Leilão de energia impulsiona aproveitamento de gás do lixo

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4 Brasil Econômico Terça-feira, 5 de agosto, 2014
▲
BRASIL
Leilão de energia impulsiona
aproveitamento de gás do lixo
Setor acredita que contratos de longo prazo e referências de preços podem ajudar a deslanchar investimentos
Divulgação
Mariana Mainenti
[email protected]
Brasília
O governo do Rio inaugurou ontem, em São Pedro da Aldeia, a primeira usina de tratamento de biogás do estado. O empreendimento
tem a dupla tarefa de fazer o aproveitamento dos resíduos sólidos
da região e de fornecer gás para o
abastecimento urbano. Na usina
do Aterro Dois Arcos, com um investimento de R$ 18 milhões, as
empresas Osafi e Ecometano transformarão em gás natural 600 toneladas de lixo produzidas diariamente pelo município e outras sete localidades. Ainda tímido no
Brasil, o aproveitamento do biogás
deve ganhar fôlego a partir de 31
de outubro, quando acontece o primeiro leilão de energia de reserva
com possibilidade de compra desta fonte. Segundo especialistas, o
potencial de geração com biogás
chega a 2 mil megawatts (MW).
O gás da usina do Aterro Dois
Arcos será vendido à distribuidora
local de gás canalizado, movimento que já vem sendo aproveitado
por outras empresas no país. Com
o leilão de energia, espera-se um
novo salto, uma vez que garante
contratos de longo prazo, que justificam investimentos — oito empreendimentos foram inscritos para a concorrência. “O leilão dará
segurança de longo prazo aos investidores, pois o contrato é para
fornecimento por 20 anos, o que
assegurará uma receita por um
prazo muito maior do que o praticado hoje”, avalia Gabriel Kropsch, sócio da Acesa, empresa que
atua há cinco anos neste mercado,
com tecnologia que permite a utilização do biogás para energia elétrica e como combustível veicular.
Se bem-sucedido, diz Kropch,
o leilão vai precificar o valor dessa
fonte de geração, que até o momento não tem preço de referência no mercado brasileiro. Além
disso, segundo ele, os efeitos do
leilão serão sentidos não apenas
pelas empresas que produzem
energia elétrica a partir do biogás,
mas também por toda a cadeia. “É
o caso da nossa empresa, que é focada na prestação de serviços de
transformação de biogás em biometano e está associada a empreendedores que participarão do
leilão”, exemplificou.
O sócio da área de regulação do
Siqueira Castro Advogados, Fer-
Usina Dois Arcos, inaugurada ontem em São Pedro da Aldeia (RJ): produção vendida para a distribuidora local de gás canalizado CEG
Segundo especialistas,
o potencial de geração
com biogás chega
a 2 mil MW. Para
o primeiro leilão,
porém, participação
ainda é tímida, com
apenas 8 projetos e
potencial de 151 MW
nando Vilella, também é otimista
em relação ao mercado de biogás
no Brasil. “O mercado de energia
renovável sempre responde bem
quando percebe que o governo está olhando para aquela fonte. Isso
aconteceu com a energia eólica,
que já foi muito cara e, depois de
incentivada, tornou-se possível. E
já vemos o mesmo fenômeno acontecendo com a energia solar. O
mercado de biogás é ainda embrionário, mas terá o mesmo potencial
de se desenvolver”, compara.
Vilella ponderou que, dos mais
de 1.000 projetos inscritos no leilão de energia de reserva, cerca de
600 são provenientes de energia
eólica, 400 de solar e apenas 8 de
biogás. “É um número muito tímido, que resultará na venda de cerca de apenas 150 megawatts. Não
é uma surpresa, pois se trata de
um mercado embrionário”, diz.
“Mas, se alguém nos perguntasse
dois anos atrás, quando começou
a ser incentivado o mercado de
energia solar no Brasil, qual seria o
potencial dele, ninguém imaginaria que chegaríamos a 400 projetos inscritos no leilão de outubro”.
O consultor da Thymos Sami
Grynwald concorda com o potencial do biogás. “Considerando os
aterros existentes hoje no Brasil,
temos um potencial de geração
que chega de 1,5 a 2 gigawatts médios. E o leilão fortalece isso. O
mercado cativo é um importante
vetor de desenvolvimento do biogás, pois assegura uma receita aos
investidores, reduzindo a necessidade de financiamento”, destaca.
Ao m e s m o te m p o , d i s s e
Grynwald, ainda não é fácil para
os empreendedores inscreverem
projetos no leilão porque a oferta
de energia do biogás tem ritmo decrescente. “O biogás tem esse desafio, porque o combustível vai diminuindo conforme a liberalização de gás é reduzida com a utilização dos aterros”, explica.
Coordenadora do Programa
Rio Capital da Energia, Maria Paula Martins explica que o gás usado
pela usina Dois Arcos, em São Pedro da Aldeia, será distribuído pela distribuidora CEG Rio, que abastece o interior do estado, em volume que poderá representar até 5%
das vendas totais da companhia.
MAIS GÁS NATURAL
R$ 18 mi
Investimento realizado na Usina
de Tratamento de Biogás do Aterro
Dois Arcos, em São Pedro da
Aldeia (RJ).
8
Número de projetos de biogás
inscritos para o leilão de energia
de reserva programado para
31 de outubro.
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