bilirrubina, significa alteração naquele mecanismo, e apresenta como sinal clínico icterícia, que pode ter origem diferente como, estar sendo liberada em grande quantidade na circulação, na causa pré-hepática; na falta de conjugação ou hepática; e na deficiência de sua secreção ou pós-hepático (LOPES, 1996; CENTER, 1997). O aumento das concentrações das globulinas ocorre como resultado das respostas sistêmicas imunorreativas à redução do funcionamento das células de “Kupffer”, distúrbio do funcionamento dos linfócitos B e T, a indução das proteínas hepáticas de fase aguda, e a formação de auto-anticorpos (CENTER, 1997). Concentrações séricas de ácidos biliares anormalmente aumentadas em estado de jejum ou pós-prandiais refletem distúrbios na secreção hepática para a bile ou em qualquer ponto ao longo do caminho do retorno da veia porta para o fígado e da captação hepatocelular. Normalmente a bile facilita a absorção de gorduras no intestino delgado, os ácidos biliares primários são absorvidos para dentro da veia porta, retornando ao fígado para recaptação e nova secreção para bile (BUNCH, 1998). As coagulopatias clinicamente relevantes são pouco comuns em cães e gatos com doenças hepatobiliar, exceto para aqueles com insuficiência hepática fulminante ou CID (coagulação intracelular disseminada) ativa (BUNCH, 1997). Ascite é um termo utilizado para designar líquido na cavidade peritoneal que contém pouca proteína e baixa contagem celular, está relacionada geralmente com distúrbios hepáticos ou cardiovasculares (CENTER, 1997; BUNCH, 1998). Em cães, o diagnóstico definitivo para HCA somente é conseguido para biopsia depois de descartadas todas as possibilidades de ser outra doença hepatobiliar. No achado histológico encontra-se necrose e fibrose progressiva que se estende do espaço porta para dentro do parênquima hepático (ROBBINS, 1991). Para conseguir um diagnóstico de HCA em humanos, deve haver forte evidência de produção de auto-anticorpos contra proteínas nuclear, músculo liso, mitocôndrias e diversos antígenos de membrana celular hepática (ROBBINS, 1991). 1.2.10 Tratamento O tratamento da hepatite crônica consiste em eliminar o agente causal, deter a inflamação e minimizar a fibrose, para depois controlar complicações secundárias (CENTER, 1996; DONALD, 1984). Neste caso o tratamento consiste em cuidados de suporte, incluindo o uso de dietas modificadas, para fornecer os nutrientes e calorias necessárias para sustentar o reparo do tecido hepático e minimizar aberrações do metabolismo de proteínas que induzam ou perpetuem a encefalopatia hepática (NOGUEIRA, 2001). A indicação para terapia com corticosteróide é para um diagnóstico de hepatite crônica ativa, em que a lesão morfológica é destruição de hepatócitos por linfócitos e plasmócitos. Se essas células são diretamente citotóxicas ou são destrutivas por causa dos anticorpos que produzem, os corticóides provocam seu desaparecimento. A prednisolona é a preferida pois já é biologicamente ativa. Desde que seu precurssor, a prednisona, deve ser metabolizada pelo fígado para produzir a forma ativa (DONALD, 1984). A terapia específica mais importante envolve a utilização de fármacos antiinflamatórios ou imunossupressoras e em dietas designadas para corrigir o metabolismo anormal do nitrogênio (DONALD, 1984). Os glicocorticoides são indicados para o tratamento de HCA de causa autoimune idiopática em humanos devido o seu efeito antiinflamatório. Dos diversos agentes terapêuticos, somente a prednisona (1,1 mg/kg por via oral a cada 12 horas por 7 a 10 dias no início e então 1,1mg/kg por 10 dias seguindo 0,6 mg/kg/dia até a remissão da doença) (CENTER, 1996; CORNELIUS, 1996; BUNCH, 1997). Para manter a remissão do quadro clínico e reduzir os efeitos adversos dos glicocorticoides, pode ser usado azatioprina, 50mg/m² por via oral em uma única dose diária, no início administrada em conjunto e depois em dias alternados com prednisolona (1mg/kg por via oral). Durante o tratamento, deve-se realizar hemogramas semanalmente ou pelo menos em semanas alternadas devido à toxicidade da medula óssea (CENTER, 1996; SARTOR, 2003). Os agentes antifibróticos podem ser escolhidos como terapia única para cães com hepatopatias fibróticas primárias, quando os cães não respondem ou toleram a terapia com glicocorticoides. O fármaco utilizado na maioria das vezes é a colchicina em grânulos, a qual inibe a síntese de colágeno e aumento a atividade de colagenase in vivo. Pela inibição da junta microtubular, a colchicina interfere com o movimento transcetabular do colágeno, de modo que ele não é depositado no fígado. A estimulação da atividade colagenase remove o calágeno que já está depositado (DONALD, 1984). Alguns cães apresentam melhora clínica sem efeitos adversos com uma dose oral 0,03 mg/kg/dia, porém deve ser administrada por meses ou ano para ser benéfica (BUNCH, 1997). Os efeitos colaterias da colchicina (êmese, diarréia, depressão e anorexia) são causados por interferência com a função das células endoteliais gastrointestinais. Complicações menos comuns de fármacos incluem febre, perda de pêlos, hipocalcemia, discrasias sanguíneas e possível lesão hepática. Os corticosteróides e os estrógenos possuem efeitos não específicos no tratamento da fibrose. (DONALD, 1984) Os antibióticos são primariamente direcionados contra as bactérias absorvidas do intestino e não removidas pelo fígado. A função reticuloendotelial hepática fica reduzida com a hepatite assim as bactérias não são removidas da circulação porta. Os antibióticos são dirigidos contra aeróbios e anaeróbios intestinais, sendo a penicilina de escolha para os primeiros e a gentamicina contra os segundos. (DONALD, 1984). Um manejo dietético é necessário para minimizar as anormalidades no metabolismo do nitrogênio que consistem de hiperamonemia e alterações nos níveis plasmáticos de amino-ácidos. A hiperamonemia pode ser controlada em parte por uma dieta com baixo teor protéico, um procedimento aceitável até o ponto em que a síntese de proteínas orgânicas não esteja severamente reduzida. (DONALD, 1984). A restauração da função hepática requer a síntese de estruturas dos hepatócitos e das enzimas. A redução da proteína da dieta impede a instalação da síntese. (DONALD, 1984). 2 CONCLUSÃO O fígado, sendo a maior glândula existente no organismo, possui grande importância no funcionamento do mesmo. Ele é responsável por diversas funções, como secreção e excreção, hematopoiese e metabolização, entre outras. Ele está localizado de certa forma que freqüentemente é atingido pelas injúrias sofridas pelo organismo, porém sua grande capacidade de regeneração faz com que alguns indivíduos possam viver com cerca de 20% da capacidade total deste órgão. A etiologia da Hepatite Ativa Crônica normalmente não pode ser identificada, porém pode ser de origem primária ou secundária. Há destruição dos hepatócitos e infiltração de células inflamatórias mononucleares, podendo ocorrer necrose ou fibrose. Os sinais clínicos são inespecíficos, exigindo outros meios diagnósticos. O diagnóstico definitivo é feito com a associação destes sinais clínicos, exames bioquímicos, hemograma, porém a biópsia é o único método diagnóstico capaz de determinar incontestavelmente a hepatite crônica ativa. A terapia específica mais importante envolve a utilização de drogas antiinflamatórias ou imunossupressoras e dietas designadas para corrigir o metabolismo anormal do nitrogênio. Para um prognóstico favorável é necessário que o tratamento seja seguido a risca pelo proprietário e que ele esteja ciente que deve informar qualquer alteração apresentada pelo animal a um Médico Veterinário 3 REFERÊNCIAS BUNCH, Suzan E. Manifestações Clínicas das doenças Hepatobiliares. In___: Medicina Interna de Pequenos Animais. 2. ed. Cap. 35. Rio de Janeiro: Guanabara, 2001. p. 379-386. BUNCH, Suzan E. Tratado das Complicações da Insuficiência Hepática. In___: Medicina Interna de Pequenos Animais. 2. ed. Cap. 39. Rio de Janeiro: Guanabara, 2001. p. 435-451. BUNCH, Suzan E. Tratamento Clínico Específico e Sintomático das Afecções Hepáticas. In___: Tratado de Medicina Interna de Pequenos Animais. 4. ed. Cap. 106. São Paulo: Manole, 1997. p. 1881-1899. CARLTON, W. W; MC Gavin, M.D. Fígado, sistema Biliar e Pâncreas Exócrino. Patologia Veterinária Especial de Thomson. Cap. 2. São Paulo: Artes Médicas Sul Ltda. 1998. p. 95-125. CENTER, Sharon A. Fisiopatologia, Diagnóstico Laboratorial e Afecções do Fígado. In___: ETTINGER, Stephen J.; FELDMAN, Edward C.Tratado de Medicina Interna Veterinária. 4 ed. São Paulo: Manole, 1997. p.1745-1816. CENTER, Sharon A.. Chronic hepatitis, cirrhosis, breed-specific hepatopathies, copper storage hepatopathy, suppurative hepatitis, granulomatous hepatitis and idiopathic hepatic fibrosis. In___: Strom Beck’s Small Animal Gastroenterology. 3. ed. Cap. 33, Philadelphia: 1996. p. 705-755. HOWARD, E. Evans. Abdome, pelve e membro pélvico. In___:Guia de dissecação do cão. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2000. p. 127, 128. JOHNSON, S. E. SHERDING, R. G. Hepatopatias e doenças do trato biliar. In___: Manual de Saunders: Clínica de Pequenos Animais. 1. ed. Cap.8. São Paulo: Roca, 1996. JOHNSON, Susan E. Afecções do Fígado. In___: Tratado de Medicina Interna Veterinária. 4. ed. Cap. 106. São Paulo: Manole, 1997. p. 1817-1879. LOPES, S. T. A. et al. Patologia Clínica Veterinária. Ed. Única. Santa Maria – UFSM, 1996. p. 01-111, 1 NOGUEIRA, R. B. Doenças hepatobiliares do cão. In___: Medicina Interna de Pequenos Animais. 2. ed. Cap. 36. Rio de Janeiro: Guanabara, 2001. p. 422-433. NOGUEIRA, R. B. Testes Diagnósticos para o Sistema Hepatobiliar. In___: Medicina Interna de Pequenos Animais. 2. ed. Cap. 36. Rio de Janeiro: Guanabara, 2001. p. 387-404. SUMÁRIO LISTA DE ABREVIATURAS................................................................................. 26 LISTA DE FIGURAS ............................................................................................. 27 LISTA DE TABELA .............................................................................................. 28 LISTA DE QUADROS........................................................................................... 29 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 30 2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO ........................................................... 32 2.1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO HV – UEL............................................ 33 3 DESCRIÇÃO DE CASOS CLÍNICOS ................................................................ 38 3.1 DERMATOLOGIA ........................................................................................... 38 3.1.1 Complexo Granuloma Eosinofílico Felino (CGEF) ...................................... 38 3.1.1.1 Revisão Bibliográfica ................................................................................. 38 3.1.1.2 Caso clínico............................................................................................... 43 3.1.1.3 Discussão.................................................................................................. 46 3.1.2 Foliculite Superficial Bacteriana/ Malassezíase............................................ 48 3.1.2.1 Revisão Bibliográfica ................................................................................. 48 3.1.2.2 Caso clínico............................................................................................... 55 3.1.2.3 Discussão.................................................................................................. 60 3.2 DOENÇA HEPATOBILIAR .............................................................................. 63 3.2.1 Encefalopatia Hepática (EH) ........................................................................ 63 3.2.1.1Revisão Bibliográfica .................................................................................. 63 3.2.1.2 Caso Clínico .............................................................................................. 69 3.2.1.3 Discussão.................................................................................................. 73 3.2.2 Efusão abdominal – Hipoalbuminemia ......................................................... 75 3.2.2.1Revisão Bibliográfica .................................................................................. 75 3.2.2.2 Caso Clínico .............................................................................................. 77 3.2.2.3 Discussão.................................................................................................. 81 3.3 TOXICOLOGIA................................................................................................ 82 3.3.1 Intoxicação por Organofosforado ................................................................. 83 3.3.1.2 Caso Clínico .............................................................................................. 86 3.3.1.3 Discussão.................................................................................................. 87 3.4 NEUROLOGIA ................................................................................................ 88 3.4.1 Hidrocefalia .................................................................................................. 88 3.4.1.1Revisão Bibliográfica .................................................................................. 89 3.4.1.2 Caso Clínico .............................................................................................. 92 3.4.1.3 Discussão.................................................................................................. 95 3.5 AFECÇÕES DO TRATO RESPIRATÓRIO ..................................................... 97 3.5.1 Traqueobronquite Infecciosa Canina............................................................ 98 3.5.1.1 Revisão Blibliográfica ................................................................................ 98 3.5.1.2 Caso Clínico ............................................................................................ 103 3.5.1.3 Discussão................................................................................................ 105 3.6 DOENÇA IMUNOMEDIADA.......................................................................... 108 3.6.1 Meningite Responsiva aos Corticosteróides............................................... 108 3.6.1.1 Revisão Bibliográfica ............................................................................... 108 3.6.1.2 Caso Clínico ............................................................................................ 111 3.6.1.3 Discussão................................................................................................ 115 3.7 ONCOLOGIA................................................................................................. 116 3.7.1 Hemangiossarcoma ................................................................................... 117 3.7.1.1 Revisão Bibliográfica ............................................................................... 117 3.7.1.2 Caso Clínico ............................................................................................ 120 3.7.1.3 Discussão................................................................................................ 124 4 CONCLUSÃO .................................................................................................. 125 5 REFERÊNCIAS................................................................................................ 