11 pesquisas inovadoras de combate ao câncer.

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Hospital AC Camargo
Tópico: HOSPITAL AC CAMARGO
23/06/2012
Veja Online - SP
Editoria: Saúde
Pg: 14:39:00
11 pesquisas inovadoras de combate ao câncer.
Guilherme Rosa
(Guillermo Rosa)
Avanços promissores foram apresentados nas conferências da Sociedade Americana
de Oncologia Clínica e da Sociedade de Medicina Nuclear
Dois grandes congressos trouxeram, neste mês, uma série de descobertas e avanços
contra o câncer, de novos métodos de diagnóstico ao tratamento da doença. O
Congresso Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO, sigla em
inglês) é a maior conferência sobre câncer de todo o mundo. Todos os anos, ela reúne
especialistas que apresentam as mais novas pesquisas e possibilidades de tratamento
contra a doença. Este ano, a reunião aconteceu entre os dias 1 e 5 de junho, em
Chicago. "A intenção do encontro é apresentar os trabalhos mais promissores no
tratamento do câncer. Grande parte do que usamos hoje em dia apareceu por lá", diz
Solange Moraes Sanches, oncologista clínica do Hospital A. C. Camargo, em São
Paulo, um dos principais do Brasil no tratamento do câncer.
Já o congresso anual da Sociedade de Medicina Nuclear aconteceu entre os dias 9 e
13 de junho, na Flórida. Ali, foram mostrados os mais novos avanços no campo, com
foco no uso de substâncias radioativas no combate e diagnóstico de doenças. Neste
ano, muitas das novidades apresentadas tinham foco no campo do câncer. Por
enquanto, muitas dessas descobertas ainda estão sendo assimiladas pelos médicos,
mas em pouco tempo estarão disponíveis para os pacientes. Segundo o oncologista
clínico Milton José de Barros e Silva, do Hospital A. C. Camargo, a maioria dessas
pesquisas sinalizam que estamos entrando numa nova era do combate à doença.
"Historicamente, todos os tratamentos eram voltados a combater diretamente o câncer.
Agora estamos voltando nossa atenção para os mecanismos por trás da doença e na
sua relação com os pacientes", diz o médico. "O futuro são drogas cada vez mais
direcionadas a mutações específicas no tumor e com menos efeitos colaterais."
Conheça as principais pesquisas apresentadas nos dois congressos:
Nova droga usa o sistema imunológico do paciente para combater o câncer
O que diz a pesquisa: Usando uma substância chamada BMS-936558, cientistas
conseguiram usar o próprio sistema imunológico de alguns pacientes contra o tumor que
estavam desenvolvendo. Normalmente, o câncer consegue se disfarçar e não ser
atacado pelas nossas células de defesa. Um dos métodos utilizados pelas células
cancerígenas para passar despercebidas é pela ação de uma proteína chamada PDL1,
que se comunica com uma outra proteína presente em nossos glóbulos brancos, a PD1.
A nova droga impede essa comunicação, e faz com que essas células de defesa
ataquem o tumor.
Como foi feita: O remédio foi administrado a 76 pacientes com câncer de pulmão de
células não-pequenas, o tipo mais comum da doença. Em 18% dos casos, o tumor
diminuiu ou parou de crescer. De 33 pacientes com câncer nos rins, 27% também
responderam ao tratamento, e de 94 que tinham melanoma, 28% apresentaram
melhoras.
Porque é importante: A pesquisa ainda é inicial, mas já se mostra promissora – são os
melhores resultados conseguidos com algum tratamento de imunoterapia até hoje.
Particularmente importantes foram seus efeitos nos pacientes com câncer de pulmão,
que sempre se mostraram resistentes a esse tipo de tratamento.
Opinião do especialista: Milton José de Barros e Silva, oncologista clínico do Hospital A.
C. Camargo
"É uma pesquisa inicial, mas sem sombra de dúvida bastante estimulante, pelas
perspectivas futuras que abre. Seu mecanismo de ação é inteligente e ela apresenta
bons resultados preliminares."
"A célula que podia destruir o câncer é o linfócito T. O problema é que quando ela chega
no tumor, existe uma substância que desliga o linfócito. O que essa droga faz é se ligar
no linfócito e cobrir esse botão de desligar. No entanto, o tratamento não é isento de
efeitos colaterais. O sistema imunológico também pode atacar os tecidos saudáveis."
