A ATUAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL

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INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG
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II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA
A ATUAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL INSTITUTO DE
DESENVOLVIMENTO E AÇÃO COMUNITÁRIA (IDACO) NO ESPAÇO RURAL
Andréa Acioli1
Resumo
O presente estudo vem sendo desenvolvido no NEGEF – Núcleo de Estudos de Geografia
Fluminense, e está inserido na questão das transformações socioespaciais que ocorrem no rural
fluminense a partir das relações cidade-campo e do aprofundamento das relações capitalistas de
produção nestas áreas. Dentre as inúmeras resultantes deste processo, podemos citar a presença
cada vez maior de urbanidades2 no meio rural, a refuncionalização de alguns fixos para que
atendam às necessidades do capital nessas áreas, que não podem mais ser consideradas
estritamente agrícolas e se tornam cada vez mais difíceis de serem delimitadas em oposição ao
urbano. Contudo, neste estudo iremos analisar o caso do surgimento e atuação das Organizações
Não-Governamentais – ONGs.
Pretende-se, neste trabalho, investigar quais as novas conexões, interações e redes
geográficas criadas através da atuação dessas organizações, que surgem como influência das
relações sociais atuais, no espaço rural fluminense. Utilizaremos o caso da ONG Instituto de
Desenvolvimento e Ação Comunitária – IDACO para verificar as interações e redes por ela
estabelecidas, através de fluxos materiais e informacionais, com outros espaços. Considerando
como altamente relevante o fato de que este, tem inúmeros projetos sendo executados no espaço
rural fluminense.
Palavras-chave: IDACO; Organizações Não-Governamentais; Redes; Território; Rural
Fluminense.
Apresentação
As Organizações Não-Governamentais atuam no espaço de forma a não mais enxergá-lo
através de uma divisão territorial pautada na sua divisão política. Sua área de influência e atuação
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passa a ser definida por questões específicas que se propõem a atender as demandas locais,
estabelecendo-se novos territórios, definidos pelos fluxos materiais, informacionais, entre outros.
Este estudo está baseado em uma compreensão de que o Brasil é uma sociedade
capitalista periférica e dependente, sujeita a um processo de modernização conservadora que a
partir dos anos de 1990 teve o ideário neoliberal como ideologia estruturadora. Tal ideário tem
como um dos fundamentos a doutrina do “Estado mínimo”, que no nosso entendimento constitui
um “discurso ideológico”3 pois, se é verdade que o Estado tem se desobrigado em atender
demandas sociais e estruturais, reduzindo drasticamente seus investimentos em áreas como saúde,
educação e também na infra-estrutura, por outro lado outros setores, em especial a área
financeira, muitas vezes não deixam de receber o auxílio do Estado, sem falar nas isenções fiscais
conseguidas por empresas, especialmente as multinacionais, que operam em todo o território
nacional. É deste cenário que partimos para entender o papel das ONGs no campo.
As ONGs são consideradas como instituições conformadas pela sociedade civil4, com o
papel de suprir as carências de políticas que atendam às demandas da população local ou do
espaço no qual atuam5, demandas estas que surgem a partir das novas relações que se
estabelecem no interior da sociedade contemporânea. A atuação destas organizações pode ser
considerada, muitas vezes, como mantendo uma relação com a difusão de políticas neoliberais,
principalmente entre as classes dominadas, e com a consolidação da hegemonia desta política na
sociedade brasileira.
Pretende-se, neste trabalho, investigar quais as novas conexões, interações e redes
geográficas criadas através da atuação dessas organizações, que surgem como influência das
relações sociais atuais, no espaço rural fluminense.
1. Gênese e atuação das ONGs
O surgimento das ONGs pode ser considerado dentro de um contexto onde se combinam
duas tendências originalmente opostas. Uma de matriz do pensamento de esquerda, que teve
repercussão a partir da década de 60 e culminância em 68, onde surgiram diversas propostas de
“fazer política” sem a perspectiva de tomada do poder. Críticos da atuação das organizações
tradicionais da esquerda (social-democratas e comunistas), tais movimentos propunham
demandas específicas de grupos étnicos, de gênero, e também a bandeira ecológica. A esta
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tendência, combinou-se uma outra de matriz conservadora cuja tradução é a doutrina neoliberal,
anteriormente citada.
