A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO IDENTIDADE RECONSTRUÍDA, DIREITO CONQUISTADO? TERRITÓRIO IDENTITÁRIO COMO INSTRUMENTO DE ACESSO ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS AO POVO KAIXANA DA COMUNIDADE SÃO FRANCISCO EM TONANTINS-AM. SUZANA CARVALHO LIMA1 Resumo: O presente trabalho visa compreender a articulação entre o espaço em uso pelos indígenas Kaixana, em uma área urbana da cidade de Tonantins, localizada na mesorregião do Alto Solimões, no interior do Amazonas, partindo da vivência na referida comunidade, surge o interesse pela temática Índios urbanos, identidade Kaixana e a luta pelo território em Tonantins-Am. Neste sentido, têm-se como objetivo, analisar a reconstrução da identidade étnica na produção do espaço geográfico como elemento territorial entre os indígenas Kaixana e sua influência sociocultural no acesso as políticas públicas. A pesquisa é desenvolvida através de metodologias qualitativa, quantitativa e descritiva dos dados coletados em campo. Assim, ela estará estruturada a partir da consulta em fontes bibliográficas, e em fontes secundárias, tais como a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e Associação dos Indígenas, partindo da compreensão da autonomia do grupo indígena em demarcar a área como seu território. Palavras - chave: Comunidade São Francisco, identidade reconstruída, demarcação territorial. Abstract: This study aims to understand the relationship between the space in use by indigenous Kaixana in an urban area of the city of Tonantins, located in the middle region of Alto Solimões, in the interior of Amazonas, based on the experience in that community, there is the interest in thematic urban Indians, Kaixana identity and the struggle for territory in Tonantins-Am. In this sense, there has as objective to analyze the reconstruction of ethnic identity in the production of geographical space as a territorial element between Kaixana Indians and their socio-cultural influence on public access policies. The research is developed through qualitative methodologies, quantitative and descriptive data collected in the field. Thus, it will be structured from the query in bibliographic sources, and secondary sources such as the National Indian Foundation (FUNAI) and Association of Indigenous, based on the understanding of the autonomy of the indigenous group in demarcating the area as its territory. Key - words: Community San Francisco, reconstructed identity, territorial demarcation. 1- INTRODUÇÃO O presente trabalho visa compreender a articulação entre o espaço em uso pelos indígenas Kaixana para isso é preciso estabelecer os conceitos de identidade e também problematizar o tema na medida em que constrói-se o objeto de análise e assim concretizar a interação destes em um determinado território. Considera-se importante a abordagem do grupo étnico Kaixana no direito a participar das aplicações do governo aos benefícios para povos e comunidade tradicionais, 1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Geografia, Regional Catalão - UFG. E-mail: suzanalima_tnt@hotmail. Bolsista da Fundação de Amaparo à Pesquisa do Estado do Amazonas -FAPEAM 2218 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO contudo entende-se que para isso é preciso estabelecer o questionamento: o grupo indígena Kaixana garantiria o acesso às políticas públicas na Comunidade São Francisco através da sua identidade? Para isso, as contribuições das teorias proporcionam subsídios, considerando, sobretudo, que o primeiro contato foi com as leituras bibliográficas e documentos sobre a localidade após seguiu-se para a pesquisa de campo, novos avanços teóricos e metodológicos foram estruturados, considerando que o conhecimento é construído mediante as diversas situações num espaço vivido. Segundo Demo (1941, p.21): “[...] teoria faz parte inevitável de qualquer projeto de captação da realidade, a começar pelo desafio de definir o que seja real”. Tonantins está localizado na margem esquerda do rio Solimões, na foz do rio Tonantins, com área territorial de 6.433 Km², 3º 49’ 56”, longitude sul; 67º 53’ 58”, latitude Oeste de Greenwich e altitude de 40 metros acima do nível do mar. Tem clima tropical chuvoso úmido, temperatura que varia de 40°C a 5°C no mês de julho, com média de 25°C. O município de Tonantins apresenta ao todo 59 Comunidades, destas, 36 são indígenas, homologadas e reconhecidas, sendo predominantes nessa área as etnias Kaixana, Kokama, Ticuna entre outras (IBGE, 2014). Entre elas a Comunidade São Sebastião que é