Aplicação de cerâmicas de ZrO2-TiO2 como elementos sensores para monitorar o conteúdo de água no solo em áreas com risco de deslizamento de encostas Oliveira, R. M. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - LAS/CTE/INPE, São José dos Campos, SP, Brasil E-mail: [email protected] Nono, M. C. A. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - LAS/CTE/INPE, São José dos Campos, SP, Brasil E-mail: [email protected] Britto Filho, G. P. Escola de Engenharia de Lorena - EEL/USP, Lorena, SP, Brasil E-mail: [email protected] Resumo: Ao longo dos últimos anos, os materiais cerâmicos, em particular os óxidos metálicos, têm se mostrado bastante promissores para o sensoriamento da água nas fases de vapor e de líquido. Desta maneira, este trabalho busca aperfeiçoar o controle microestrutural de cerâmicas porosas de ZrO2-TiO2 para serem aplicadas como elementos sensores capazes de monitorar o conteúdo de água no solo em áreas com risco de deslizamento de encostas. Os resultados preliminares mostraram que os sensores cerâmicos de umidade confeccionados a partir da solução sólida de ZrO2-TiO2 apresentaram potencial para esta aplicação. Trata-se de um assunto de grande originalidade em termos mundiais, principalmente quanto à influência da forma e distribuição de tamanho de poros na capacidade de interações químicas e físicas de moléculas de água com a superfície do material do sensor. Abstract: The last years long, ceramic materials, specifically metal oxides, have shown promising properties as sensor elements for water in vapour and liquid phases. In this way, this work is an attempt to improve the microstructural control of the ZrO2-TiO2 porous ceramics to be applied as sensor elements for soil water content to monitor hazard areas of landslides. The preliminary results have shown that the environmental sensors confectioned from ZrO2-TiO2 solid solution presented potential for this application. This is a subject of great originality in world-wide terms, mainly concerning to the influence of the pores form and its size distribution on the capacity of chemical and physical interactions of water molecules with the surface of the sensor material. 1 CONSIDERAÇÕES INICIAS Pesquisadores da Área de Tecnologias Ambientais (TECAMB) que integra o Laboratório Associado de Sensores e Materiais (LAS) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) têm se firmado, ao longo dos últimos 15 anos, na elaboração de técnicas de diagnóstico, desenvolvimento e caracterização de materiais e no aprimoramento de sensores e sistemas sensores de parâmetros ambientais. Em 2001, o recém criado Grupo de Pesquisas em Engenharia de Superfícies e Cerâmicas Avançadas Micro e Nanoestruturadas (SUCERA) iniciou um projeto no sentido de investigar a potencialidade de utilização das cerâmicas porosas de ZrO2–TiO2 para uso como elemento sensor do conteúdo de água no solo para serem aplicadas no monitoramento de áreas de risco de deslizamento de encostas. Estes tipos de cerâmicas já vinham sendo estudadas e apresentaram grande potencialidade de aplicação como elementos sensores de umidade do ar, Kuranaga et al. (1999), (2001) e (2004). 1.1 Seleção do material sensor O rápido processo de evolução na área de monitoramento de parâmetros ambientais tem demandado esforços cada vez maiores no estudo e aprimoramento de novos materiais para serem aplicados como sensores e sistemas sensores, Fagan & Amarakoon (1993) e Yang (1991). A escolha do material adequado para ser utilizado como elemento sensor de umidade é difícil e deve ser baseada em materiais que apresentam sensitividade sobre uma ampla faixa de umidade e temperatura, estabilidade nos ciclos térmico e de tempo, estabilidade na exposição a diversos produtos químicos Kulwick (1991). Neste sentido, as cerâmicas, em particular os óxidos metálicos, têm mostrado vantagens do ponto de vista de sua resistência mecânica e de sua estabilidade física e química, inclusive resistência quanto ao ataque químico, Nitta (1988). As cerâmicas têm sido estudadas para a utilização como sensores de umidade principalmente como elementos porosos sinterizados, preparados pelo processamento cerâmico tradicional, para permitir que a água passe livremente através dos poros e que ocorra a condensação na capilaridade dos poros entre as superfícies dos grãos. Além do mais, as cerâmicas possuem uma estrutura única, consistindo de grãos, contornos de grãos, superfícies e poros que as fazem adequadas para serem utilizadas como sensores de umidade quando apresentam microestrutura controlada. Os compactos cerâmicos com uma dada microestrutura podem ser produzidos pelo controle das diferentes etapas do processo de produção de materiais cerâmicos. As modificações da microestrutura e da composição química dos materiais cerâmicos permitem a otimização do desempenho de sensores de umidade, através do controle de suas propriedades elétricas e das demais solicitações exigidas, Traversa (1995). 