XII SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS

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XII SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DA
UNAERP CAMPUS GUARUJÁ
Outros temas relacionados a Enfermagem
Assistência de enfermagem frente à depressão: trabalhador portuário avulso
Elizângela Lelis da Silva
Acadêmica do Curso de Enfermagem
[email protected]
Mara Rúbia Ignácio de Freitas
Professora Doutora do Curso de Enfermagem
[email protected]
Este simpósio tem o apoio da Fundação Fernando Eduardo Lee
Resumo:
O trabalho acadêmico é um estudo bibliográfico com suporte numa leitura
explanatória em material de produção cientifica da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS)
sobre o tema saúde do trabalhador portuário focando depressão. No estudo foram
pesquisados os bancos de dados eletrônicos da LILACS, BDENF, SCIELO entre os
meses de fevereiro e julho de 2015. Selecionado para estudo os trabalhos
acadêmicos no idioma português e espanhol, trabalhos estes produzidos entre os
anos de 2000 e 2014. A pesquisa abordou um total de 632 publicações cientificas
sobre os temas: trabalhador, depressão, enfermagem e saúde do trabalhador
portuário. Do trabalho acadêmico conclui-se que o trabalhador portuário tem
assistência de enfermagem apenas de forma preventiva e não quando os sintomas
estão instalados.
Palavras-chave: Trabalhador. Depressão. Enfermagem. Saúde do trabalhador.
Trabalhador portuário.
Summary:
The Academic work is a bibliographical study that supports the reading explanatory
material in scientific production site of the Virtual Health Library (BVS) on the theme
health of port workers with a focus on depression. In the study were searched
electronic databases LILACS, BDENF, SCIELO between February and July 2015.
Selected to study the academic papers in Portuguese and Spanish, these works
were produced between 2000 and 2014. The research addressed a total of 632
scientific publications on the topics: labor, depression, nursing and health of port
workers. The academic work is concluded that the port workers have nursing care
only preventively and not when symptoms are installed.
1
Key words: Worker. Depression. Nursing. Worker's health. Port worker.
Seção 4 – Curso de Enfermagem – Artigo Cientifico (TCC).
Oral
1. Introdução
A saúde do trabalhador integra a área da saúde ocupacional e tem como
objetivo o estudo e a intervenção nas relações entre trabalho e a saúde, por meio da
elaboração e aplicação de medidas articuladas que visem à promoção, proteção e
recuperação da saúde do trabalhador portuário.
A enfermagem vem intensificando os investimentos técnicos – científicos para
aprofundar seu corpo de conhecimento profissional, com vistas à ampliação das
práticas em saúde, acompanhando as necessidades do viver humano nos diferentes
ambientes onde atua. Na particularidade da saúde do trabalhador, vem se
mostrando cada vez mais premente a atuação profissional entre os distintos ramos
produtivos dados a multiplicidade de condições de laborar que colaboram com o
ainda constante desenvolvimento de doenças relacionadas ao trabalho (ALMEIDA et
al., 2012).
Uma das atividades em constante mudanças em razão da tecnologia aplicada
e das recentes leis promulgadas para o setor é o dos trabalhadores portuários, ou
seja, aqueles que atuam em diferentes categorias profissionais como: capatazia,
estiva, conferência de carga, conserto de carga, vigilância de embarcações, bloco e
outras atividades afins. Tais atividades produtivas os expõem a diferentes riscos
ocupacionais presentes no ambiente de trabalho, como: ruídos, vibrações de corpo
inteiro, intempéries, contato com substâncias químicas, levantamento manual de
carga, sobrecarga mental em busca de produtividade e utilização de ferramentas
muitas vezes inadequadas (ALMEIDA et al., 2012).
Segundo Soares et al. (2011), a maioria dos estudos científicos com
trabalhadores portuários não é abordado os riscos ambientais que provocam
inúmeras doenças nos trabalhadores portuários e avulsos que laboram nos portos,
como: exposição climáticas, sol, chuva, frio e calor. Tais trabalhadores
desempenham suas funções dia e noite, e estão expostos a vários tipos de doenças
que pode ser causada por estas situações adversas, inclusive a de ordem mental.
