ISSN 0034-7280 Revista Brasileira de Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA Publicação bimestral Publicação bimestral vol. 66 - nº 5 - Setembro/Outubro 2007 Exposição cirúrgica da esclera adelgaçada na rinosporidiose conjuntival Indexada na LILACS 291 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA Indexada na LILACS Disponível eletronicamente no site: www.sboportal.org.br Publicação bimestral Editor Chefe Riuitiro Yamane - Niterói - RJ Co-editores Arlindo José Freire Portes - Rio de Janeiro - RJ Newton Kara José - São Paulo - SP Roberto Lorens Marback - Salvador - BA Silvana Artioli Schellini - Botucatu - SP Corpo Editorial Internacional Baruch D. Kuppermann - Califórnia - EUA Christopher Rapuano - Filadélfia - EUA Felipe A. A. Medeiros - Califórnia - EUA Howard Fine - Eugene - EUA Jean-Jacques De Laey - Ghent - Bélgica Lawrence P. Chong - Califórnia - EUA Miguel Burnier Jr. - Montreal - Canadá Peter Laibson - Filadélfia - EUA Steve Arshinoff - Toronto - Canadá Daniel Grigera - Olivos - Argentina Curt Hartleben Martkin - Colina Roma - México Felix Gil Carrasco - México - México Corpo Editorial Nacional Abelardo de Souza Couto Jr. - Rio de Janeiro - RJ Acacio Muralha Neto - Rio de Janeiro - RJ Adalmir Morterá Dantas - Niterói- RJ Ana Luisa Hofling de Lima - São Paulo - SP Antonio Augusto Velasco E. Cruz - Ribeirão Preto - SP Ari de Souza Pena - Niterói - RJ Armando Stefano Crema - Rio de Janeiro - RJ Carlos Alexandre de Amorim Garcia - Natal - RN Carlos Augusto Moreira Jr. - Curitiba - PR Carlos Ramos de Souza Dias - São Paulo - SP Celso Marra Pereira - Rio de Janeiro - RJ Denise de Freitas - São Paulo - SP Edmundo Frota de Almeida Sobrinho - Belém - PA Eduardo Cunha de Souza - São Paulo - SP Eduardo Ferrari Marback - Salvador - BA Fernando Cançado Trindade - Belo Horizonte - MG Fernando Oréfice - Belo Horizonte - MG Flavio Rezende - Rio de Janeiro - RJ Francisco de Assis Cordeiro Barbosa - Recife - PE Francisco Grupenmacher - Curitiba - PR Francisco Valter da Justa Freitas - Fortaleza - CE Giovanni N.U.I. Colombini - Rio de Janeiro - RJ Guilherme Herzog Neto - Rio de Janeiro - RJ Rev Bras Oftalmol, v. 66, n. 5, p. 291-362, Set/Out. 2007 Haroldo Vieira de Moraes Jr. - Rio de Janeiro - RJ Helena Parente Solari - Niterói - RJ Henderson Celestino de Almeida - Belo Horizonte - MG Hilton Arcoverde G. de Medeiros - Brasília - DF Homero Gusmão de Almeida - Belo Horizonte - MG Italo Mundialino Marcon - Porto Alegre - RS Jacó Lavinsky - Porto Alegre - RS João Borges Fortes Filho - Porto Alegre - RS João Luiz Lobo Ferreira - Florianópolis - SC João Orlando Ribeiro Gonçalves - Teresina - PI Joaquim Marinho de Queiroz - Belém - PA José Ricardo Carvalho L. Rehder - São Paulo - SP Laurentino Biccas Neto - Vitória- ES Leiria de Andrade Neto - Fortaleza - CE Liana Maria V. de O. Ventura - Recife - PE Manuel Augusto Pereira Vilela - Porto Alegre - RS Marcelo Palis Ventura - Niterói - RJ Marcio Bittar Nehemy - Belo Horizonte - MG Marco Antonio Rey de Faria - Natal - RN Marcos Pereira de Ávila - Goiânia - GO Maria de Lourdes Veronese Rodrigues - Ribeirão Preto - SP Maria Rosa Bet de Moraes Silva - Botucatu - SP Mário Luiz Ribeiro Monteiro - São Paulo - SP Mário Martins dos Santos Motta - Rio de Janeiro - RJ Miguel Ângelo Padilha Velasco - Rio de Janeiro - RJ Milton Ruiz Alves - São Paulo - SP Nassim da Silveira Calixto - Belo Horizonte - MG Octávio Moura Brasil do Amaral Fº. - Rio de Janeiro - RJ Oswaldo Moura Brasil - Rio de Janeiro - RJ Paulo Augusto de Arruda Mello - São Paulo - SP Paulo Schor - São Paulo - SP Raul Nunes Galvarro Vianna - Niterói - RJ Remo Susanna Jr. - São Paulo - SP Renato Ambrósio Jr. - Rio de Janeiro - RJ Renato Luiz Nahoum Curi - Niterói - RJ Rogério Alves Costa - Araraquara - SP Rubens Camargo Siqueira - S. José do Rio Preto - SP Sebastião Cronemberger - Belo Horizonte - MG Sérgio Henrique S. Meirelles - Rio de Janeiro - RJ Suel Abujâmra - São Paulo - SP Tadeu Cvintal - São Paulo - SP Valênio Peres França - Nova Lima - MG Virgílio Augusto M. Centurion - São Paulo - SP Walton Nosé - São Paulo - SP Wesley Ribeiro Campos - Passos - MG Yoshifumi Yamane - Rio de Janeiro - RJ Redação: Rua São Salvador, 107 Laranjeiras CEP 22231-170 Rio de Janeiro - RJ Tel: (0xx21) 3235-9220 Fax: (0xx21) 2205-2240 Tiragem: 5.000 exemplares Edição: Bimestral Secretaria: Juliana Matheus Editoração Eletrônica: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsável: Marco Antonio Pinto DG 25341RJ Publicidade: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsável: João Diniz Revisão: Eliana de Souza FENAJ-RP 15638/71/05 Normalização: Edna Terezinha Rother Assinatura Anual: R$240,00 ou US$210,00 292 ISSN 0034-7280 Revista Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras - CEP 22231-170 - Rio de Janeiro - RJ Tels: (0xx21) 3235-9220 - Fax: (0xx21) 2205-2240 - e-mail: [email protected] - www.sboportal.org.br Revista Brasileira de Oftalmologia, ISSN 0034-7280, é uma publicação bimestral da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Diretoria da SBO 2007-2008 Presidente Luiz Carlos Pereira Portes Vice-presidente Mário Martins dos Santos Motta Vices presidentes regionais Jacó Lavinsky Luiz Gonzaga Cardoso Nogueira Márcio Bittar Nehemy Newton Kara José Secretário Geral Gilberto dos Passos 1º Secretário Guilherme Herzog Neto 2º Secretário Armando Stefano Crema Tesoureiro Mário Hideo Nagao Diretor de Cursos Sérgio Henrique S. Meirelles Diretor de Publicações Riuitiro Yamane Diretor de Biblioteca Octávio Moura Brasil Conselho Consultivo Carlos Fernando Ferreira Flávio Rezende, Miguel Ângelo Padilha Oswaldo Moura Brasil Paiva Gonçalves Filho Yoshifumi Yamane Conselho Fiscal Fernando Dantas Coutinho Luiz Augusto Morizot Leite Filho Marcus Vinícius Abbud Safady Suplentes José Augusto de Lima Mizael Augusto Pinto Rogério Neurauter SOCIEDADES FILIADAS A SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA Associação Brasileira de Banco de Olhos e Transplante de Córnea Presidente: Dr. Ari de Souza Pena Sociedade Catarinense de Oftalmologia Presidente: Dr. Ademar Valsechi Associação Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Dra. Maria Regina Vieira A. Marques Sociedade Goiana de Oftalmologia Presidente: Dr. Solimar Moisés de Souza Associação Pan-Americana de Banco de Olhos Presidente: Dr. Elcio Hideo Sato Associação Paranaense de Oftalmologia Presidente: Dra. Tânia Mara Schaefer Associação Sul Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Dra. Cristina Rebello Hilgert Associação Sul-Mineira de Oftalmologia Presidente: Dr. Elias Donato Sociedade Alagoana de Oftalmologia Presidente: Dr. Jack Arnold Oliveira Lima Sociedade Brasileira de Administração em Oftalmologia Presidente: Dr. Renato Ambrósio Jr. Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares Presidente: Dr. Durval Moraes de Carvalho Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular Presidente: Dra. Ana Estela Besteti P. P. Sant’Anna Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa Presidente: Dr. Waldir Portelinha Sociedade Maranhense de Oftalmologia Presidente: Dr. Mauro César Viana de Oliveira Sociedade de Oftalmologia da Bahia Presidente: Dra. Cláudia Galvão Brochado Sociedade de Oftalmologia do Ceará Presidente: Dr. Sérgio Augusto Carvalho Pereira Sociedade Norte Nordeste de Oftalmologia Presidente: Dr. Luiz Nogueira Sociedade de Oftalmologia do Nordeste Mineiro Presidente: Dr. Mauro César Gobira Guimarães Sociedade de Oftalmologia de Pernambuco Presidente: Dr. Paulo Josse Suassuna de Medeiros Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Norte Presidente: Dr. Uchoandro Bezerra Costa Uchôa Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul Presidente: Dr. Afonso Reichel Pereira Sociedade Brasileira de Ecografia em Oftalmologia Presidente: Dr. Celso Klejnberg Sociedade Paraibana de Oftalmologia Presidente: Dr. Ivandemberg Velloso Meira Lima Sociedade de Oftalmologia do Amazonas Presidente: Dr. Manuel Neuzimar Pinheiro Junior Sociedade Paraense de Oftalmologia Presidente: Dr. Ofir Dias Vieira Sociedade Capixaba de Oftalmologia Presidente: Dr. Konstantin Márcio Gonçalves Sociedade Sergipana de Oftalmologia Presidente: Dr. Joel Carvalhal Borges 293 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA Fundada em 01 de junho de 1942 CODEN: RBOFA9 Indexada na LILACS Disponível eletronicamente no site: www.sboportal.org.br Publicação bimestral Rev Bras Oftalmol, v. 66, n.5, p. 291-362, Set/Out. 2007 Sumário - Contents Editorial 295 O que a Revista Brasileira de Oftalmologia busca para a Oftalmologia brasileira Riuitiro Yamane, Edna Terezinha Rother e Arlindo José Freire Portes Artigos originais 297 Prevalência de erros refrativos em escolares da primeira série do ensino fundamental da região Nordeste do Rio Grande do Sul Prevalence of refractive errors in first grade school children of elementary schools of Northeast region of the Rio Grande do Sul State, Brazil Paulo Estacia, Leandro Mazzoleni Stramari, Silvia Bassani Schuch, Danielle Negrello, Luciane Donato 304 Prevalência das ametropias e oftalmopatias em crianças pré-escolares e escolares em favelas do Alto da Boa Vista, Rio de Janeiro, Brasil Prevalence of the ametropias and eye diseases in preschool and school children of Alto da Boa Vista favelas, Rio de Janeiro, Brazil Abelardo de Souza Couto Júnior, Guilherme Ramos Pinto, Daniel Almeida de Oliveira, Dieniffer Holzmeister, André Luiz Freire Portes, Rogério Neurauter, Arlindo José Freire Portes 309 Comparação entre as medidas da espessura central corneana usando a paquimetria óptica e a ultra-sônica Comparison between the measurements of central corneal thickness using optic and ultrasonic pachymeters Aline Leonel Maimone, Nelson Maimone, Robson Marcelo Rossi 315 Efeito da remoção seletiva da sutura no astigmatismo nos transplantes de córnea pós-ceratocone The effect of selective suture removal on astigmatism following penetrating keratoplasty in keratoconus Fernando Moro, Érica Galúcio, Ediberto de Magalhães, Karine Borges Marques Moysés, Victor Coronado Antunes, Tadeu Cvintal 294 321 Eficácia da ciclosporina 0,05% na prevenção da perda endotelial no transplante de córnea Efficacy of cyclosporine 0.05% for preventing endothelial loss in corneal transplant Fernando Moro, Ediberto de Magalhães, Érica Galúcio, Karine Moysés, Victor Coronado Antunes, Tadeu Cvintal 327 Avaliação do uso de colírio no paciente portador de glaucoma Evaluation of the use of eye drops in patients with glaucoma Renato Dichetti dos Reis Lisboa, Fabíola Rosa Picosse, Paulo Augusto de Arruda Mello, Augusto Paranhos Junior 332 Estenose adquirida do ponto lacrimal - conduta Acquired external punctal stenosis - management Erick Marcet Santiago de Macedo, Rachel Carmargo Carneiro, Suzana Matayoshi Relato de caso 337 Afilamento escleral em paciente com rinosporidiose conjuntival Scleral thinning in a patient with conjunctival rhinosporidiosis Patrick Frensel de Moraes Tzelikis, Herval Cavalcante Martins, Graziella Vilela, Leonardo Akaishi 341 Telangiectasia retiniana parafoveal unilateral Unilateral Parafoveal Retinal Telangiectasis 345 Importância da tomografia de coerência óptica e do eletrorretinograma na retinosquise senil Importance of optical coherence tomography and electroretinogram in senile retinoschisis Mário Martins dos Santos Motta, Jacqueline Coblentz Regina Halfeld Furtado de Mendonça, Otacílio Oliveira Maia Júnior, Fábio Gasparin, Luciana Duarte Rodrigues, Walter Yukihiko Takahashi Artigo de revisão 350 Exame de paciente com doença neurológica Patient examination with neurologic disorders Adalmir Morterá Dantas Instruções aos autores 360 Normas para publicação de artigos na RBO EDITORIAL 295 O que a Revista Brasileira de Oftalmologia busca para a Oftalmologia brasileira A Revista Brasileira de Oftalmologia (RBO) ISSN 0034-7280 é um periódico bimestral da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, que é publicado ininterruptamente desde sua criação, em 1942, e está hoje no seu sexagésimo sexto volume; tem como missão a divulgação do conhecimento científico da oftalmologia brasileira, bem como de suas áreas afins. Representa grande parte da história da publicação brasileira em oftalmologia e já publicou 3.317 artigos de pesquisa, dos quais 1.660 estão disponíveis na base de dados da Literatura LatinoAmericana em Ciências da Saúde (Lilacs), representando a segunda maior revista da América Latina em número de artigos publicados. Segundo dados da SciELO, a Revista Brasileira de Oftalmologia é a oitava revista mais citada nesta base por revista da área, juntamente com citações de revistas de grande impacto internacional, o que demonstra relevância, competência científica e reconhecimento do valor científico de seus artigos para as pesquisas na oftalmologia brasileira. A RBO oferece uma tiragem de 5.000 exemplares impressos para oftalmologistas, bibliotecas nacionais e internacionais e disponibiliza eletronicamente seus artigos desde 2004. A Revista Brasileira de Oftalmologia mantém uma política editorial para aprovação dos artigos para publicação baseada na metodologia de “peer review” (revisão por pares). Todos os artigos submetidos à RBO, após análise pelo corpo editorial, são encaminhados para avaliação por dois ou mais revisores. As sugestões dos revisores são reencaminhadas aos autores para fazerem suas adequações ou justificativas. O anonimato é assegurado em todo o processo de revisão. Para garantir a qualidade editorial das publicações, a Revista é submetida a um revisor de idioma e a um bibliotecário especializado, que faz toda a revisão técnica dos artigos, bem como a análise e correção das citações e referências bibliográficas. Conforme consta nas instruções aos autores, a RBO adota o padrão Vancouver em suas citações e referências, o mesmo adotado por todas as revistas de padrão internacional. A RBO apresenta ampla abrangência e representatividade nacional quanto aos autores de artigos, membros do corpo editorial e conselho científico, com afiliação institucional em todos os fascículos e adequada percentagem de artigos originais publicados por ano. Recentemente, atendendo a todos os requisitos estabelecidos pela Diretoria da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) a RBO foi incluída no Portal de Periódicos da Capes (www.periodicos.capes.gov.br). Desta forma, a versão on-line disponibilizada ao leitor, mostra a capa, sumário e artigos completos da revista. Embora, objetivamente a qualidade de uma revista se expresse pelo seu conteúdo, todos os indexadores e reguladores de publicação científica exigem a normalização como um dos critérios para o registro e inclusão em suas bases de dados. Estamos buscando estar em conformidade com os preceitos e normas atuais de qualidade editorial para preservar e elevar, ainda mais, a credibilidade da RBO. Assim, uma boa notícia é que a RBO foi aprovada na primeira etapa do processo de Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 295-6 296 O que a Revista Brasileira de Oftalmologia busca para a Oftalmologia brasileira seleção e avaliação de periódicos da coleção SciELO Brasil, após a qual será submetida à análise de mérito científico. A indexação da RBO nos bancos de dados, mais do que alterar o seu status junto às agencias de financiamento à pesquisa do governo brasileiro, irá contribuir para ampliar o potencial de publicação e de citações das pesquisas e autores brasileiros. Riuitiro Yamane Editor Chefe da Revista Brasileira de Oftalmologia Professor Titular de Oftalmologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Edna Terezinha Rother Bibliotecária, Editora Técnica de Publicações Científicas Arlindo José Freire Portes Professor Adjunto em Oftalmologia e Saúde da Família da Universidade Estácio de Sá Coordenador do Curso de Educação Médica Continuada da SBO e Co-editor da RBO Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 295-6 ARTIGO ORIGINAL 297 Prevalência de erros refrativos em escolares da primeira série do ensino fundamental da região Nordeste do Rio Grande do Sul Prevalence of refractive errors in first grade school children of elementary schools of Northeast region of the Rio Grande do Sul State, Brazil Paulo Estacia1, Leandro Mazzoleni Stramari2, Silvia Bassani Schuch2, Danielle Negrello2, Luciane Donato2 RESUMO Objetivos: Descrever e analisar a prevalência de erros refrativos em estudantes de primeira série das escolas estaduais de Passo Fundo, cidade pólo da região Nordeste do Rio Grande do Sul. Métodos: Estudo transversal de 1608 alunos da primeira série do ensino fundamental de 26 escolas estaduais de Passo Fundo, atendidas em 2004. Os dados foram coletados no CEAE (Centro Especializado de Assistência ao Educando), que fez a triagem nas escolas, e no serviço especializado, para onde foram encaminhados aqueles com testes alterados.Resultados: Da amostra total, 172 (10,88%) apresentaram baixa de acuidade visual ou algum sintoma de problema visual, recebendo encaminhamento para atendimento oftalmológico. Apenas 88 (51,16%) dos encaminhados compareceram à consulta. A média de idade foi de 7,10 anos (DP= 1,38). Entre as crianças examinadas, 70,46% possuíam algum erro refracional, sendo a hipermetropia e o astigmatismo os mais comuns (encontrado em 45,45% e 10,23% dos alunos examinados, respectivamente). A miopia foi o erro refracional menos prevalente, presente em 10,23% dos escolares atendidos.Conclusão: O estudo mostrou prevalência de 3,92% de erros refrativos na população de escolares estudada, embora a abstenção elevada possa estar subestimando esse percentual. Percebe-se a necessidade da realização de programas que enfoquem uma maior adesão dos alunos ao encaminhamento, na tentativa de evitar o não diagnóstico de problemas oculares facilmente tratáveis na infância. Descritores: Erros de refração/epidemiologia; Acuidade visual; Saúde escolar; Estudantes; Prevalência 1 2 Doutor, Professor de Oftalmologia da Universidade de Passo Fundo – (RS), Brasil; Acadêmicos da Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo – (RS), Brasil. Trabalho realizado na Instituição: Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo - (RS), Brasil. Recebido para publicação em: 20/07/2007 - Aceito para publicação em 28/10/2007 Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 297-303 298 Estacia P, Stramari LM, Schuch SB, Negrello D, Donato L INTRODUÇÃO A visão é responsável pela maioria de nossas impressões sobre o mundo e nossas memórias dele(1), sendo também essencial para o aprendizado intelectual, e pela maior parte da informação sensorial que recebemos do meio externo. A integridade desse meio de percepção é indispensável para o ensino da criança. Com o ingresso na escola, passamos a desenvolver mais intensamente as atividades intelectuais e sociais, diretamente associadas às capacidades psicomotoras e visuais(2). A Organização Mundial da Saúde estima que 45 milhões de pessoas são cegas e ao menos 135 milhões têm incapacidade visual, considerando acuidade visual menor que 0,3 (6/18). Entretanto, 80% dessas baixas visuais são preveníveis ou tratáveis. Projeções estimam que esses números se elevarão a 75 milhões de cegos e 200 milhões de deficientes visuais no ano de 2020 a menos (3-5) que sejam tomadas ações coordenadas urgentes . Essa situação se agrava ainda mais nos países em desenvolvimento, que concentram 90% das pessoas afetadas pela cegueira e visão subnormal, trazendo profun(4,6) das conseqüências humanas e socioeconômicas . Estudos recentes confirmam a existência de grande número de casos de refrações incorretas, sendo constatado que intervenções corretivas são custo-efetivas e afetam positivamente o desenvolvimento econômico e (4) a qualidade de vida . A quase totalidade das crianças em idade escolar nunca passou por exame oftalmológico. Estima-se que 10% dessas crianças necessitam de óculos e 10% apre(7) sentam outro problema oftalmológico . Segundo dados do Ministério da Educação, anualmente matriculam-se no país cerca de 5.800.000 crianças na 1ª série do ensino fundamental, em escolas públicas, sendo que em cada 1.000 escolares do ensino fundamental, 100 são portadores de erros de refração necessitando de correção (hipermetropia, principalmente; astigmatismo e miopia)(7-9). A investigação da prevalência das causas de disfunção visual permite um melhor planejamento de programas oftalmológicos preventivos. A identificação precoce dos problemas oculares na criança, como os erros de refração e o estrabismo, contribui para a prevenção dos (6) danos permanentes à visão binocular .Além disso, o retardo no atendimento às crianças é particularmente danoso pelo atraso ou mesmo déficit irreversível que a criança deficiente visual pode sofrer não sendo estimu(10) lada, educada e/ou reabilitada precocemente . Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 297-303 É, ainda, imprescindível a implementação de programas públicos de saúde ocular para reduzir as conseqüências negativas da prevalência de baixa acuidade visual, uma vez que há falhas no diagnóstico precoce, evidenciada pela alta prevalência observada em escolares não usuários de óculos, sendo também constatado (11) falhas na continuidade da assistência oftalmológica . A identificação de problemas visuais em escolares, dessa forma, é uma abordagem que visa a impedir a evolução da doença e melhorar o aprendizado e o aproveita(2) mento escolar . Localizada no Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, Passo Fundo é considerada cidade pólo de mais de 100 municípios localizados na região. O CEAE (Centro Especializado de Assistência ao Educando) realiza a triagem oftalmológica da rede estadual de ensino de Passo Fundo desde 1995, encaminhando os casos necessários ao serviço oftalmológico especializado. O presente estudo tem o objetivo de verificar a prevalência de erros refrativos em estudantes da primeira série do ensino fundamental das escolas públicas estaduais de Passo Fundo – RS; detectar a ametropia mais comum; verificar se o estudante estava sendo submetido a exame oftalmológico pela primeira vez e analisar a prevalência de alunos que comparecem à consulta especializada após serem encaminhados pela triagem. As informações obtidas são indispensáveis ao planejamento de ações preventivas direcionadas à saúde ocular na região. MÉTODOS A pesquisa consta de um estudo de delineamento transversal para detectar a prevalência de erros refrativos em escolares da cidade de Passo Fundo – RS. As crianças, estudantes da primeira série do ensino fundamental da rede pública estadual, foram examinadas no ano de 2004. O protocolo da pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Passo Fundo (UPF). Seguindo o artigo 1º da lei nº 10.538, de 12 de setembro de 1995, que torna obrigatória a realização do exame oftalmológico nas escolas públicas do estado, o CEAE realiza a triagem na região Nordeste do Rio Grande do Sul. Esta é realizada por médicos clínicos gerais, enfermeiros ou professores devidamente treinados e capacitados, atendendo preferencialmente aos alunos da pré-escola e primeira série do ensino fundamental. No ano de 2004, foram avaliadas 1608 crianças da primeira série em 26 escolas. Prevalência de erros refrativos em escolares da primeira série do ensino fundamental da região ... Como esta é uma atividade de promoção e prevenção à saúde realizada rotineiramente em todas as escolas estaduais de ensino fundamental do município, e o estudo foi realizado com a análise dos prontuários, não foi entregue termo de consentimento aos pais. O exame oftalmológico padrão foi realizado nas escolas, conforme determinação da Norma Técnica e Operacional para Controle dos Distúrbios da Acuidade Visual em Alunos da Escola Pública(12) e incluiu: exame externo, motilidade ocular, convergência e acuidade visual sem e com correção. Para a realização da medida da acuidade visual foi utilizada a tabela optométrica de Snellen.A uma distância de cinco metros da tabela as crianças foram colocadas de modo que seus olhos ficassem ao nível das linhas correspondentes a acuidade visual 2/3 ou 1, sendo cada olho analisado separadamente. As crianças que usavam correção foram examinadas com e sem óculos. (12) De acordo com o Programa de Saúde Escolar , 299 os critérios para encaminhamento foram: acuidade visual inferior a 2/3, em um ou ambos os olhos, com ou sem sintomas e/ou sinais, em crianças de qualquer idade; acuidade visual igual a 2/3, em um ou ambos os olhos, com ou sem sintomas e/ou sinais, em crianças com mais de 10 anos de idade; acuidade visual normal, em ambos os olhos, mas com sintomas e/ou sinais sugestivos de dificuldade visual, em crianças de qualquer idade; estrabismo. Dessas crianças triadas, as com dificuldades visuais foram encaminhadas para consulta oftalmológica padrão, realizada por médicos oftalmologistas. O exame oftalmológico foi realizado sem custos para os pais ou responsáveis. Foram compilados os dados (fornecidos pelo CEAE e pelo atendimento especializado) dos escolares da primeira série das escolas públicas estaduais de Pas- Figura 1: Seguimento dos participantes durante triagem nas escolas, encaminhamento ao especialista e comparecimento à consulta oftalmológica; ametropias encontradas nos alunos atendidos Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 297-303 300 Estacia P, Stramari LM, Schuch SB, Negrello D, Donato L Tabela 1 Transtornos de refração observados nos escolares da 1ª série das escolas estaduais de Passo Fundo atendidos em consulta oftalmológica no ano de 2004 CID 10 (H52)* Hipermetropia Miopia Astigmatismo Ambliopia (ansiometropia) Sem alterações (emétropes) Total n % 40 9 13 0 26 88 45,45 10,23 14,77 0 29,54 100 *Nomenclatura de acordo com o CID-10 - Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde - Décima Revisão. so Fundo no ano de 2004.Analisou-se idade, sexo, se era a primeira consulta ao oftalmologista, acuidade visual, refração e a conduta médica. Os dados coletados foram processados e analisados utilizando-se o programa ® Microsoft Office – Excel for Windows . RESULTADOS Foram analisadas 26 escolas da rede estadual, sendo que uma escola e uma turma de outra escola foram excluídas do estudo por não terem fornecido o registro da avaliação visual dos escolares. Do total de 1608 crianças submetidas ao exame de triagem, 27 foram perdidas para o estudo por terem sido transferidos da escola ou por evasão, resultando em uma amostra válida de 1581 alunos, sendo 53,01% (854) pertencentes ao sexo masculino. Da amostra total, 172 (10,88%) apresentaram baixa de acuidade visual ou algum sintoma de proble- Figura 2: Condutas médicas tomadas após atendimento especializado Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 297-303 ma visual, sendo encaminhados para atendimento oftalmológico. No entanto, apenas 88 (51,16%) dos encaminhados compareceram à consulta na data e hora marcadas, o que corresponde a 5,56% do total de alunos pesquisados. Na ocasião do exame, 72 alunos (81,81% daqueles atendidos pelo oftalmologista) relataram ser aquela sua primeira consulta oftalmológica. Os escolares encontravam-se numa faixa etária entre 6 e 14 anos, sendo a média de idade de 7,10 anos (DP= 1,38). Das crianças examinadas, 46 (52,27%) eram do sexo feminino. Entre as crianças examinadas, 70,46% possuíam algum erro refracional. A hipermetropia foi o mais comum, sendo encontrado em 40 alunos (45,45%), sendo que 27 destes alunos tinham astigmatismo associado. Astigmatismo isolado foi o segundo erro refracional mais comum, encontrado em 13 alunos (14,77%). A miopia foi o erro refracional menos prevalente, presente em 9 escolares (10,23%), sendo que 8 destes míopes apresentavam astigmatismo associado (Figura 1; Tabela 1). Em 50% dos atendimentos (44 alunos), não foram prescritos óculos, seja pelo aluno não possuir erros de refração (59,09%) ou por apresentarem alteração de grau igual ou menor que meia dioptria (40,1%). Já em 36,36% dos casos atendidos foram prescritas lentes corretivas, e em 11,36% foi orientada a manutenção da correção em uso. Em 2,27% dos casos (2 alunos), foi orientada a correção cirúrgica de estrabismo (Figura 2). DISCUSSÃO A amostra final de 1581 alunos se denota representativa da população escolar de primeira série das escolas estaduais de Passo Fundo, uma vez que representa 98,32% dos escolares dessas turmas no ano de 2004. Foi observado que 10,88% dos alunos atendidos Prevalência de erros refrativos em escolares da primeira série do ensino fundamental da região ... durante a triagem receberam o encaminhamento ao médico oftalmologista. Outros trabalhos realizados em turmas de primeira série do ensino fundamental rela(2) (9) tam valores de 15,1% e 17,1% de encaminhamentos, mostrando que o número encontrado em Passo Fundo foi relativamente mais baixo que o encontrado em outros locais do país. Entretanto, a metodologia usada para a realização da triagem e encaminhamento ao serviço especializado difere entre os estudos, o que prejudica a comparação entre eles. Além do mais, os profissionais podem ter diferentes formas de realização do exame, o que leva a diferenças estatísticas quando em debate os resultados de alterações visuais, que apresentam grandes variações de prevalência(11). Em estudo realizado em Pernambuco, no ano de 2001(6), os erros refrativos foram diagnosticados em 63,9% da população alvo. Essa alta prevalência se deve ao fato de os componentes da amostra terem procurado atendimento especializado por apresentarem algum sintoma de alteração visual, diferindo do presente estudo, que avaliou alunos que não apresentavam necessariamente queixas visuais. Dos alunos encaminhados (10,88%), somente 51,16% compareceram à consulta oftalmológica, mesmo sendo um atendimento de referência e gratuito, apresentou uma abstenção de mais de 48%. Esse alto índice de abstenção ao atendimento também foi verificado em outros locais do país, como em Londrina (24,6% na rede (9) (11) pública e 30,6% na rede privada) , Sorocaba (11,9%) (13) e São Paulo (mais de 50%) . Isso pode ser atribuído a diversos fatores, como a falta de consciência da importância de submeter as crianças a um atendimento (9) oftalmológico por parte dos pais ou responsáveis , a dificuldade de transporte, pouca orientação e perda do dia de trabalho, como relatado por pais dos escolares no (13) município de São Paulo . Isso pode acarretar em perdas tanto para as crianças quanto para o sistema público de saúde, uma vez que é muito mais fácil e barato corrigir os problemas oculares antes que eles avancem para algo mais grave e irrecuperável, haja vista que mais de 90% dos problemas oftalmológicos podem ser evitados ou minorados com ações preventivas simples, além de constituir uma importante contribuição no combate aos elevados índices de repetência e evasão que tanto casti(7-8) gam a 1ª série . Além disso, essa elevada taxa de absenteísmo pode ser responsável por uma subestimação do resultado, caso se tenha ausentado no dia da avaliação uma proporção maior de indivíduos com baixa acuidade visual(11). Dos alunos atendidos em serviço especializado, 81,81% relataram ser aquela sua primeira consulta oftalmológica, valor semelhante ao encontrado em al- 301 (9) (13) guns estudos, que relatam 85,5% e 67,8% de primeiras consultas de alunos de escolas públicas. Esse alto índice encontrado denota a necessidade da conscientização dos pais ou responsáveis quanto à procura de atendimento especializado precocemente, antes mesmo da idade escolar e independente da participação da escola, na tentativa de evitar complicações de doenças oculares facilmente tratáveis(9). Entre os escolares atendidos, 70,46% tinham reais alterações refracionais, sendo que os 29,54% restantes eram emétropes. Esse valor de alterações visuais representa 3,92% da população total estudada, um valor relativamente baixo, ao se considerar que o Ministério da Saúde estima valores em torno de 10% de escolares do país que necessitam correção refracional com lentes(7,8). Em (9) estudo realizado em Londrina – PR foi constatado que 37,6% dos alunos das escolas estaduais, encaminhados ao serviço oftalmológico, apresentavam erro refracional, o que representa 4,86% do total estudado. Já em Ibiporã, também no Paraná, foram encontrados 31,23% dos escolares encaminhados com alterações refracionais, repre(14) sentando 4,56% da amostra . Considerando um contexto mundial, a prevalência dos erros refrativos denota-se ainda menor na população de escolares, dependendo do local estudado, sendo apresentadas taxas de 1,01% na Tanzânia(15) e 1,6% na Coréia do Sul(16). O erro refracional mais comum entre os escolares foi a hipermetropia, encontrada em 45,45% dos alunos, seguido de astigmatismo isolado (14,77%) e miopia (10,23%). O astigmatismo também foi encontrado associado à hipermetropia e miopia, respectivamente em 30,68% e 9,09% do total de estudados. Essa seqüência de prevalência de erros refracionais se repete em diver(7-8,13,17) sos trabalhos , sendo que em alguns a miopia se mostra mais prevalente que o astigmatismo isolado(6,14). (17) Garcia et al. mostraram que 79,15% apresentavam hipermetropia com ou sem associação com astigmatismo, valor alto quando comparado ao presente estudo, que encontrou 45,45% de prevalência. Contudo, Schimiti et (14) al. encontraram um valor mais próximo ao encontrado em Passo Fundo, de 46,2%. (16) Em estudo realizado em Seul, na Coréia do Sul , os distúrbios refracionais mais comuns foram o astigmatismo miópico e o astigmatismo hipermetrópico, enquanto na Tanzânia se observou que quase todos os alunos com erro refracional significativo eram míopes(15,18), o que, em análise comparativa com o Brasil, mostra que existem muitas alterações quanto à prevalência desses distúrbios nas diferentes populações mundiais. Em relação à conduta médica após o exame, 50% Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 297-303 302 Estacia P, Stramari LM, Schuch SB, Negrello D, Donato L dos escolares foram orientados a manter-se sem uso de refração. Destes, 59,09% eram de fato emétropes, enquanto os 40,9% restantes possuíam um erro refrativo igual ou menor que 0,5 dioptrias, não sendo necessária a correção. Isso se deve ao fato de que a hipermetropia débil é considerada fisiológica, motivo pelo qual as hipermetopias de +1,00 dioptrias ou menores não devem ser corrigidas na criança, assim como no caso de um astigmatismo bem tolerado, sem manifestações funcio(19) nais, onde se torna dispensável a correção com lentes . Programas de prevenção aos distúrbios da visão mostram-se efetivos na medida em que detectam precocemente alterações oculares nos escolares, permitindo adequadas formas de correção e tratamento de tais transtornos e melhorando o aprendizado dessas crianças. Esses programas devem ser valorizados pelo fácil acesso à população, fato comprovado pelo baixo custo conferido aos órgãos de saúde pública no atendimento precoce, o que certamente dispensa gastos excessivos posteriores com problemas oftalmológicos. Não se pode deixar de salientar que o comprometimento visual acarreta restrições de ordem social, econômica e ocupacional. Os pais representam uma importante contribuição ao processo de detecção de distúrbios oftalmológicos, por isso precisam ser orientados a respeito da importância do processo de saúde ocular, incentivando a criança ao comparecimento no atendimento. Isso só será possível se houver uma conscientização, realizada através de campanhas que envolvam os pais, ou esclarecimentos prévios ao encaminhamento dos escolares, para que não ocorra um grau de abstenção tão grande quanto foi detectado em nosso estudo. CONCLUSÃO graders in 26 elementary state schools of Passo Fundo, evaluated in 2004. The data were collected by the CEAE (Specialized Center for Student Assistance), which was in charge of the screening at the schools, and by the specialized service, to which those students with abnormal test results were referred.Results: 172 (10.88%) of the sampled individuals showed poor visual acuity or some symptoms of visual disorders, and were then referred for specialized ophthalmic examination. However, only 88 (51.16%) of the referred patients turned up for the examination. The mean age was 7.10 years (DP= 1,38).Among all evaluated, 70,46% of them had some refractive disorder, of wich hyperopia and astigmatism were the most frequent ones, having been reported in 45.45% and 10.23% of the children, respectively. The myopia were the less frequent refractive disorder, reported in 10,23% of the school children who turned up for examination.Conclusion:The study showed a prevalence of 3,92% of refractive errors in the population studied, although the high abstention can be underestimating this percentage. We can realize, from that on, the need of the creation of programs focused in a bigger adhesion of the students to the reference to a specialized service, in the attempt of avoiding the lack of diagnosis of easily treatable disorders in childhood. Keywords: Refractive errors/epidemiology;Visual acuity; School health; Students; Prevalence Agradecimentos A assistente social Marilene Gatto Bizzotto, do Centro Especializado de Assistência ao Educando Protásio Alves, pelo fornecimento de dados para a execução do presente trabalho. REFERÊNCIAS O estudo mostrou prevalência de 3,92% de erros refrativos na população de escolares de primeira série das escolas estaduais em Passo Fundo no ano de 2004, embora a abstenção elevada possa estar subestimando esse percentual. Percebe-se a necessidade da realização de programas que enfoquem uma maior adesão dos alunos ao encaminhamento, na tentativa de evitar o não diagnóstico de problemas oculares facilmente tratáveis na infância. 4. ABSTRACT 5. Objectives: To describe and analyze the prevalence of refractive errors among first-graders in state schools of Passo Fundo, main city of the northeast region of Rio Grande do Sul State. Methods: Cross-sectional study of 1608 first- Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 297-303 1. 2. 3. 6. Kandel ER, Schwartz JH, Jessel TM, editores. Princípios da neurociência. 4a ed. Barueri. SP: Manole; 2003. Granzoto JA, Ostermann CSPS, Brum LF, Pereira PG, Granzoto T. Avaliação da acuidade visual em escolares da 1ª série do ensino fundamental. Arq Bras Oftalmol. 2003; 66(2):167-71. World Health Organization. Strategies for the prevention of blindness in national programmes: a primary health care approach. 2nd ed. Geneva: World Health Organization; 1997. World Health Organization. Fifty-sixth World Health Assembly (A56/26): Elimination of avoidable blindness. Geneva; WHO; 2003. Gilbert C, Foster A. Childhood blindness in the context of VISION 2020 – the right to sight. Bull World Health Organ. 2001; 79(3):227-32. Albuquerque RC, Alves JGB. Afecções oculares prevalentes em crianças de baixa renda atendidas em um serviço oftalmológico na cidade do Recife - PE, Brasil. Arq Bras Oftalmol. 2003; 66(6):831-4. Prevalência de erros refrativos em escolares da primeira série do ensino fundamental da região ... 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Alves MR, Kara-José N. Manual de orientação. Campanha Veja Bem Brasil. São Paulo: Conselho Brasileiro de Oftalmologia; 1998. Alves MR, Kara-José N. Campanha Nacional de Reabilitação Visual: Manual de Orientação. Conselho Brasileiro de Oftalmologia. São Paulo: CBO; 1999. Lopes GJA, Casella AMB, Chuí CA. Prevalência de acuidade visual reduzida nos alunos da primeira série do ensino fundamental das redes pública estadual e privada de Londrina-PR, no ano de 2000. Arq Bras Oftalmol. 2002; 65(6):659-64. Kara José N, Carvalho KMM, Pereira VL, Venturini NHB, Gasparetto MEFR, Gushiken MT. Estudo retrospectivo dos primeiros 140 casos atendidos na clínica de visão subnormal do Hospital de Clínicas da Unicamp. Arq Bras Oftalmol. 1988; 51(2):65-9. Gianini RJ, Masi E, Coelho EC, Oréfice FR, Moraes RA. Prevalência de baixa acuidade visual em escolares da rede pública, Sorocaba. Rev Saúde Pública = J Public Health. 2004; 38(2):201-8. Moreira AMM, Garcia CP, Scherek CN, Martins CC, Telichevski N, Picon PD, et al. Programa de Saúde Escolar: Controle dos distúrbios da acuidade visual na escola pública [Normas Técnicas e Operacionais]. 2a ed. 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Prevalence of refractive errors in students in Northeastern Brazil. Arq Bras Oftalmol. 2005; 68(3):321-5. 18. Wedner SH, Ross DA, Todd J, Anemona A, Balira R, Foster A. Myopia in secondary school students in Mwanza City, Tanzania: the need for a national screening programme. Br J Ophthalmol. 2002; 86(11):1200-6. Comment in: Br J Ophthalmol. 2003; 87(5):660. 19. Gil del Rio E. Óptica fisiológica clínica: refracción. 4a ed. Barcelona: Toray; 1981. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Leandro Mazzoleni Stramari Rua Teixeira Teixeira de Freitas, nº 231 CEP 99025-140 - Passo Fundo - RS Fone: (54) 9184-2871 E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 297-303 ARTIGO ORIGINAL 304 Prevalência das ametropias e oftalmopatias em crianças pré-escolares e escolares em favelas do Alto da Boa Vista, Rio de Janeiro, Brasil Prevalence of the ametropias and eye diseases in preschool and school children of Alto da Boa Vista favelas, Rio de Janeiro, Brazil Abelardo de Souza Couto Júnior¹, Guilherme Ramos Pinto², Daniel Almeida de Oliveira3, 4 5 6 7 Dieniffer Holzmeister , André Luiz Freire Portes , Rogério Neurauter , Arlindo José Freire Portes RESUMO Objetivo: Estabelecer a prevalência das ametropias e oftalmopatias, no ano de 2001, em população pré-escolar e escolar de favelas do Alto da Boa Vista, Rio de Janeiro, Brasil. Métodos: Estudo observacional do tipo transversal, durante campanha de saúde ocular na rede pública de ensino. Crianças com acuidade visual inferior a 0,8 ou com anormalidades foram triadas por voluntários treinados para serem avaliadas por oftalmologistas no Instituto Benjamin Constant. Resultados: Foam avaliadas 1800 crianças no total. Destas, 306 (17,00 % do total) foram encaminhadas ao IBC. Houve 183 (10,17% do total e 59,80% das triadas) que receberam alta por apresentarem visão melhor que 0,8. A prevalência dos erros refrativos foi de 3,50% (ametropias positivas , 1,78%; ametropias negativas, 1,06% e astigmatismos mistos, 0,67%). A prevalência das oftalmopatias foi de 4,83%. (ambliopia teve prevalência de 2,00%, manifestações do estrabismo, 1,72% e outras causas 1,11%.) Conclusão: Demonstrou-se a prevalência dos principais distúrbios oftalmológicos infantis nas favelas do Alto da Boa Vista e ressaltou-se a necessidade de campanhas para bom êxito no desenvolvimento da acuidade visual das crianças. Descritores: Erros de Refração; Oftalmopatias; Ambliopia; Estrabismo; Saúde escolar; Promoção da saúde; Pré-escolar; Criança ¹ Doutor, Professor Adjunto de Oftalmologia da Faculdade de Medicina de Valença; Coordenador da Residência Médica em Oftalmologia do Instituto Benjamin Constant - IBC; Professor da Pós-graduação em Oftalmologia da Pontifícia Universidade Católica PUC – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; ² Colaborador do Ambulatório de Cirurgia de Catarata e Aperfeiçoando em Glaucoma clínico e Cirúrgico do Serviço de Oftalmologia do Hospital Servidor Público Estadual de São Paulo – São Paulo (SP), Brasil; 3,4 Residentes do Instituto Benjamin Constant – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 5 Doutorando em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da USP; Médico do Serviço de Oftalmologia do Hospital do Bonsucesso – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 6 Master Business Administration, Administração em Oftalmologia pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP; Chefe do Departamento de Oftalmologia do Instituto Benjamim Constant – IBC - Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 7 Doutor, Professor Titular de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da Universidade Estácio de Sá – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Trabalho realizado no Instituto Benjamin Constant – IBC – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Recebido para publicação em: 15/07/2007 - Aceito para publicação em 26/10/2007 Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 304-8 Prevalência das ametropias e oftalmopatias em crianças pré-escolares e escolares em favelas ... INTRODUÇÃO A promoção da saúde ocular é um princípio básico de incremento na qualidade de vida, pois uma melhor capacidade visual permite o desenvolvimento de potencialidades, a melhora no rendi(1-9) mento escolar e a participação plena na sociedade . Segundo estimativa da Organização Mundial de (10) Saúde (OMS) para o ano de 2002 , há quase 36,9 milhões de cegos no mundo. Destes, aproximadamente dois terços são por causas preveníveis e cerca de 1,4 milhões tem menos de quinze anos de idade. De 70 a 80% das crianças portadoras de cegueira morrem durante os primeiros anos de vida em conseqüência de doenças asso(11-12) ciadas ao seu comprometimento visual . Os países em desenvolvimento contribuem com quase a totalidade dos casos de cegueira potencialmente evitáveis(10-12).Há, pela citada estimativa da OMS(10), na região geográfica compreendida pelo Brasil, Barbados e Paraguai, quase 1,4 milhões de cegos e 7,6 milhões de pessoas com baixa visão. No Brasil, existem 98 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual, dos quais 80 milhões não têm acesso a qualquer tratamento(11-12). Observou-se que a ambliopia, a baixa visual uni ou bilateral sem nenhum substrato orgânico detectável pelo exame oftalmológico, é uma das maiores causas de (4,6-9) cegueira prevenível principalmente em crianças . A preocupação em detectar e tratar precocemente problemas oculares que levam a ambliopia em crianças incentivou a criação, em várias partes do mundo, de programas de triagem visual, desde o ingresso da criança na escola, para avaliação por oftalmologistas(2,4,6,8-9,13). Cerca de 85% do aprendizado se faz por meio da visão, contudo, apenas uma parcela inexpressiva dessas crianças é submetida a algum tipo de avaliação oftalmológica em idade pré-escolar. Isso é decorrente de dificuldades sócioeconômicas da família e de acesso a serviços especializados(9,13). Em saúde pública é muito dispendiosa e mesmo inexeqüível a investigação em exame de massa de problemas oculares em crianças por oftalmologistas. Uma das soluções viáveis é a aplicação de triagem por pessoal não-médico, treinado e supervisionado, em populações de escolares, para posterior avaliação por oftalmologistas(2,4-7). Os programas de saúde pública em oftalmologia deveriam priorizar a prevenção de afecções que possam levar à cegueira e à incapacidade visual, a promoção de saúde ocular, a organização de assistência (2,4,7) oftalmológica e a reabilitação de deficientes visuais . Para combater a cegueira deve se ter conhecimento so- 305 bre a prevalência e o fator causal, que variam conforme condições geográficas e sócioeconômicas. O Brasil, pela suas dimensões continentais e diferenças econômicas e culturais nos diversos estados, demanda avaliação ampla para o estabelecimento de programas de prevenção das causas de comprometimento visual infantil. O objetivo deste estudo foi estabelecer a prevalência das ametropias e afecções oculares em população pré-escolar e escolar do Alto da Boa Vista no ano de 2001, a fim de demonstrar a importância das campanhas de prevenção de cegueira para a análise da prevalência e prevenção das causas de cegueira e orientação de política comunitária de saúde ocular. MÉTODOS Foi realizado um estudo observacional do tipo transversal em 2001, durante campanha de saúde ocular nas favelas do Alto da Boa Vista, na cidade do Rio de Janeiro, em crianças da rede pública de ensino. Foram realizados exames de triagem ocular por voluntários treinados, que consistiam na aferição da acuidade visual através da tabela de Snellen e avaliação ocular externa com lupa e lanterna, em todas as crianças que estudavam na rede pública daquelas favelas, na préescola e escola até a quarta-série, não importando a idade. A Campanha “Projeto Sul América de Saúde Ocular” contou com a participação conjunta do Instituto Benjamin Constant – IBC, Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Helen Keller Worldwide e Pró-natura.Ao final da campanha foram doados óculos as crianças que necessitaram de correção para suas ametropias. Foi considerado como ambliopia a acuidade visual corrigida de 0,8 ou menos no pior olho e anisometropia como sendo a diferença de 2,00 dioptrias (6) esféricas ou o equivalente esférico entre os dois olhos . As crianças com AV menor ou igual a 0,8 ou com alguma anormalidade foram encaminhadas para exame completo pelos oftalmologistas do IBC. RESULTADOS Das 1800 crianças triadas pelos voluntários treinados no Alto da Boa Vista, 306 (17,00 % do total) foram encaminhadas ao IBC para reavaliação. Destas, 183 (10,17% do total e 59,80% das crianças triadas) receberam alta após exames oftalmológicos por apresentarem visão melhor que 0,8 em um ou ambos os olhos. A tabela 1 mostra a prevalência dos erros refrativos que foram observados em 63 crianças (3,50% Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 304-8 306 Couto Jr AS, Pinto GR, Oliveira DA, Holzmeister D, Portes ALF, Neurauter R, Portes AJF Tabela 1 Prevalência de ametropias em crianças pré-escolares e escolares nas favelas do Alto da Boa Vista, em 2001, Rio de Janeiro, Brasil AMETROPIAS Hipermetropia (³ +1,00 DE) Astigmatismo hipermetrópico simples e composto (³ +1,00 DE e ³ - 0,75 DC) Astigmatismo misto (³ - 0,75 DC) Astigmatismo miópico simples e composto (³ - 0,25 DE e ³ - 0,75 DC) Miopia leve (³ - 0,25 DE a < -1,00 DE) Miopia moderada (>-1,00 DE a <-4,00 DE) Miopia alta (> -4,00 DE) Total Número Prevalência em relação à população de 1800 crianças % em relação ao total de ametropias (63) 18 1,00 % 28,57 % 14 12 0,78 % 0,67 % 22,22 % 19,05 % 10 4 3 2 63 0,56 % 0,22 % 0,17 % 0,11 % 3,50 % 15,87 % 6,35 % 4,76 % 3,17 % 100 % Tabela 2 Prevalência das oftalmopatias em crianças pré-escolares e escolares nas favelas do Alto da Boa Vista, em 2001, Rio de Janeiro, Brasil OFTALMOPATIAS Ambliopia Refrativa Secundária ao estrabismo Etiologia desconhecida Anisometropia Ex-anópsia Estrabismo manifesto Esotropia Exotropia Vertical (Hipertropia) Catarata Congênita Afacia e pseudofacia Coriorretinite Binocular Monocular Ptose palpebral Ceratocone Epicanto Atrofia óptica Obstrução nasolacrimal Outras doenças oculares Conjuntivite Microcórnea Entrópio Total Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 304-8 Número Prevalência em relação à população de 1800 crianças % em relação ao total de oftalmopatias (87) 36 12 11 6 4 3 31 14 11 6 4 2 2 3 2 1 3 1 3 1 1 4 2 1 1 87 2,00 % 0,67 % 0,61 % 0,33 % 0,22 % 0,17 % 1,72 % 0,78 % 0,61 % 0,33 % 0,22 % 0,11 % 0,11 % 0,17 % 0,11 % 0,06 % 0,17 % 0,06 % 0,17 % 0,06 % 0,06 % 0,22 % 0,11 % 0,06 % 0,06 % 4,83 % 41,38 % 13,79 % 12,64 % 6,90 % 4,60 % 3,45 % 35,63 % 16,09 % 12,64 % 6,90 % 4,60 % 2,30 % 2,30 % 3,45 % 2,30 % 1,15 % 3,45 % 1,15 % 3,45 % 1,15 % 1,15 % 4,60 % 2,30 % 1,15 % 1,15 % 100,00 % Prevalência das ametropias e oftalmopatias em crianças pré-escolares e escolares em favelas ... do total). As ametropias positivas (hipermetropia e astigmatismo hipermetrópico) foram as mais freqüentes, 1,78%, seguidas das ametropias negativas (miopia e astigmatismo miópico, 1,06%), e pelos astigmatismos mistos, 0.67%. A tabela 2 demonstra as oftalmopatias encontradas, cuja prevalência foi de 4,83%. A prevalência de ambliopia, 2,00% se destacou das demais. A maior causa de ambliopia foi a refrativa, 0,67%, seguido de perto pela secundária ao estrabismo, 0,61%. O estrabismo manifesto teve como prevalência 1,72%. As outras causas foram responsáveis por uma prevalência de 1,11%. DISCUSSÃO A população estudada, de pré-escolares e escolares das favelas do Alto da Boa Vista, constitui uma comunidade muito carente, onde o acesso à avaliação oftalmológica é bem difícil. Não estão disponíveis dados sobre evasão escolar para o ano de 2001 naquela região, mas pode-se supor que algumas crianças portadoras de acuidade visual incompatível com o ensino público ministrado tenham abandonado a escola. Tal fato geraria um percentual subestimado das reais prevalências para aquela população. Neste estudo encontrou-se a prevalência de ametropias em 3,50% da população de pré-escolares e escolares. Os dados da literatura sobre tal prevalência são variáveis, desde 4,56%(7), 6,33%(14) a (4) até 14,11% . Quanto à distribuição das ametropias, esta população seguiu o padrão de outras populações(37) , com predomínio das ametropias positivas (hipermetropia e astigmatismo hipermetrópico), seguido das ametropias negativas (miopia e astigmatismo miópico). A prevalência da ambliopia varia de 1 a 5% na literatura(4-5,8-9,15). Scarpi, em 1977, relatou uma prevalência (6) em estudantes de São Paulo de 4,07% . Schimiti relatou em Ibiporã uma prevalência de 1,76%(7). Beer, para São (4) Caetano, relatou uma prevalência hipotética de 2,8% . Na população de crianças do Alto da Boa Vista foi encontrada prevalência de 2,00%, de magnitude dentro do esperado. A maior parte dos trabalhos referem uma prevalência de estrabismo em populações gerais de 1 a (5,16-17) 4% . Macchiaverni, em 1979, encontrou em Paulínea a prevalência de 1,58%(3). Schimiti(7), em 2001, encontrou em Ibiporã, 0,84%. Beer(4), em 2003, encontrou em São Caetano do Sul, 1,78%. Na população estudada encontrou-se 1,72%, prevalência que não difere do esperado. 307 Quanto ao tipo de estrabismo, a literatura apresenta a esotropia como de duas a três vezes mais freqüentes que a exotropia(4,7). Neste estudo, embora a esotropia fosse mais freqüente (0,78%), foi seguida de perto pelo exotropia (0,61%). Provavelmente, isto ocorreu devido a particularidades da população estudada em relação a outras populações. Estudos complementares se fazem necessários para determinar a real causa. Em relação aos outros tipos de oftalmopatias, o presente estudo demonstrou uma prevalência de 1,11%. Tal prevalência foi pequena se comparada a estudos (7) símiles, como o de Schimiti , que encontrou cerca de 4,03%, com 1,93% de coriorretinite e 0,86% de catarata. Este trabalho encontrou uma prevalência menor de coriorretinite (0,17%) e de catarata (0,22%).Várias causas podem ser aventadas, mas pensa-se na evasão escolar já discutida. Em saúde pública, a triagem mostra-se necessária, pois uma grande parcela de crianças chega à escola sem nunca ter passado por um exame oftalmológico. Em torno de 15% das crianças da primeira série escolar possuem alguma alteração visual e apenas 20% dessas cri(2,4-7) anças tem acompanhamento médico .Todas as crianças deste estudo que tiveram necessidade estão sendo acompanhadas no serviço de oftalmologia no IBC. O retardo no tratamento das crianças portadoras de ambliopia piora seriamente o prognóstico visual, principalmente na associação ambliopia e estrabismo(3-4). Com diagnóstico e tratamento precoces, a ambliopia é reversível na maior parte dos casos(13). Porém, a maioria se apresenta para tratamento após a idade de seis anos, quando o mesmo é menos eficaz e a aceitação da tera(8-9,13) pêutica é mais difícil . As crianças deste estudo diagnosticadas com ambliopia eram todas de idade acima de seis anos, por serem pré-escolares e escolares. Isto demonstra a necessidade de ações que abordem as crianças que não estão ainda na escola, como fez, por exemplo, Beer em São Caetano do Sul, durante a vacinação de (4) poliomielite (crianças menores que cinco anos) . A medida da acuidade visual através da tabela de optótipos de Snellen é um método de fácil aplicação (4-5,7) e de baixo custo . Deveria ser amplamente utilizado, principalmente em associação ao exame externo com lupa e lanterna, ambos realizados por pessoal treinado, nas crianças de idade pré-escolar e escolar das escolas e comunidades carentes, principalmente as que não contam com serviço oftalmológico. Tal prática mostra-se bastante eficaz para a identificação precoce das afecções oculares e para permitir medidas preventivas e tera(18-19) pêuticas precoces e eficazes . Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 304-8 308 Couto Jr AS, Pinto GR, Oliveira DA, Holzmeister D, Portes ALF, Neurauter R, Portes AJF CONCLUSÃO 4. Demonstrou-se a prevalência dos principais problemas oftalmológicos infantis nas favelas do Alto da Boa Vista. Ressaltou-se, ainda, a necessidade de campanhas de saúde na população pré-escolar e escolar, a fim de identificar precocemente fatores causadores de ambliopia, para um tratamento precoce das oftalmopatias e um bom êxito no desenvolvimento da acuidade visual das crianças. 5. ABSTRACT Purpose: To estabilish the prevalence of the ametropias and eye diseases, in the year 2001, within a preschool and school population in Alto da Boa Vista favelas (slum), in the city of Rio de Janeiro, Brazil. Methods: Transversal observational study during an ocular health campaign in public education schools. The children that have shown visual acuity fewer than 0.8 or abnormally were referred by trained volunteers to avaliation by ophthalmologists from the Benjamin Constant Institute. Results: From the 1800 children who were examined, 306 (17.00%) were referred to the ophthalmologic examination.There were 183 children (10.17% from total and 59.80% from referred) that were dismissed for presenting visual acuity better than 0.8. The refractive errors prevalence was 3.50% (hyperopia and astigmatism hyperopic were 1.78%, myopia and astigmatism myopic 1.06%, mixed astigmatism 0.67%).The eyes diseases prevalence was 3.50% (amblyopia was 2.00%, manifest strabismus was 1.72% and others causes was 1.11%). Conclusion: It was shown the prevalence of the main ophthalmologic children disorders. It also points out the need of ocular health campaigns thus achieve remarkably the development of the children visual acuity. Keywords: Refractive errors; Eye Diseases; Amblyopia; Strabismus; School health; Health promotion; Child, preschool; Child REFERÊNCIAS 1. 2. 3. Armond JE, Temporini ER, Alves MR. Promoção da saúde ocular na escola: percepções de professores sobre erros de refração. Arq Bras Oftalmol. 2001; 64(5): 395-400. Moreira JBC. Censo pré-escolar e prevenção da cegueira. Arq Bras Oftalmol. 1980; 43(2): 53-4. Macchiaverni Filho N, Kara-José N, Rueda G, Pereira VL, Costa MN, Rangel FF, Fávero M. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Daniel Almeida de Oliveira Rua Espírito Santo, 1312 apto. 101 - Centro CEP 36016-200 - Juiz de Fora – MG Telefone: (21) 9221-3473 E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL 309 Comparação entre as medidas da espessura central corneana usando a paquimetria óptica e a ultra-sônica Comparison between the measurements of central corneal thickness using optic and ultrasonic pachymeters 1 2 3 Aline Leonel Maimone , Nelson Maimone , Robson Marcelo Rossi RESUMO Objetivo: Comparar a medida da espessura corneana central (ECC) obtida pelo TM paquímetro óptico Haag-Streit e a paquimetria ultrassônica DGH 500 (Pachette ). Métodos: Foram avaliados, 200 olhos de 100 pacientes utilizando-se o paquímetro óptico (PO) e o ultrassônico (PU). As medidas foram realizadas na área central da córnea, respeitando a área dos 3 mm, em pacientes com córneas normais, em olhos hipermétropes, emétropes e míopes, excluindo doenças oculares, usuários de lentes de contato ou submetidos às cirurgias. Resultados: A média geral da ECC medida pelo PO foi 603,8± 32,6µm, e 568,2±40,5 µm pelo PU. As comparações entre as medidas dos dois aparelhos foram realizadas ao nível de 5% de significância e a diferença entre os dois aparelhos foi 35,7±26,4 µm (p=0,0000), indicando diferença significativa entre os métodos utilizados. Não houve diferença estatística entre olhos hipermétropes, emétropes e míopes usando o PU. Conclusão: A medida da ECC é superestimada pelo PO quando comparada com o PU. Descritores: Córnea/anatomia & histologia;Topografia da córnea/métodos; Técnicas, medidas e equipamentos de medição; Glaucoma; Ultrassonografia/instrumentação 1 Oftalmologista do “Centro Oftalmológico Maimone” - Maringá (PR), Brasil; Membro do Corpo Clínico da Hoftalmar - Instituição de Ensino e Pesquisa Oftalmológica de Maringá (PR), Brasil; 2 Oftalmologista de “Centro Oftalmológico Maimone” - Maringá (PR), Brasil; Membro do Corpo Clínico da Hoftalmar - Instituição de Ensino e Pesquisa Oftalmológica de Maringá (PR), Brasil; 3 Mestre em Estatística, Professor Assistente do Departamento de Estatística da Universidade de Maringá (PR), Brasil. Trabalho realizado na Hoftalmar - Instituição de Ensino e Pesquisa Oftalmológica de Maringá (PR), Brasil. Recebido para publicação em 24/04/2007 - Aceito para publicação em 25/10/2007 Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 309-14 310 Maimone AL, Maimone N, Rossi RM INTRODUÇÃO O valor absoluto da espessura corneana (EC) é importante para estimação da pressão intraocular e também no diagnóstico de doenças corneanas. (1-3). É um método indireto de avaliação da inte(2) gridade estrutural e da fisiologia endotelial corneana . As alterações na EC refletem mudanças na hidratação e metabolismo corneano e tais flutuações podem compro(4) meter as medidas paquimétricas . É imprescindível no acompanhamento de pacientes com alterações do endotélio como nas distrofias corneanas, lesões traumáti(3) cas e após o transplante de córnea .A ECC é um impor(5-10) tante fator para se avaliar os pacientes glaucomatosos . O uso da paquimetria, na medida da EC é fundamental para ceratotomia radial, cirurgias refrativase no acompanhamento usuários de lentes de contato, que podem causar alterações na EC, como também em vários tratamentos cirúrgicos(1).Atualmente, é indubitável que a espessura central corneana (ECC) afeta a precisão da (11) tonometria de aplanação . Existem diferentes tecnologias para se medir a EC: paquimetria óptica, paquimetria ultrassônica, mapeamento de elevação, confocal e interferometria a laser(1, 3,12). A paquimetria óptica é um método simples e não invasivo, bastando alguma experiência e treinamento no manuseio do aparelho(13-14). A paquimetria ultrassônica é um método preciso e de alta reprodutibilidade, o qual em nosso trabalho servirá de padrão para confirmar se a paquimetria óptica é um método confiável, baseando-se nas informações do (13-14) fabricante . A finalidade deste trabalho é comparar os dados da paquimetria óptica com os obtidos da paquimetria ultrassônica e verificar a diferença entre as medidas obtidas pelos dois métodos em indivíduos hígidos. MÉTODOS O estudo diagnóstico utilizado foi seccional transversal em 100 pacientes ambulatoriais no período de janeiro de 2005 a maio de 2006. Foi obtido um consentimento verbal dos pacientes, informando que tais exames não acarretariam nenhum dano ou risco. Somente foram avaliados idade e sexo dos pacientes. Conforme a idade, as faixas etárias foram divididas em 4: abaixo dos 20 anos, de 20 a 40, de 40 a 60 e maiores de 60 anos. Foram estudados, 72 olhos míopes, 74 emétropes e 54 hipermétropes. As medidas foram realizadas em ambos Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 309-14 Figura 1a: Paquímetro óptico Haag Streit os olhos. Utilizamos o PO da Haag-Streit e o PU DGH TM 500 (PACHETTE ), calibrado de acordo com o fabricante (Figura 1a e 1b). O PO é acoplado à lâmpada de fenda Haag-Streit, utilizando ocular de 16x. Deve ser usada a intensidade máxima da lâmpada de fenda, para se ter boa visualização do corte óptico. A escala do paquímetro óptico vai de 0 a 1,2 subdivididas de tal forma, que cada subdivisão corresponde a 20µm. Para se obter o valor real do PO é necessário somar o valor obtido pela leitura da escala do aparelho, ao do raio de curvatura corneana, conforme a tabela de correção da Haag-Streit. Foram realizadas primeiro as medidas no PO e a seguir no PU, sempre pelo mesmo observador. Foi respeitada a área de 03 mm centrais da córnea. Não foram incluídos neste estudo, pacientes com qualquer patologia corneana, glaucomatosos, pacientes submetidos a cirurgias e usuários de lentes de contato, ou seja, foram examinadas somente córneas normais. O PU utiliza pulsos transmitidos à córnea, pela sonda perpendicular em contato direto com o epitélio corneano, após prévia anestesia tópica. A sonda apresenta uma freqüência de 20 MHz, com comprimento focal muito curto (1mm), sendo a penetração no olho limitada. O limite das medidas varia de 200 a 1300 µm, com uma precisão de ±5µm (Figura 1b). A sonda do PU foi colocada perpendicular á área central da córnea, com prévia anestesia local com colírio de cloridrato de proximetacaína 0,5%. Estas medidas foram realizadas na lâmpada de fenda Haag-Streit, com iluminação indireta, visualizando-se com precisão a área pupilar, utilizando-se o polegar da mão esquerda para fixar a pálpebra superior dos pacientes e mão direita para proceder a paquimetria (observador destro). Este método facilita a localização exata da área pupilar, evitando-se uma diferença maior entre as medidas, pois estaremos sempre focando o mesmo ponto (Figura 2). Comparação entre as medidas da espessura central corneana usando a paquimetria óptica e a ultra-sônica Figura 1b: Paquímetro ultrassônico DGH 500 (Pachette™) 311 Figura 2: Técnica para se utilizar o paquímetro ultrassônico Tabela1 Comparação entre os métodos Óptico e Ultrassônico por meio das médias das medidas (média ± desvio padrão) Categoria Pacientes Geral Sexo Homens Mulheres Idade (anos) < 20 20 |— 40 40 |— 60 ³ 60 Olho Direito Esquerdo Ambos Direito Esquerdo Direito Esquerdo Direito Esquerdo Direito Esquerdo Direito Esquerdo Direito Esquerdo Método Óptica Ultrassônica 607,0±32,1 600,6±33,0 603,8±32,6 608,2±28,5 599,5±35,2 606,1±34,7 601,5±31,6 612,2±35,6 597,8±31,9 599,6±35,5 591,1±40,2 608,0±31,3 604,3±29,4 619,3±19,0 615,4±13,1 568,6±40,2 567,7±41,1 568,2±40,5 567,6±37,8 566,4±37,9 569,3±42,1 568,6±41,5 551,3±46,0 548,7±45,4 569,5±47,0 567,8±48,7 566,8±35,2 567,0±37,6 582,8±29,2 581,5±21,8 Dif. Média p-valor 38,6±25,6 32,9±26,9 35,7±26,4 40,6±23,5 33,1±22,7 36,8±27,2 32,9±29,8 60,9±17,4 49,0±22,6 30,1±34,7 23,3±34,7 41,2±15,9 37,3±20,4 36,5±17,4 33,9±16,2 0,000000 0,000000 0,000000 0,000000 0,000000 0,000000 0,000000 0,000006 0,000185 0,000012 0,000344 0,000000 0,000000 0,000003 0,000003 * Houve diferença significativa entre os métodos em todos os casos (p-valor < 5%). Foram realizadas três medidas da área central em ambos os olhos nos dois métodos e procedida à média das mesmas. A ponta da sonda do PU foi desinfetada com álcool isopropílico a 70% e lavada com água destilada antes de cada exame. Para análise estatística foi utilizado o teste t de Student pareado, para comparar as medidas ao nível de 5% de significância. RESULTADOS Foram analisados 100 pacientes, realizando-se as medidas em 200 olhos. Os pacientes foram 42 do sexo masculino e 58 do feminino e a idade oscilou entre 10 a 80 anos. A média geral da ECC medida pelo PO 603,8± 32,6µm, e 568,2±40,5 µm pelo PU. A diferença entre os Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 309-14 312 Maimone AL, Maimone N, Rossi RM Tabela2 Análise de variância para as medidas da espessura corneana por grupo e por olho, através do uso do paquímetro ultrassônico Grupo Olho Míopes Emétropes Hipermétropes Míopes Emétropes Hipermétropes Direito Esquerdo n Grau médio± desvio-padrão Espessura Média± desvio-padrão p-valor (teste F) 36 37 27 36 37 27 -2,63±1,82 0,54±0,83 2,04±1,17 -2,49±1,92 0,57±0,72 1,94±1,02 558.82±40.89 575.85±39.08 571.68±39.49 556.81±42.92 577.69±40.10 568.35±37.55 0,174892 0,093252 * Observação: como p > 5%, não há diferença entre as médias dos grupos dois aparelhos 35,7±26,4 µm, e com p-valor < 5%, houve diferença significativa entre os métodos utilizados (Tabela 1). Entre as variações estudadas: sexo e idade, os resultados não foram significativos (Tabela 1). A análise de variância para as medidas da ECC por grupo de míopes, emétropes e hipermétropes e por olho, levando-se em conta somente os dados da PU, não demonstrou diferença entre as médias dos grupos (Tabela 2). DISCUSSÃO A EC foi relatada há mais de 100 anos nos velhos livros de textos em óptica fisiológica (Helmholtz, Gullstrand). Somente a partir de 1951, através de estudos de Maurice e Giardine a ECC pôde ser avaliada (1,2) efetivamente pela paquimetria óptica . As medidas da EC podem ser utilizadas na ceratotomia radial, na apropriada profundidade do corte pela lâmina, para avaliar anormalidades na função corneana causando alterações na EC, ou avaliar alterações na EC devido a vários tratamentos, inclusive na adaptação de lentes de contato e vários procedimentos (1) cirúrgicos . Estudos(4) demonstraram que sob o efeito da desidratação do tecido corneano, após 5 minutos, houve um afinamento corneano de 55+/-4µm (10,2%) utilizandose o paquímetro de coerência óptica. Tal desidratação afeta consideravelmente a cirurgia refrativa. Recentes estudos revelaram que pacientes com hipertensão ocular têm ECC mais espessas e aqueles com glaucoma com tensão normal, córneas mais finas, (5-6,8-10) quando comparadas com córneas normais . A ECC afeta a precisão da tonometria de Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 309-14 aplanação, sendo que a dimensão de sua influência é 1mmHg de pressão, por 25 µm de alteração na ECC, sendo importante lembrar que Goldmann e Schmidt calibraram o tonômetro de aplanação de acordo com a ECC, usando o método óptico(11). (12) Alguns autores , efetuando a paquimetria em 60 olhos por três observadores, utilizando o Teste de Pearson, demonstraram uma forte correlação entre as medidas do biomicroscópico ultrassônico de alta freqüência (UBM) e o PU (r=0.858) e uma fraca correlação entre o UBM e o PO (R=0.506). As medidas do PO versus PU foram fracamente correlacionadas (r=0.540). Cada teste foi estatisticamente significante (p<0.001). As vantagens da PU são: reprodutibilidade, alta precisão, facilidade para tomar medidas em qualquer parte da córnea, as medidas não dependem da fixação do paciente e fácil de operar(2,12-14). A EC diminui conforme a idade, sendo evidente em não brancos(15). Mudanças na EC refletem alterações na hidratação e metabolismo corneano. Várias medidas da EC durante o dia e em dias subseqüentes demonstraram que a EC é mais espessa na periferia. As medidas às 8 horas da manhã eram significantemente maiores que durante o dia(3,16). Os valores da pressão intra-ocular pelo Tonopan são influenciados pela EC, apresentando valores maio(17) res na periferia corneana que na região central . (18) De acordo com os resultados de alguns autores , indivíduos altos míopes parecem apresentar córneas menos espessas do que emétropes ou portadores de baixas ametropias. (19) Em outro estudo , indivíduos negros apresentam córneas mais finas em relação a indivíduos brancos. Com relação ao edema de córnea no pós-operatório de cirurgia de catarata, um estudo na literatura(20) Comparação entre as medidas da espessura central corneana usando a paquimetria óptica e a ultra-sônica propõe uma nova classificação de forma a qualificar este mesmo edema, baseando-se em sinais biomicroscópicos e, principalmente na PO da córnea. O PO é acoplado à lâmpada de fenda Haag-Streit, sendo um método não invasivo na medida da EC. O que fala a favor de sua utilização é o preço do aparelho, muito mais acessível economicamente, quando comparado ao PU, não sendo necessário calibrá-lo. As desvantagens se resumem na curva do aprendizado mais longa, na visualização do corte óptico determinada pela ocular em fenda, na leitura correspondente da escala e no uso da tabela de correção da Haag-Streit para se (13-14) (21) obter o valor real da paquimetria . Segundo estudos , o PO apresentou 2 a 3 vezes variações nas medidas por um mesmo observador e significativa variação (P=0.015) com observadores diferentes, com significativa diferença entre o olho direito e esquerdo na determinação da ECC. (22) Chaidaroon et al. fez estudos comparativos das medidas da ECC, pelo PU e PO em 100 olhos de míopes normais tailandeses. Observou que a diferença da ECC pela PU (544,4 +/-27,5µm) e PO (581,1 +/-22.62µm) foi estatisticamente significante em olhos míopes normais (p=0.001), sendo em média 27µm maior do que a medida paquimétrica ultrassônica. Estudo de metanálise de 300 trabalhos em pacientes normais, a ECC média foi 534µm(15). O mesmo estudo indicou 0,530mm, com desvio médio padrão 0.029mm para PO e média de 0,544mm, com desvio padrão médio de 0,034mm na PU. Já em nosso estudo a média das leituras 603,8±32,6 µm pelo PO e pelo PU 568,2±40,5 (23-25) µm . No presente trabalho, a diferença entre os dois métodos foi de 35,7 ±26,4µm (Tabela 1). O fato dos nossos valores diferirem do estudo da metanálise se explica pela dificuldade na leitura da escala do PO, com resultados diferentes com um mesmo observador ou três diferentes, conforme corrobora estudos na literatura(12,21) já (22) referidos. Os estudos de Chaidaroon et al. demonstraram resultados similares ao nosso, tendo em vista que em nosso estudo incluímos 72 olhos míopes (Tabela 2). Outros autores (7) demonstraram não haver diferença estatística nas medidas entre míopes, hipermétropes e emétropes. Em nosso trabalho também não houve diferença entre as médias dos grupos examinados (Tabela 2). Para alguns autores(26), a ECC em olhos com miopia axial é altamente variável e não parece diferir da média populacional descrita na literatura. Em outro estu(27) do , usando o paquímetro de reflectometria de baixa coerência óptica Haag Streeit em pacientes com alta miopia, constataram que a ECC não é sistematicamente alterada na miopia. 313 CONCLUSÃO Quando se utiliza a paquimetria óptica para se medir a ECC, considerando-se a paquimetria ultrassônica como medida padrão da ECC, os resultados da PO estão superestimados em relação à PU na amostra avaliada. Tais resultados têm implicações para o uso da paquimetria óptica, na avaliação correta da ECC. ABSTRACT Purpose: To compare measurements of central corneal thickness obtained using a Haag-Streit optic pachymeter and a DGH 500 (Pachette Ttm ) ultrasonic pachymeter in normal patients. Methods:An evaluation was made of 200 eyes of 100 patients using Optic (PO) and Ultrasonic (PU) pachymeters. Measurements were made in the area of the central cornea (ECC) respecting the 3.0 mm territory, in patients with normal corneas of hypermetropic, emetropic and myopic eyes. Patients with ocular diseases, ocular surgeries, and contact lens wearers, were excluded. A statistical analysis was performed using a Paired Student’s t test to compare measurements between instruments at the 5% level of significance. Results: The mean thickness of the ECC measured by the PO was 603.8±32.6µm and by the PU, 568.2±40.5µm. The difference between the two instruments was 35.7±26.4µm. Applying the t test with p = <5%, the difference was significant.We had no statistical difference in ECC between hypermetropic, emetropic and myopic eyes using the PU. Conclusion: The measurement of ECC is an overestimate using the PO as compared with the PU. Keywords: Cornea/anatomy & histology; Corneal topography/methods;Techniques, measures, measurement equipment; Glaucoma; Ultrasonography/instrumentation REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. Alonso RS, Maranhão SB, Luz A, Castañeda DN, Ambrósio Júnior R. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Nelson Maimone Rua Néo Alves Martins 3415 - térreo CEP 87013-060 - Maringá - PR E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL 315 Efeito da remoção seletiva da sutura no astigmatismo nos transplantes de córnea pós-ceratocone The effect of selective suture removal on astigmatism following penetrating keratoplasty in keratoconus Fernando Moro1, Érica Galúcio2, Ediberto de Magalhães2, Karine Borges Marques Moysés1, 1 3 Victor Coronado Antunes , Tadeu Cvintal RESUMO Objetivo: Demonstrar o efeito e os resultados da remoção seletiva da sutura sobre o astigmatismo nos três primeiros meses de transplante de córnea pós-ceratocone. Métodos: Realizamos um estudo longitudinal observacional retrospectivo, revisando aleatoriamente os prontuários médicos de 50 pacientes, submetidos à transplante penetrante de córnea por ceratocone, realizados pelo mesmo cirurgião, no período entre 2000 e 2002, no Instituto de Oftalmologia Tadeu Cvintal. Os transplantes foram realizados com a mesma técnica cirúrgica com oito pontos isolados e sutura contínua e controle ceratoscópico per-operatório. Em todas as visitas foram mensuradas a melhor acuidade visual corrigida, ceratometria e refração. A remoção seletiva da sutura e redistribuição da sutura contínua ocorreu invariavelmente no primeiro mês de pós-operatório. Resultados: No primeiro mês de pós-operatório, antes do início de remoção de suturas a acuidade visual média pré-remoção foi de 0,4 log MAR. Após remoção seletiva escalonada de suturas e estabilização do astigmatismo, a acuidade visual média pósremoção foi de 0,07 log MAR, diferença estatisticamente significativa (p< 0,0001). A ceratometria média pré-operatória foi de 2,8D, 3,8D com 30 dias de pós-operatório e de 2,8D pós-remoção de suturas e estabilização do astigmatismo com 90 dias de pósoperatório, diferenças estatisticamente significante (p = 0,0229). A redistribuição da sutura contínua foi realizada em 30% dos pacientes. Obteve-se melhora da acuidade visual em 100% dos pacientes. Conclusão: O transplante penetrante de córnea em pacientes portadores de ceratocone constitui uma excelente alternativa para recuperação da acuidade visual. A remoção seletiva de pontos isolados e redistribuição da sutura contínua no primeiro mês de pós-operatório promoveram melhora significativa da visão com recuperação visual precoce. Descritores:Transplante de córnea; Ceratoplastia penetrante; Astigmatismo/prevenção & controle; Ceratocone; Suturas; Doenças da córnea; Estudos retrospectivos 1 2 3 Assistentes do departamento de córnea do Instituto de Oftalmologia Tadeu Cvintal – São Paulo (SP), Brasil; Residentes do Instituto de Oftalmologia Tadeu Cvintal – São Paulo (SP), Brasil; Diretor do Instituto de Oftalmologia Tadeu Cvintal – São Paulo (SP), Brasil. Recebido para publicação em: 09/07/2007 - Aceito para publicação em 26/10/2007 Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 315-20 316 Moro F, Galúcio É, Magalhães E, Moysés KBM, Antunes VC, Cvintal T INTRODUÇÃO O transplante penetrante de córnea leva a uma melhora significativa da acuidade visual em pacientes com ceratocone tanto por diminuir a curvatura excessiva da córnea como por corrigir o astigmatismo. Para isso, contribuíram de forma significativa os avanços com relação a instrumental cirúrgico, técnicas de trepanação, técnicas e manejo na remoção das suturas. Atualmente, o êxito de uma ceratoplastia é avaliado em termos de resultados refrativos, uma vez que a transparência do enxerto é obtida, praticamente, em todos os casos. No ceratocone, quando a cirurgia se torna necessária do ponto de vista anatômico e funcional, a córnea quase sempre se encontra com protrusão acentuada o que impossibilita a avaliação refratométrica adequada e até mesmo adaptação de lentes de contato. O transplante penetrante de córnea e o adequado manejo pós-operatório da sutura possibilitam recuperação visual significativa nestes pacientes que na maior parte são pa(1) cientes jovens e em idade francamente produtiva . MÉTODOS Realizamos um estudo longitudinal observacional por meio de revisão aleatória e retrospectiva de 50 casos de transplante penetrante de córnea por ceratocone, realizados pelo mesmo cirurgião, no período entre 2000 e 2002. Os transplantes foram realizados com a mesma técnica cirúrgica com oito pontos isolados e sutura contínua utilizando o fio mononáilon 10.0 e controle ceratoscópico per-operatório. O diâmetro doador mais utilizado foi 8,5 mm e receptor 8,0 mm.As córneas doadoras foram preservadas em meio Optisol.Todas as cirurgias foram realizadas com anestesia geral e seguiram o mesmo protocolo pós-operatório.As visitas ocorreram no período pré-operatório e primeiro, segundo e terceiro dia de pós-operatório para troca do curativo oclusivo, uma semana, trinta, sessenta e noventa dias de pós-operatório. Em todas as visitas foram anotadas a melhor acuidade visual corrigida, ceratometria e refração. Os parâmetros utilizados para avaliação do astigmatismo foram a ceratometria com o ceratômetro de Bausch & Lomb, ceratoscopia computadorizada e a refração dinâmica. Utilizamos o ponto contínuo associado a oito pontos isolados em todos os casos estudados. A remoção seletiva e redistribuição dos pontos ocorreram invariavelmente no primeiro mês, removendo os pontos isolados seletivamente. Se não obtivésse- Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 315-20 Figura 1: Remoção do ponto isolado orientado pela ceratoscopia5 Figura 2: Redistribuição da sutura contínua5 mos o resultado procurado, em seguida a redistribuição do contínuo era realizada. A redistribuição da sutura contínua foi indicada na primeira semana nos astigmatismos maiores de três dioptrias, quando não obtivemos bons resultados com a remoção seletiva da sutura isolada (Figura 2). Uma vez que o hemimeridiano mais curvo foi corretamente determinado, identificamos na lâmpada de fenda a sutura mais apertada naquele local e sob anestesia tópica a sutura era seccionada e removida. Se a ceratometria ou a videoceratoscopia computadorizada revelasse presença de astigmatismo regular e simétrico, as suturas eram removidas simetricamente, em número de uma ou duas suturas em cada hemimeridiano, dependendo do grau do astigmatismo (astigmatismos maiores que três dioptrias). Nos casos de irregularidade, as suturas removidas obedeciam ao eixo do hemimeridiano mais curvo. Se o astigmatismo presente fosse assimétrico, as suturas também eram removidas assimetricamente, devendo ser em maior número no hemimeridiano mais curvo. Imediatamente, após a remoção da sutura, as alterações no astigmatismo ceratométrico e refracional eram observadas. Uma gota de colírio antibiótico (Dexafenicol@), sem conservante, associado à dexametasona a 0,1%, era instilada quatro vezes ao dia, além de lubrificação in@ tensa com colírio (Freshtears ) foram prescritos no pri- Efeito da remoção seletiva da sutura no astigmatismo nos transplantes de córnea pós-ceratocone 317 Gráfico 1 Gráfico 2 Média da melhor acuidade visual logMAR corrigida no pré-operatório e após 30 e 90 dias da realização do transplante penetrante de córnea Mudança em relação à curvatura da córnea (meridiano mais curvo) p = 0,00001 Média de variação = 6,3D Gráfico 3 Gráfico 4 A Porcentagem de miopia e hipermetropia com relação à refração esférica final Distribuição dos pacientes com relação à refração esférica negativa meiro mês de pós-operatório. Caso após toda sutura ser removida ainda persistisse astigmatismo elevado, uma ressutura era realizada. Os resultados de variáveis contínuas foram expressos por suas médias aritméticas e respectivos desvios-padrão, ou pelos valores de medianas e respectivas distâncias interquartil. Foi utilizado o teste t-Student para amostras pareadas na avaliação de possíveis diferenças entre médias. O teste de Wilcoxon foi usado para verificar possíveis diferenças entre medianas; p<0,05 foi utilizado para rejeitar a hipótese de nulidade. Tabela 1 Valores do astigmatismo topográfico e refracional Astigmatismo Topográfico Refracional Pré 30 d Pós RA p 2,8 3,8 2,8 0 0,0229 3,88 2.54 1.04 0,0001 Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 315-20 318 Moro F, Galúcio É, Magalhães E, Moysés KBM, Antunes VC, Cvintal T Gráfico 4 B Gráfico 5 Distribuição dos pacientes com relação à refração esférica positiva Comparação entre acuidade visual pré-remoção de suturas x pós-remoção de suturas RESULTADOS 76,6% dos pacientes apresentaram baixos graus de hipermetropia, variando entre +0.25 a +7,00D com uma média de +2,07D, e emetropia (Gráficos 3 e 4 A e B). Finalmente, a melhor acuidade visual corrigida melhorou em 100% dos pacientes (Gráfico 5). A redistribuição da sutura contínua foi realizada em 30% dos pacientes. A média de idade dos pacientes foi de 24,8 anos, variando de 11 a 50 anos. A melhor acuidade visual corrigida pré-operatória média foi 0,801 log MAR. No primeiro mês de pós-operatório, antes