126 LISTA DE ABREVIATURAS ANR: Até novas recomendações BID: A cada 12 horas CGEF: Complexo granuloma Eosinofílico Felino cp: Comprimido EH: Encefalopatia Hepática g/dl gramas por decilitro IM: Aplicação por via intra muscular IV: Aplicação por via endovenosa mg/kg: miligramas por kilograma SID: A cada 24 horas TID: A cada 8 horas LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 – PACIENTE COM ALOPECIA DISTRIBUÍDA PELA SUPERFÍCIE CORPÓREA....................................................................................38 FIGURA 02 – LESÕES EM ASPECTO DE “ROÍDO POR TRAÇAS”.....................39 FIGURA 03 – EM VISÃO APROXIMADA...............................................................40 FIGURA 04 – COLARETE EPIDÉRMICO COM CROSTAS..................................40 FIGURA 05 – REGIÃO VENTRAL, PRESENÇA DE ALOPECIA COM LIQUENIFICAÇÃO..........................................................................41 LISTA DE TABELA TABELA 01 – CASOS ATENDIDOS NO PERÍODO DE 01 DE AGOSTO A 29 DE SETEMBRO..............................................................................................16 LISTA DE QUADROS QUADRO 01 – TRATAMENTO PRESCRITO PARA UM CANINO COM EFUSÃO ABDOMINAL – HIPOALBUMENEMIA..............................................62 QUADRO 02 – TRATAMENTO PRESCRITO PARA UMA CANINA COM MENINGITE RESPONSIVA À CORTICOSTERÓIDE......................96 1 INTRODUÇÃO O presente relatório, refere-se ao período de estágio curricular supervisionado realizado no Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina (HV – UEL) no período de 01 de agosto à 29 de setembro, no setor de Clínica Médica de Pequenos Animais, o estágio tem por finalidade proporcionar o aprimoramento dos conhecimentos adquiridos durante o curso o que torna-se imprescindível que façamos a escolha certa, realizando estágio na área de maior interesse. O HV – UEL é vinculado ao curso de Medicina Veterinária da referida universidade, e tem sua localização na Rodovia Celso Garcia Cid Pr 445 km 380, Londrina – PR. O Hospital Veterinário compreende os seguintes setores: Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Teriogenologia e Diagnóstico por Imagem. O atendimento de rotina é feito de segunda a sexta-feira das 8:00 às 12:00 e das 14:00 às 18:00 horas. O atendimento de emergência funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano. Antes do atendimento os animais passam por uma triagem de onde ocorre o encaminhamento dos casos aos diversos setores conforme a queixa principal do proprietário e a avaliação do médico veterinário presente. O atendimento inicial é realizado por médicos veterinários residentes, contando com o auxílio de estagiários (médicos veterinários formados e acadêmicos) e com o constante acompanhamento e orientação de professores responsáveis pelos respectivos departamentos. O objetivo do relatório em questão é descrever as atividades exercidas pelo acadêmico durante o citado período, assim como discutir a importância desta experiência e o que ela acrescentou na formação profissional acadêmica. No estágio curricular supervisionado foi cumprido uma carga horária de 320 horas sob a orientação do Professor Lucas Alécio Gomes e supervisão acadêmica do Professor Ricardo Maia. 2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO O setor de Clínica Médica de Pequenos Animais está inserido no Departamento de Clínicas Veterinárias de Ciências Agrárias da UEL, sendo composto por sete docentes, oito médicos veterinários residentes, seis assistentes de enfermagem, três técnicos em radiologia, e oferece estágio curricular e voluntário para alunos de graduação em Medicina Veterinária da UEL e demais Instituições de Ensino Superior (IES). O setor desenvolve sua atividade nas dependências do Hospital Veterinário da UEL (HV – UEL). A prestação de serviços à comunidade é realizado no horário comercial para os casos e exames de rotina, e para o atendimento emergencial e de urgência o HV – UEL disponibiliza uma equipe composta por quatro docentes plantonistas designados para o atendimento durante 24 horas do dia. Além do atendimento no setor de Clínica Médica de Animais de Companhia, o HV – UEL também oferece, na área de animais de companhia, atendimento nos setores de Clínica Cirúrgica, Anestesiologia, Teriogenologia, Diagnóstico por imagem, Laboratório de Patologia Clínica. Para o desenvolvimento destas atividades há uma equipe composta por onze docentes, doze residentes, seis assistentes de enfermagem, três técnicos de laboratório, uma médica veterinária anestesista, e outros dez funcionários de secretaria, limpeza e centro cirúrgico. Para desenvolver suas atividades, o HV – UEL possui a seguinte estrutura física: • Dez ambulatórios; • Uma sala de procedimento; • Um centro cirúrgico composto por quatro salas de cirurgias, sendo uma destinada a procedimentos cirúrgicos em pacientes atendidos no prontosocorro; • Três enfermarias (uma para Clínica Médica, um no Centro Cirúrgico e um para pacientes com moléstias infecciosas) • Uma sala de exames radiográficos; • Um laboratório de Anatomia Patológica Além desta estrutura física, o HV – UEL conta com o auxilio dos serviços realizados nos laboratórios do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva (Anatomia Patológica, Microbiologia, Leptospirose, Virologia, Parasitologia, Preventiva, Micologia, Toxicologia e Protozoologia). 2.1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO HV – UEL As atividades foram divididas em atendimentos ambulatoriais na rotina da Clínica Médica, auxilio na realização da avaliação clínica, terapia, procedimentos, coleta de material biológico para exames complementares, avaliação diária dos animais internados na enfermaria da Clínica Médica e atendimento ambulatorial e cirúrgico de pacientes do pronto-socorro e auxilio na realização de exames radiográficos. Os casos atendidos durante o Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária totalizaram um total de 153 casos, incluindo casos novos e retornos, abrangendo vários sistemas. Os casos atendidos estão apresentados abaixo por meio da tabela 01 de acordo com o principal órgão, aparelho ou sistema afetado. TABELA 01 – CASOS ATENDIDOS NO PERÍODO DE 01 DE AGOSTO A 29 DE SETEMBRO Afecções/Achados Clínicos n° de casos % Gastrenterologia 37 24,18 Enterite 3 1,96 Gastroenterite 9 5,87 Êmese à esclarecer 6 3,92 Verminose 6 3,92 Megaesôfago congênito 1 0,65 Megaesôfago adquirido 1 0,65 Pancreatite aguda 3 1,96 Encefalopatia hepática 1 0,65 Hepatopatia Crônica 1 0,65 Hipoproteinemia 2 1,30 Colangite 1 0,65 continua Continuação Lipidose hepática 1 0,65 Insuficiência hepática aguda 1 0,65 Doenças Infecciosas 33 21,56 Cinomose 17 11,11 Complexo respiratório felino 1 0,65 Leptospirose 1 0,65 Parvovirose 10 6,53 Erlichia 4 2,61 Respiratório 8 5,22 Traqueobronquite infecciosa canina 5 3,26 Pneumonia 2 1,30 Broncopneumonia 1 0,65 Neurologia 8 5,22 Convulsão 7 4,57 Hidrocefalia 1 0,65 Geniturinário 18 11,76 Obstrução uretral 5 3,26 Infecção do trato urinário 2 1,30 Piometra 1 0,65 Parto distócico 2 1,30 Aborto 1 0,65 Insuficiência renal crônica 7 4,57 continua Continuação Oncologia 7 3,92 Hemangiossarcoma 1 0,65 Linfoma 2 1,30 Neoplasia peniana 1 0,65 Neoplasia hepática 1 0,65 Neoplasia Cerebral 1 0,65 Dermatologia 16 10,45 Dermatite por contato 4 2,61 Piodermite 4 2,61 Malassezíase 1 0,65 Demodicidose 1 0,65 Escabiose 4 2,61 Astenia cutânea 1 0,65 Alopecia x 1 0,65 Granuloma eosinofílico 1 0,65 Otologia 1 0,65 Otite 1 0,65 Oftalmologia 2 1,30 Cerato conjuntivite seca 2 1,30 Odontologia 1 0,65 Doença periodontal 1 0,65 continua Continuação Endocrinologia 4 2,61 Diabetes melito 4 2,61 Cardiologia 6 3,92 Insuficiência cardíaca congestiva 5 3,26 Cardiomegalia 1 0,65 Doença auto-imune 1 0,65 Meningite responsiva a corticosteróides 1 0,65 Outros 11 7,18 Intoxicação por organofosforados 1 0,65 Intoxicação por amitraz 1 0,65 Intoxicação por diclofenaco 1 0,65 Intoxicação por chumbo 2 1,30 Intoxicação por creolina 1 0,65 Choque elétrico 1 0,65 Fratura de membro torácico 1 0,65 Fratura de membro pelvico 2 1,30 Fratura de cauda 1 0,65 TOTAL 153 100 3 DESCRIÇÃO DE CASOS CLÍNICOS 3.1 DERMATOLOGIA 3.1.1 Complexo Granuloma Eosinofílico Felino (CGEF) 3.1.1.1 Revisão Bibliográfica São observadas três formas distintas dessa síndrome: granuloma linear eosínofilico, placa eosinofilica, úlcera indolente ou eosinofílica. Essas três entidades são agrupadas porque podem ocorrer concomitantemente ou sucessivamente em um mesmo animal. Embora cada padrão tenha diferenciações histológicas, pode ocorrer superposição entre padrões e alguns gatos podem apresentar-se com mais de uma forma. Por essa razão, as três formas são agrupadas em um mesmo complexos (GRACE, 2004 citado por SANDOVAL, 2005). O CGEF são classicamente encontrados na mucosa oral de gatos de meiaidade. As lesões intra-orais surgem como um ou mais nódulos discretos, firmes e elevados (SMITH, 1997; NELSON e COUTO, 2001). A etiologia para esta afecção é desconhecida, porém infecções bacterianas, virais, doenças imunomediadas, parasitárias e alérgicas foram associadas ao CGEF. Entre as mais importantes estão as alérgicas, incluem aquelas de origem alimentar, as decorrentes de picada de pulga, a atopia e a hipersensibilidade à picada de mosquito (REY, 2004 citado por SANDOVAL, 2005). O envolvimento bacteriano pode ocasionalmente representar fator etiológico para o CGEF, uma vez que a antibioticoterapia pode resolver ou melhorar algumas lesões (MULLER e KIRK, 1996 citado por SANDOVAL, 2005), embora não se saiba se esse resultado deve-se às propriedades antibacterianas ou a algum efeito antinflamatório do antibiótico (LOIZA e TONELLI, 2002 citado por SANDOVAL, 2005). Os microorganismos mais comumente isolados das lesões incluem Staphylococcus, Streptococcus β-hemolítico, Pasteurella e Bacteróides, sendo que a resposta clínica positiva à antibioticoterapia sustentaria uma etiologia bacteriana (ROSENKRANTS, 1998 citado por SANDOVAL, 2005). Uma forma herdada deve ser considerada quando não puder ser documentada alguma hipersensibilidade (MULLER e KIRK, 1996 citado por SANDOVAL, 2005), uma vez que a literatura relata casos em indivíduos aparentados relacionando-os com uma disfunção hereditária da regulação eosinofílica (WERNER, 2003 citado por SANDOVAL, 2005), não descartando porém possíveis eventos precipitadores devido ao curso flutuante das lesões (FONDATI, 2002 citado por SANDOVAL, 2005). Os sinais clínicos comumente encontrados são disfagia, ptialismo e anorexia (SMITH, 1997; NELSON e COUTO, 2001; MEDLEAU e HNILICA, 2003 citado por SANDOVAL, 2005). Alguns gatos podem apresentar lesões cutâneas concomitantes (NELSON e COUTO, 2001). A biópsia e o exame citológico representa ferramenta importante para auxiliar no diagnóstico, ao mostrarem predominância de eosinófilos nas lesões, embora neutrófilos e microorganismos possam também ser observados em caso de infecção secundária (MEDLEAU e HNILICA, 2003; SAUL, 2004 citado por SANDOVAL, 2005). Para se obter um diagnóstico definitivo e descartar a possibilidade de uma afecção neoplásica é necessário uma biópsia profunda da lesão, que normalmente apresenta-se como uma massa ulcerada em qualquer lugar da boca (SMITH, 1997; NELSON e COUTO, 2001). Como auxilio de diagnóstico, devemos obter um hemograma completo, que comumente demonstra eosinofilia absoluta em casos de CGEF (SMITH, 1997). Testes virais para a detecção do vírus da leucemia felina e o da imunodeficiência felina são recomendados nos casos recorrentes (ROSENKRANTS, 1998 citado por SANDOVAL, 2005). Para o diagnóstico diferencial deve ser considerados os granulomas infecciosos, as neoplasias que destacam-se o carcinoma das células escamosas, mastocitoma e o linfoma (WILLENSE, 1995 citado por SANDOVAL, 2005), os granulomas fúngicos (MEDLEAU e HNILICA, 2003 citado por SANDOVAL, 2005) e úlceras associada ao vírus da leucemia felina e traumas (SCOTT et. al., 1996 citado por SANDOVAL, 2005). A investigação da causa do problema, em função da busca do tratamento apropriado é essencial para que não ocorram recidivas (MANSON e BURTON, 1999). Segundo Nelson e Couto (2001) muitas vezes o tratamento com altas doses de corticosteróides (prednisolona oral 2,2 a 4,4 mg/kg/dia) controlam essas lesões. Confirmado por Grace (2004 citado por SANDOVAL, 2005). Alguns casos obtêmse melhor resultados em gatos com injeções de acetato de metilprednisolona (20mg a cada 2 a 3 semanas conforme a necessidade) do que com a prednisolona oral. Já o acetato de megestrol, embora a eficácia pode causar diabete melito, tumores mamários e problemas uterinos, só poderá ser utilizado com extremo cuidado (NELSON e COUTO, 2001; STARNES, 2003 citado por SANDOVAL, 2005). O acetato de metilprednisolona (4 mg/kg, SC intervalo de várias semanas) é o tratamento mais eficaz. A prednisona ou prednisolona, por via oral, uma vez ao dia (4 a 5mg/kg) também pode ser indicada (GRACE, 2004 citado por SANDOVAL, 2005), bem como o uso de dexametasona (0,4mg/kg) ou a triamcinolona (0,8mg/kg) a cada 24 horas (STARNES, 2003 citado por SANDOVAL, 2005). (WERNER, 2003 citado por SANDOVAL, 2005) também recomenda o uso de dexametasona ou triamcinolona, porém em dosagens menores. Algumas lesões resistentes aos corticóides têm respondido a tratamentos com sulfadiazina-trimetoprima (ROSENKRANTS, 1993; ou ROMÁN, imunomoduladores como 1999 SANDOVAL, citado por o levamisol 2005), clorambucil, tiabendazole e alfa-interferon (STARNES et. al.,2003 citado por SANDOVAL, 2005). De acordo com Smith (1997) a terapia é baseada em corticosteróide. O autor cita como tratamento triamcinolona intralesional (3mg por semana), prednisolona oral (0,5 a 1,0mg/kg duas vezes ao dia), e acetato de metilprednisolona (20mg a cada 2 semanas), administrados até a resolução do CGEF. Os compostos progestacionais são freqüentemente utilizados no tratamento, porém não estão aprovados para o uso em gatos, pois levam a efeitos colaterais indesejáveis (obesidade, poliúria, polidipsia, polifagia, hipertrofia mamária, neoplasia e diabete melito). Gatos com lesões crônicas não tratadas, lesões prévias reativas, e lesões refratárias à terapia por corticosteróides apresentam recidiva de 50%, dentro de 5 meses. Produtos contendo ácidos graxos omega 3 e omega 6 são citados como eficazes (MULLER e KIRK, 1996; STARNES, 2003; MUNDO ANIMAL, 2004 citado por SANDOVAL, 2005), sendo que quando utilizados em associação com corticóides, reduzem as doses desses medicamentos (LOIZA e TONELLI, 2002 citado por SANDOVAL, 2005). A utilização de ciclosporina tem obtido êxito nos casos em que os tratamentos com corticóides não tiveram sucesso (MANSON e BURTON, 1999 citado por SANDOVAL, 2005), mas apresenta efeitos colaterais e seu custo torna o tratamento muito oneroso (BEALE, 2004 citado por SANDOVAL, 2005). O uso do clorambucil associado a corticóides tem se mostrado eficaz nos casos de granulomas eosinofílicos severos ou recalcitrantes (MANSON e BURTON, 1999; LOPEZ, 2004 citado por SANDOVAL, 2005), porém deve-se levar em conta os efeitos tóxicos do clorambucil (BOOTH e McDONALD, 1992 citado por SANDOVAL, 2005). O fracasso do tratamento geralmente está relacionado a dosagem inadequada ou a suspensão prematura da terapia. Pacientes que não responderam aos corticosteróides ou aos compostos progestacionais têm prognóstico reservado, sendo candidatos para terapia mais agressiva, como a irradiação, criocirurgia, laserterapia ou imunoterapia (SMITH, 1997). O prognóstico para CGEF é bom, porém podem ocorrer recidivas (NELSON e COUTO, 2001). 3.1.1.2 Caso clínico Nome: Paixão Espécie: felina Raça: SRD Sexo: macho Idade: 5 anos Peso: 3 Kg Anamnese Paciente foi atendido no HV - UEL, com queixa principal de disfagia há três semanas, hiporexia, emagrecimento progressivo. Quadro agudo e progressivo. O paciente nunca foi vacinado e a vermifugação é feita regularmente. Exame físico Ao exame físico foi observado desidratação moderada, paciente deprimido e com uma lesão ulcerada em cavidade bucal, na gengiva. Foi optado por internar a paciente devido a desidratação e para realização de exames complementares (hemograma, função renal e bioquímica hepática). Exames complementares - Hemograma: valores obtidos dentro da referência; - Função renal: valores obtidos dentro da referência; - Bioquímica hepática: valores obtidos dentro da referência; Tratamento Foi instituído a fluidoterapia (Solução fisiológica). Realizado por via SC enrofloxacina (5mg/kg) a cada 12 horas e acetato de metilprednisolona 2 mg/kg SC em dose única. No segundo dia de internamento manteve-se o tratamento e no final do dia paciente teve alta. Recomendado tratamento para domiciliar. • Meticortem 5 mg: (prednisona), ¾ cp, PO, BID, até novas recomendações. Após doze dias o paciente retornou ao HV – UEL e apresentou melhora de 40% da lesão, paciente não tem mais dor. No ambulatório foi realizada asegunda aplicação de acetato de metilprednisolona SC. Após vinte dias retornou com 50% de melhora da lesão. Sugerido exames complementares (citológico e biópsia), apesar da melhora com o acetato de metilprednisolona. Laudo do laboratório de anatomia patológica Diagnóstico citológico: presença de moderada quantidade de células epiteliais maduras difusas pelas lâminas com grande quantidade de células inflamatórias com predomínio de neutrófilos viáveis e degenerados. Poucos macrófagos e linfócitos e moderada quantidade de eosinófilos. Conclusão: processo inflamatório misto. Achados comuns ao granuloma eosinofílico. Sugere-se envio de fragmento para confirmação da suspeita. Diagnóstico histopatológico Gengiva: Observou-se segmento de tecido ulcerado focalmente extenso, acompanhado por proliferação do tecido de granulação e infiltrado inflamatório misto, também focalmente extenso com predomínio de eosinófilos, neutrófilos íntegros e degenerados e plasmócitos. Observou-se ainda congestão difusa acentuada e células multinucleadas multifocais e mastócito peri-vasculares. Conclusão: Gengiva: Granuloma eosinofílico. Tratamento Continuar o tratamento com o Meticortem 5mg/kg, diminuir a dose gradativamente. Caso ocorra recidivas reiniciar o tratamento. 3.1.1.3 Discussão O Complexo Granuloma Eosinofílico Felino (CGEF) é classicamente encontrado na mucosa oral de gatos de meia-idade. As lesões intra-orais surgem como um ou mais nódulos discretos, firmes e elevados. A etiologia para esta afecção é desconhecida, porém infecções bacterianas, virais, doenças imunomediadas, parasitarias e alérgicas foram associadas ao CGEF. Os sinais clínicos comumente encontrados são disfagia, ptialismo e anorexia. No caso relatado, o diagnóstico pôde ser fechado pelo fato de o animal em questão, além de apresentar alguns sinais característicos da doença, como lesão na cavidade bucal com aspecto ulcerado, levando a disfagia, ptialismo e anorexia. ter passado por exames que confirmaram o diagnóstico, como o exame citológico e a biopsia da massa ulcerada. Como auxilio de diagnóstico, devemos obter um hemograma completo. A biopsia também ajuda no descarte dos diagnósticos diferenciais (neoplasias). Diagnosticado CGEF, o tratamento iniciou-se assim como descrito nas literaturas consultadas. O clínico inicialmente optou tratamento de suporte, instituindo a fluidoterapia, pois paciente estava desidratado, associado a antibioticoterapia (enrofloxacina), na literatura há relatos de melhora inicial do CGEF, embora não se saiba se esse resultado deve-se às propriedades antibacterianas ou a algum efeito antinflamatório do antibiótico. Foi realizado injeção de acetato de metilprednisolona (20mg a cada 2 a 3 semanas), conforme citado na literatura obtêm-se resultados melhores do que a prednisona via oral. Após a alta do paciente foi recomendado continuar o tratamento em casa com prednisona. Deve-se orientar a proprietária sobre prognóstico e recidivas. Pacientes que não responderam aos corticosteróides ou aos compostos progestacionais (não estão aprovados para o uso em gatos, pois levam a efeitos colaterais indesejáveis) têm prognóstico reservado, sendo candidatos para terapia mais agressiva, como a irradiação, criocirurgia, laserterapia ou imunoterapia. O prognóstico para CGEF é bom, porém podem ocorrer recidivas. 