XII SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DA UNAERP CAMPUS GUARUJÁ Outros temas relacionados a Enfermagem Assistência de enfermagem frente à depressão: trabalhador portuário avulso Elizângela Lelis da Silva Acadêmica do Curso de Enfermagem [email protected] Mara Rúbia Ignácio de Freitas Professora Doutora do Curso de Enfermagem [email protected] Este simpósio tem o apoio da Fundação Fernando Eduardo Lee Resumo: O trabalho acadêmico é um estudo bibliográfico com suporte numa leitura explanatória em material de produção cientifica da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) sobre o tema saúde do trabalhador portuário focando depressão. No estudo foram pesquisados os bancos de dados eletrônicos da LILACS, BDENF, SCIELO entre os meses de fevereiro e julho de 2015. Selecionado para estudo os trabalhos acadêmicos no idioma português e espanhol, trabalhos estes produzidos entre os anos de 2000 e 2014. A pesquisa abordou um total de 632 publicações cientificas sobre os temas: trabalhador, depressão, enfermagem e saúde do trabalhador portuário. Do trabalho acadêmico conclui-se que o trabalhador portuário tem assistência de enfermagem apenas de forma preventiva e não quando os sintomas estão instalados. Palavras-chave: Trabalhador. Depressão. Enfermagem. Saúde do trabalhador. Trabalhador portuário. Summary: The Academic work is a bibliographical study that supports the reading explanatory material in scientific production site of the Virtual Health Library (BVS) on the theme health of port workers with a focus on depression. In the study were searched electronic databases LILACS, BDENF, SCIELO between February and July 2015. Selected to study the academic papers in Portuguese and Spanish, these works were produced between 2000 and 2014. The research addressed a total of 632 scientific publications on the topics: labor, depression, nursing and health of port workers. The academic work is concluded that the port workers have nursing care only preventively and not when symptoms are installed. 1 Key words: Worker. Depression. Nursing. Worker's health. Port worker. Seção 4 – Curso de Enfermagem – Artigo Cientifico (TCC). Oral 1. Introdução A saúde do trabalhador integra a área da saúde ocupacional e tem como objetivo o estudo e a intervenção nas relações entre trabalho e a saúde, por meio da elaboração e aplicação de medidas articuladas que visem à promoção, proteção e recuperação da saúde do trabalhador portuário. A enfermagem vem intensificando os investimentos técnicos – científicos para aprofundar seu corpo de conhecimento profissional, com vistas à ampliação das práticas em saúde, acompanhando as necessidades do viver humano nos diferentes ambientes onde atua. Na particularidade da saúde do trabalhador, vem se mostrando cada vez mais premente a atuação profissional entre os distintos ramos produtivos dados a multiplicidade de condições de laborar que colaboram com o ainda constante desenvolvimento de doenças relacionadas ao trabalho (ALMEIDA et al., 2012). Uma das atividades em constante mudanças em razão da tecnologia aplicada e das recentes leis promulgadas para o setor é o dos trabalhadores portuários, ou seja, aqueles que atuam em diferentes categorias profissionais como: capatazia, estiva, conferência de carga, conserto de carga, vigilância de embarcações, bloco e outras atividades afins. Tais atividades produtivas os expõem a diferentes riscos ocupacionais presentes no ambiente de trabalho, como: ruídos, vibrações de corpo inteiro, intempéries, contato com substâncias químicas, levantamento manual de carga, sobrecarga mental em busca de produtividade e utilização de ferramentas muitas vezes inadequadas (ALMEIDA et al., 2012). Segundo Soares et al. (2011), a maioria dos estudos científicos com trabalhadores portuários não é abordado os riscos ambientais que provocam inúmeras doenças nos trabalhadores portuários e avulsos que laboram nos portos, como: exposição climáticas, sol, chuva, frio e calor. Tais trabalhadores desempenham suas funções dia e noite, e