universidade de são paulo – usp - Geografia Política e Geopolítica

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – FFLCH
Departamento de Geografia
“Alemanha: Geopolítica e Território”
Trabalho de Graduação Individual II
apresentado ao Departamento de Geografia
da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo
visando a obtenção do grau de bacharel em
Geografia, sob a orientação do Prof. Dr.
André Roberto Martin.
DANILO ROGERIO DE SOUSA
São Paulo
2007
2
AGRADECIMENTOS ....................................................................................3
INTRODUÇÃO................................................................................................5
Fig 1 - O Escudo Nacional............................................................................... 5
Fig 2 - Bandeira nacional alemã..................................................................... 5
Fig 3 - Localização atual da Alemanha...........................................................6
CAP. 1 – A FORMAÇÃO DO ESTADO E DA NAÇÃO........................... 7
Fig 4 – A Guerra dos Trinta Anos................................................................... 9
Fig 5 – Crescimento da Prússia 1600 - 1795................................................. 13
CAP 2 – A ERA BISMARCKIANA.............................................................17
Fig 6 – Otto von Bismarck..............................................................................20
Fig 7 – A Expansão da Prússia (1807 – 1871).............................................. 22
CAP 3 – A ALEMANHA NAZISTA............................................................ 31
Fig 8 – Área máxima do domínio nazista na Europa................................... 43
Fig 9 – As perdas territoriais alemãs e as zonas de ocupação estrangeira.. 47
CAP. 4 – A DIVISÃO NACIONAL A GUERRA FRIA.............................48
CAP 5 – O PERÍODO PÓS-REUNIFICAÇÃO ......................................... 56
CONCLUSÃO................................................................................................ 61
BIBLIOGRAFIA............................................................................................65
3
AGRADECIMENTOS
Antes de mais nada, agradeço ao meu orientador Prof. Dr. André Roberto
Martin pela atenção e sabedoria prestada durante toda a confecção deste
trabalho.
Agradeço, também, aos meus pais, Genésio e Terezinha, por todo o
carinho e apoio durante os meus 27 anos.
Aos amigos Henrique José da Silva, Sérgio Roberto Nunes, Diego Rafael
Soares da Silva, Rodrigo Pacheco, Camilla Juliana Gonzáles e Jânio Queiroz
Souto pela estima, amizade e pelas longas e inesquecíveis discussões –
acadêmicas ou não – que travamos durante todo o período vivido na USP.
Por último, agradeço a todos aqueles que de uma maneira ou de outra
contribuíram para a minha formação intelectual.
4
“A história da raça humana é a guerra. Exceto por breves e
precários intervalos, nunca houve paz no mundo; e muito antes
de a história começar, o conflito assassino era universal e
interminável”.
(Steven Pinker, “Tabula Rasa”)
“O único fundamento saudável para um grande Estado é o
egoísmo, não o romantismo. Não reconheço nenhum direito em
política externa”.
(Bismarck)
5
INTRODUÇÃO
A Alemanha possui 82 milhões de habitantes e é – depois da Rússia – o
maior contingente populacional do continente europeu, além de ser a maior
potência econômica, industrial e científica da Europa.
Fig 1 - O Escudo Nacional
Seu papel na União Européia é de locomotiva, uma vez que possui a
economia mais sólida, além de ser o maior exportador mundial, responsável por
boa parte de suas receitas.
Fig 2 - Bandeira nacional alemã
Localiza-se no centro do continente europeu, bem na fronteira entre a
Europa rica e a Europa pobre. Seu território é a porta de entrada do Leste
europeu, tendo considerável influencia na dinâmica territorial desta região.
Geograficamente
a
Alemanha
situa-se
no
Mitteleuropa,
correspondente à Europa Central, mas com um cunho geopolítico.
conceito
este
6
Fig 3 - Localização atual da Alemanha
Fonte: wikipedia
Por essas e outras razões este trabalho tem por objetivo principal fazer um
esboço da Alemanha no tocante à sua geopolítica, uma vez que não há nenhum
trabalho neste sentido realizado no Departamento de Geografia da Universidade
de São Paulo. Sobre o tema “geopolítica da Alemanha” este trabalho é o
precursor. Existem diversos artigos e teses sobre temas relacionados à Alemanha,
tais como nazismo, fascismo, racismo, comunismo, Guerra Fria, etc. Mas,
especificamente sobre Geopolítica, este é o primeiro Trabalho de Graduação
Individual escrito sobre a Geopolítica da Alemanha, desde a sua formação no
Estado Bismarckiano, até o período Pós-reunificação.
Utilizamos para este trabalho, sobretudo, artigos científicos sobre política,
história e geografia alemãs. Foram utilizadas diversas fontes eletrônicas, como a
Wikipedia e o Google Imagens, sobretudo na aquisição das figuras e dos mapas
temáticos relacionados ao assunto.
Diante da certeza do crescente interesse pela Geopolítica por parte dos
estudantes de Geografia, temos a esperança de que este trabalho venha a
contribuir para o aprendizado e o aprofundamento do tema e as questões
relacionadas ao mesmo.
7
CAP. 1 – A FORMAÇÃO DO ESTADO E DA NAÇÃO
A TRADIÇÃO DA ORGANIZAÇÃO TRIBAL
A história da Alemanha é a história de uma longa caminhada de uma nação
até a formação de um Estado. Germânia é a denominação não só geográfica
como também histórica que os romanos deram ao território situado entre os rios
Reno, Elba e Danúbio, povoado ao norte pelas tribos dos saxões e dos frísios, a
oeste pelos francos, ao centro pelos turíngios e ao sul pelos suábios, alemães e
bávaros. Esse sistema de organização tribal refletiu-se até hoje na configuração
territorial dos estados que constituem a República Federal da Alemanha.
O rei dos francos, Carlos Magno, reuniu os povos alemães num grande
reino unido sob o signo da Cristandade. No ano 800, ao ser coroado imperador
pelo Papa, Carlos Magno tornou-se sucessor dos imperadores romanos ocidentais
num novo império situado no norte dos Alpes.
Este imenso império foi dividido entre os sucessores de Carlos Magno num
franco ocidental, hoje a França, e num franco oriental, a atual Alemanha, do qual
surgiu um aglomerado sob o domínio de Otto I, o Grande (936 – 976), denominado
como o Sacro Império Romano Germânico. Este deu aos povos da Europa Central
uma estrutura homogênea. Seu apogeu durou até cerca de 1250.
DIVISÃO E GUERRA RELIGIOSA
No final da Idade Média, era de divisões territoriais, a influência individual
dos príncipes passou a aumentar consideravelmente, principalmente nas cidades
livres do império que tinham um governo soberano e estavam subordinadas
apenas ao imperador. Essa também foi a era dos burgueses e das corporações de
comércio, dos comerciantes independentes e dos banqueiros. As ligas comerciais
– como a Hanseática – tinham às vezes mais poder que os próprios reis. Essas
forças tão diversificadas deram origem a uma herança muito rica em bens
8
culturais como as catedrais repletas de obras de arte, conventos, palácios e
construções burguesas.
As guerras religiosas marcaram os séculos XVI e XVII. Em 1517 as teses
de Martinho Lutero deram início à Reforma Protestante, que provocou uma cisão
religiosa na Alemanha, expressa no Princípio da Paz de Augusburgo “cuius régio,
eius religio”, segundo o qual a religião do soberano determinava a do povo. Em
conseqüência disso, no Norte e no Centro da Alemanha predominam até hoje os
protestantes, enquanto que no Leste e no Sul os católicos são maioria. Essa cisão
religiosa, juntamente com as tensões sociais e econômicas, provocou, finalmente,
a Guerra dos Trinta Anos1 em 1618.
A guerra não conseguiu que a cisão religiosa fosse superada, pelo
contrário, ela transformou o Império num joguete nas mãos das potências
vizinhas. Da Paz de Vestfália, em 1648, resultou num Sacro Império Romano
Germânico dividido em 350 estados independentes.
1
A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) foi uma série de conflitos religiosos e políticos ocorridos
especialmente na Alemanha, nos quais rivalidades entre católicos e protestantes e assuntos constitucionais
germânicos foram gradualmente transformados em uma luta européia. Apesar de os conflitos religiosos serem
a causa direta do conflito, ele envolveu um grande esforço político da Suécia e da França para procurar
diminuir a força da dinastia dos Habsburgos, que governavam a Áustria. A guerra causou sérios problemas
econômicos e demográficos na Europa Central. As conseqüências de longo prazo da guerra foram, além da
emergência da França como o poder terrestre dominante na Europa, a formação das repúblicas da Holanda e
da Suíça e a contínua fragmentação da Alemanha, pois tornou cerca de 350 estados alemães quase que
independentes do imperador, atrasando a sua unificação em mais de dois séculos.
9
Fig 4 – A Guerra dos Trinta Anos
Fonte: Wikipedia
“Mesmo considerando a extensão e a selvageria da Guerra dos
Trinta Anos, não houve nenhuma transformação dramática na
estrutura política do SIRG. O número de unidades territoriais
permaneceu inauterado, em torno de 350, e a Dieta Imperial ainda
compreendia as tradicionais três câmaras, com os procedimentos de
votação em questões religiosas envolvendo o Corpus Catholicorum
e o Corpus Evangelicorum.
Por outro lado, o acordo reconheceu uma antiga tendência que a
luta só fizera acelerar, ou seja, a descentralização da autoridade
imperial e a crescente autonomia dos Estados. Os tratados
conferiam aos príncipes a Landeshoheit – soberania, em alemão.
Tal poder lhes possibilitava assinar tratados com potências
estrangeiras, desde que eles não fossem dirigidos contra o
Imperador. Entre 1648 e sua dissolução em 1806, o Império nunca
mais funcionou como unidade política. Em vez disso, o futuro
permaneceu a um seleto número de Estados individuais.” (LEE, pg
75)
10
A Alemanha necessitou de um século para se recuperar das conseqüências
catastróficas da guerra. A liberdade que os príncipes e as Cidades Livres tinham
para fazer pactos com outras nações estrangeiras, e o absolutismo dos senhores
feudais condenaram o Império como um todo à impotência. Mas, por outro lado,
como já acontecera no final da Idade Média, esse tempo de fraqueza do poder
central possibilitou o surgimento de uma época de grande desenvolvimento
cultural. Após a tradução da Bíblia, no início do século XVI, por Lutero, e sua
divulgação graças à invenção da imprensa por Gutemberg, vieram dar aos
alemães uma linguagem escrita com grande força de expressão. A filosofia, a
literatura, a arquitetura e a música tiveram um impulso extraordinário.
A Paz de Vestfália foi decisiva para a configuração territorial, não só dos
estados alemães, como também de todo o continente europeu. Além disso, fincou
as bases de um equilíbrio geopolítico europeu como nunca antes havia ocorrido.
Para A. Toynbee, a Paz de Vestfália
“pôs fim a um período de fanatismo religioso, dando início a uma
era que estava livre da tirania ideológica e duraria 150 anos – até
que a próxima onda de fanatismo, sob o rótulo do nacionalismo,
fosse desencadeada pela Revolução Francesa. O efeito imediato do
tratado foi reduzir o mal da guerra a um mínimo nunca igualado
pela história ocidental antes ou depois” (in LEE, pg 85)
Já para Will Durant,
“a transição para uma ordem mais racional, que iria produzir, no
século das luzes, uma revolução intelectual tão importante quanto a
Renascença, pôs fim ao reinado da teologia sobre a mente européia e
deixou um caminho atravancado, mas trafegável, para as
experiências da razão”. (op. cit)
O fato é que, após 1648, houve uma mudança nas alianças baseadas em
ideologias para aquelas articuladas por motivos dinásticos. Ainda que não tenha
eliminado totalmente as guerras, estabeleceu, ao menos, regras mais civilizadas
para os conflitos (LEE, 85)
11
O principal prejudicado com a Paz de Vestfália foi a Alemanha, ou melhor, a
tentativa de unificação dos estados alemães numa centralidade política. O
princípio do Landeshoheit deu a cada príncipe a possibilidade de alianças com
outros estados e com outras potências, o que reforçou o acirramento entre os
principados, enfraquecendo a idéia de união. A unificação alemã, assim, foi
atrasada em dois séculos e meio.
A Paz de Vestfália superou a noção de universalismo, dando lugar à
noções como razão de estado e balanço de poder, que se tornaram
instrumentos decisivos para a formulação e implementação da política
internacional. O sistema de Vestfália instituiu a primazia do Estado como ator da
política mundial.
Mas, apesar de todo o enfraquecimento geopolítico da região e da
fragmentação, o sistema de Vestfália acabou possibilitando o surgimento de uma
potência alemã, além da Áustria, dentro do Império: Brandemburgo.
“Frederico Guilherme consolidou cuidadosamente os ganhos de
Brandemburgo, ao mesmo tempo que estabelecia o absolutismo de
sua dinastia, os Hohenzollern – assegurando-se da obediência
incondicional dos nobres em troca de ter-lhes dado maiores poderes
sobre os camponeses. Num espaço de trinta anos, Brandemburgo
estaria desafiando a posição da Suécia na Alemanha setentrional;
em mais de um século, a Prússia se tornaria a mais eficiente
potência militar da Europa e, sob Frederico, o Grande, seria capaz
de enfrentar sozinha as forças combinadas da Áustria, da França e
da Rússia na Guerra dos Sete Anos em 1763” 2
O fato é que, do final da Idade Média até o início do século XIX, a
Alemanha não se constituiu num Estado centralizado e não consolidou nenhuma
postura geopolítica aos moldes do mesmo. O que ocorreu foram pequenas
alianças entre os estados alemães entre si ou com outras potências. Aos poucos
foi sendo despertado a consciência nacional e as noções de territorialidade.
“Os fatores militares – ou melhor, os fatores geoestratégicos –
ajudaram a fixar os limites territoriais desses novos estados-nações,
enquanto as guerras freqüentes criavam a consciência nacional, pelo
2
LEE, S.J. “A Guerra dos Trinta Anos”. São Paulo: Ática, s/d. pg 76.