2 OBJETIVO Antônio do Pinhal, SP. De acordo com a Figura 1, observa-se que a região serrana onde está localizado o município de Santo Antônio do Pinhal apresenta de alta a muita suscetibilidade a processos de escorregamentos, segundo o Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT. Figura 1. Principais domínios de processos geodinâmicos de superfície no Estado de São Paulo. Fonte: Base de Dados Geoambientais do Estado de São Paulo (IPT, desde 1997), considerando áreas de alta e muita suscetibilidade a processos. 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 Caracterizações estruturais dos elementos sensores É proposto neste trabalho o estudo da influência da microestrutura e das fases cristalinas presentes na condutividade elétrica dos elementos sensores cerâmicos de ZrO2-TiO2, sinterizados nas temperaturas de 1100 e 1200 oC, quando imersos em um solo previamente selecionado. As caracterizações da microestrutura dos elementos sensores cerâmicos sinterizados nas temperaturas de 1100 e 1200 oC compreenderam análises através de técnicas de microscopia eletrônica de varredura e difratometria de raios X e para as observações da distribuição de tamanho de poros e da área superficial específica utilizaram-se porosimetria de mercúrio e adsorção de nitrogênio, respectivamente. 3 4.1.1 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL As matérias primas, pós de ZrO2 e de TiO2 (comerciais), foram misturadas mecanicamente na proporção de 1:1 (em massa). Os pós-precursores misturados foram conformados por prensagem uniaxial e sinterizados nas temperaturas de 1100 e 1200 oC. As caracterizações dos elementos sensores cerâmicos foram realizadas pelas técnicas de microscopia eletrônica de varredura, a fim de analisar a forma e tamanho de grãos, a porosidade e o grau de densificação das pastilhas sensoras, difratometria de raios X, a fim de identificar as fases cristalinas presentes e para a análise da distribuição de tamanho de poros usou-se adsorção de N2 e porosimetria de Hg. As medições elétricas de capacitância e de impedância foram realizadas em amostras de solos, provenientes de deslizamento de encostas, coletados no Km 30 da rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro, SP-123, no Município de Santo Microestrutura As imagens obtidas por microscopia eletrônica de varredura das superfícies de fratura das pastilhas cerâmicas, mostradas na Figura 2, evidenciam menor área de contato entre os grãos nas amostras sinterizadas em 1100 oC. Entretanto, nas amostras sinterizadas em 1200 oC, observa-se maior área de contato entre os grãos e, consequentemente, a formação de empescoçamentos entre os mesmos. 0,11 o -1 Volume de poros (cm .g ) 0,10 1100 C o 1200 C 3 0,09 0,06 0,05 0,04 0,03 0,02 0,01 b) Figura 2. Fotomicrografias, obtidas em MEV, das superfícies de fratura das cerâmicas porosas sinterizadas em: a) 1100 e b) 1200 oC, com aumento de 5.000 X. 4.1.2 0,07 Fases presentes e cristalinidade Intensidade (u.a.) Nos difratogramas de raios X, apresentados na Figura 3, nota-se a presença de duas fases distintas: ZrO2 e TiO2. Com o aumento da temperatura de sinterização, observa-se o aumento da intensidade dos picos e, com isso, o aumento da cristalinidade nas amostras sinterizadas em 1200 oC. o 1200 C o 1100 C 0,00 0,01 0,1 1 Tamanho de poros (µm) Figura 4. Curvas de distribuição de tamanhos de poros das cerâmicas sinterizadas nas temperaturas de 1100 e 1200 oC. No elemento sensor sinterizado na temperatura de 1100 oC, os maiores volumes de poros situam-se nas faixas de distribuição de tamanhos entre 0,1 a 0,4 µm e de 0,5 a aproximadamente 1 µm (Figura 4). Já no elemento sensor sinterizado na temperatura de 1200 OC, os maiores volumes de poros situam-se nas faixas de distribuição de tamanhos entre 0,4 a 0,6 µm e de 0,7 a