demarcada e reconhecida como Comunidade Indígena Kaixana. No entanto, na Comunidade São Francisco residem aproximadamente 03 mil habitantes, entre estas pessoas há a auto identificação da etnia Kaixana, pessoas que deixaram de se auto identificar e pessoas que não se inserem na temática abordada. O interesse pela pesquisa se deu por ser moradora da Comunidade São Francisco, fato que permiti aprofundar observações e indagações para a compreensão da (re)construção identitária do Kaixana através de conceitos teóricos e experiências vivenciadas. Nesta pesquisa, utilizou-se também a caracterização da área, baseada na metodologia qualitativa e quantitativa, que orienta o olhar sobre a realidade investigada. Para a obtenção de dados aplicou-se formulários e questionários no intuito de obter informações relevantes para análise e tabulações de dados. Sobre a auto identificação do grupo Kaixana e o processo de demarcação territorial, tem gerado disputa pelo domínio e apropriação da área em estudo pelos 2219 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO indígenas e não indígenas. Na pesquisa realizou-se uma descrição do processo de autoafirmação do grupo indígena Kaixana como referência de identidade étnica/territorial, discorrendo sobre o processo da construção histórica da identidade Kaixana no meio urbano da Comunidade. O estudo sobre identidade étnica vem sendo um tema importante nas ciências sociais, pois trata especificamente a relação indivíduo e sociedade [...]” (ATHIAS, 2005, p. 2). Considerando estes aspectos, analisa-se a condição política e identitária do grupo étnico Kaixana no município de Tonantins, especificamente sobre a construção historiográfica do território que o povo indígena Kaixana territorializa. Segundo IBGE (2013), as origens do município de Tonantins remotam a 1813, quando é fundada à margem do rio Solimões a igreja em louvor ao Divino Espírito Santo. Formando-se povoado, pertenceu ao município de Tefé e, 1º de Dezembro de 1938 ao município de São Paulo de Olivença, quando este é desmembrado daquele em 19 de Dezembro de 1955, Lei Estadual nº 96, e passou a pertencer ao município de Santo Antônio do Iça. No entanto em 10 de Dezembro de 1981, seguido da ementa Constitucional nº 12, alcançou sua emancipação municipal com o nome de antiga vila de Tonantins (Tonantins Velha), forma-se a vila Nova de Tonantins, que se transforma no núcleo polarizador do desenvolvimento do distrito, Freguesia criada com a denominação de Tonantins. O vilarejo Tonantins, que teve os nomes de Tonantins Velho, Vila Velha de Tonantins, e hoje denominada Comunidade São Francisco, foi fundado em 1728, pelo missionário Carmelita, Frei Matias Diniz, que foi assassinado pelos próprios indígenas da aldeia os Caiuvicenas que com o acontecido fugiram para o alto rio Tonantins. O lugarejo só veio a renascer entre 1774/1775 por índios Caiuvicenas, Passés e Tikunas. Em 1848, frei Piedro da Ceriana e o bispo D. José Alfonso Moraes Torres, construíram uma pequena capela dedicada a São Pedro Apóstolos eles eram frei de Úmbria-Itália, em 1908 o comerciante Pompeu de Azevedo construiu uma capelinha dedicada a São Francisco das Chagas e em 1913, Frei Giocondo da Soliera, por ordem da do prefeito apostólico, Monsenhor Evangelista, ficou responsável pela pastoral da comunidade de Tonantins (NASCIMENTO, 2006, p. 19). 2220 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO De início os indígenas Kaixana habitavam o médio rio Tonantins aproximadamente no afluente tauapo2 território denominado pelos indígenas, na atualidade pertencente à Comunidade São Francisco o grupo ocupa esta área desde seus antepassados, logo sua ocupação do território Tonantinense tem bastante influencia na produção sociocultural através da sua contribuição como suas produções de vasos de argila, hábitos alimentares, danças típicas, lendas e costumes, também conhecida pelo forte sotaque da linguagem dos Kaixana pelas palavras e expressões como “é mesmo” no final de cada frase concordando como frase final, e o “hum, hum” ou então pacerozinho3 usado nas conversas entre amigos como forma de expressões utilizadas entre os moradores da comunidade tanto pelos que se auto identificam como indígenas como pelos não indígenas. “O que torna possível antropologia das relações interrétnicas é o fato dos grupos étnicos não surgirem do isolamento geográfico, mas de processos sociais produtores da diferença cultural” (SILVA, 2005, p, 03). Cada povo tem sua cultura e nela suas expressões populares como elemento étnico. Com a consolidação