estão expostos a vários tipos de doenças que pode ser causada por estas situações adversas, inclusive a de ordem mental. Dentre todos os riscos acima a depressão mereceu destaque na pesquisa uma vez que este fenômeno da saúde é muito importante para o equilíbrio do profissional do porto sendo este o motivo da escolha do tema. Por outro lado, vivenciamos o crescente desenvolvimento do sistema portuário brasileiro, que sem dúvida irá requerer um estudo aprofundado no campo da saúde e da enfermagem para a prevenção e tratamento de diversos males que acometem e acometerão a classe de trabalhadores do segmento portuário e em especial a depressão. Diante deste fenômeno de importância singular para a sociedade cabe um questionamento para o estudo e pesquisa: Quais as ações necessárias no campo da enfermagem para a intervenção e tratamento do trabalhador portuário quando detectada a depressão? A relevância desse tema está atrelada a importância da patologia relacionada ao trabalho portuário que afeta os trabalhadores causando distúrbios de ordem mentais; dentre eles destaca-se a depressão. A sintomatologia patologia é caracterizada por irritabilidade, humor triste, perda de interesse e prazer pelas 2 atividades do dia a dia, o que pode causar sensação de fadiga aumentada, dificuldade de concentração e sono perturbado. A depressão laboral atinge indistintamente a qualquer cargo ou função dentro da atividade portuária invadindo o ambiente familiar que é tão importante para que o trabalhador mantenha uma saúde mental equilibrada. (ALMEIDA et al., 2012). Justifica-se a relevância desse estudo pelo fato do tema está elencado na Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde (ANPPS) do Ministério da Saúde que tem como pressuposto respeitar as necessidades nacionais e regionais de saúde e aumentar a indução seletiva para a produção de conhecimentos e bens materiais e processuais nas áreas prioritárias para o desenvolvimento das políticas sociais. Podemos enquadrar o tema no 18 da agenda que trata da promoção da saúde e em especial no subitem 18.1.4 Exposição diferenciada a situações de risco (ruído, sedentarismo, desemprego, drogadição, obesidade, poluição, dentre outros), segundo condições e modos de vida de grupos populacionais específicos (BRASIL, 2008). O objetivo desta pesquisa será reunir elementos estruturados, identificando e buscando avaliar aspectos das relações entre trabalho e saúde no ambiente do trabalho portuário articulando fatores de ordem biológica, social e psicológica; e das condições e organizações desse trabalho portuário, reconhecidos pela saúde coletiva como fatores de risco ou proteção à saúde laboral e a atuação da enfermagem do trabalho quando tais diagnósticos são concretizados. Tais elementos estruturados deverão ser reunidos sob a ótica da enfermagem do trabalho, procurando identificar e avaliar os aspectos relacionados com os fatores que contribuem para a depressão do trabalhador portuário. Para ser atingido o objetivo geral alguns objetivos específicos necessariamente deverão ser objeto de estudo e análise, e são: estudar o trabalhador portuário e analisar as condições do trabalho; identificar ações que possam causar a depressão e o estresse e pesquisar intervenções necessárias a manter a saúde do trabalhador portuário no tocante a depressão. 2. Metodologia Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, através de um levantamento digital em site acadêmico, apoiado na leitura exploratória do material pesquisado buscando-se conhecer o universo portuário brasileiro, seus atores e a atividade laboral voltada para o trabalho portuário, em especial aquele que poderá gerar distúrbios de ordem mental e consequentemente a depressão. Para a pesquisa bibliográfica foi realizada uma busca de artigos acadêmicos através do portal BVS (Biblioteca Virtual da Saúde) através das bases de dados: SCIELO (Scientific Eletronic Library on line), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e BDENF (Base de dados em Enfermagem). A pesquisa bibliografia tem como base os estudos científicos entre os anos de 2000 a 2014 nos idiomas português e espanhol cujo tema é a atividade portuária e as patologias de depressão, suas consequências e a assistência de enfermagem. O desenvolvimento do trabalho acadêmico de pesquisa foi realizado no período compreendido entre fevereiro a julho de 2015. Foram utilizados os descritores de ciência e saúde (DECS): trabalhadores, depressão, enfermagem e saúde do trabalhador portuário. Os descritores foram cruzados com operador lógico booleano (AND). 