aproximadamente 1 µm (Figura 4). Na Figura 5, utilizou-se a adsorção de nitrogênio para avaliar o comportamento da área superficial específica em relação à temperatura de sinterização a qual foram submetidas às pastilhas cerâmicas utilizadas como elemento sensor. Nesta análise, constatou-se que com o aumento da temperatura de sinterização, ocorreu a redução da área superficial específica na microestrutura das pastilhas cerâmicas. -1 g ) a) 0,08 30 40 50 60 70 80 2θ (graus) Figura 3. Difratogramas de raios X das pastilhas cerâmicas sensoras de ZrO2-TiO2 sinterizadas em 1100 e 1200 ºC. 4.1.3 Análise de porosidade e área superficial específica A porosidade e a área superficial específica dos elementos sensores cerâmicos sinterizados nas temperaturas de 1100 e 1200 oC foram analisadas através de porosimetria de mercúrio e de adsorção de nitrogênio (Método BJH), respectivamente. O gráfico obtido (Figura 4) mostra a distribuição de tamanho de poros em relação ao volume de poros das cerâmicas porosas estudadas. 3,0 2 20 Área supeficial específica (m . 10 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 1100 1150 1200 o Temperatura de sinterização ( C) Figura 5. Curva da área específica superficial das cerâmicas sinterizadas. 4.2 4.2.1 Caracterização elétrica dos elementos sensores Medidas de impedância Nas medidas elétricas de impedância, observadas na Figura 6, nota-se que o elemento sensor sinterizado na temperatura de 1200 oC apresenta um Impedância (Ω) comportamento linear, coerente com a literatura, até o teor de água no solo correspondente a 30 %. No entanto, no elemento sensor sinterizado em 1100 oC esse comportamento não ocorre, observando-se pouca sensibilidade até o teor de água no solo correspondente a 20 %. 10 8 10 7 10 6 Kuranaga, C. (2001). Pesquisa e desenvolvimento de cerâmicas para aplicação como sensores de umidade ambiente. Relatório de bolsa DTI/CNPq. Coordenadores: Dra. Maria do Carmo de Andrade Nono e Dr. Marcos Dias da Silva. o 1100 C o 1200 C -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 Conteúdo de água no solo (%) Figura 6. Medidas de impedância dos sensores sinterizados nas temperaturas de 1100 e 1200 oC. 5 CONCLUSÕES Neste estudo, conclui-se que o elemento sensor cerâmico sinterizado na temperatura de 1200 oC apresentou um comportamento linear em uma faixa maior de teor de água no solo quando comparado com o elemento sensor sinterizado em 1100 oC, segundo as medidas elétricas de impedância obtidas. Em ambos os elementos sensores, ocorreu a formação de uma solução sólida de ZrO2-TiO2, como se observou através da técnica de difratometria de raios X. Pela técnica de microscopia eletrônica de varredura pode-se concluir que uma microestrutura porosa, conforme se propôs inicialmente neste trabalho, foi obtida através do processamento cerâmico. Os resultados obtidos pela porosimetria de mercúrio mostraram que com o aumento da temperatura de sinterização houve uma coalescência de poros menores levando, dessa forma, a um maior volume de poros maiores com uma faixa de distribuição reduzida de tamanhos. Esse comportamento foi comprovado através da adsorção de nitrogênio, constando-se que o aumento da temperatura de sinterização resultou na redução da área superficial específica da microestrutura do elemento sensor cerâmico. 6 Kuranaga, C. (1999). Pesquisa e desenvolvimento de cerâmicas para aplicação como sensores de umidade ambiente. Relatório de bolsa DTI/CNPq. Coordenadores: Dra. Maria do Carmo de Andrade Nono e Dr. Marcos Dias da Silva. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Fagan, J. G.; Amarakoon, V.R.W. (1993). Humidity Sensors. Amer. Ceram. Soc. Bull. 72(3): 119132. Kulwicki, B. M. (1991). Humidity sensors. J. Am. Ceram. Soc., 74, 697-708. Kuranaga, C.; Nono, M. C. A.; Silva, M. D.; Mineiro, S. L. (2004). Influence of porous microstructure on humidity sensing properties of ZrO2-TiO2 ceramics. In: III Encontro da SBPMat - Brazilian MRS Meeting 2004, Foz do Iguaçu/PR. Nitta, T. (1988). Development and application of ceramic humidity sensors in Seiyama T. (ed.), Chemical Sensor Technology, Vol.1, Kodansha, Tokyo/Elsevier, Amsterdam, 57-78p. Traversa, E. (1995). Ceramic sensors for humidity detection: the state-of-the-art and future developments, Sensors and Actuators B 23 135– 156. Yang, S.; W. U. J. (1991). Ceramic Humidity Sensors. J. Mater. Sci., 26: 631-635.