12
menos de uma maneira negativa, segunda a qual os ingleses
aprenderam a odiar os espanhóis, os suecos a odiar os
dinamarqueses e os rebeldes holandeses a odiar seus antigos
senhores Habsburgos”3
Minada pela fragmentação, a consciência nacional alemã tardou em
desenvolver-se, pelo menos durante o período de vigência do sistema de
Vestfália. Só começou a ganhar maior vigor após a consolidação do estado
prussiano.
O ABSOLUTISMO
A exemplo da França, os estados territoriais quase soberanos adotaram o
absolutismo como forma de governo. O Absolutismo concedia ao soberano
poderes ilimitados e permitia a instalação de estruturas administrativas rígidas, a
introdução de uma economia financeira organizada e a formação de exércitos
permanentes.
A política econômica rebustecia economicamente os estados absolutistas.
Estados como a Baviera, Brandemburgo (a Prússia mais tarde), Saxônia e
Hannover tornaram-se, assim, centros de poder independentes. A Áustria, que
contivera a agressão dos turcos e havia incorporado a Hungria e parte das regiões
balcânicas, até então sob o domínio turco, tornou-se uma grande potência. No
século XVIII, ela ganhou um grande rival, a Prússia, que se transformou em
potência militar de primeira ordem durante o reinado de Frederico, o Grande (1740
–1786).
3
KENNEDY, P. “Ascensão e Queda das Grandes Potências”. Rio de Janeiro: Campus, 2000. pg 75.
13
A ASCENSÃO DA PRÚSSIA
A partir da metade do século XVII, a Prússia passou a exercer uma
influência cada vez maior no cenário político europeu. Sob o domínio do príncipe
Frederico Guilherme de Brandemburgo, a Prússia tornou-se o estado mais
poderoso do norte da Alemanha, e no reinado de Frederico, o Grande, uma
potência européia que provou ser capaz de enfrentar na Guerra dos Sete Anos a
coligação da França, Rússia e Áustria, em 1783, o que veio a dar origem ao
dualismo entre a Casa dos Habsburgos e os prussianos dentro do Império. Desde
então, a Prússia passou a formar, juntamente com Grã-Bretanha, França, Áustria
e Rússia, o núcleo das potências européias.
Em 1789 deflagra-se a Revolução Francesa. Sob pressão da burguesia, foi
eliminada a ordem social feudal que existia desde os primórdios da Idade Média; a
separação dos poderes e o respeito dos direitos humanos deviam assegurar a
liberdade e a igualdade de todos os cidadãos. A tentativa da Prússia e da Áustria,
no sentido de intervir com as armas nos acontecimentos do país vizinha – a
França -, fracassou, provocando uma contra-ofensiva das tropas revolucionárias.
Este acontecimento evidencia já uma postura geopolítica alemã, que irá se
concretizar após a consolidação do Estado Prussiano e da Unificação Nacional.
Fig 5 – Crescimento da Prússia 1600 - 1795
Fonte: Wikipedia
14
Após a intervenção de Napoleão, houve uma reorganização dos estados
alemães. Em lugar de muitos estados pequenos, surgiram estados de porte
médio, superando o antiquado desmembramento territorial do Império. Assim, o
domínio napoleônico provocou amplas reformas no estado e na sociedade. Em
1813, a Prússia aliada à Rússia, numa aliança já fundamentada na Geopolítica,
deu início à Guerra de libertação que trouxe, em 1814, a derrota de Napoleão.
Sendo considerada mais como um ato de libertação dos povos, essa vitória
teve um grande significado para a formação de uma nova Alemanha. A partir de
então, os estados alemães viram-se diante da exigência da nação em se unificar
para formar um único estado alemão, estabelecendo assim, as bases para uma
união futura e para a construção de um domínio territorial e geopolítico comum. A
Prússia e a Áustria saíram fortalecidas da vitória sobre as tropas de Napoleão.
O CONGRESSO DE VIENA
Em 1814, após a derrota de Napoleão, as potências vitoriosas realizaram
na capital do Império Austríaco uma conferência internacional, conhecida como
Congresso de Viena. Essa conferência foi concluída em 1815, após a derrota de
Napoleão em Waterloo, atual Bélgica, e representou uma reação as idéias liberais
e nacionalistas difundidas pela Revolução Francesa. Seu principal objetivo foi o de
restabelecer a situação existente antes da Grande Revolução, isto é, a
restauração do Antigo Regime.
“Nas diversas sessões realizadas pelos congressistas as decisões
mais importantes foram tomadas pelo Comitê dos Quatro, formado
pela Inglaterra, Áustria, Prússia e Rússia. Entre os participantes do
Congresso de Viena estavam os mais destacados representantes do
conservadorismo europeu: Alexandre I da Rússia; lorde Castlereagh
da Inglaterra; Talleyrand da França; Hardenberg da Prússia, e o
príncipe Matternich, chanceler da Áustria e que foi a figura
dominante do Congresso”4
4
MELLO & COSTA, “História Moderna e Contemporânea” S.Paulo: Scipione, 1993. pg 132.
15
As decisões do Congresso de Viena, firmadas até 1815, restabeleciam o
equilíbrio de forças entre as potências européias através de uma política de
compensações territoriais. A Inglaterra consolidou sua supremacia naval retendo
as possessões conquistadas no além-mar durante a guerra contra a França
napoleônica, entre as quais a ilha de Malta, o Ceilão (atual Sri Lanka) e a colônia
do Cabo na África do Sul. A Áustria cedeu a Holanda para a Bélgica, mas recebeu
em troca parte da Polônia e as regiões da Lombardia e Veneza, que lhe
asseguraram a supremacia na Itália. A Prússia dobrou sua extensão territorial,
incorporando parte da Polônia, a Finlândia e a Bessarábia (atual Moldávia). A
França, mesmo derrotada, preservou a sua integridade territorial voltando às
fronteiras de 1792. A Alemanha e a Itália permaneceram divididas e submetidas à
hegemonia austríaca.
A Santa Aliança, como ficou conhecido o pacto militar firmado entre as
grandes potências européias no Congresso de Viena, teve como objetivo a
repressão aos movimentos liberais que colocassem em risco a política de
restauração, o princípio de legitimidade e o equilíbrio europeu.
“O apogeu dessa instituição foi marcado por intervenções
militares, que esmagaram os movimentos liberais ou nacionalistas
ocorridos em alguns países da Europa. Em 1819, por exemplo, a
Santa Aliança reprimiu os nacionalistas que lutavam pela unificação
da Alemanha”. 5
A ZOLLVEREIN E O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO PRUSSIANO
Em 1818 a Prússia aboliu os limites aduaneiros interiores, surgindo assim a
Federação Aduaneira Prussiana. Em decorrência desse acontecimento, em 1º de
Janeiro de 1834 surgiu a Federação Aduaneira Alemã (Zollverein), acontecimento
este de maior significação na marcha pela unificação nacional.
A Zollverein compreendia todos os estados alemães, exceto a Áustria e os
estados do noroeste: Hannover, Brunswick, Oldemburgo e as cidades da Hansa
5
MELLO & COSTA, op. Cit.
16
(liga Hanseática). Brunswick aderiu a Zollverein em 1844; Hannover em 1851; e
Oldemburgo em 1852. Somente os grandes portos de Hamburgo e Bremen
permaneceram fora, até mesmo depois da fundação do Império e constituem-se,
até hoje, como cidades livres hanseáticas, não estando submetidas políticoadministrativamente a nenhum estado.
A Zollverein foi um triunfo para a Prússia, uma vez que a Áustria fora
excluída da mesma, e do desenvolvimento comercial e industrial que obtivera.
Assim, criaram-se as premissas fundamentais do grande desenvolvimento do
sistema econômico alemão a partir de 1850.
Assim, na primeira metade do século XIX, a Prússia era a menor das
grandes potências, em desvantagem geográfica, obscurecida por vizinhos
poderosos, preocupada por problemas internos e intergermânico e incapaz de
representar um papel mais amplo nas questões internacionais. Somente após
1850 é que a expansão econômica ocorreu no solo prussiano, mais depressa do
que praticamente em qualquer outro lugar da Europa. Isso ocorreu, segundo Paul
Kennedy
“ ...ao seu sistema educacional, que desde o primário até as
universidades, não era inferior a nenhum outro sistema da Europa;
ao seu sistema administrativo razoavelmente eficiente, e ao seu
exército e seu formidável comando, que foram certamente os
primeiros a estudar reformas tanto na tática como na estratégia, em
especial nas implicações militares das ferrovias e dos fuzis”6
6
KENNEDY, P. Op.cit. pg 161
17
CAP 2 – A ERA BISMARCKIANA
Em 1861, assume o reinado da Prússia Guilherme I. Sua primeira iniciativa
foi nomear Otto von Bismarck para o cargo de primeiro-ministro, com a intenção
que o mesmo conseguisse resolver a questão da disputa entre a coroa e o
parlamento.
A burguesia estava impaciente por unir os estados alemães sob a direção
da Prússia, de longe o estado mais eficiente e não somente do ponto de vista
militar. O primeiro intento de fundar um Império Alemão (a Constituição de 1849),
não chegou a se concretizar por causa da recusa de Guilherme IV – antecessor de
Guilherme I – de assumir a coroa imperial. A monarquia prussiana, apoiada na
força social da aristocracia e nos Junkers, unicamente podia presidir o Império se
se lograsse uma constituição liberal; mas o rei da Prússia preferia ser monarca
absoluto dos prussianos a ser imperador constitucional de todos os alemães. A
unidade nacional alemã seria, pois, obra da burguesia industrial e expressão da
vitória da classe média sobre as antigas classes reacionárias prussianas. Na
Prússia havia um setor político, representado por Bismarck, que coincidia com os
liberais no tocante à unificação. Porém, esse grupo levou muito tempo para
ganhar a coroa e os Junkers para os seus planos, e se ao final triunfou a idéia da
unidade, este feito deveu-se à crescente influência dos capitalistas.
A unificação alemã só seria possível com a colaboração da Áustria, fato
geopolítico evidente; e esta não aceitaria semelhante supremacia alemã. Um
estado germânico unificado representaria a derrocada austríaca no cenário
geopolítico da Europa Central. A Áustria pesava consideravelmente na
Confederação Alemã e sua influência nos estados do sul era poderosa. Eliminar a
Áustria como elemento ativo da política alemã era a principal reivindicação dos
expansionistas alemães, não somente dos prussianos, mas do liberalismo alemão
como um todo.
Este descontentamento em relação à influência austríaca marca o início de
uma postura geopolítica verdadeiramente alemã, colocando os interesses
nacionais em confronto com a influência da potência externa que mais interferia na
18
política alemã e que não gostaria, nem de longe, de ver consolidado um estado
forte e unificado.
A GUERRA AUTRO-PRUSSIANA DE 1866
A Áustria e a Prússia disputavam o controle de Schleswig e Holstein com a
Dinamarca. Com a violação da autonomia das províncias estabelecida pelo
Protocolo de Londres (1852), a Dinamarca provocou a reação prussiana. Bismarck
achava que se houvesse a separação dos ducados, os mesmos deveriam anexarse à Prússia. Como conseqüência, a Áustria achava que o melhor seria que os
ducados permanecessem ligados à coroa dinamarquesa, pretendendo assim
frustrar os planos de Bismarck. Porém, ambos, Áustria e Prússia acabaram
enviando um ultimato à Dinamarca, que recusou, acreditando que a França e a
Inglaterra ficariam do seu lado, o que não ocorreu.
As tropas germânicas
invadiram os ducados sem encontrar resistência. Em 30 de Janeiro de 1864, a
Dinamarca cedeu à Áustria e à Prússia os ducados em litígio.
A Áustria pretendia que os ducados se mantivessem separados da Prússia
e governados pelo duque de Augustemburgo (Oliveira, pg 238). Bismarck não
aceitou e resolveu usar a força, mas antes consultou Napoleão III, que disse que
via com bons olhos a expansão prussiana, numa clara manifestação de retórica e
astúcia política. A Áustria também buscava apoio francês, que tratava de impedir
que a Itália ficasse ao lado da Prússia. A Áustria prometeu Veneza aos franceses,
que apoiaram aos austríacos no desmembramento prussiano, em caso de vitória.
Quando a guerra estourou, a Prússia estava praticamente isolada dentro da
Alemanha; contava somente com a aliança de alguns pequenos estados alemães.
Os demais seguiram à Áustria. Porém, a Itália acabou adotando a causa da
Prússia, frustrando Napoleão III.
Em 3 de Julho de 1866, os prussianos derrotaram os austríacos em
Koniggrätz, na Bohemia. Tentando sair com algum ganho do fracasso diplomático,
Napoleão III tentou fazer um acordo com Bismarck no qual a França anexaria
Luxemburgo e Bélgica sem a interferência prussiana, mas não obteve êxito.
19
A paz entre a Áustria e a Prússia foi firmada em 23 de Agosto de 1866. A
Prússia incorporou a Hannover, o norte do Hesse, Nassau e Frankfurt. Os estados
do sul permaneceram independentes, mas aceitaram construir uma aliança
defensiva com a Prússia. Dessa maneira a Baviera, Württemberg e Baden
entravam de vez na nova Confederação dos Estados do Norte dirigida pela
Prússia (Oliveira, 1995)
Com o surgimento do parlamento da Confederação do Norte, novas forças
políticas surgiram. Destaca-se o Partido Nacional Liberal, que iria representar os
interesses da industria pesada. Era um partido imperialista, tendo como filosofia a
expansão do Reich e o pangermanismo7.
Dessa forma, começava a tomar forma o estado que, alguns anos mais
tarde iria modificar totalmente o equilíbrio de poder na Europa. Contudo, a futura
Alemanha precisava de uma estrutura econômica forte e capaz de impulsionar o
expansionismo germânico e o movimento unificador nacional. Esse processo ficou
conhecido como via prussiana.
A VIA PRUSSIANA
Vários foram os motivos que forçaram os industriais e comerciantes
alemães a aceitar na política a pauta reacionária da Prússia; mas a causa principal
desse fenômeno temos que buscar no rapidíssimo e tardio desenvolvimento da
revolução industrial alemã.
O capitalismo alemão tinha como premissa necessária a união nacional
para a incrementação da expansão industrial e para a disputa de mercados e
colônias no exterior.