3 Para restrição da pesquisa foram utilizados os mesmos filtros em todos os descritores, ou seja: texto completo quando disponível, base de dados LILACS e BENDF, idiomas português e espanhol, limite e ano de publicação de 2000 a 2014. Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) Portal de pesquisa Site web http://bvsalud.org Operador lógico booleano AND Descritores < http://decs.bvs.br > Sinônimos utilizados na pesquisa Trabalhadores Trabalhador do porto, Porto, Trabalho e Portuário Depressão Enfermagem Assistência, Enfermeiro do trabalho e Enfermagem Saúde do trabalhador portuário Filtros empregados Critérios Texto completo Disponível Base de dados LILACS e BDENF Idioma Português e Espanhol Limite Masculino e Feminino Ano de publicação Últimos 15 anos (2000 à 2014) Visualizado Filtros Selecionado 5.784 434 3 Trabalhador do porto AND Saúde mental 61 21 2 Trabalhador AND Porto AND Saúde mental 66 16 2 Trabalhador AND Portuário AND Enfermagem AND Saúde mental 1 1 1 6.810 151 4 137 8 1 Cruzamento Trabalho AND Depressão Depressão AND Enfermagem Assistência AND Enfermeiro do trabalho AND Trabalhador AND Saúde mental Saúde do trabalhador portuário 1 1 1 12.860 632 14 Quadro 1 – Critérios da coleta de dados de interesse a pesquisa acadêmica Fonte: Quadro elaborado pelas Autoras com base no portal BVS. 3. Resultados e discussão Na etapa dos levantamentos do total de 12.860 trabalhos científicos, 632 foram separados através dos critérios de pesquisa, destes apenas 14 estudos foram selecionados para serem utilizados na pesquisa bibliográfica, porém apenas 12 foram utilizados para o estudo haja vista que 1 artigo se repete nos cruzamentos dos descritores e 1 trabalho acadêmico não foi utilizado por não atender os objetivos propostos para a pesquisa (Quadro 1). A seleção dos trabalhos científicos foi através da análise de seus resumos e a utilização na pesquisa foi após a leitura crítica do texto completo. Dentre aqueles estudos científicos pesquisados e que serão utilizados há um escrito no idioma espanhol que foi objeto de tradução livre pela Autora (Quadro 2). 4 Trabalho AND Depressão Descritor (es) >>> Base de dados Sel. Cad Saúde Pública; 30(1): 107-118 2014 LILACS Sim Rev Bras Med; 65(12): 15-25, dez. 2008 LILACS Sim Trabalho e depressão: um estudo CAVALHEIRO, Gabriela; Psico USF; 16(2): 241com profissionais afastados do 2011 LILACS TOLFO, Suzana da Rosa 249, maio-ago ambiente laboral Sim Título Autor (es) Sintomas depressivos e estresse ANSOLEAGA, Elisa; em trabalhadores chilenos: VEZINA, Michel; condicões diferenciais para MONTANO, Rosa homens e mulheres Depressão MICHELON, Leandro; CORDEIRO, Quirino; VALLADA, Homero Publicação, volume, páginas, etc. Ano Continua... ...Continuação 5 Trabalhador do porto AND Saúde mental Descritor (es) >>> Título Publicação, volume, páginas, etc. Autor (es) Ano Base de Utilizado dados Percepção dos trabalhadores avulsos sobre os riscos SOARES et al. ocupacionais no porto do Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil Cad Saúde Publica; 2008 LILACS 24(6): 1251-1259, jun. Sim Análise dos agentes estressores e a expressão do estresse entre CARDOSO et al. trabalhadores portuários avulsos Estud. psicol. (Campinas); 31(4): 507-516, out.-dez. Sim 2014 LILACS Trabalhador AND Porto AND Saúde mental Descritor (es) >>> Título Publicação, volume, páginas, etc. Autor (es) Ano Base de Utilizado dados Análise dos agentes estressores e a expressão do estresse entre CARDOSO et al. trabalhadores portuários avulsos Estud. Psicol. (Campinas); 31(4): 507-516, out.