3.1.2 Foliculite Superficial Bacteriana/ Malassezíase 3.1.2.1 Revisão Bibliográfica A foliculite superficial em cães é causada em sua maior parte pelo S. intermedius, apesar de ouras espécies de estafilococos e bactérias poderem estar envolvidas. Os microorganismos podem ser introduzidos por trauma local, abrasão ou raspado, ou como uma infecção resultando de contaminação devida a pelagens sujas ou tosa deficiente, seborréia, fatores hormonais, irritantes locais, alergias ou até mesmo por uma infecção parasitária, como por exemplo, a demodicose (MILLER e KIRK, 1996; MEDLEAU e HNILICA, 2003). Há três agentes etiológicos mais comuns nas foliculites canina que são os estafilococos, os dermatófitos e os ácaros demodécicos. As foliculites superficiais podem progredir para foliculites profundas, furunculose e até celulite (MILLER e KIRK, 1996). Existem dois tipos de foliculite a não-pruriginosa e a pruriginosa que pode variar a intensidade. Não se sabe porque existem estes dois tipos e nem se são dermatoses separadas, pois as lesões clínicas, os achados patológicos, e os níveis de anticorpos IgE antiestafilocócicos são idênticos para ambos os tipos, sendo o prurido a única diferença entre ambos (MILLER e KIRK, 1996). A característica primária da foliculite, independente da causa, é uma minúscula pústula inflamatória, com haste do pêlo protrusa a partir do centro. A pústula típica pode ser difícil de se encontrar, porque lesões pustulares são transitórias em cães e gatos, especialmente quando o paciente é prurítico. As lesões mais comuns são pápulas foliculares que podem ou não ser crostosas, colaretes epidérmicos, hiperpigmentação, escoriação, áreas anulares de alopecia, eritema, seborréia, crostas e hiperpigmentação, essas são chamadas de lesões em “olho de boi” ou em “alvo”. São altamente sugestivas, mas muitos processos vesiculares e altamente inflamatórios que começam de um ponto podem produzir lesões circulares semelhantes (MILLER e KIRK, 1996). As lesões clínicas dependem da densidade e do comprimento dos pêlos na área envolvida. Em áreas glabras, as lesões papulopustulares podem ser facilmente vistas. Em cães de pelagens curtas, o primeiro sinal de foliculite superficial é uma pelagem irregular na área envolvida, com pequenos grupos de pêlo emergindo sobre a superfície cutânea. Com o tempo, os pêlos caem dos folículos e o cão fica com múltiplas e pequenas áreas alopécicas (MILLER e KIRK, 1996; MEDLEAU e HNILICA, 2003). A pele exposta geralmente está inflamada, aumentando a cronicidade, as áreas com alopecia aumentam para conferir ao cão um aspecto de roído por traça. Um exame cuidadoso da periferia da área com menos pêlos geralmente exibe um colarete epidérmico inflamado e lesões mais típicas de foliculite superficial. Em casos crônicos, a coalescência pode estar tão avançada que pode ser confundido com alopecia endócrina (MILLER e KIRK, 1996; MEDLEAU e HNILICA, 2003). A foliculite superficial em cães de pelagem longa é muita mais insidiosa, especialmente quando as lesões não são pruriginosas. O primeiro sinal geralmente é a perda do brilho dos pêlos na área envolvida com o aumento da queda dos pêlos, a área pode estar seborréica. Com o tempo aumenta a formação de caspas ou estas tornam-se mais aparentes e a perda de pêlos aumenta de forma que a hipotrocose tornando-se óbvia o reconhecimento das lesões cutâneas básicas. Um exame cuidadoso das margens das áreas de alopecia revela eritema, formação de caspas e colaretes epidérmicos (MILLER e KIRK, 1996; MEDLEAU e HNILICA, 2003). O diagnóstico clínico da foliculite superficial geralmente é simples, baseiase nas lesões. A lesão papular ou pustular possui uma orientação folicular. Tendo em vista que muitos casos de foliculite superficiais no cão são de origem estafilocócica, é provável que o paciente sendo examinado apresente uma piodermite (MILLER e KIRK, 1996; MEDLEAU e HNILICA, 2003). Para confirmar o diagnóstico de foliculite superficial bacteriana, devem-se realizar os testes diagnósticos. Os raspados de pele e técnicas fúngicas (exame do pêlo e cultura fúngica) devem ser realizados para descartar as outras causas comuns de foliculite e amostras citológicas exudativas devem ser avaliadas. O pus deve conter cocos, neutrófilos em vários estágios de maturidade e, de forma muito importante, evidência de fagocitose bacteriana. Pode-se optar por biopsia de pele para diferenciar o problema, se nenhum exudato estiver disponível ou se o exame citológico demonstrar infecção bacteriana, mas a distribuição e a natureza das lesões sugerirem que a infecção foi causada por alguma outra foliculopatia inflamatória, este exame ajudará diferenciar. O estudo histopatológico da foliculite bacteriana demonstra um exsudato neutrofílico dentro dos folículos pilosos, sendo que as bactérias podem ou não serem vistas dentro dos folículos infectados (MILLER e KIRK, 1996; MEDLEAU e HNILICA, 2003). Se a biopsia for feita em lesões não-pustulares crônicas, quase sempre encontra-se dermatite intersticial superficial, perifoliculite, fibrose perifolicular ou microabscessos neutrofílicos intra-epidérmicos. Um diagnóstico não deve parar na identificação da foliculite estafilocócica, deve-se definir a causa básica da infecção. Em muitos casos, especialmente quando a foliculite é crônica e as lesões são pruriginosas, o histórico e o exame físico tornam-se limitado e opta-se pela realização de outros testes diagnósticos, por exemplo, teste endócrino, alérgico e painel laboratorial rotineiro (MILLER e KIRK, 1996). Não é raro cães com foliculite superficial disseminada crônica retornar à normalidade clínica e permanecer normal após a infecção ter-se resolvido. Obviamente a causa da piodermite nesses casos foi passageira. Se a pele do animal não infectado é anormal ou se a piodermite recidiva dentro de três meses do término do tratamento, o animal possui alguma outra doença que deve ser diagnosticada e tratada para evitar outras recidivas. A avaliação cuidadosa da história e os achados do exame físico após a antibioticoterapia reforçam o diagnóstico (MILLER e KIRK, 1996). Uma foliculite superficial em um paciente imunologicamente normal cura com razoável rapidez em um curso típico de tratamento de 21 a 28 dias de tratamento. Em casos de infecções recidivantes, as lesões curam mais lentamente (MILLER e KIRK, 1996; MEDLEAU e HNILICA, 2003). As infecções cutâneas podem ser tratadas topicamente ou sistemicamente ou por alguma combinação dessas formas. Os agentes antibacterianos tópicos atuam geralmente como adjuvantes à terapia sistêmica, acelerando a resposta terapêutica ou mesmo impedindo as recorrências (CONCEIÇÃO e FABRIS, 2000). Segundo Medleau e Hnilica (2003), há alguns passos que deverão ser seguidos para o tratamento. Precisa-se corrigir a causa primária, administrar antibióticos sistêmicos, mantendo a medicação por mais 1 semana após a cura clínica completa. Banhos a cada 2 a 7 dias com shampoo antibacteriano contendo clorexidina, etil – lactato ou peróxido de benzoila. A resposta ineficaz ao tratamento antimicrobiano sugere resistência à droga ou dermatite não bacteriana. A escolha do antibiótico pode ser feita empiricamente ou através do teste de sensibilidade. Em geral, os antibióticos que constituem boa escolha empírica são os mesmos apontados pelos testes de sensibilidade antimicrobiana. Para a maioria dos casos de infecção superficial, que não foram tratados previamente e cuja previsão é de não ultrapassar três semanas de terapia, o teste não apresenta boa relação custo/benefício (CONCEIÇÃO e FABRIS, 2000). O tratamento deve durar o suficiente para liquidar completamente a infecção e não apenas levar à cura aparente, devendo o animal ser monitorado para isso. A interrupção prematura da antibioticoterapia sistêmica tem sido apontada como a principal causa de recorrência das infecções cutâneas. Cada animal responde diferentemente, e portanto o tratamento deve ser individualizado. O reexame clínico frequente é a melhor conduta de avaliação terapêutica ao invés de apenas se fixar em tempos de tratamento predeterminados e confiar nas observações e impressões dos proprietários. O clínico é que deve decidir sobre a interrupção ou não do tratamento (CONCEIÇÃO e FABRIS, 2000). O prognóstico é bom caso o fator primário possa ser identificado e corrigido ou controlado (MILLER e KIRK, 1996; MEDLEAU e HNILICA, 2003). Malassezíase A Malassezia pachydermatis é uma levedura saprofítica não-micelial, lipofílica comumente encontrada na pele normal e anormal, nos condutos auditivos normais ou anormais, nos sacos anais, no reto e na vagina de cães e gatos normais (MILLER e KIRK, 1996). As leveduras do gênero Malassezia, integrantes da microbiota cutânea normal de vários animais, apresentam características fisiológicas bem diferenciadas dos outros fungos (MACHADO, 2003). Alterações no microclima cutâneo superficial ou defesas do hospedeiro podem permitir a este microorganismo normalmente comensal tornar-se um patógeno significativo (MILLER e KIRK, 1996). Uma proliferação exagerada está quase sempre associada a uma causa primária como atopia, alergia alimentar, endocrinopatia, distúrbio de ceratinização ou antibioticoterapia generalizada (MEDLEAU e HNILICA, 2003). Os fatores do microclima levando à proliferação da Mallasezia incluem a excessiva produção de sebo ou de cerume, acúmulo de umidade e subseqüente rompimento da barreira epidérmica. A doença de pele alérgica e bacteriana também pode ser um fator predisponente, como o são as administrações de glicocorticóides e de antibióticos por período prolongado conferidas por essas doenças (MILLER e KIRK, 1996). A dermatite por Malassezia é uma dermatose crescentemente identificada em cães. Ocorre em cães adultos de qualquer idade e raça (MILLER e KIRK, 1996; MEDLEAU e HNILICA, 2003). O prurido é o principal sinal e é virtualmente constante. Os cães com doença generalizada de pele são eritematosos oleosos, com seborréia e crostas, quase sempre possuem odor desagradável, rançoso e seborréico. Ocorre dermatite regional nas orelhas, lábios, focinho, espaços interdigitais, pescoço ventral, face medial das coxas, axilas, região perianal e áreas intertriginosas (MILLER e KIRK, 1996; MEDLEAU e HNILICA, 2003). O diagnóstico pode ser complicado para o clínico, pois a dermatite por Malassezia freqüentemente está associada a/ou desencadeada por muitos diagnósticos diferenciais (MILLER e KIRK, 1996; MEDLEAU e HNILICA, 2003). O diagnóstico diferencial é extenso e inclui atopia, hipersensibilidade alimentar, hipersensibilidade à picada de pulgas, erupção por drogas, foliculite estafilocócica superficial, escabiose, dermatite por contato, dermatite seborréica e linfoma epiteliotrópico (MILLER e KIRK, 1996; MEDLEAU e HNILICA, 2003). A dermatite por Malassezia deve ser considerada como um fator em todas as dermatites escamosas, eritematosas, oleosas e pruriginosas nas quais os outros diagnósticos diferenciais foram eliminados por testes diagnósticos e haja uma falta de resposta ao tratamento (MILLER e KIRK, 1996; MEDLEAU e HNILICA, 2003). O diagnóstico da dermatite por Malassezia é baseado no histórico, exame físico, exames complementares que demonstrem a levedura, resposta a terapia específica e exclusão das outras dermatopatias (CARLOTTI, 2005). Para Miller e Kirk (1996) a ferramenta mais útil e prontamente disponível para o clínico diante de um caso suspeito de dermatite por Malassezia é o exame citológico. Apesar da M. pachydermatis crescer em meios rotineiros de cultura, a superfície cutânea em que se utilizam swabs quase sempre falha em isolar a levedura. Definitivamente, o diagnóstico da dermatite por Malassezia fica na resposta ao tratamento antileveduras. O tratamento da dermatite por Malassezia é mais bem obtido com o cetoconazol oral (5 a 10mg/kg a cada 12 horas). O prurido é geralmente notado de forma reduzida na primeira semana e as lesões cutâneas resolvem-se dentro de duas a quatro semanas. O tratamento deve continuar por 7 a 10 dias além da cura clínica. Foram obtidos bons resultados como uso do itraconazol (5 mg/kg a cada 24 horas, PO) para o tratamento de malassezíase (MILLER e KIRK, 1996; MEDLEAU e HNILICA, 2003). O cetoconazol, zinco piritiona e clorexidinas (no mínimo 1%) em formas de shampoos, também são eficazes, sendo aplicados duas vezes por semana até que resulte em cura. A dermatite por Malassezia localizada pode responder à aplicação tópica de nistatina, miconazol, clotrimazol, enilconazol, cetoconazol ou clorexidina (MILLER e KIRK, 1996; MEDLEAU e HNILICA, 2003). O prognóstico é bom quando a causa primária é identificada e corrigida. Caso contrário pode haver a necessidade de banhos regulares com shampoo antifúngico, uma ou duas vezes por semana, para prevenir a reicidência. A doença não é considerada contagiosa para outros animais ou para humanos, exceto para indivíduos imunodeprimidos (MEDLEAU e HNILICA, 2003). 3.1.2.2 Caso clínico Nome: Schery Espécie: canina Raça: Pinsher Sexo: fêmea Idade: 7 anos Peso: 5 Kg Anamnese Paciente foi atendido no HV - UEL, em 24 de agosto com queixa principal de áreas alopécicas (figura1), prurido e hiperpigmentação. Proprietária relata que há oito meses apresenta esses sinais, paciente estava sendo tratada por outro colega como DAPP (Dermatite Alérgica à Picada de Pulga). FIGURA 01 – PACIENTE COM ALOPECIA DISTRIBUÍDA PELA SUPERFÍCIE CORPÓREA. FONTE: ABREU, Andréia (2006). Exame físico Ao exame físico os parâmetros vitais estavam normais. No exame dermatológico, verificou-se a presença de alopecias distribuídas pela superfície corpórea (figura 2 e 3) e sinais de lesões crônicas de pele e de foliculite, tais como, colarete epidérmico com crostas (figura x3). Na região ventral foi observada a presença de alopecia com liquenificação (figura x4). Foi coletado material para a realização de alguns exames complementares (exame direto na micologia e cultura). Não foi realizado raspado de pele devido ao histórico orientado pela equipe. Prescrito tratamento para casa enquanto aguardávamos os resultados dos exames. Retorno em 10 dias. FIGURA 02 – LESÕES EM ASPECTO DE “ROÍDO POR TRAÇAS”. FONTE: ABREU, Andréia (2006). FIGURA 03 – EM VISÃO APROXIMADA. FONTE: ABREU, Andréia (2006). FIGURA 04 – COLARETE EPIDÉRMICO COM CROSTAS. FONTE: ABREU, Andréia (2006). FIGURA 05 – REGIÃO VENTRAL, PRESENÇA DE ALOPECIA COM LIQUENIFICAÇÃO. FONTE: ABREU, Andréia (2006). Tratamento • Cetoconazol 50 mg/kg: 1ml, PO, BID, até novas recomendações • Clorexidine shampoo 3%: uso tópico, SID, a cada 3 dias. Paciente retornou ao HV – UEL, após 10 dias de tratamento, proprietária relata 50% de melhora e sem relatos de prurido. Exame direto: negativo. Retornar após 15 dias para resultado da cultura e avaliação. Paciente retornou após 25 dias de tratamento, obteve-se ótima melhora ao tratamento, está crescendo pêlo nas lesões. Suspendido o cetoconazol e mantido apenas banho com clorexidine shampoo 3%. Cultura: negativo para Malassezia. Diagnóstico Apesar do resultado da cultura ser negativo para Malassezia, foi fechado o diagnóstico como: Foliculite superficial bacteriana e malassezíase (Malassezia microorganismo oportunista), pois paciente respondeu bem ao tratamento com cetoconazol e clorexidine 3% shampoo. 