"A área da imuno-oncologia está em franca expansão. Ela não está voltada ao
desenvolvimento de drogas contra o câncer, mas em drogas que estimulem o sistema
imunológico contra os tumores. Hoje, já temos uma droga deste tipo em uso: a Anti
–CTLA-4. Ela já foi aprovada nos Estados Unidos, e está sendo analisada pela Anvisa."
Medicamento reduz efeitos colaterais no tratamento do câncer de mama
O que diz a pesquisa: Um novo medicamento é capaz de combater o câncer de mama
metastático do tipo HER2-positivo, que atinge até 20% das pacientes, sem atacar as
outras células do organismo. Ainda em fase experimental, a droga T-DM1 promete
prolongar a sobrevida e retardar a evolução da doença nessas pacientes, sem causar
os efeitos colaterais típicos da quimioterapia, como perda de cabelo e diarreia. Ele é
formado pela combinação de duas substâncias que já existem no mercado: o
trastuzumabe e o quimioterápico emtansine (DM1). O trastuzumabe se liga às células
cancerígenas que tenham o reagente HER2-positivo. Logo depois, o emtansine localiza
essas células e as destrói.
Como foi feita: O estudo foi realizado com 991 pacientes, sendo que todas já haviam
sido tratadas apenas com trastuzumabe. Metade do grupo recebeu o T-DM1, e a outra
metade o tratamento padrão. Aquelas que passaram pelo novo tratamento não
apresentaram progressão da doença por 9,6 meses, contra 6,4 meses no grupo
controle. Das pacientes que tomaram o T-DM1, 43,6% tiveram os tumores reduzidos,
enquanto apenas 30,8% do grupo controle apresentaram redução. No grupo que
recebeu o medicamento, houve um aumento de 7,1 meses de qualidade de vida (sem
progressão da doença). Já no grupo que recebeu os quimioterápicos tradicionais, o
aumento foi de 4,6 meses.
Porque é importante: Como a substância não ataca as células saudáveis do corpo, as
pacientes conseguem viver por mais tempo com menos efeitos colaterais decorrentes
do tratamento.
Opinião do especialista: Solange Moraes Sanches, oncologista clínica do Hospital A. C.
Camargo
"Quando falamos no câncer de mama, estamos tratando de várias doenças. Uma delas
é o subtipo HER2-positivo. Ele é responsável por cerca até 20% dos casos de câncer
de mama, e é bastante agressivo. As pacientes que sofriam com ele eram as que
tinham uma maior evolução no câncer. Já há alguns anos essa história começou a
mudar, justamente por conta do trastuzumabe."
"Quando você usa o trastuzumabe, ele se liga diretamente a essas células tumorais. O
que acontece é que o trastuzumabe tem ação importante, mas pequena, e acabava
tendo que ser usado junto com a quimioterapia. O grande problema da quimioterapia é
que ela ataca tanto as células corporais quanto as normais."
"Com essa nova medicação, o trastuzumabe é ligado na molécula de um quimioterápico.
A grande sacada foi fazer essa ligação entre os dois remédios. Depois de jogado no
sangue, ele vai se ligar somente nas células com o HER2, e jogar a substância tóxica ali
dentro."
"Esse tratamento aumentou tanto o tempo que o tumor leva para crescer quanto o
tempo de vida. É uma grande pesquisa, um dos melhores resultados da ASCO. Essa
medicação está sendo aguardada com expectativa pelos oncologistas. Agora, ela está
aguardando aprovação pelo FDA, o que não acontece antes de 2 anos."
Hormônio experimental aumenta tempo de vida de pacientes com câncer de próstata
avançado
O que diz a pesquisa: Um hormônio chamado enzalutamida é capaz de aumentar o
tempo de vida de pacientes com câncer de próstata avançado em cerca de cinco
meses, além de melhorar sua qualidade vida. Para crescer, o tumor na próstata
necessita da ação da testosterona. O hormônio atrapalharia essa interação.
Como foi feita: Os testes foram realizados em 1.119 homens com uma forma avançada
de câncer de próstata, que pararam de responder à quimioterapia. Para metade deles,
os pesquisadores forneceram o hormônio, enquanto a outra metade recebeu placebos.