do município a população urbanizava as áreas próximas às margens do rio Solimões e do rio Tonantins, ocupação realizada por indígenas e não indígenas valorando sua etnia e apropriando os costumes tradicionais a uma relação social entre povos. Em Tonantins, há a presença dos indígenas da etnia Kokama nas áreas ribeirinhas e na sede do município, têm-se como identificação das terras indígenas Kokama: Comunidade São Sebastião da Missão, Santa Rosa, São João Batista do Muriá, Novo Israel, Nossa Senhora de Nazaré, Anarucu, O senhor é meu pastor, São José do Amparo, no entanto, têm-se o Igarapé do Manaca (em área urbana). Já o povoamento dos indígenas Kaixana dar-se nas comunidades ribeirinhas. Bom Futuro, Espirito Santo das Panelas, Espirito Santo, Espirito Santo Pukaá, Jerusalém, Santa Maria, Santa Vitória, São Francisco do Muriá, São Francisco de Tonantins, São Cristóvão, São Lázaro e São Sebastião. Destaca-se que as comunidades citadas no município de Tonantins não existem somente populações étnicas Kaixana mais também grupos étnicos Kokama 2 3 Esse termo “tauapo” é designado pelos comunitários como nome do afluente do rio Tonantins. Vocabulário utilizado pelos comunitários. 2221 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO e Tikuna e entre outros, embora na comunidade São Francisco ocorra apenas à afirmação Kaixana, nossa abordagem refere-se à reconstrução da identidade desse grupo em São Francisco. As comunidades territorializadas pela população indígena Kaixana encontram-se nas áreas ribeirinhas do município de Tonantins. Hoje a presença desses povos é frequentemente encontrada nos municípios do Alto Solimões como Santo Antônio do Iça, Japurá, Jutaí a ocupação dos povos tradicionais em um território dá aos mesmos a autonomia de declarar e firmar sua etnia, diante disso o grupo étnico Kaixana através da sua auto identificação busca à apropriação de uso e poder do território. De acordo com o Conselho Indigenista Missionário – Cimi Norte I, existem treze terras ocupadas por aquele povo, mas apenas “Mapari”, no município de Jutaí, e “São Sebastião”, em Tonantins, constam na lista oficial da Fundação Nacional do Índio – Funai. Outras onze encontram-se em análise e estudo. 2.0 Discussão sobre Aspecto sociohistórico da Comunidade São Francisco A Comunidade São Francisco está localizada a oeste do município de Tonantins, a margem esquerda do rio Solimões, e ao norte do rio Tonantins. A localização desta comunidade fica 3 Km distante do centro da cidade fazendo via por uma estrada, no entanto esse motivo ocasiona a urbanização dessa área. Seus primeiros habitantes eram indígenas Caiuvicenas que hoje são chamados de Kaixana esses contribuíram com a formação da comunidade. Na contribuição de Lima (2005), Comunitário é um termo de atribuição para identificar aquele que mora numa comunidade e dela participa, podendo ser utilizado por um morador para designar os demais. Vale destacar, que os comunitários em sua maioria na pesquisa realizada se auto identificavam como Kaixana, porém depois de encontros e reuniões que tinham como objetivo o consentimento dos comunitários em demarcar a área houve a dispersão dos moradores por não aceitarem a demarcação, sobretudo daqueles que não se identificaram como indígenas. Seguido desse fato ocorrido no ano de 2010, os comunitários apresentaram dúvidas em adotar a afirmação étnico-identitária, ao mesmo tempo solicitaram das lideranças do grupo Kaixana a retirada de seus nomes da ata dos 2222 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO cadastrados como indígenas pertencente ao grupo Kaixana. Alguns membros da comunidade se prontificaram em fazer uma pesquisa de quantas pessoas aceitavam a demarcação e quantos não para ter em média o número dos comunitários Kaixana ou se a maioria era comunitários que deixaram de se auto identificarem. É importante também, destacar que assim como há comunitários envolvidos no processo de reconstrução identitária, há também comunitários que não se envolveram com a temática sobre a apropriação do território como elemento de reconhecimento das identidades, moradores locais que em momento algum se auto identificaram Kaixana. Portanto, o processo de demarcação da Comunidade São Francisco, na afirmação de uma parte dos moradores, é um objetivo a ser conquistado para garantir futuras políticas públicas aos moradores que esperam poder exerce seus direitos através da identidade reconstruída no território. Nos territórios amazônicos é constante a presença de auto identificação entre os povos e comunidades