A partir das décadas de 70 e 80 surgem grande parte das Organizações NãoGovernamentais - ONGs - existentes no Brasil até hoje6. Uma parte dessas organizações tem
trabalhado com as políticas voltadas para o campo, entre as quais destacamos: a promoção da
assistência técnica gratuita na linha do desenvolvimento sustentável e da agroecologia, projetos
de educação popular e acompanhamento produtivo de assentamentos rurais.
Com o objetivo de construir um instrumental teórico capaz de servir de base para tal
análise, discutiremos inicialmente qual a configuração da atual sociedade, buscando identificar os
atores presentes nas relações que nela se estabelecem e de que forma estes participam ou
contribuem para a construção destas novas relações e suas conseqüências materiais e ideológicas.
Em seguida, iremos analisar de que forma estas relações se materializam, tomando como
objeto as redes que elas instituem no espaço geográfico. Estas redes são construções sociais, e
segundo CORRÊA, “são as formas com que as interações espaciais se verificam” e (...) “se
realizam a partir dos atributos das localizações e das possibilidades reais de se articularem entre
si”.7
As redes vinculadas às ONGs estão inseridas em um complexo circuito de cooperação,
que ao mesmo tempo em que estas mantêm uma autonomia em suas práticas e projetos,
conseguem, por outro lado, se manter articuladas com outras organizações em projetos e práticas
sociais mais amplos e até mesmo em escala nacional. Estas redes, segundo a ABONG, foram
criadas para fortalecer e potencializar a atuação, das ONGs, na transformação da sociedade.
Ainda segundo a ABONG, estas redes podem se articular em torno de pontos comuns como, por
exemplo, uma ação coletiva, temas ou identidades (mulheres, negros, portadores de HIV etc.)
podendo, ainda, uma ONG ou associação, fazer parte de várias redes e fóruns.8
1.1. Relação entre o Estado e a Sociedade Civil
O Estado é considerado, por autores como Marx, Engels e Gramsci, como tendo sua
gênese nas relações de produção que se instalam na sociedade. Neste sentido, a relação entre
Estado e Sociedade Civil é entendida aqui tal como nos referimos anteriormente (ver nota 3).
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As relações de produção estabelecidas na sociedade capitalista pressupõem uma
diferenciação de classes, pautada na exploração e subordinação da maioria da população para que
haja uma concentração de capital nas mãos dos detentores dos meios de produção.
Neste sentido, a sociedade pode ser vista como possuindo no seu interior, antagonismos
entre classes sociais diferenciadas,
Mas para que esses antagonismos, essas classes com interesses econômicos colidentes
não se devorem e não consumam a sociedade numa luta estéril, faz-se necessário um
poder colocado aparentemente por cima da sociedade, chamado a amortecer o choque e
a mantê-lo dentro dos limites da ‘ordem’. Este poder, nascido da sociedade, mas posto
acima dela se distanciando cada vez mais, é o Estado.9
Assim, consideramos o Estado capitalista como uma instituição que se materializa a partir
das relações que são estabelecidas na sociedade, sendo, portanto, parte dela, gerador de uma
ideologia hegemônica e que elabora políticas que atendam às necessidades de uma minoria
dominante.
Em cada período histórico essa relação se configura a partir de interesses sociais
diferentes. O neoliberalismo se caracteriza, entre outras coisas, por uma ausência de políticas
para algumas comunidades e setores da sociedade, produzindo o discurso no sentido de incentivar
a “autonomia” destas comunidades em relação ao Estado, propondo uma não obrigatoriedade de
financiamento de infra-estrutura e de políticas sociais. É neste cenário de redução da presença do
Estado nas áreas sociais e com o intuito de suprir as carências da população nestas áreas, que as
ONG’s apresentam-se no sentido de cobrir a ausência do poder público, muitas vezes procurando
democratizá-lo. Desta forma, as ONG’s tanto podem atuar dentro dos marcos do ideário
neoliberal (“Estado mínimo”), quanto podem, ao contrário, ser instituições que venham cobrar
uma maior presença do poder público e a sua democratização.
