André Silva Franco – ASF EOQ – Escola Olímpica de Química Julho de 2011 O que é Cinética Química? Ramo da físico-química que estuda a velocidade das reações; Velocidade na química: variação de uma grandeza no x tempo: v t Por que aprender? Acelerar reações lentas ou retardar reações muito rápidas! Velocidade Considere a reação aA bB O reagente A desaparece com velocidade v A O produto B aparece com velocidade v B B A t t Estão interligadas pela estequiometria da reação 1 1 v reação v A v B a b Velocidade instantânea: análise eficaz v reação 1 A 1 d A 1 B 1 d B v v a a dt b b dt Velocidade a partir do gráfico Análise do coeficiente angular (inclinação) Em qual ponto a velocidade é maior? v A vB A B Exemplo v reação 1 A 1 B v v a b Combustão do dióxido de nitrogênio 4 NO2 O2 2 N2O5 Dióxido de nitrogênio tem velocidade em dado tempo v NO2 2 mol / L.s Velocidade da reação: 1 v reação .2 0,5 mol / L.s 4 Velocidade de consumo do oxigênio: vO2 1.0,5 0,5 mol / L.s Velocidade de produção do pentóxido de dinitrogênio: v N2O5 2.0,5 1 mol / L.s Lei de Velocidade aA bB cC ... Produtos Equação empírica que relaciona a velocidade da reação à concentração das substâncias v k A B C ... O expoente é a ordem, determinado empiricamente. Pode ser inteiro, negativo e/ou fracionário. Exemplo: 2O3 3O2 v k O3 O2 2 1 A ordem equivale ao coeficiente estequiométrico somente quando se tratar de: Reação elementar – única etapa Etapa determinante de velocidade – a mais lenta Lei de Velocidade Ordem global da reação é a soma das ordens de cada substância Constante cinética k específica para cada reação; unidades definem a ordem Etapa 1(lenta) : A 2 B C Etapa 2(rápida) : C 3 A D v k A B Global : 4 A 2 B D k L2mol 2 s 1 2 Determinação da Lei de Velocidade A determinação da Lei de Velocidade depende do conhecimento das ordens de cada substância. Para isso, podemos alterar a concentração de um composto (dobrar) e ver o quanto varia a velocidade: v1 2 v2 De forma geral, tem-se uma tabela relacionando velocidade (ou algo análogo) às concentrações. Fazendo uma razão entre as velocidades chegamos a um sistema. A solução determina as ordens. Exemplo v k A B Teste [A]/(mol/L) [B]/(mol/L) Velocidade/(mol/Ls) I 10 10 2 II 10 20 4 III 15 30 13,5 Razão entre II e I: v2 k2 A2 v1 k1 A1 B 2 4 10 20 2 2 1 2 10 10 B 1 Razão entre III e I: v3 k3 A3 v1 k1 A1 1 B 3 13,5 15 30 6, 75 1,5 .3 2 2 10 10 B 1 Lei de Velocidade: v k A B 2 Constante Cinética: k v A B 2 k 2.103 L2 .mol 2 .s 1 Determinação da Lei de Velocidade Temos que v k A . Então, v k A ln v ln k A ln k ln A ln v ln k ln A Construir gráfico ln v versus ln [A] Utilidade: um único experimento E quando há mais de um reagente...? Pseudo-ordem! v k A B v k A B v k ' B k' Equação de Arrhenius Equação empírica que relaciona a constante cinética com a temperatura: E 1 A. EA 1 ln k ln F . ou k F .e R T R T Linearização: gráfico ln k versus 1/T determina uma reta cujo coeficiente linear é ln F e o angular é –Ea/R Quanto maior a inclinação, maior a energia de ativação k2 v2 t1 E A 1 1 . Para Ea constante: ln ln ln k1 v1 t2 R T1 T2 Equação de Arrhenius Análise das curvas: Qual possui maior Ea? Reação 3 – maior inclinação Qual delas é desfavorecida pelo aumento da temperatura? Reação 