Dentre todos os riscos acima a depressão mereceu destaque na pesquisa uma
vez que este fenômeno da saúde é muito importante para o equilíbrio do profissional
do porto sendo este o motivo da escolha do tema. Por outro lado, vivenciamos o
crescente desenvolvimento do sistema portuário brasileiro, que sem dúvida irá
requerer um estudo aprofundado no campo da saúde e da enfermagem para a
prevenção e tratamento de diversos males que acometem e acometerão a classe de
trabalhadores do segmento portuário e em especial a depressão.
Diante deste fenômeno de importância singular para a sociedade cabe um
questionamento para o estudo e pesquisa: Quais as ações necessárias no campo da
enfermagem para a intervenção e tratamento do trabalhador portuário quando
detectada a depressão?
A relevância desse tema está atrelada a importância da patologia relacionada
ao trabalho portuário que afeta os trabalhadores causando distúrbios de ordem
mentais; dentre eles destaca-se a depressão. A sintomatologia patologia é
caracterizada por irritabilidade, humor triste, perda de interesse e prazer pelas
2
atividades do dia a dia, o que pode causar sensação de fadiga aumentada,
dificuldade de concentração e sono perturbado. A depressão laboral atinge
indistintamente a qualquer cargo ou função dentro da atividade portuária invadindo o
ambiente familiar que é tão importante para que o trabalhador mantenha uma saúde
mental equilibrada. (ALMEIDA et al., 2012).
Justifica-se a relevância desse estudo pelo fato do tema está elencado na
Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde (ANPPS) do Ministério da
Saúde que tem como pressuposto respeitar as necessidades nacionais e regionais
de saúde e aumentar a indução seletiva para a produção de conhecimentos e bens
materiais e processuais nas áreas prioritárias para o desenvolvimento das políticas
sociais. Podemos enquadrar o tema no 18 da agenda que trata da promoção da
saúde e em especial no subitem 18.1.4 Exposição diferenciada a situações de risco
(ruído, sedentarismo, desemprego, drogadição, obesidade, poluição, dentre outros),
segundo condições e modos de vida de grupos populacionais específicos (BRASIL,
2008).
O objetivo desta pesquisa será reunir elementos estruturados, identificando e
buscando avaliar aspectos das relações entre trabalho e saúde no ambiente do
trabalho portuário articulando fatores de ordem biológica, social e psicológica; e das
condições e organizações desse trabalho portuário, reconhecidos pela saúde
coletiva como fatores de risco ou proteção à saúde laboral e a atuação da
enfermagem do trabalho quando tais diagnósticos são concretizados.
Tais elementos estruturados deverão ser reunidos sob a ótica da enfermagem
do trabalho, procurando identificar e avaliar os aspectos relacionados com os fatores
que contribuem para a depressão do trabalhador portuário.
Para ser atingido o objetivo geral alguns objetivos específicos necessariamente
deverão ser objeto de estudo e análise, e são: estudar o trabalhador portuário e
analisar as condições do trabalho; identificar ações que possam causar a depressão
e o estresse e pesquisar intervenções necessárias a manter a saúde do trabalhador
portuário no tocante a depressão.
2. Metodologia
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, através de um levantamento digital em
site acadêmico, apoiado na leitura exploratória do material pesquisado buscando-se
conhecer o universo portuário brasileiro, seus atores e a atividade laboral voltada
para o trabalho portuário, em especial aquele que poderá gerar distúrbios de ordem
mental e consequentemente a depressão.
Para a pesquisa bibliográfica foi realizada uma busca de artigos acadêmicos
através do portal BVS (Biblioteca Virtual da Saúde) através das bases de dados:
SCIELO (Scientific Eletronic Library on line), LILACS (Literatura Latino-Americana e
do Caribe em Ciências da Saúde) e BDENF (Base de dados em Enfermagem).
A pesquisa bibliografia tem como base os estudos científicos entre os anos de
2000 a 2014 nos idiomas português e espanhol cujo tema é a atividade portuária e
as patologias de depressão, suas consequências e a assistência de enfermagem.
O desenvolvimento do trabalho acadêmico de pesquisa foi realizado no período
compreendido entre fevereiro a julho de 2015.
Foram utilizados os descritores de ciência e saúde (DECS): trabalhadores,
depressão, enfermagem e saúde do trabalhador portuário. Os descritores foram
cruzados com operador lógico booleano (AND).
3
Para restrição da pesquisa foram utilizados os mesmos filtros em todos os
descritores, ou seja: texto completo quando disponível, base de dados LILACS e
BENDF, idiomas português e espanhol, limite e ano de publicação de 2000 a 2014.