Esse processo – unidade nacional, expansão comercial, evolução industrial,
imperialismo -, que durou na Inglaterra três séculos, se consumou na Alemanha
em setenta anos. O capitalismo alemão, impaciente por conquistar os mercados
mundiais e por possuir matérias primas em abundância, escolheu o caminho mais
7
Movimento que defendia a unidade dos povos germânicos na Europa Central.
20
curto para a unificação nacional, mesmo tendo menor poder político que a
aristocracia.
Quando emergiu a unidade alemã, o mundo já estava quase todo repartido
entre as potências européias, e a esse fato atribuiu-se a notória precipitação, filha
da agressiva ambição da burguesia, com que se realizou a unidade nacional. 8
A única condição, se não expressa e contratual, tácita e subentendida, que
os liberais alemães puseram para aceitar a supremacia da Prússia foi que a
mesma colocasse a idéia da unidade nacional como princípio político inalienável .
A Prússia não era imperialista, mas possuía uma tradição militarista muito
forte. Assim, as armas prussianas postas a serviço do imperialismo burguês
prometiam rápidas conquistas exteriores. A vitória da Prússia sobre a Áustria fez
de Bismarck o político das classes médias. Cinco anos depois, na vitória da
Guerra Franco-Prussiana, a burguesia já aceitava com delírio o militarismo
prussiano.
Fig 6 – Otto von Bismarck
Fonte: Google imagens
8
OLIVEIRA, A.R. “Historia Social y Politica de Alemania” México: FCE,1995. op. cit.
21
A GUERRA FRANCO-PRUSSIANA E A FUNDAÇÃO DO REICH MODERNO
Com o oferecimento do trono espanhol ao príncipe alemão Leopoldo de
Hohenzollern, a França de Napoleão III sentiu-se diretamente ameaçada por um
suposto “imperialismo alemão”. Exigiu que Guilherme I fizesse a renúncia de
Leopoldo em público, o que desagradou profundamente a Bismarck, que afrontou
a França. Em 15 de Julho de 1870, Napoleão III declarava guerra à Prússia.
A França não tinha aliados e estava disposta a manter em isolamento uma
potência jovem como a Prússia e militarmente superior. Bismarck sempre pareceu
seguro da vitória de seu exército, porque o exército prussiano, organizado
magistralmente por Albrecht von Roon e posto a prova por Helmuth von Moltke na
guerra com a Áustria, com uma oficialidade e um Estado Maior que eram a “nata”
da sociedade, iria enfrentar um exército francês sem experiência guerreira e
tropas não tão bem disciplinadas.
Desde o princípio da guerra os alemães haviam tomado a ofensiva e
invadido a França. O exército francês estava dividido em dois blocos: um na
Alsácia e outro na Lorena. Um duplo ataque do exército alemão, em 6 de Agosto,
resultou em vitória germânica. Os alemães, então concentraram-se na batalha de
Grovelotte. Em Sedan, Napoleão III e seu exército sofreram uma grande derrota, a
qual teve como conseqüência a rendição em 2 de Setembro de 1870. Feito
prisioneiro, Napoleão III foi levado a uma entrevista humilhante com Guilherme I.
Com a derrota e a prisão de Napoleão III todos pensavam que tudo estava
acabado. Mas Bismarck, alertado por setores imperialistas não se deteve. Reuniuse com os partidos Progressista e Nacional Liberal e propôs a anexação da
Alsácia e da Lorena por parte da Alemanha. Hoje sabe-se que esta anexação foi
obra da burguesia industrial.
“A anexação pela Alemanha da Alsácia e da Lorena foi imposta
pela grande burguesia industrial renana decidida a não desperdiçar a
ocasião de alargar novas fontes de matéria-prima e combustível,
além de importante reforço das fundições Forges de Lorraine”.9
9
OLIVEIRA, op. cit.
22
Uma das conseqüências da Guerra Franco-Prussiana, foi a consumação da
unidade alemã. A grande vitória do Norte e do Sul unidos despertaria na
Alemanha um desmesurado entusiasmo e o sentimento de que devia se dar de
forma solene e permanente aquela fecunda união militar. Os governos do sul da
Alemanha firmaram convênios com a Prússia em virtude dos quais ingressavam
na Confederação dos Estados do Norte. Essa união receberia o nome de Império
Alemão e sua cabeça, o rei da Prússia, levaria o título de imperador da Alemanha.
A constituição e a legislação prussianas, então, se estenderam a todo o Império.
“Terminada a guerra com a França, a Alemanha sabia que havia
plantado a semente de uma nova guerra. Mas, enquanto Bismarck
governou, tratou de evitá-la. Transferiu a indenização de guerra
para investimentos no exército, com o intuito de criar o maior
exército da Europa”.10
Fig 7 – A Expansão da Prússia (1807 – 1871)
Fonte: Wikipedia
10
OLIVEIRA, op. cit.
23
De
acordo
com
Paul
Kennedy11,
a
unificação
alemã
deveu-se,
principalmente, a três aspectos militares que permitiram a Alemanha derrotar seus
oponentes tanto na Guerra Franco-Prussiana quanto na Guerra Austro-Prussiana:
a organização eficaz do exército, o transporte maciço por ferrovias e a
superioridade armamentista.
“A vitória da Prússia-Alemanha foi, claramente, uma vitória de
seu sistema militar. Atrás dos avassaladores avanços da coluna
alemã e a orquestração controlada do Estado-Maior estava uma
nação muito melhor equipada e preparada para as condições de
guerra moderna do que qualquer outra na Europa”12
A Alemanha, em 1870, já possuía a maior quilometragem de linhas
ferroviárias do continente. A revolução industrial alemã estava criando um número
maior de empresas de grande porte, como o conglomerado Krupp de aço e
armamentos, que davam ao Estado prussiano-alemão sua força tanto industrial
como militar.
De uma economia livre-cambista, tornou-se uma economia protecionista,
fomentando ainda mais os investimentos. De importadora de trigo, a Alemanha
passou a exportar o produto (Oliveira, op.cit.).
BISMARCK E A REALPOLITIK
Pode-se dizer que realpolitik bismarckiana tem início no oferecimento do
trono espanhol ao príncipe Leopoldo de Hohenzollern, pois, num golpe
diplomático, Bismarck cercava a França territorialmente com inimigos hostis.
O chanceler alemão tinha consciência da necessidade da união da
Alemanha para formar uma potência forte e da importância das alianças com as
demais potências para conseguir sobressair-se nas questões geopolíticas do
continente europeu. O imperialismo e o expansionismo comercial e territorial eram
11
12
KENNEDY, P. Op. Cit.
KENNEDY, P. op. cit.
24
princípios agendados na ótica de Bismarck, o que ficou claro na vitória da Guerra
Franco-Prussiana.
Porém, Bismarck não era uma louco, possuía um apurado realismo político.
Esse fato ficou evidente quando o chanceler impediu o general Moltke de marchar
sobre Viena após a vitória da Guerra Austro-Prussiana, pois isso poderia
desencadear uma reação continental contra a Prússia. Bismarck sabia muito bem
quando parar. Seu senso realista aplicado à geopolítica ficou conhecido como
realpolitik.
A realpolitik logrou mais sucesso na união da Alemanha do que a
democracia parlamentar. Bismarck tinha consciência disso e, usando a realpolitik
mais uma vez, arquitetou a Guerra Franco-Prussiana visando a união dos estados
do Sul contra a França. No final, a Prússia venceu a guerra e fundou as bases de
uma Alemanha unificada.
O equilíbrio de poder europeu, após a Guerra Franco-Prussiana fora
rompido. Bismarck criara no centro do continente um império com o exército mais
poderoso do mundo. Nas palavras de Benjamin Disraeli, 1º ministro britânico na
época:
“A guerra representa a revolução alemã, um acontecimento
político mais importante que a Revolução Francesa do século
passado. Não há tradição diplomática que não tenha sido arrasada.
O equilíbrio de poder foi inteiramente destruído.” (ROSE, pg 30)
O mundo passava a olhar com desconfiança para a Alemanha após a
vitória sobre a França. Todos a viam, agora, como um império agressor e perigoso
conduzido por um líder astuto e que sabia como ninguém se posicionar no jogo
diplomático continental.
A realpolitik de Bismarck foi decisiva na política externa alemã depois de
1871. O chanceler buscou fortalecer a estabilidade na Europa e preservar a paz
no continente, uma vez que um conflito a essa altura seria desastroso.
Estabeleceu boas relações com todas as outras potências européias garantindo
que as mesmas não se aliassem com a França.
25
Em 1873, Bismarck cria a Liga dos Três Imperadores, composta por
Rússia, Áustria e Alemanha. Assim, estava estabelecida uma aliança em caso de
ataque da França contra a Alemanha o que preocupava também aos ingleses.
“Disraeli, primeiro-ministro inglês, viu a Liga dos Três
Imperadores como uma ameaça à paz européia, principalmente por
causa da participação da Rússia, arquiinimiga dos ingleses”13
A QUESTÃO BALCÂNICA
No final do século XIX várias nacionalidades desafiavam o então decadente
Império Otomano. Sérvios, montenegrinos, romenos, búlgaros, macedônios e
gregos lutavam por independência. A Rússia e a Áustria já procuravam, então,
uma maneira de intervir na região como forma de aumentar suas influências.
A Rússia via a crise balcânica como uma forma de alcançar a sua saída
para o mar Mediterrâneo, o que preocupava e muito ingleses e franceses,
detentores do canal de Suez.
A Alemanha, a princípio, não tinha interesses nos Bálcãs, mas não gostaria
de ver seus aliados lutando pela região, o que poderia gerar uma cisão na aliança
construída recentemente e prejudicar os planos e interesses alemães. Assim, a
realpolitik alemã mais uma vez entrou em cena e o estado germânico conclamou
seus aliados a dividirem os Bálcãs em duas áreas de influência.
“Em abril de 1877, a Rússia entrou em guerra com o Império
Otomano. As tropas do czar Alexandre II libertaram a Romênia e a
Bulgária e , em Janeiro de 1878, tinham alcançado as cercanias de
Constantinopla. Muito alarmado, o primeiro-ministro inglês
Disraeli enviou a frota inglesa para deter os russos em Dardanelos,
o estreito que separa o continente europeu da Turquia. Em 3 de
Março, o Império Otomano foi forçado pelos russos a assinar o
Tratado de San Stefano, que ampliava o território da Bulgária,
expandindo suas fronteiras até o mar Egeu. A Bulgária era um
estado-tampão da Rússia e o czar conseguira realmente conquistar
13
ROSE. J.R. “Bismarck”. São Paulo: Abril Cultural, 1987.
26
uma saída para o Mediterrâneo, ambicionada desde a Guerra da
Criméia” (ROSE, pg 72).
Diante deste avanço geoestratégico russo, Bismarck rompe o Tratado dos
Três Imperadores como forma de por um fim às ambições dos russos. Surge,
então, o “medo” de uma aliança entre a França e a Rússia e um possível ataque
contra a Alemanha em duas frentes.
Em 1879, é assinado o Tratado Renovado, uma aliança entre a Alemanha e
a Áustria cuja finalidade era o comprometimento de ajuda mútua em caso de um
ataque da Rússia. Em 1882 é firmada a Tríplice Aliança entre Alemanha, Áustria e
Itália.
A França não deixou por menos e assinou um tratado com a Rússia
visando uma aliança militar em caso de ataque alemão. A Alemanha estava
cercada por inimigos à leste e a oeste.
“Os objetivos de Bismarck eram, principalmente, a curto prazo e
defensivos, acalmar aliados nervosos em Viena, Roma e Bucareste;
manter a França isolada diplomaticamente, preparar posições para
um “retrocesso” caso os russos invadissem os Bálcãs. Mas a
verdade é que Bismarck havia assumido compromissos que, mesmo
não sendo de natureza pública, fez com que tanto a França como a
Rússia se preocupassem com seu isolamento e suspeitassem que o
grande intrigante em Berlim tinha formado uma coalizão
formidável para esmagá-los em caso de guerra”14
A essência da estratégia diplomática de Bismarck se baseava no jogo de
atirar uma nação contra a outra. Promovendo medos e rivalidades mútuas entre as
várias potências européias, trouxe-as para os braços da Alemanha e foi capaz de
preservar o equilíbrio de poder que possibilitou à Alemanha permanecer como a
nação mais forte do continente.
As aspirações da França, de recuperar a Alsácia e a Lorena, e da Rússia,
de expandir-se na Europa Oriental, eram contidas principalmente pelo medo da
Alemanha. Porém, a tendência de uma aliança franco-russa contra a Alemanha
14
KENNEDY, op. cit.
27
era inevitável. Em 1894 a Tríplice Aliança da Alemanha, Áustria e Itália tinha sido
equilibrada pela aliança franco-russa, um compromisso político e militar nos
moldes da Tríplice Aliança, o que, mais tarde, iria dividir a Europa em dois campos
rivais: a Tríplice Entente (Inglaterra, França e Rússia) e a Tríplice Aliança
(Alemanha, Áustria e Itália), tendo como conseqüência a Primeira Guerra Mundial.
O LEGADO DE BISMARCK
Pode-se atribuir à figura de Bismarck a responsabilidade pela consolidação
do estado e da nação alemã. Sua realpolitik construiu pragmaticamente os meios
para tal feito. Por meio de alianças e ameaças, Bismarck sempre manteve seu
objetivo: construir a Grande Alemanha.
Entretanto, a obsessão de Bismarck não o tornava um líder impetuoso.
Bismarck sabia muito bem das fraquezas de seu país, sobretudo se a França e a
Rússia se unissem, pois o país ficaria “cercado” geograficamente. Por isso,
sempre jogou diplomaticamente com as potências e estabeleceu alianças,
mantendo como orientação primordial o equilíbrio das forças na Europa. Ele sabia
que uma afronta direta da Alemanha a alguma potência poderia levar a uma
guerra sem precedentes na história humana e destruiria a construção de seu país.