3.1.2.3 Discussão A foliculite bacteriana superficial é uma infecção bacteriana superficial que atinge os folículos pilosos e a epiderme adjacente, sendo comum em cães. Há três agentes etiológicos mais comuns nas foliculites canina que são os estafilococos, os dermatófitos e os ácaros demodécicos. As lesões mais comuns são pápulas foliculares que podem ou não ser crostosas, colaretes epidérmicos, hiperpigmentação, escoriação, áreas anulares de alopecia,eritema, caspas, crostas e hiperpigmentação. O primeiro sinal de foliculite superficial é uma pelagem desgrenhada na área envolvida, com pequenos grupos de tufos de pêlo emergindo sobre a superfície cutânea. Com o tempo, os pêlos caem dos folículos infectados e o cão fica com múltiplas e pequenas áreas alopécicas. Um exame cuidadoso da periferia da área com menos pêlos geralmente exibe um colarete epidérmico inflamado e lesões mais típicas de foliculite superficial. O diagnóstico clínico da foliculite superficial geralmente é simples, baseiase nas lesões. No caso relatado, o diagnóstico pôde ser fechado pelo fato de o animal em questão apresenta alguns sinais característicos da dermatopatia, como por exemplo, áreas alopécicas, prurido, hiperpigmentação, colarete epidérmico com crostas. Para confirmar o diagnóstico de foliculite superficial bacteriana, devem-se realizar os testes diagnósticos. Os raspados de pele e técnicas fúngicas (exame do pêlo e cultura fúngica) devem ser realizados para descartar as outras causas comuns de foliculite e amostras citológicas exudativas devem ser avaliadas. Uma foliculite superficial em um paciente imunologicamente normal cura com razoável rapidez em um curso típico de tratamento de 21 a 28 dias de tratamento. Ao exame físico da paciente em questão foram encontrados sinais característicos de Malassezia. A dermatite por Malassezia é uma dermatose rara, mas crescentemente identificada em cães. Ocorre em cães adultos de qualquer idade e raça. Acredita-se que por esse microorganismo ser oportunista, e a pele da paciente em questão estaria comprometida, ele se proliferou. Foi realizado exame direto e cultura ambos deram resultado negativo, porém manteve-se o diagnóstico de foliculite bacteriana superficial e malassezíase pois se obteve ótima melhora das lesões de pele da paciente e sem relatos de prurido. Assim como citado na literatura, o clínico optou por tratamento tópico para foliculite. Com banhos com shampoo antibacteriano que contenha clorexidine (foi utilizado na concentração de 3%). E como tratamento para a malassezíase o clínico optou pelo uso do cetoconazol por 25 dias. Segundo a literatura consultada o cetoconazol para esse casos é indicado de 21 a 28 dias. E há relatos de melhor ação do itraconazol do que o cetoconazol, para esses casos. 3.2 DOENÇA HEPATOBILIAR 3.2.1 Encefalopatia Hepática (EH) 3.2.1.1Revisão Bibliográfica A encefalopatia hepática (EH) é uma complicação de cães com doença hepática grave, principalmente desvios porto-sistêmicos, insuficiência hepática aguda e cirrose (DUARTE e USHIKOSHI, 2005). A EH é uma anormalidade reversível da função neuronal associada com a exposição do sistema nervoso central a substâncias neurotóxicas devido a uma doença hepatocelular primária ou com desvio da circulação portal pelo fígado (DUARTE e USHIKOSHI, 2005). Sinais de anormalidade no estado mental e na disfunção neurológica desenvolvem-se em cães e gatos com doença hepatobiliar séria como resultado da exposição do córtex cerebral a toxinas absorvidas pelo intestino que não tenham sido removidas pelo fígado. As substâncias importantes que isoladas ou em combinação têm sido implicadas na gênese da EH são: amônia, mercaptanos, ácidos graxos de cadeia curta, escatóis, indóis e aminoácidos aromáticos (NELSON e COUTO, 2001). A detoxificação de toxinas gastrintestinais está comprometida pela acentuada redução na massa hepática funcional ou pelo desenvolvimento de anastomoses venosas portossistêmicas que divergem o fluxo sanguíneo da porta. O desvio portossistêmico pode ser macroscópico, no qual os vasos anormais são falhas de comunicação vasculares congênitas, ou pode ocorrer por meio de “válvulas de liberação” adquiridas que se abrem em resposta à hipertensão portal mantida secundária a doença hepatobiliar primária grave. O desvio portossistêmico microscópio intra-hepático ou a incapacidade hepatocelular disseminada de detoxificar substâncias entéricas nocivas podem estar presentes quando não se demonstra um padrão vascular portal anormal responsável pela EH (NELSON e COUTO, 2001). Os sinais encefalopáticos são reversíveis, e em geral podem ser evitados pela promoção da melhora do distúrbio hepático subjacente, ou evitando-se os fatores reconhecidamente precipitantes. Os sinais clínicos são: anorexia, vômito, polidipsia, ptialismo, letargia, depressão,andar em círculos, ato de pressionar a cabeça, cegueira cortical, debilidade, colapso, convulsões e coma (CENTER, 1997; NELSON e COUTO, 2001). A patogenia desta anormalidade no metabolismo cerebral não está completamente compreendida. Múltiplos fatores estão freqüentemente envolvidos, incluindo acúmulo de encefalotoxinas, desvios na composição dos aminoácidos plasmáticos e aumento na sensibilidade cerebral para alterações bioquímicas associadas a insuficiência hepática. A amônia gerada a partir do catabolismo protéico endógeno ou exógeno, é uma importante, porém não a única, toxina cerebral na EH. A gravidade dos sinais clínicos não está relacionada com a magnitude da hiperamonemia, de modo que se acredita que outras toxinas como os mercaptanos e os ácidos graxos de cadeia curta atuem sinergicamente com a amônia para alterar os neurotransmissores e a fisiologia da membrana cerebral (NELSON e COUTO, 2001). A combinação de fatores responsáveis pelos sinais neurológicos provavelmente varia entre indivíduos, e no mesmo indivíduo, em momentos diferentes. Visto que muito das toxinas supostas são do canal digestivo, os principais objetivos terapêuticos são evitar a formação de toxina e eliminar as toxinas do trato gastrintestinal. Estas metas são concretizadas em grande parte pela cuidadosa restrição de constituintes nutricionais promotores de toxinas, e pela modificação da flora microbiana e pH intestinal (CENTER, 1997). Pesquisas recentes sobre a patogenia da EH enfocaram várias áreas, como o papel de um neurotransmissor inibitório específico, o ácido gama-aminobutírico (GABA). Uma teoria sugere que pequenas quantidades de GABA normalmente presentes no cérebro, em combinação com substâncias de atividade semelhante à do GABA absorvidas no intestino para o sangue portal, atuam interferindo no equilíbrio normal de neurotransmissores excitatórios e inibitórios, resultando em depressão neurológica e sinais de EH (NELSON e COUTO, 2001). A hipótese mais recente para o desenvolvimento da EH sugere a presença de benzodiazepínicos endógenos ainda não identificados que se mostraram aumentados em algumas pesquisas realizadas em pacientes humanos com EH (NELSON e COUTO, 2001). Certos eventos podem precipitar um episódio agudo de EH com sinais neurológicos graves. • Durante a alimentação uma grande quantidade de nutrientes, especialmente proteínas e toxinas entéricas são liberados rapidamente para dentro da circulação para sofrer a detoxificação hepática; • Fármacos que requerem biotransformação hepática em um metabólito inativo podem provocar EH; • Hemorragia gastrointestinal: fonte de proteína que pode causar um episódio agudo de EH. Em pacientes de alto risco é indicado como terapia profilática a administração de anti-helmínticos (nãohepatotóxicos), controle da acidez gástrica (famotidina), administração de sucralfato, uso crônico de baixas doses de vitamina K, e avaliação fecal periódica em busca de parasitos e de sangramento oculto; • Desidratação: resulta em microcirculação inadequada e na restrição do fluxo sanguíneo nos sistemas vitais do organismo; • Azotemia: concentrações elevadas de uréia resultam num aumento da produção alimentar de amônia; • Constipação: cólon é o local mais importante de geração e absorção de toxinas; • Hipoglicemia: baixos níveis de glicose no sangue reforçam os efeitos encefalopáticos do cloreto de amônio e aumentam a concentração cerebral de amônia; • Hipocalcemia: aumenta a produção da amônia renal; • Infecção ou inflamação: devem ser evitados num paciente com EH, porque o catabolismo aumenta a intensidade de detoxificação do nitrogênio. Além disto, estes pacientes apresentam-se com redução na atividade dos macrófagos fixos no fígado, sendo mais susceptíveis à septicemia e endotoxemia. (CENTER, 1997; NELSON e COUTO, 2001; DUARTE e USHIKOSHI, 2005). Acredita-se que as alterações nos neurotransmissores e neuro-receptores aumentam a sensibilidade cerebral a uma série de condições e agentes, como: sedativos e anestésicos, infecção, hipóxia, e distúrbio dos líquidos, eletrólitos e pH. Alterações relativamente pequenas destas variáveis podem gerar sinais neurológicos profundos. Justifica-se a tomada de precauções ao serem administrados medicamentos com efeitos sabidos no sistema nervoso central, ou que necessitem de biotransformação ou excreção hepática em pacientes com insuficiência hepática, e especialmente nos pacientes com história clínica de EH. Também é importante que seja considerada a disponibilidade das proteínas utilizadas na ligação dos medicamentos, ao receitar medicamentos que sejam do tipo que se liga intensamente às proteínas (CENTER, 1997; NELSON e COUTO, 2001). Embora a patogênese da EH ainda não esteja completamente elucidada, o seu tratamento é voltado primariamente para a redução da absorção e produção da amônia, proveniente da degradação bacteriana se substratos protéicos no cólon. Estratégias comuns, baseiam-se no uso de lactulose, de antibióticos, por exemplo, o metronidazol e da adição de fibras à dieta, muitas vezes relacionadas à restrição protéica (DUARTE e USHIKOSHI, 2005). A quantidade e o tipo de proteína que deve ser administrada ao paciente hepatopata é sempre um assunto controverso. Isso se deve ao fato de que a restrição protéica é uma estratégia eficaz para o controle da EH. Entretanto a maioria dos cães e gatos com hepatopatias não apresentam o quadro de EH, que ocorre mais comumente nos desvios porto-sistêmicos ou insuficiência hepática aguda (CENTER, 1998; DUARTE e USHIKOSHI, 2005). A recuperação de necrose hepática aguda ou injúria isquêmica requer um aporte maior de proteína para a manutenção de um balanço positivo de nitrogênio. Similarmente, animais com hepatites crônicas necessitam de aporte protéico que excede os valores de manutenção. Idealmente a fonte protéica deve ser de alto valor biológico e alta digestibilidade (CENTER, 1997). A lactulose é o fármaco protótipo para o tratamento da EH. Trata-se de um dissacarídeo não absorvível que possui vários efeitos benéficos: ela reduz o pH do meio intestinal, favorecendo a conversão da amônia em íons amônio (não absorvíveis pela mucosa) e reduzindo a população de bactérias produtoras de amônia, acelera o trânsito gastrintestinal, aumentando a eliminação fecal de bactérias e substratos de amoniogênicos e inibe a produção de amônia por bactérias intestinais. A dose inicial é de 0,5 a 1,0ml/kg a cada 08 horas, devendo ser ajustada conforme a consistência das fezes (o objetivo é amolecimento do bolo fecal) ou por meio da avaliação do pH fecal (o ideal é próximo de 6,0) (DUARTE e USHIKOSHI, 2005). As fibras alimentares também podem servir para o tratamento do paciente hepatopata. Sua ação é semelhante à proposta para a lactulose: alteram a flora bacteriana intestinal, favorecendo o crescimento de bactérias não amoniogênicas. Além disso, as fibras alteram a composição da bile, favorecendo a excreção de quenodeoxilato e a síntese de ácidos biliares triioxilatos (menos tóxicos) (DUARTE e USHIKOSHI, 2005). Pacientes com quadro de EH grave, necessitam de cuidados intensivos, com atenção especial à correlação dos distúrbios hidroelétrolíticos e a manutenção da glicemia. Pode ser realizada a lavagem intestinal, com solução cristalóide (aquecida a 35 °C, para evitar a precip itação de hipotermia) seguida da administração de enema de retenção com lactulose (a quantidade varia com o tamanho do animal, aproximadamente 5 a 15ml de lactulose diluída em um pouco de solução cristalóide). A lactulona, na forma de pó, também pode ser empregada para a realização de enemas e é uma boa opção para se manter na clínica. No caso de convulsões refratárias ao tratamento supracitado e se houver suspeita de edema cerebral, pode-se indicar o uso de pentobarbital ou fenobarbital injetável e diuréticos como manitol e furosemida (DUARTE e USHIKOSHI, 2005). 3.2.1.2 Caso Clínico Nome: Laika Espécie: canina Raça: Schnauzer Sexo: fêmea Idade: 7 anos Peso: 5,5 Kg Anamnese Paciente foi atendido no Hospital Veterinário UEL (HV-UEL) em 12 de setembro, com queixa principal de convulsão, incoordenação motora, andar em círculos, apatia e cegueira, com um quadro de evolução progressiva em uma semana. Proprietário nega contato com substância tóxicas e roedores. Vacinação e vermifugação atrasados. Exame físico Ao exame físico paciente apresentou-se hipotérmico (37,8°C), bradicardico (56 bpm) e à palpação abdominal foi suspeitado de organomegalia. No decorrer do exame físico evidenciou-se parâmetros vitais normais. Foi coletado material para a realização de exames complementares (hemograma, função renal, bioquímica hepática, dosagem de cálcio e glicose). Exames complementares - Hemograma: valores obtidos dentro da referência; - Dosagem de glicose: valores obtidos dentro da referência; - Dosagem de cálcio: valores obtidos dentro da referência; - Função renal: valores obtidos dentro dos valores de referência; - Bioquímica hepática: • FA: 110,2 U/L (12 – 110 U/L) • ALT: 229 U/L (17 – 87 U/L) Diagnóstico O diagnóstico definitivo até o presente momento da paciente é de encefalopatia hepática. Tratamento Foi instituído como tratamento fluidoterapia (Ringer com lactato de sódio), jejum e diazepam (1mg/kg) intra venoso (IV) em caso de convulsão. No segundo dia de internamento foi associado junto a fluidoterapia glicose 50% e KCl 10%. Foi prescrito ampicilina (20mg/kg) a cada 08 horas IV. Lactulose 1ml/kg por via oral (PO) a cada 08 horas e enema morno com solução fisiológica e PVPI na concentração de (10ml/1ml) diminuindo assim as toxinas circulantes. Foi trocado o diazepam pelo fenobarbital (3mg/kg) a cada 24 horas, pois a convulsão não foi controlada com o diazepam. Foi instituído o uso de manitol (27ml – IV lento) com a intenção de diminuir o edema cerebral. No terceiro dia de internamento foi mantido o mesmo tratamento exceto o manitol e foi associado o succinato de metilprednisolona (15mg/kg – IV) a cada 24 horas. Foram coletados materiais para novos exames (Hemograma, dosagem de cálcio, dosagem de glicose, função renal e proteínas totais). - Hemograma: valores obtidos dentro da referência; - Dosagem de cálcio: valores obtidos dentro da referência; - Dosagem de glicose: valores obtidos dentro da referência; - Função renal: valores obtidos dentro da referência; - Proteínas totais: 4,1 g/dl (5,4 – 8 g/dl) No quarto dia de internamento foi mantido o mesmo tratamento e foi associado prednisona 20mg/kg (1mg/kg) PO a cada 12 horas até novas recomendações. Foi obtido boa melhora de estado geral da paciente, obteve-se relatos de diurese, polifagia e um episódio de convulsão tratado com diazepam (0,5mg/kg) e foi controlado. No quinto dia de internamento foi mantido o mesmo tratamento, a paciente anda menos em círculos, normorexia, normouria, normoquesia e normodipsia. No sexto dia de internamento manteve-se o tratamento porém o paciente foi retirado da fluidoterapia e foi realizado exame neurológico completo que demonstrou déficit em reações posturais, reflexos e nervos cranianos no lado direito do corpo. Suspeita-se de síndrome cerebral apresentada deve-se a neoplasia, êmbolo, placa de gordura (ateroma) em hemisfério esquerdo. No dia seguinte, paciente recebeu alta para continuar com o tratamento e cuidados em casa. Sendo prescrito prednisona 20mg (1mg/kg) a cada 12 horas até novas recomendações, ampicilina 250mg/5ml (20mg/kg) a cada 12 horas até novas recomendações, lactulose (1ml/kg) a cada 12 horas até novas recomendações, fenobarbital 40mg/ml (3mg/kg) a cada 08 horas até novas recomendações. O retorno foi marcado para uma semana. Após uma semana paciente retornou ao HV, proprietário relata melhora da paciente em estado geral. 3.2.1.3 Discussão A síndrome é caracterizada por disfunção do sistema nervoso central em associação com insuficiência hepática, incluindo derivações porto-sistêmicas. A fisiopatologia da encefalopatia hepática em cães ainda não foi completamente elucidada, mas sem dúvida é multifatorial. Os sinais encefalopáticos são reversíveis, e em geral podem ser evitados pela promoção da melhora do distúrbio hepático subjacente, ou evitando-se os fatores reconhecidamente precipitantes. Visto que muita das toxinas supostas são do canal digestivo, os principais objetivos terapêuticos são: evitar a formação de toxina e eliminar as toxinas do trato gastrintestinal. Deve-se também ficar atento com certos eventos podem precipitar um episódio agudo de EH com sinais neurológicos graves, como por exemplo, com a dieta (quantidade de nutrientes), drogas de biotransformação hepática, hemorragia gastrintestinal, desidratação, azotemia, constipação, hipoglicemia, infecção ou inflamação. No caso relatado, o diagnóstico pôde ser fechado pelo fato de o animal em questão, além de apresentar alguns sinais característicos da doença, foram realizados alguns exames que confirmaram o diagnóstico, pois seus resultados também foram característicos da doença. Assim como descrito na literatura, iniciou-se um tratamento sintomático, paciente ficou internado recebendo fluidoterapia associado com glicose e KCL, como prevenção de hipoglicemia e de distúrbios hidroelétroliticos, foi instituído diazepam e fenobarbital para controle das convulsões, como antibioticoterapia foi optado pelo uso da ampicilina, apesar da literatura citar como antibioticoterapia o metronidazol, foi obtido bons resultados. Como forma de redução de toxinas circulantes foi utilizado a lactulose (que reduz o pH do meio intestinal, favorecendo a conversão da amônia em íons amônio (não absorvíveis pela mucosa) e reduzindo a população de bactérias produtoras de amônia, acelera o trânsito gastrintestinal, aumentando a eliminação fecal de bactérias e substratos de amoniogênicos e inibe a produção de amônia por bactérias intestinais) e enema com solução fisiológica e PVPI, apesar da literatura consultada citar como uso enema de retenção com lactulose, foi obtido bons resultados. Para redução de edema cerebral, como também citado na literatura, foi utilizado o manitol. Pensando em uma inflamação, foi instituído ao tratamento succinato de metilprednisolona (antinflamatório hormonal – corticosteróide), apesar da literatura consultada não ter citado como uso, obteve-se bons resultados depois do início da administração. Diagnosticada a encefalopatia hepática, o proprietário deve ser orientado dos cuidados intensivos, com atenção especial à hidratação, manutenção da glicemia e a dieta adequada a essa paciente. Onde o clínico poderia ainda ter sugerido uma dieta com adição de fibras, proteínas de alto valor biológico e de alta digestibilidade, para a recuperação da necrose hepática aguda ou injuria isquêmica que requer um aporte maior de proteína para a manutenção de um balanço positivo de nitrogênio. 