2 – Energia de Ativação Negativa (?) EA 1 ln k ln F . R T Energia de Ativação Negativa Condição: Pelo menos uma reação reversível. Exemplo: Devemos ter H 0 para a primeira reação e superior, em módulo, à Ea da segunda reação. E1A E 1 A E1A A E A1 A E A2 B E A2 C B C Energia de Ativação Negativa E1A RT k1k2 F1.e F2 .e k E 1 k1 A F1.e RT E A2 RT F1F2 e F1 E 1 2 1 A EA EA RT EA E1A EA2 EA1 H EA2 Fe EA RT Teoria das Colisões Para uma reação ocorrer é necessária uma certa energia (de ativação) e uma orientação correta; Caso tais pré-requisitos sejam cumpridos, forma-se o complexo ativado; A partir dele podemos ter continuidade, formando os produtos, ou retornar ao estado inicial. Molecularidade de uma reação? Conservação do momento linear? Teoria das Colisões – Conservação do Momento Início: p 0 Sendo o referencial o centro de massa! Fim: p ' 2mAvA 2mB vB 2 2 mB p 0 vA2 vB2 mA Diagrama de Reação Reação Endotérmica Reação Exotérmica Qual tende a ser a mais rápida? Fatores que afetam a velocidade A velocidade de reação pode ser aumentada ou diminuída dependendo de fatores externos: Temperatura Eq. de Arrhenius Colisões EA ln k ln F RT Concentração dos reagentes Lei de Velocidade Colisões v k A Fatores que afetam a velocidade Pressão Lei de Velocidade Colisões v k A PA A RT ( Equação de Clapeyron) Superfície de Contato Colisões Catalisador Eq. de Arrhenius ln k ln F EA RT Catálise k2 EA1 EA2 ln k1 RT Catalisador – substância que interage com os reagentes promovendo um novo caminho de reação (novo mecanismo); Mecanismo com menor Ea – aumento da velocidade Catálise Homogênea – catalisador e reagentes estão na mesma fase; Heterogênea – catalisador e reagentes estão em fases diferentes; Importante! O catalisador pode entrar na Lei de Ação das Massas, já que participam da reação; Tornam reações cineticamente favoráveis Cineticamente e Termodinamicamente favorável? Catálise Catálise Autocatálise – o produto da reação age como catalisador AP v k A P Catálise Ribozima? Enzima – catalisador biológico Agem da mesma forma que os catalisadores, porém em processos biológicos. São proteínas e respeitam o modelo chave-fechadura da biologia, em que há somente uma enzima para seu substrato. Modificam as moléculas do substrato para promoverem a reação. Veneno Catalítico e Inibidor Veneno Catalítico – substância que ataca os catalisadores, alterando a forma ou impedindo a catálise. Diminui a velocidade da reação já que catalisador é prejudicado Inibidor – afeta a reação num todo. É o oposto de catalisador, ou seja, aumenta a energia de ativação, diminuindo assim a velocidade. Promotor – substância que interage com o catalisador, aumentando a eficiência da catálise. Não catalisa a reação sozinho. Curiosidade... O testes de Lucas consiste na formação de cloretos de alquila por reação de alcoóis com uma solução de cloreto de zinco em ácido clorídrico concentrado. ZnCl2 ROH HCl RCl H 2O Sob as condições extremamente ácidas do teste, os alcoóis geram carbocátions intermediários que reagem com o íon cloreto. Deve-se observar o tempo gasta para a turvação da solução ou aparecimento de duas camadas. Benzílicos, alílicos e terciários: imediatamente; Secundários: demoram cerca de 5 minutos para reagir; Primários: não reagem André Silva Franco – ASF EOQ – Escola Olímpica de Química Julho de 2011 Resumo da aula passada... Velocidade de reação: A Produtos v d A dt Lei de velocidade: A Produtos v k A Equação de Arrhenius: EA 1 ln k ln F . R T Equação Integrada de Velocidade Utilidade: permite estimar a concentração do reagente num instante da reação. Sabemos que v d A ou seja, v k A dt e v k A , d A dt 1 A d A kdt A partir daí, é necessário o conhecimento de cálculo integral... Equação Integrada de Velocidade De Ordem Zero (α=0) A t 1 d A k .dt d A k dt 0 [ A] [ A]0 0 A [ A]0 kt Concluímos então que a concentração de A varia linearmente em função do tempo A0 Unidades de k : mol. L-1. s-1 Equação Integrada de Velocidade Reações de decaimento nuclear! De Primeira Ordem (α=1) Crescimento Bacteriano A [ A] .e kt 0 [ A] t 1 1 kt d A k . dt d A k dt ln[ A ] ln[ A ] kt ou A [ A ] . e 0 0 [ A] 0 [ A]1 [ A]0 Observe que podemos escrever A mA n A NA XA PA AA e kt mA0 nA0 N A0 X A0 PA0 AA0 A0 Concluímos então que a concentração de A varia exponencialmente em função do tempo A0 Unidades de k : s-1 A0 2 A0 Linearização: 4 A0 8 t 1 2 2t 1 3t 1 2 2 Equação Integrada de Velocidade De Segunda Ordem (α=2) [ A] t 1 1 1 1 d A k . dt d A k dt kt 2 2 [ A] [ A] [ A] [ A]0 [ A]0 0 Concluímos então que a concentração de A varia segundo a curva abaixo em função do tempo Unidades de k : L.mol-1.s-1 Linearização: 1 A A0 A0 2 A0 4 A0 8 t 12 2t 12 3t 12 Equação Integrada de Velocidade De Terceira Ordem (α=3) [ A] t 1 1 1 1 d A k . dt d A k dt 2kt 3 3 2 2 [ A] [ A] [ A] [ A]0 [ A]0 0 Unidades de k : L2.mol-2.s-1 Linearização: gráfico 1 A 2 vs tempo De n-ésima Ordem (α=n>1) 1 1 1 kt n 1 n 1 n 1 A A0 Tempo de Meia-Vida É o tempo necessário para a concentração cair pela metade, ou seja, A 0,5 A0 t1 A0 2 Reação de Ordem Zero: 2k Depende da concentração do reagente – não é constante t1 ln 2 k t1 1 A0 k Reação de Primeira Ordem: 2 Independe da concentração do reagente – constante! 2 Reação de Segunda Ordem: Depende da concentração do reagente – não é constante Reação de n-ésima Ordem: t 12 2n 1 1 n 1 k A0 n 1 Exemplo O chumbo-214 produz uma emissão β formando bismuto-214 (número atômico 83). Após 58 minutos, o número de núcleos de chumbo-214 diminui 4,5 vezes. a) Escreva a equação nuclear 214 82 214 Pb 83 Bi 01 b) Determine a ordem da reação Reação de Primeira Ordem (Decaimento Nuclear) c) Determine o tempo de meia-vida t ln 2 1 2 k N 58 1 ln kt ln ln 2 t 12 26, 73 minutos t 12 4,5 N0 d) Determine a constante cinética ln 2 0, 693 k 2,59.102 min 1 t1 26, 73 2 Reações Paralelas C A B k2 k1 São aquelas que a partir de um reagente há a formação de dois (ou mais) produtos. Cada produto é formado por mecanismos diferentes. Supondo reações de primeira ordem, a velocidade de consumo de A é dada por: vA d A dt k1 A k2 A k1 k2 A Portanto, A varia no tempo segundo essa equação k1 k2 t kt A [ A]0 .e [ A]0 .e Os produtos B e C aparecem com velocidades vB d B dt k1 A k1 A0 .e k1 k2 t e vC d C dt k2 A k1 A0 .e k1 k2 t Reações Paralelas Logo, B e C variam no tempo segundo tais equações k1 1 e k1 k2 t B A0 k1 k2 C A0 k2 1 e k1 k2 t k1 k2 Mais importante do que a fórmula é entender o conceito “cineticamente favorecido” B k1 No início