Mas Bismarck, infelizmente, não pode continuar dirigindo os rumos
germânicos. Com a morte de Guilherme I, assume seu filho Guilherme II, forte
opositor de Bismarck. Institui diversas reformas sociais e ganha o apoio popular,
jogando o povo contra o chanceler. Em 1890, Bismarck perde a maioria do
Reichtag, o que o tornou uma liderança pífia. No mesmo ano, após insistência de
Guilherme II, Bismarck renuncia ao cargo de chanceler, encerrando uma era de
conquistas para a Alemanha.
“Ao contrário do velho mestre, Guilherme II entendia pouco de
realpolitik e não sabia quando parar. Construiu uma esquadra
poderosa e confrontou-se com as outras potências na África em
busca de colônias. Em 1907, acabou conseguindo levar a Inglaterra,
a França e a Rússia a uma aliança. Bismarck sempre conquistara
seus adversários dividindo-os e jogando-os uns contra os outros.
28
Enquando foi chanceler, Bismarck cuidou para que não se criasse
um equilíbrio de poder instável. Para tanto, trabalhou afastando os
aliados da França. Embora Bismarck importunasse a Inglaterra, não
a provocou a ponto de fazê-la voltar-se contra a Alemanha e
astutamente prendeu as outras potências européias numa rede de
tratados que garantiriam a paz. Em 1871 e 1914 não ocorreu guerra
importante na Europa, e Bismarck merece boa parte do crédito por
este longo intervalo de paz” 15
Guilherme II, ao contrário de Bismarck, não calculava suas ações.
Converteu a Alemanha da noite para o dia em potência colonial. Em 1894 adquiriu
Camarões, o sudoeste da África (atual Namíbia), a África Oriental (atual Tanzânia)
e parte da Nova Guiné. Em 1899 adquiriu as ilhas Marianas, o arquipélago das
Carolinas e o de Palau, Samoa e a Polinésia. Esse imperialismo bateu de frente
sobretudo com a Inglaterra, a maior potência da época e que, até agora,
mantivera-se neutra em relação à Alemanha. Mas, diante de tal avanço, os
ingleses começaram a articular uma reação ao pretensioso o kaiser Guilherme II.
A Primeira Guerra Mundial apontava no horizonte.
Bismarck previu tudo isso antes de morrer dizendo que se as coisas assim
continuassem, a ruína aconteceria daqui a vinte anos16.
A 1ª GUERRA MUNDIAL
Com o desenrolar da 1ª Guerra Mundial, a Alemanha passa de maior
potência industrial da Europa, com o mais bem treinado exército do mundo, para
ser a mais frágil das potências nos anos 20.
Juntamente com a Alemanha, a 1ª Guerra destruiu e amputou o Império
Habsburgo (Austro-Húngaro). Espalhado pelo continente europeu do norte da
Itália à Galícia, agia como fulcro central do equilíbrio europeu, contendo as
ambições francesas na Europa ocidental e na Itália, preservando o status quo na
Alemanha contra os “nacionalistas” da Grande Alemanha e os expansionistas
prussianos, e colocando uma barreira à penetração russa nos Bálcãs.
15
16
ROSE, J.R. op. cit.
ROSE, J.R. op. cit.
29
Geopoliticamente, pode-se colocar como causas imediatas do conflito as
seguintes circunstâncias:
1.O medo do Império Austro-Húngaro da expansão da Sérvia, reino pequeno,
mas ativo, intrigante e ambicioso; que, segundo Viena, estava minando os
fundamentos da dupla monarquia, estimulado pela Rússia;
2.a intenção alemã de dominar os Bálcãs e ampliar seu poderio até Bagdá,
governar o mercado universal e possuir a frota de guerra mais poderosa do
mundo;
3.o sonho da Rússia de se apoderar de Constantinopla e dominar os estreitos
e conseguir alcançar o Mediterrâneo;
4.o espírito de revanche da França, que não perdoava a Alemanha pela
derrota de 1871, nem tampouco pela anexação da Alsácia e da Lorena;
5.o temor britânico de que a Alemanha expulsasse a Inglaterra dos mercados
mundiais e, sobretudo, o rápido desenvolvimento da potência naval germânica.
“Como as outras potências, a Alemanha não duvidava da sua
vitória, para a qual se preparou com muita precisão, traçando os
planos de sua dominação futura na Europa. A Alemanha aspirava,
uma vez ganha a guerra, levantar um Império alemão baseado na
Europa Central. Seria um sistema de dominação política e
econômica direta e indireta. Anexariam-se territórios em suas
fronteiras orientais e ocidentais. A Europa Central seria uma
entidade econômica dirigida pela Alemanha. Criariam-se estados
clientes, que seriam como postos avançados do Reich”.
A dominação da Europa Central pela Alemanha não se limitaria a união da
Alemanha com o Império Austro-Húngaro; incluiria partes consideráveis da Europa
Ocidental, Oriental e Meridional. Bélgica, Polônia, Finlândia, Romênia, Ucrânia e
toda a região do Báltico até a Estônia seriam estados clientes, tampões,
estreitamente ligados ao novo Reich na política, no militarismo, na cultura e na
economia.
O desfecho da guerra, porém, adiou esse projeto, pelo menos por mais de
80 anos, até a reunificação do pós Guerra Fria. A Alemanha perdera a guerra e a
condição de potência. O desenho geopolítico do continente havia mudado; o então
30
presente Império Áustro-Húngaro fora mutilado e seu herdeiro mais legítimo, a
Áustria, tornara-se apenas um pequeno país encravado nos Alpes. Novos países
foram
criados
ou
tornaram-se
independentes:
Polônia,
Tchecoslováquia,
Iugoslávia, Hungria. O mundo assistia, também, a supremacia econômica,
financeira, política e militar dos Estados Unidos e, em breve, ao nascimento da
União Soviética, que instituiu junto com os americanos a bipolaridade mundial por
quase 70 anos.
No Tratado de Versalhes, a idéia dominante foi a de destruir a Alemanha
enquanto grande potência. Haveria de ser eliminado dessa nação todo vestígio de
força militar e quebrar, sobretudo, a economia alemã.
A Alemanha perdeu 6 milhões de habitantes e consideráveis quantidades
de matéria-prima. Perdeu suas colônias na África, na Ásia e na Oceania. A França
recuperou a Alsácia e a Lorena, responsável por 75% do minério de ferro
produzido na Alemanha.
O país, após a 1ª Guerra, estava em retalhos: a monarquia havia caído e
no lugar surgira a pitoresca e inoperante República de Weimar, as indenizações
levaram a população à miséria, as forças armadas já não mais existiam e os
diversos setores da sociedade degladiavam-se pelo país. Os anos 20
representaram a miséria germânica. Mas este cenário não tardaria a mudar, pois
começou nesse período a formação de um movimento que iria novamente colocar
a Alemanha no topo do mundo, como uma potência, e iria abalar todo o planeta
com sua força: o Nacional-Socialismo.
31
CAP 3 – A ALEMANHA NAZISTA
Como já observamos, o Tratado de Versalhes amputou todos os tentáculos
do Império Alemão. Não somente acabou com as posses coloniais da Alemanha,
como também destruiu o império enquanto forma de governo, aniquilando a
monarquia e instituindo, à força, um regime republicano “democrático”.
A então República de Weimar encontrava-se totalmente falida e sem
perspectivas de melhora, envolta por vultuosas indenizações que devia aos
aliados e sem nenhuma força econômica ou militar que pudesse alavancar o país.
Na década de 1920, a Alemanha parecia, de longe, a mais fraca e
conturbada das grandes potências descontentes com os acordos territoriais e
econômicos do pós-guerra. Acorrentada às especulações militares do Tratado de
Versalhes, limitada estrategicamente pela transferência das regiões de fronteira
para a França e a Polônia, agitada internamente pela inflação, tensões de classe e
a correspondente volatividade e confusão do eleitorado e dos partidos, a
Alemanha não dispunha de liberdade de ação nos assuntos externos e nem nos
internos.
A inflação alcançou dimensões até então desconhecidas no mundo.
Registraram-se cinco tentativas de golpe de estado17. O povo passou fome, não
somente porque as potências vitoriosas prolongaram o embargo depois do
armistício, mas porque as mesmas se apropriaram de todo o gado e dos meios de
transporte.
Diante de tal calamidade, a Alemanha não consegue assumir os
compromissos financeiros com as potências vencedoras e começa a não pagar
em dia as indenizações.
“A França acusa os alemães de não cumprir os compromissos e,
em 1920, ocupa a cidade de Frankfurt. Em 1921 ocupa militarmente
três lugares do Ruhr. E, em Janeiro de 1923, com um exército de 60
mil homens, ocupa toda a região industrial” 18
17
18
OLIVEIRA, A.R. op. cit. pg. 338.
OLIVEIRA, A.R. Op. cit.
32
A invasão francesa causa um impacto na população. O proletariado
começa a resistir aos invasores. Os franceses, num desses episódios, abriram
fogo contra os operários das fábricas Krupp, matando treze pessoas. A cada dia
aumentavam os atos contra as forças de ocupação.
Essa ocupação do Ruhr acabou dificultando ainda mais as exportações,
irritando ainda mais os alemães. Irritou também a Inglaterra, que via com
preocupação o avanço francês. Isso acelerou o fim do Tratado de Versalhes, que
somente poderia ser imposto se os aliados permanecessem unidos. Portanto, a
invasão francesa acabou modificando os quadros geopolíticos europeu e alemão,
uma vez que desestabilizou a aliança que mantinha a Alemanha encurralada.
Para que a Alemanha não parasse definitivamente de pagar suas dívidas,
os aliados resolveram fomentar o desenvolvimento da grande indústria alemã,
esperando assim receber parte das dívidas e explorar o quanto pudessem da
máquina industrial alemã. Foi elaborado então o Plano Dawes. Esse plano
consistia em um empréstimo de 5 bilhões de dólares com o objetivo de reerguer a
grande indústria alemã.
A Alemanha tomou empréstimos de várias nações, reconstruiu sua indústria
e acabou montando uma formidável máquina produtiva, superior em qualidade e
potencial a que tinha em 1913. Esse desenvolvimento acabou, mais tarde, sendo
a base do 3º Reich. A idéia de reconstruir a Alemanha acabou se tornando o maior
dos erros das potências vencedoras.
O NACIONAL-SOCIALISMO
O ambiente social e político que a Alemanha vivenciava nos anos 20 era
extremamente favorável ao desenvolvimento de um regime fascista, cujas
características eram o autoritarismo e o forte apelo populista. O fascismo era uma
espécie de contra-revolução própria de uma nação proletarizada, cuja classe
média havia sido expropriada pela inflação, pelos impostos e pelo desajuste da
guerra e cuja grande burguesia se sentia seriamente ameaçada.
33
Esta forma de política ocorreu não somente na Alemanha, mas também na
Itália. Mas a diferença fundamental entre o fascismo italiano e o fascismo alemão
– também chamado de nazismo – era a origem de cada um.
O fascismo italiano recebeu seu principal impulso prático da burguesia
industrial, que estava em conflito com o exército, que não sentia simpatias por sua
organização paramilitar demagógica que poderia sufocar sua posição no Estado.
O exército italiano integrou-se ao fascismo quando os industriais já o haviam feito,
e jamais chegou a identificar-se completamente com esse movimento.
Já na Alemanha, o verdadeiro fundador do nazismo foi o exército, o
Reichwehr. A grande indústria deu o respaldo a Hitler muito mais tarde, quando o
nazismo já havia adquirido força incontestável. Na Alemanha, o Tratado de
Versalhes aniquilou toda a organização militar; já na Itália, o mesmo tratado impôs
uma derrota para os grandes capitalistas, não para o exército. É essa a grande
diferença entre o fascismo italiano e alemão.
A RECUPERAÇÃO ECONÔMICA
Com o Plano Dawes e a injeção de capital estrangeiro na economia alemã,
começa a recuperação econômica. No final de 1924, a Alemanha começa a entrar
na normalidade. Os franceses haviam se retirado do Ruhr e a grande industria
começava a se adaptar às produções dos tempos de paz. A nação germânica
começava a se recuperar. Empréstimos eram concedidos a curto prazo.
Em 1929, a Alemanha possuía a indústria mais moderna do mundo. Essa
indústria, por si só, estava em condições de abastecer de produtos manufaturados
uma parte considerável do globo. Mas o mercado interno alemão não podia
sustentar as formidáveis empresas alemãs e, com a crise de 1929, os mercados
externos não tinham condições de importar seus produtos. A catástrofe foi
inevitável. Seis milhões de empregos deixaram de existir e a Alemanha voltou a
ser um país de mendigos. A inflação destruiu a classe média, assim como a
possibilidade de uma república democrática ou uma monarquia parlamentar.
34
Diante de tal circunstância a única forma de governo que obteria sucesso seria
uma regime totalitário.
O NASCIMENTO DA REVISTA DE GEOPOLÍTICA
Foi no ambiente de crise e recuperação econômica e política alemã que
surgiu, em 1924, a Revista de Geopolítica (Zeitschrift für Geopolitik – ZfG). Essa
publicação tornou-se logo uma referência entre os pesquisadores que se
dedicavam ao tema Geopolítica no período antecedente à 2ª Guerra Mundial e,
também, um instrumento de propaganda do expansionismo alemão.
Na República de Weimar, prevaleceu a Lebensphilosophie como norte
intelectual, ainda que não se tratasse de um sistema ou escola de pensamento,
tendo como característica fundamental a negação do universalismo abstrato, do
cosmopolitismo
uniformizador
e
do
raciocínio
mecanicista
atribuídos
ao
positivismo e ao materialismo das correntes científicas vigentes.
Os geopolíticos do período acabaram adotando essa visão como
fundamento filosófico de suas pesquisas.
“Na leitura que os geopolíticos fizeram dos conceitos
geográficos, passando pela fundamentação na Lebensphilosophie,
predominou uma argumentação baseada em faculdades que não
seriam admissíveis para um positivista, tais como a intuição, o
sentimento, a sensibilidade, elementos presentes no debate da
Landschaft (paisagem), desde Humboldt. Nas mãos dos
geopolíticos, esses conceitos foram reelaborados para justificar a
política nazista que se impôs após os anos 30”. 19
Dessa forma, os geopolíticos estabeleceram vínculos entre conceitos de
povo e espaço que surgiram a partir de uma série de mitos, tais como o da
germanidade (deutschtum) ou do sangue e solo (blut und boden), resultantes da
ligação íntima entre raça e espaço, fomentando uma forma de racismo, aceito
como científico na Alemanha nazista.