1.2. AS ONGs no Mundo e no Brasil
Atualmente existem ONGs que possuem uma atuação mais próxima aos movimentos
sociais tipicamente de esquerda, como IBASE, IDACO. Contudo, entendemos que
não há como fazer uma classificação categórica das organizações segundo suas origens
e intenções porque uma grande parte delas atua da mesma forma, usando os mesmos
métodos, os mesmos recursos e, principalmente, chegando aos mesmos resultados
políticos e práticos, ainda que suas intenções sejam diferentes. Desta forma,
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entendemos que a heterogeneidade existente no campo das organizações nãogovernamentais não impede a existência de congruências nos resultados políticos e
práticos obtidos através de sua intervenção na área de políticas sociais.10
Podemos até mesmo afirmar que a maioria destas organizações atua no campo da
filantropia ou assistência social e que esse caráter assistencialista leva a uma redução da
capacidade de organização e reivindicação da classe trabalhadora pelos seus direitos.
Se antes as classes dominadas e populações vulneráveis voltavam suas reivindicações
para o Estado, através da mobilização, numa clara intenção de ampliar direitos
universais, agora suas reivindicações se voltam para as próprias ONGs, e os serviços
prestados aparecem como dádivas de pessoas ou entidades ‘comprometidas’ com a
‘erradicação da miséria’, e não como um direito que, na verdade, está-lhe sendo negado
pelo Estado e mal executado pelo setor privado ‘sem fins lucrativos’. A precariedade é
vista, pelos usuários, não como uma falha no sistema estatal, que deveria sofrer o
controle popular de suas políticas, mas como uma situação limite em que ‘pelo menos
alguém está fazendo algo pelos pobres’. A desmobilização é inevitável.11
Este tipo de organização peculiar da sociedade civil começou a se proliferar em todo o
território nacional a partir de meados da década de setenta, sendo o surgimento destas, na
verdade, um fenômeno de caráter mundial, a exemplo de organizações como o GREENPEACE,
ATTAC, entre outras. No Brasil uma das primeiras, fundada por Betinho, foi o IBASE,
organização que até hoje tem uma atuação destacada ao lado de movimentos sociais e que ganhou
notoriedade com a campanha pela “ética na política”, campanha esta que, aliada a outros fatores,
culminou com a deposição do ex-presidente Fernando Collor de Mello.12
O papel deste tipo de organização junto à sociedade e ao Estado é ainda muito discutido,
já que ao mesmo tempo em que propõe uma autonomia em relação ao Estado, ainda mantém uma
dependência deste e uma ligação direta com o setor privado da economia. O discurso das ONGs,
por outro lado, está calcado no paradigma habermasiano.13 Há que se ter uma preocupação com
a questão do que vem a ser, de fato, o público e o privado, e sua relação com este setor,
conhecido como terceiro setor.
A forma como o debate sobre o terceiro setor vem acontecendo no Brasil traz, em si,
uma crítica indireta ao papel do Estado na redução da pobreza e na promoção do
desenvolvimento, objetivos estes que seriam realizados de forma mais eficiente pela
iniciativa privada.14
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Neste trecho, fica clara a definição utilizada pelo neoliberalismo para caracterizar tais
organizações, em que estas são privadas, porém de interesse público. Uma outra proposta de
atuação das ONGs pode ser identificada no discurso do Betinho15, segundo o qual
Não cabe às ONGs brasileiras acabar com ou pretender substituir o Estado, mas
colaborar para a sua democratização. Não cabe às ONGs produzir para o conjunto da
sociedade os bens e serviços que o mercado não é capaz de produzir, mas propor uma
nova forma de produzir e distribuir que supere os limites da lógica do capital.16
As ONGs, pela sua atuação, criam interações com o território, de maneira que constroem
novas interações espaciais, conexões e redes geográficas. Essas formas de relação surgem devido
às mudanças nas relações sociais hoje existentes na sociedade e se materializam no espaço, o que
permite identificar outras formas de percepção do espaço e do território por elas transformado.