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS)
Portal de pesquisa
Site web
http://bvsalud.org
Operador lógico booleano
AND
Descritores < http://decs.bvs.br >
Sinônimos utilizados na pesquisa
Trabalhadores
Trabalhador do porto, Porto, Trabalho e Portuário
Depressão
Enfermagem
Assistência, Enfermeiro do trabalho e Enfermagem
Saúde do trabalhador portuário
Filtros empregados
Critérios
Texto completo
Disponível
Base de dados
LILACS e BDENF
Idioma
Português e Espanhol
Limite
Masculino e Feminino
Ano de publicação
Últimos 15 anos (2000 à 2014)
Visualizado
Filtros
Selecionado
5.784
434
3
Trabalhador do porto AND Saúde mental
61
21
2
Trabalhador AND Porto AND Saúde mental
66
16
2
Trabalhador AND Portuário AND Enfermagem AND Saúde mental
1
1
1
6.810
151
4
137
8
1
Cruzamento
Trabalho AND Depressão
Depressão AND Enfermagem
Assistência AND Enfermeiro do trabalho AND Trabalhador AND Saúde mental
Saúde do trabalhador portuário
1
1
1
12.860
632
14
Quadro 1 – Critérios da coleta de dados de interesse a pesquisa acadêmica
Fonte: Quadro elaborado pelas Autoras com base no portal BVS.
3. Resultados e discussão
Na etapa dos levantamentos do total de 12.860 trabalhos científicos, 632 foram
separados através dos critérios de pesquisa, destes apenas 14 estudos foram
selecionados para serem utilizados na pesquisa bibliográfica, porém apenas 12
foram utilizados para o estudo haja vista que 1 artigo se repete nos cruzamentos dos
descritores e 1 trabalho acadêmico não foi utilizado por não atender os objetivos
propostos para a pesquisa (Quadro 1).
A seleção dos trabalhos científicos foi através da análise de seus resumos e a
utilização na pesquisa foi após a leitura crítica do texto completo.
Dentre aqueles estudos científicos pesquisados e que serão utilizados há um
escrito no idioma espanhol que foi objeto de tradução livre pela Autora (Quadro 2).
4
Trabalho AND Depressão
Descritor (es) >>>
Base de
dados
Sel.
Cad Saúde Pública;
30(1): 107-118
2014 LILACS
Sim
Rev Bras Med;
65(12): 15-25, dez.
2008 LILACS
Sim
Trabalho e depressão: um estudo
CAVALHEIRO, Gabriela; Psico USF; 16(2): 241com profissionais afastados do
2011 LILACS
TOLFO, Suzana da Rosa 249, maio-ago
ambiente laboral
Sim
Título
Autor (es)
Sintomas depressivos e estresse
ANSOLEAGA, Elisa;
em trabalhadores chilenos:
VEZINA, Michel;
condicões diferenciais para
MONTANO, Rosa
homens e mulheres
Depressão
MICHELON, Leandro;
CORDEIRO, Quirino;
VALLADA, Homero
Publicação, volume,
páginas, etc.
Ano
Continua...
...Continuação
5
Trabalhador do porto AND Saúde mental
Descritor (es) >>>
Título
Publicação, volume,
páginas, etc.
Autor (es)
Ano
Base de
Utilizado
dados
Percepção dos trabalhadores
avulsos sobre os riscos
SOARES et al.
ocupacionais no porto do Rio
Grande, Rio Grande do Sul, Brasil
Cad Saúde Publica;
2008 LILACS
24(6): 1251-1259, jun.
Sim
Análise dos agentes estressores
e a expressão do estresse entre CARDOSO et al.
trabalhadores portuários avulsos
Estud. psicol.
(Campinas); 31(4):
507-516, out.-dez.
Sim
2014 LILACS
Trabalhador AND Porto AND Saúde mental
Descritor (es) >>>
Título
Publicação, volume,
páginas, etc.
Autor (es)
Ano
Base de
Utilizado
dados
Análise dos agentes estressores
e a expressão do estresse entre CARDOSO et al.
trabalhadores portuários avulsos
Estud. Psicol.
(Campinas); 31(4):
507-516, out.-dez
Depressão em trabalhadores de
linhas elétricas de alta tensão
Rev. Bras. Epidemiol;
2012 LILACS
15(2): 235-245, jun.
Descritor (es) >>>
SOUZA et al.