3.2.2 Efusão abdominal – Hipoalbuminemia 3.2.2.1Revisão Bibliográfica O aumento do volume abdominal pode ser queixa primária do proprietário de cães e gatos com doença hepatobiliar ou pode ser observado durante o exame físico. Normalmente, as causas destas anormalidades são de aumento de volume de órgãos abdominais, presença de líquido na cavidade peritoneal ou tônus na musculatura abdominal enfraquecido (NELSON e COUTO, 2001). A origem da efusão abdominal, bem como mecanismo da sua formação, é determinada pela análise bioquímica e citológica do líquido. O termo ascite é utilizado para o líquido que contém pouca proteína e baixa contagem celular, estando normalmente relacionado a distúrbios de origem hepática ou cardiovascular (ETTINGER e BARRETT, 1997; NELSON e COUTO, 2001). Ascite é um sinal secundário de doença, e não a causa primária da afecção. A abordagem correta ao paciente com líquido ascítico consiste em determinar a natureza do problema primário. A produção de líquido ascítico é conseqüência da estase venosa e, portanto, da hipertensão venosa (ETTINGER e BARRETT, 1997). De acordo com o conteúdo protéico e celular, os líquidos abdominais são classificados, por critérios padronizados, em transudatos e exsudatos (NELSON e COUTO, 2001). Os transudatos simples são líquidos com baixas concentrações de proteínas ou menos que 2,5 a 3 g/dl e baixa contagem de células nucleadas com menos de 500 a 1.000/µl. Os tipos celulares primários são células mononucleares, consistindo em macrófagos, linfócitos e células mesoteliais (NELSON e COUTO, 2001). A diminuição da pressão oncótica do plasma é conseqüência de hipoalbuminemia. Os transudatos que se formam nesse momento possuem concentrações baixas de proteína (transudatos simples). A produção reduzida de albumina ocasiona hipoalbuminemia em pacientes com doença hepática e a perda aumentada de albumina também causa hipoalbuminemia em pacientes com glomerulopatias e enteropatias com perda de proteínas. A análise da bioquímica sérica oferece uma medida exata da concentração de albumina (NELSON e COUTO, 2001). O diagnóstico diferencial do líquido ascítico exige tanto para a análise química quanto a citológica do líquido. É de extrema importância saber diferenciar as enfermidades que produzem ascite dos distúrbios que podem clinicamente serem confundidos com a dilatação abdominal (ETTINGER e BARRETT, 1997). O tratamento da ascite varia com a natureza da afecção primária. A hipoalbuminemia em pacientes nefróticos está associada a desvio de líquido, do plasma para os espaços intersticiais. A redução ainda maior do volume plasmático pode, então, reduzir a filtração glomerular e agravar o estado azotêmico (ETTINGER e BARRETT, 1997). Alimentação com nutrientes e calorias necessárias para sustentar a regeneração do tecido hepático e diminuir aberrações do metabolismo de proteínas que induzam ou perpetuem a encefalopatia hepática (ETTINGER e BARRETT, 1997; NELSON e COUTO, 2001). 3.2.2.2 Caso Clínico Nome: Ursinho Espécie: canina Raça: SRD Sexo: macho Idade: 2 anos Peso: 17,5 Kg Anamnese Paciente foi atendido no HV-UEL em 03 de agosto, com queixa principal de aumento de volume abdominal. Proprietária relata que quadro iniciou há duas semanas. Quadro agudo progressivo. Proprietária relata cansaço fácil e dificuldade respiratória. Alimenta-se de arroz, frutas, verduras e carne nos finais de semana. Vacinação e vermifugação estão atrasados. Exame físico Ao exame físico paciente apresentava-se hipertérmico (39,8°C), com desidratação de 8%, preferencialmente em decúbito lateral, dispnéia expiratória, taquiarritmia, abdômen distendido com conteúdo líquido. Foi optado por internar o paciente para realizar diurético IV devido a ascite e para a realização de exames complementares (Hemograma, proteínas totais, albumina, função renal, bioquímica hepática) para chegar a um diagnóstico. Exames Complementares - Hemograma: policitemia - Proteínas totais: valores obtidos dentro da referência; - Creatinina: valores obtidos dentro da referência; - Albumina: 1,71 g/dl (2,1 – 4,3 g/dl) - ALT: 137 U/L (17 – 87 U/L) - FA: 200 U/L (12 – 110 U/L) Foi realizada a analise do líquido abdominal: transudato simples. Tratamento Foi instituído fluidoterapia com (Solução fisiológica 0,9%) associado à furosemida (2mg/kg) IV a cada 08 horas afim de diminuir a ascite, foi prescrito também anti-helmíntico Panacur (Febendazol + pamoato de pirantel + praziquantel 500mg) PO a cada 24 horas durante 03 dias. No dia seguinte foram solicitados mais alguns exames: - Hematócrito: 48% - Proteínas totais: 5,3g/dl - Urinálise (via sonda): hematúria O tratamento hospitalar foi mantido, porém acrescentando-se ampicilina 20% IV a cada 08 horas. Obteve-se relatos de diurese, anorexia e decúbito lateral. No terceiro dia de internamento foi trocado a fluidoterapia por (Solução glicofisiológica) acrescentado-se KCl, foi instituída nova dose de furosemida (1mg/kg) IV a cada 12 horas. O anti-helmíntico e ampicilina mantiveram-se. Obteve-se relatos de diminuição da ascite, diurese e normodipsia. No quarto dia de internamento foi mantido o mesmo tratamento, porém oferecendo ao paciente alimentação branda e água. Relatos de hipertermia. No quinto dia de internamento manteve-se o tratamento, porém foi suspenso a ampicilina e acrescentado enrofloxacina (2,5%) SC 5 mg/kg a cada 12 horas associada ao metronidazol (0,5%) IV – lento 10mg/kg a cada 24 horas devido a febre do paciente. Foi optado também pelo sucralfato 1g/paciente PO a cada 12 horas e ácido ursodesoxicólico 50mg (15mg/kg) PO a cada 12 horas. Foi solicitado que o proprietário levasse o paciente para realização de um exame ultra-sonográfico (US) particular, para que se possa fazer um diagnóstico diferencial entre neoplasia hepática (paciente tem policitemia) e hepatopatia crônica ativa, o que mudaria o prognóstico. No sexto dia de internamento paciente em bom estado geral, não apresentou hipertermia. Proprietário não optou pelo exame de US. Paciente teve alta para continuar com o tratamento em casa com orientações dietéticas, antibióticos, diuréticos e ácido ursodesoxicólico. Foi marcado retorno para uma semana. QUADRO 01: TRATAMENTO PRESCRITO PARA UM CÃO COM EFUSÃO ABDOMINAL –HIPOALBUMINEMIA Medicamento Volume Via Posologia Duração Metronidazol 2,7 ml PO BID 4 DIAS Enrofloxacina 50mg 1 + ¼ cp PO BID 6 DIAS Ursacol 150mg¹ ½ cp PO BID ANR³ Furosemida 40mg ½ cp PO BID ANR Super C pet² 20 gts PO SID ANR Vitamina B 1 colher sobremesa PO BID ANR 40mg/ml Recomendado dieta para hepatopata: ricota, peixe, frango, arroz, glucose de milho, pêssego em calda ou Ração terapêutica Hepatic (Royal Canin) • Ursacol¹ : ácido ursodesoxicólico • Super C pet²: vitamina C • ANR³ : Até novas recomendações Após uma semana paciente retornou ao HV- UEL, proprietária relatou 80% de melhora do paciente em estado geral, não apresenta mais ascite. Foi solicitado coleta de material para novos exames (Bioquímica hepática e albumina) para controle e retorno após 10 dias. • ALT: 175 U/L (17 – 87 U/L) • FA: 246 U/L (12 – 110 U/L) • Albumina: 2,41 g/dl (2,1 – 4,3 g/dl) Após 10 dias paciente retornou ao HV – UEL, proprietária relatou melhora de 100% do paciente em estado geral. Optado por espaçar o retorno com a ressalva de que caso o paciente venha a descompensar, retornar imediatamente ao HV – UEL. Foi suspenso todas as medicações, mantido apenas a dieta. 3.2.2.3 Discussão O aumento do volume abdominal pode ser queixa primária do proprietário de cães e gatos com doença hepatobiliar ou pode ser observado durante o exame físico. A ascite é um sinal secundário de doença, e não a causa primária da afecção. A abordagem correta ao paciente com líquido ascítico consiste em determinar a natureza do problema primário. A produção de líquido ascítico é conseqüência da estase venosa e, portanto, da hipertensão venosa. E a hipoalbuminemia diminuição da pressão oncótica. De acordo com o conteúdo protéico e celular, os líquidos abdominais são classificados, por critérios padronizados, em transudatos e exsudatos. Os transudatos simples (caso relatado) são líquidos com baixas concentrações de proteínas ou menos que 2,5 a 3 g/dl e baixa contagem de células nucleadas com menos de 500 a 1.000/µl. Os tipos celulares primários são células mononucleares, consistindo em macrófagos, linfócitos e células mesoteliais. A produção dimunuída de albumina ocasiona hipoalbuminemia em pacientes com doença hepática. Para chegar ao diagnóstico em animais com distúrbios hepáticos é necessária a avaliação do quadro clínico do paciente, de achados anamnéticos, físicos, laboratoriais, radiografias, ultra-sonografia e biopsia para saber se a doença é de natureza aguda ou crônica. Devido a falta de diagnóstico definitivo, com a ajuda de um exame ultrasonografico e de uma biopsia hepática, pois o proprietário teve restrições com gastos. Optou-se por tratamento sintomático, acreditando-se que o paciente apresenta uma doença hepática crônica, devido aos resultados dos exames obtidos, pelo quadro de ascite (transudato simples) e pelo histórico de alimentação inadequada provavelmente o paciente apresenta Hepatite Crônica Ativa. O clínico optou por internar o paciente, instituindo a fluidoterapia, paciente estava com anorexia. Foi realizado: diurético, (furosemida) na dose de 2 mg/kg a cada 08 horas, afim de diminuir a ascite, antibioticoterapia, associação de (enrofloxacina e metronidazol), devido a febre do paciente, hepatoprotetor, (ácido ursodesoxicólico), protetor e antiácido (sucralfato), anti-helmíntico de rotina, e dieta para hepatopata. Apesar dos resultados dos exames de ALT e FA aumentados, o paciente melhorou clinicamente, mostra-se que a clínica é soberana. 3.3 TOXICOLOGIA 3.3.1 Intoxicação por Organofosforado 3.3.1.1 Revisão Bibliográfica De acordo com Nicholson (1997) os organofosforados são inseticidas anticolinesterásicos. Os sinais, geralmente, apresentam início dentro de minutos ou até uma hora após a exposição a dose tóxica. O contato dérmico com banhos ou nebulizações pode fazer com que o envenenamento exiba sinais após um período mais longo. Um gato que ande por sobre uma poça de material derramado ou sobre a área tratada também lamberá o material de suas patas e pelagem. A exposição recente a outro organofosforado (OF) pode ter reduzido os níveis de colinesterase, o que aumentará a suscetibilidade. Os achados clínicos são salivação, lacrimejamento, micção e defecação em animais agudamente envenenados. As fasciculações musculares são evidentes, e as pupilas apresentam miose, a menos que o animal esteja em choque. Pode ocorrer convulsões em casos graves. Podem também ocorrer depressão, fraqueza e paralisia. Uma depressão grave acompanha a intoxicação intensa. Broncoconstrição, congestão pulmonar e edema também contribuem para a angustia respiratória. A morte é decorrente da paralisia da respiração e do edema pulmonar (NICHOLSON, 1997). Segundo Nelson e Couto (2001), os sinais clínicos são salivação excessiva, lacrimejamento, diarréia, vômitos, miose. Fasciculações nos músculos faciais e da língua, progredindo para depressão intensiva e convulsões tônico-clônicas. O diagnóstico pode ser baseado com o histórico de exposição, sinais característicos, análise do conteúdo estomacal, diminuição da atividade sérica da acetilcolinesterase (NELSON e COUTO, 2001). Segundo Nicholson (1997), além do histórico, e sinais clínicos a resposta ao tratamento da sustentação ao diagnóstico. A confirmação laboratorial do nível eritrocitário de colinesterase muito baixo reafirma a exposição. A ligação carbamato-colinesterase é rapidamente revertida, o que limita o valor deste procedimento. Alguns laboratórios fazem exames de determinações da colinesterase retiniana e cerebral. Conteúdo gástrico, fígado, urina e pêlo/pele são coletados para análise química dependendo do tipo de exposição. Segundo Nelson e Couto (2001), no tratamento deve-se evitar exposição adicional. Indica-se banhos para remover o prodoto em casos de exposição tópica. Lavagem gástrica e carvão ativado em casos de ingestão. Atropina (0,5 mg/kg IV e 1,5 mg/kg SC conforme necessário de 6-8 horas). Pralidoxima, reativadora da acetilcolinesterase, (20 mg/kg IM duas vezes ao dia) se dentro de 12 horas após a exposição ou se for exposição dérmica. De acordo com Nicholson (1997) no tratamento a resposta à atropina apóia o diagnóstico. Animais cianóticos, gravemente envenenados podem necessitar de oxigênio adicional antes atropinização, para que seja evitada a possível fibrilação ventricular. A atropina é lentamente absorvida (0,2 - 0,4mg/kg) IV lentamente, durante 5 minutos. Pode haver necessidade de dose adicional de atropina em alguns casos, para que seja obtida a resposta desejada. Uma resposta favorável e absorvida dentro de 3 a 5 minutos, constitui-se de ressecamento das membranas mucosas orais e num alívio do broncoespasmo. Para o autor, pode-se repetir a atropina, segundo a necessidade para o controle dos sinais, em doses IV ou SC mais baixas. A recuperação do envenenamento por todo organofosforado não é tão dramática, devido, talvez, à lenta absorção/eliminação do pesticida, e/ou sua retenção no tecido adiposo e retardo na eliminação, como é o caso com o clorpirifós no gato. A manutenção de carvão ativado no trato gastrintestinal, mediante a administração de pequenas doses ao longo de diversos dias poderá “capturar” maiores quantidades do pesticida (que está reciclando através da saliva e da bile). Deve ser evitada a contínua absorção através da pele e pêlos contaminados, ou o retorno ao ambiente contaminado. Difenidramina tem atividade antinicotínica, e pode ter utilidade em cães e gatos. Deve-se considerar os sinais de depressão que podem ser causados pela difenidramina. Cloreto de pralidoxima ( 2- PAM, cloreto de protopam), um reativador da colinesterase, deve ser administrada com solução a 10%, na base de (20 mg/kg) para os gatos (40 mg/kg) para cães IV lenta, ou mesclado a líquido apropriado, ao longo de 30 minutos. A via intramuscular poderá ser utilizada nos tratamentos subseqüentes, caso haja necesidade. Após a exposição a organofosforado, a resposta aos reativadores da colinesterase diminui com o tempo, portanto, o tratamento deverá ter início dentro de 24 a 48 horas. Parece haver algum beneficio decorrente de seu uso em animais que foram envenenados vários dias antes, quando a desenvolvimento de compostos lentamente eliminados, como o clorpirifós (NICHOLSON, 1997). 3.3.1.2 Caso Clínico Nome: Poka Espécie: felina Raça: SRD Sexo: fêmea Idade: 5 meses Peso: 3 Kg Anamnese Paciente foi atendido no HV – UEL pelo pronto socorro (PS), em 14 de agosto, com queixa principal de intoxicação. Proprietária relata que banhou a paciente com Asuntol 50 pó para banhos (coumafós – ectoparasiticida), e desde então paciente com incoordenação, espasmos musculares, êmese e fezes amolecidas. Exame físico Ao exame físico paciente apresentou-se hipotérmico (35°C), com bradicardia (89 bpm), mucosas hipocoradas, ataxia e tremores generalizados. Diagnóstico O diagnóstico definitivo do paciente é de intoxicação por coumafós (organofosforado). Tratamento No ambulatório já foram realizados procedimentos emergências, atropina (0,5 mg/kg) IV e SC como antídoto e diazepam (0,5 mg/kg) devido aos espasmos musculares. Paciente ficou internada com fluidoterapia (Solução glicofisiológica) acrescentado metoclopramida SC a cada 08 horas. Instituído para o controle de êmese. No segundo dia de internamento o tratamento foi mantido e foi acrescentado ranitidina (3mg/kg) SC a cada 08 horas, pois haviam vários relatos de êmese. Foi oferecido alimentação branda, relatos de diurese e normodipsia. No terceiro dia de internamento o tratamento foi mantido e optado pela alta do paciente no final do dia, pois não apresentou mais espasmos musculares e êmese. Já apresenta normoquesia, normorexia e normodipsia. Paciente teve alta e com prescrição para tratamento domiciliar, recomendado ranitidina 15mg/ml, 0,5ml, PO, a cada 12 horas, até novas recomendações. Retorno marcado para uma semana. No retorno, proprietária relatou melhora de 100% do paciente. 