1.3. Atuação das ONGs no espaço rural fluminense
O campo brasileiro não ficou imune ao surgimento e atuação deste tipo de organização,
sendo possível verificar no seu interior a existências de diversas ONGs, como o IDACO, AACC
(Associação de Apoio às Comunidades do Campo), CECOR (Centro de Educação Comunitária
Rural), entre outras.
Grande parte das ONGs que hoje atuam no campo têm seus projetos voltados ou para o
desenvolvimento rural, como no caso do IDACO com seu projeto de apoio a comercialização da
pequena produção agrícola, ou atuam com projetos de caráter socioambiental como podemos
citar o projeto de desenvolvimento de sistemas alternativos para recuperação de áreas degradadas
e geração de renda em comunidades tradicionais do entorno de unidades de conservação da mata
atlântica, também desenvolvido pelo IDACO.
Os investimentos do governo e de agências internacionais nestes projetos são maiores, o
que garante, na maior parte das vezes, uma procura por parte das ONGs em desenvolver estudos
e planejamentos voltados para essa área de interesse.
Contudo, vamos focar nosso estudo e aprofundar no caso do IDACO, que tem inúmeros
projetos sendo executados no espaço rural fluminense, e que se destaca nestas duas linhas de
atuação anteriormente citadas.
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2. Território das ONGs no campo fluminense – O papel do IDACO
Hoje, frente aos intensos processos de exclusão social provocados pelas políticas
neoliberais, urge pensar os espaços e os territórios como forma de compreender melhor
as coflitualidades (MANÇANO, 1998)
A relação que se estabelece entre os três setores: Estado, Empresas e ONGs, provocam
inúmeras transformações e a materialização destas no espaço dá origem a uma nova
territorialidade.
As ONGs atuam de maneira a não limitar seu campo de atuação considerando uma
divisão político-administrativa do território, mas sim estabelecendo uma nova área de atuação
com base em políticas e projetos por elas desenvolvidos junto à comunidade. Utilizaremos o caso
da ONG Instituto de Desenvolvimento e Ação Comunitária – IDACO para verificar as
interações e redes por ela estabelecidas, através de fluxos materiais e informacionais, com outros
espaços.
Este instituto tem uma atuação junto aos pequenos produtores rurais,
realizando projetos de agricultura alternativa, capacitação para geração de renda,
educação ambiental e manejo auto-sustentado de recursos naturais renováveis, além de
apoiar a comercialização da produção agrícola familiar no Estado do Rio de Janeiro. Na
área urbana, o IDACO desenvolve programas de financiamento para moradores de
comunidades de baixa renda, possibilitando oportunidades de emprego e geração de
renda.17
Dentre os projetos de atuação desse instituto, procuramos analisar as ações relativas ao
“desenvolvimento rural” que, na visão do IDACO, “buscam melhorar a comercialização da
pequena produção agrícola familiar, assim como uma maior capacitação do produtor, visando um
aumento em seu padrão de vida”.18 Além disso, também possui uma parceria com as associações
de pequemos produtores rurais dos assentamentos – aqui no caso, do Rio de Janeiro, com os
sindicatos dos Trabalhadores rurais, MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, da
FETAG - Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Rio de Janeiro, e da
Unacoop - União das Cooperativas Usuárias do Pavilhão 30 da Ceasa.
O IDACO se coloca como articulador de questões locais e regionais com as questões
nacionais e internacionais. Ressalta, ainda, que com seu projeto de Apoio à Comercialização da
Pequena Produção, está atingindo seu objetivo, junto à população e às organizações sociais, que
segundo esses, aponta “os caminhos das verdadeiras e necessárias transformações da realidade”.19
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Dessa maneira se torna necessário, também, entender a forma complexa ou dialética em
que se dá a relação entre as ONG’s e o Estado, já que ao mesmo tempo em que aquelas
subvertem as estruturas do poder constituído, acabam criando outras estruturas que terminam por
reproduzir o mesmo poder só que em escala reduzida.20 As mudanças na relação entre o Estado e
a Sociedade civil podem ser observadas na materialização dessas redes no espaço.