Sim
Trabalhador AND Portuário AND Enfermagem AND Saúde
mental
Título
Trabalhador portuário: perfil de
doenças ocupacionais
diagnosticadas em serviço de
saúde ocupacional
2014 LILACS Sim (*)
Publicação, volume,
páginas, etc.
Autor (es)
Acta Paul. Enferm;
25(2): 270-276
ALMEIDA at al.
Ano
Base de
Utilizado
dados
2012 LILACS
Sim
Depressão AND Enfermagem
Descritor (es) >>>
Título
Publicação, volume,
páginas, etc.
Autor (es)
Ano
Base de
Utilizado
dados
Depressão: experiência de
pessoas que a vivenciam na pós- VIEIRA, Cintia Adriana
modernidade
São Paulo; s.n; dez.
2005 BDENF
Não
Depressão, o mal do século: de
que século?
GONÇALVES et al.
Rev. Enferm. UERJ;
15(2): 298-304, abr.jun.
2007 BDENF
Sim
Avaliação dos sintomas de
ansiedade e depressão em
fibromiálgicos
SANTOS et al.
Rev Esc Enferm
USP; 46(3): 590-596,
jun.
2012 LILACS
Sim
Rev. Pesq. Cuid.
Fundam. (Online);
5(5, n. esp): 45-51,
dez.
2013 BDENF
Sim
Atuação do enfermeiro no quadro
de depressão infantil em CAPSi:
COSTA et al.
abordagem diagnóstica de
enfermagem
Descritor (es) >>>
Assistência AND Enfermeiro do trabalho AND Trabalhador
AND Saúde mental
Título
A reforma psiquiátrica e a
assistência prestada por
profissionais em um serviço
substitutivo em saúde mental
Autor (es)
BRITO et al.
Reme Rev. Min.
Enferm; 12(4): 494500, out/dez
Ano
Base de
Utilizado
dados
2008 BDENF
Sim
Saúde do trabalhador portuário
Descritor (es) >>>
Título
Prevenção de agravos e
promoção da saúde: um estudo
com trabalhadores portuários
Publicação, volume,
páginas, etc.
Autor (es)
SOARES et al.
Publicação, volume,
páginas, etc.
Texto & contexto
Enferm; 20(3): 225234, jul.-set.
Ano
Base de
Utilizado
dados
2011 LILACS
Sim
Legenda: (*) trabalho cientifico que se repetiu em mais de um cruzamento
Final do Quadro.
Quadro 2 – Cruzamento de descritores através do Portal BVS.
Fonte: Quadro elaborado pelas Autoras.
4. Trabalhador portuário avulso
6
O processo de modernização portuária no Brasil visou à inserção do País em
uma economia globalizada, por meio do aumento da produtividade, da maior
agilidade no embarque e desembarque e da diminuição de custos operacionais dos
serviços portuários.
Nesse contexto, as atividades nos portos estão sempre em constante
modificações e obriga aos trabalhadores que ali desenvolvem suas atividades a
constantes desafios para adaptar-se às novas demandas do mercado. Como
exemplo dessas modificações podemos citar o Porto de Santos, o maior da América
Latina, que constantemente é instado a remodelar suas formas de organização
laboral (CARDOSO et al., 2014).
O modelo portuário que no passado era monopólio privado ou público
passando por modernização em 1993 com o advento da Lei nº 8.630 que foi
substituída pela Lei nº 12.815 - conhecida como Lei de Modernização dos Portos
que continuou as já desencadeadas mudanças significativas na estrutura, dinâmica
e cultura do trabalho nos portos brasileiros (BRASIL, 2013).
Com o processo de modernização e a nova gestão do trabalho portuário, entre
outras mudanças, ocorreu o fim das categorias profissionais tradicionais e a criação
da figura do Trabalhador Portuário Avulso (TPA) vinculado ao então criado Órgão
Gestor de Mão de Obra (Ogmo) que atua como uma espécie de setor de Recursos
Humanos para os Operadores Portuários que são empresas responsáveis pela
operação nos portos e navios (BRASIL, 2013).
Os trabalhadores portuários avulsos são aqueles que prestam serviços de
forma eventual, sem vínculo empregatício, para várias operadoras portuárias e estão
elencados na lei de modernização dos portos. Tais serviços são requisitados através
do órgão gestor de mão de obra do trabalhador portuário avulso (SOARES et al,
2008).
