Universidade Católica de Goiás Sistemas de Controle 1 Universidade Católica de Goiás Departamento de Engenharia Curso de Engenharia Elétrica Disciplina: ENG3502 Sistemas de Controle 1 3. MODELAGEM NO DOMÍNIO DO TEMPO A modelagem no domínio da freqüência (técnica clássica) relaciona algebricamente uma representação da saída a uma representação da entrada (função de transferência). Contudo, este procedimento é limitado a sistemas lineares e invariantes no tempo ou em sistemas que podem ser linearizados. A modelagem no domínio do tempo (controle moderno) é menos limitada, possibilitando modelar sistemas: não-lineares; variantes no tempo; com condições iniciais diferentes de zero; com múltiplas entradas e múltiplas saídas; que empregam um computador digital na malha; a serem simulados digitalmente. 3.1. A Representação Geral no Espaço de Estado Um sistema é representado no espaço de estados pelas equações xt A.xt B.u t equação de estado, (1) y t C.xt D.u t equação de saída. Para t t o e as condições iniciais, xt o , onde x é o vetor de estado, x é a derivada do vetor de estado em relação ao tempo, y é o vetor de saída, u é o vetor de entrada ou de controle, A é a matriz de sistema, B é a matriz de entrada, C é a matriz de saída e D é a matriz de ação avante (transmissão direta). Ainda cabe realizar algumas definições: variável de sistema – qualquer variável que responda a uma entrada ou a condições iniciais em um sistema; variáveis de estado – o menor conjunto linearmente independente de variáveis de sistema. Por exemplo, se x1, x2 e x3 forem escolhidas como variáveis de estado, mas x3 = 5.x1 + 4.x2, então x3 não é linearmente independente de x1 e de x2. Variáveis relacionadas por derivada são linearmente independentes; espaço de estados – o espaço n-dimensional cujos eixos são as variáveis de estado, as quais formam os eixos do espaço de estados (ver figura 1). “As variáveis de estado descrevem a resposta futura de um sistema, dado o estado presente, as excitações e as equações que descrevem a dinâmica”. Observe a figura 2 que apresenta um diagrama de blocos de um sistema que contém duas entradas e duas saídas, sendo a dinâmica desenvolvida pelo sistema de acordo com seus parâmetros e as entradas aplicadas. 1 Universidade Católica de Goiás Sistemas de Controle 1 Espaço de estados Vetor de estado, x(t) Trajetória do vetor estado Vetor de estado, x(4) Figura 1 – Representação gráfica do espaço de estados e de um vetor de estado Sinais de entrada u1(t) u2(t) Sinais de saída Sistema y1(t) y1(t) Figura 2 – Diagrama de blocos de um sistema Como exemplo, considere um sistema de segunda ordem, linear, invariante no tempo, com uma entrada v(t). As equações poderiam estar na forma dx1 t a11.x1 t a12 .x2 t b1 .vt , dt dx2 t a21.x1 t a22 .x2 t b2 .vt , dt (2) onde x1(t) e x2(t) são as variáveis de estado. Caso haja uma única saída, a equação de saída poderia ter a forma y(t ) c1.x1 (t ) c2 .x2 (t ) d1.vt . (3) Na forma matricial a representação em espaço de estado resultante é a a x t b x1 t 11 12 . 1 1 .vt , x t a21 a22 x2 t b2 2 y t c1 x t c2 . 1 d1 .vt . x2 t (4) Exemplo 1: Dado o circuito elétrico da figura 3, determine um conjunto de variáveis de estado (representação no espaço de estados), considerando a saída a corrente através do resistor. Escrevendo a equação da derivada relativa a todos os elementos armazenadores de energia resulta em 2 Universidade Católica de Goiás Sistemas de Controle 1 Figura 3 – Circuito elétrico RLC misto para representação no espaço de estados C. dvc (t ) L.d iL (t ) ic (t ) e v L (t ) . dt dt (5) É comum a escolha das variáveis de estado com sendo as grandezas diferenciáveis e a representação no espaço de estados estará completa se o lado direito das igualdades anteriores puder ser escrito como uma combinação linear das variáveis de estado e da entrada. Logo, iR (t ) 1 .vc (t ) . R (6) Aplicando LKC ao nó 1 chega-se a ic t iR t iL t 1 .vc t iL t . R (7) Aplicando LKT ao longo da malha externa obtém-se vL t vc t vt . (8) Substituindo as equações 7 e 8 na equação 5 implica em dvc t dv t 1 1 1 .vc t iL t c .vc t .iL t , dt R dt R.C C di t di t 1 1 L. L vc t vt L .vc t .vt . dt dt L L C. (9) A saída é iR t 1 .vc t . R (10) Na forma de matrizes o resultado é 1 v t c R.C i t 1 L L 1 0 C .vc t 1 .u t , 0 iL t L 1 v t iR t 0 . c . R iL t (11) 3 Universidade Católica de Goiás Sistemas de Controle 1 Exemplo 2: Para o circuito apresentado na figura 4, determine um conjunto de variáveis de estado sendo a saída a tensão sobre o indutor vL(t). Figura 4 – Circuito RLC série Escrevendo a equação de malha L. dit 1 R.it . it .dt vt . dt C (12) Como dq t , dt (13) d 2 qt dqt 1 R. .qt vt . 