3.3.1.3 Discussão Os organofosforados são inseticidas anticolinesterásicos. Os sinais, geralmente, apresentam início dentro de minutos ou até uma hora após a exposição a dose tóxica. O contato dérmico com banhos ou nebulizações pode fazer com que o envenenamento exiba sinais após o lapso de tempo mais longo. O diagnóstico pode ser baseado com o histórico de exposição, sinais característicos, análise do conteúdo estomacal, diminuição da atividade sérica da acetilcolinesterase. No caso relatado, o diagnóstico pôde ser fechado pelo histórico da proprietária ter dado banho no paciente com produto tóxico para gato, além de apresentar alguns sinais característicos de intoxicação. Assim como descrito na literatura, o animal ficou internado recebendo tratamento de suporte, foi realizado antídoto imediatamente (atropina 0,5 mg/kg), foi aplicado apenas uma dose, pois não foi necessário dose adicional. Foi instituído no tratamento a fluidoterapia associando metoclopramida e ranitidina, devido aos relatos de êmese e diazepam, afim de reduzir os espasmos musculares. O clínico poderia também ter optado pela lavagem gástrica com carvão ativado e pela pralidoxima (reativador da colinesterase). 3.4 NEUROLOGIA 3.4.1 Hidrocefalia 3.4.1.1Revisão Bibliográfica Segundo Fenner (1997), a hidrocefalia é um acúmulo patológico de líquido que ocorre no interior do sistema ventricular do cérebro. Este distúrbio pode ser primário ou secundário e nem sempre resulta em sinais clínicos. A hidrocefalia pode ser observada tanto em cães quanto em gatos. De acordo com Nelson e Couto (2001) a hidrocefalia é a condição na qual ocorre aumento do sistema ventricular cerebral secundário ao aumento da quantidade de Líquido Céfalorraquidiano (LCR), com compressão ou atrofia secundárias do tecido neurológico adjacente. A maioria dos casos são congênitos, e as raças de cães com maior risco se incluem em Maltês, Yorkshire Terrier, Bulldog Inglês, Chihuahua, Lhasa Apso, Pomerânia, Poodle Toy, Cairn Terrier, Boston Terrier, Pug, Chow-Chow e Pequinês. A hidrocefalia primária (congênita) se deve aparentemente à incapacidade das vilosidades aracnóides de absorção do LCR, numa intensidade adequada. Outros casos de hidrocefalia congênita envolvem um aqueduto mesencefálico estenosado, havendo obstrução ao fluxo do LCR (FENNER, 1997). A maioria dos animais acometidos possui cabeça obviamente aumentada e fontanelas abertas palpáveis. Deve-se tomar cuidado pois fontanelas abertas e hidrocefalia discreta assintomática podem ser normais em algumas dessas raças (NELSON e COUTO, 2001). De acordo com Fenner (1997) a presença de fontanela aberta nunca deverá ser considerada como diagnóstica de hidrocefalia, porque pode ocorrer como uma variante normal em animais totalmente sadios sob outros aspectos. Os animais com hidrocefalia possuem dificuldade de aprendizado e podem ser vistos entorpecidos ou deprimidos, podem apresentar episódios de comportamento anormal ou demência e cegueira cortical. Convulsões ocorrem em animais com hidrocefalia grave ou naqueles previamente assintomáticos que estão descompensados em razão de trauma leve ou infecção. Os achados possíveis no exame neurológico incluem tetraparesia, reações posturais lentas, propriocepção diminuída e reflexos hiperativos, podendo haver também estrabismo bilateral divergente, conhecido como sinal do “sol poente” (NELSON e COUTO, 2001). Muitos cães hidrocefálicos congênitos apresentam o vértice do crânio protuberante e em fórmula de cúpula (FENNER, 1997). O diagnóstico da hidrocefalia baseia-se nos sinais característicos e nos achados físicos num animal jovem de raça típica (NELSON e COUTO, 2001). De acordo com Fenner (1997) em casos de hidrocefalia primária, as radiografias cranianas podem demonstrar o vértice do crânio delgado. Estes mesmos pacientes perderão o padrão giral ósseo radiográfico. A ventriculografia de contraste diagnosticará definitivamente este distúrbio, mas esta técnica raramente é efetuada, graças à existência de técnicas de obtenção de imagens diagnósticas mais aprimoradas. Se um paciente afetado apresenta-se com a fontanela aberta, poderá ser praticada a ultra-sonografia dos ventrículos, para a demonstração do crescimento ventricular. Para o autor, este procedimento é extremamente útil em casos de hidrocefalia primária. O aumento da pressão é um achado consistente nos casos de hidrocefalia primária, e a coleta de LCR em pacientes com hidrocefalia secundária pode ser perigosa, pois as elevações na pressão poderão resultar numa herniação cerebral. Para Nelson e Couto (2001), a eletroencefalografia, quando disponível, pode garantir um diagnóstico de hidrocefalia, mas as alterações não serão especificas. Se as fontanelas estiverem abertas, o exame ultra-sonográfico do cérebro pode ser realizado através das aberturas, e isto pode determinar o tamanho dos ventrículos laterais e confirmar o diagnóstico. Se as fontanelas forem pequenas ou fechadas, o exame ultra-sonográfico é difícil porém ainda pode ser tentado através do osso temporal. Alternativamente, a pneumoventriculografia pode ser realizada para detectar aumento ventricular ou tomografia computadorizada ou ressonância magnética podem ser realizadas. Se a hidrocefalia grave estiver presente, todos estes são úteis para diagnóstico. Em animais com hidrocefalia leve a moderada, há uma correlação muito pequena entre o tamanho ventricular e os sinais clínicos. O tratamento da hidrocefalia depende do paciente ter a forma primária ou secundária do distúrbio. Se a hidrocefalia é secundária a pressão intracraniana deve ser reduzida, antes que a etiologia subjacente seja tratada. O tratamento prolongado da hidrocefalia primária deve-se através do uso de corticosteróides (prednisona - manutenção), diuréticos (furosemida – diminuem a produção do LCR). A drenagem cirúrgica mostrou-se benéfica em alguns casos. Este procedimento requer a aplicação permanente de desvio ventrículo venoso ou ventriculoperitoneal. Em pacientes muito jovens, a percentagem de complicações cirúrgicas pode ser elevada (FENNER, 1997). De acordo com Nelson e Couto (2001) o tratamento a longo prazo dos sinais neurológicos pode ser tentado utilizando-se corticosteróides (prednisona, 0,5 mg/kg, PO em dias alternados). As convulsões podem ser controladas com terapia anticonvulsivante (diazepam, 0,5-1,0 mg/kg IV e fenobarbital, 1-4 mg/kg, IM a cada 08 horas). Em casos de sinais neurológicos progressivos graves e agudos, é resultado de aumento súbito da pressão intracraniana, deve-se diminuir rapidamente através de drenagem ventricular (fontanelas abertas) retira-se um pequeno volume (0,1 - 0,2ml/kg). Manitol (solução a 20%, 1 a 2g/kg, IV em 30 minutos), furosemida (2 a 4mg/kg, SC a cada 6 horas) e corticosteróides (dexametasona, 0,2mg/kg ou succinato sódico de metilprednisolona, 30mg/kg IV a cada 6 horas) são administrados até que as condições do paciente estejam estabilizadas, é indicado tratamento clínico a longo prazo. O prognóstico no caso de hidrocefalia primária parece ser razoável, se o problema é diagnosticado precocemente, e tratado de modo apropriado. Os animais afetados podem ficar sempre embotados, mostrando pouca capacidade de aprendizado, mas podem tornar-se animais de companhia aceitáveis (FENNER, 1997). 3.4.1.2 Caso Clínico Nome: Dafni Espécie: canina Raça: lhasa apso Sexo: fêmea Idade: 1,3 anos Peso: 4 Kg Anamnese Paciente foi atendido HV - UEL em 24 de agosto, com queixa principal de alterações comportamentais, andar em círculos e convulsão a cada 15 dias e paciente fica prostrado por 2 dias. Proprietária relata que adquiriu a paciente aos 4 meses de idade, paciente já tinha histórico de convulsão desde o nascimento e logo começou a ser tratada por outro médico veterinário com Gardenal gotas (fenobarbital). Ao decorrer do tempo as crises aumentaram e a proprietária aumentou a dose de Gardenal. Vacinação e vermifugação em dia. Proprietária relata que paciente apresenta distúrbios comportamentais (depressão x excitação x andar compulsivo x agressividade). A antiga proprietária relata que a paciente havia sido rejeitada pela mãe, era bem menor que o resto da ninhada e demorou para nascer os dentes. Exame físico Ao exame físico paciente apresentou-se prostrada, com taquipnéia e agressividade. Não foi possível realizar exame neurológico na paciente. Foi coletado material para exames complementares (hemograma, bioquímica hepática, glicemia, colesterol, proteínas totais e albumina) e pedido a proprietária que levasse a um laboratório particular para realizar a dosagem de fenobarbital. E retornasse ao HV o resultado do exame. Exames complementares Os exames revelaram alterações compatíveis para um animal que recebe fenobarbital (FA elevada e trombocitopenia) porém como os níveis séricos deste estão abaixo do recomendado foi decidido suspender o fenobarbital e acompanhar a paciente. Tratamento Foi orientado a proprietária realizar diazepam via retal (VR) em caso de convulsão e retornar ao HV. Esclarecido a proprietária que as principais suspeitas são de hidrocefalia ou lissencefalia e o prognóstico destas. No retorno, após quatro dias, proprietária relata que a paciente piorou com a suspensão do fenobarbital. Relata descontrole da paciente, quedas, claudicação dos membros pelvicos, agressividade. A proprietária administrou 1 comprimido de diazepam 10 mg e paciente não se locomove. Exame físico Ao exame físico paciente permaneceu a maior parte do tempo em decúbito esternal, se movimenta com dificuldade e claudica do membro pélvico esquerdo e sente dor. Foi observado também dor em região cervical. Exames complementares Foi realizado RX do crânio e foi possível visualizar displasia de occipital. O que pode ser um achado clínico que possivelmente pode estar relacionado com hidrocefalia e até com siringomielia. A prova do quadro pode ser um distúrbio de comportamento relacionado com a sub dose de fenobarbital. Tratamento Decidido reiniciar o tratamento com fenobarbital e introduzir corticóide na impossibilidade de diagnóstico mais apropriado (tomografia computadorizada ou ressonância magnética), todavia ciente que caso seja hidrocefalia a paciente será beneficiada se for lissencefalia não haverá melhora, nem piora. Foi prescrito tratamento para casa. Retornar em uma semana. • Meticortem 5 mg/kg: (prednisona) ¼ cp, PO, BID, até novas recomendações. • Fenobarbital: 1 gota, PO, BID, até novas recomendações Retornou ao HV – UEL após uma semana, proprietária relata melhora da paciente em estado geral, após 7 dias mudança na dose de Meticortem para cada 24 horas. Diagnóstico O diagnóstico definitivo do paciente até o presente momento é de hidrocefalia. 3.4.1.3 Discussão A hidrocefalia é um acúmulo de líquido que ocorre no interior do sistema ventricular do cérebro. Este distúrbio pode ser primário ou secundário, e nem sempre resulta em sinais clínicos. A maioria dos casos são congênitos, e as raças de cães com maior risco se incluem em Maltês, Yorkshire Terrier, Bulldog Inglês, Chihuahua, Lhasa Apso, Pomerânia, Poodle Toy, Cairn Terrier, Boston Terrier, Pug, Chow-Chow e Pequinês. A hidrocefalia primária (congênita) se deve aparentemente à incapacidade das vilosidades aracnóides de absorção do líquido céfalo raquidiano (LCR), numa intensidade adequada. Outros casos de hidrocefalia congênita envolvem um aqueduto mesencefálico estenosado, havendo obstrução ao fluxo do LCR. Os animais com hidrocefalia possuem dificuldade de aprendizado e podem ser vistos entorpecidos ou deprimidos, podem apresentar episódios de comportamento anormal ou demência e cegueira cortical. Convulsões ocorrem em animais com hidrocefalia grave ou naqueles previamente assintomáticos que estão descompensados em razão de trauma leve ou infecção. Com a falta de recursos, o diagnóstico não pode ser fechado, mas acreditase pelos sinais clínicos, histórico, pela radiografia onde a paciente em questão apresenta displasia de occipital, e pela raça predisposta, que o diagnóstico é de hidrocefalia. Fortalecendo que, não se pode ter como diagnóstico definitivo de hidrocefalia a presença de fontanela aberta, este pode ser um achado até mesmo assintomático nas raças anteriormente citadas. Assim como citado na literatura, o clínico optou pelo fenobarbital e diazepam para o controle das convulsões. Foi optado também pelo uso de corticóide (prednisona) na impossibilidade de diagnóstico mais apropriado (tomografia computadorizada ou ressonância magnética). Após uma semana de tratamento a proprietária relata boa melhora da paciente em estado geral. No entanto, a suspeita de hidrocefalia, após um tratamento com corticóide, fortalece a suspeita. O clínico ainda tem a opção de prescrever diuréticos, como por exemplo, a furosemida, que diminui a produção do LCR. O prognóstico no caso de hidrocefalia primária parece ser razoável, se o problema é diagnosticado precocemente e tratado de modo apropriado. Os animais afetados podem ficar sempre embotados, mostrando pouca capacidade de aprendizado, mas podem tornar-se animais de companhia aceitáveis. 3.5 AFECÇÕES DO TRATO RESPIRATÓRIO 3.5.1 Traqueobronquite Infecciosa Canina 3.5.1.1 Revisão Blibliográfica A Traqueobronquite Infecciosa Canina, ou “tosse dos canis”, é uma doença aguda e altamente contagiosa que se localiza nas vias aéreas. Ela é causada por um ou mais agentes infecciosos, incluindo o adenovírus canino tipo 2 (AVC tipo 2), o vírus da parainfluenza (VPI) e Bordetella bronchiseptica. Outros microorganismos podem estar envolvidos como patógenos secundários (NELSON e COUTO, 2001). A Bordetella bronchiseptica é a causa isolada mais importante da tosse dos canis (MILLER, 1997). O vírus da parainfluenza canina está classificado na família Paramyxoviridae, sendo considerado como parainfluenza do tipo 2 no gênero Paramyxovirus . Este é um vírus de RNA relativamente grande, com um invólucro lipoprotéico. Este vírus é relativamente lábil, e não sobrevive por muito tempo no ambiente. É facilmente inativados por desinfetantes químicos. O adenovírus canino do tipo 2 está classificado na família Adenoviridae. É um vírus de DNA de tamanho médio, sem invólucro lipoprotéico. Este vírus é moderadamente resistente, podendo sobreviver durante meses no ambiente, dependendo da temperatura e umidade. É relativamente sensível ao calor, e pode ser inativado pelo aquecimento até (56°C), a limpeza a vapor quen te é efetiva na desinfecção de canis e utensílios (MILLER, 1997). Tanto o adenovirus quanto a parainfluenza são altamente infecciosos, são prontamente transmitidos por aerossóis. Ambos causam infecções localizadas do trato respiratório, sem que ocorram disseminação para outros sistemas do organismo. Estes agentes virais replicam-se tanto no trato superior quanto no inferior, e são expelidos nas secreções respiratórias. Os bronquíolos são o alvo primário para a infecção por adenovirus tipo 2, a lesão característica causada é descrita como uma bronquiolite necrosante proliferativa. Ocorre uma infiltração celular inflamatória peribronquiolar, seguida por pnemonia intersticial. A reação inflamatória do adenovírus do tipo 2 proporciona ambiente ideal para as infecções bacterianas secundárias, que podem resultar em moléstia fatal. O vírus da parainfluenza canina tem maior afinidade pelos macrófagos alveolares, causando pneumonia intersticial mais uniformemente distribuída. As infecções com o vírus da parainfluenza canina geralmente são inaparentes, e as mortes são raras. Pode ocorrer infecção bacteriana secundária, que contribuirá para uma doença mais grave, havendo ocasionalmente mortes (MILLER, 1997). Os cães acometidos são primeiramente detectado em razão do início súbito de uma tosse grave, produtiva ou improdutiva, que freqüentemente é aumenta por exercício, exitação ou pressão da coleira no pescoço. A tosse pode ser facilmente induzida pela palpação da traquéia. Ânsia de vômito e secreção nasal também podem estar presentes (NELSON e COUTO, 2001). Para Miller (1997), a principal manifestação da infecção pelo vírus da parainfluenza ou adenovirus é a tosse paroxística de frequência e intensidade variável. A tosse resulta da irritação a nível traqueobrônquico-bronquiolar do trato respiratório. Para o autor, a traqueobronquite infecciosa é, patologicamente, doença do trato respiratório inferior. Geralmente os cães recuperam-se da traqueobronquite induzida viralmente dentro de 3 a 7 dias do surgimento dos sinais clínicos. A recuperação corresponde ao desenvolvimento da imunidade à infecção viral. A resposta imune faz com que a multiplicação viral fique sob controle, ocorrendo a cessação da eliminação viral. De acordo com Nelson e Couto (2001), o diagnóstico para os casos de tosse dos canis não complicada é baseado nos sinais presentes. A avaliação clinicopatológica, incluindo hemograma completo, radiografias torácicas e análise do líquido de lavados traqueais, é indicada para cães com sinais sugestivos de doença mais séria e para aqueles com sinais não resolvidos. O hemograma e os achados das radiografias torácicas são discretos em cães com traqueobronquite descomplicada. A evidência de inflamação aguda é vista nas amostras do líquido de lavados traqueais. A cultura bacteriana do líquido pode ser utilizada para identificar quaisquer bactérias envolvidas na doença, e a informação paralela dos testes de sensibilidade é útil na seleção dos antibióticos, particularmente em animais que não respondem à terapia inicial. Para Miller (1997), não se pode firmar um diagnóstico etiológico de traqueobronquite induzida por vírus com base apenas nos sinais clínicos. Para o autor, o diagnóstico etiológico depende do isolamento e identificação do vírus, ou da demonstração de título ascendente dos anticorpos contra vírus específico, em soros pareados. Não ocorrem alterações clinicopatológicas consistentes que ajudem no estabelecimento da causa. Em termos práticos não há a