-dez Depressão em trabalhadores de linhas elétricas de alta tensão Rev. Bras. Epidemiol; 2012 LILACS 15(2): 235-245, jun. Descritor (es) >>> SOUZA et al. Sim Trabalhador AND Portuário AND Enfermagem AND Saúde mental Título Trabalhador portuário: perfil de doenças ocupacionais diagnosticadas em serviço de saúde ocupacional 2014 LILACS Sim (*) Publicação, volume, páginas, etc. Autor (es) Acta Paul. Enferm; 25(2): 270-276 ALMEIDA at al. Ano Base de Utilizado dados 2012 LILACS Sim Depressão AND Enfermagem Descritor (es) >>> Título Publicação, volume, páginas, etc. Autor (es) Ano Base de Utilizado dados Depressão: experiência de pessoas que a vivenciam na pós- VIEIRA, Cintia Adriana modernidade São Paulo; s.n; dez. 2005 BDENF Não Depressão, o mal do século: de que século? GONÇALVES et al. Rev. Enferm. UERJ; 15(2): 298-304, abr.jun. 2007 BDENF Sim Avaliação dos sintomas de ansiedade e depressão em fibromiálgicos SANTOS et al. Rev Esc Enferm USP; 46(3): 590-596, jun. 2012 LILACS Sim Rev. Pesq. Cuid. Fundam. (Online); 5(5, n. esp): 45-51, dez. 2013 BDENF Sim Atuação do enfermeiro no quadro de depressão infantil em CAPSi: COSTA et al. abordagem diagnóstica de enfermagem Descritor (es) >>> Assistência AND Enfermeiro do trabalho AND Trabalhador AND Saúde mental Título A reforma psiquiátrica e a assistência prestada por profissionais em um serviço substitutivo em saúde mental Autor (es) BRITO et al. Reme Rev. Min. Enferm; 12(4): 494500, out/dez Ano Base de Utilizado dados 2008 BDENF Sim Saúde do trabalhador portuário Descritor (es) >>> Título Prevenção de agravos e promoção da saúde: um estudo com trabalhadores portuários Publicação, volume, páginas, etc. Autor (es) SOARES et al. Publicação, volume, páginas, etc. Texto & contexto Enferm; 20(3): 225234, jul.-set. Ano Base de Utilizado dados 2011 LILACS Sim Legenda: (*) trabalho cientifico que se repetiu em mais de um cruzamento Final do Quadro. Quadro 2 – Cruzamento de descritores através do Portal BVS. Fonte: Quadro elaborado pelas Autoras. 4. Trabalhador portuário avulso 6 O processo de modernização portuária no Brasil visou à inserção do País em uma economia globalizada, por meio do aumento da produtividade, da maior agilidade no embarque e desembarque e da diminuição de custos operacionais dos serviços portuários. Nesse contexto, as atividades nos portos estão sempre em constante modificações e obriga aos trabalhadores que ali desenvolvem suas atividades a constantes desafios para adaptar-se às novas demandas do mercado. Como exemplo dessas modificações podemos citar o Porto de Santos, o maior da América Latina, que constantemente é instado a remodelar suas formas de organização laboral (CARDOSO et al., 2014). O modelo portuário que no passado era monopólio privado ou público passando por modernização em 1993 com o advento da Lei nº 8.630 que foi substituída pela Lei nº 12.815 - conhecida como Lei de Modernização dos Portos que continuou as já desencadeadas mudanças significativas na estrutura, dinâmica e cultura do trabalho nos portos brasileiros (BRASIL, 2013). Com o processo de modernização e a nova gestão do trabalho portuário, entre outras mudanças, ocorreu o fim das categorias profissionais tradicionais e a criação da figura do Trabalhador Portuário Avulso (TPA) vinculado ao então criado Órgão Gestor de Mão de Obra (Ogmo) que atua como uma espécie de setor de Recursos Humanos para os Operadores Portuários que são empresas responsáveis pela operação nos portos e navios (BRASIL, 2013). Os trabalhadores portuários avulsos são aqueles que prestam serviços de forma eventual, sem vínculo empregatício, para várias operadoras portuárias e estão elencados na lei de modernização dos portos. Tais serviços são requisitados através do órgão gestor de mão de obra do trabalhador portuário avulso (SOARES et al, 2008). Segundo pesquisa de Cardoso et al (2014), sobre o trabalhador portuário e a nova sistemática de trabalho pode verificar que os relatos dos TPAs permitem concluir que o processo de modernização promoveu muitas mudanças com impactos considerados negativos para o trabalhador portuário, dentre elas, destacam-se: estresse físico e/ou psicológico, presença constante de sobrecarga física; exposição a ambientes agressivos a saúde; relação de confronto com o empregador; equipe de trabalho em constante alteração; redução da mão de obra; falta de equidade no trabalho; perda da autonomia no trabalho; remuneração reduzida; redução das horas em família e lazer. 