do início de remoção de suturas, a acuidade visual média pré-remoção foi 0,405 log MAR.Após remoção seletiva escalonada de suturas e estabilização do astigmatismo, a acuidade visual corrigida média pós-remoção foi 0,073 log MAR, com um valor estatisticamente significativo (p< 0,0001) (Gráfico 1). O astigmatismo pré-operatório ceratométrico ou topográfico, antes da remoção de suturas e após remoção de suturas, com estabilização do astigmatismo em médio prazo, variaram da seguinte forma: a ceratometria média pré-operatória era de 2,8D; 3,8D no período de 30 dias de pós-operatório e antes da remoção da sutura e média de 2,8D após a remoção de suturas e estabilização do astigmatismo 90 dias de pós-operatório, diferenças estatisticamente significantes (p = 0,0229). Vale a pena lembrar que o astigmatismo pré-operatório corresponde a ceratometria média central de 3 mm e a maior parte dos ceratocones apresentam o ápice do cone inferior, além do fato do astigmatismo na maioria das vezes ser assimétrico no pré-operatório (Tabela 1). Comparando-se, entretanto, a mudança na curvatura da córnea, no meridiano mais curvo, acharemos valores estatisticamente significantes (p = 0,0000001) que variaram de 51,5 (ceratometria média pré-operatória) a 45,2 (ceratometria média pós-operatória) (Gráfico 2). Com relação a refração esférica final, 23,3% dos pacientes apresentaram miopia que variou de -0,75D a -15,00D com uma média de -3.17D. Aproximadamente, Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 315-20 DISCUSSÃO O astigmatismo constitui uma das mais freqüentes causas de baixa acuidade visual no pós-operatório do transplante de córnea, tanto a curto como em longo prazo(2). Astigmatismo excessivo, astigmatismo irregular ou assimétrico são uma das principais causas de impossibilidade de correção óptica com óculos, podendo ainda condicionar anormalidades do filme lacrimal e (3) dificuldades na adaptação de lentes de contato . A ametropia esférica e astigmatismo elevado, ainda são, na atualidade, a principal causa de insucesso funci(4) onal no transplante penetrante de córnea . Observou-se que mesmo pós-transplante, uma taxa elevada de pacientes apresentam graus de astigmatismo incompatíveis com (5) uma boa acuidade visual . Na maioria dos casos, este problema se deve a falha no manejo adequado com relação às suturas corneanas durante o pós-operatório, já que estudos demonstraram que tanto o grau, quanto a técnica de (5) sutura não influenciam a acuidade visual final . Existem muitos mecanismos para induzir o astigmatismo num transplante de córnea como: trepanação oval ou oblíqua do doador ou receptor, descentração da trepanação do doador ou receptor, restos de Descemet do tecido doador ou receptor, disparidade Efeito da remoção seletiva da sutura no astigmatismo nos transplantes de córnea pós-ceratocone de espessura entre o doador e o receptor, doenças na periferia da córnea receptora, vascularização da periferia da córnea receptora, cicatrização irregular, irregularidade (6) ou desequilíbrio da tensão das suturas, etc . Soma-se o fato do ceratocone ser afecção potencialmente condicionadora de astigmatismo no pós-operatório, uma vez que a córnea a ser trepanada apresenta importante deformação periférica. Além disso, áreas distróficas localizadas que provocam afrouxamento prematuro dos pontos correspondentes com conseqüente indução de protrusão localizada e astigmatismo (5) assimétrico . A presença de leucomas cicatriciais que se estendem até a periferia, com retração do tecido, provocam uma deformidade do contorno da trepanação, induzindo o astigmatismo pós-operatório. A presença de vascularização na periferia em pacientes usuários crônicos, às vezes desconfortavelmente adaptados às lentes de contato, inicialmente provoca edema, afrouxando os pontos e causando abaulamento. Posteriormente, esta área vascularizada apresenta uma maior migração de fibroblastos e com isso uma fibrose mais intensa, determinando desequilíbrio na cicatrização e indução a (7) astigmatismo tardio . O conhecimento detalhado destes mecanismos orienta o cirurgião para melhor utilizar os recursos de técnica cirúrgica para anular os diferentes mecanismos, à medida que são detectados. Ajustes intra-operatórios e pós-operatórios são preconizados para se obter rápida reabilitação visual e estabilidade refracional (8). A resposta da superfície corneana frente à remoção da sutura é imprevisível e complexa. O semimeridiano mais curvo na zona dos 3 mm centrais mostrou máxima alteração uma hora após a remoção da sutura (9 ). Apesar disso, a remoção gradual e seletiva de suturas isoladas é o método mais simples e eficaz para reduzir o astigmatismo no pós operatório de transplante de córnea, proporcionando rápida reabilitação visual (10-14 ). Quando existe combinação de sutura isolada e contínua, a redistribuição da sutura contínua é também efi(8) caz no arredondamento da imagem ceratoscópica final . Com o objetivo de diminuir o astigmatismo e melhorar a acuidade visual o mais rápido possível, a redistribuição da sutura contínua na lâmpada de fenda pós-transplante de córnea é o método mais simples. A redistribuição da sutura contínua, quando realizada precocemente no primeiro dia de pós-operatório, obtém resultados previsíveis, estáveis e de realização mais fácil(3) . Realizamos a redistribuição na primeira se- 319 mana de pós-operatório, pois a partir da segunda semana a manobra de redistribuição é difícil e em geral ineficaz(2). A eficiência do método depende da correta identificação da sutura indutora do astigmatismo, através da avaliação do hemimeridiano mais curvo e da sutura correspondente. O ceratômetro Bausch & Lomb fornece informações quantitativas e qualitativas do astigmatismo, uma vez que a porção mais achatada da imagem ceratoscópica corresponde ao meridiano mais curvo da córnea, e a mais ovalada ao meridiano mais plano. É possível utilizar estas imagens para orientação na remoção ou redistribuição das suturas. A sutura contínua no transplante de córnea apresenta algumas vantagens tais como, mais rápida de ser realizada do que a sutura separada, e determina menor reação inflamatória, porém não pode ser removida enquanto não houver completa cicatrização. Por isso quando um astigmatismo acentuado se estabelece no pós-operatório o seu controle é mais difí(2) cil que nos pontos isolados . No entanto, transplantes com sutura contínua apresentam melhores resultados em curto prazo e menor astigmatismo, quando comparados aos transplantes com sutura isolada.A sutura que menos induziu o astigmatismo foi a de 8 pontos separados e um contínuo, proporcionando maior estabilidade no astigmatismo, garantindo o melhor (15) resultado final, inclusive em relação à acuidade visual . O astigmatismo é comparável independentemente da técnica de sutura em pacientes com ceratocone, quando o acompanhamento pós-operatório e ajuste e ou remoção seletiva da sutura é realizada (16) de forma adequada . Quando utilizamos o ponto contínuo associado a oito pontos isolados, o astigmatismo é medido com segurança, primeiramente com a remoção dos pontos isolados seletivamente, o que é feito no período de uma a quatro semanas de pós-operatório. Se não obtemos o resultado procurado, tentamos em seguida a (5) redistribuição do contínuo . CONCLUSÃO O transplante penetrante de córnea em pacientes portadores de ceratocone constitui uma excelente alternativa para melhora da acuidade visual e qualidade de vida. A remoção seletiva de pontos isolados e redistribuição da sutura contínua no primeiro mês de pós-operatório promovem resultados visuais excelentes e recuperação visual precoce. Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 315-20 320 Moro F, Galúcio É, Magalhães E, Moysés KBM, Antunes VC, Cvintal T ABSTRACT Purpose: To analyse the corneal astigmatism after transplantation as well as to demonstrate how postsurgical handling of sutures affects the refractive and visual outcome in patients submitted to cornea transplantation by keratoconus with three to six years of follow-up. Methods: Non-controlled longitudinal observational secondary clinical study. Fifty records of patients submitted to penetrating keratoplasty between 2000 and 2002 have been reviewed, including 50 eyes of 50 patients operated under the same surgical technique by the same surgeon. Follow-up time ranging from three to six years. Main outcome measures were keratometry, static refraction and computadorized keratometry. Tstudent and Wilcoxon tests were used for paired samples to assess respectively possible differences between means and medians. Results: The average patient age was 24.8 years. The average of the pre-visual sharpness was 0.8 log MAR and changed to 0.4 log MAR before removing the sutures and to 0.4 log MAR after the handling/removal of sutures (p< 0.0001).The topographic astigmatism varied from 2.8D before transplantation to 3.8D in the following 30 days and reached an average of 2.8 after the handling/ removal of sutures (p= 0.0229). The corneal curvature changed from 51.5 to 45.2 (p= 0.0000001). 23.3% of the patients presented myopic and hypermetropic deviation averages of respectively -3.17D and +2.07D. 113 days was the average for the beginning of the suture removal. Conclusion: Although the selective and stepwise removal of sutures requires more visits of the patient to the doctor in the first months that follow the penetrating keratoplasty, the good visual and refractive results corroborate not only the importance of the post-surgical attendance, but also the identification and immediate intervention in the selective suture removal of keratoplasty. Keywords: Corneal transplantation; keratoplasty, penetrating;Astigmatism/prevention & control; Sutures; keratoconus; Retrospective studies REFERÊNCIAS 1. 2. 3. Szentmáry N, Seitz B, Langenbucher A, Naumann GO. Repeat keratoplasty for correction of high or irregular postkeratoplasty astigmatism in clear corneal grafts. Am J Ophthalmol. 2005; 139(5):826-30. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Fernando Moro Rua Saul Navarro, 240 – Praia do Canto CEP 29057-240 - Vitória – Espírito Santo [email protected] 321 ARTIGO ORIGINAL Eficácia da ciclosporina 0,05% na prevenção da perda endotelial no transplante de córnea Efficacy of cyclosporine 0.05% for preventing endothelial loss in corneal transplant Fernando Moro1, Ediberto de Magalhães2, Érica Galúcio2, Karine Moysés1, Victor Coronado Antunes1, Tadeu Cvintal3 RESUMO Objetivo: Avaliar a ação da ciclosporina 0,05% tópica na prevenção da perda endotelial no transplante de córnea. Métodos: Estudo retrospectivo de 18 olhos submetidos a transplante penetrante por ceratocone realizados no serviço pelo mesmo cirurgião. 2 Pacientes com microscopia especular com < ou igual a 1200 células/mm , foram tratados com ciclosporina 0,05 % tópica (grupo A) e pacientes com microscopia especular > a 1200 células/mm2 constituiram o outro grupo (grupo B). O critério de inclusão foi a presença da microscopia especular no período pós-operatório de 6 meses, 1 ano e 2 anos. Os critérios de exclusão foram retransplantes precoces, olhos contralaterais de casos bilaterais, episódios prévios de rejeição ao enxerto, doenças oculares associadas como glaucoma. A análise estatística foi realizada pelos testes de Friedman com significância estatística. Foi realizada uma avaliação da variação percentual de perda endotelial em relação à microscopia especular base, comparada aos períodos de 6 meses x 1 ano x 2 anos. Resultados: No grupo A (pacientes que não utilizaram a ciclosporina 0,05%) nos respectivos períodos de 6 meses, 1 ano e 2 anos, observou-se um decréscimo da variação percentual de perda endotelial estatisticamente significante (p = 0,001 ). No grupo B (pacientes que utilizaram a ciclosporina 0,05%) nos respectivos períodos de 6 meses, 1 ano e 2 anos, observou-se um decréscimo da variação percentual de perda endotelial estatisticamente não significante (p = 0,513 ). Conclusão: Os resultados mostram uma desaceleração da variação percentual de perda endotelial nos transplantes penetrantes de córnea dos pacientes que utilizaram ciclosporina, quando comparados aos pacientes não tratados topicamente com tal medicação, sugerindo eficácia na manutenção das células endoteliais e sobrevida do transplante de córnea. Descritores: Endotélio da córnea; Ciclosporina/administração & dosagem; Ceratocone; Células endoteliais;Transplante de córnea 1 2 3 Assistentes do Departamento de Córnea do Instituto de Oftalmologia Tadeu Cvintal – São Paulo (SP), Brasil; Residentes do Instituto de Oftalmologia Tadeu Cvintal - São Paulo (SP), Brasil; Diretor do Instituto de Oftalmologia Tadeu Cvintal - São Paulo (SP), Brasil. Recebido para publicação em: 06/07/2007 - Aceito para publicação em 23/10/2007 Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 321-6 322 Moro F, Magalhães E, Galúcio É, Moysés K, Antunes VC, Cvintal T INTRODUÇÃO A s células endoteliais em olhos transplantados permanecem viáveis por anos após um procedimento bem-sucedido. Aquelas que morrem não são repostas, pois elas só se dividem em circunstân(1) cias excepcionais . Muitos fatores influenciam diretamente na perda endotelial pós-transplante de córnea, desde problemas relacionados ao doador, ao trauma cirúrgico e a intercorrências pós-operatórias, dificultando a avaliação do comportamento endotelial no transplante de córnea. A perda celular após uma ceratoplastia penetrante ocorre de maneira muito mais intensa e imprevisível que àquela observada em um olho normal (Figura 1). Assim, a falência endotelial tardia é a causa mais freqüente de perda do transplante após cinco anos da cirurgia e a sobrevida de um transplante de córnea por ceratocone diminui de forma significativa, aumentando as chances de reoperações em pacientes geralmente jovens(1-2). No momento, o retransplante ou o transplante endotelial constituem as únicas maneiras de recuperar a transparência corneana (Figura 2). Provavelmente, serão encontradas maneiras de promover a manutenção ou reprodução endotelial, repopulando o transplante em fase de falência endotelial. Figura 1 MÉTODOS Realizamos a análise retrospectiva de 52 casos de transplante de córnea por ceratocone, realizados pelo mesmo cirurgião, no período entre 2000 e 2006. O critério de inclusão foi a presença da microscopia especular no período pós-operatório de 6 meses, 1 ano e 2 anos. Os critérios de exclusão foram retransplantes precoces, olhos contralaterais de casos bilaterais, episódios prévios de rejeição ao enxerto, doenças oculares associadas como glaucoma. Pacientes com microscopia especular maior ou igual a 1200 células/mm 2 foram tratados com ciclosporina 0,05 % tópica (grupo A) e pacientes com microscopia especular maior que 1200 células/mm2 constituiram o outro grupo (grupo B). Dos 52 prontuários iniciais, obtivemos uma amostra de 18 olhos, sendo 12 para o grupo A e 6 para o grupo B. Foi considerado tempo zero de contagem das células endoteliais o tempo em que um dos grupos iniciou o uso da ciclosporina tópica. O seguimento especular foi de 2 anos de uso da medicação. A análise especular foi realizada na córnea central e sempre pelo mesmo executante. O microscópio es- Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 321-6 Figura 2 pecular de contato Bioptics LSM-2000 C, com sistema Bambi de análise de imagens, nos forneceu a análise morfológica em relação ao pleomorfismo e polimegatismo, além da contagem celular e paquimetria de foco endotelial. Pacientes do grupo A independentemente do tempo de pós-operatório foram submetidos ao uso tópico de ciclosporina 0,05% colírio, 1 gota, 4x ao dia. Os transplantes foram realizados sob anestesia geral com a mesma técnica cirúrgica de oito pontos isolados com mononylon 10.0 e sutura contínua. Os botões doadores foram preservados em meio optisol em condições adequadas de refrigeração e utilizados até sete dias de preservação. Todas as cirurgias seguiram o mesmo protocolo pós-operatório de seguimento. Foi aplicado o Teste de Friedman nos grupos A e B, de acordo com seus respectivos períodos (6meses, 1 ano e 2 anos de acompanhamento com e sem a utilização da medicação). Eficácia da ciclosporina 0,05% na prevenção da perda endotelial no transplante de córnea RESULTADOS Tabela 1 Distribuição de sexo e idade média Grupo Masculino Feminino Idade (DP) A B 91,67%(11) 83,34% (5) 8,33 (1) 16,66(1) 27,38 (9,25) 28 (7,04) Tabela 2 Variação percentual de perda endotelial no grupo A Teste de Friedman - Grupo A Ranks Mean Rank 6 meses (%) 1 ano (%) 2 anos (%) 2,75 2,25 1,00 Tabela 3 Teste estatístico grupo A Test Statistics a N 12 Chi-Square df Asymp. Sig p= a. 323 19,500 2 Ambos os grupos apresentavam uma predominância de pacientes do sexo masculino, conforme apresentado na Tabela 1, com diferença estatisticamente significante (p<0,05). O tempo de pós-operatório dos grupos A e B não apresentou diferença estatística (p=0,205) conforme podemos observar na Tabela 2. A densidade endotelial média nos pacientes do grupo A foi de 2379+/-358 células/mm2 em 6 meses, 2303+/-358,50 células/mm2 em 1 ano e de 2055+/-388,97 2 células/mm em 2 anos. No grupo B (pacientes que utilizaram a ciclosporina 0,05%) foi de 932+/-327, 25 célu2 2 las/mm em 6 meses, 889+/-242,65 células/mm em 1 ano 2 e de 928+/-305,28 células/mm em 2 anos (Gráfico 1). Estes dados foram estatisticamente significantes. Observou-se um decréscimo da variação percentual de perda endotelial estatisticamente significante (p = 0,001) (Tabelas 2,3,4). Observou-se um decréscimo da variação percentual de perda endotelial estatisticamente não significante (p = 0,513). As tabelas mostram uma variação percentual na perda endotelial nos transplantes penetrantes de córnea do grupo B, quando comparados ao grupo A, demonstrando alteração na perda endotelial (Tabelas 5,6,7). ,000 Tabela 6 Friedman Test Teste estatístico grupo B Tabela 4 Test Statisticsa Teste descritivo N Chi-Square df Asymp. Sig p= Descritiva 6 meses (%) 1 ano (%) 2 anos (%) N Média 12 12 12 -2,0 -5,4 -15,8 a. 6 1,333 2 ,513 Friedman Test Tabela 5 Tabela 7 Variação percentual de perda endotelial no grupo B Teste descritivo Teste de Friedman – Grupo B Descritiva Ranks Means Rank 6 meses (%) 1 anos (%) 2 anos (%) 2,00 1,67 2,33 6 meses (%) 1 ano (%) 2 anos (%) N Média 6 6 6 -3,2 -6,8 -3,3 Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 321-6 324 Moro F, Magalhães E, Galúcio É, Moysés K, Antunes VC, Cvintal T Gráfico 1 Gráfico 2 Densidade endotelial média Variação percentual de perda endotelial nos transplantes penetrantes de córnea com e sem uso da ciclosporina tópica a 0,05% Legenda: Tempo 1 = 6 meses; Tempo 2 = 1 ano; Tempo 3 = 2 anos. DISCUSSÃO Com praticamente um século de existência, o transplante alográfico de córnea é o mais antigo, o mais comum e o mais bem-sucedido tipo de transplante de órgãos sólidos. Espera-se que mais de 90% dos casos ditos como de bom prognóstico, córneas avasculares, por exemplo, tenham sucesso por um período superior a dois anos. Em contraste com outros tipos de transplantes de órgãos sólidos, essa extraordinária taxa de sucesso só poderia ser reproduzida através de supressão (1) imunológica sistêmica profunda . As células endoteliais em olhos transplantados permanecem viáveis por muitos anos, aumentando seu pleomorfismo e polimegatismo.Aquelas que morrem não são repostas, apresentando uma perda endotelial acelerada e imprevisível que por razões multifatoriais resultam na falência endotelial e conseqüente perda da trans(2-3) parência corneana . A falência endotelial tardia constitui a maior causa de perda de transplantes após 5 anos de pós-operatório, devido à perda celular endotelial contínua que se inicia na preservação do botão corneano doador, no (4) trauma cirúrgico e no pós-operatório inicial . A perda celular após uma ceratoplastia penetrante ocorre de maneira muito mais intensa de que em um Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 321-6 Legenda: Tempo 1 = 6 meses; Tempo 2 = 1 ano; Tempo 3 = 2 anos. olho normal(5). Foi demonstrada nos primeiros anos de pós-operatório, perda de células treze vezes superior ao (6-7) observado em córneas normais . Mesmo a partir do quinto ano de pós-operatório, as células não voltam ao normal, indicando que ainda há (8) instabilidade endotelial . Existe uma associação consistente e estatisticamente significante entre perda endotelial pós-operatória e idade do doador, densidade endotelial do doador e idade do receptor principalmente no primeiro ano de (9) pós-operatório . Apesar da multifatorialidade da diminuição das células endoteliais, ela está correlacionada com o tempo de pós-operatório(10). A perda celular varia entre 3.5 e 7% ao ano, nos dois primeiros anos, quando o botão doador perde cerca de 60% das células endoteliais. Dos três aos cinco anos, a perda é de 7.8 % ao ano. Aos cinco anos, o transplante terá perdido 70% das células(1). O endotélio corneano central forma uma camada única e instável que apresenta perda celular contínua e acelerada, além de apresentar células morfologicamente (11) e funcionalmente alteradas . Uma reação imunológica subclínica que não é visível ao exame da lâmpada de fenda tem sido relacionada como principal causa deste fenômeno. O enxerto é Eficácia da ciclosporina 0,05% na prevenção da perda endotelial no transplante de córnea um tecido estranho ao organismo, no qual as células alogênicas persistem.A migração celular da córnea doadora em direção a córnea receptora corrobora esta (12) perda em casos especiais . Apesar de não haver evidências de processos imunológicos subclínicos responsáveis pela perda endotelial acelerada no transplante de córnea, hipoteticamente, o uso da ciclosporina tópica, com suas propriedades imunossupressoras, poderia alterar o curso desta perda imunológica subclínica. A ciclosporina, produto do fungo Tolypocladium inflatum, primeiro imunossupressor especificamente dirigido contra as células T, com ações no sistema imune, bloqueia especificamente a transcrição de genes que codificam a produção de interleucina 2, cuja indução é (13) imprescindível para a proliferação das células T . A sua utilização sistêmica já foi amplamente estudada e utilizada principalmente em transplantes de alto risco de rejeição. Em transplantes com leitos vascularizados, houve uma sobrevida maior em grande parte dos pacientes se mostrando eficaz na prevenção de rejeições em retransplantes e transplantes de alto risco, porém com ris(14-16) cos eventuais do uso crônico deste imunossupressor . A aplicação tópica da ciclosporina no transplante de córnea é efetiva, tendo inúmeras vantagens comparadas à sua administração sistêmica e dos corticosteróides. É capaz de atingir altas concentrações no epitélio corneano, às vezes mais alta que a obtida com a administração (17) sistêmica da droga .A penetração da droga na córnea e conjuntiva ocorre logo após sua instilação, e com a utilização da formulação 0,05% atingimos a concentração de 1550 ng/g na córnea, 713 ng/g na conjuntiva, 12 ng/g na glândula lacrimal, 1,4 ng/g no humor aquoso e menos de 0,7 ng/g na retina. Mesmo assim, os efeitos imunossupressores da ciclosporina tópica parecem não (18) depender da penetração da câmara anterior . A aplicação tópica de ciclosporina a 0,05% não tem efetividade comparável ao acetato de prednisolona a 1% na prevenção de episódios de rejeição em trans(19) plantes de baixo risco . Já a apresentação a 2% é efetiva na redução do risco de rejeição do transplante de córnea de alto risco, como transplantes pediátricos com uma diferença estatística considerável entre o grupo com ciclosporina e controle (20-21) na comparação das taxas de sobrevida do transplante . Com o objetivo de alterar a perda endotelial com a utilização da ciclosporina tópica 0,05%, os resultados sugerem uma desaceleração da variação percentual de perda endotelial nos transplantes penetrantes de córnea do grupo de pacientes que utilizaram a ciclosporina 0,05%, quando comparados ao grupo de pacientes que 325 não utilizaram a medicação, demonstrando ser bastante benéfico na manutenção das células endoteliais e sobrevida do transplante de córnea (Gráfico 2). As dificuldades encontradas para seleção dos pacientes foram o uso irregular da medicação, o desconforto causado pela medicação e o custo. Durante a fase de pré-descompensação de um transplante de córnea, o paciente queixa-se de embaçamento da visão pela manhã, em dias úmidos e visão de arco íris ao redor de lâmpadas, podendo haver diminuição da acuidade visual.A microscopia especular mostra baixa população endotelial, com polimegatismo e pleomorfismo das células. A quantidade crítica de células para manter a transparência e a espessura corneana gira em torno de 500 células, sendo que às vezes encontramos córneas transparentes com 300 células e outras descompensadas com 800 células, neste caso, a função celular está afetada.A córnea se mostra muito sensível a pequenos aumentos de tensão, edemaciando rapidamente. Há grande risco de descompensação imediata se forem realizadas cirurgias intra-oculares nesta fase, tanto pelo trauma cirúrgico ao endotélio quanto pela possibilidade do aumento da pressão intra-ocular no pós-operató(1) rio, também lesiva ao endotélio . Estes dados nos serviram de auxílio para estabelecer como critério de inclusão da utilização da ciclosporina tópica nos pacientes com 2 microscopia especular maior que 1200 células/mm . Enquanto o controle da proliferação endotelial não se tornar reprodutível, é imprescindível que possamos prever o comportamento endotelial no pós-operatório do transplante de córnea e procuremos alternativas para prorrogar a falência endotelial tardia. CONCLUSÃO Seria possível prevenir ou retardar a falência endotelial tardia, a principal causa de falência dos transplantes, através da manutenção do número das células endoteliais das córneas transplantadas. A utilização da ciclosporina tópica a 0,05% nos transplantes de córnea por ceratocone parece alterar a curva de perda endotelial do transplante de córnea. No entanto, uma observação mais prolongada com um maior número de casos se faz necessária para confirmar esta hipótese. ABSTRACT Purpose: To assess the efficacy of topical cyclosporine .05% for preventing endothelial loss in cornea transplant. Methods: Retrospective study of 18 eyes submitted to Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 321-6 326 Moro F, Magalhães E, Galúcio É, Moysés K, Antunes VC, Cvintal T penetrating transplant due to keratoconus, operation carried out by the same surgeon. Patients with specular microscopy with lower than or equal to 1200 cells/mm² belonged to the control group. The inclusion criterion was the occurrence of specular microscopy in the postoperative period over the 6- month, 1- year, and 2- year periods and the exclusion criterion was the occurrence of other pathologies, precocious retransplants, contralateral eyes of bilateral cases, previous rejection episodes, eye pathologies associated with glaucoma.The statistical analysis was based on Friedman’s tests. After the application of Friedman’s test to group A (patients who had not used the cyclosporine .05%) in the respective 6-month, 1-year, and 2-year periods, a statistically significant decrease in the percentage variation of endothelial loss was observed (p = .001). After the application of Friedman’s test to group B (patients who had used the cyclosporine .05%) in the respective 6-month, 1-year, and 2-year periods, a statistically not significant decrease in the percentage variation of endothelial loss was observed (p = .513).Results: The curves of endothelial loss went through Friedman’s statistical tests in which one carried out an assessment of percentage variation of endothelial loss in relation to base specular microscopy compared to the 6 –month, 1- year, and 2-year periods. Conclusion: Based on the results achieved after the application of Friedman’s test, one could clearly show a deceleration in the percentage variation of endothelial loss in penetrating cornea transplants of group B (patient who had used the cyclosporine .05%) in comparison with group A (patients who had not used the cyclosporine .05%), proving its beneficial effect on the maintenance of endothelial cells and survival in cornea transplant. Keywords: Endothelium, corneal; Cyclosporine/ administration & dosage; Keratoconus; Endothelial cells; Corneal transplantation REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. Munarin MA, Moro F, Marazato F, Cvintal T. Falência endotelial tardia no transplante de córnea. In: Cvintal T. Complicações no transplante de córnea. São Paulo: Editora Santos; 2004. p. 379-93. Bourne WM, Nelson LR, Hodge DO. Central corneal endothelial cell changes over a ten-year period. Invest Ophthalmol Vis Sci. 1997; 38(3):779-82. Mishima S. 