necessidade do estabelecimento da etiologia, visto que o tratamento dos casos clínicos é o mesmo, independente da causa viral. Não existem medicamentos antivirais ou agentes quimioterápicos específicos para tratamento de infecções virais por adenovirus e parainfluenza. Em sua maioria, os animais recuperam-se espontaneamente sem que ocorram complicações ou seqüelas. O tratamento com antibióticos de amplo espectro está indicado quando há evidencia de infecção bacteriana secundária. Existem vacinas com vírus atenuado tanto para o adenovirus quanto para a parainfluenza. As vacinas induzem imunidade que ajuda na prevenção da infecção e moléstia (MILLER, 1997). Para Nelson e Couto (2001), a traqueobronquiete infecciosa não complicada é uma doença autolimitante. O tratamento é baseado em descanso por no mínimo sete dias para minimizar a irritação contínua das vias aéreas causadas pela tosse excessiva, mais especificamente evitando-se exercício e excitação. Os supressores da tosse são valiosos pela mesma razão, mais não deveram ser dados se a tosse for do tipo produtiva ou se houver suspeita de liquido nos pulmões com base na auscultação ou nos achados radiográficos torácicos. Há uma variedade de supressores da tosse que pode ser utilizada em cães. O dextrometorfano é um supressor brando disponível de venda livre. Os remédios contra resfriados contendo ingredientes adicionais como anti- histamínicos e descongestionantes devem ser evitados. Os preparados líquidos de uso pediátricos são palatáveis para a maioria dos cães, e o álcool contido nessas formulas também possuem ligeiro efeito tranqüilizante (NELSON e COUTO, 2001). O butorfanol e o bitartarato de hidrocodona são supressores potenciais da tosse que também pode ser utilizados em cães. Doses altas podem ser sedativas. A hidrocodona está disponível em combinação com um agente parassimpatolítico, o metilbrometo de homatropina (NELSON e COUTO, 2001). Segundo Nelson e Couto (2001), teoricamente os antibióticos não estão indicados para a maioria dos cães com traqueobronquite infecciosa porque, primeiro a doença usualmente é autolimitante e tende a se resolver de modo espontâneo, independentemente de qualquer tratamento específico implementado, segundo porque nenhum protocolo antibiótico foi confirmado para a eliminação de microorganismos Bordetella das vias aéreas. Na prática, freqüentemente, são prescritos antibióticos, e o seu uso é justificado com base no papel potencial da Bordetella na enfermidade. Portanto deve-se considerar na seleção do antibiótico a sua capacidade de alcançar o epitélio bronquial e as secreções de vias aéreas, pelo fato da bactéria estar presente nos cílios das células epiteliais respiratórias. Os antibióticos que são eficazes contra muitas amostras de Bordetella incluem doxiciclina (5 a 10 mg/kg a cada 8 horas), cloranfenicol (50 mg/kg a cada 8 horas), enrofloxacina (2,5 a 5 mg/kg a cada 12 horas) e amoxicilina com clavulanato (20 a 25 mg/kg a cada 8 horas). Os dados de sensibilidade bacteriana do líquido obtido do lavado traqueal podem ser utilizados para orientar a seleção do antibiótico apropriado, esses devem ser administrados por 5 dias após a resolução dos sinais clínicos ou por no mínimo 10 dias. Corticosteróides não devem ser usados. Um teste de campo conduzido por Thusfield (1991) não demonstrou nenhum benefício da terapia esteróide, tanto isoladamente como combinada com antibióticos. O prognóstico para a recuperação da traqueobronquite infecciosa não complicada é excelente (MILLER, 1997; NELSON e COUTO, 2001). A traqueobronquite infecciosa canina pode ser evitada por meio de redução da exposição do animal aos microorganismos e por programas completos de vacinação (MILLER, 1997; NELSON e COUTO, 2001). 3.5.1.2 Caso Clínico Nome: Pelucia Espécie: canina Raça: SRD Sexo: fêmea Idade: 2 anos Peso: 10,6 Kg Anamnese Paciente foi atendido no HV - UEL em 30 de agosto, com queixa principal de tosse. Proprietária relata tosse seca e baixa há uma semana e ânsia de vômito. Vacinação e vermifugação atrasados. A paciente convive com mais 14 cães sendo que 8 deles também apresentavam tosse, porém melhoraram sozinhos. Exame físico Ao exame físico paciente apresentou-se hipertérmico (39,5°C). No decorrer do exame não apresentou nada digno de nota. Foi coletado material para realização de exames complementares (Hemograma, RX). Exames complementares - Hemograma: trombocitopenia, leucopenia com neutropenia; - RX: pulmão: quadro intersticial; Suspeita-se de traqueobronquite infecciosa canina “tosse dos canis”, já que outros animais da casa também apresentavam tosse talvez associada a pnemonia bacteriana. No hemograma há trombocitopenia, leucopenia com neutropenia, foi pensado em hemoparasitas, porém proprietário nega histórico de carrapatos. Foi iniciado tratamento ambulatorial com imidocarb (5mg/kg) SC. Diagnóstico O diagnóstico definitivo do paciente é de Traqueobronquite Infecciosa Canina. Tratamento Foi prescrito tratamento para casa: • Doxiciclina 10 mg/kg: 1 cp, PO, BID até novas recomendações • Drontal Plus: (febantel) 1cp, PO, dose única. Paciente retornou ao HV – UEL cinco dias após o ínicio do tratamento, ainda com a doxiciclina, proprietário relata que paciente não tem mais tosse. Retornou após quinze dias de tratamento, não apresentando tosse. Foi administrada a segunda aplicação de imidocarb (5 mg/kg) SC. Proprietário suspendeu o tratamento com doxiciclina. Foi coletado material para realização de exames complementares (Hemograma). No resultado, valores obtidos dentro dos valores normais de referência. Paciente com alta clínica. 3.5.1.3 Discussão A Traqueobronquite Infecciosa Canina, vulgarmente conhecida como “tosse dos canis”, é uma enfermidade de cães que acomete o sistema respiratório. Os agentes causadores são o Adenovírus tipo 2, Parainfluenza vírus e a Bordetella bronchiseptica, além de alguns fatores ambientais que freqüentemente estão envolvidos. É uma doença aguda, altamente infecciosa e pode atingir cães de diferentes faixas etárias, dando origem a episódios de tosse associada a uma dificuldade respiratória acentuada. A traqueobronquite infecciosa canina pode ser dividida em: traqueobronquite complicada e traqueobronquite não-complicada (caso relatado). Geralmente o diagnóstico é clínico, baseado nos sintomas e histórico do animal. Hemogramas, radiografias e citologias das vias aéreas geralmente não são dignos de nota, ou revelam achados inespecíficos. No hemograma do caso em questão há trombocitopenia, leucopenia com neutropenia; foi suspeitado de hemoparasitas, proprietáio negou histórico de carrapatos, porém foi feito a primeira aplicação de imidocarb (hemoparasiticida). Como profilaxia foi prescrito vermífugo para a paciente em questão. No caso relatado, o diagnóstico pôde ser fechado também pelo fato de que o animal em questão, além de apresentar alguns sinais característicos, como tosse, os outros animais da casa também apresentavam o mesmo sinal (tosse) talvez associada a pnemonia bacteriateriana. Na radiografia do pulmão do caso em questão: apresentou um quadro intersticial. Não existem medicamentos antivirais ou agentes quimioterápicos específicos para tratamento de infecções virais por adenovirus e parainfluenza. Os antibióticos não estão indicados para a maioria dos cães com traqueobronquite infecciosa porque, primeiro a doença usualmente é autolimitante e tende a se resolver de modo espontâneo, independentemente de qualquer tratamento específico implementado, porém, freqüentemente, são prescritos antibióticos, e o seu uso é justificado com base no papel potencial da Bordetella na enfermidade. Portanto deve-se considerar na seleção do antibiótico a sua capacidade de alcançar o epitélio bronquial e as secreções de vias aéreas. Os antibióticos que são eficazes contra muitas amostras de Bordetella incluem doxiciclina (5 a 10 mg/kg a cada 8 horas), cloranfenicol (50 mg/kg a cada 8 horas), enrofloxacina (2,5 a 5 mg/kg a cada 12 horas) e amoxicilina com clavulanato (20 a 25 mg/kg a cada 8 horas). O clínico optou pelo uso da doxiciclina, pois essa alcança boas condições em trato respiratório, na dose de 10 mg/kg a cada 12 horas. Obteve-se ótima resposta ao tratamento. O proprietário deve ser orientado à respeito da profilaxia da traqueobronquite infecciosa canina que pode ser evitada por meio da redução da exposição do animal aos microorganismos e por programas de vacinação. Boa nutrição, vermifugação rotineira, higiene adequada e exclusão de estresse aumentam a capacidade do cão de responder adequadamente à infecção. 3.6 DOENÇA IMUNOMEDIADA 3.6.1 Meningite Responsiva aos Corticosteróides 3.6.1.1 Revisão Bibliográfica A meningite responsiva a corticosteróides ocorre em cães jovens de raças de médio a grande porte, podendo ser a forma de meningite de ocorrência mais freqüente em cães (FENNER, 1997). A etiologia é desconhecida, entretanto é provável algum mecanismo imunomediado, pois não foi identificado um agente causal, e os animais afetados melhoram, quando tratados com corticosteróides. Um teste positivo do coagulo de líquido encefálico, pode ser indicador de processo imunomediado, foi detectado em diversos animais (FENNER, 1997). Em um estudo, não foram detectados anticorpos antinucleares nos cães. Foi sugerido que repetidas vacinações com vacinas polivalentes com vírus vivo modificado poderiam ser a causa da doença imunomediada, por sensibilizar o hospedeiro aos agentes virais. Isto pode explicar a doença em cães jovens, que geralmente recebem várias vacinações no primeiro ano de vida (FENNER, 1997; NELSON e COUTO, 2001). Os sinais clínicos incluem febre, rigidez cervical e dor vertebral. Os cães acometidos apresentam-se alertas e sistemicamente normais. É raro haver déficits neurológicos, mas podem ocorrer em cães que não recebem tratamento. (NELSON e COUTO, 2001). De acordo com Fenner (1997), além desses sinais o animal pode apresentar também relutância em se mover, dorso arqueado, espasmos musculares. Noventa por cento dos cães afetados apresentam-se com neutrofilia matura no sangue periférico. O diagnóstico é confirmado com base na análise do Líquido Cefálo Raquidiano (LCR) que mostra aumento de proteína e pleocitose neutrofílica grave (em geral > 500 células/µl; 75 a 100% de neutrófilos), porém no ínicio da evolução da doença o LCR pode estar normal. O LCR de cães colhidos após o tratamento inicial com corticosteróide pode mostrar contagens celulares intensamente diminuídas e um predomínio de células mononucleares em 24 a 48 horas (NELSON e COUTO, 2001). Segundo Fenner (1997), a leucometria do LCR pode estar normal, ou pode variar de 50 até mais de 3000 células/µl, ocorrendo predominantemente neutrófilos maturos. Ocasionalmente, uma amostra isolada de LCR pode estar normal. Com maior freqüência, a concentração de proteína no LCR está aumentada (40-350 mg/dl). As culturas para bactérias e fungos do LCR, urina e sangue estão negativas (CHRISMAN, 1985; FENNER, 1997; NELSON e COUTO, 2001). Pela análise do LCR é difícil a diferenciação de meningite responsiva a corticóide e meningoencefalomielite (MEG). A diferenciação pode ser considerada clinicamente, pois a MEG é observada geralmente em cães mais idosos. E tem uma porcentagem mais elevada de células mononucleares no LCR (FENNER, 1997). Segundo Nelson e Couto (2001), os sinais clínicos não respondem à antibioticoterapia, embora uma seqüência alternada de agravamentos e melhoras no início da doença possa dar a impressão de estar havendo resposta ao antibiótico. Observa-se alívio consistente e rápido da febre e da dor quando se institui o tratamento com corticosteróide. Os cães que não são tratados no início da evolução da doença podem desenvolver déficits neurológicos associados a fibrose meníngea e infartos medulares, animais em que o tratamento pode não eliminar todos os sinais clínicos. De início os corticosteróides devem ser administrados em dosagens imunossupressoras (prednisona na dose de 2 a 4mg/kg/dia). O tratamento com corticosteróides deve passar a ser administrado em dias alternados, com dosagens decrescentes no período de 1 a 2 meses. Na maioria dos casos não é necessária terapia de longo prazo com corticosteróides. A redução lenta e gradativa é apropriada em cães que apresentam recidiva. A terapia por 4 a 6 meses pode ser necessária, mas o prognóstico em termos de sobrevida e resolução completa é excelente. Para Fenner (1997), no início do tratamento é administrado corticosteróide numa dose suficiente para produção de remissão dos sinais clínicos (prednisona, 1 a 2 mg/kg/dia). Os corticosteróides serão lentamente reduzidos ao longo de diversos meses, até a dose mais baixa necessária para a manutenção da remissão dos sinais clínicos. É preferível o tratamento de manutenção, utilizando doses em dias alternados. Aproximadamente 50% dos animais afetados apresentam recidiva dos sinais clínicos, em seguida à interrupção da terapia por corticosteróide. Pode haver necessidade do aumento da dose de corticosteróide, se os sinais clínicos recidivarem. Pode haver necessidade de tratamento por até 6 meses, para que não ocorra a recidiva dos sinais clínicos. Para o autor, de modo ideal, deverá ser efetuada nova punção para a obtenção de LCR, e os resultados da análise deverão estar situados dentro dos limites normais, antes que o tratamento seja interrompido. O prognóstico é bom para a resolução eventual dos sinais clínicos. O tratamento com antibióticos pode ser indicado inicialmente, se não há certeza do diagnóstico, e se há suspeita de meningite bacteriana. 3.6.1.2 Caso Clínico Nome: Babilina Espécie: canina Raça: Pitt Bull Sexo: fêmea Idade: 9 meses Peso: 17,5 Kg Anamnese Paciente foi atendido no HV – UEL em 07 de agosto, com queixa principal de êmese e convulsão há uma hora atrás. Proprietário relata há possibilidade de corpo estranho, pois a paciente ingeriu um pote de iogurte há três dias atrás e desde então iniciou os episódios de êmese. Vacinação e vermifugação em dia. Exame físico Ao exame físico foi observado secreção nasal, decúbito lateral, aumento vulvar, membros torácicos espasticos, rigidez cervical. Foi optado por internar a paciente e coletado material para exames complementares (Hemograma). - Hemograma: valores obtidos dentro da referência; Tratamento Foi instituído fluidoterapia (Ringer com lactato) associado a KCL 10%, cimetidina (10 mg/kg) IV a cada 08 horas e em caso de convulsão diazepam (0,5 mg/kg). No dia seguinte o tratamento foi mantido, não teve relatos de convulsão e êmese. Foi coletado material para alguns exames complementares (Albumina, colesterol, função renal, bioquímica hepática). Obteve-se os seguintes resultados: - Albumina: valores obtidos dentro da referência; - Colesterol: valores obtidos dentro da referência; - Uréia: valores obtidos dentro da referência; - Creatinina: valores obtidos dentro do limite inferior da referência; - ALT: valores obtidos dentro da referência; - FA: valores obtidos dentro da referência; No terceiro dia de internamento, foi mantido o tratamento e realizado RX pois o paciente apresentava hiperestesia de membros torácicos e rigidez cervical há 3 dias. Na radiografia não há sinais evidentes de fratura, luxação vertebral ou discoespondilite na projeção. No quarto dia de internamento, manteve-se o tratamento pelo período da manhã. Foi coletado líquor para análise. O Laboratório de Patologia Clínica analisou o LCR que revelou xantacromia (hemorragia prévia) e aumento do número de leucócitos. A grande quantidade de hemácias foi atribuída à colheita. Pensa-se em doença inflamatória, compressão ou trauma. - Meningite responsiva ao corticósteróide - Meningite bacteriana - Encefalomielite - Neoplasia Após o resultado do líquor, acrescentou-se ao tratamento cetoprofeno 0,5 mg/kg SC a cada 24 horas e sulfametoxazol IV a cada 12 horas. No quinto dia de internamento foi mantido o tratamento, sendo suspenso o cetoprofeno e iniciou o tratamento com prednisona 1 mg/kg PO a cada 24 horas. Relatos de diurese, normoquesia, normorexia e êmese. No sexto dia de internamento manteve-se o tratamento. Paciente apático e em decúbito lateral, a espasticidade dos membros torácicos e pescoço diminuíram, mas ainda apresenta rigidez cervical e desvio para esquerda. Sem relatos de êmese. No sétimo e oitavo dia de internamento, paciente em bom estado geral, sendo que neste último ficou sem a fluidoterapia, manteve-se apenas com as medicações. Paciente teve alta e o tratamento continuará em casa, com as seguintes medicações: QUADRO 02: TRATAMENTO PRESCRITO PARA MENINGITE RESPONSIVA A CORTICOSTERÓIDE Medicamento Volume Via Posologia Duração Bactrim¹ 2,7 ml PO BID ANR² Prednisona 20 mg ¾ cp PO BID 4 DIAS Prednisona 20 mg ½ cp PO BID 3 DIAS • Bactrim¹: (sulfametoxazol) • ANR ²: até novas recomendações Diagnóstico O diagnóstico definitivo do paciente é meningite responsiva ao corticosteróide. Retornou ao HV – UEL após uma semana, não teve nenhum episódio de êmese. Está sendo medicada com Bactrim e prednisona 20mg em nova dose, ¼ cp, PO, BID, durante 15 dias. Após 15 dias, foi suspenso o Bactrim e a prednisona passou a ser administrada a cada 24 horas. Na seqüência dos retornos a dose da prednisona será diminuída e passará ser administrada a cada 48 horas. 