19
SILVA, A.R. “A Geopolítica Alemã na Rep. De Weimar” Rio Claro: UNESP, 2003. pg 5
35
Outro mito que teve forte influência nos geopolíticos foi o da centralidade,
a partir do qual foi elaborado o conceito de Mitteleuropa (Europa Central), que
aglutinou o amplo espectro de reivindicações expansionistas, sob alegações
absolutamente subjetivas, vinculadas à idéia de destino, harmonia, unidade,
totalidade, essência, arte, emoção, alma, ritmo, dentre outros comuns nos ensaios
da Revista de Geopolítica20.
A Revista de Geopolítica teve como líder e principal orientador o general e
geógrafo alemão Karl Haushofer, chefe do Instituto Geopolítico de Munique e
responsável pela elaboração da Geopolitik nazista. Mas a revista também recebia
colaborações de diversos intelectuais como, por exemplo, historiadores,
geógrafos, políticos e jornalistas.
Além disso, a Revista de Geopolítica possuía uma farta lista de assinantes.
De acordo com Altiva Barbosa da Silva, de uma lista de mil assinantes constantes
no arquivo de Haushofer, um quarto residia no exterior, o que nos mostra o
interesse e a repercussão desse periódico fora da Alemanha. A revista era lida em
diversos países, tanto no Japão quanto nos países anglo-saxões.
Uma das maiores contribuições da Revista de Geopolítica foi a cartografia
geopolítica,
considerada
como
um
dos
instrumentos
pedagógicos
mais
importantes para a efetivação do ideário geopolítico alemão. Os mapas
expressavam tanto o desejo expansionista, a supremacia racial ariana, a
predominância lingüística do alemão na Europa Central.
Outro conceito que a Revista de Geopolítica ajudou a difundir foi o do
Espaço Vital (Lebensraum), que consistia na conquista de terras do leste europeu
para o estado alemão. Hitler não teve outra finalidade que a de conquistar vastos
territórios no leste da Alemanha e colonizá-los sem piedade, como na antiga
Ordem Teutônica21. Seu instinto político lhe dizia que o racismo e o
pangermanismo não bastavam para atrair as multidões, daí seu apelo ao
expansionismo territorial.
20
21
SILVA, A.B. op. cit.
OLIVEIRA, A.R. op. cit.
36
“O dever da política externa de um estado nacionalista é
assegurar a existência da raça incluída no Estado, estabelecendo
uma proporção natural entre o número e o crescimento da
população, de um lado, e, de outro lado, a extensão e a qualidade do
solo... Chamo de proporção natural a possibilidade do Estado de
assegurar a alimentação a um povo no seu próprio solo. Somente
um suficiente espaço na terra é que assegura a um povo a liberdade
de existência”.22
O espaço vital germânico, para Hitler, não consistia apenas em assegurar a
alimentação, mas tinha forte inclinação militar e territorial.
“Quando um povo tem assegurada a sua alimentação pela
extensão de seu território, é ainda necessário considerar a garantia
do próprio solo. Esta reside na força política do Estado, que, por sua
vez, é determinada por pontos de vista militares e geográficos”23.
Na visão hitlerista, o aumento do tamanho do território era uma condição
imprescindível para a transformação da Alemanha numa potência.
“Em uma época em que aos poucos o mundo é dividido entre
alguns Estados, dos quais uns quase abraçam continentes, não se
pode falar em potência mundial de menos de 500 mil Km2 ” 24
Entretanto, Hitler considerava a aquisições de colônias fora de propósito,
uma vez que o tamanho da Alemanha permaneceria inalterado. Para o Führer, a
questão central era aumentar a Alemanha para os alemães. Colônias acabariam
por “misturar” o povo alemão com outras raças, o que na visão racista do nazismo
era inaceitável. Colônias apenas fariam com que a Alemanha dominasse outros
povos, não aumentando a união territorial alemã. Aumentando o território nacional,
aumentar-se-iam a unidade nacional.
“A aquisição de colônias não resolve essa questão... não há
solução fora da conquista de território para a colonização que
22
HITLER, A. “Minha Luta” São Paulo: Centauro, s/d.
HITLER, op. cit.
24
HITLER, op. cit.
23
37
aumente a extensão territorial da mãe-pátria e, com isso, não só
mantenha os colonizadores em contato íntimo com o seu país de
origem como também assegure as vantagens de uma unidade
perfeita.” 25
HITLER NO PODER
Em 1933 Hitler chega ao poder e começa a por em prática o seu projeto,
declara como único partido legal na Alemanha o partido nazista e volta a instituir o
serviço militar obrigatório declarando, então, que a Alemanha não vivia mais sobre
o Tratado de Versalhes.
A guerra era para o nazismo um fim em si mesmo, não importando que
outras nações como a Inglaterra e os Estados Unidos fossem militarmente
superiores. Na realidade, o que importava para os nazistas era produzir o caos no
mundo, humilhar os franceses, perturbar os ingleses. Enfim, acabar com a paz.
A grande diferença da Alemanha de Guilherme II para a Alemanha de
Hitler, era que para o imperador a guerra era um meio e para o Führer um fim em
si mesmo. Para os nazistas, sair-se mal na guerra não criaria uma situação pior da
que a Alemanha vivia até então. Segundo a tese nazista, a Alemanha nada tinha a
perder, salvo seus grilhões26.
Hitler era muito diferente de seus antepassados frederickianos e
bismarckianos, em seus esquemas fantásticos de poder mundial e sua indiferença
final por todos os obstáculos que se opunham a eles. Impelido tanto por essas
ambições maníacas, a longo prazo, Hitler, como os japoneses estava obrigado a
modificar a ordem internacional o mais depressa possível. Para tanto, o Führer
começa a querer costurar as primeiras alianças, no intuito de por em prática seus
planos.
Na segunda metade de 1935, o cenário criado pelas grandes potências
começa a desintegrar-se sem que Hitler tivesse levantado um dedo. As diferentes
visões anglo-americanas do “problema de segurança” já se revelavam no
constrangimento britânico ante a renovação dos elos franceses com a União
25
26
HITLER, A. op. cit.
OLIVEIRA, A.R. op.cit.
38
Soviética de um lado, e o desânimo francês ante o acordo naval anglo-germânico
de Junho de 1935 de outro. Ambas decisões foram tomadas unilateralmente para
proporcionar mais alguma segurança. A França queria trazer a União Soviética
para o equilíbrio europeu, a Grã-Bretanha estava ansiosa para harmonizar suas
necessidades navais nas águas européias e no Extremo Oriente, mas cada uma
dessas medidas pareceu ao outro representar um sinal errôneo para Berlim.
NOVAS ALIANÇAS
Em 1935 o ministro de negócios estrangeiros britânico, Sir John Simon e
Mr. Anthony Eden visitaram o Führer em Berlim, e o mesmo os revelou que a
Alemanha já era mais forte no ar que o Império Britânico. Simon e Eden ficaram
estupefados. Eden seguiu viagem à Moscou para falar com Stálin. Este, porém,
não se surpreendeu com a magnitude do rearmamento alemão. Ouve, então, uma
“reaproximação “ entre a Grã-Bretanha e a União Soviética. Os ultraconservadores
britânicos, entretanto, não simpatizaram com essa “reaproximação”.
A França também tratou de firmar uma aliança com a URSS (o pacto
Franco-Soviético) tomando uma precaução caso o exército alemão avançasse até
o Reno. Mas esse pacto despertou certa desconfiança nos ingleses.
Em 7 de Março de 1936, o exército alemão ocupou a zona desmilitarizada
do Reno, sem que nenhuma potência tomasse alguma represália militar. A força
do exército alemão e o poder do estado nazista cresciam a cada dia.
Em Julho de 1936, Hitler e Mussolini iniciaram uma agressão contra a
Espanha tirando deste acontecimento a experiência militar que lhes faltava.
Uma aliança com a Inglaterra permanecia crucial nos pensamentos de
Hitler.
“Hitler sempre temeu a guerra contra a Inglaterra. Tratou de
ganhar a confiança de Londres para a sua política de dominação
européia. Sua fórmula era: para nós a terra; para a Inglaterra o mar.
Mas esta ambiciosa aspiração nazista estava em conflito com a
política tradicional inglesa e era inteiramente contraria aos
interesses britânicos. Hitler, que dava a questão racial uma
39
importância que não era concebida pelos ingleses, não achava
impossível um diálogo com Londres baseado na partilha do mundo
entre os alemães e os anglo-saxões. Muitos conservadores
britânicos nutriam a fé de Hitler de aniquilar a França e roubar
territórios da Rússia.” 27
A principal dificuldade para uma entente anglo-alemã consistia na política
de Hitler em relação à França. Hitler queria ter a Inglaterra como aliada numa
guerra com os demais países europeus. Em troca da proteção alemã contra o
bolchevismo, Hitler pedia à Inglaterra que abandonasse a França. Hitler e seu
ministro de relações exteriores Joachim vom Ribbentrop acreditavam que se
apresentassem a agressão alemã como uma cruzada contra o comunismo, a
Inglaterra não se oporia à conquista do continente europeu.
No outono de 1937, Hitler recebeu a visita de Lord Halifax e se tornou
público que o diplomata britânico fora comunicar ao Führer o desejo do governo
britânico de firmar um pacto do Oeste a fim de garantir o status quo nesta parte da
Europa. O caminho para o Leste, pelo que concernia a Inglaterra, estava livre para
Hitler.
Com a esperança de dirigir o expansionismo germânico para o Leste, a
França firmou o pacto franco-alemão, assinado em 6 de Dezembro de 1938, em
Paris, por Ribbentrop e George Bonnet.
Assim, tanto a França quanto a Inglaterra trataram de firmar acordos no
sentido de afastar a possibilidade de um ataque alemão, empurrando-os para o
Leste e garantindo um tempo maior para uma possível reação futura.
Em 1938, no mês de março, a Alemanha toma a capital austríaca, Viena.
Em Setembro caiu a Tchecoslováquia e, em março de 1939, a Espanha fora
conquistada pelas tropas franquistas apoiadas por Hitler e Mussolini.
27
OLIVEIRA, A.R. op. cit.
40
O PACTO MOLOTOV-RIBBENTROP
Em 1939, um pouco antes de começar a Segunda Guerra Mundial,
Ribbentrop toma um avião com destino a Moscou onde iria formar um pacto com
Molotov, ministro das relações exteriores da União Soviética. Este pacto ficaria
conhecido como Pacto Molotov-Ribbentrop ou Pacto Germano-Soviético de NãoAgressão. Em 25 de Agosto foi firmado o pacto. O mesmo ressaltava que a
Europa Oriental ficaria dividida em esferas de influência, russa e alemã. A Polônia
seria dividida entre ambos.
A URSS pretendia, ao assinar o pacto, apaziguar por um tempo a
Alemanha. Mal preparada para a guerra, a URSS temia ter de lutar em duas
frentes, caso o Japão invadisse seu território. Isso levou Stálin a fazer o acordo
com Hitler.
A Alemanha, por sua vez, também se livraria de uma guerra em duas
frentes. A invasão da França era a grande obsessão nazista e, depois da
ocupação da Polônia, antiga aliada da França, o exército nazista se voltaria à
Oeste para o grande objetivo. O inimigo número um da Alemanha, tanto para o
Führer, quanto para o exército, os grandes industriais e os Junkers, era a França.
A invasão da França era a única que poderia unir o povo alemão totalmente28. E,
finalmente, em Junho de 1940, a nação francesa fora derrotada. Hitler entrou em
Paris como conquistador. A grande ambição de sua vida fora cabalmente
cumprida.
Porém, nem Hitler nem Ribbentrop perdiam a esperança de que os ingleses
viessem a negociar a paz, agora que a Alemanha dominava boa parte do
continente. Confirmava-se, assim, que a Alemanha não poderia derrotar a
Inglaterra militarmente, a vitória teria de ser política. Hitler havia começado a
guerra sem poder naval suficiente, enquanto que a frota inglesa era a maior e a
mais poderosa do mundo. Os nazistas depositaram suas esperanças na guerra
submarina e na força aérea (Luftwaffe).
Em 1941, a Alemanha começou os ataques aéreos à Inglaterra, mas antes
do final daquele ano a campanha já havia fracassado. A Royal Air Force imprimiu
28
OLIVEIRA, A.R. op. cit.
41
uma resistência que a Luftwaffe não esperava, tornando os ataques diurnos
impossíveis e fazendo com que os bombardeios alemães se concentrassem à
noite, o que dificultava os alvos militares.
“Com a impossibilidade de derrotar a Inglaterra militarmente, os
nazistas buscam uma alternativa diplomática. Em Maio de 1941,
Rudolf Hess vai secretamente à Escócia buscar uma possível
negociação de paz com os ingleses, mas era tarde” 29
Diante do fracasso de um acordo com os ingleses, Hitler volta-se para os
Bálcãs e a Grécia a fim de garantir a posição geopolítica da região para a
Alemanha nazista antes que os ingleses o fizessem e garantir, no futuro, o
sucesso da “Operação Barbarossa” (a invasão da URSS, com a qual Hitler tinha
um pacto desde1939).
Em 6 de Abril de 1941, os exércitos alemães e italianos invadem a
Iugoslávia pela Áustria, pela Ístria e pela Albânia. Os primeiros aeroportos são
bombardeados. Diante da blitzkrieg30, a Iugoslávia, sem preparação, mergulha no
caos. Em Zagreb, capital da Croácia, a entrada dos alemães foi saudada pela
população em festa.
Nesse mesmo dia, em Zagreb, o coronel Slavko Kvaternik proclama um
Estado independente na Croácia com o apoio do governo fantoche empossado
pelos nazistas. Essa atitude seria relembrada quase 50 anos depois, na época do
desmembramento da Iugoslávia e da proclamação da independência da Croácia e
de outras nações pelos nacionalistas croatas e, mais uma vez, receberam o apoio
e o reconhecimento do Estado alemão. Coincidência ou geopolítica?