Como resultado, aqueles que tomaram o remédio viveram em média 18,4 meses,
enquanto o outro grupo viveu 13,6. Além disso, 43% daqueles que passaram pelo
tratamento apresentaram melhoras em sua qualidade de vida. Entre os que tomaram
placebo, o número foi de 18%.
Porque é importante: Até pouco tempo, não existiam tratamentos para esse tipo de
câncer. Apesar de não representar uma cura para a doença, o hormônio pode dar a
esse paciente mais alguns meses de vida, com menos dores e sofrimento.
Opinião do especialista: Stênio de Cássio Zequi, cirurgião oncologista do Núcleo de
Urologia do Hospital A. C. Camargo.
"O principal combustível do câncer de próstata é a testosterona, o hormônio masculino.
Até por volta de oito anos atrás, o tratamento para paciente com câncer de próstata
metastático era tirar esse hormônio de seu corpo. Ele era submetido a uma espécie de
castração. Enquanto o homem normal tem um nível de testosterona de 240 a 800,
diminuíamos o nível do doente para 20. O tumor regredia, o cansaço e as dores
diminuíam. Porém, depois de 15 a 18 meses, o câncer arranjava outros modos de se
alimentar no corpo do doente, e a doença voltava. O próprio ambiente tumoral produz
substâncias que estimulam o câncer. Mais recentemente, começamos a usar nesses
pacientes substâncias que bloqueavam o receptor da testosterona, para não ter de
realizar a castração. Esses remédios são conhecidos como antiandrogênicos."
"Há alguns anos, houve um grande avanço nesse campo e surgiram novas drogas
superandrogênicas. Elas têm um efeito colateral menor e são de uso oral, o que
aumenta a qualidade de vida do paciente. É o caso da enzatulamida. Os pesquisadores
testaram a substância em pacientes que não respondiam mais à quimioterapia. Neles,
ela aumentou sua vida em até cinco meses. Pode não parecer muito, mas é um ganho
palpável. Normalmente o tratamento nessa etapa tem muitos efeitos colaterais. Nesta
fase a gente quer aumentar o tempo de vida, mas também com qualidade de vida. E
neste estudo 43% dos que tomaram a droga relataram melhoras na qualidade de vida."
"É uma droga que entra no arsenal terapêutico de uma doença que era muito mortal. A
cada seis meses surgem novas notícias nesse campo. São várias luzinhas no fim do
túnel. Estou nessa área há 19 anos e nunca ouvi tanta notícia boa quanto nos últimos
dois."
Ginseng reduz exaustão entre pacientes com câncer
O que diz: Pesquisadores da Clínica Mayo, nos Estados Unidos, concluíram que tomar
grandes quantidades de ginseng ajuda a reduzir a fadiga e a exaustão em pessoas com
câncer. Segundo os pesquisadores, a fadiga entre esses pacientes pode estar
associada um aumento dos níveis de citocina, molécula que desencadeia inflamações
no corpo. Estudos feitos com animais mostram que o ginseng reduz a quantidade da
citocina no organismo — o que pode ajudar a explicar resultados.
Como foi feita: Os cientistas estudaram 340 pacientes que haviam concluído ou que
estavam em tratamento contra um câncer. Durante oito semanas parte deles recebeu
placebo, enquanto o resto consumiu uma cápsula com dois gramas de ginseng puro por
dia. Depois desse período, os pacientes que receberam a raiz relataram sentir 20%
menos exaustão do que o restante dos participantes.
Porque é importante: Qualquer droga que possa diminuir a fadiga, um dos sintomas
mais comuns em pacientes com câncer, é uma avanço. No entanto, os cientistas
alertam que aqueles que queiram utilizar o ginseng devem procurar orientação médica,
pois ele pode interferir no efeito de outros remédios utilizados para combater a doença.
Opinião do especialista: Solange Moraes Sanches, oncologista clínica do Hospital A. C.
Camargo
"A fadiga é um sintoma muito comum nos pacientes com câncer e que atrapalha sua
qualidade de vida. Existem muitas causas: a atividade da doença, o próprio tratamento
e o efeito de alguns remédios."