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Métodos: Realizou-se estudo transversal em 40 pacientes glaucomatosos sob tratamento clínico com uso de colírio, aplicando-se um questionário e realizando-se observações quanto à instilação. Foram investigadas as seguintes variáveis: sexo; escolaridade; idade; condições sócioeconômicas; lavagem das mãos; número de gotas por aplicação; alteração motora; pessoa que aplica o colírio; local da aplicação; contato do frasco com as pálpebras, a conjuntiva e a córnea; instrução pregressa; posição de aplicação; ardor, dor ou irritação ocular após a aplicação e acuidade visual.A partir do questionário e das observações, as variáveis citadas foram correlacionadas com a qualidade de instilação. O modelo de análise foi a regressão logística binária. Resultados: Dentre todas as variáveis em questão, apenas a pessoa que aplica o colírio e a sensação de ardor, dor ou irritação ocular mostraram-se estatisticamente significativas para uma adequada instilação de colírio. Conclusão: A presença de um acompanhante e o ardor à instilação do colírio influenciaram significativamente na qualidade de instilação do mesmo. Descritores: Glaucoma/quimioterapia; Uso de medicamentos; Instilação de medicamentos 1 Residente do Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil; Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil; 3 Professor Doutor Adjunto e da Pós-Graduação do Setor de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil; 4 Chefe do Setor de Glaucoma da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil. 2 Recebido para publicação em: 09/02/2007 - Aceito para publicação em 25/10/2007 Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 327-31 328 Lisboa RDR, Picosse FR, Mello PAA, Paranhos Jr A INTRODUÇÃO Quadro 1 pesar das diversas formas de terapias clínicas empregadas no tratamento do glaucoma, esta doença ainda figura entre as principais causas de cegueira no mundo, constituindo um grande problema de saúde pública. Avaliações recentes sobre o impacto desta patologia demonstraram que tanto o glaucoma de ângulo aberto quanto o de ângulo fechado, juntos, representam a segunda causa de cegueira em todo o mundo(1-2). Só nos Estados Unidos, devido ao envelhecimento populacional, é estimado que haverá 50% (3) mais glaucomatosos nos próximos 15 anos , mostrando que esta é uma doença de elevado impacto econômico para a sociedade. Por ser uma patologia crônica, o glaucoma apresenta problemas de fidelidade ao tratamento, que é influenciado por fatores como conhecimento sobre a doença, técnica correta de instilação e o custo das medica(4-7) ções . Contudo, há escassez de estudos que objetivem a identificação minuciosa dos principais fatores relacionados com a qualidade da instilação. Este estudo visa a identificar as principais variáveis que interferem na instilação correta do colírio antiglaucomatoso, objetivando intervir nestes fatores para que o paciente possa usufruir de um tratamento mais eficaz e menos dispendioso. Questão 1: No momento da aplicação do colírio, o Sr.(a) encontra dificuldades em realizar esta tarefa? A MÉTODOS O estudo foi realizado entre os meses de maio e junho de 2004, sendo aprovado pelo Comitê de Ética. Foram selecionados aleatoriamente 40 pacientes adultos, de ambos os sexos, portadores de glaucoma primário de ângulo aberto somente sob tratamento clínico tópico. Foram excluídos os pacientes submetidos à cirurgia ocular prévia. Os pacientes foram esclarecidos sobre a pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Não foi fornecida qualquer explicação ao paciente sobre a doença glaucoma ou como instilar corretamente colírios. Os pacientes foram solicitados a responderem um questionário, para avaliação de suas características, condições sócioeconômicas, culturais e tratamento em uso. O questionário foi lido em voz alta por um examinador que também foi encarregado de preencher o questionário. O paciente não recebeu qualquer ajuda extra Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 327-31 o Sim o Não Questão 2: Você (ou o aplicador do colírio) lava as mãos antes de instilar o colírio? o Sim o Não Questão 3: Quantas gotas em média são necessárias por aplicação em cada olho? o Uma o Duas o Três ou mais Quadro 2 Questão 4: Você recebeu alguma instrução sobre o modo de aplicar o colírio? o Sim o Não Questão 5: É você mesmo quem aplica o colírio? o Sim o Não Questão 6: Em que posição o colírio é aplicado? o Sentado o Deitado o Em qualquer posição o Em pé Questão 7: Você sente ardor, dor ou irritação ocular ao aplicar o colírio? o Sim o Não para responder ao questionário. Em seguida foi fornecido ao paciente um frasco plástico conta-gotas de fluoresceína sódica a 1% ® (Allergan ), frasco plástico conta-gotas, contendo 3ml de solução oftálmica estéril e gaze. No local da realização da pesquisa havia condições para higienização das mãos, além de mobiliário usual de um consultório médico. Foi solicitado que o paciente realizasse a instilação da fluoresceína sódica de maneira semelhante a que ele faz com os colírios em uso. O examinador observou esta tarefa, atentando para alguns detalhes. Em seguida, preencheu uma ficha de observação. Foram agrupadas variáveis indicativas da qualidade da instilação do colírio, baseadas na entrevista fornecida pelo paciente (Quadro 1). Foram agrupadas variáveis indicativas da qualidade da instilação do colírio de acordo com a observa- Avaliação do uso de colírio no paciente portador de glaucoma 329 Quadro 3 Observação 1: O paciente realizou a lavagem das mãos? o Sim o Não Observação 2: Há alguma alteração motora que prejudique a aplicação? o Sim o Não Observação 3: Quem aplica o colírio? o O próprio paciente o Um acompanhante Observação 4: Quantas gotas foram aplicadas no olho direito? o Uma o Duas o Três ou mais Figura 1: Avaliação da diferença das médias de idade nos dois grupos de qualidade de instilação de colírio em que não foi encontrada diferença estatisticamente significante (p= 0,106) Observação 5: Quantas gotas foram aplicadas no olho esquerdo? o Uma o Duas o Três ou mais Observação 6: Qual o local da órbita em que o paciente aplicou o colírio? o Saco conjuntival o Globo ocular o Pálpebras o Canto medial ou lateral Observação 7: O paciente encostou o frasco no olho ou anexos? o Sim o Não Observação 8: O globo ocular foi atingido completamente pelo corante? o Sim o Não ção do examinador (Quadros 2 e 3). Com base nestas observações foi feita uma pontuação para cada ato observado, de modo que quanto melhor a qualidade da aplicação, maior o número de pontos. A somatória das questões de número um, dois, três, seis, sete e oito com a média das questões quatro e cinco nos permite avaliar a qualidade da aplicação de cada paciente. Foi calculado um ponto de corte a partir da mediana desta pontuação. Este ponto foi o valor 5,5. Desta maneira, obtiveram-se dois grupos distintos: Grupo 1: abaixo ou igual ao valor 5,5 : baixa qualidade de instilação. Grupo 2: acima do valor 5,5: instilação adequada Obs: a adequação ou não da forma de instilação diz respeito à amostra estudada e não necessariamente a população geral. Para análise estatística, os grupos 1 e 2 foram variáveis dependentes para um modelo de regressão Figura 2: Ausência de correlação estatisticamente significante entre a acuidade visual em LogMar e a graduação de qualidade de instilação de colírios (r2= 0.0012, p=0.8409) Figura 3: Avaliação da diferença das médias da acuidade visual em LogMar nos dois grupos de qualidade de instilação de colírio em que não foi encontrada diferença estatisticamente significante (p=0.493365) Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 327-31 330 Lisboa RDR, Picosse FR, Mello PAA, Paranhos Jr A logística binária, que teve como variáveis independentes as questões dos quadros 2 e 3. Para avaliação da associação entre a qualidade de instilação com sexo e escolaridade foi utilizado o teste de Qui-quadrado. A diferença entre as médias de idade entre os grupos de qualidade de instilação foi avaliada pelo teste de T de Student.A acuidade visual foi transformada em escala LogMAR e todos os cálculos foram realizados com esta notação. As acuidades visuais referidas como: movimento de mãos; percepção luminosa e sem percepção luminosa, por não caracterizarem efetivamente em acuidades visuais foram excluídas. A acuidade visual considerada foi a média entre os dois olhos ou a acuidade visual do olho único. RESULTADOS Foi verificado que dos 40 pacientes estudados, 24 deles (60%) foram incluídos no Grupo 1 (instilação inadequada) e 16 deles (40%) no Grupo 2 (instilação adequada). No modelo de regressão logística binária, a análise revelou importância estatisticamente significante às variáveis Q5 (valor de p igual a 0,004) e Q7 (valor de p igual a 0,018), demonstrando que é fator relevante para qualidade de instilação de colírio a ausência de um acompanhante para a realização desta tarefa; e a sensação de ardor, dor ou irritação ocular à instilação do colírio. Não houve significância estatística na associação da qualidade de instilação com as variáveis sexo, escolaridade e idade (Figura 1). Com relação à acuidade visual, esta mostrou-se não estar associada estatisticamente com a qualidade de instilação de colírio (Figura 2). Também não houve diferença entre os subgrupos (mediana como ponto de corte), quando correlacionados com a AV (Figura 3). DISCUSSÃO A falta de fidelidade ao tratamento é um grande problema no tratamento do glaucoma(5, 8). Uma análise da técnica de instilação de colírios demonstrou que pacientes glaucomatosos seguidos em hospital universitário não têm recebido orientação satisfatória (5) quanto à dosagem e técnica da instilação de colírios . Em um estudo realizado na Alemanha, obtevese como resultado que 76% dos pacientes aplicaram o colírio corretamente sem instrução prévia, ao passo que (9) 94% o fizeram após serem devidamente instruídos . Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 327-31 Outro estudo, onde foi verificado que percentual expressivo de portadores de glaucoma crônico, usuários de colírios hipotensores, obtiveram uma redução adicional em seus níveis pressóricos oculares, após terem sido (10) instruídos acerca do modo correto de instilação . Em nosso estudo parte significativa dos pacientes efetuou instilação inadequada de colírio. Dentre os fatores mais relevantes na adequada instilação de colírio está a presença de um acompanhante realizando esta tarefa. Em nosso experimento, tivemos uma pequena amostra de pacientes que possuíam acompanhante (apenas 3), porém estes pacientes tiveram aproveitamento de 100% na instilação do colírio. Como estes pacientes constituíam menos de 10% da amostra estudada, não se obteve relação estatisticamente significativa entre a presença de acompanhante e a melhor qualidade de instilação do colírio. Logo, é necessário que outros estudos sejam realizados com um número maior de pacientes para que se possa chegar a uma conclusão mais adequada. Deve ser levado em conta que os pacientes com pior acuidade visual não entraram na análise de influência da acuidade visual, o que pode justificar a falta de associação entre a medida da acuidade visual em LogMAR e o ranking. Do nosso grupo, três pacientes puderam apenas identificar o movimento de mão, um tinha apenas percepção luminosa e dois não tinham percepção luminosa. Outro fator importante a ser abordado é o fato de que alguns colírios produzem ardor, dor ou irritação ocular ao serem aplicados. Isso contribuiu de maneira significante na inadequada instilação do colírio. Em nossa pesquisa, 65% dos pacientes relataram esta queixa, e destes a maioria teve a instilação do colírio prejudicada. A instilação inadequada de colírios, além do prejuízo na terapêutica antiglaucomatosa, implica em elevado custo do tratamento, fator este que limita ainda mais a aderência do paciente ao tratamento, com conseqüente insucesso terapêutico. Uma avaliação do custo real do tratamento do glaucoma demonstrou que pacientes em tratamento clínico para a doença gastam em (11) média 11% da renda familiar mediana anual . (12) Em outro estudo , constatou-se que aproximadamente 24% dos pacientes tiveram 25% ou mais de sua renda comprometida com o tratamento, e 45,2% relataram dificuldade em adquirir a medicação em algum momento do tratamento. Admite-se, portanto, que possam apresentar maior risco de baixa adesão ao tratamento aqueles que têm dificuldades para adquirir a medicação. Outro fator a ser considerado nesta discussão é o volume das gotas de colírios. Estudos mostraram que dois colírios disponíveis no mercado nacional apresentaram Avaliação do uso de colírio no paciente portador de glaucoma gotas com o dobro do volume considerado necessário e ideal(13). Este achado tem forte repercussão econômica na renda familiar de cada paciente. O impacto da educação em grupos de pacientes portadores de glaucoma ainda se mantém controverso. Em ensaio clínico aleatório, não foi encontrado benefício em relação a este artifício no controle do glaucoma em análise a curto prazo(14). 331 REFERÊNCIAS 1 2 3 CONCLUSÃO 4 A presença de ardor na instilação do colírio influenciou na qualidade de instilação do mesmo. A presença de um acompanhante que realize a aplicação do colírio provavelmente está associada a uma melhor qualidade de instilação do mesmo, contudo são necessários outros estudos com uma amostra maior para que se possa chegar a esta conclusão. 5 ABSTRACT Purpose: To identify the most important variables interfering with the correct topical administration of antiglaucomatous drugs. Methods: Forty glaucomatous patients under clinical treatment were interviewed and observed while applying antiglaucomatous drugs. The following variables were analyzed: sex; age; income; washing of the hands; number of drops; motor abnormalities; availability of another person to apply the drug; place of the globe reached; bottle-eye contact; previous instruction; positioning for application; development of a burning sensation, pain or irritation. Using the questionary, the variables were correlated with the quality of instillation. Results: Among all variables, only the availability of another person to apply the drug and the existence of a burning sensation, pain or eye irritation showed statistically important correlation to proper instillation. Conclusion: The presence of a companion and the development of burning sensation affected the quality of instillation. Keywords: Glaucoma/drug therapy; Drug utilization; Instillation, drug 6 7 8 9 10 11 12 13 14 Thylefors B, Négrel AD. The global impact of glaucoma. Bull World Health Organ. 1994; 72(3): 323-6. Quigley HA. Number of people with glaucoma worldwide. Br J Ophthalmol. 1996; 80(5): 389-93. Comment in: Br J Ophthalmol. 1996; 80(5):385-6. Br J Ophthalmol. 1997; 81(1):93. Friedman DS, Wolfs RC, O’Colmain BJ, Klein BE, Taylor HR,West S, Leske MC, Mitchell P, Congdon N, Kempen J; Eye Diseases Prevalence Research Group. Prevalence of open-angle glaucoma among adults in the United States. Arch Ophthalmol. 2004; 122(4): 532-8. 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Botucatu, nº 820, Vila Clementino São Paulo - SP Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 327-31 RELATO 332 DE CASO Estenose adquirida do ponto lacrimal - conduta Acquired external punctal stenosis - management 1 1 Erick Marcet Santiago de Macedo , Rachel Carmargo Carneiro , Suzana Matayoshi 2 RESUMO A estenose do ponto lacrimal é uma causa comum de epífora sintomática e freqüentemente seu diagnóstico é comprometido pela falta de familiaridade do oftalmologista com tal afecção. A literatura sobre o assunto é escassa e suas causas ainda permanecem obscuras. O objetivo desse trabalho é fazer uma breve análise da literatura existente, relatar o seu quadro clínico, demonstrar como é realizado o seu diagnóstico, assim como o seu manejo clínico. O tratamento ambulatorial, quando conduzido adequadamente, pode trazer um excelente resultado, conforme demonstrado nesse caso. Descritores: Constrição patológica; Doenças do aparelho lacrimal/terapia; Obstrução dos ductos lacrimais; Relatos de casos [Tipo de publicação]. 1 Estagiários do Setor de Plástica Ocular da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP), Brasil; 2 Doutora, Médica Assitente e Chefe do Setor de Plástica Ocular da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP), Brasil. Trabalho realizado no Setor de Plástica Ocular da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP), Brasil. Recebido para publicação em: 20/07/2007 - Aceito para publicação em 24/10/2007 Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 332-6 Estenose adquirida do ponto lacrimal - conduta 333 INTRODUÇÃO A estenose do ponto lacrimal é uma causa comum de epífora sintomática e freqüentemente seu diagnóstico é comprometido pela falta de familiaridade do oftalmologista com tal afecção. A literatura sobre o assunto é escassa e suas causas ainda per(1) manecem obscuras . O objetivo desse trabalho é fazer uma breve análise da literatura existente, relatar o seu quadro clínico, demonstrar como é realizado o seu diagnóstico, assim como o seu manejo clínico. O tratamento ambulatorial, quando conduzido adequadamente, pode trazer um excelente resultado, conforme demonstrado nesse caso. RELATO DE CASO Paciente feminina, 35 anos, negra. Encaminhada ao Setor de Plástica Ocular do Hospital das Clíncias (FMUSP-SP), referindo “lacrimejamento” em olho direito, há aproximadamente sete anos, desde a gravidez de sua segunda filha. Negava outras queixas oculares. Ao exame ocular externo, havia aumento do menisco lacrimal em olho direito. Ao teste de Milder (desaparecimento da fluoresceína após 5 min.) o olho direito apresentou uma quantificação de ++++/4(+) e o esquerdo sem alteração da drenagem. À biomicroscopia do olho direito ambos os pontos eram tópicos, o ponto inferior (Figura 1) apresentava estenose grau I (Tabela 1) e o superior grau II. O olho esquerdo apresentava pontos tópicos, o inferior grau IV Figura 1: Membrana recobrindo o óstio do ponto lacrimal dificultando seu reconhecimento (O.D. inf.) (Figura 2) e o superior grau II. Conduta Se fundamentou no estudo realizado por Kashkouli (1) et al. (Tabela 1). • Olho direito/ponto inferior – perfuração da membrana com agulha de 25 G seguido da dilatação do mesmo (Figura 3 ). • Pontos superiores de ambos os olhos – dilatação. • Olho esquerdo/ponto inferior – não foi necessária intervenção. Todos os pontos foram explorados através de sondagem e irrigação com soro fisiológico 0,9%, se mostrando pérvios. Foi prescrito uma associação de antibiótico e corticóide (Tobradex®), 4x ao dia, em olho direito. No acompanhamento foram realizadas dilatações periódicas dos pontos tratados, duas vezes por semana, até reepitelização dos mesmos. Após reepitelização as dilatações se tornaram mais esparsas, Tabela 1 Graduação dos pontos lacrimais Grau Achados Intervenção Cirurgia III Ausência de papila e ponto (atresia) Papila coberta por membrana ou friboso, dificultando seu reconhecimento Menor que o tamanho normal, porém reconhecível Normal IV V Em fenda < 2mm Em fenda > ou = 2mm 0 I II Perfuração com agulha e dilatação Dilatação Dilatação apenas para exploração das vias lacrimais Desnecessária Desnecessária Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 332-6 334 Macedo EMS, Carneiro RC, Matayoshi S Figura 3 - Aspecto após perfuração (O.D. inf.) Figura 2: Ponto lacrimal em fenda (O.E. Inf.) Figura 4: Aspecto após uma semana (O.D. inf.) uma vez por semana por duas semanas, duas vezes por mês e 1 vez por mês. O período total de tratamento foi de três meses. sintomática. O diagnóstico é simples e se baseia na história de epífora, teste de desaparecimento da fluoresceína (Teste (1) de Milder) e exame em lâmpada de fenda . A estenose de ponto pode ser classificada em congênita ou adquirida e graduada conforme os achados clínicos, o que permite definir seu tratamento (Tabela 1). O ponto lacrimal normal apresenta um orifício de aproximadamente 0,3 mm de diâmetro (grau III). Um ponto quando apresenta seu orifício reduzido, porém permanece identificável é graduado como grau II. A oclusão congênita externa do ponto (atresia) se caracteriza pela ausência tanto da papila como também do ponto lacrimal (grau 0). Quando uma imperfuração é identificada e decorrente da presença de membrana ou fibrose que dificultem sua identificação é classificada como grau I. Se o ponto possui a forma de fenda é classificado como grau IV se menor que dois milímetros e (1) grau V quando maior ou igual a dois milímetros . Os graus de estenose I e II são os mais freqüentes. O seu tratamento, portanto deve ser direcionado para dilatação de pontos e perfuração com agulha (Tabela 1). Esses procedimentos ambulatoriais são de rápida e fácil execução. A estenose é significativamente mais freqüente em mulheres e as mudanças hormonais pós-menopausa são as (2) principais responsáveis por essa diferença entre os sexos . Evolução A paciente referiu melhora do quadro três dias após procedimento. Após a primeira semana, o teste de Milder se normalizou, foi prescrito um esquema de redução de corticóide (Loteprol®) e a associação (Tobradex®) suspensa.Ao exame biomicroscópico o orifício do ponto permanecia pérvio, porém ainda em processo de cicatrização (Figura 4). Na segunda semana se iniciou tanto a reepitelização do ponto como também a regressão da membrana (Figura 5). Na terceira semana os processos de reepitelização do ponto e regressão da membrana se completaram (Figura 6). A paciente permanece assintomática após seis meses do tratamento. DISCUSSÃO A estenose de ponto lacrimal é uma afecção freqüentemente subdiagnosticada e causa comum de epífora Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 332-6 Estenose adquirida do ponto lacrimal - conduta 335 Figura 5: Aspecto após duas semanas (O.D. inf.) Figura 6: Aspecto após três semanas/reepitelização do ponto lacrimal (O.D. inf.) As causas da estenose de ponto ainda permanecem obscuras, dentre as principais identificadas, se destacam em ordem decrescente de freqüência: 1. Blefarite crônica; 2. Idiopática; 3. Alteração de posicionamento da pálpebra (ectrópio); 4. Medicação tópica e quimioterapia sistêmica. A blefarite crônica induz mudanças inflamatórias e cicatriciais do ponto, resulta na formação de membrana inflamatória, estímulo ao crescimento exagerado do epitélio conjuntival e queratinização das paredes do ponto(1-2). Está implicada também no olho seco decorrente de obstrução das glândulas de Meibômio com conseqüente insuficiência da camada lipídica do filme lacrimal. Dessa forma, se torna imperativo o tratamento da blefarite antes de qualquer tipo de intervenção. Dentre os casos definidos como idiopáticos, sua freqüência aumenta significativamente com a idade do (1-2) paciente . Mudanças involucionais foram reconhecidas como sua causa, assim como responsáveis também pela estenose canalicular e obstrução do ducto (1, 3-6) lacrimonasal .Tal fato justifica sua associação e a importância da exploração das vias lacrimais. A obstrução das vias lacrimais altas se mostra mais freqüente que a baixa e está ligada ao aumento da faixa etária, assim (1 ) como duração dos sintomas . As alterações relacionadas à idade somadas à atrofia do tecido parecem causar fibrose da estrutura do ponto, esse se torna menos elástico e as fibras do orbicular que o circundam se tornam atônicas, resultando em (7) estenose . A alteração do posicionamento da borda palpebral levando ao ectrópio permite o ressecamento da conjuntiva que envolve o ponto, servindo de estímulo para sua queratinização (metaplasia escamosa) e estenose(3). O uso de medicação tópica, principalmente os antiglaucomatosos, dentre eles o Latanoprost, levam ao au- mento do número conjuntival e subconjuntival de fibroblastos, macrófagos, assim como de outros tipos de células inflamatórias. A estenose do ponto ou canalicular (5,8) tem se associado à terapia de longa data . A quimioterapia sistêmica com 5-fluorouracil também mostrou relação significativa com a estenose de ponto(9). As mudanças hormonais da gravidez já foram relacionadas a alterações oculares, dentre elas estão o olho seco, edema palpebral, alterações refrativas e de retina. O edema palpebral e as mudanças refrativas parecem ser ligados à retenção de líquidos, assim como o olho seco são temporários. É possível que de alguma forma tais mudanças possam levar também a estenose de ponto lacrimal e ser responsáveis por parte dos casos referidos como idiopáticos, principalmente em mulheres na idade fértil, como no caso relatado. ABSTRACT Punctal lachrymal stenosis is a common cause of symptomatic epiphora, often the diagnosis of this disease is jeopardized due to the lack of familiarity of the ophthalmologist with such disease. The literature about this subject is scarce and its causes remain obscure. The objective of this study is to make a brief review of available literature, report a case, showing how the diagnosis is carried out, as well as its clinical handling. The ambulatorial treatment, when properly deployed can produce excellent results, as it has been shown in this case. Keywords: Constriction, pathologic; Lacrimal apparatus diseases/therapy; Lacrimal duct obstruction; Case reports [Publication type] REFERÊNCIAS 1. Kashkouli MB, Beigi B, Murthy R, Astbury N. 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São analisadas semelhanças e diferenças com outros casos descritos na literatura. Descritores: Rinosporidiose; Conjuntivite; Granuloma; Neoplasias da conjuntiva; Esclera/patologia; Relatos de casos [Tipo de publicação] 1 Pós-graduando pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG – Belo Horizonte (MG), Brasil; Assistente do Serviço de Córnea e Catarata do Hospital Oftalmológico de Brasília – HOB – Brasília (DF), Brasil; 2 Residente em Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP – São Paulo (SP), Brasil; 3 Residente em Oftalmologia do Hospital de Base do Distrito Federal – HBDF - Brasília – (DF), Brasil; 4 Mestre, Médico Chefe do Serviço de Córnea e Catarata do Hospital Oftalmológico de Brasília – HOB - Brasília (DF), Brasil. Trabalho realizado no Serviço de Córnea, Catarata e Doenças Externas do Hospital Oftalmológico de Brasília – HOB. Brasília – DF. Recebido para publicação em: 16/07/2007 - Aceito para publicação em 27/10/2007 Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 337-40 338 Tzelikis PFM, Martins HC, Vilela G, Akaishi L INTRODUÇÃO A rinosporidiose é uma infecção granulomatosa na qual o agente etiológico é o Rhinosporidium seeberi, que acomete primariamente as mucosas nasais ou oculares, levando ao aparecimento de reação tecidual crônica, caracterizada pela formação de lesões polipóides e vascularizadas. A mucosa nasal é o sítio de infecção mais freqüente, segui(1-2) do da conjuntiva bulbar . O agente foi descrito na literatura, pela primeira vez, em 1900, por Guillermo Seeber, após a obtenção de material da cavidade nasal de um paciente de 19 anos, (3) trabalhador rural . O primeiro caso com envolvimento ocular foi relatado por Ingram, em 1910(4). Desde então, diferentes relatos vêm sendo ocasionalmente apresentados em todo o mundo, principalmente nas regiões da Índia e Sirilanka, onde a rinosporidiose é endêmica(5). O objetivo deste trabalho é relatar, na literatura nacional, o primeiro caso de rinosporidiose ocular que se apresentou na forma de lesão polipóide na conjuntiva bulbar, associada a afilamento escleral. RELATO DE CASO E.A.S, 12 anos, masculino, leucodérmico, estudante, natural de Boa Vista - Roraima, residente em Brasília – DF. Procurou o Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB) queixando-se do aparecimento de uma pequena lesão nodular na região temporal do olho esquerdo (OE), há 8 meses, com crescimento lento e progressivo. Referia leve desconforto ocular. Negava dor, prurido ou baixa visual no olho acometido. Não estava em uso de nenhuma medicação. O paciente relatava leve trauma ocular contuso, com vegetal, no OE, algumas semanas antes do aparecimento da lesão. Negava cirurgia ocular prévia, assim como doenças sistêmicas. Ao exame inicial, o paciente apresentava acuidade visual não corrigida normal em ambos os olhos (AO). À biomicroscopia, observava-se pequena lesão conjuntival polipóide, pedunculada, móvel, de consistência macia e coloração avermelhada, na região temporal do OE. Na região subjacente da esclera, observava-se área de adelgaçamento, de 6,0 x 6,0mm, através da qual se percebia a coloração azul-acastanhada da úvea. As demais estruturas oculares do OE não apresentavam qualquer alteração aparente, assim como eram normais todas as estruturas do OD. A pressão intra-ocular registrada foi de 12 e 10 mmHg no OD e OE, respectivamente, às 9:20 horas (Figura 1). Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 337-40 Para esclarecimento diagnóstico, o paciente foi submetido à biópsia excisional da lesão pedunculada, seguida de enxerto escleral na área de afilamento, com o objetivo de restaurar a integridade da parede ocular e evitar complicações futuras. O exame histopatológico (corado por hematoxilina-eosina, PAS e tricrômio de Gomori) evidenciou hiperplasia do epitélio escamoso da conjuntiva e acentuado infiltrado inflamatório crônico, constituído predominantemente por linfócitos, associados a histiócitos, plasmócitos e neutrófilos. Em meio ao infiltrado, observava-se a presença de inúmeros esporângios de Rhinosporidium seeberi, representados por estruturas císticas, eosinofílicas, de duplo contorno e paredes espessas. No pós-operatório, o paciente foi tratado com pomada de antibiótico local e evoluiu sem complicações e sem sinais de recidiva, após 12 meses de acompanhamento. DISCUSSÃO As infecções oculares fúngicas vêm sendo cada vez mais reconhecidas como uma importante causa de (6) morbidade e cegueira . Os fungos são agentes oportunistas no olho, uma vez que raramente infectam olhos sadios ou que apresentem sua estrutura íntegra. No entanto, mesmo um leve trauma na superfície ocular pode comprometer sua integridade e levar ao aparecimento (7) de um quadro de infecção fúngica . Apesar de identificado desde 1900, Rhinosporidium seeberi ainda apresenta sua patogênese bastante incerta. Em virtude de não se conhecerem seus estágios sexuais, sua classificação taxonômica ainda é bastante discutível. O R. seeberi já foi considerado como um protozoário, e atualmente é classificado como um organismo fúngico anômalo, pertencente à classe Mesomycetozoea, juntamente com outros 10 parasitas e (8) micróbios saprófitas . A conjuntivite por Rhinosporidium seeberi parece ser endêmica em lugares como a Índia e o Sirilanca, onde a prevalência desta doença é estimada em 470 ca(5-7) sos por 100.000 habitantes . No entanto, nos últimos anos, um número significativo de casos foi relatado em outros países, como Estados Unidos, Zaire, Kuwait e Sérvia(6).A maioria dos casos relatados de conjuntivite por rinosporidiose ocorreu em áreas de clima quente e seco. Apesar das evidências epidemiológicas apresentadas em vários trabalhos sugerirem o habitat natural do R. seeberi como sendo locais que apresentam água contaminada, como poços, rios ou lagos, não foi possível sua confirmação através do exame dessas águas(8). Crianças e adultos jovens residentes em áreas rurais continuam a ser os mais Afilamento escleral em paciente com rinosporidiose conjuntival 339 A B C D Figura 1: A - Lesão conjuntival polipóide, móvel, vascularizada, avermelhada, sobre área de afilamento escleral na região temporal do olho esquerdo; B - Exérese de lesão conjuntival para exame histopatógico; C - Exposição da área de adelgaçamento escleral; D - Colocação de enxerto escleral sobre a região de afilamento acometidos por esse agente, sendo que a maioria dos estudos apresenta uma prevalência do sexo masculino em (6-7) relação ao feminino, numa relação de 4:1 . O acometimento de estruturas oculares responde por 15% de todos os casos de infecção por R. seeberi(1). As lesões oculares são geralmente unilaterais e apresentam-se na forma de uma estrutura pedunculada ou séssil, móvel, com aspecto granular, coloração rosada ou avermelhada, e geralmente aderida ao fórnice ou (9-10) conjuntiva tarsal . O envolvimento de outras estruturas oculares, como carúncula, limbo, margem palpebral, vias lacrimais e esclera já foi relatado, porém com me(6-7) nor freqüência . A presença de envolvimento escleral pelo R. seeberi é bastante rara, tendo sido descrita na literatura (10-13) mundial em apenas quatro trabalhos . O diagnóstico clínico deste tipo de escleromalácia é baseado nos achados conjuntivais concomitantes, porém a confirmação diagnóstica só é possível através do exame histopatológico, no qual se podem identificar os esporângios (lesões de aspecto cístico) em diferentes estágios de maturação e degeneração, circundados por um infiltrado inflamatório crônico, predominantemente constituído por linfócitos, plasmócitos, histiócitos e (1) neutrófilos . O paciente em questão apresentava, além do afilamento escleral, uma lesão polipóide na conjuntiva suprajacente. Em todos os outros casos descritos na literatura, não foi observada nenhuma lesão polipóide concomitante, mas apenas uma discreta congestão conjuntival com pontos granulares branco(10,12) acinzentados . A exclusão de outras causas de “melting” escleral de origem não infecciosa deve ser sempre realizada. Escleromalácia perfurante é um importante diagnóstico diferencial, sendo esta mais freqüente em pacientes idosos, com história de artrite reumatóide (10,12) e com acometimento bilateral . Entre as opções terapêuticas, a única considerada efetiva é a cirúrgica.As recidivas são raras e decorrem da excisão incompleta da lesão. O uso de cauterização ou crioterapia na base da lesão parece contribuir para redução das recorrências da doença, hipótese ainda não con(1) firmada . O tratamento clínico através de medicações Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 337-40 340 Tzelikis PFM, Martins HC, Vilela G, Akaishi L tópicas e sistêmicas vem sendo proposto por alguns autores. No entanto, o uso destas drogas não apresentou nenhuma evidência que comprovasse sua real eficácia(1-2,6). Em conclusão, é descrito o primeiro caso na literatura nacional de rinosporidiose ocular que se apresentou na forma de uma lesão conjuntival associada com afilamento escleral. A rinosporidiose conjuntival deve estar sempre no diagnóstico diferencial de qualquer lesão conjuntival acompanhada de adelgaçamento escleral, em pacientes jovens e sadios. 2. 3. 4. 5. 6. 7. ABSTRACT 8. The authors report a case of conjunctival rhinosporidiosis associated with scleral thinning treated surgically with scleral graft. The similarities and differences with other reported cases in the literature are analyzed. Keywords: Rhinosporidiosis; Conjunctivitis; Granuloma; Conjunctival neoplasms; Sclera/pathology; Case reports [Publication type] 9. 10. 11. 12. REFERÊNCIAS 13. 1. Reidy JJ, Sudesh S, Klafter AB, Olívia C. Infection of the conjunctiva by Rhinosporidium seeberi. 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RELATO DE CASO341 Telangiectasia retiniana parafoveal unilateral Unilateral Parafoveal Retinal Telangiectasis 1 2 Mário Martins dos Santos Motta , Jacqueline Coblentz RESUMO Telangiectasia retiniana é um termo inicialmente proposto por Reese, em 1956. Caracteriza-se por uma anormalidade vascular retiniana, com dilatação irregular e incompetência dos vasos. E.L.S., 44 anos, sexo masculino, branco, do Rio de Janeiro, com queixa de perda progressiva da visão em olho esquerdo (OE).Ao exame observamos acuidade visual (AV) corrigida de 20/20 em olho direito (OD) e 20/100 em OE. À fundoscopia, OD normal e OE apresentando dilatação capilar e exsudatos duros com aspecto circinado na região macular. Angiografia fluoresceínica e, após o resultado, injeção intravítrea de triancinolona em OE (4mg/0,1ml). Após um mês da injeção de triancinolona a AV em OE passou a 20/40, os exsudatos duros tornaram-se mais visíveis e a angiografia mostrou diminuição do vazamento do corante. Foi possível a realização de fotocoagulação com laser. A AV final corrigida foi de 20/20 em ambos os olhos. O tratamento com laser está amplamente difundido na literatura, porém optamos inicialmente pela injeção intravítrea de triancinolona. Pode-se considerar a injeção intravítrea de triancinolona em casos de telangiectasia retiniana parafoveal com redução importante da visão e alterações muito próximas à região avascular foveal. Entretanto, os resultados em longo prazo não são conhecidos e precisam ser confrontados com as outras opções de tratamento. Descritores:Telangiectasia/diagnóstico; Telangiectasia/quimioterapia; Vasos retinianos/ anormalidades; Fotocoagulação/métodos; Triancinolona/uso terapêutico; Relatos de casos [Tipo de publicação] 1 2 Livre docente, Professor Adjunto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Médica Oftalmologista da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro -UNIRIO – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Departamento de Oftalmologia do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG) – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Parte deste trabalho foi mostrado como pôster no 30º Congresso da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo, em abril de 2005. Recebido para publicação em: 05/03/2007 - Aceito para publicação em 05/10/2007 Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 341-4 342 Motta MMS, Coblentz J INTRODUÇÃO T elangiectasia retiniana é um termo inicialmen1 te proposto por Reese, em 1956. Caracteriza-se por uma anormalidade vascular retiniana, com dilatação irregular e incompetência dos vasos.2 Acomete tipicamente adultos do sexo masculino, que referem embaçamento de visão central devido à exsudação a 3 partir de capilares retinianos na região justafoveal. Os pacientes podem ainda ser assintomáticos, apresentar metamorfopsia e/ou escotoma central. Gass classificou as telangiectasias retinianas 4 parafoveais e as diferenciou da doença de Coats .O grupo 1A consiste em telangiectasia retiniana parafoveal unilateral, cujos sintomas aparecem em homens de meia idade sem evidência de doença sistêmica. O comprometimento visual é moderado, e as telangiectasias estão confinadas a uma área em torno de 1 a 2 diâmetros de disco, na metade temporal da mácula.A diminuição da acuidade visual é devida a edema macular policístico e exsudação. Pacientes com exsudatos lipídicos próximos ou no centro da mácula têm 2 maior probabilidade de perda progressiva da visão. A angiografia fluoresceínica mostra dilatação (5) capilar e vazamento tardio. O diagnóstico diferencial inclui telangiectasia justafoveal adquirida bilateral (grupos 2A e 2B), telangiectasia perifoveal bilateral e oclusão capilar (grupo 3) ou telangiectasia causada por: oclusão de ramo venoso, retinopatia diabética, retinopatia por exposição aos raios-X, doença de Eales, maculopatia falciforme, 2,5 esclerose tuberosa e obstrução da artéria carótida. Nos casos em que a acuidade visual está compro3,6 metida (pior que 20/40) , pode-se indicar fotocoagulação, havendo contudo o risco de complicações como formação de membrana epi-retiniana e/ou membrana neovascular sub-retiniana. Devido à proximidade dos vasos anormais com a fóvea, tem sido proposta recentemente a injeção 7 intravítrea de triancinolona. RELATO DO CASO E.L.S., 44 anos, sexo masculino, branco, natural do ... Sem doenças sistêmicas. Em Janeiro de 2005 veio ao ambulatório de Oftalmologia com queixa de perda progressiva da visão em olho esquerdo (OE). Ao exame observamos acuidade visual corrigida de 20/20 em olho direito (OD) e 20/100 em OE. Segmentos anteriores normais em ambos os olhos e tonometria 10/11 mmHg. À fundoscopia, OD normal e Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 341-4 Figura 1: Retinografia mostrando telangiectasia retiniana parafoveal OE apresentando dilatação capilar e exsudatos duros com aspecto circinado na região macular (Figura 1). Conduta Angiografia fluoresceínica (Figuras 2 e 3) e, após o resultado, injeção intravítrea de triancinolona em OE (4mg/ 0,1ml). Prescrito maleato de timolol 0,5% 12/12 horas. Evolução Após uma semana, a acuidade visual corrigida melhorou para 20/40+2 em OE.Tonometria 12 mmHg. Após um mês da injeção de triancinolona a acuidade visual permanecia inalterada, os exsudatos duros tornaram-se mais visíveis e a angiografia mostrou diminuição do vazamento do corante. Devido à melhor visibilidade, foi possível a realização de fotocoagulação com laser na área afetada (Figuras 4 e 5). A acuidade visual final corrigida foi de 20/20 em ambos os olhos. DISCUSSÃO O paciente não apresenta história de exposição à radiação, não é diabético e a distribuição da área de vazamento não se correlaciona com a observada na obstrução de ramo da veia central da retina e outras vasculopatias. O diagnóstico foi telangiectasia parafoveal unilateral, devido aos achados característicos à fundoscopia e angiografia fluoresceínica. Não foi realizada tomografia de coerência óptica, pois não está disponível neste serviço. Apesar do tratamento com laser estar amplamente difundido na literatura2-4, optamos inicialmente pela injeção de triancinolona intra-vítrea devido à proximi- Telangiectasia retiniana parafoveal unilateral 343 Figura 2: Angiografia fluoresceínica pré-tratamento Figura 3: Hiperfluorescência tardia em região justafoveal Figuras 4: Angiografia fluoresceínica pós-tratamento Figuras 5: Diminuição da área de hiperfluorescência dade dos capilares defeituosos com a área foveal avascular. Nos artigos consultados não encontramos referência ao possível mecanismo de ação dos corticosteróides, para reduzir o edema macular. Acreditamos que, assim como está sugerido para o edema macular diabético, haja uma desorganização das junções apertadas entre as células endoteliais dos vasos perifoveais por diminuição dos níveis das proteínas celulares específicas ocludina e ZO-1.A triancinolona elevaria os níveis destas substâncias, com restauração das junções apertadas e redução do extravasamento8. A nítida redução do vazamento à angiografia explica a maior visibilidade das dilatações vasculares e dos exsudatos duros na retinografia de controle. tante da visão e alterações muito próximas à região avascular foveal, com posterior realização de terapia com laser. Entretanto, os resultados em longo prazo não são conhecidos e precisam ser confrontados com as outras opções de tratamento. CONCLUSÃO Pode-se considerar a injeção intravítrea de triancinolona como conduta inicial em casos de telangiectasia retiniana parafoveal com redução impor- ABSTRACT Retinal telangiectasis was first described by Reese, in 1956. It is an abnormality of the retinal vessels, with irregular dilation and vessel failure. ELS, 44 years old, male, white, from Rio de Janeiro. His complaining was progressive visual loss in the left eye (OS). Corrected visual acuity (VA) was 20/20 in the right eye (OD) and 20/100 in OS. Fundoscopy in OD was normal, and in OS showed capillaries dilation and hard exsudates (circinate) in macular area.After fluorescein angiogram, we performed intravitreal injection of triamcinolone acetonide (4mg/0.1ml) in OS. One month after injection, VA in OS was 20/40, hard exsudates became more visible and angiogram showed a reduction in dye leakage. Due Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 341-4 344 Motta MMS, Coblentz J to better visibility, we were able to perform laser photocoagulation on the affected area. Final best corrected VA was 20/20 in both eyes. Although laser treatment is widely recommended, we chose intravitreal triamcinolone injection initially due to the fact that damaged capillaries were too close to foveal avascular zone. Intravitreal triamcinolone injection can be considered in cases of parafoveal retinal telangiectasis with significant decreased vision and changes near foveal avascular zone. However, long term results are not known yet and need to be confronted with other available treatments. Keywords: Telangiectasis/diagnosis; Telangiectasis/drug therapy; Retinal vessels/abnormalities; Light coagulation/ methods Triamcinolone/therapeutic use; Case reports [Publication type] Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 341-4 REFERÊNCIAS 1. Reese AB. Telangiectasis of the retina and Coats’ disease. Am J Ophthalmol. 1956; 42(1): 1-8. 2. Gass JD. Stereoscopic Stereoscopic atlas of macular diseases: diagnosis and treatment. 4th ed. St. Louis: Mosby; 1997. p. 494-515. 3. Yanoff M, Duker JS, editors. Ophthalmology. 2nd ed. St. Louis: Mosby; 2004. p. 896-901. 4. Gass JD, Oyakawa RT. Idiopathic juxtafoveolar retinal telangiectasis. Arch Ophthalmol. 1982; 100(5): 769-80. 5. Kanski JJ. Clinical ophthalmology: a systematic approach. 5th ed. London: Butterworth-Heinemann; 2003. p. 479-81. 6. Tasman WS, editor. Clinical decisions in medical retinal disease. St Louis: Mosby; 1994. p. 198-202. 7. 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Na fundoscopia do olho direito, detectou-se uma lesão retiniana superior periférica que se estendia ao pólo posterior. O olho contralateral era normal. Na ultra-sonografia do olho direito, evidenciou-se uma membrana de alta reflexividade. No campo visual, detectou-se um defeito absoluto no campo inferior. O OCT, com scan centrado na ruptura da camada externa, demonstrou a separação da estrutura da retina. O ERG escotópico revelou uma nítida redução da amplitude da onda b no olho direito em relação ao olho contralateral (resposta com “onda negativa” no olho direito). O ERG multifocal era sem alterações nos dois olhos. Nos casos duvidosos, os exames complementares são indispensáveis. O OCT demonstrou morfologicamente a alteração. O ERG e a presença do escotoma absoluto no campo inferior confirmaram a alteração funcional da retina.A presença da “onda negativa” demonstra o comprometimento da função das camadas internas da retina através da redução da onda b e a função normal dos fotorreceptores com a presença da onda a inalterada. Casos duvidosos devem sempre ser investigados e estudados cuidadosamente para que tenhamos um diagnóstico de certeza e, conseqüentemente, uma conduta médica mais efetiva evitando procedimentos que possam eventualmente comprometer a visão. Descritores: Retinosquise/diagnóstico; Eletrorretinografia/métodos; Descolamento retiniano; Tomografia de coerência óptica; Idoso 1 Doutora, Assistente da Fundação Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP – São Paulo (SP), Brasil; Pesquisadora da Faculdade de Medicina da Università “La Sapienza” – Roma – Italia; 2 Pós-graduando do Setor de Retina e Vítreo do Departamento de Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo USP – São Paulo (SP), Brasil; 3 Residente do Departamento de Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP – São Paulo (SP), Brasil; 4 Pós-graduanda da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP – São Paulo (SP), Brasil; 5 Doutor, Assistente e Chefe do Setor de Retina e Vítreo do Departamento de Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP – São Paulo (SP), Brasil. Recebido para publicação em: 01/03/2007 - Aceito para publicação em 24/10/2007 Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 345-9 346 Mendonça RHF, Maia Jr. OO, Gasparin F, Rodrigues LD, Takahashi WY INTRODUÇÃO A retinosquise é um processo degenerativo da retina com separação de suas lamelas e formação de cistos entre suas camadas. O diagnóstico da retinosquise pode ser, muitas vezes, difícil por (1) causa das formas clínicas atípicas .A retinosquise senil, também chamada adquirida, é bilateral em 50 a 80% (2) dos pacientes afetados , acometendo o quadrante infero(3-4) e está comumente associada com temporal hipermetropia(2). É geralmente assintomática e não progressiva(4). Na retinosquise degenerativa típica, a retina (2) se divide na camada plexiforme externa . Na oftalmoscopia com depressão escleral, a camada externa aparece irregular, manchada e a camada interna é (2) fina, elevando-se de forma ovalada e lisa . Muitas vezes, os exames complementares são necessários para a confirmação diagnóstica(3,5). O descolamento de retina deve (2,6,7) sempre ser considerado no diagnóstico diferencial . Alguns autores utilizaram a fotocoagulação com laser de argônio nos casos duvidosos, e a reação decorrente dessa fotocoagulação pode diferenciar a retinosquise do descolamento de retina(7). A ressecção das camadas internas demonstraram aumentar o risco de formação de (8) membranas epirretinianas . O tratamento deve ser considerado apenas em último caso, quando o paciente apresenta sintomas decorrentes do descolamento de retina (4) progressivo . No presente trabalho, relata-se um caso difícil onde a utilização da OCT e eletrofisiologia contribui para o estabelecimento diagnóstico. RELATO DO CASO Paciente do sexo feminino, negra, com 61 anos de idade compareceu ao Ambulatório de Oftalmologia da Prefeitura Municipal de São José dos Campos para exame de rotina.Ao exame, detectou-se acuidade visual de Snellen de 20/20 em ambos os olhos e J1 (tabela de Jaeger) com +2,50 para perto. A paciente tinha J1 de visão para perto. Foram normais os exames da motilidade ocular, biomicroscopia do segmento anterior e tonometria de aplanação. Na fundoscopia do olho direito, detectou-se uma lesão retiniana superior periférica que se estendia ao pólo posterior. O olho contralateral era normal.A paciente foi encaminhada imediatamente ao Ambulatório de Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para investigação diagnóstica, onde foram realizados os exames de retinografia, [evidenciando no olho direito, retinosquise que se estende da periferia até o Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 345-9 pólo posterior, lesões esbranquiçadas na camada interna (reação glial) e ruptura da camada externa da retinosquise] (Figura 1); ultra-sonografia (evidenciando no Modo A, eco de alta refletividade e prega fixa com limite anterior pouco convexo e no Modo B, imagem cística, anecóica e imóvel) (Figura 2); campo visual (mostrando uma contração periférica parcial inferior das isópteras formadas com as miras V4e , I4e , I2e; uma constrição da isóptera I1e e um discreto aumento da mancha cega , que foi traçada com a mira I4e. Como na área do defeito não houve respostas aos estímulos com mira V4e, pode-se afirmar que se trata de um defeito absoluto no campo inferior, correspondente à área com retinosquise observada no fundo de olho) (Figura 3); tomografia de coerência óptica (demonstrando a separação da estrutura retínica) (Figura 4) e exames eletrodiagnósticos (ERG de campo total demonstrando uma nítida redução da amplitude da onda b no olho direito em relação ao olho contralateral) (Figura 5). DISCUSSÃO Alguns casos de Retinosquise são de difícil diagnóstico. Exames complementares são necessários para a confirmação e exclusão de outras doenças que se assemelham com o quadro clínico. No presente caso, ressalta-se a importância dos exames complementares principalmente no diagnóstico diferencial com descolamento de retina. Ao exame de fundo de olho e na retinografia, foram evidenciadas lesões retinianas compatíveis com retinosquise, sugerindo uma ruptura na camada externa. É importante ressaltar que normalmente as alterações são bilaterais, acometem geralmente a região inferior (3) da retina e raramente se estendem ao pólo posterior. No presente caso, a alteração era unilateral e comprometia a região superior da retina estendendo-se ao pólo posterior. Evidencia-se a importância da diferenciação diagnóstica com casos de descolamento de retina. Geralmente, na retinosquise, não há hemorragias ou “tabaco dust” comumente detectadas em casos de (2) descolamento . Além disso, ressalta-se o aspecto morfológico da lesão sendo que, na retinosquise, encontra-se uma superfície lisa e, no descolamento, evidencia(2) se uma superfície irregular e enrrugada . Na ultra-sonografia do olho direito, evidenciouse uma membrana de alta reflexividade de difícil diferenciação com o descolamento seroso de retina. A presença do escotoma absoluto no campo inferior (Figura 3), correspondente à área com retinosquise Importância da tomografia de coerência Óptica e do eletrorretinograma na retinosquise senil 347 Figura 1: Retinografia do olho direito evidenciando retinosquise que se estende da periferia até o pólo posterior, lesões esbranquiçadas na camada interna (reação glial) e ruptura da camada externa da retinosquise observada no fundo de olho afasta a possibilidade do descolamento de retina onde geralmente é detectado um escotoma relativo. No OCT com o scan centrado na ruptura da camada externa (Figura 4), evidencia-se a separação das camadas da retina e inexistência de infiltração. Vários autores já demonstraram a importância do OCT na confirmação diagnóstica da retinosquise(3). A importância do OCT, no diagnóstico diferencial entre retinosquise e descolamento de retina, também já foi relatada na lite(6) ratura . O ERG é um exame importante porque correlaciona-se bem com a intensidade do comprometimento retiniano e indica qual extrato retiniano está afetado ou entre quais camadas a “esquise” ocorre(9). No presente caso (Figura 5), a presença da “onda negativa” ao estímulo máximo em condições escotópicas demonstra o comprometimento da função das camadas internas da retina através da redução da onda b e função normal dos fotorreceptores com a presença da onda a inalterada. Acredita-se que, no caso descrito, tenha ocorrido um comprometimento inicial das células de Müller demonstra(10) do pela redução da onda b . Essa redução normalmente (1,11) (1) grande da onda b com onda a normal é uma alteração típica da retinosquise juvenil, embora se saiba atualmente que a “onda negativa” do eletrorretinograma difuso não seja um sinal patognomônico de retinosquise(12). De qualquer modo, não é o resultado esperado em casos de descolamento de retina onde as ondas a e b são igual(13) mente comprometidas , demonstrando um mal funcionamento dos fotorreceptores e das camadas internas da retina.A normalidade do eletrorretinograma multifocal demonstra a integridade da região foveal.A retinosquise Figura 2: Ultra-sonografia do olho direito (modo B), evidenciando uma membrana de alta reflexividade de difícil diferenciação entre descolamento de retina seroso e retinosquise periférica não reduz o ERG focal nos estágios onde não existem alterações visíveis de atrofia do epitélio (14) pigmentar da retina . Ressalta-se a importância do OCT e do eletrorretinograma na confirmação diagnóstica de certas formas atípicas de retinosquise. No presente caso, esses dois métodos associados ao campo visual foram responsáveis pela confirmação diagnóstica.Alguns autores consideram o tratamento com laser de argônio eficaz na (15) prevenção das complicações . Por outro lado, muitos autores compartilham da opinião de que é melhor adiar o tratamento até que as complicações apareçam(16), sen- Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 345-9 348 Mendonça RHF, Maia Jr. OO, Gasparin F, Rodrigues LD, Takahashi WY Figura 3: Campo visual manual realizado com perímetro de Goldmann (Haag-Streit). Foram traçadas isópteras com as miras V4e , I4e , I2e, I1e, com correção de +3,0 dioptrias nos 30º centrais Figura 4: Tomografia de coerência óptica (Zeiss, Stratus OCT 3): scan centrado na ruptura da camada externa, demonstrando a separação da estrutura retínica Figura 5: Eletrorretinograma escotópico (Retiscan - Roland Instruments - Electrophysiological diagnostic systems) demonstrando uma nítida redução da amplitude da onda b no olho direito em relação ao olho contralateral. Nota-se assim uma resposta com “onda negativa” no olho direito. O eletrorretinograma multifocal apresenta-se sem alteração nos dois olhos do que o tratamento cirúrgico deverá ser feito somente e imediatamente nos casos progressivos e sintomáticos decorrentes de descolamento(16) que ameaçam a mácula(17). É importante ressaltar que o risco provável do descolamento de retina, decorrente da retinosquise pro(18) gredir ou tornar-se sintomático, é de apenas 0,07% . Casos duvidosos devem sempre ser investigados e estudados cuidadosamente para que tenhamos um diagnóstico de certeza e, conseqüentemente, uma conduta médica mais efetiva, evitando procedimentos que possam eventualmente comprometer a visão. Nos casos atípicos, o OCT e o ERG são importantes na confirmação diagnóstica, mudando eventual proposta terapêutica desnecessária. Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 345-9 ABSTRACT Retinoschisis diagnosis can be very difficult in atypical forms. Special exams are necessary to differentiate retinoschisis from other pathologies such as retinal detachment. Case Report: A 61-year-old black woman presented for routine examination. Fundus of the right eye reveled a superior periphery lesion extending to the posterior pole. The ultrassonography of the same eye showed a high reflective membrane. An inferior field absolute scotoma was detected. The OCT scan that was positioned at lesion in the outer retinal break demonstrated the fragmentation of the retinal layer. The scotopic ERG showed a reduction of the b wave amplitude of the right Importância da tomografia de coerência Óptica e do eletrorretinograma na retinosquise senil eye compared to the left eye (Negative electroretinogram). The multifocal ERG was normal in both eyes. The OCT demonstrated to be an useful toll to detect morphological alterations. The ERG and the absolute scotoma in the inferior field, demonstrated the retinal functional defect. A negative electroretinogram, showed a normal a wave and a reduced b wave demonstrating that the photoreceptor inner segments were relatively intact and that the initial damage in this disorder would seem to occur in the inner retinal layers. In doubtful cases especial exams are necessary and a careful investigation must confirm the diagnosis. The indications for treatment should be seriously analysed to avoid any intervention that can be harmful for the patient’s prognosis. Keywords: Retinoschisis/diagnosis; Electroretinography/methods; Retinal detachment, Tomography, optical coherence;Aged REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. Yamaguchi K, Hara S. Autosomal juvenile retinoschisis without foveal retinoschisis. Br J Ophthalmol. 1989; 73(6): 470-3. Moreira Jr CA, Ávila M. Retinopatia diabética. In: Moreira Jr CA, Ávila M. Manual CBO: Retina e vítreo. São Paulo: CBO; 2000. p.35-60. Kamppeter BA, Jonas JB. 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ENDEREÇOS PARA CORRESPONDÊNCIA: Regina Halfeld Furtado de Mendonça Via Muzio Attendolo, 31 00176 – Roma – Itália Tel/fax: 00 XX 39 06 21701794 00 XX 39 3393735455 e-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 345-9 ARTIGO 350 DE REVISÃO Exame de paciente com doença neurológica Patient examination with neurologic disorders 1 Adalmir Morterá Dantas RESUMO A neurologia oftalmológica e otológica tem se desenvolvido nos últimos anos até constituir uma extensa disciplina especializada. Dispomos na atualidade de importantes manuais sobre a mesma, os quais têm, ante tudo, o caráter de obras de consulta; em troca, se faz sentir, sem dúvida, a necessidade de descrições compreendidas que destaquem o mais essencial e definitivamente adquirido da bibliografia, quase inabarcável, em relação aos domínios desta especialidade; assim, temos demonstrados os repetidos desejos de alunos, solicitando a publicação de nossas conferências para pós-graduados sobre esta matéria. Fizemos uma exposição resumida da neurologia com interesse neurooftalmológico para que os estudantes desta matéria possam se interessar sobre a mesma. Descritores: Oftalmologia; Neurologia; Doenças do sistema nervoso/diagnóstico 1 Professor Titular de Oftalmologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 350-9 Exame de paciente com doença neurológica INTRODUÇÃO D urante minha longa atividade como professoruniversitário e chefe de clínica pude compro-var quão difícil é para estudantes a iniciação no ramo da neurooftalmologia. Por este motivo, amadureceu em mim a idéia de escrever sobre alguns aspectos de semiologia neurológica, com que os oftalmologistas podem se deparar. Desejo que os oftalmologistas entendam que a neurooftalmologia foge um pouco da rotina oftalmológica, mas que precisamos enfrentar este fato. E que meus colegas oftalmologistas entendam a finalidade deste trabalho. A neurologia é uma especialidade da medicina interna. Ao examinarmos um paciente com uma doença neurológica, devemos sempre considerar que o exame neurológico é o complemento natural do exame médico geral. A neurologia é, além disso, uma especialidade médica de conteúdo muito extenso: o exame das funções visuais e auditivas pode fornecer dados muito importantes para o diagnóstico neurológico. Várias questões de ordem neurológica também estão relacionadas com a clínica cirúrgica, pois o neurologista, muito mais que os demais especialistas, é obrigado a se ocupar das afecções dos músculos. Sem dúvida, há toda uma série de investigações que são especialmente neurológicas, nas quais é imprescindível que o médico saiba avaliar quais dentre elas são as mais importantes em cada caso, como deve atuar do ponto de vista técnico e que valor dar aos resultados. Na neurologia, muito mais que em outros ramos da medicina, vale a regra de que não se pode estabelecer um diagnóstico baseando-se apenas na existência de um par de sintomas: ele deve ser resultado da apreciação e valorização da intensidade, simultaneidade e evolução de sintomas distintos. Costuma-se acreditar, embora erroneamente, que o exame objetivo de um doente é mais importante que a obtenção de sua anamnese. Esta crença se manifesta, entre outras coisas, em muitas descrições clínicas nas quais apenas se fala em sintomas objetivos, e nunca são mencionados os sintomas sub(1) jetivos ou seu curso evolutivo . 351 A obtenção de uma boa anamnese é uma arte que só pode ser adquirida com a experiência. Devido ao grande número de doenças neurológicas, é necessário procurar escolher e determinar, em cada caso, o seu caráter fundamental. Somente em alguns casos podemos prescindir de uma certa esquematização. A anamnese deve iniciar-se por um exame de orientação geral, que determine, principalmente, se as doenças das quais se queixa o paciente são de origem geral ou local. São os sintomas gerais fadiga, sonolência, náuseas que caracterizam o quadro clínico, ou, ao contrário, são os sintomas localizados, como uma dor ou uma lesão? É necessário efetuar de imediato uma análise cuidadosa do que há de subjetivo nos sintomas que afligem o doente. Se há queixa, por exemplo, de fadiga, é necessário precisar se é uma fadiga puramente física como a que se experimenta no tronco e nas extremidades após um longo passeio ou se a fadiga é psíquica: neste caso, pergunta-se se o paciente sofre uma sensação de esforço ou de angústia ao procurar reunir e coordenar suas idéias. Por último, se, juntamente com a fadiga, ele experimenta uma sensação de aversão irresistível com relação ao seu trabalho cotidiano. Se o paciente se queixa de vertigens, este ponto será detalhadamente analisado. Na realidade, ao queixar-se de vertigens o doente pode estar se referindo a situações distintas, como visão embaçada ou de moscas volantes, sensação de cabeça pesada ou temor de andar por espaços descobertos. Entendese por vertigem a sensação de falta de coordenação, de alteração do equilíbrio estático de nosso corpo em relação ao espaço cujo resultado é a tendência a cair constantemente para frente ou para trás ou a sensação de que o solo desaparece sob os pés, ou de que gira continuamente em uma ou outra direção ou se são os objetos exteriores que se movem de modo análogo à sua volta. Neste último caso, pode reconhecer precisamente qual é a direção em que os objetos se movem. O exame detalhado é também necessário nos casos em que os doentes se queixam de dores cuja localização e irradiação eventual tem que ser determinadas em detalhes. É necessário precisar também se as dores são contínuas ou se são manifestadas em Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 350-9 352 Dantas AM forma de acessos; ou se aumentam sob a ação de determinadas circunstâncias, como o frio, o calor, as mudanças de tempo, os esforços, certas posições ou mudanças de posição. Por último, se as dores são mais intensas durante o dia ou à noite. Também devemos tentar fazer o paciente nos descrever o caráter de sua dor: se ela é pulsátil ou se pode caracterizá-la melhor, comparando-a com algo conhecido, como o que produz uma ferida, ou uma sensação muito intensa de fadiga. As outras alterações sensitivas subjetivas são as parestesias e hipoestesias. Sabe-se que a dor à movimentação do olho lembra neurite óptica. Ao fazer a anamnese neurológica não se deve dedicar atenção apenas aos nervos sensitivos, mas também aos demais órgãos dos sentidos. A diminuição das faculdades visual e auditiva, a visão embaçada ou de moscas volantes e os zumbidos são (2) também sintomas em muitas doenças cerebrais . No que se refere aos transtornos motores, as indicações subjetivas dos pacientes são mais uniformes. Eles podem queixar-se de fadiga ou diminuição de forças, em caso de existir uma paresia; de insegurança, se sofrem de transtornos de coordenação, de rigidez, dificuldade, lentidão de movimentos, nas distintas formas de hipertonia. Por último, podem acusar transtornos de movimentos no sentido do que se denomina hipercinesias: contrações musculares involuntárias que se manifestam no exame objetivo por tremor, corea, atetose ou outras contrações musculares, como cãibra, e cujas diferentes formas serão descritas mais adiante. No grupo dos fenômenos motores mais especialmente localizados, deve-se prestar uma atenção especial à diplopia e a transtornos de linguagem e de deglutição. Por último, e fora do terreno próprio das psicoses, o exame psíquico também tem certa importância, principalmente no que se refere à debilidade de memória, raciocínio lento e anomalias afetivas, como depressão ou instabilidade de caráter. Em certos casos de tumores cerebrais as alucinações podem ser importantes do ponto de vista do diagnóstico local. E, finalmente, deve ser considerada a perda completa do conhecimento no diagnóstico diferencial entre a epilepsia e o histerismo. Além desses sintomas cérebro-espinhais, os Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 350-9 sintomas subjetivos dos sistemas nervoso e vegetativo oferecem um interesse especial na medicina interna. Trata-se principalmente dos fenômenos relacionados com atividade do coração, transtornos dispépticos, estado das secreções sudoríparas, salivares e urinárias, e alterações dos esfíncteres. Devemos conhecer também o curso, isto é, a evolução no tempo de cada um destes sintomas. É muito importante, de fato, que o médico tenha uma idéia bem clara do modo como a doença começou, se ela se manifestou de modo agudo (eventualmente em conseqüência de uma afecção febril) ou, ao contrário, se foi desenvolvida de forma crônica. É necessário precisar a evolução prévia, até aquele momento, de cada um dos sintomas: se foram contínuos ou se foram manifestados em acessos, se progressivos, estacionários ou se diminuíram de intensidade. Os momentos distintos em que foram aparecendo os diferentes sintomas também devem ser considerados. Pode ser decisivo para a localização de um tumor cerebral saber se os sintomas sensitivos se apresentaram antes dos motores, ou viceversa. Um sintoma que, se foi manifestado durante o curso normal da doença, é significativo para o diagnóstico, pode perder todo o seu valor se for uma anomalia habitual de que o paciente sofria desde muitos anos, antes do início do desenvolvimento da doença. A existência dos sintomas neurológicos diz mais respeito à localização da doença do que ao seu caráter. Por outro lado, o curso específico e a evolução no tempo destes sintomas podem nos fornecer dados relacionados à própria natureza da doença: se é uma afecção aguda ou crônica, um tumor, uma doença vascular ou uma degeneração. Uma vez obtida uma anamnese exata, é necessário fazer o exame objetivo do paciente, para o qual é conveniente, do ponto de vista prático e com a finalidade de obter os dados mais expressivos, aterse a um determinado esquema. Na medida em que for exibido este exame objetivo, serão indicados os principais fundamentos fisiopatológicos do ponto de vista da neurologia. Começamos pelo exame dos nervos cranianos e deparamos com o primeiro problema: qual deve ser a amplitude deste exame? O exame das funções olfatória e gustativa, de Exame de paciente com doença neurológica músculos como o masseter, os pterigóideos ou o externocleidomastóideo, é feito apenas em casos especiais, como quando se quer localizar um tumor cerebral ou obter determinados pontos de referência para o diagnóstico de uma lesão facial. Determinados exames, como a investigação mais detalhada das funções visual e auditiva, requerem muita prática; portanto será conveniente recorrer à assistência de um especialista. O médico deve ter uma idéia clara do modo como são praticados esses exames especiais. Exames dos movimentos dos olhos, do estado da pupila, da função do nervo facial e da sensibilidade da face são indispensáveis. Ao examinar os nervos cranianos, ordinariamente o primeiro par (olfatório) é sempre observado e depois começa-se pelo segundo (nervo óptico); sabemos, pela anamnese, se a visão do indivíduo já foi deficiente. O exame de orientação geral é feito em primeiro lugar, se o paciente puder enxergar e ler. Examinar-se-á em separado, em cada olho, seu campo visual, solicitando ao paciente que olhe, por exemplo, o nariz do médico e indique, ao mesmo tempo, se vê também, sem desviar os olhos, a mão do médico, que a move no interior do campo visual. O exame de fundo de olho será praticado sistematicamente em todos os (3) pacientes com afecções neurológicas . O exame do aparelho visual requer uma habilidade especial que para muitos médicos é impossível praticá-lo; mas todo médico deve saber examinar os nervos cranianos oculomotor, troclear e abducente que inervam os músculos extra-oculares, o ciliar e o esfíncter da pupila. Trata-se de um exame relativamente simples, que fornece dados importantes. Primeiro, será examinado o rosto do paciente, enquanto lhe é dito que dirija seu olhar para longe, verificando o médico se suas pálpebras se fecham do mesmo modo nos dois olhos ou se em um deles a pálpebra superior cai mais que o normal; além disso, observar se os eixos dos olhos são paralelos ou se ao olhar para o horizonte ocorre o estrabismo, o que será diagnosticado imediatamente. Cobrindo alternativamente um e outro olho, enquanto o paciente olha para um objeto, pode-se descobrir um desvio latente, pois o olho que se desvia muda de posição ao ter que fixar o objeto. Diz- 353 se ao paciente que siga com o olhar o dedo do médico, que se move para ambos os lados para cima e para baixo. Observa-se, então, se o olho segue esses movimentos, em igual extensão para ambos os lados, para cima e para baixo, ou se existe alguma dificuldade em fazer isso. Ao mesmo tempo, pergunta-se ao paciente se quando olha em alguma direção enxerga duplo, solicitando que determine principalmente se vê um único dedo ou dois. Existem, de fato, muitos pacientes que, embora vendo em duplicidade, não compreendem o que em medicina se chama diplopia, e somente dizem que vêem embaçados os contornos das figuras. O exame do fun(4-5) do de olho nunca deve ser ignorado . No que se refere à posição do olho, existem duas classes de desvios: o estrabismo concomitante e o paralítico. O primeiro, que é uma anomalia congênita de posição do olho, não tem nenhuma importância no diagnóstico neurológico. Ao contrário, se reconhecida a existência de um estrabismo paralítico, ele será em conseqüência da lesão de um ou de vários músculos oculares. Para reconhecê-lo, serão levados em conta os seguintes fatos: a lesão do n. abducente se manifesta porque o olho correspondente está dirigido para dentro e porque, ao moverse para fora, não pode ir além da linha média, enquanto se move livremente para dentro, para cima e para baixo; quando se tratar de uma lesão do n. oculomotor, o olho estará muito desviado para fora e não pode se mover para dentro e para cima, estando também muito limitados os movimentos para baixo. Pode existir também uma blefaroptose bem pronunciada, e dilatação da pupila (midríase). Nos casos de lesão do n.troclear, quando o paciente dirige o olhar para longe, apenas se observará uma anomalia de posição do olho e, quando o paciente olha nesta direção, produz-se a visão dupla; tornase, por exemplo, muito difícil descer escadas. A falta de inervação do troclear se reconhece cobrindo alternativamente um e outro olho, quando o paciente olha rapidamente para os lados (6). Em alguns pacientes, sem anomalias dos movimentos oculares nem lesão de seus músculos, existem transtornos de coordenação: quando o paciente olha em direções distintas, os olhos não se movem sinergicamente; um olho move-se um pouco antes que o outro ou seus movimentos são sinuosos, vacilantes. Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 350-9 354 Dantas AM O nistagmo é um movimento oscilatório, de tremor, dos olhos. É um sintoma de grande importância no diagnóstico neurológico e otológico. É necessário distinguir entre as duas formas de nistagmo: pendular e em mola. O nistagmo pendular é um movimento que oscila como um pêndulo. Acompanha anomalias congênitas distintas dos olhos, principalmente nos casos em que também há ambliopia. Em alguns casos raros esse nistagmo pode ser expressão de uma afecção cerebral adquirida. No nistagmo em mola os olhos se movem de modo regular, lentamente em uma direção, mais rapidamente em direção contrária; este movimento duplo vai ficando cada vez mais acelerado. O nistagmo em mola pode ser observado fisiologicamente na maior parte de indivíduos estrábicos. Quando é muito forte, o nistagmo em mola pode ser reconhecido, em casos patológicos, quando o paciente olha alternativamente com a cabeça fixa para um e outro lado; outras vezes, o nistagmo se manifesta quando o paciente olha ao longe. Para ter certeza da existência de um nistagmo espontâneo, solicita-se que o paciente coloque lentes convergentes (lentes de Bartel). O nistagmo em mola é também importante porque pode ser provocado por meio de certas manobras que serão citadas mais adiante, ao tratarmos do nervo vestibular. O nistagmo em mola está relacionado principalmente com a função do aparelho vestíbulo-cerebelar(6). Estudamos até o momento a musculatura ocular extrínseca, porém o exame dos músculos intrínsecos do olho também fornece dados importantes. Examinaremos primeiro a forma e o tamanho da pupila: se arredondada ou não; se ambas são iguais ou se uma é maior que a outra. Será logo investigada a reação pupilar à luz e à acomodação. A reação pupilar à luz será examinada em cada olho separadamente. Para tal, um dos olhos do paciente será coberto, solicitando-se a ele que olhe fixamente com o outro olho, e neste momento sua pupila será fortemente iluminada preferencialmente com uma lanterna de bolso; a pupila deve contrair-se normalmente. É necessário praticar esse exame várias vezes, iluminando a pupila de frente e dos lados, e assegurando-se que a sala esteja suficientemente às escuras, para que haja o devido contraste entre a intensidade da luz empregada neste exame e a que ilumina o ambiente(7). Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 350-9 A reação de acomodação será investigada solicitando-se ao paciente que olhe para o dedo do médico com os dois olhos; aproxima-se o dedo lentamente da sua face; e se o paciente acomoda com sua visão, produz-se ao mesmo tempo a convergência dos dois olhos e a contração da pupila. Estes dois exames são praticados sempre, em todos os pacientes. Existe, de fato, um sintoma chamado sinal de Argyll-Robertson, no qual falta a reação pupilar à luz e, por outro lado, a reação é conservada na acomodação. Este sintoma é importante porque na maior parte dos casos indica a existência de uma sífilis cérebro-espinhal, e somente de modo excepcional é observada em outras doenças como, por exemplo, na esclerose múltipla. A falta de ambas as reações pupilares à luz e à acomodação tem uma importância diagnóstica muito menor, pois pode ser causada apenas por uma afecção local, como, por exemplo, uma irite com sinéquias. Ao praticar esse exame dos músculos intrínsecos do olho, deve ser lembrada a síndrome de Claude Bernard, que indica uma alteração da inervação simpática do olho, e na qual coexistem enoftalmia, miose e ligeira blefaroptose. Nestes casos, é necessário verificar se um dos olhos está mais no enoftalmo do que o outro; se a pupila está contraída e se uma das pálpebras está mais caída do que a outra. Esta síndrome é produzida por uma lesão do simpático cervical para o olho. Por esta razão, pode ter importância para o diagnóstico local, porém, por outro lado, constitui também, não raras vezes, uma anomalia habitual que em alguns casos tem sua origem no parto, em conseqüência de manobras obstétricas. O ramo motor do V par craniano, ou nervo trigêmeo, que inerva os músculos mastigadores, deve ser examinado em alguns casos especiais em que haja suspeita da existência de tumor ou de meningite basal. Muito mais importantes são os transtornos sensitivos da face, porém, a investigação destes transtornos é praticada do mesmo modo que em outras partes. (Por motivos didáticos essa investigação será estudada detalhadamente mais adiante). Uma reação exata do estado da sensibilidade na face constitui em alguns casos o reflexo corneano: tocando a córnea ligeiramente, e com cuidado, com um algo- Exame de paciente com doença neurológica dão, observa-se a contração do orbicular do olho. Como é fácil compreender, nos casos em que a sensibilidade da face está reduzida este reflexo tam(8) bém está diminuído no lado correspondente . O VII par craniano, o nervo facial, é o mais importante neste exame. A paresia do território de inervação facial pode ser causada por dois motivos: uma lesão do neurônio central ou uma lesão do periférico. O quadro clínico é distinto em um e outro caso. Na lesão facial periférica os seus ramos estão quase sempre atacados no lado paralisado: desaparecem e são apagados todos os sulcos da pele na metade paralisada da face; a abertura palpebral é maior que no lado enfermo; o sulco nasolabial também falta; o ângulo da boca é um pouco mais baixo que no outro lado, e a metade correspondente dos lábios é mais estreita ou está mais funda. Se for solicitado ao enfermo que faça movimentos com a face – enrugar a testa e rir, observaremos que, enquanto estes movimentos se verificam normalmente no lado sadio, a metade esquerda da face permanece imóvel. Se for solicitado ao paciente que feche os olhos, verifica-se facilmente (9) apenas com o olho sadio . Nas lesões faciais de origem central só é afetado o ramo inferior. Nestes casos, do mesmo modo que nas lesões periféricas, o ângulo da boca pode estar mais baixo, mais funda a metade correspondente do lábio, e apagado o sulco nasolabial; porém, os enfermos podem, sem dificuldade, enrugar a testa e fechar os olhos. Se a lesão facial subsiste durante um longo tempo, converte-se facilmente em contratura. Ao examinar o enfermo, o médico pode confundir-se facilmente, diagnosticando no primeiro momento uma lesão facial no lado sadio, pois no lado enfermo a pele da testa está muito enrugada, a fissura palpebral é mais estreita e o sulco nasolabial é muito visível. Sem dúvida, ao solicitar ao paciente que mova a face, comprova-se que move precisamente a metade da face cuja pele é mais lisa, permanecendo imóvel a outra metade mais enrugada. Em casos raros a lesão facial é bilateral (síndrome de Moebius ou lesão traumática): a face oferece um aspecto estranho, sem expressão. Sem dúvida, esta máscara oligomímica não é observada apenas nos casos de lesão facial dupla, mas com mais 355 freqüência nos pacientes que sofrem uma rigidez total da musculatura de todo o corpo. A rigidez e dificuldade de movimentos, que sofre também a musculatura das extremidades, também são observadas no território do facial, e a face apresenta então um aspecto conhecido como máscara. No que se refere ao exame do VIII par craniano, o nervo vestíbulo-troclear, será necessário consultar freqüentemente o especialista. É conveniente que o próprio médico faça um exame geral de orientação no que se refere à função deste nervo. Pela anamnese saberemos se a função auditiva está reduzida em um ou em ambos os ouvidos, se o paciente teve otorréia em alguma época, se há queixa atualmente de zumbidos. O próprio médico deverá praticar um exame geral da função auditiva (por exemplo: com um relógio de bolso). Se, como resultado deste exame, for encontrado algum sinal importante, será feito um exame otoscópico do paciente para reconhecer se uma eventual surdez é produzida por um tampão de cerume ou se uma afecção do ouvido médio é causada por uma lesão do tímpano. Se este exame for negativo e o médico suspeitar que se trata de um caso mais grave, praticar-se-á um exame mais especializado da função auditiva(6). O oitavo par não é exclusivamente um nervo auditivo, mas também o nervo do equilíbrio, que desempenha papel importante na neuropatologia. Em primeiro lugar, é necessário perguntar ao paciente se sofreu vertigem, não se contentando o médico apenas com a resposta verbal, mas analisando detalhadamente o que o paciente quer indicar com isto, principalmente se tem a sensação clara de que seu corpo, de um ou outro modo, não se mantém bem equilibrado; se quando está de pé cai para a frente ou para trás, se o chão parece afundar sob seus pés, se gira continuamente em uma ou outra direção ou se, ao contrário, os objetos parecem girar à sua volta. A vertigem vestíbulocerebelar é freqüentemente acompanhada de náuse(10) as e vômitos . Uma vez comprovado que um paciente sofre realmente de vertigem será feito um exame objetivo de suas funções vestibular e cerebelar. Para isso, dispomos de vários métodos. O método de Barany baseia-se na influência que o labirinto exerce sobre a posição dos olhos, a atitude do corpo e os movimentos das extremidades. Se o labirinto for estimulado, Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 350-9 356 Dantas AM um e outros são modificados irrigando-se o meato acústico externo com água fria: o frio provoca uma corrente de líquido no interior do labirinto e, por sua vez, a estimulação deste tende a fazer cair o corpo do paciente para o lado irrigado, ao mesmo tempo em que se produz o nistagmo em direção contrária. O paciente sofre também uma sensação de vertigem. Assim, se colocarmos um indivíduo em uma cadeira giratória fazendo-o girar rapidamente, e pararmos bruscamente a cadeira, ele terá uma sensação de vertigem, nistagmo, tendência a cair ou tombar conforme a direção do giro. Estes fenômenos são produzidos conforme determinadas leis, e desta forma os sintomas cessam ou se modificam, conforme as regras em relação às afecções do ouvido interno ou do restante do aparelho vestíbulo-cerebelar. Com este método, podemos às vezes tirar conclusões diagnósticas importantes. Este exame por meio do método de Barany deve ser completado com outras (3) investigações que descreveremos a seguir . Em seguida, examinaremos os nervos cranianos IX, X e XII. Será