5. Depressão no trabalhador As mudanças econômicas e tecnológicas, experimentadas pela globalização nas últimas décadas, mudaram o ambiente e as relações entre capital e trabalho. As mudanças trouxeram grande impacto na vida do trabalhador em razão das adversidades impostas por essa nova dinâmica trabalhista, tornando-o mais suscetível ao desenvolvimento de sintomas de estresse (CARDOSO et al., 2014). Alguns podem pensar que a depressão é uma doença pós-moderna, pois está sendo muito comentada nos dias atuais. Contudo, ela não o é uma vez que a depressão era considerada uma doença muito similar como a vimos atualmente com sintomas de perda de sono, falta de apetite, desejo de morte. No passado buscavase a origem biológica da patologia através de tais sintomas (GONÇALES et al 2007). 7 Segundo Cavalheiro et al (2014), a depressão pode ser conceituada como o conjunto de manifestações que envolvem a necessidade de isolamento, a presença de pensamentos negativos, desanimo, ansiedade, fadiga, insônia, sentimento de tristeza, angustia, muito medo e vontade de chorar. Os estudos sobre a saúde e trabalho no último século passaram a apontar a depressão e seus processos característicos nas relações com o trabalho como sendo objeto de preocupação social, organizacional e pessoal. A depressão pode ser entendida como um conjunto de reações psicofisiológicas e comportamentais complexas, cuja função é adaptar o organismo a uma situação que ameace a homeostase, ou seja, o estresse não necessariamente é patológico. O desequilíbrio ocorre quando o indivíduo necessita reagir a alguma condição que ultrapasse sua capacidade adaptativa. Portanto, o estresse é uma resposta necessária à manutenção da própria vida (CARDOSO et al., 2014). A simples mudança numa simples escala de trabalho são favoráveis ao aparecimento de estresse e outros sintomas psíquicos. Em estudo relativo às condições de trabalho dos trabalhadores portuários do porto de Santos realizado por Cardoso et al. (2014), foi detectado uma série de problemas a saúde em razão de novas práticas, embora a modernização tenha reduzido o desgaste físico, como também as condições precárias de muitos navios, máquinas e equipamentos que contribuíram significantemente para o aumento do estresse. O desgaste de natureza mental foi observado na pesquisa com os trabalhadores portuários como o principal determinante do estresse. Por outro lado, os riscos inerentes à saúde e à segurança individual e coletiva nas atividades desenvolvidas por trabalhadores avulsos analisados no estudo de Soares et al. (2008), no porto do Rio Grande do Sul (RS), apontaram o uso de drogas no trabalho (álcool, maconha, cocaína e crack), a constante possibilidade de queda de objetos suspensos, a presença de ruídos e a exposição a intempéries, bem como as próprias características das relações interpessoais estabelecidas entre os membros da equipe de trabalho (ternos) como uma forma clara de contribuição para o estresse do trabalhador. A simples mudança na organização e a dinâmica de seleção para o trabalho, a presença de conflitos (Ogmo/trabalhadores, operadoras portuárias/trabalhadores) e a necessidade em determinadas circunstâncias de fazer mais de uma jornada de trabalho são agentes estressores presentes no trabalho portuário segundo Cardoso et al. (2014) em sua pesquisa com trabalhadores dom porto, o relato de alguns dos participantes da pesquisa foram os seguintes: Mais desgaste assim no trabalho, não é físico, é mais mental... é essa ansiedade de querer ganhar, de querer produzir..."; "... uma selvageria no ponto de escala, um querendo trabalhar mais que o outro; não tem quem não se estresse com a escala"; e "É naquele pensamento de querer agilizar para produzir que acontecem acidentes. Um subiu no navio, pelo contêiner, e caiu, morreu. Ainda segundo Cardoso et al. (2014) a sazonalidade do trabalho ainda é vista como um fator estressor. Esse fator, somado à forma de seleção e à remuneração por produtividade, exige a presença constante do trabalhador no local de recrutamento em busca de trabalho. 