NEUROPATIA ISQUIÁTICA ASSOCIADA COM TUMOR MALIGNO

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NEUROPATIA ISQUIÁTICA ASSOCIADA COM
TUMOR MALIGNO PÉLVICO EM CÃO RELATO DE CASO
Camila Elana Santana e Silva1, Laís Meireles Costa Silva2, Emília Miranda Peluso3, Lorena Mariane Villazón Zubieta2,
Giselle Ramos da Silva3, Bruno Martins Araújo4, Amanda Camilo Silva5, Marcella Luiz de Figueiredo5 e Eduardo
Alberto Tudury6

Introdução
Os tumores ósseos acometem o esqueleto axial dos
cães e gatos, podendo ser primários, surgindo
diretamente do osso, ou secundários, onde se propagam
para locais adjacentes e podem metastatizar para um
local distante [1]. Os tumores ósseos primários
representam de 3 a 4% dos tumores malignos em
animais da espécie canina, sendo também descrita a sua
ocorrência em felinos e humanos[2,3]. Cães idosos são
mais comumente afetados, podendo ocorrer em cães
jovens [1,4].
Os nervos periféricos são alvos freqüentes de lesões
traumáticas, como o esmagamento, compressão,
estiramento, avulsão e secção parcial e total, que
resultam na parada da transmissão de impulsos
nervosos e diminuição ou perda da sensibilidade e
motricidade na área inervada [5]. As lesões
compressivas são determinantes de alterações de
nervos isolados, podendo ocorrer como resultado de
crescimento tumoral afetando o nervo em seu trajeto
[6].
O diagnóstico de neuropatia por traumatismo e
compressão do nervo isquiático é baseado na história e
nos sinais clínicos, como impossibilidade em flexionar
o joelho e diminuição ou perda do reflexo flexor do
membro pélvico. Os reflexos tibial cranial e
gastrocnêmio também podem estar diminuídos ou
ausentes. Outros sinais são déficit proprioceptivo,
caracterizado pelo apoio do dorso dos dedos contra o
solo e perda ou diminuição do tônus dos músculos
bíceps femoral, semimembranoso e semitendinoso, os
quais são inervados pelo isquiático [7,8].
As avaliações radiográficas são importantes para
analisar a extensão do envolvimento ósseo e distinguir
neoplasias ósseas de outras condições não neoplásicas
tais como fraturas, osteomielites e doenças ósseas
metabólicas [9]. O diagnóstico definitivo de neoplasia
freqüentemente
exigem
imagens
diagnósticas
(mielografia, ressonância magnética, tomografia
computadorizada) e avaliação histopatológica da lesão
[10].
O tratamento varia de acordo com o resultado dos
exames [10]. Em neoplasias com localização na pelve, a
hemipelvectomia parcial ou total como tratamento, embora
seja um procedimento cirúrgico agressivo, pode ser
realizada com sucesso em cães e gatos [11]. A
quimioterapia e a radioterapia são sempre indicadas quando
ainda não há lesões metastáticas [10].
O objetivo deste trabalho é apresentar um caso de
neuropatia isquiática associada com tumor maligno pélvico,
com metástases pulmonares e vertebrais, em cão.
Material e métodos
Um cão macho da raça Poodle, 11 anos de idade, foi
atendido na HVU-UFRPE, onde o proprietário queixava
que, há 4 meses, o animal apresentava-se apático, estava
emagrecendo e claudicava do membro pélvico direito. Ao
exame clínico, observou-se atrofia muscular generalizada
desse membro pélvico e na palpação, um aumento de
volume no corpo ilíaco direito.
Ao exame neurológico, o membro pélvico esquerdo
estava com reflexo flexor e demais reflexos presentes.
Observou-se o membro pélvico direito sem propriocepção,
saltitar ausente, reflexo flexor ausente e demais reflexos
diminuídos, exceto o patelar. Diante dos achados clínicos e
neurológicos, suspeitou-se de neoplasia óssea, que estava
comprimindo o nervo isquiático do membro pélvico direito.
Foi requisitada radiografia simples da coluna lombar e
pelve nas projeções lateral e ventro-dorsal, níveis séricos
de creatinofosfoquinase e exames sorológicos específicos
para Leishmaniose (RIFI e ELISA).