solicitado ao paciente que mostre a língua; esta se desvia para um ou outro lado, caso apresente contrações fibrilares, e se está atrofiada a mucosa ou a musculatura. Deverá ser então examinada a faringe (não esquecer nunca de, ao mesmo tempo, observar as amígdalas); e se observará se o véu palatino se levanta normalmente quando o enfermo pronuncia “a-a-ah” durante longo tempo. Depois, tocar-se-á a parede posterior da faringe com uma espátula, para ver se é produzido um movimento de deglutição, o chamado reflexo faríngeo(8). Por último, será examinada detalhadamente a linguagem ou a maneira de o individuo expressarse. Os transtornos de linguagem podem ser disártricos ou afásicos. Os transtornos disártricos de linguagem afetam a articulação das palavras; quanto aos demais o paciente compreende perfeitamente o que significa cada palavra e o seu valor correspondente. Estes transtornos de linguagem podem ser produzidos por um estado de paresia, de espasmo ou por um transtorno de coordenação dos músculos dos lábios, língua, faringe e laringe, que atuam no momento de falar(3). A linguagem pode ser lenta, entrecortada ou explosiva, conforme o transtorno correspondente a Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 350-9 uma ou a outra anomalia. A linguagem afônica é observada em todos os casos de lesão das cordas vocais e às vezes também no histerismo; na lesão bulbar progressiva deixam de ser pronunciadas algumas consoantes em determinadas palavras; na demência paralítica são suprimidas palavras inteiras; outras vezes o paciente tropeça em algumas palavras ou sílabas, ou, finalmente a linguagem se torna ligeiramente trêmula, ao vibrar a musculatura vocal. Na esclerose múltipla, a linguagem pode apresentar um caráter espasmódico-atáxico que se manifesta pela lentidão permanente, descompondo-se as palavras em suas sílabas distintas; constitui, (3) então, o tipo chamado linguagem escandida . Nos transtornos afásicos de linguagem, é normal a expressão de cada palavra, porém o paciente é incapaz de compreender o seu significado ou não pode usar de uma maneira ordenada os músculos (11) de linguagem para pronunciar palavras distintas . Para melhor compreensão, descreveremos brevemente o fundamento fisiopatológico dos transtornos afásicos. O córtex cerebral pode dividir-se em duas grandes zonas: as zonas de projeção e as de associação. Como zonas de projeção compreendemos os territórios de onde partem diretamente os impulsos motores (via piramidal) e os que recebem de modo imediato as impressões sensoriais (esferas táctil, visual auditiva, olfatória). As células nervosas das zonas de associação não estão diretamente unidas aos músculos ou aos órgãos dos sentidos, e sim às células das zonas de projeção. Nas zonas de associação mais próximas às zonas de projeção desenvolvem-se, principalmente no hemisfério cerebral esquerdo, centros de funções mais especializadas, executadas pelos órgãos inervados pelos territórios correspondentes das zonas de projeção. Na porção inferior da zona de projeção motora estão os centros corticais dos lábios, da língua e da laringe. Na zona de associação do hemisfério cerebral esquerdo, situada em frente a estes centros de projeção, desenvolve-se no giro frontal inferior, centro de Broca – gradualmente, à medida que a criança aprende a falar – um centro dos movimentos especiais que facultam a linguagem. No giro superior do lobo temporal existem, em ambos os lados, centros corticais auditivos, esta- Exame de paciente com doença neurológica ções terminais para as vias, em parte cruzadas e em parte diretas, que, pelas estações intermediárias distintas, vão do caracol ao córtex cerebral. Na porção do giro temporal esquerdo, situado sob o centro auditivo, localiza-se e desenvolve-se a função especial da compreensão do significado das palavras (centro de Wernicke). Um pouco mais abaixo existe um centro muito importante, no qual se fixa a lembrança do significado de cada palavra. De modo idêntico, existe no lobo occipital esquerdo um centro de compreensão da palavra escrita, relacionado com o centro visual. Há, por último, o centro da escrita, possivelmente também em conexão com o centro motor da mão. Todos esses centros estão intimamente relacionados entre si; a função de um pressupõe a dos outros. Para conseguirmos falar, é necessário que aprendamos antes a compreender o significado das palavras e, do mesmo modo, o ato de escrever pressupõe a compreensão prévia da palavra impressa e, em certo grau, também do significado da palavra falada. O centro de Wernicke é por isto o mais importante. Se sua função estiver alterada, os pacientes não compreenderão o que lhes for dito, pois soará aos seus ouvidos como uma algaravia, ininteligível, o que constitui a parafasia. Às vezes, não apenas muda as palavras, mas também a junção das sílabas para formar palavras é caótica e sua linguagem se torna indecifrável – a jargonafasia. Se a porção mais inferior do lobo temporal esquerdo estiver lesionada (como ocorre nos casos de abscessos cerebrais otógenos), perde-se principalmente a lembrança do significado das palavras, produzindose uma afasia amnésica. Quando o centro de Wernicke está normal esses amnésicos compreendem perfeitamente o que lhes é dito, porém não podem lembrar qual é o nome dos objetos ou conceitos. Empregam, por esta razão, palavras impróprias, e sua linguagem se torna parafásica. Se perderem por completo a lembrança das palavras, os pacientes ficam, em princípio, completamente mudos, e logo se desenvolve uma afasia totalmente análoga à afasia motora(11). Na verdadeira afasia motora não estão abolidas a compreensão do significado das palavras nem as suas lembranças, e sim a faculdade de empregar de modo adequado os músculos de lingua- 357 gem. Essa afasia é produzida por uma lesão do centro de Broca. A lesão do próprio centro de Broca é, sem dúvida, muito mais rara que a das vias que nele terminam ou que dele saem, e cuja lesão produz o quadro clínico da afasia. Nos casos de hemorragia na cápsula interna no lado esquerdo, freqüentemente produz-se uma afasia motora, por interrupção do sistema de vias que do centro de Broca seguem para os músculos de linguagem. Na descrição anterior procuramos explicar, do modo mais claro possível, o conceito de afasia; porém, devemos saber que é uma questão, ainda não resolvida, e que o problema é ainda hoje objeto de discussão. O modo de investigar os transtornos afásicos, aléxicos e agráficos, pode ser deduzido do que foi indicado anteriormente. Se o paciente apresentar sintomas de afasia, é necessário verificar primeiro se compreende o que lhe é dito, fazendo, para tal, uma série de indicações (que feche os olhos, mostre a língua, apresente as mãos, etc.). Comprova-se sua maneira de falar, quando ele o faz espontaneamente ou ao responder ao que lhe é dito, ou quando solicitado a indicar o nome dos objetos e dizer palavras ou construir frases. Este exame pode ser feito ainda com mais detalhes com a apresentação de letras ou de cifras, separadamente. Eventualmente, pode ser verificado se o sentido musical se conservou, solicitando-se ao paciente que cante ou assobie. Também será examinado o modo como o paciente lê, fazendo-o ler em voz alta e, depois, em voz baixa; deverá ser interrogado sobre o que leu e, se o indivíduo é afásico, pede-se que confirme ou negue, com a cabeça, o significado das palavras. Por último, examina-se a sua maneira de escrever, convidando-o a fazer um ditado ou redigir por conta própria. Uma vez comprovado que o caso é de afasia, é necessário confirmar se é uma afasia motora, uma parafasia, uma surdez verbal ou uma afasia amnésica. Em duas doenças será necessário aprofundar ainda mais este exame: nos casos de tumor ou de abscesso cerebral com transtornos afásicos, aléxicos ou agráficos. No que se refere ao exame das extremidades exceto nos casos em que é necessário um exame mais detalhado o exame neurológico geral compreende Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 350-9 358 Dantas AM sete pontos, sendo necessário investigar separadamente: articulações, estado dos músculos, tono, reflexos, força, sensibilidade e coordenação. O estado dos músculos é avaliado principalmente pelo exame, que permitirá comprovar se há alguma assimetria das extremidades, e será feita a comparação de seu contorno – se for uma atrofia bilateral - com o contorno normal dos músculos. Estes serão apalpados, verificando-se se são flácidos, mais fibrosos ou menos volumosos que no estado normal. Freqüentemente, será também necessário medir o perímetro de regiões correspondentes das duas extremidades. As alterações do tono muscular são um elemento importante em clínica neurológica. Os músculos em repouso, no indivíduo normal, estão em um ligeiro estado de tensão chamado tono. A tensão muscular é produzida pela ação simultânea de dois fatores distintos. Um deles é um impulso contínuo que age sobre os músculos e produz o chamado tono estático ou plástico. Nos casos de afecções cerebelares, produz-se uma hipotonia ou hipertonia muscular nas afecções do sistema motor (3) extrapiramidal, por exemplo, na lesão agitante . Existem duas classes de reflexos elementares normais: são os reflexos tendinosos e os reflexos cutâneos que devem ser pesquisados, que devem (12) ser pesquisados . Em relação ao exame da sensibilidade, convém conhecer na prática seus limites de aplicação. Existe toda uma série de formas ou qualidades da sensibilidade, mais elementares no que se refere à sensibilidade táctil, dolorosa, para o calor ou o frio, ou de posição, e mais complicadas no que concerne ao sentido estereognóstico, à sensibilidade do tipo Weber ou à sensibilidade vibratória. Portanto, seria inútil examinar todas estas formas de sensibilidade em cada caso. Deve-se escolher entre elas e as três mais importantes em neurologia, que são: a sensibilidade táctil, a sensibilidade dolorosa e a sensibilidade de posição. Também importante o exame do sentido de posição. Para tal, o paciente é solicitado a fechar os olhos, mover suas extremidades nas respectivas articulações: dos dedos da mão, do cotovelo, dos dedos do pé, do joelho, etc., e a indicar quais são os movimentos praticados. Para comprovar suas indicações, Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 350-9 coloca-se uma de suas extremidades em determinada posição e pede-se que o paciente coloque a outra extremidade em posição similar. O último ponto, não menos importante, do exame neurológico, se refere à avaliação da coordenação. No que concerne à extremidade superior, o melhor método consiste em solicitar ao paciente que toque a ponta do nariz com o dedo indicador. Observa-se se o dedo a alcança facilmente, se o movimento é em linha reta ou segue uma curva unida e regular, ou se, ao contrário, seu curso é sinuoso. Na extremidade inferior, a coordenação será examinada preferencialmente solicitando-se que o paciente coloque um de seus calcanhares sobre o outro joelho, observando se o movimento é normal. Para obter maior segurança, pede-se ao paciente que verifique este primeiro movimento com os olhos abertos e, logo depois, fechados. Como conclusão do exame clínico, serão observados a posição e o modo de andar do paciente, que deverá estar de pé com os pés juntos e os olhos fechados: normalmente poderá manter-se em equilíbrio. Se sofre uma lesão das colunas posteriores, estando, portanto, a sensibilidade aumentada, seus joelhos serão dobrados por alguns instantes e ele cairá para trás. Se o aparelho vestíbulo-cerebelar estiver lesionado, oscilará ligeiramente para frente ou para trás, caindo logo em uma ou outra direção, conforme o local da lesão. A impossibilidade de estar firme, de pé, com os olhos fechados, constitui o chamado sinal de Romberg(12). No que se refere a transtornos secretores e paralisias ou espasmos da musculatura lisa dos olhos, vasos e vísceras, sintomas produzidos por uma afecção do sistema nervoso vegetativo são observados em toda uma série de doenças. Como foi dito anteriormente, a lesão traumática do gânglio cervical superior produz a síndrome de Claude Bernard: miose, enoftalmia e blefaroptose. As lesões traumáticas, os tumores ou inflamações no infundíbulo ou no tuber cinereum, em conseqüência dos quais se produzem poliúria, glicosúria, obesidade e distrofia genital, podem dar lugar a sintomas que se referem, no primeiro momento, à hipófise. Na encefalite epidêmica crônica, observam-se com certa freqüência transtornos vegetativos centrais em forma de alterações do Exame de paciente com doença neurológica metabolismo, poliúria, fenômenos vasomotores, salivação, crise de sudorese e transtornos na freqüência da contração do coração. Muitas inflamações da medula, e também os tumores e traumatismos da porção inferior da medula sacral produzem transtornos dos esfíncteres ou alterações da função genital. Atribui-se provavelmente a patogenia de toda uma série de afecções neurológicas paroxísticas, como a epilepsia, a hemicrania, a asma e o edema de Quincke, a uma ação tóxica sobre determinadas porções do sistema nervoso vegetativo. Como no histerismo e na neurastenia, grande parte dos sintomas é causada por uma ano(3-8) malia da ação simpática ou parassimpática . Não podemos subestimar a importância dos exames complementares: líquido cefalorraquidiano, (13) eletrodiagnose e exames das neuroimagens . 359 demonstrated. We have included a summary of the neurology with neuro-ophthalmologic interest aiming at drawing the students’ attention on this subject. Keywords: Ophthalmology; Neurology; Nervous system diseases/diagnosis REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. ABSTRACT Lately, the ophthalmologic and otological neurology has been developed into a broad and specialized subject. Currently, we have important manuals on this issue, which above all have the purpose of a work for research. However, undoubtedly one can feel the necessity for comprehended descriptions that will highlight what is most essential and definitely taken from the biography, almost inaccessible, regarding the realm of such specialty; thus, the repeated wishes of the students asking for the publication of our lectures for the post-graduates on this matter have been 8. 9. 10. 11. 12. 13. Teixeira Mendes RS. Manual de semiótica nervosa. Rio de Janeiro: Typographia Santa Helena; 1926. 205 p. Brain L, Walton JN. 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Os comentários dos revisores serão devolvidos aos autores para modificações no texto ou justificativa de sua conservação. Somente após aprovações finais dos revisores e editores, os manuscritos serão encaminhados para publicação. O manuscrito aceito para publicação passará a ser propriedade da Revista e não poderá ser editado, total ou parcialmente, por qualquer outro meio de divulgação, sem a prévia autorização por escrito emitida pelo Editor Chefe. Os artigos que não apresentarem mérito, que contenham erros significativos de metodologia, ou não se enquadrem na política editorial da revista, serão rejeitados não cabendo recurso. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Oftalmologia seguem os requisitos uniformes proposto pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas, atualizado em fevereiro de 2006 e disponível no endereço eletrônico http:// www.icmje.org APRESENTAÇÃO E SUBMISSÃO DOS MANUSCRITOS O artigo enviado deverá ser acompanhado de carta assinada por todos os autores, autorizando sua publicação, declarando que o mesmo é inédito e que não foi, ou está sendo submetido à publicação em outro periódico. A esta carta devem ser anexados: • Declaração de Conflitos de Interesse, quando pertinente. A Declaração de Conflitos de Interesses, segundo Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1595/2000, veda que em artigo científico seja feita promoção ou propaganda de quaisquer produtos ou equipamentos comerciais; • Certificado de Aprovação do Trabalho pela Comissão de Ética em Pesquisa da Instituição em que o mesmo foi realizado; • Informações sobre eventuais fontes de financiamento da pesquisa; • Artigo que trata de pesquisa clínica com seres humanos deve incluir a declaração de que os participantes assinaram Termo de Consentimento Livre Informado. Todas as pesquisas, tanto as clínicas, como as experimentais, devem ter sido executadas de acordo com a Declaração de Helsinki. A Revista Brasileira de Oftalmologia não endossa a opinião dos autores, eximindo-se de qualquer responsabilidade em relação a matérias assinadas. Os artigos podem ser escritos em português, espanhol, inglês ou francês. A Revista Brasileira de Oftalmologia recebe para publicação: Artigos Originais de pesquisa básica, experimentação clínica ou cirúrgica; Divulgação e condutas em casos clínicos de relevante importância; Revisões de temas específicos, Atualizações; Cartas ao editor. Os Editoriais serão escritos a convite, apresentando comentários de trabalhos relevantes da própria revista, pesquisas importantes publicadas ou comunicações dos editores de interesse para a especialidade. Artigos com objetivos comerciais ou propagandísticos serão recusados. Os manuscritos deverão Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 360-2 obedecer as seguintes estruturas: Artigo Original: Descreve pesquisa experimental ou investigação clínica - prospectiva ou retrospectiva, randomizada ou duplo cego. Deve ter: Título em português e inglês, Resumo estruturado, Descritores; Abstract, Keywords, Introdução, Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão e Referências. Artigo de Revisão: Tem como finalidade examinar a bibliografia publicada sobre um determinado assunto, fazendo uma avaliação crítica e sistematizada da literatura sobre um determinado tema e apresentar as conclusões importantes, baseadas nessa literatura. Somente serão aceitos para publicação quando solicitado pelos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Artigo de Atualização: Revisões do estado-da-arte sobre determinado tema, escrito por especialista a convite dos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Relato de Caso: Deve ser informativo e não deve conter detalhes irrelevantes. Só serão aceitos os relatos de casos clínicos de relevada importância, quer pela raridade como entidade nosológica, quer pela não usual forma de apresentação. Deve ter: Introdução, Descrição objetiva do caso, Discussão, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract e Keywords e Referências. Cartas ao Editor: Têm por objetivo comentar ou discutir trabalhos publicados na revista ou relatar pesquisas originais em andamento. Serão publicadas a critério dos Editores, com a respectiva réplica quando pertinente. Preparo do Manuscrito: A) Folha de Rosto deverá conter: • Título do artigo, em português e inglês, contendo entre dez e doze palavras, sem considerar artigos e preposições. O Título deve ser motivador e deve dar idéia dos objetivos e do conteúdo do trabalho; • Nome completo de cada autor, sem abreviaturas, porém, se o autor já possui um formato utilizado em suas publicações, deve informar à secretaria da revista; • Indicação do grau acadêmico e/ou função acadêmica e a afiliação institucional de cada autor, separadamente. Se houver mais de uma afiliação institucional, indicar apenas a mais relevante. Cargos e/ou funções administrativas não devem ser indicadas. • Indicação da Instituição onde o trabalho foi realizado; • Nome, endereço, fax e e-mail do autor correspondente; • Fontes de auxílio à pesquisa, se houver; • Declaração de inexistência de conflitos de interesse. B) Segunda folha Resumo e Descritores: Resumo, em português e inglês, com no máximo 250 palavras. Para os artigos originais, deverá ser estruturado (Objetivo, Métodos, Resultados, Conclusões), ressaltando os dados mais significativos do trabalho. Para Relatos de Caso, Revisões ou Atualizações, o resumo não deverá ser estruturado. Abaixo do resumo, especificar no mínimo cinco e no máximo dez descritores (Keywords) que definam o assunto do trabalho. Os descritores deverão ser baseados no DeCS – Descritores em Ciências da Saúde – disponível no endereço eletrônico http://decs.bvs.br/ Abaixo do Resumo, indicar, para os Ensaios Clínicos, o número de registro na base de Ensaios Clínicos (http:// clinicaltrials.gov)* 361 C) Texto Deverá obedecer rigorosamente a estrutura para cada categoria de manuscrito. Em todas as categorias de manuscrito, a citação dos autores no texto deverá ser numérica e seqüencial, utilizando algarismos arábicos entre parênteses e sobrescritos. As citações no texto deverão ser numeradas seqüencialmente em números arábicos sobrepostos, devendo evitar a citação nominal dos autores. Introdução: Deve ser breve, conter e explicar os objetivos e o motivo do trabalho. Métodos: Deve conter informação suficiente para saberse o que foi feito e como foi feito. A descrição deve ser clara e suficiente para que outro pesquisador possa reproduzir ou dar continuidade ao estudo. Descrever a metodologia estatística empregada com detalhes suficientes para permitir que qualquer leitor com razoável conhecimento sobre o tema e o acesso aos dados originais possa verificar os resultados apresentados. Evitar o uso de termos imprecisos tais como: aleatório, normal, significativo, importante, aceitável, sem defini-los. Os resultados da pesquisa devem ser relatados neste capítulo em seqüência lógica e de maneira concisa. Informação sobre o manejo da dor pós-operatório, tanto em humanos como em animais, deve ser relatada no texto (Resolução nº 196/96, do Ministério da Saúde e Normas Internacionais de Proteção aos Animais). Resultados: Sempre que possível devem ser apresentados em Tabelas, Gráficos ou Figuras. Discussão: Todos os resultados do trabalho devem ser discutidos e comparados com a literatura pertinente. Conclusões: Devem ser baseadas nos resultados obtidos. Agradecimentos: Devem ser incluídos colaborações de pessoas, instituições ou agradecimento por apoio financeiro, auxílios técnicos, que mereçam reconhecimento, mas não justificam a inclusão como autor. Referências: Devem ser atualizadas contendo, preferencialmente, os trabalhos mais relevantes publicados, nos últimos cinco anos, sobre o tema. Não deve conter trabalhos não referidos no texto. Quando pertinente, é recomendável incluir trabalhos publicados na RBO. As referências deverão ser numeradas consecutivamente, na ordem em que são mencionadas no texto e identificadas com algarismos arábicos. A apresentação deverá seguir o formato denominado “Vancouver Style” , conforme modelos abaixo. Os títulos dos periódicos deverão ser abreviados de acordo com o estilo apresentado pela National Library of Medicine, disponível na “List of Journal Indexed in Index medicus” no endereço eletrônico: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/ query.fcgi?db=journals Para todas as referências, citar todos os autores até seis. Quando em número maior, citar os seis primeiros autores seguidos da expressão et al. Artigos de Periódicos: Dahle N, Werner L, Fry L, Mamalis N. Localized, central optic snowflake degeneration of a polymethyl methacrylate intraocular lens: clinical report with pathological correlation. Arch Ophthalmol. 2006;124(9):1350-3. Arnarsson A, Sverrisson T, Stefansson E, Sigurdsson H, Sasaki H, Sasaki K, et al. Risk factors for five-year incident agerelated macular degeneration: the Reykjavik Eye Study. Am J Ophthalmol. 2006;142(3):419-28. Livros: Yamane R. Semiologia ocular. 2a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Capítulos de Livro: Oréfice F, Boratto LM. Biomicroscopia. In: Yamane R. Semiologia ocular. 2a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Dissertações e Teses: Cronemberger S. Contribuição para o estudo de alguns aspectos da aniridia [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 1990. Publicações eletrônicas Herzog Neto G, Curi RLN. Características anatômicas das vias lacrimais excretoras nos bloqueios funcionais ou síndrome de Milder. Rev Bras Oftalmol [periódico na Internet]. 2003 [citado 2006 Jul 22];62(1):[cerca de 5p.]. Disponível em: www.sboportal.org.br Tabelas e Figuras: A apresentação desse material deve ser em preto e branco, em folhas separadas, com legendas e respectivas numerações impressas ao pé de cada ilustração. No verso de cada figura e tabela deve estar anotado o nome do manuscrito e dos autores. Todas as tabelas e figuras também devem ser enviadas em arquivo digital, as primeiras ® preferencialmente em arquivos Microsoft Word e as demais ® em arquivos Microsoft Excel , Tiff ou JPG. As grandezas, unidades e símbolos utilizados nas tabelas devem obedecer a nomenclatura nacional. Fotografias de cirurgia e de biópsias onde foram utilizadas colorações e técnicas especiais, serão consideradas para impressão colorida, sendo o custo adicional de responsabilidade dos autores. Legendas: Imprimir as legendas usando espaço duplo, acompanhando as respectivas figuras (gráficos, fotografias e ilustrações) e tabelas. Cada legenda deve ser numerada em algarismos arábicos, correspondendo as suas citações no texto. Abreviaturas e Siglas: Devem ser precedidas do nome completo quando citadas pela primeira vez no texto ou nas legendas das tabelas e figuras. Se as ilustrações já tiverem sido publicadas, deverão vir acompanhadas de autorização por escrito do autor ou editor, constando a fonte de referência onde foi publicada. O texto deve ser impresso em computador, em espaço duplo, papel branco, no formato 210mm x 297mm ou A4, em páginas separadas e numeradas, com margens de 3cm e com letras de tamanho que facilite a leitura (recomendamos as de nº 14). O original deve ser encaminhado em uma via, acompanhado de CD ou disquete 3,5", com versão do manuscrito, com respectivas ilustrações, digitado no programa “Word for Windows 6.0. A Revista Brasileira de Oftalmologia reserva o direito de não aceitar para avaliação os artigos que não preencham os critérios acima formulados. * Nota importante: A “Revista Brasileira de Oftalmologia” em apoio às políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Intemational Committee of Medical Joumal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso somente aceitará para publicação, a partir de 2008, os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, disponível no endereço: http://clinicaltrials.gov ou no site do Pubmed, no item <ClinicalTrials.gov>. O número de identificação deverá ser registrado abaixo do resumo. Os trabalhos deverão ser enviados à Revista Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras CEP 222231-170 - Rio de Janeiro - RJ Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 360-2 362 Revista Brasileira de Oftalmologia Declaração dos Autores (É necessária a assinatura de todos os autores) Em consideração ao fato de que a Sociedade Brasileira de Oftalmologia está interessada em editar o manuscrito a ela encaminhado pelo(s) o(s) autor(es) abaixo subscrito(s), transfere(m) a partir da presente data todos os direitos autorais para a Sociedade Brasileira de Oftalmologia em caso de publicação pela Revista Brasileira de Oftalmologia do manuscrito............................................................. . Os direitos autorais compreendem qualquer e todas as formas de publicação, tais como na mídia eletrônica, por exemplo. O(s) autor (es) declara (m) que o manuscrito não contém, até onde é de conhecimento do(s) mesmo(s), nenhum material difamatório ou ilegal, que infrinja a legislação brasileira de direitos autorais. Certificam que, dentro da área de especialidade, participaram cientemente deste estudo para assumir a responsabilidade por ele e aceitar suas conclusões. Certificam que, com a presente carta, descartam qualquer possível conflito financeiro ou de interesse que possa ter com o assunto tratado nesse manuscrito. Título do Manuscrito___________________________________________________________________________ Nome dos Autores_______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ Minha assinatura abaixo indica minha total concordância com as três declarações acima. Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (5): 360-2