Segundo pesquisa de Cardoso et al (2014), sobre o trabalhador portuário e a
nova sistemática de trabalho pode verificar que os relatos dos TPAs permitem
concluir que o processo de modernização promoveu muitas mudanças com
impactos considerados negativos para o trabalhador portuário, dentre elas,
destacam-se: estresse físico e/ou psicológico, presença constante de sobrecarga
física; exposição a ambientes agressivos a saúde; relação de confronto com o
empregador; equipe de trabalho em constante alteração; redução da mão de obra;
falta de equidade no trabalho; perda da autonomia no trabalho; remuneração
reduzida; redução das horas em família e lazer.
5. Depressão no trabalhador
As mudanças econômicas e tecnológicas, experimentadas pela globalização
nas últimas décadas, mudaram o ambiente e as relações entre capital e trabalho. As
mudanças trouxeram grande impacto na vida do trabalhador em razão das
adversidades impostas por essa nova dinâmica trabalhista, tornando-o mais
suscetível ao desenvolvimento de sintomas de estresse (CARDOSO et al., 2014).
Alguns podem pensar que a depressão é uma doença pós-moderna, pois está
sendo muito comentada nos dias atuais. Contudo, ela não o é uma vez que a
depressão era considerada uma doença muito similar como a vimos atualmente com
sintomas de perda de sono, falta de apetite, desejo de morte. No passado buscavase a origem biológica da patologia através de tais sintomas (GONÇALES et al 2007).
7
Segundo Cavalheiro et al (2014), a depressão pode ser conceituada como o
conjunto de manifestações que envolvem a necessidade de isolamento, a presença
de pensamentos negativos, desanimo, ansiedade, fadiga, insônia, sentimento de
tristeza, angustia, muito medo e vontade de chorar. Os estudos sobre a saúde e
trabalho no último século passaram a apontar a depressão e seus processos
característicos nas relações com o trabalho como sendo objeto de preocupação
social, organizacional e pessoal.
A depressão pode ser entendida como um conjunto de reações
psicofisiológicas e comportamentais complexas, cuja função é adaptar o organismo
a uma situação que ameace a homeostase, ou seja, o estresse não
necessariamente é patológico. O desequilíbrio ocorre quando o indivíduo necessita
reagir a alguma condição que ultrapasse sua capacidade adaptativa. Portanto, o
estresse é uma resposta necessária à manutenção da própria vida (CARDOSO et
al., 2014).
A simples mudança numa simples escala de trabalho são favoráveis ao
aparecimento de estresse e outros sintomas psíquicos. Em estudo relativo às
condições de trabalho dos trabalhadores portuários do porto de Santos realizado por
Cardoso et al. (2014), foi detectado uma série de problemas a saúde em razão de
novas práticas, embora a modernização tenha reduzido o desgaste físico, como
também as condições precárias de muitos navios, máquinas e equipamentos que
contribuíram significantemente para o aumento do estresse. O desgaste de natureza
mental foi observado na pesquisa com os trabalhadores portuários como o principal
determinante do estresse.
Por outro lado, os riscos inerentes à saúde e à segurança individual e coletiva
nas atividades desenvolvidas por trabalhadores avulsos analisados no estudo de
Soares et al. (2008), no porto do Rio Grande do Sul (RS), apontaram o uso de
drogas no trabalho (álcool, maconha, cocaína e crack), a constante possibilidade de
queda de objetos suspensos, a presença de ruídos e a exposição a intempéries,
bem como as próprias características das relações interpessoais estabelecidas entre
os membros da equipe de trabalho (ternos) como uma forma clara de contribuição
para o estresse do trabalhador.
A simples mudança na organização e a dinâmica de seleção para o trabalho, a
presença de conflitos (Ogmo/trabalhadores, operadoras portuárias/trabalhadores) e
a necessidade em determinadas circunstâncias de fazer mais de uma jornada de
trabalho são agentes estressores presentes no trabalho portuário segundo Cardoso
et al. (2014) em sua pesquisa com trabalhadores dom porto, o relato de alguns dos
participantes da pesquisa foram os seguintes:
Mais desgaste assim no trabalho, não é físico, é mais mental... é
essa ansiedade de querer ganhar, de querer produzir..."; "... uma
selvageria no ponto de escala, um querendo trabalhar mais que o
outro; não tem quem não se estresse com a escala"; e "É naquele
pensamento de querer agilizar para produzir que acontecem
acidentes. Um subiu no navio, pelo contêiner, e caiu, morreu.