O IDACO começa a ser gestado na década de 70, fruto da luta contra a ditadura militar e
pela redemocratização do Brasil. Com isso, teve uma importante atuação na área sindical. Com a
criação, em 1985, de um Ministério específico para implantação da Reforma Agrária, parte dos
profissionais de engenharia que já se dedicavam a apoiar comunidades de pequenos produtores
procuraram participar deste processo, que logo foi interrompido pela ação de forças contrárias à
reforma agrária.
Após uma visita de um representante do Ministério da Agricultura e da Pesca da França
a algumas comunidades rurais e assentamentos de reforma agrária, em 1987, surge uma
parceria entre o Ministério da Agricultura da França e o INCRA – RJ através do projeto
Rio-Belleville. Mas, com o esgotamento do Plano Nacional de Reforma Agrária, surge
a necessidade da existência de uma entidade que tornasse viável as ações já iniciadas.
Desta forma, em 1988, surge o IDACO “com o objetivo geral de desenvolver ações
diretas junto à comunidade, interagindo nas comunidades, nas organizações sociais e
populares e nas instituições do campo e da cidade”.21
O IDACO hoje atua nas comunidades com os seguintes projetos, o Projeto de Segurança
Alimentar e Fortalecimento Comunitário em 10 Assentamentos Rurais no Estado do Rio de
Janeiro. Este projeto tem o apoio da organização Manos Unidas, que é uma agência de
cooperação espanhola. Segundo o IDACO, este projeto esta sendo implementado em todos os
assentamentos listados na TABELA 1.
Um outro projeto é o projeto de Desenvolvimento de Sistemas Alternativos para
Recuperação de Áreas Degradadas e Geração de Renda em Comunidades Tradicionais do
Entorno de Unidades de Conservação da Mata Atlântica. Este, consiste em um projeto
socioambiental, e que possui um caráter também de experimentação. Desenvolvido em parceria
da EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e da UFRRJ – Universidade
Federal Rural do Estado do Rio de Janeiro, a idéia desse projeto é fazer com que o agricultor
participe da experimentação, portanto, nas propriedades rurais situadas na região de Parati foram
montadas várias unidades demonstrativas de cultivo agroflorestal e cultivos sustentáveis.
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O terceiro projeto é o Rede de Sementes Florestais Rio-São Paulo. Este, como o anterior,
também possui um caráter socioambiental. O projeto surgiu em 2001 devido ao edital que o
Ministério do Meio Ambiente, através do Fundo Nacional do Meio Ambiente lançou na época.
Com isso, em todo Brasil, se formaram várias redes, e no Rio de Janeiro foram conformadas duas
redes: a rede Rio-São Paulo e as ações são também desenvolvidas na região de Angra dos Reis e
Parati que é onde se encontram os remanescentes de mata atlântica representativos no nosso
estado. As ações estão voltadas para a capacitação dos agricultores, na colheita e manejo de
sementes florestais e na comercialização dessas sementes florestais.
O IDACO hoje atua, com seus projetos, em 10 (dez) comunidades no estado do Rio de
Janeiro. O quadro a seguir mostra os municípios onde cada comunidade se localiza e a
quantidade de famílias moradoras. É importante ressaltar que algumas comunidades são
assentamentos reconhecidos pelo INCRA e pelo ITERJ e outras são ainda áreas de ocupação. E
ainda, que nem todas as famílias dessas comunidades são atendidas pelos programas e projetos do
IDACO.