A rendição incondicional da Iugoslávia foi assinada no QG alemão em
Belgrado em 17 de abril, 11 dias depois do início da invasão. Com a região
balcânica sob seu domínio, Hitler decide por em prática seu plano mais ousado, a
invasão da URSS.
“O governo nazista acreditava que assim que o exército alemão
penetrasse as fronteiras russas, o apoio aliado que se havia negado
se concretizaria, o que não ocorreu. Muito pelo contrário, a
29
30
OLIVEIRA, A.R. op. cit.
Guerra relâmpago, em alemão.
42
Inglaterra avisou Stálin várias vezes que Hitler o atacaria, mas o
líder soviético achava que se tratava de provocação”31
No dia 22 de junho de 1941 a Alemanha nazista invadiu a União Soviética.
Winston Churchill, líder britânico, declarou pelo rádio que daquele momento em
diante a Inglaterra tornara-se aliada da URSS.
O exército alemão chegou às portas de Moscou sem maiores problemas. O
exército vermelho carecia de logística e de equipamento à altura para impor uma
forte resistência. Além disso, dominava a idéia de que o exército vermelho usaria
de contra-ataque contra qualquer invasor, o que transferia as preocupações e os
cuidados da defesa para a retaguarda.
Stálin tinha o maior dos interesses em manter o pacto Molotov-Ribbentrop
e, por isso, descuidou de sua defesa. Acreditou sinceramente que Hitler não iria
atacá-lo.
Esta fatídica decisão alemã de invadir a URSS modificou todas as
dimensões do conflito. Estrategicamente, isso significou que a Alemanha tinha de
lutar agora em duas frentes, o que acarretou um problema muito grande para a
Luftwaffe, que teve seus esquadrões dispersos entre o Oeste, o Leste e o
Mediterrâneo.
Além disso, a forte resistência em Moscou e em Stalingrado por parte dos
soviéticos, fez com que os nazistas recuassem e perdessem boa parte de seus
contingentes. As baixas alemãs chegaram a 1.250.000 homens. Essa ofensiva
colocou o grosso do exército alemão na URSS, deixando desguarnecida a frente
ocidental. As tropas alemãs estavam espalhadas pelo continente. Enquanto isso,
tropas aliadas se rearmavam na Grã-Bretanha e preparavam a contra-ofensiva.
A simples extensão geográfica e as exigências logísticas de uma campanha
a centenas de quilômetros no interior da Rússia acabaram com a maior vantagem
do Wehrmacht32: sua capacidade de lançar ataques fulminantes dentro de
espaços limitados (blitzkrieg), de modo a superar o inimigo antes que suas
reservas acabassem e sua máquina de guerra diminuísse de ritmo33.
31
OLIVEIRA, A.R. op.cit.
O exército alemão.
33
KENNEDY, P. op. cit. pg 239.
32
43
A essa altura, os aliados começaram a fazer diversas incursões ao território
alemão. No primeiro semestre de 1942, cidades como Colônia (Köln) e Hamburgo
foram bombardeadas e devastadas.
Em 12 de Agosto de 1942, Churchill reuniu-se com Stálin em Moscou para
avisá-lo que os aliados ainda não tinham condições de abrir uma frente ocidental
contra os nazistas, mas que já estavam preparando uma forte ofensiva no norte da
África, então sob domínio nazista.
A partir de então, os domínios nazistas começaram a diminuir, as derrotas
se sucederam. Em 11 de Maio de 1943 os alemães são definitivamente derrotados
no Norte da África; em agosto de 1943 os aliados conquistam a Sicília e Mussolini
é derrubado. Na Iugoslávia, o Marechal Tito organiza uma verdadeira guerrilha de
defesa contando com o suporte logístico dos aliados e incrementos do exército
vermelho. Em 1944 os alemães já estavam derrotados no Leste Europeu e boa
parte de suas cidades já estavam destruídas. A 6 de Junho de 1944 os aliados
desembarcam na Normandia. Em 1º de Maio de 1945 os soviéticos tomam Berlim.
E, no dia 7 de Maio de 1945, os alemães assinam a rendição incondicional.
Fig 8 – Área máxima do domínio nazista na Europa
44
A CONFERÊNCIA DE YALTA E A DESTRUIÇÃO GEOPOLÍTICA ALEMÃ
Um pouco antes do final da Segunda Guerra Mundial, entre os dias 4 e 11
de fevereiro de 1945, foi realizada a Conferência de Yalta, no balneário de mesmo
nome situado na região da Criméia, na União Soviética, às margens do Mar
Negro; com a participação de Churchill, Roosevelt e Stálin.
Os principais assuntos tratados foram: a ocupação da Alemanha,
reparações, países liberados, a Polônia e a construção da ONU.
Ficou decidido que a Polônia receberia os territórios alemães até o rio Oder
e que a Alemanha seria dividida em zonas de ocupação. Outra decisão importante
foi a transformação dos países da Europa oriental em área de influência da URSS.
Além dessas medidas, foi firmado o propósito da destruição geopolítica alemã. Na
resolução da Conferência de Yalta, entre outras coisas, ficou estabelecido o
segunte:
“É nosso inflexível propósito destruir o militarismo e o nazismo
alemão e assegurar que a Alemanha nunca mais volte a perturbar a
paz mundial. Estamos decididos a desarmar e licenciar a todas as
forças armadas alemãs; a destruir para sempre o Estado Maior
Alemão, que repetidas vezes conseguiu ressuscitar o militarismo
alemão; a eliminar e/ou controlar qualquer indústria alemã que
possa ser empregada na produção militar alemã ...”
Em Julho de 1945, após a derrota alemã, os aliados reuniram-se para uma
nova conferência em Potsdam, subúrbio de Berlim. Dos “três grandes” apenas
Stalin participou dessa conferência, pois Churchill perdera a eleição e Roosevelt
havia falecido pouco antes. Na Conferência de Potsdam, ficou estipulado que a
Alemanha pagaria 20 bilhões de dólares de indenizações aos aliados.
Foi decidido ainda reduzir a produção de aço, transferir a maior parte das
fábricas para os aliados e promover o julgamento dos líderes nazistas no Tribunal
de Nuremberg. Finalmente, a Conferência de Potsdam confirmou a divisão da
Alemanha em quatro zonas de ocupação onde cada aliado ficaria responsável
pelo domínio de uma.
45
O Estado alemão fora retalhado tanto em seus aspectos territoriais, quanto
nos geopolíticos. Mas, sua postura geopolítica revelava ao mundo que esta teoria
poderia desequilibrar o equilíbrio mundial. O general Haushofer e seu Instituto de
Munique produziram um material totalmente voltado e pensado para o
expansionismo alemão e para a consolidação de seu espaço estratégico. Seus
mapas, cartas geográficas, estatísticas e informações foram, desde o início,
amplamente utilizados pelo regime nazista. Segundo Mello34, muitos acreditavam
que Haushofer era o grande guru de Hitler, mas se compararmos as idéias do
Führer com os escritos de Haushofer perceberemos que ambos possuíam visões
diferentes e mesmo antagônicas em política externa. Para Haushofer, o
estabelecimento de uma aliança com a Rússia era a chave para vencer a GrãBretanha e por a Europa sob a suserania de uma Grande Alemanha. Essa idéia
era baseada nas idéias geopolíticas de Mackinder, que acreditava que uma
coalizão russo-germânica engendraria as condições necessárias para o
desenvolvimento de um poder anfíbio continental-oceânico capaz de arrebatar ds
potências insulares a preponderância mundial.
“Haushofer via na Rússia bolchevista o aliado geopolítico
natural, que serviria de ponte ou elo de ligação entre a Alemanha e
os povos asiáticos da região indo-pacífica, cujo inimigo comum
eram o colonialismo e o poder marítimo britânicos. Portanto, eram
os imperativos geopolíticos da posição ocupada pelos alemães no
centro da Europa e pelos russos no heartland da Eurásia – e não as
divergências ideológicas entre nazismo e bolchevismo – que
deveriam nortear a política da Alemanha em relação à Rússia”35
O general Haushofer opunha-se a uma guerra contra a Rússia, pois sabia
ser quase impossível conquistar um Estado-pivô de dimensões continentais que
tinha à sua retaguarda os imensos recursos e os grandes espaços do heartland
eurasiano.
Entretanto, a invasão da URSS reverteu o quadro de guerra na Europa e o
sonho de Haushofer da organização de um bloco transcontinental eurasiático;
demonstrou, também, de maneira inequívoca, que Hitler desconhecia as idéias de
34
35
MELLO, L.I.A. “Quem tem medo da Geopolítica”. São Paulo: Hucitec/Edusp, 1999.
MELLO, L.I.A. op. cit.
46
Mackinder e não tinha nenhuma concepção geopolítica coerente da política de
poder alemão. Seus desejos eram o de destruir a França e colonizar a Europa
oriental, sem prejuízos à coexistência com o Império Britânico.
O Pacto Molotov-Ribbentrop, pareceu aos olhos de Haushofer, confirmar
sua tese da aliança continental, mas esse episódio fora apenas uma estratégia de
Hitler para ganhar tempo no Leste. O Führer pautava-se mais pelas suas idéias
expostas no Mein Kampf 36do que na cientificidade geopolítica.
“Para Haushofer, a aliança com a URSS era fundamental; para o
Führer a aliança com a Inglaterra é que garantiria sua existência.”37
Entretanto, a Inglaterra jamais aceitou a germanização do continente. Para
Mello (1999), uma Europa germanizada era incompatível com a secular política
britânica de poder que – desde a Paz de Vestfália, passando pelas guerras da
Revolução e do Império, até a 1ª Guerra Mundial – tornou-se fiadora do equilíbrio
europeu e, conseqüentemente, inimiga jurada de qualquer potência aspirante à
hegemonia continental, fosse ela a França, a Rússia ou a Alemanha. Essa postura
britânica era muito coerente com sua concepção geopolítica e Haushofer
percebeu isso desde o início, ao contrário de Hitler.
Haushofer concebia uma constelação anti-britânica de poder, com seu eixo
no heartland russo-soviético e seus pontos terminais alemão e japonês ligados
entre si por uma rede de transporte terrestre. Seu objetivo era isolar e aniquilar
geopoliticamente a Inglaterra.
O desenrolar da guerra comprovou a debilidade geopolítica das posturas
adotadas pelo Führer. Porém, se o mesmo tivesse adotado os princípios
elaborados por Haushofer com base em Mackinder, o desfecho da guerra seria
outro e a história mundial teria tomado outro rumo. Pode-se afirmar que Mackinder
influenciou a geopolitik de Haushofer; mas não se pode dizer o mesmo de
Haushofer em relação à Hitler. A ideologia no lugar da cientificidade fez com que a
Alemanha fosse derrotada.
36
37
“Minha Luta”, livro escrito por Hitler durante sua prisão nos anos 20.
MELLO, L.I.A. op. cit. pg 88.
47
Fig 9 – As perdas territoriais alemãs e as zonas de ocupação estrangeira
Fonte: Wikipedia
48
CAP. 4 – A DIVISÃO NACIONAL A GUERRA FRIA
Após a Conferência de Potsdam, as potências vitoriosas dividiram o
território alemão em zonas de ocupação, de onde pretendiam tirar suas
reparações de guerra.
A Alemanha, agora, tornara-se uma espécie de “escudo” geopolítico das
grandes potências. Em 1947, numa reunião em Moscou, representantes das
quatro potências responsáveis pela Alemanha tentaram estabelecer um acordo
para a reunificação do país. Porém, a divergência entre russos e ocidentais no
tocante à estrutura socioeconômica que a Alemanha deveria seguir tornou-se um
inconveniente sério e insuperável. Depois dessa reunião de Moscou, ficou claro
para os países ocidentais que com os russos não seria possível chegar a um
acordo de unificação da Alemanha. Os russos, por sua vez, pensavam a mesma
coisa dos ocidentais.
Em 1948, os Estados Unidos declararam que a Conferência de Potsdam já
não tinha mais sentido e propôs aos seus aliados, França e Inglaterra, a unificação
política da Alemanha ocidental e sua incorporação na economia de mercado
européia. Em setembro de 1948, Konrad Adenauer foi eleito pelo Parlamento, em
Bonn, como presidente.
Em 23 de maio de 1949 entrou em vigor a Lei Fundamental da República
Federal Alemã, firmando legalmente a constituição de um novo estado. Esta lei
adotava o critério dos ocidentais de que a Alemanha deveria organizar-se
politicamente em uma federação de Estados, com a delegação de certos poderes
ao governo central. Juntamente com a Lei Fundamental, foi elaborado o Estatuto
de Ocupação. Este documento reservava aos aliados poderes em relação ao
desarme e a desmilitarização, o controle dos acordos para o Ruhr; a abolição dos
cartéis industriais; as reparações pendentes; as relações exteriores, incluindo o
controle do comércio e o intercâmbio exterior; a proteção e a segurança para as
forças aliadas no território alemão; o cumprimento da Lei Fundamental e as
49
constituições dos Länders38. Desse modo, foi outorgada a soberania interna à
RFA, mas não a externa, que permanecia sob controle aliado.
Em 5 de outubro de 1949 a parte oriental, sob domínio soviético, passou a
se chamar República Democrática Alemã (RDA). Assim, antes do final da década
de 40, a Alemanha fora dividida definitivamente em dois países: a Alemanha
Ocidental (RFA) e a Alemanha Oriental (RDA).
A Alemanha Ocidental (RFA), entretanto, legitimou-se, desde que foi
fundada, não apenas devido ao fato de que se formara democraticamente, com
base em eleições livres, mas sobretudo porque também representava um projeto
de desenvolvimento, prosperidade e reconstrução do destino nacional, o que
correspondia às aspirações e ao grau de consciência de seu povo.
A Alemanha Oriental (RDA), ao contrário, nunca representou a idéia de
reconstrução do destino nacional. Desde a sua criação, sob a zona soviética, a
URSS concorreu prática e decisivamente para a sua divisão. Stálin jamais
pretendeu reconstruir a Alemanha, mas sim destruí-la como potência industrial.
Fig 10 – As zonas de ocupação estrangeira
Fonte: Google imagens
38
Estados federados da Alemanha.