"O problema dessa pesquisa é que ela não leva em conta outros fatores. A gente não
sabe qual era o estado de humor do paciente, se o seu tratamento era preventivo ou se
a doença estava ativa. Essas situações podem colaborar com maior ou menor grau na
fadiga. O trabalho só levou um fator: o uso de ginseng. É um trabalho interessante, mas
a meu ver não dá subsídio para prescrever a substância."
"É preciso tomar cuidado com a segurança das medicações. Mesmo as substâncias
ditas naturais têm interação medicamentosa e podem causar efeitos colaterais. É
importante que ninguém saia tomando ginseng sem falar com seu médico."
Nova substância interfere no crescimento do melanoma
O que diz a pesquisa: Uma droga chamada trametinib atrapalha o crescimento do tumor
em pacientes com um tipo avançado de melanoma, além de aumentar seu tempo de
vida. O remédio só tem efeito em pacientes que apresentem mutação em um gene
chamado BRAF, responsável por cerca de metade dos casos da doença.
Como foi feita: O estudo envolveu 322 pacientes com melanoma avançado. Uma parte
recebeu o tratamento com trametinib, enquanto a outra parte recebeu quimioterapia
comum. A droga desacelerou ou parou o crescimento do melanoma em 22% dos
pacientes que receberam o novo tratamento. Somente 8% dos que passaram pela
quimioterapia tiveram o mesmo resultado. Depois de seis meses, 81% dos pacientes
que receberam a droga estavam vivos, número que ficou em 67% entre os que
passaram pela quimioterapia.
Porque é importante: Se descoberto cedo, o melanoma pode ser facilmente curado ao
se retirar cirurgicamente a região de pele danificada. No entanto, sempre foi difícil tratar
o tumor depois que ele se espalhava. A nova pesquisa traz esperanças para os
pacientes que sofrem da forma avançada da doença.
Opinião do especialista: Milton José de Barros e Silva, oncologista clínico do Hospital A.
C. Camargo
"Em 50% dos melanomas há uma mutação nos genes BRAF, que confere um estímulo
ao crescimento do tumor. A droga não atua diretamente BRAF, mas numa molécula que
é estimulada por ele. Nesse estudo, os especialistas compararam o uso desse
tratamento contra a quimioterapia. Podemos observar um benefício em termo de
sobrevida do paciente."
"Quando o melanoma é diagnosticado nas fases inicias, ele é curado na maioria dos
casos. Mas depois da metástase, a chance de cura é pequena. Os números dessa
pesquisa não são tão animadores, mas ela ajuda a entender melhor como o melanoma
funciona e cresce. Isso, num horizonte mais longínquo, pode levar à cura."
Remédio para câncer de pulmão se mostrou efetivo contra três tipos de tumores infantis
O que diz a pesquisa: A droga crizotinib, desenvolvida originalmente para combater o
câncer de pulmão, também se mostrou efetiva contra três tipos de câncer infantil: o
neuroblastoma, o linfoma anaplásico de grandes células e o tumor miofibroblástico
inflamatório. Em alguns dos casos, o câncer desapareceu completamente. O remédio
ataca especificamente mutações genéticas no gene ALK, que está presente em todos
esses tipos de câncer.
Como foi feita: Os cientistas receitaram crizotinib para 70 crianças que possuíam um
desses três tipos de câncer. Dezoito meses depois do tratamento, eles descobriram
que 88% das crianças com o linfoma anaplásico de grandes células não tinham mais
evidências do câncer. Já entre as 27 crianças com neuroblastomas, em três o tumor
desapareceu, e em oito ele parou de crescer. O câncer também havia desaparecido ou
diminuído na maior parte dos pacientes com o tumor miofibroblástico inflamatório.
Porque é importante: Essas três formas de câncer infantil são extremamente agressivas
e resistentes. A nova descoberta pode levar a técnicas que interfiram no crescimento do
tumor e a tratamentos efetivos contra a doença.
Opinião do especialista: Thiago Bueno de Oliveira, oncologista clínico do Hospital A. C.
Camargo
"O crizotinib é uma droga nova utilizada no tratamento do câncer de pulmão. Alguns
desses tumores têm sua progressão induzida por uma alteração genética. Por causa
dela, a célula é levada a se dividir cada vez mais. É como um acelerador sempre
pressionado. A partir desse conhecimento se desenvolveu a droga, que inibe o
hiperfuncionamento desse gene. Descobriu-se agora que outros tipos de tumores
também são induzidos por essa mesma causa, como alguns tumores que atingem
crianças."