MAPA DE LOCALIZAÇÃO DOS
LOCAIS DE ATUAÇÃO DO IDACO
4
1
3
2
10
5
7
FONTE: IDACO
6
8
9
TABELA 1
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Município
Comunidade
nº de famílias
1
Japeri
Boa Esperança
50
2
Teresópolis
Fazenda Alpina
98
3
Pinheiral
Mutirão da Paz
100
4
Trajano de Morais
Santo Inácio
52
5
Conceição de Macabu
São Domingos
131
6
Cachoeiras de Macacu
São José da Boa Morte
500
7
Paraty22
São Roque
85
8
Seropédica
Sol da Manhã
116
9
Magé
Santa Rosa
49
10
Paracambi
Vitória da União
78
FONTE: IDACO
Considerações Finais
Através deste estudo buscamos um aprofundamento de algumas questões para melhor
entender como se dá a atuação das ONGs no Brasil analisando, para tal, as interações, conexões e
redes que estas estabelecem no espaço. Pretende-se também elucidar quais são as novas relações
e os novos atores que surgem deste cenário.
Uma outra análise está na necessidade de identificarmos como acontece a relação entre as
ONG’s e o Estado e porque essas organizações terminam por reproduzir o poder do Estado, já
que não concretizam um rompimento efetivo com esta estrutura de poder.
É também relevante identificar qual o papel do IDACO junto à população, qual seria o
seu território de atuação e se seus projetos são utilizados em diferentes escalas causando, ou não,
diferença nos resultados obtidos.
Para tal, e considerando que o presente estudo encontra-se ainda em desenvolvimento,
faremos uso de pesquisas bibliográficas que levantam um debate teórico acerca da organização da
sociedade, considerando o Estado e a sociedade civil, pretende-se tecer uma base metodológica
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para identificar como se estrutura o objeto de pesquisa apresentado. Pretende-se também a
utilização de dados quantitativos e empíricos para resolução do problema proposto, bem como a
aplicação de questionários nas comunidades, e principalmente nas instituições públicas e
privadas, como as ONG’s, que estabeleçam algum vínculo político-ideológico local. A utilização
de gráficos e tabelas, neste sentido, também se faz necessária. Desta forma, será feita a pesquisa
de dados correspondentes à organização em estudo e também será feito um levantamento de
dados em Instituições de Governo e Órgãos de Pesquisa – IBGE, ALERJ, Bibliotecas entre
outros.
1
Graduanda em Geografia pelo departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e bolsista
do Núcleo de Estudos de Geografia Fluminense, coordenado pelos professores Dr. Gláucio Marafon, João Rua e
Miguel Ângelo Ribeiro.
2
Fenômeno que “... compreende a presença do urbano nessas áreas como manifestação do processo geral de
transformações pelo qual passa o espaço, sem que isso se perceba como destruição do rural (...) numa gestação de um
espaço híbrido produto de novas relações que não podem ser explicadas apenas pelas concepções tradicionais de
urbano e rural.” JOÃO RUA. Urbanidade e novas ruralidades no estado do Rio de Janeiro: algumas considerações
teóricas. In: GLÁUCIO MARAFON E MARTA RIBEIRO (orgs.) Estudos da Geografia Fluminense. Rio de
Janeiro: Livraria e Editora Infobook, 2002. v. 1, p. 27-42.
3
Estamos utilizando “ideologia” na acepção marxiana do termo, como uma idéia que “falseia” a realidade.
LARRAIN, Jorge. Ideologia. In. BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento Marxista. Rio de Janeiro:
Zahar. 1988. p. 183-187.
4
Iremos trabalhar com a perspectiva gramsciana de sociedade civil, segundo a qual esta é composta por organizações
privadas que estão fora do escopo do Estado, mas que auxiliam na tarefa de dominação de classe. Precisamos,
contudo, destacar que o conceito de sociedade civil, na obra de Gramsci, possui antinomias e que a separação entre
Estado e sociedade civil deve ser apenas metodológica, para sua análise, e não orgânica. Desta forma, estes dois são
indissociáveis, são como planos superpostos que em última análise conformam o que seria por Gramsci chamado de
“Estado ampliado”. Consideramos, ainda, que a sociedade civil é um todo conflituoso, composto por diversos grupos
sociais (classes, etnias, gêneros), que buscam atender seus interesses, mas também realizam acordos entre si.