2 dt C dt (14) i implica que L. Contudo uma equação diferencial de ordem n pode ser convertida em n equações deferenciais de primeira ordem. Logo, convertendo a equação anterior em função de i(t) e q(t) resulta em dqt i t , dt dit 1 R 1 .qt .i t .vt . dt L.C L L (15) A saída pode ser obtida através de v L (t ) 1 .q(t ) R.i (t ) v(t ) . C (16) Obs.: representar as equações 15 e 16 na forma matricial. 3.2. Convertendo uma Função de Transferência para o Espaço de Estados A conversão de uma função de transferência para o espaço de estados possibilita a simulação digital de sistemas físicos representados por uma função de transferência G(s). Considere a equação diferencial de ordem n a seguir d n y t d n 1 y t dy t a . a1 . a 0 . y t b0 .u t . n 1 n n 1 dt dt dt (17) Inicialmente deve-se selecionar um conjunto de variáveis de estado, sendo cada variável de estado subseqüente a derivada da variável de estado anterior (variáveis de fase). Assim, de forma conveniente escolha a saída y(t) e suas (n-1) derivadas como variáveis de estado (variáveis de fase). Logo, definindo 4 Universidade Católica de Goiás Sistemas de Controle 1 x1 t y t , dy t , dt dy 2 t x3 t , dt 2 x2 t xn t (18) dy n 1 t . dt n 1 Derivando ambos os membros da equação 18, resulta em x1 t dy t , dt d y t x2 t , dt 2 2 d y t x3 t , dt 3 3 (19) d y t xn t . dt n n Substituindo as definições identificadas pela equação 18 na equação 19 resulta nas equações de estado representadas por x1 t x2 t , x2 t x3 t , (20) xn-1 t xn t , xn t a0 .x1 t a1 .x2 t an1 .xn t b0 .u t . Na forma matricial tem-se x1 t 0 x2 t 0 x t 0 n1 a 0 xn t 1 0 0 1 0 0 a1 a2 0 x1 t 0 0 x2 t 0 .u t . . 1 xn1 t 0 an1 xn t b0 (21) Esta forma de representação é conhecida como forma canônica controlável ou forma em variáveis de fase das equações de estado. Por fim, a equação de saída resulta em 5 Universidade Católica de Goiás Sistemas de Controle 1 x1 t x t 2 . x1 t y t y t 1 0 0 0 . xn1 t xn t (22) O procedimento anterior pode ser aplicado diretamente a sistemas que possuam apenas um termo constante no numerador. Contudo, quando se trabalha com um polinômio no numerador deve-se separá-lo em dois blocos como exibido na figura 5. Figura 5 – Decompondo uma função de transferência Exemplo: Considere a função de transferência C s s 2 7.s 2 . 3 Rs s 9.s 2 26.s 24 (23) Separando o numerador e o denominador como indicado na figura 5 tem-se X 1 s . s 3 9.s 2 26.s 24 Rs e X 1 s . s 2 7.s 2 C s . (24) Fazendo a transformada inversa obtém-se x1 t 9. x1 t 26. x1 t 24.x1 t r t e x1 t 7. x1 t 2.x1 t ct (25) Fazendo as definições x1 t x1 t , x2 t x1 t , (26) x3 t x1 t , implica em x1 t x2 t , x2 t x3 t , (27) x3 24.x1 t 26.x2 t 9 x3 t r t . Na forma matricial é 6 Universidade Católica de Goiás Sistemas de Controle 1 1 0 x1 t 0 x1 t 0 x t 0 0 1 . x2 t 0.r t . 2 x3 t 24 26 9 x3 t 1 Para introduzir o efeito do segundo bloco, tem-se que (28) C s b2 .s 2 b1 .s b0 .X 1 s s 2 7.s 2 .X 1 s . (29) Aplicando a transformada de Laplace inversa com condições iniciais nulas obtém-se ct x1 t 7. x1 t 2.x1 t . (30) Pelas definições indicadas na equação 26, no domínio do tempo, a saída é yt ct b2 .x3 t b1 .x2 t b0 .x1 t x3 t 7.x2 t 2.x1 t . (31) A equação na forma matricial, então, é yt b0 b1 x1 t x1 t b2 . x2 t 2 7 1. x2 t . x3 t x3 t (32) 3.3. Convertendo do Espaço de Estados para a Função de Transferência Dadas as equações de estado e de resposta xt A.xt B.u t , (33) y t C.xt D.u t e aplicando a transformada de Laplace tem-se s.Xs A.X s B.U s , Y s C.X s D.U s (34) Colocando X(s) em evidência na primeira expressão da equação 34, resulta em s.I A.X s B.U s X s s.I A-1 .B.U s (35) Substituindo este resultado na equação de saída (segunda expressão da equação 34) chega-se a Y s C.s.I A .B.U s D.U s C.s.I A .B D .U s -1 -1 (36) Fazendo Y s , chega-se na função de transferência do sistema. U s Sabendo que M 1 AdjM AdjM , detM M (37) tem-se 7 Universidade Católica de Goiás Sistemas de Controle 1 Adjs.I A Y s C. .B D .U s s.I A (38) Assim, verifica-se que s.I A é a equação característica do sistema. 1 0 0 Exercício: Dado um sistema com A 0 0 1 , obtenha a equação característica do 2 1 5 sistema. Resposta: s 3 5.s 2 s 2 0. 8