8 A ansiedade e a depressão interferem no dia-a-dia do trabalhador havendo uma correlação entre a piora do condicionamento físico, funcionalidade social e emocional, dor e percepção da saúde em geral (SANTOS et al, 2012). Os quadros depressivos caracterizam-se por alteração do humor em direção ao polo depressivo e afeta as funções psíquicas com intensidade variada. Dessa forma, o quadro clínico dos transtornos depressivos pode apresentar-se de maneiras distintas. A faixa etária e o sexo também influenciam, bem como pela presença de outras condições clínicas associadas. Os transtornos depressivos podem ocorrer em todas as culturas e níveis socioeconômicos e podem surgir em qualquer período da vida. (MICHELON et al, 2008) A depressão é um tipo de transtorno de humor tendo como características a tristeza ou humor deprimido, a perda de interesse, o sentimento de desvalorização, como fatores prevalentes. Expressões de raiva, de descontentamento, de oposição, de desprezar, podem ser na maioria dos casos, indicadores de sintomatologia. (CASTO et al, 2013). A depressão foi classificada mundialmente como a principal causa de incapacidade em pessoas ente 15 e 44 anos. A literatura mostra consistentemente maior prevalência de transtornos depressivos em mulher em virtude das mudanças nos papeis tradicionais que ocorrerem nos últimos 50 anos (ANSOLEAGA et al, 2014). 6. Assistência da enfermagem do trabalho Percebeu-se que atualmente a necessidade de transformação no sistema de atenção à saúde que privilegie também modificações na assistência a doenças mental, desconstruindo formas desumanas de lidar com a loucura dentro das instituições e na sociedade. As práticas e conhecimentos psiquiátricos tradicionais foram modificados para que novas práticas e teorias fossem criadas para lidar diretamente com o paciente e não mais com a doenças em si. (BRITO et al, 2008). E isso tem o sentido de aprender a lidar com diferenças, ver e escutar o que não é comum aos nossos olhos e ouvidos e, sobretudo, aprender a conviver com o doente mental. (BRITO et al, 2008). No âmbito da saúde do trabalhador, uma das possibilidades de aplicação do conhecimento clinico da enfermagem tem o seu limite nos aspectos culturais dos indivíduos e nas ações de saúde voltadas para seu ambiente de trabalho. Sendo assim os trabalhadores devem ter o conhecimento sobre as possibilidades de prevenção de doenças e de promoção da saúde por meio de mecanismo organizacionais determinados, sendo este o principal instrumento de trabalho para a enfermagem. (SOARES et al, 2011). A depressão tem se tornado cada vez mais frequente entre os trabalhadores e se faz necessário avaliar o comportamento, para então, se estabelecer um diagnóstico de enfermagem diferenciado e, a partir dos possíveis diagnósticos, definir a atuação do enfermeiro na assistência a este trabalhador. Para chegar ao diagnóstico de enfermagem é preciso colher o histórico de enfermagem, que fornecerá subsídios para uma assistência individualizada ao trabalhador e possivelmente a sua família. (COSTA et al, 2013). No que tange ao trabalhador portuário existe o caráter majoritariamente preventivo do programa de prevenção de riscos ambientais (PPRA), Serviço 9 Especializado em Segurança e Saúde do Trabalhador Portuário (SESSTP), instituído pela Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde do Trabalho Portuário nº 29 (NR-29) e Comissão de Prevenção de Acidentes no Trabalho Portuário (CPATP), também instituída pela mesma Norma Regulamentadora do Ministério do Trabalho e Emprego; porém, a prevenção aqui referida é capaz