50
A evolução dos acontecimentos na zona soviética refletiu, em larga medida,
a percepção da URSS segundo a qual o mundo se dividira econômica, político e
ideologicamente, em dois blocos antagônicos e rivais.
Quando a RDA se constituiu, encontrava-se extremamente debilitada, pois
perdera metade da capacidade industrial que possuía em 1936, havendo o
Exército Vermelho removido para a URSS dois terços das indústrias químicas e
metalúrgicas, bem como um quarto de outras indústrias básicas e de bens de
consumo. Mesmo as fábricas em funcionamento continuaram a produzir para o
pagamento das reparações, sem previsão de fim. Enquanto a RFA recebia
quantias vultuosas do Plano Marshall para a sua reconstrução, a RDA vivia ainda
sob o peso das reparações.
A RDA sempre fora uma barganha de Stálin contra o Ocidente. O rápido
crescimento econômico da RFA causou preocupação no líder soviético. A
Alemanha Ocidental (RFA) tratou logo de estabelecer relações diplomáticas em
todos os países do ocidente e formou a CECA (Comunidade Européia do Carvão
e do Aço) que se tornaria o embrião da atual União Européia. Seu rearmamento e
sua possível adesão à Comunidade de Defesa Européia fez com que Stálin
propusesse às potências ocidentais a reunificação da Alemanha, mediante o
compromisso de neutralidade e da retirada das tropas estrangeiras de seu
território.
Porém, a Guerra Fria estava no seu clímax e os Estados Unidos preferiram
uma Alemanha rearmada, ainda que dividida, a uma Alemanha reunificada e
neutra, pois assim as linhas de defesa da Europa ocidental deslocar-se-iam para
as costas do Oceano Atlântico. Havia o temor de que Stalin desencadeasse um
conflito na Europa.
Depois da morte de Stálin, em 1953, as conversações com as potências
ocidentais sobre a unificação da Alemanha continuaram, entretanto, sem que
alcançassem qualquer resultado. A URSS não tinha dúvida de que uma Alemanha
unificada, ainda que neutra, ficaria sob a mais completa influência do Ocidente. Do
lado ocidental também havia o temor de que a URSS mantivesse sua influência na
51
Alemanha unida e neutra. O impasse cristalizou-se diante do irredutível conflito de
interesses de ambos os blocos.
Em maio de 1955 a Alemanha Ocidental (RFA) ingressou na OTAN
(Organização do Tratado do Atlântico Norte), situação que foi contrabalanceada
pela criação do Pacto de Varsóvia pelo bloco comunista e respectivo ingresso da
Alemanha Oriental (RDA) no mesmo. No mesmo ano de 1955, a URSS assinou
com os Estados Unidos um Tratado de Estado, que restaurou a soberania da
Áustria, conservando-a neutra e sob condição de que esta jamais voltasse à unirse com a Alemanha. A URSS também voltou a ter relações diplomáticas com a
RFA.
Nos anos 70, com o abrandamento das tensões provocadas pela Guerra
Fria – período da chamada coexistência pacífica – a inserção da Alemanha na
política mundial conhece significativas mudanças.
Traduzindo os princípios da política de distenção para a realidade alemã, o
chanceler Willy Brandt formulava as bases da Ostpolitik, a política de
reconhecimento mútuo e aproximação diplomática, econômica e cultural entre os
dois estados alemães. Sem negar a Lei Fundamental de Bonn, a Ostpolitik
transferia para o terreno dos princípios e para um futuro indeterminado a idéia da
reunificação da Alemanha afastando-a da esfera da política prática. Abriram-se,
assim, os caminhos para o reconhecimento mútuo dos dois estados.
Em março de 1970, os representantes das duas Alemanhas sentaram-se
numa mesa de negociações pela primeira vez. Em agosto, a Alemanha Ocidental
(RFA) assinou com a União Soviética um tratado de não-agressão. Em novembro
de 1972, a rede de tratados anteriores desembocou na assinatura do tratado
básico de igualdade nas relações entre os dois estados alemães, o que implicava
no reconhecimento diplomático mútuo. Como conseqüência, os dois estados
trocaram embaixadores e ingressaram na ONU. Em 1974, a Alemanha Oriental
estabeleceu relações diplomáticas com os Estados Unidos.
Esta solução alemã foi conseqüência da distensão da geopolítica européia,
que legitimou as fronteiras territoriais, os regimes políticos, os blocos estratégicos
52
e as zonas de influência no espaço europeu, abrandando o radicalismo ideológico
e a disputa entre os dois blocos, o comunista e o capitalista.
A QUESTÃO DE BERLIM
A cidade de Berlim fora dividida como o restante do país. A parte ocidental,
capitalista e ocupada pelos países do Ocidente; a parte oriental, comunista e
ocupada pela URSS.
Localizada a pouco mais de 170 Km da fronteira ocidental, Berlim tornou-se
um enclave hostil ao comunismo e uma bandeira ocidental e capitalista na zona
soviética. A cidade possuía um imenso valor político para as potências ocidentais,
além de ser um centro de espionagem. O setor ocidental de Berlim possuía cerca
de 2.200.000 habitantes, enquanto que o setor oriental possuía 1.200.000
habitantes. Estações de rádio e tv transmitiam de Berlim Ocidental uma
programação anticomunista, visando convencer a população do lado oriental a
abandonar a zona.
Em 1953, uma revolta popular estourou do lado oriental estimulada pela
rádio do lado capitalista. Tropas soviéticas trataram logo de dissolver o conflito e
decretaram estado de sitio. Dessa data em diante, o governo soviético começou a
adotar uma outra postura em relação ao lado ocidental.
Assim, em 1961, foi construído o Muro de Berlim, bloqueando o fluxo de
pessoas e de mão-de-obra qualificada para o lado ocidental e reafirmando a
divisão do país e da capital. Este muro tornou-se símbolo da divisão que a Guerra
Fria gerou no mundo.
O MILAGRE ECONÔMICO (WIRTSCHAFTWUNDER)
A recuperação econômica da Alemanha Ocidental (RFA) se iniciou em
1948 devido a reforma monetária e financeira patrocinada pelos aliados
ocidentais. A combinação entre liberalismo econômico e responsabilidade social
53
permitiu o rápido desenvolvimento econômico não só do Estado como também da
população em geral.
O Estado assumiu a responsabilidade de salvaguardar continuamente a
competência da economia. Essa “economia de mercado social” justificava-se a
cada dia pela melhora no nível de vida das massas e pelo reajuste do processo
econômico às políticas sociais do momento.
De acordo com Oliveira (1995), essa prosperidade alemã tem três bases
fundamentais: a boa direção técnica da economia, a persistente ajuda financeira
dos Estados Unidos, e a extraordinária produtividade do povo.
Também podemos destacar como fator do desenvolvimento econômico da
RFA a conjuntura econômica da Europa, cuja economia vinha recebendo desde o
final da década de 40 um vigoroso estímulo de um imenso mercado em potencial,
ávido de absorver toda a produção até então imaginada, pois a destruição de bens
na guerra alcançou dimensões jamais conhecidas até então. Em 1950 veio a
Guerra da Coréia – com seu grande impulso à expansão industrial – e os Estados
Unidos começaram a rearmar-se em grande escala. A Europa começa a
empreender seu próprio rearmamento, em parte, por conta dos EUA, preocupados
evidentemente com o avanço da influência da União Soviética. Tudo isso somado
ao fato de que os alemães tinham que destinar uma porcentagem ínfima de seu
orçamento para os setores de defesa, fizeram com que o milagre econômico
ganhasse vigor a cada dia.
A ajuda financeira dos Estados Unidos à RFA continuaria ininterruptamente
por um período posterior a 196239. Isso atesta que os Estados Unidos continuaram
ajudando a Alemanha Ocidental (RFA) mesmo depois desta nação ter alcançado o
bem-estar. O crescimento da economia da RFA e a consolidação do capitalismo
eram questões de vital importância para a estratégia americana na Europa
ocidental. A RFA continuou crescendo, sobretudo no setor industrial.
“No ramo do aço, a Alemanha Ocidental converteu-se na nação
européia de maior produção, somente superada no ocidente pelos
Estados Unidos (90 milhões de toneladas/ano). Em 1958, antes da
39
OLIVEIRA, A.R. op. cit.
54
anexação do Sarre, a RFA produziu 22 milhões de toneladas. Em
1960, com a anexação do Sarre, a produção saltou para 34
milhões”.40
A RFA tornou-se um modelo de Estado totalmente diferente de sua história
até então. Com suas estruturas militares congeladas e sua ação geopolítica “em
coma”, a Alemanha encontrou uma fenda para se sobressair, a econômica. Seu
poder e sua influência perante o mundo passavam agora pela expansão e pelo
sucesso de suas empresas que, de certa forma, levantavam dignamente pelo
mundo a bandeira alemã com todo o seu simbolismo de força e competência,
além da qualidade indiscutível. De acordo com Celso Lafer, este modelo de
Estado gerou o conceito de trading state, ou seja, de um estado eminentemente
comercial, preocupado em gerar divisas e difundir seus investimentos pelo mundo.
“No pós-Segunda Guerra Mundial, a RFA redefiniu a sua
identidade internacional e, à semelhança do Japão – e em grande
parte pelas mesmas razões – tornou-se um paradigma de trading
state, logrando uma legitimada proeminência internacional por
meio de sua atuação no campo econômico. A ação da RFA como
trading state era perceptível tanto no âmbito europeu como nas
projeções alemãs de caráter global”.41
Se a RFA teve algum papel geopolítico próprio foi o de se considerar como
o Estado alemão por excelência, legitimado por eleições livres e defensor da
cultura germânica. Decorrente disso, a reunificação alemã era uma questão e um
objetivo imprescindível para a RFA, que repudiava a idéia da existência de dois
estados alemães e do regime adotado pela RDA.
Esta situação permaneceria praticamente inalterada até o final da década
de 80 e a crise econômico-política da URSS e no bloco comunista de uma forma
geral, o que acabou levando à simbólica queda do muro de Berlim e a posterior
unificação alemã.
Em 1985 Gorbatchev assume o poder na URSS e dá início as suas
reformas modernizadoras pautadas na Perestroika e na Glasnost. Isso afetou
40
41
OLIVEIRA, A.R. op. Cit.
LAFER, C. “Brasil-Alemanha no novo cenário internacional” São Paulo: Paz e Terra, 1995.
55
profundamente o poder dos estados do bloco comunista. Manifestações
começaram a ganhar força na RDA reivindicando maiores liberdades individuais. A
distensão entre URSS e EUA ganhou força e, com a progressiva e cada vez mais
intensa retirada dos mísseis interbalísticos da Europa, o totalitarismo dos estados
começa a ruir. Na RDA, embora os dirigentes permanecessem inflexíveis à nova
tendência, os pedidos de entrada na RFA aumentaram drasticamente. A
população buscava, de qualquer modo, fugir para o lado ocidental.
A situação da RDA complica-se consideravelmente em setembro de 1989
quando a Hungria decidiu abrir suas fronteiras para que os habitantes da RDA,
através de seu território, pudessem chegar à Áustria e conseqüentemente à
Alemanha Ocidental (RFA). No dia 9 de novembro de 1989, o Muro de Berlim foi
aberto. Milhares de pessoas passam livremente para o lado ocidental. A RDA
perdia seu sentido a cada dia.
A situação geopolítica do momento não era nada favorável à RDA. A
Polônia e a Hungria obedeciam cada vez menos o comando de Moscou. Na
Romênia, a queda do líder Ceaucescu era iminente. Eleições começaram a
acontecer por toda a parte.
Depois de diversas manifestações em diversas cidades, e a perda do
controle por parte do politburo da RDA sobre a população, o governo acaba
cedendo e estabelece a realização de eleições livres. Em março de 1990 foram
realizadas, pela primeira vez, eleições livres na RDA. Em 1º de Julho de 1990 é
declarada a união econômica, monetária e social com a RFA. Finalmente, em 31
de Agosto de 1990, é assinado o Tratado de Unificação. A adesão da RDA à RFA
deu-se, segundo o artigo 23 da Lei Fundamental, no dia 3 de Outubro de 1990.
Esse dia passou a ser a data oficial da Unificação Alemã. A RDA deixara de existir
depois de 41 anos de existência, encerrando um dos períodos mais conturbados
da geopolítica mundial.
56
CAP 5 – O PERÍODO PÓS-REUNIFICAÇÃO
Com a unificação alemã, foi assinado o Tratado Dois Mais Quatro entre
URSS, Estados Unidos, França e Reino Unido, bem como os representantes dos
dois estados alemães. Nesse tratado, foi confirmada a formação da Alemanha
unida, composta por territórios da RDA, da RFA e de Berlim. As fronteiras
externas da Alemanha foram reconhecidas como definitivas. A Alemanha
recuperava assim a plena soberania sobre seus assuntos nacionais e exteriores,
que havia perdido, 45 anos antes, após a derrocada nazista.
A Alemanha agora possuía um novo papel na Europa e no mundo,
assumindo seu destino histórico, econômico e geopolítico. De agora em diante o
estado alemão poderia repensar seu projeto de se tornar uma potência, não nos
moldes nazistas, mas, sobretudo no campo econômico, tornando-se “locomotiva”
da União Européia.
O auto-conceito que a Alemanha tinha de si mesma após a reunificação foi
muito bem resumida nas palavras do então presidente Richard von Weizsäcker:
“Servir a paz no mundo numa Europa unificada”.42 Entretanto, sua postura
geopolítica tenderia cada vez mais para os países do Leste europeu, ampliando o
domínio da OTAN no continente. Segundo Helmut Kohl, então chanceler alemão,
a OTAN era “a aliança que nos garantiu a paz e a liberdade durante tantos
decênios, podia confiar na nossa solidariedade.”43
Enquanto vigorou a Guerra Fria, o estado alemão esteve dividido. Agora,
unido, assumia seu lugar, mesmo ainda não sendo uma potência militar, mas
convicta de sua participação e de sua defesa dos princípios da OTAN e da
economia de mercado.
A reunificação implicou na seguinte modificação geopolítica: da posição
marginal que a Alemanha ocupou durante a guerra fria, passou agora a ser uma
potência média na Europa Centro-Ocidental. Sua economia, após a reunificação,
cresceu 10%; sua população aumentou 20% e seu território cresceu 30%44.
