Coluna do Augusto Popularidade é bom, mas não basta O trabalho e a convivência com o universo diversificado das tecnologias livres. por Augusto Campos P ublico no BR-Linux, todas as semanas, bom número de notícias e dicas enviadas pelos próprios leitores, e frequentemente leio críticas ao fato de grande parte desse material se concentrar em apenas uma distribuição. Hoje isso ocorre com o Ubuntu, mas o site está no ar desde 1996, e o mesmo tipo de crítica já aconteceu sobre o Slackware, o Conectiva, o Kurumim e vários outros. A explicação para essa concentração ao redor de determinadas distribuições, a cada momento, é simples: eu publico o material enviado pela comunidade porque há pessoas interessadas em escrevê-lo e nem sempre isso vem acompanhado de grande demanda pela sua leitura. Por exemplo: todas as semanas, um usuário diligente me envia algum material sobre desenvolvimento para Linux embarcado e outro me envia sobre modelagem anatômica em 3D. Não são temas com grande volume de leitores, mas esses autores se interessam a ponto de escrever regularmente a respeito, e assim são publicados. O mesmo poderia acontecer com artigos sobre a inicialização do Gentoo ou sobre o gerenciamento de energia no LFS, mas naturalmente ocorre bem mais com distribuições que reunem maior número de usuários interessados. Assim, a resposta a quem me interpela sobre o excesso de material sobre algum tema ou produto que não lhe interessa costuma ser: e o que você tem a me indicar de novidade sobre os assuntos que te interessam? :) Recentemente, entretanto, percebi outro efeito da popularidade do Ubuntu, que – ao contrário do acima relatado – não lembro de ter visto antes com outras distribuições: as reclamações contra aplicativos que são apresentados especificamen- Linux Magazine #XX | Mês de 200X te como sendo “para Ubuntu”, e não “para o desktop Linux” ou outra expressão mais ampla. No passado, quando algo assim acontecia, era de forma errônea (o sujeito dizia “para Conectiva” mas na verdade o software estava igualmente acessível para variadas distribuições) ou se tratava de ferramentas de interface ou configuração do próprio sistema operacional (como o YaST no SUSE, ou os ícones mágicos do Kurumin) – havia poucas exceções. No caso dos aplicativos “para Ubuntu”, quando não se trata das 2 situações acima, atualmente a Canonical vem colhendo os frutos de um conjunto de decisões, recursos e produtos de anos recentes, incluindo: estabilizar um conjunto de componentes e bibliotecas de suporte ao sistema (por exemplo, o sistema de notificações, o lançador de aplicativos etc.); disponibilizar o Launchpad, que se parece com o estilo Github, mas profundamente enraizado na comunidade do Ubuntu; estabilizar APIs e ABIs, para que os desenvolvedores saibam que, ao optar por se capacitar em determinadas bibliotecas (como a Qt, por exemplo), é provável que possam continuar usando-a com alta integração ao desktop Ubuntu no futuro; um SDK fácil de obter, instalar e usar. Além dos recursos acima, que fazem sentido para os desenvolvedores, há mais um, e que os usuários finais também percebem: a existência de repositórios centralizados que reúnem executáveis fáceis de adequar à versão do sistema que você usa, de instalar e de usar. Boa parte dos recursos acima estão disponíveis para outras distribuições também, mas a Canonical conseguiu fazer com que eles fossem usados e revertessem em apps que seus usuários querem instalar. Ponto pra ela, e tomara que outras alcancem o mesmo – se possível, com pouca divergência :) n Augusto César Campos é administrador de TI e, desde 1996, mantém o site BR-linux.org, que cobre a cena do Software Livre no Brasil e no mundo. 21