3.6.1.3 Discussão A meningite responsiva a corticosteróides ocorre em cães jovens de raças de médio a grande porte, podendo ser a forma de meningite de ocorrência mais freqüente em cães. A etiologia é desconhecida porém acredita-se em algum mecanismo imunomediado. No caso relatado, o diagnóstico pôde ser fechado pelo fato de o animal em questão, além de apresentar alguns sinais característicos da doença, foram realizados exames que confirmaram o diagnóstico, pois seus resultados também foram característicos da doença. Os sinais clínicos incluem febre, rigidez cervical, dor vertebral, relutância em se mover, costas arqueadas e espasmos musculares. É raro haver déficits neurológicos, mas podem ocorrer em cães que não recebem tratamento. O diagnóstico é confirmado com base na análise do Líquido Cefálo Raquidiano (LCR) que mostra aumento de proteína e pleocitose neutrofílica grave. Na radiografia não há sinais evidentes de fratura, luxação vertebral ou discoespondilite na projeção. Como tratamento de suporte foi instituído a fluidoterapia com associação de diazepam para o controle da convulsão e cimetidina, devido ao quadro de gastrite, pois havia relatos de ingestão de corpo estranho. Assim como descrito em uma das literaturas consultadas, o tratamento foi baseado no uso da prednisona na dose de 1 a 2 mg/kg/dia. E esta dose deverá ser lentamente reduzido ao longo de diversos meses. Em uma outra literatura, o autor também opta pela utilização de prednisona, porém em dose imunossupressora (2 a 4 mg/kg/dia). Neste caso foi utilizado prednisona na dose de 1 mg/kg/dia. Obteve-se ótimos resultados. O clínico optou pelo uso de antibiótico, a literatura cita que não há melhora com o uso de antibiótico, e deve ser optado pelo uso em caso de suspeita de meningite bacteriana. 3.7 ONCOLOGIA 3.7.1 Hemangiossarcoma 3.7.1.1 Revisão Bibliográfica Os hemangiossarcomas (HSA) são neoplasias malignas que se originam do endotélio vascular. Em diversos estudos, eles representam de 0,3 a 2% de todas as necropsias caninas e aproximadamente 7% de todas as malignidades. Ocorrem predominantemente em cães mais velhos (8 a 10 anos de idade) e em machos, as raças mais predispostas são Pastor Alemão e Golden Retriver. É raro em gatos (WEISER, 1997). De acordo coma maioria dos autores, o HSA representa a neoplasia mais comum nos tecidos esplênicos coletados durante a esplenectomia em cães (WEISER, 1997). O baço, o átrio direito e o subcutâneo são locais comuns de apresentação (NELSON e COUTO, 2001). Em geral, o comportamento biológico desta neoplasia é altamente agressivo, tanto com relação a infiltração como com relação a metástases, que ocorrem precocemente no curso da doença na maioria das formas anatômicas de apresentação (NELSON e COUTO, 2001). Os sinais clínicos e achados físicos em cães com HSA esplênico são vagos e inespecíficos: anorexia, perda de peso, astenia, palidez e vômito. A grande maioria de cães com HSA esplênico é examinado devido à ruptura do neoplasia primária ou de suas metástases (WEISER, 1997). Geralmente as lesões metastáticas são encontradas no fígado, omento, peritônio, baço, rins, coração e pulmões. Em geral é formado o diagnóstico presuntivo de HSA com base nos sinais clínicos, por exemplo, colapso agudo, distensão abdominal, e achados físicos, por exemplo, massa em região medial ou cranial do abdômen, num cão com hemoabdômen, achados radiográficos e/ou ultra-sonográficos e anormalidades hematológicas (WEISER, 1997). Foram revisados os achados hematológicos em cães com HSA. As anormalidades seguintes foram detectadas em 10 cães com HSA esplênico ou hepático, para os quais foram obtidos hemogramas completos: anemia (8 cães), regenerativa cinco dos animais, presença de eritrócitos nucleados no esfregaço sanguíneo, pecilocitose (9 cães), presença de ancatócitos (9 cães) e esquistócitos (8 cães); presença de corpúsculos de Howell Jolly (6 cães) trombocitopenia (9 cães) e neutrofilia (7 cães). Dois dos cães com trombocitopenia apresentavam produtos da degradação da fibrina detectáveis na circulação. A trombocitopenia e anemia por fragmentação provavelmente se devem a alterações microangiopáticas no leito vascular tumoral, embora também seja comum a ocorrência da coagulação intravascular disseminada (CID) (WEISER, 1997). A anormalidade hemostática mais comum em cães com hemangiossarcoma é a trombocitopenia, 50% dos cães atendem aos critérios para o diagnóstico de CID. O tamanho do tumor pode não se correlacionar com as anormalidades hemostáticas (WEISER, 1997). De acordo com Nelson e Couto (2001) os hemangiossarcomas podem ser citologicamente diagnosticados com base na aparência dos aspirados com agulha fina ou esfregaços por impressão. As células neoplásicas são semelhantes às de outros sarcomas, nos quais são fusiformes, possuem núcleos grandes com padrão de cromatina frouxa e um ou mais nucléolos e citoplasma azulado geralmente vacuolizado. Os locais metastáticos podem ser detectados radiograficamente ou por ultra-sonografia. E os exames de rotina incluem-se hemograma, perfil bioquímico sérico, painel de hemostasia, urinálise, radiografias torácicas e abdominais, ultrasonografia abdominal e ecocardiografia, sendo que esta última é utilizada para identificar massas cardíacas e para a determinação da fração e de encurtamento de referência antes de se instituir a quimioterapia contendo doxorrubicina (NELSON e COUTO, 2001). A ultra-sonografia constitui um método confiável para avaliar cães com HSA confirmado ou suspeitado para doença intra-abdominal. As lesões neoplásicas aparecem como nódulos de ecogenicidade diversificada, variando de anecóicos para hiperecóicos. As metástases hepáticas podem freqüentemente ser identificadas utilizando-se esta técnica de imagem. Contudo, deve-se ter em mente que os nódulos metastáticos no fígado de cães com massas esplênicas podem representar hiperplasia regenerativa, em vez de lesões metastáticas verdadeiras (NELSON e COUTO, 2001). Em um estudo, a esplenectomia em cães com HSA resultou numa sobrevida mediana de 65 dias (média: 80 dias), quando a cirurgia foi seguida por imunoterapia adjuvante (sendo utilizada para tal uma vacina bacteriana mista), a sobrevida mediana passou a ser de 91 dias (média: 143 dias), quando foram empregados a imunoterapia pós-operatória adjuvante e quimioterapia com vincristina (0,0125 mg/kg IV, uma vez por semana), ciclofosfamida (1 mg/kg PO uma vez ao dia) e metotrexato (0,4 a 0,6 mg/kg IV uma vez por semana) a sobrevida mediana foi de 117 dias (média: 148 dias). Este estudo concluiu não ter havido melhora significativa na sobrevida, em decorrência da quimioterapia ou da imunoterapia em cães com HSA (WEISER, 1997). 3.7.1.2 Caso Clínico Nome: Kuma Espécie: canina Raça: Fila brasileiro Sexo: macho Idade: 3 anos Peso: 40 Kg Anamnese Paciente foi atendido no HV – UEL em 02 de agosto, com queixa principal de aumento de volume em região submandibular. Quadro agudo e progressivo há vinte dias. Proprietário relata que há uma semana paciente com hiporexia e apatia. A vacinação está atrasada e vermífugo foi realizado há 8 dias. Alimenta-se de ração e comida caseira. Exame físico Ao exame físico paciente em decúbito lateral permantente, apresentou discreta dispnéia mista expiratória restritiva, dor à palpação abdominal e encontrou-se aumento de volume em região epigástrica, suspeitando-se de organomegalia ou massa, apresentou também edema em membros pélvicos, aumento de volume do linfonodo submandibular esquerdo. Foi coletado material para a realização de exames complementares (hemograma, proteínas totais, albumina, contagem de reticulócitos, RX tórax e abdômen, punção de linfonodos para análise). Exames complementares - Hemograma: leucocitose com neutrofilia e linfopenia; - Presença de Howell Jolly (+), anisocitose (++), policromasia (++); - Trombocitopenia; - Contagem de reticulócitos: anemia arregenerativa; - Proteínas totais: dentro do limite inferior do valor de referência; - Albumina: 1,95 g/dl (2,1 – 4,3 g/dl); Laudo do laboratório de Anatomia Patológica Citologia de linfonodo submandibular esquerdo: Pequena quantidade de células linfóides com predomínio de linfócitos maduros, vários apresentando citoplasma e muitos plasmócitos. Células binucleadas e mitoses típicas e atípicas. Uma das lâminas apresenta um grupo de células de origem indeterminada com acentuada anaplasia. Conclusão: Suspeito de linfonodo histopatológico se possível. reativo. Sugere-se realização de exame Laudo Radiográfico Abdômen: presença de estrutura de radiopacidade heterogênea em região mesogástrica direita deslocando alças intestinais caudo-lateralmente massa intestinal (?), massa mesentérica (?), aderência (?), massa pancreática (?), abcesso (?). Discreta quantidade de fluido abdominal livre. Tórax: quadro pulmonar bronco – intersticial difuso, severo. Tratamento Foi recomendado que o paciente ficasse internado para observação e realização de exames complementares. Foi instituído enrofloxacina 2,5% (5mg/kg) por via subcutânea (SC) a cada 24 horas. No segundo dia de internamento foi coletado material para avaliação da bioquímica hepática. Onde foram obtidos os seguintes resultados: • ALT: 4,0 U/L (17 – 87 U/L) • FA: 42 U/L (12 – 100 U/L) Institui-se fluidoterapia com (Solução fisiológica) associada a enrofloxacina 2,5% (5mg/kg) SC a cada 24 horas e imidocarb (5mg/kg) SC dose única, (hemoparasiticida) devido ao baixo número de plaquetas. Obteve-se relatos de normorexia e poliúria. No terceiro dia de internamento foi mantido o tratamento, porém adicionado furosemida (2mg/kg) IV a cada 12 horas afim de reduzir o edema. Foi solicitado a troca de decúbito a cada 2 horas. Obteve-se relatos de poliúria com coloração amarelo escuro, polidipsia, normoquesia. Foi indicado ao proprietário a eutanásia devido a possível causa de neoplasia associada à progressão rápida e prognóstico desfavorável. Laudo do laboratório de Anatomia Patológica Descrição macroscópia e/ou microscopia: - Hidropericárdio, hidroperitônio (líquido serosanguinolento); - Esplenomegalia (nódulo branco acinzentado ao corte em porção cranial de baço); - Linfoadenomegalia (submandibular medindo ≅ 15 x 20 φ) coloração branco acinzentado ao corte. Perda do padrão cortico-medular. - Enfisema , atelectasia, edema, antracose pulmonar. - Ulceração, necrose da mucosa gástrica, esofágica (porção distal) e duodenal, área de perfuração gástrica. - Intestino: aspecto granuloso na serosa intestinal, aumento de linfonodos mesentéricos, aumento e congestão do mesentério. Mucosa intestinal com hemorragia. Aumento ou lesão das placas de Peyer. - Rim: coloração avermelhada, áreas esbranquiçadas na córtex e medular. - Edema subcutâneo acentuado. - Múltiplos nódulos pequenos no pulmão (0,1cm φ). Conclusão: Causa da morte: eutanásia Fígado, linfonodos, pulmão: sugestivo de fibro histiocitoma maligno Baço: hemangiossarcoma. 3.7.1.3 Discussão O hemangiossarcoma é uma neoplasia vascular maligna com muitas células endoteliais pleomórficas e imaturas que formam espaços vasculares ocupados por sangue, ou massas celulares sólidas. Ocorre em várias espécies, sendo mais freqüente em cães, de porte médio a grande e machos. O baço é freqüentemente o local de origem de neoplasias endoteliais. O comportamento biológico desta neoplasia é altamente agressivo, tanto com relação a infiltração como com relação a metástases, que ocorrem precocemente no curso da doença na maioria das formas anatômicas de apresentação. No caso relatado, foi optado por internar o paciente para obter-se um diagnóstico definitivo. Enquanto aguardávamos os resultados de exame, foi instituído tratamento sintomático, mas não houve melhora. Na hematologia, o animal apresentava anemia, devido à hemorragia possível ruptura de um nódulo no baço. A linfopenia pode ser justificada pela liberação de cortocosteróides, e também é comum em certas neoplasias em estado avançado. A presença de corpúsculos de Howell Jolly também parece ser característico desta neoplasia. A trombocitopenia é o resultado da hemorragia crônica, e pelo fato que o baço canino armazena um grande número de plaquetas. Na radiografia de abdômen foi confirmada presença de estrutura de radiopacidade heterogênea em região mesogástrica direita deslocando alças intestinais caudo-lateralmente. Confirmando a suspeita do clínico de massa. Na radiografia de tórax foi confirmado quadro pulmonar bronco – intersticial difuso, severo, o qual foi suspeitado de metástase. Mediante a esse caso clínico, no qual o paciente não tinha mais uma boa qualidade de vida, foi aconselhado ao proprietário a eutanásia do paciente, devido a possível causa de neoplasia associada à progressão rápida e prognóstico desfavorável. 4 CONCLUSÃO Ao acompanhar o estágio curricular obrigatório em um hospital escola, permitiu que eu colocasse em prática muitos conceitos teóricos acompanhados ao longo dos cinco anos de graduação. O estágio realizado no HV – UEL proporcionou uma oportunidade valiosa para a formação de conceitos básicos, diagnósticos, diagnósticos diferenciais e terapias. Além dos acompanhamentos de atendimento de diversas moléstias freqüentemente não encontradas na rotina normal, o que se deve à grande e variada casuística de um hospital escola. O período de estágio curricular foi extremamente gratificante em termos de aprendizado e experiência profissional. O contato diário com profissionais, proprietários e animais permitiu que houvesse a certificação plena da escolha da área de atuação, além da formação de uma mentalidade profissional mais crítica e madura. 5 REFERÊNCIAS CARLOTTI, Didier Noel. Malassezia Dermatitis in the Dog. World Small Animal Veterinary Association. Mexico. May 2005. Disponível em: http://www.vin.com/proceedings/Proceedings.plx . Acesso em 01 nov. 2006. CENTER, Sharon A. Fisiopatologia, Diagnóstico Laboratorial e Afecções do Fígado. In___: ETTINGER, Stephen J.; FELDMAN, Edward C.Tratado de Medicina Interna Veterinária. 4 ed. São Paulo: Manole, 1997. p.1842, 1795. CONCEIÇÃO, Lissandro Gonçalves; FABRIS, Viciany Erique. Piodermite Canina. Revista Cães & Gatos. n 86. Porto Feliz – SP, nov/dez. 2000. COUTO, Guillermo C., HAMMER, Alan S.. Afecções dos Linfonodos e Baço. In: ETTINGER, Stephen J.; FELDMAN, Edward C.Tratado de Medicina Interna Veterinária. 4 ed. São Paulo: Manole, 1997. p.2681,2682 DUARTE, Ricardo; USHIKOSHI, Wagner Sato. Encefalopatia Hepática em Cães. Bol. Méd. Vet. – UNIPINHAL, v.1, n.1., Espírito Santo do Pinhal, jan/dez. 2005. FENNER, Willian R.. Moléstias do Cérebro. In___: ETTINGER, Stephen J.; FELDMAN, Edward C.Tratado de Medicina Interna Veterinária. 4 ed. São Paulo: Manole, 1997. p.870, 871. JONES, Thomas Carlyle; HUNT, Ronald Duncan; KING, Norval W. Sistema Hêmico Linfático. In___: Patologia Veterinária. 6. ed. São Paulo: Manole, 2000. p. 958, 1006, 1007, 1444. MACHADO, Mauro Luis S.; et al. Dermatologia. Revista Clínica Veterinária. n. 44, p. 27-34. Rio Grande do Sul - RS, 2003. MEDLEAU, Linda; HNILICA, Keith A. Dermatologia de Pequenos Animais. São Paulo: Roca, 2003. MULLER, George H.; KIRK, Robert, W. Doenças Bacterianas da pele. In___: Dermatologia de Pequenos Animais. 6. ed. Rio de Janeiro: Interlivros, 1996. p. 269-271 NELSON, Richard W.; COUTO, C. Guillermo. Distúrbios da Cavidade Bucal, da faringe e do esôfago. In___: Medicina Interna de Pequenos Animais. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. p. 324. NELSON, Richard W.; COUTO, C. Guillermo. Doenças Hepatobiliares do cão. In___: Medicina Interna de Pequenos Animais. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. p. 420. NELSON, Richard W.; COUTO, C. Guillermo. Distúrbios do Peritônio. In___: Medicina Interna de Pequenos Animais. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. p. 372. NELSON, Richard W.; COUTO, C. Guillermo. Encefalite, Mielite e Meningite. In___: Medicina Interna de Pequenos Animais. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. p. 790. NELSON, Richard W.; COUTO, C. Guillermo. Convulsões. In___: Medicina Interna de Pequenos Animais. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. p. 775,777. NELSON, Richard W.; COUTO, C. Guillermo. Manifestações Clínicas das doenças hepatobiliares. In___: Medicina Interna de Pequenos Animais. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. p. 384. NELSON, Richard W.; COUTO, C. Guillermo. Distúrbios da traquéia e dos brônquios. In___: Medicina Interna de Pequenos Animais. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. p. 226. NICHOLSON, Steven S.. Toxicologia. In___: ETTINGER, Stephen J.; FELDMAN, Edward C.Tratado de Medicina Interna Veterinária. 4 ed. São Paulo: Manole, 1997. p.447. SANDOVAL, Jane Guimarães; et al. Complexo Granuloma Eosinofílico em felinos: Revisão de Literatura, v.2, n.2 São Paulo, 2005. Disponível em: http://www.editoradaulbra.com.br/revistaveterinariaemfoco. Acesso em: 11 out. 2006. SMITH, M. Mark. Distúrbios da Cavidade oral e das glândulas salivares. In___: ETTINGER, Stephen J.; FELDMAN, Edward C.Tratado de Medicina Interna Veterinária. 4 ed. São Paulo: Manole, 1997. p.1507-1509. SWANGO, Larry J.. Moléstias Virais Caninas. In___: ETTINGER, Stephen J.; FELDMAN, Edward C.Tratado de Medicina Interna Veterinária. 4 ed. São Paulo: Manole, 1997. p.581-584. THOMSON, R. G..Neoplasia. In___: Patologia Geral Veterinária.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1983. p. 295, 313. VIANA, Fernando A., Guia Terapêutico Veterinário. Lagoa Santa – MG: CEM, 2003. WOODARD, James Carroll. Sistema Esquelético. In___: JONES, Thomas Carlyle; HUNT, Ronald Duncan; KING, Norval W.. Patologia Veterinária. 6. ed. São Paulo: Manole, 2000. p. 959.