da reação: C k2 Se k1 k2 , diz-se que B é cineticamente favorecido Reações Paralelas Caso Particular: Reações Reversíveis Sendo K1 e K2 as constantes de equilíbrio das reações, temos o equilíbrio quando t . A concentração de cada espécie será Aeq A0 K1 K 2 1 ; B eq K1. A0 K1 K 2 1 ; C eq B É importante ressaltar que eq K1 . C eq K 2 . A0 K1 K 2 1 K2 Se K1 K 2 , dizemos que B é termodinamicamente favorecido Reações Consecutivas A B C k1 k2 São as reações que enquanto um reagente forma um produto, este forma outro. Para facilitar os cálculos, consideremos reações de primeira ordem, e que no início só haja A. vA d A dt Obtemos: k1 A ; vB d B dt k1 A k2 B ; vC d C dt A A0 .e k t 1 k1 k1t k2t e e B A0 k2 k1 1 k1t k 2t k2 .e k1.e C A0 1 k1 k2 k2 B Reações Consecutivas Gráfico: Importante saber quando a concentração de B é máxima d B 0 dt k1 A0 k2 k1 k .e 1 k1t k2 .e k2t 0 k1 ln e k k t k2 t k1 k2 Concentração de B nesse instante 1 2 k1 k2 k k 1 2 k1 k1 k1 k2 k1 k1 k2 B A0 k2 k1 k2 k2 Exemplo 50 g de chumbo-214 produz uma emissão β formando bismuto-214, o qual se decompõe por emissão β produzindo polônio-214. Os tempos de meia-vida do chumbo-214 e do bismuto-214 são, respectivamente, 26,8 minutos e 19,7 minutos. a) Escreva a equação consecutiva k1 k2 214 214 214 Pb Bi 82 83 84 Po b) Determine as constantes cinéticas k k1 4,31.104 s 1 ek2 5,86.104 s 1 ln 2 t1 2 c) Em qual instante a concentração de bismuto é máxima? ln k1 k2 t 1979, 4 s 33 minutos k1 k2 d) Qual a massa máxima de bismuto? k k 1 1 mBi mPb k2 k1 k2 k1 k1 k2 k1 k2 k2 k1 k2 15, 65 g A Aproximação do Estado Estacionário Em reações consecutivas, eventualmente um composto intermediário é produzido com uma velocidade praticamente igual à de consumo; Ou seja, a sua concentração é praticamente constante no tempo. A B C k1 d B dt v k2 d B dt k1 A k2 B 0 B d C k2 B k1 A dt k1t C 1 e A 0 0 k1 A k2 A Aproximação do Estado Estacionário 1 k .e k .e C A 1 k k k1t 0 2 1 k 2t 1 2 d B dt 0 k1 A consideração é k2 1 Desafio! Desafio! Desafio! d O2 k1 E O2 k2 E O2 dt d E k1 E O2 k2 E O2 dt d E k1 E O2 k2 E O2 dt Desafio! Como E é consumido e produzido rapidamente, e assim também E-, pode-se dizer que sua concentração é praticamente constante no tempo. Então, utilizamos a aproximação do estado estacionário: d E d E k2 k1 0 E E e 0 E E dt k1 dt k2 Por balanço de massa, definimos E 0 E E E 0 E 0 E E E 0 E E E 0 k1 E E k2 k2 E E k1 E k2 E 0 k2 k1 E 0 E k1 k1 k2 Desafio! Substituindo tais valores na equação de velocidade do ânion superóxido, chegamos que d O2 dt k1 E O2 k2 E O2 E 0 E 0 k1k2 O k1 k2 E 0 O2 k2 k1 2 k1 k2 k1 k2 k2 k1 2 Por fim, chegamos na Lei de Velocidade: kk d O 1 2 1 2 r E O K O 2 0 2 2 dt k1 k2 k1k2 K E 0 k1 k2 Desafio! Sugestão Leitura Complementar: Atkins, Jones: Princípios de Química Atkins, de Paula: Físico-Química Castellan, Gilbert W.: Physical Chemistry Connors, Kenneth A.: Chemical Kinetics Fontes: Atkins, de Paula: Físico-Química Imagens do ITA, IME Química – a ciência central Resumo didático completo (Cinética Química.pdf) e listas de exercícios completa Agradecimentos Obrigado por fazer parte desse projeto! Boa sorte nos exames! Estude bastante! “A questão Primordial não é o que sabemos, mas como sabemos” Aristóteles