de subsidiar a promoção da saúde dos trabalhadores, por se entender que a mesma pode ser definida como uma relação entre os suportes de caráteres educacionais e ambientais (BRASIL, 1997). Visam atingir ações e condições de vida que direcionem à saúde. Portanto, o conhecimento por parte do trabalhador remete ao foco pretendido, que identifica a relação entre o conhecer e o atuar no ambiente de trabalho, com vistas a promover condições saudáveis. Tais ações visam à promoção da saúde por meio das ações de prevenção de doenças, e desta forma a enfermagem possui o papel fundamental, por constituir as equipes multiprofissionais do SESSTP. (SOARES et al, 2011) O enfermeiro deve atuar promovendo o bem-estar físico, mental e social do trabalhador com depressão visando fundamentalmente melhorar a sua qualidade de vida, bem como, o da sua família amenizando o sofrimento causado devido aos fatores relacionados à depressão. (COSTA et al, 2013) Há pouca exploração do ambiente portuário como objeto de pesquisas, bem como, a necessidade de se conhecer o que é realizado a fim de que a saúde do trabalhador possa ser reconhecida pelo SUS como sendo de sua responsabilidade e ainda particularidade da possibilidade da enfermagem atuar no setor em questão de forma não só preventiva, mas também de investigação do quadro depressivo instalado. (SOARES et al, 2011) A partir de diagnóstico de enfermagem mais presentes nos diferentes quadros de depressão, baseados nos sinais e na sintomatologia apresentada, os profissionais de enfermagem podem traçar alguns planos de ações que possibilitem melhorar a qualidade de vida do trabalhador e da família (COSTA et al, 2013). 7. Conclusões O objetivo deste estudo foi identificar a atuação da enfermagem no cuidado a depressão do trabalhador portuário após diagnosticada o quadro de depressão, com a seguinte questão: Quais as ações necessárias no campo da enfermagem para a intervenção e tratamento do trabalhador portuário quando detectada a depressão? E para tal foram pesquisados os trabalhadores portuários e suas condições de trabalho em busca de fatores que contribuem para o diagnóstico de depressão, bem como a atuação da enfermagem diante deste quadro. Cabe destacar que é extremamente reduzido o número de estudos acerca do trabalhador portuário, não tendo sido encontrado nenhum artigo que abordasse diretamente a depressão e a atuação da enfermagem, quando instalada. Contudo, é consenso na literatura que o estresse, quando crônico ou excessivo favorece o surgimento de uma série de prejuízos para saúde física e mental. Por outro lado, o estresse em doses moderadas e sob o ponto de vista da organização do trabalho, implica no aumento da motivação e da produtividade. Ao contrário, pode gerar uma série de problemas, inclusive dificuldades interpessoais e depressão. A partir dos estudos acadêmicos obtidos pode-se concluir que os trabalhadores portuários no aspecto de depressão são tratados de forma preventiva com ações educacionais quanto a cuidados e organização do trabalho. Entretanto, uma vez 10 instalada a doença não há cuidados ou formas de detecção, onde a enfermagem possa agir e contribuir com o foco ao objeto humano no processo saúde/doença, e ainda, desenvolvendo outros estudos na direção da enfermagem na saúde do trabalhador portuários. Como limitação da pesquisa têm-se o pouco material bibliográfico sobre o assunto referente ao trabalhador portuário. Sugere-se então que pesquisas posteriores aprofundem o tema, esperando-se que as reflexões e as questões abertas no presente estudo favoreçam o desenvolvimento de novos trabalhos relativos aos temas de depressão, enfermagem do trabalho e trabalho portuário. 8. Referências bibliográficas ALMEIDA, Marlise Capa Verde de; CEZAR-VAZ, Marta Regina; ROCHA, Laurelize Pereira e CARDOSO, Letícia Silveira. Trabalhador portuário: perfil de doenças ocupacionais diagnosticadas em serviço de saúde ocupacional. Acta Paulista de Enfermagem. Vol.25, n.2, pp. 270-276. ISSN; 2012. 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