GRUPPI, Luciano. Tudo começou com Maquiavel: As concepções de Estado em Marx, Engels, Lênin e Gramsci.
Porto Alegre: L&PM Editores. 1980. GRAMSCI, Antonio. Maquiavel, a política e o estado moderno. Rio de
Janeiro, Civilização brasileira, 1980.
5
Estamos tratando aqui do discurso da maioria das ONGs no Brasil, que se propõem a suprir a carência do Estado,
mas sem intenção de substituí-lo.
6
Dados obtidos em: “Ação das ONGs no Brasil – Perguntas e Respostas”, material publicado no site da Associação
Brasileira de Organizações Não-Governamentais – ABONG – em 18/08/2005.
7
CORRÊA, Roberto Lobato. Interações espaciais In: CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo César da Costa;
CORRÊA, Roberto Lobato (orgs). Explorações Geográficas: Percursos no Fim do Século. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1997, p. 279-318.
8
Site do Instituto de Desenvolvimento e Ação Comunitária – IDACO <www.idaco.org.br> em 22/02/2006
ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1978, p.191.
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ZARPELON, Sandra Regina. A esquerda não socialista e o novo socialismo utópico: aproximações entre a
atuação das ONGs e o cooperativismo da CUT. Dissertação (mestrado). Universidade Estadual de Campinas .
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. UNICAMP. 2003. p. 7
11
Idem, p. 24
12
FICO, Carlos. IBASE: usina de idéias e cidadania. Rio de Janeiro, Garamond, 1999.
13
Nesta démarche, Estado e mercado representam a racionalidade instrumental e fora deste escopo há o “mundo da
vida”, local onde se dá a atuação das ONGs.
14
Site da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais – ABONG <www.abong.org.br> em
22/02/2006
15
Fundador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas - IBASE, desempenhou ainda papel decisivo
como fundador e principal articulador da Campanha Nacional pela Reforma Agrária, ajudou a fundar a Associação
Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), da qual foi presidente por 11 anos, integrou a liderança do Movimento
Pela Ética na Política, entre outras participações nos movimentos sociais.
16
FICO, Carlos. IBASE: usina de idéias e cidadania. Rio de Janeiro, Garamond, 1999.
17
Site do Instituto de Desenvolvimento e Ação Comunitária – IDACO <www.idaco.org.br> em 22/02/2006
18
Idem.
19
Idem.
20
Cabe aqui um agradecimento ao professor João Rua que me alertou para esta questão.
21
Publicação do histórico do IDACO no site da ABONG <www.abong.org.br> em 22/02/2006.
22
No mapa, a região marcada pelo número sete (7), que correspondente a Parati e Angra dos Reis possui muitos
assentamentos e ocupações dispersos pela região, o que fez com que o IDACO considerasse todos esses locais como
sendo uma mesma localidade de atuação.
Referências Bibliográficas
ABRAMOVAY, Ricardo. Paradigmas do Capitalismo Agrário em Questão. HUCITECANPOCS-UNICAMP. Campinas, Rio de Janeiro, São Paulo. 1992.
ANDERSON, Perry. As Antinomias de Gramsci In: Crítica Marxista: A Estratégia
Revolucionária na Atualidade. São Paulo, Ed. Joruês, p. 7-74, 1986.
BOBBIO, Norberto. Estado; Governo; Sociedade: Para uma teoria. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
2ª edição 1988.
BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento Marxista. Rio de Janeiro: Zahar. 1988.
CAMPANOLA, Clayton (orgs.). O Novo rural brasileiro, uma análise estadual: Sul, Sudeste e
Centro-Oeste. Embrapa – Meio Ambiente. Volume 3. Jaguariúna. São Paulo. 2000.
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CORRÊA, Roberto Lobato. Interações espaciais In: CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo
César da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (orgs). Explorações Geográficas: Percursos no Fim
do Século. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.
ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
FICO, Carlos. IBASE: usina de idéias e cidadania. Rio de Janeiro, Garamond, 1999.
GLÁUCIO MARAFON E MARTA RIBEIRO (orgs.) Estudos da Geografia Fluminense. Rio de
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