"Os resultados do crizotinib são muito melhores que a quimioterapia – 88% é um
número muito alto. E é uma droga que não traz efeitos colaterais. Ela é muito recente,
está em testes há cerca de dois anos, e ainda não está disponível comercialmente no
Brasil."
Nova radioterapia pode tratar câncer nos rins
O que diz a pesquisa: Um novo tipo de radioimunoterapia, chamado In-111-cG250,
começou a ser estudado para tratar uma forma resistente de câncer de rim, o
carcinoma renal de células claras. O remédio é capaz de atingir as células
cancerígenas e aplicar uma dose poderosa e precisa de radiação diretamente no tumor.
A pesquisa mais recente mostrou, no entanto, que a substância que pode ter sua
efetividade diminuída se usada junto com outras drogas, como o sorafenib. Esse
medicamento interfere no crescimento das células do câncer, mas também afeta a
habilidade do In-111-cG250 de encontrar esses tumores.
Como foi feita: Os pesquisadores recrutaram 15 pacientes que sofriam com câncer de
rim. Destes, 10 recebiam o tratamento com o sorafenib. Todos passaram pela
radioimunoterapia. Os estudos mostraram que o tratamento foi menos efetivo entre
aqueles que consumiram anteriormente o outro remédio.
Porque é importante: A pesquisa ajuda a desenvolver regimes terapêuticos mais
efetivos para tratar o carcinoma renal de células claras. Como resultado, os
pesquisadores sugerem que o tratamento com In-111-cG250 deveria ser prescrito antes
do sorafenib.
Opinião do especialista: Stênio de Cássio Zequi, cirurgião oncologista do Núcleo de
Urologia do Hospital A. C. Camargo.
"Existem cinco tipos de câncer de rim. O carcinoma renal de células claras é uma das
formas mais letais da doença, e representa 80% dos casos. Ultimamente, o diagnóstico
de cânceres pequenos tem aumentado. No entanto, embora a gente faça o diagnóstico
mais cedo, a mortalidade não tem caído. Pelo menos 30% dos doentes já têm
metástase quando o diagnóstico é feito. Esse carcinoma não responde bem tanto à
quimioterapia quanto à radioterapia convencional."
"Nos últimos anos, tem aparecido uma infinidade de novas drogas que funcionam de
modo diferente da quimioterapia. Elas são conhecidas como drogas inteligentes.
Quando você joga a quimioterapia no sangue, ela mata tudo que está crescendo, como
o cabelo e a mucosa oral e digestiva. Não consegue distinguir entre mocinho e bandido.
Já essa nova terapia de alvos moleculares é inteligente. São anticorpos voltados contra
determinados fatores de crescimento tumoral, e vão atingir só aquele alvo. Logo, têm
menos efeitos colaterais."
"O estudo usou um radiofármaco de alcance pequeno, o In-111, que emite uma radiação
de milímetros quando é injetado na veia. Já o cG250 é um anticorpo inteligente, que
gruda no receptor PKI, presente em uma parte dos cânceres de rim. Ao juntá-los, os
pesquisadores fazem com que o In-111 irradie somente onde tiver tumor."
"Os pesquisadores estudaram pacientes que já tinham recebido uma outra droga
bastante usada, o sorafenib. Nesses casos, o anticorpo aderiu menos ao seu alvo. A
conclusão da pesquisa é que esse tratamento tem efeito, mas é inibido se aplicado
depois do sorafenib."
"A pesquisa é pequena, precisamos de mais estudos. Adina assim, ela abre uma nova
janela para tratar o câncer de rim no futuro. O que me alegra nessa notícia é o conceito
por trás dela.”
Tratamento pode curar câncer de pele sem necessitar de hospitalização
O que diz a pesquisa: Um novo tipo de adesivo cutâneo foi capaz de destruir tumores
faciais em 80% dos pacientes estudados, sem necessidade de cirurgia ou terapia
radiológica. Os pacientes tratados sofriam com carcinoma de células basais, o tipo de
câncer mais comum a atingir as camadas superficiais da pele. O adesivo, chamado de
p-32, é capaz de aplicar doses de radiação nos pontos afetados, sem necessitar a
internação do paciente.