Foi prescrito Carprofeno para o alívio da dor e
desconforto. Na radiografia simples, foi constatada uma
área de proliferação e osteólise óssea no corpo do íleo
direito, sacro e vértebras L6 e L7, sendo também observada
uma área de reação periostal na parte ventral de L5. Nos
demais exames, constatou-se aumento sérico de
creatinofosfoquinase (682 U/L) e não–reagente para
Leishmaniose.
Foi requisitada uma radiografia simples torácica nas
projeções lateral e dorso-ventral, onde observou-se as
________________
1. Aluno de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos, Recife, PE, CEP
52171-900. E-mail: [email protected]
2. Aluno de Graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal do Piauí, Avenida Universitária, Ininga, PI, CEP 64049-550.
3. Aluno de Graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco.
4. Residente de Cirurgia do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco.
5. Aluno de Mestrado do programa de pós-graduação em Ciência Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco.
6. Professor Assistente II do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco.
metástases pulmonares e reação osteolítica e
proliferativa em processos espinhosos da segunda a
quarta vértebras torácicas, assim como aumento de
opacidade de tecidos moles adjacentes, compatível com
neoplasia.
Com o resultado desses exames solicitou-se um
exame histopatógico para verificação do tipo do tumor,
porém o animal veio previamente a óbito.
Resultados e Discussão
A realização do exame clínico e neurológico foi
essencial para a identificação das disfunções
neurológicas e dessa forma, suspeitar de neuropatia
isquiática, pois conforme Colomé [7]; Kemper et al.
[8], a impossibilidade de flexionar o joelho, diminuição
ou perda do reflexo flexor do membro pélvico e atrofia
neurogênica
da
musculatura
desse
membro
caracterizam essa afecção.
Segundo Gomes et al. [9], as avaliações
radiográficas são importantes para analisar a extensão
do envolvimento ósseo e distinguir neoplasias de outras
condições não neoplásicas. Através das imagens
radiográficas da pelve e do tórax do animal, pôde-se
confirmar a neoplasia e descartar qualquer outra
condição,
havendo
necessidade
de
exame
histopatológico para confirmação do tipo de tumor.
Através da radiografia simples, foi visualizada uma
reação periostal na parte ventral de L5, compatível com
processo neoplásico. Chrisman [12] relata que a
neoplasia vertebral metastática pode produzir
compressão da medula espinhal, devido ao crescimento
do tumor, fratura e/ou colapso da vértebra. Constata-se
que a neoplasia vertebral tenha contribuído na
disfunção medular com comprometimento dos demais
reflexos no membro pélvico direito do animal.
Gomes et al. [9]; Daleck et al. [11] afirmam que
menos de 10% dos cães têm metástases pulmonares
com dimensões suficientes para serem visíveis
radiograficamente. Apesar dessa citação, o animal
apresentava massa pulmonar evidente na radiografia,
confirmando a malignidade do tumor.
Mesmo não sendo identificado o tumor pelo exame
histopatológico, o animal estava com um prognóstico
reservado em virtude do diagnóstico de metástase
pulmonar. Segundo Lemos et al. [10], o tratamento
quimioterápico deve ser realizado somente em casos
em que o animal não apresenta metástases. Portanto,
havia poucos recursos para reverter a condição do
paciente, pois o tumor já havia propagado para
vértebras e pulmões.
Foi observada alteração como aumento no nível
sérico de Creatinofosfoquinase. Fischbach [13] relata
que a Creatininofosfoquinase serve como
medida
fidedigna de doenças musculares esqueléticas e
inflamatórias, podendo aumentar em distúrbios no SNC.
Foi prescrito Carprofeno para o alívio da dor, concordando
com Rodrigues et al. [4], que afirmam que antinflamatórios
não-esteroidais e opióides são as drogas usadas para
prevenir o desconforto gerado pelo câncer.
De acordo com o trabalho pode-se concluir que um
tumor na região pélvica pode interferir na transmissão
nervosa do nervo isquiático, comprimindo-o e
compromentendo a inervação do membro, causando a
neuropatia neoplásica.
Referências
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