Ainda segundo Cardoso et al. (2014) a sazonalidade do trabalho ainda é vista
como um fator estressor. Esse fator, somado à forma de seleção e à remuneração
por produtividade, exige a presença constante do trabalhador no local de
recrutamento em busca de trabalho.
8
A ansiedade e a depressão interferem no dia-a-dia do trabalhador havendo
uma correlação entre a piora do condicionamento físico, funcionalidade social e
emocional, dor e percepção da saúde em geral (SANTOS et al, 2012).
Os quadros depressivos caracterizam-se por alteração do humor em direção ao
polo depressivo e afeta as funções psíquicas com intensidade variada. Dessa forma,
o quadro clínico dos transtornos depressivos pode apresentar-se de maneiras
distintas. A faixa etária e o sexo também influenciam, bem como pela presença de
outras condições clínicas associadas. Os transtornos depressivos podem ocorrer em
todas as culturas e níveis socioeconômicos e podem surgir em qualquer período da
vida. (MICHELON et al, 2008)
A depressão é um tipo de transtorno de humor tendo como características a
tristeza ou humor deprimido, a perda de interesse, o sentimento de desvalorização,
como fatores prevalentes. Expressões de raiva, de descontentamento, de oposição,
de desprezar, podem ser na maioria dos casos, indicadores de sintomatologia.
(CASTO et al, 2013).
A depressão foi classificada mundialmente como a principal causa de
incapacidade em pessoas ente 15 e 44 anos. A literatura mostra consistentemente
maior prevalência de transtornos depressivos em mulher em virtude das mudanças
nos papeis tradicionais que ocorrerem nos últimos 50 anos (ANSOLEAGA et al,
2014).
6. Assistência da enfermagem do trabalho
Percebeu-se que atualmente a necessidade de transformação no sistema de
atenção à saúde que privilegie também modificações na assistência a doenças
mental, desconstruindo formas desumanas de lidar com a loucura dentro das
instituições e na sociedade. As práticas e conhecimentos psiquiátricos tradicionais
foram modificados para que novas práticas e teorias fossem criadas para lidar
diretamente com o paciente e não mais com a doenças em si. (BRITO et al, 2008).
E isso tem o sentido de aprender a lidar com diferenças, ver e
escutar o que não é comum aos nossos olhos e ouvidos e,
sobretudo, aprender a conviver com o doente mental. (BRITO et al,
2008).
No âmbito da saúde do trabalhador, uma das possibilidades de aplicação do
conhecimento clinico da enfermagem tem o seu limite nos aspectos culturais dos
indivíduos e nas ações de saúde voltadas para seu ambiente de trabalho. Sendo
assim os trabalhadores devem ter o conhecimento sobre as possibilidades de
prevenção de doenças e de promoção da saúde por meio de mecanismo
organizacionais determinados, sendo este o principal instrumento de trabalho para a
enfermagem. (SOARES et al, 2011).
A depressão tem se tornado cada vez mais frequente entre os trabalhadores e
se faz necessário avaliar o comportamento, para então, se estabelecer um
diagnóstico de enfermagem diferenciado e, a partir dos possíveis diagnósticos,
definir a atuação do enfermeiro na assistência a este trabalhador. Para chegar ao
diagnóstico de enfermagem é preciso colher o histórico de enfermagem, que
fornecerá subsídios para uma assistência individualizada ao trabalhador e
possivelmente a sua família. (COSTA et al, 2013).
No que tange ao trabalhador portuário existe o caráter majoritariamente
preventivo do programa de prevenção de riscos ambientais (PPRA), Serviço
9
Especializado em Segurança e Saúde do Trabalhador Portuário (SESSTP),
instituído pela Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde do Trabalho
Portuário nº 29 (NR-29) e Comissão de Prevenção de Acidentes no Trabalho
Portuário (CPATP), também instituída pela mesma Norma Regulamentadora do
Ministério do Trabalho e Emprego; porém, a prevenção aqui referida é capaz de
subsidiar a promoção da saúde dos trabalhadores, por se entender que a mesma
pode ser definida como uma relação entre os suportes de caráteres educacionais e
ambientais (BRASIL, 1997).