Como foi feita: Os cientistas aplicaram os adesivos em 10 pacientes com carcinoma de
células basais na face. As lesões se concentravam ao redor dos olhos, nariz e testa.
Eles usaram os adesivos durante três horas, em três dias diferentes. As doses de
radiação foram aplicadas somente nas regiões lesionadas, sem causar danos em
outras áreas da pele. Três meses depois, os pesquisadores realizaram biópsias nos
pacientes: em 8 dos dez casos, eles estavam completamente curados.
Porque é importante: É um tratamento simples e barato, que não necessita da
internação do paciente. Com mais estudos, ele pode se tornar tanto o tratamento
padrão para esse tipo de câncer quanto uma terapia alternativa, a ser usada quando a
cirurgia e radioterapia não forem possíveis.
Opinião do especialista: Milton José de Barros e Silva, oncologista clínico do Hospital A.
C. Camargo
"O carcinoma é o tipo mais comum de câncer de pele, com altas chances de cura.
Normalmente, ele é tratado com cirurgia. Muitas vezes ele se desenvolve em áreas
expostas ao sol, como a face. Infelizmente a cirurgia nessa região tem um aspecto
mutilador. Esse estudo facilita o tratamento do tumor nessa região."
"É uma pesquisa inicial, feita em poucos pacientes. Ela não substitui a necessidade do
diagnóstico precoce e da intervenção cirúrgica. Não vejo esse tratamento disponível de
forma rotineira, porque depende da medicina nuclear. Ele é um adesivo contendo
fósforo 32, um elemento radioativo. Isso exige uma certa estrutura, não dá para ter em
qualquer lugar do país. Vai ser uma opção para os casos em que as cirurgias possam
trazer muito dano. Mas os pesquisadores ainda precisam mostrar que a regressão do
tumor é definitiva."
Técnica permite descobrir rapidamente resultado de tratamentos contra câncer no
cérebro
O que diz a pesquisa: Uma nova técnica de imagem molecular permite descobrir o
resultado do tratamento contra um tipo de câncer cerebral, o glioma, em até duas
semanas. Normalmente, esse tipo de tumor é tratado com cirurgias, radio ou
quimioterapia, mas ele é conhecido por reaparecer depois do tratamento. A pesquisa
descobriu que, para descobrir se a técnica foi efetiva, os médicos devem injetar no
paciente uma substância que imita um aminoácido presente no cérebro. Eles podem
concluir se o câncer ainda está ativo ao analisar a concentração dessas proteínas, uma
vez que as células do tumor agrupam mais essa substância do que as saudáveis.
Como foi feita: Trinta pacientes com o glioma passaram pelo processo imediatamente
antes do tratamento e duas semanas depois. Aqueles nos quais as imagens mostravam
a regressão do câncer viveram até três vezes mais do que aqueles que não
responderam bem ao processo.
Porque é importante: Esse tipo de tumor é extremamente agressivo. Nesses casos,
uma técnica capaz de descobrir rapidamente se o paciente respondeu ao tratamento é
essencial. Até agora, não existia nenhuma método não-invasivo de fazer isso.
Opinião do especialista: Milton José de Barros e Silva, oncologista clínico do Hospital A.
C. Camargo
"O glioma é muito agressivo, e costuma voltar depois do tratamento na maioria dos
casos. É importante diagnosticá-lo rapidamente porque ele pode trazer muita
morbidade. Se descoberto de forma tardia, pode trazer danos motores e neurológicos.
Esse tumor pode deixar sequelas, dependendo de sua localização, extensão e do tipo
de terapia. Quanto mais rápido se souber da existência do tumor, melhores as
condições de tratá-lo e menos sequelas."
Pesquisa mostra como o câncer no pâncreas engana o sistema imunológico
O que diz a pesquisa: Ela mostra a estratégia usada pelo câncer no pâncreas para não
ser atacado pelas células do sistema imunológico do paciente. Isso se deve a uma
mutação no gene KRAS, presente em 95% desses cânceres. Esse gene expressa a
proteína GM-CSF, que gera uma acumulação de células supressoras em volta do tumor.
São essas células que protegem o câncer, deixando-o livre para crescer.
Como foi feita: Os cientistas bloquearam a produção da proteína GM-CSF em células
de câncer no pâncreas de ratos. Desse modo, eles conseguiram acabar com a
acumulação de células supressoras, liberando a resposta do sistema imunológico dos
animais.