42
In: “Perfil da Alemanha”.
Op. cit.
44
PFETSCH, F.R. “A Política Exterior da Alemanha após a Reunificação” Rev. Brás. Pol. Intern. nº 40.
43
57
Em termos militares, permanece a renúncia às armas atômicas, biológicas
e químicas, a limitação do contingente das forças armadas e a ausência de um
assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
A QUESTÃO DA EUROPA ORIENTAL (OSTPOLITIK)
A Europa Oriental deverá continuar sendo uma prioridade na política
externa alemã, uma vez que é dessa região que a questão da insegurança sobre a
União Européia e a RFA surge com maior vigor. A Ostpolitik permanecerá
importante em razão da incerteza com relação à evolução dos acontecimentos na
política russa assim como nos estados da CEI (Comunidade dos Estados
Independentes).
Além da questão política, a Europa Oriental é a maior responsável pela
balança comercial alemã, superando inclusive o comércio com os Estados Unidos.
Mas, a Alemanha também é a principal responsável pela ampliação da
União Européia para o Leste, e isso, não é apenas uma questão de dinheiro e de
economia, mas também um desafio de dimensões históricas, que poderá ter
importância decisiva para o equilíbrio na Europa do século XXI, uma vez que essa
ampliação assenta-se no fortalecimento dos sistemas democráticos e na defesa
de uma economia de mercado, fatores que poderão de alguma forma incomodar
os planos geoestratégicos de Moscou e gerar uma nova disputa ideológica e
geopolítica no continente.
Segundo Frank R. Pfetsch, a reação russa à expansão da União Européia
poderia se traduzir como uma nova ameaça à paz alemã e poderia se manifestar
de quatro formas. Primeiro, a Rússia poderia tornar-se uma ditadura nacionalista e
assumir novamente uma política imperial sobre os países vizinhos. Segundo, a
Rússia poderia adotar abertamente a doutrina Kosyrev e, em nome da proteção
das minorias russas nos países vizinhos, intervir política e militarmente nesses
países. Terceiro, a Rússia poderia estabelecer uma política de alianças com os
países de afinidade cultural, atraindo países da Europa Central, Báltico e Ásia
Central para a sua esfera de influência. Por último, poderia haver um
58
“desmembramento” da zona de influência russa em nome de outras afinidades
culturais, onde a Ásia Central ficaria cada vez mais próxima da Turquia e do Irã,
os Bálticos da Escandinávia e a Europa Oriental da OTAN e da União Européia.
Não é de nenhum interesse para a República Federal Alemã o desenlace
de possíveis crises na Rússia e com a Rússia, uma vez que essas seriam
desastrosas para a própria Alemanha.
A política externa alemã no pós-reunificação define-se em quatro opções45.
A primeira opção é a orientação geopolítica que objetiva a organização,
juntamente com a Rússia, da Europa Oriental. Essas relações levariam a uma
delimitação da área de influência compreendida ao longo da linha FinlândiaBáltico-Polônia-Eslováquia-Hungria-Romênia-Bulgária.
A segunda opção para a política externa alemã decorre do aprofundamento
e da concretização do Tratado de Maastricht, o que se traduziria numa espécie de
Europa Carolíngea, tendo como países centrais a Alemanha, a França e o
Benelux, e como objetivos os “Estados Unidos da Europa”. Essa opção propiciaria
a Alemanha a possibilidade de não ser colocada numa posição intermediária, uma
vez que a mesma seria locomotiva dessa confederação.
A terceira opção consiste justamente na ampliação da UE a partir do
ingresso de países escandinavos e da Europa Oriental. Ver-se-á que, no presente
momento, ela se apresenta como a melhor opção para os interesses econômicos,
políticos e de segurança para a Alemanha unificada.
A quarta opção seria o alinhamento com os Estados Unidos e seria apoiada
principalmente pelos membros da OTAN e pelos partidários da globalização, mas
afetaria significativamente as relações com a Rússia. A oferta de Clinton de um
“special relationship” entre os Estados Unidos e a Alemanha decorre da
concepção de um intergovernamentalismo europeu tendo a Alemanha como líder.
Essa aliança com os Estados Unidos levaria à futura estrutura do sistema de
segurança comum, incluindo a Europa Oriental e tendo como objetivo a contenção
geopolítica da Rússia.
45
PFETSCH, F.R. op. cit.
59
As quatro opções de redirecionamento da política externa alemã que
acabamos de mencionar são posturas que, teoricamente, poderiam ser o
direcionamento do Estado alemão no tocante à política externa. Entretanto, as
correntes políticas que norteiam os partidos alemães possuem interpretações
distintas.
Os grupos de direita, majoritariamente nacionalistas, defendem o “Primado
da Nação” e uma postura de maior engajamento caracterizada pelo “afastamento”
dos Estados Unidos e pelo reconhecimento do anti-americanismo.
A esquerda alemã defende que a nova Alemanha, reunificada, permaneça
com seu discreto papel militar e abstenha-se de demonstrar qualquer presença
nos cenários bélicos internacionais, permanecendo neutra geopoliticamente.
Para um centro liberal amplo, ao qual pertence a maioria dos cientistas
políticos alemães, defendem, igualmente, a continuidade da evolução da política
externa da Alemanha e enfatizam a crescente interdependência, pretendendo
atribuir maior peso à Europa unida no contexto político mundial. A RFA deveria
continuar
sendo
um
estado
mercantil
civil,
democrático,
cooperativo
e
internacional. A nova Alemanha não deve fixar-se nem esquecer o poder, e, em
nenhuma hipótese, significar o nascimento de um novo super-poder alemão46.
Assim, os interesses da política externa alemã situariam-se na prevenção da
guerra, no ordenamento do comércio mundial livre, na estabilidade da integração
européia, na possibilidade de participação dos atores sociais, no estabelecimento
de estruturas parlamentares democráticas, na diminuição do desequilíbrio entre os
estados industrializados e os países em desenvolvimento, no desaparecimento de
falsas projeções sobre a imagem da Alemanha, bem como na política de
integração com o Ocidente.
A atual análise geopolítica não pode deixar de mencionar que, após a
reunificação, a Alemanha tornou-se uma potência média no centro da Europa e
ocupa a posição estratégica mais delicada do continente, justamente na fronteira
entre a “Europa rica” e a “Europa pobre”. A Alemanha vê-se diante da condução
de uma Europa confederada, unida e que depende muito de seu sucesso. A
46
PFETSCH, F.R. op. cit, pg 188.
60
ampliação da União Européia certamente colocará a Alemanha no centro de uma
possível desgaste com a Rússia – que certamente não pretende perder sua
influência no Leste europeu -, o que exigirá uma habilidade diplomática muito bem
elaborada por parte do Estado germânico.
Fica a questão de que se, com o passar do tempo, a Alemanha terá de
escolher entre a aliança ocidental (OTAN, EUA e União Européia) ou uma postura
geopolítica independente, assumindo um papel mais imperativo no jogo
geopolítico europeu, o que poderá acarretar uma possível aliança com a Rússia e
o ressurgimento de um novo estado alemão armado. O que não podemos
enxergar é a RFA conduzindo a União Européia e em harmonia total com a
Rússia.
Entretanto, levando-se em consideração o momento presente e a defesa
dos interesses atuais que fazem parte da realidade econômico-política alemã, é
bem mais provável que a RFA mantenha-se conduzindo a União Européia
economicamente e defendendo a economia de mercado e seguindo o modelo do
trading state ao invés de, em nome de um ressurgimento de uma possível nova
potência, aliar-se com a Rússia e afastar-se das principais potências ocidentais.
61
CONCLUSÃO
O território alemão nasceu de um amontoado de micro-principados
herdados do Sacro Império Romano Germânico e que adquiriram forma e funções
diferenciadas, sendo uns mais progressistas, e outros menos; uns católicos e
outros protestantes. Esse complexo conglomerado de principados acabou
refletindo na atual configuração dos estados alemães e foi usado geopoliticamente
pelas demais potências européias ao longo da história como forma de dominar a
nação germânica.
Com a Paz de Vestfália – e em nome do equilíbrio europeu – a unificação
alemã foi adiada por quase dois séculos e meio. A fragmentação territorial foi a
maneira encontrada para por freio na consolidação do Estado alemão e no
desenvolvimento de sua força geopolítica, quer na época da Vestfália quer no pósSegunda Guerra. Em nome da “paz” européia a fragmentação territorial alemã foi
a maneira encontrada pelas potências, mantendo a Alemanha num segundo plano
e submetida a outros estados.
O estado alemão nasceu como vassalo dos outros estados europeus e só
começou a ganhar alguma força após a ascensão da Prússia como principal
estado germânico. Após a Revolução Francesa, a Prússia e a Áustria tentaram
montar uma coalizão contra os revolucionários, demonstrando assim o que
chamamos de primeira postura geopolítica do estado alemão, buscando uma
aliança com outro estado na tentativa de equilibrar as forças com um estado
soberano e mais forte.
A segundo manifestação geopolítica ocorreu na guerra de libertação
napoleônica, onde a Prússia aliou-se à Rússia derrotando as tropas de Napoleão.
Não seria possível vencer Napoleão sem esta coalizão de um lado e a Inglaterra
de outro. A Rússia sem a Prússia ficaria estrategicamente confinada na Europa
Oriental enquanto que a Prússia sem a Rússia não teria um espaço de recuo
amplo nem força humana suficiente para fazer frente aos franceses, além de ter
de batalhar em seu próprio solo. O território germânico, nesse sentido, foi de
fundamental importância.
62
Na era Bismarck, a geopolítica alemã ganha suas fundações mais sólidas.
O chanceler alemão tinha como objetivo a unificação nacional e o expansionismo
germânico, ganhando apoio dos grandes capitalistas em ascensão, uma vez que o
capitalismo alemão estava em uma fase de grande crescimento.
A Áustria e a França fizeram de tudo para impedir a formação de uma
Alemanha unificada, pois sabiam que um estado forte e de consideráveis
dimensões no centro da Europa modificaria por completo o equilíbrio
geoestratégico do continente. Em decorrência disso, dois conflitos foram travados:
a Guerra Austro-Prussiana e a Guerra Franco-Prussiana, mas os alemães saíram
vitoriosos de ambos os conflitos e a unificação alemã concretizou-se.
Bismarck, com seu grande talento diplomático de jogar um inimigo contra o
outro e sair sempre ileso das disputas e intrigas, assim como sua realpolitik,
conseguiram assegurar uma estabilidade na Alemanha que permitiu a unificação
do país e o desenvolvimento industrial e econômico, fazendo do Estado germânico
a maior potência militar, econômica, científica e industrial da Europa.
Após a unificação, todas as outras potências tiveram que passar a
considerar a Alemanha como uma forte aliada ou uma forte inimiga. Se antes os
pequenos principados serviam apenas de joguete geopolítico, agora a Alemanha
era o peso maior a ser considerado na política externa européia. Isso é tão
verdade que, após a renúncia de Bismarck no governo de Guilherme II, a
Alemanha entra em choque com as demais potências na disputa por colônias na
Ásia e na África.
A postura imperialista e de força de Guilherme II, acabou tendo como
conseqüência a 1ª Guerra Mundial e uma aliança anti-germânica da Rússia, da
França e da Inglaterra, deixando o estado alemão cercado geopoliticamente e o
levando à derrota. As potências vencedoras trataram de assegurar que o Estado
alemão não voltasse a ter força suficiente para desequilibrar novamente o
continente. A Alemanha, então, foi totalmente desestruturada interna e
externamente, levando o país ao caos. Esse caos teve como conseqüência direta
o surgimento do nazismo, que prometia vingança aos que incutiram a miséria no
povo alemão.
63
O nazismo adotou claramente posturas geopolíticas expansionistas, mas
Hitler não tinha muito claro os imperativos geopolíticos que norteavam o
continente naquele momento. Desenvolveu uma campanha de conquista do Leste
e acabou invadindo a URSS, contrariando Haushofer, que via na aliança com os
bolcheviques a grande chance de domínio total da Alemanha no continente
europeu. Hitler acabou levando seus adversários a fazer um cerco ao território
alemão, como na Primeira Guerra Mundial. O Führer perdeu a chance de mudar a
história do conflito se tivesse tido uma visão geográfica mais pragmática e menos
ideológica.
Como decorrência de sua política exterior, a Alemanha novamente perdeu
a guerra, só que desta vez com conseqüências bem mais catastróficas do que da
outra vez. O país fora dividido e anulado geopoliticamente, numa decisão clara
dos
vencedores
de
extirpar
definitivamente
qualquer
possibilidade
de
ressurgimento de uma força germânica no centro do continente. O cerco,
novamente, se deu no Leste, com a URSS, e no Oeste, com os aliados (França,
Inglaterra e EUA).
Com a desmembramento da URSS e a reunificação nacional alemã, a
Alemanha tem novamente a chance de se reestruturar enquanto potência, uma
vez que ela já é uma potência no âmbito econômico, científico e tecnológico,
sendo a principal responsável pela implementação do Euro e da União Européia.
Mas, para isso, será inevitável a formação de um novo Estado Maior Alemão e a
definição de sua política externa. A Alemanha vive o dilema entre continuar sendo
um trading state, renunciando às armas, e tornar-se novamente uma força
imperativa no continente, o que poderá gerar novas alianças e reestruturações no
seio da Europa e do mundo.
Acreditamos que, momentaneamente, o trading state continue sendo o
norte do estado alemão. A defesa dos princípios da OTAN devem continuar por
enquanto e o alinhamento com os Estados Unidos não deverá sofrer nenhuma
alteração momentânea. Porém, com o desenrolar de novas circunstâncias
históricas, poderemos assistir a uma possível crise da União Européia, fazendo
ressurgir velhos fantasmas nacionais e a uma possível distenção por parte da
64
Alemanha. Será que assistiremos, um dia, a formação de um possível eixo BerlimMoscou, segundo a teoria geopolítica de Mackinder? Bom, isso só o tempo nos
mostrará e isso seria um tema para futuros estudos mais aprofundados.
65
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