Visam atingir ações e condições de vida que direcionem à saúde. Portanto, o
conhecimento por parte do trabalhador remete ao foco pretendido, que identifica a
relação entre o conhecer e o atuar no ambiente de trabalho, com vistas a promover
condições saudáveis. Tais ações visam à promoção da saúde por meio das ações
de prevenção de doenças, e desta forma a enfermagem possui o papel fundamental,
por constituir as equipes multiprofissionais do SESSTP. (SOARES et al, 2011)
O enfermeiro deve atuar promovendo o bem-estar físico, mental e social do
trabalhador com depressão visando fundamentalmente melhorar a sua qualidade de
vida, bem como, o da sua família amenizando o sofrimento causado devido aos
fatores relacionados à depressão. (COSTA et al, 2013)
Há pouca exploração do ambiente portuário como objeto de pesquisas, bem
como, a necessidade de se conhecer o que é realizado a fim de que a saúde do
trabalhador possa ser reconhecida pelo SUS como sendo de sua responsabilidade e
ainda particularidade da possibilidade da enfermagem atuar no setor em questão de
forma não só preventiva, mas também de investigação do quadro depressivo
instalado. (SOARES et al, 2011)
A partir de diagnóstico de enfermagem mais presentes nos diferentes quadros
de depressão, baseados nos sinais e na sintomatologia apresentada, os
profissionais de enfermagem podem traçar alguns planos de ações que possibilitem
melhorar a qualidade de vida do trabalhador e da família (COSTA et al, 2013).
7. Conclusões
O objetivo deste estudo foi identificar a atuação da enfermagem no cuidado a
depressão do trabalhador portuário após diagnosticada o quadro de depressão, com
a seguinte questão: Quais as ações necessárias no campo da enfermagem para a
intervenção e tratamento do trabalhador portuário quando detectada a depressão? E
para tal foram pesquisados os trabalhadores portuários e suas condições de
trabalho em busca de fatores que contribuem para o diagnóstico de depressão, bem
como a atuação da enfermagem diante deste quadro.
Cabe destacar que é extremamente reduzido o número de estudos acerca do
trabalhador portuário, não tendo sido encontrado nenhum artigo que abordasse
diretamente a depressão e a atuação da enfermagem, quando instalada. Contudo, é
consenso na literatura que o estresse, quando crônico ou excessivo favorece o
surgimento de uma série de prejuízos para saúde física e mental.
Por outro lado, o estresse em doses moderadas e sob o ponto de vista da
organização do trabalho, implica no aumento da motivação e da produtividade. Ao
contrário, pode gerar uma série de problemas, inclusive dificuldades interpessoais e
depressão.
A partir dos estudos acadêmicos obtidos pode-se concluir que os trabalhadores
portuários no aspecto de depressão são tratados de forma preventiva com ações
educacionais quanto a cuidados e organização do trabalho. Entretanto, uma vez
10
instalada a doença não há cuidados ou formas de detecção, onde a enfermagem
possa agir e contribuir com o foco ao objeto humano no processo saúde/doença, e
ainda, desenvolvendo outros estudos na direção da enfermagem na saúde do
trabalhador portuários.
Como limitação da pesquisa têm-se o pouco material bibliográfico sobre o
assunto referente ao trabalhador portuário. Sugere-se então que pesquisas
posteriores aprofundem o tema, esperando-se que as reflexões e as questões
abertas no presente estudo favoreçam o desenvolvimento de novos trabalhos
relativos aos temas de depressão, enfermagem do trabalho e trabalho portuário.
8. Referências bibliográficas
ALMEIDA, Marlise Capa Verde de; CEZAR-VAZ, Marta Regina; ROCHA, Laurelize Pereira e
CARDOSO, Letícia Silveira. Trabalhador portuário: perfil de doenças ocupacionais
diagnosticadas em serviço de saúde ocupacional. Acta Paulista de Enfermagem. Vol.25,
n.2, pp. 270-276. ISSN; 2012. Disponível em <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002012000200018>. Último
acesso em: 21/07/2015.
ANSOLEAGA, Elisa; VEZINA, Michel e MONTANO, Rosa. Sintomas depresivos y distres
laboral en trabajadores chilenos: condiciones diferenciales para hombres y mujeres.
Caderno de Saúde Pública. Vol.30, n.1, pp. 107-118. ISSN 0102-311X, 2014. Disponível
em < http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2014000100107
>. Último acesso em: 21/07/2015.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.
Departamento de Ciência e Tecnologia. Agenda nacional de prioridades de pesquisa em
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