Porque é importante: Descobrir como o câncer no pâncreas, conhecido por sua
natureza agressiva, consegue escapar do sistema imunológico é o primeiro passo para
interromper o avanço da doença. As terapias a disposição hoje em dia são pouco
efetivas contra esse tipo de tumor — somente 4% dos pacientes conseguem sobreviver
depois de 5 anos do diagnóstico.
Opinião do especialista: Milton José de Barros e Silva, oncologista clínico do Hospital A.
C. Camargo
"O diagnóstico de câncer de pâncreas é muito grave, já que normalmente acontece
quando o tumor já está avançado. Nesta etapa, ele já tem muitas mutações, que o
tornam resistente a tratamentos. Pela primeira vez, vislumbramos um tratamento efetivo
para essa doença. No entanto, essa pesquisa foi realizada em nível laboratorial, ainda
não foi testada em seres humanos."
"Nosso sistema imunológico vive em equilíbrio entre dois polos: o ataque e o repouso. O
que o câncer faz é usar as células do corpo que atuam na modulação desse equilíbrio,
e as estimula a trabalhar em seu benefício. A mutação nos genes KRAS é uma das
mais frequentes no câncer de pâncreas — aparece em 95% deles. Uma das
consequências dessa mutação é um estimulo que leva as células supressoras do
sangue para o tumor, criando um ambiente que engana o sistema imunológico."
Estudo mostra como infecções podem levar ao desenvolvimento de câncer no fígado e
cólon
O que diz a pesquisa: Um dos maiores fatores de risco para o câncer no fígado, cólon
e estômago são inflamações nesses órgãos causadas por infecções bacterianas ou
virais. Um novo estudo conduzido no MIT mostrou como isso acontece. Quando o
sistema imunológico detecta invasores, ele envia células chamadas macrófagos e
neutrófilos para acabar com a ameça. Elas fazem isso englobando a bactéria, células
mortas e restos soltos de células danificadas. Como parte desse processo, essas
células liberam químicos muito reativos, que ajudam a combater a ameaça. No entanto,
esses químicos também podem danificar o tecido humano. Essa inflamação, se durar
muito, pode levar ao câncer.
Como foi feita: Os pesquisadores analisaram mudanças genéticas e químicas no fígado
e colón de ratos infectados com a bactéria Helicobacter hepaticus, muito similar à
Helicobacter pylori, que causa úlceras no estômago de humanos. Durante 20 semanas,
os ratos desenvolveram infecções crônicas – algumas delas desencadearam câncer.
Nesse período, eles descobriram por volta 12 danos nos DNA e RNA dos ratos, e
analisaram que genes eram ativados ou desativados com o progresso da infecção. Por
exemplo, os neutrófilos liberam ácido hipocloroso quando defendem o cólon. Esse ácido
deveria atacar as bactérias, mas também provoca danos no DNA, ao adicionar nele um
átomo de cloro.
Porque é importante: Ela deve ajudar os médicos a desenvolver modos de prever as
consequências de inflamações crônicas, além de criar novas drogas para controlar
essas inflamações. Os pesquisadores poderiam, por exemplo, desenvolver modos de
bloquear seus efeitos tóxicos e impedir que acabem desenvolvendo um câncer.
Opinião do especialista: Milton José de Barros e Silva, oncologista clínico do Hospital A.
C. Camargo
"Há muito tempo sabemos que a inflamação crônica é uma situação que pode levar ao
câncer. E que muitas dessas inflamações são causadas por infecções. O que esse
estudo mostra de novo é como essas infecções promovem as inflamações, e como elas
podem levar a alterações no ambiente normal do órgão."
"O câncer de intestino é sensível à quimioterapia e temos como tratá-lo. Já o câncer de
fígado é muito agressivo, semelhante ao do pâncreas, e é resistente à maioria dos
tratamentos. Entendendo como as inflamações acontecem, podemos bolar estratégias
de prevenção."
"Essa pesquisa, além de gerar conhecimento, pode trazer novas oportunidades de
tratamento. Em cada órgão, a infecção acontece de um modo diferente, então
provavelmente uma droga só não vai cuidar de todos. Vamos ter que entender como
elas acontecem em cada órgão."
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