tradicionais sobre a identidade étnica, havendo a presença de conflitos sociais entre os que convivem em áreas urbanas, as populações residentes na comunidade encontram-se indígenas que se auto identificam e não indígenas também como afirmado. O grupo étnico Kaixana pratica a valorização da cultura indígena através de seus hábitos, culturas, costumes e crenças, ou seja, não há uma possível divisão de cultura entre os moradores da comunidade, e sim práticas e hábitos singulares e característicos à sociedade local que compartilha dos mesmos costumes socioculturais. Observa-se nas figuras 1 e 2 a Comunidade São Francisco e suas transformações locais, e através destas relaciona-se a ocupação do grupo na década de 80, como a principal influência dada na ocupação desta área através dos jesuítas que visitavam as comunidades do rio Solimões e praticavam a religiosidade nestes locais. 2223 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Figura 01: Comunidade São Francisco em1970. Fonte: Concedida pelos moradores na pesquisa de campo 2015. Figura 02: Comunidade São Francisco em 2014. Fonte: Pesquisa de Campo 2015. Na formação do território considera-se a transformação através de movimentos sociais que interferem no aumento demográfico dos povos indígenas da comunidade. Consiste em apenas um vilarejo em 1913 que na atualidade tornou-se comunidade São Francisco. Segundo Itacaramby, (2006, p.1) discorre que; As primeiras notícias da ocupação de índios Kaixana na região do Alto Solimões datam de 1691, ano no qual Samuel Fritz elaborou o mapa da bacia amazônica com plotagem aproximada de vários agrupamentos indígenas. Muito embora, no mapa referido, o local de ocupação dos Kaixana tenha sido plotado apenas às margens do rio Tonantins, onde ainda moram seus descendentes, são várias as evidências que apontam para as antiguidades da ocupação na extensão de terra firme que vai do rio Tonantins ao igarapé Coperçu. No entanto, conforme as próprias fontes bibliográficas da época nos permitem reconstituir, os índios Kaixana foram massacrados, escravizados e, muitos deles, expulsos de seu território tradicional logo no início dos confrontos entre Espanha e Portugal pela posse da Amazônia. No ano de 1697, por exemplo, Samuel Fritz (Porro, 1992; Fritz,1922) relata ter tido conhecimento sobre a intenção de agentes da colonização e missionários portugueses de “subir até a ribeira dos Cayuisana [Caixana], que chamam Canaria, para lá dar princípio a uma nova fortaleza e dessa forma fazer-se donos daquelas províncias”. Cabe ressaltar que Canaria era o nome dado pelos portugueses em referência à aldeia dos Caixana próxima à foz do rio Tonantins. Não há notícias se a intenção dos portugueses, acima referida, de construir uma fortaleza na terra dos Kaixana, em Tonantins, fora de fato concretizada. No entanto, o jesuíta Samuel Fritz (1922) registrou que, em 1702, sem elementos para oferecer resistência, índios Caixana e Guerreiros foram capturados pelos portugueses, os quais entraram em suas aldeias armados. Na ocasião, alguns desses índios foram assassinados por não se renderem aos invasores. No entanto observa-se à temática da reconstrução da identidade e o acesso às políticas públicas de acordo com as experiências da etnia Kaixana e sua 2224 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO influência na dinamicidade da Comunidade São Francisco, analisaram os elementos contribuintes na formação desse território, com ênfase na data de 1697, em que os Kaixana tiveram que abandonar sua terra devido à invasão de Portugueses mantendo-os como escravos (SAMUEL FRITZ, 1922, apud ITACARAMBY, 2006). Na comunidade ainda é presente as lembranças dos antepassados da etnia através de artefatos encontrados na mata onde é realizada a extração de madeira, caça e pesca pelos moradores. Dessa maneira é enfatizada pelo grupo a auto identificação a partir da reconstrução histórica vivenciada em décadas pelos seus primeiros habitantes. Através desta prática garantiria o direito que os pais, avós e bisavós não alcançaram o acesso às políticas públicas. Para isso vale ressaltar que a comunidade não é área demarcada indígena, e que segundo o relato dos Kaixana está em processo de estudo da terra, o que torna-se fundamental para o grupo étnico pois, é através da demarcação que os comunitários teriam a possível garantia no acesso as políticas públicas. 3. RESULTADOS E CONCLUSÕES Sobre a discursão da identificação da área em estudo, apresenta-se reflexões sobre a problemática decorrente ao acesso as políticas públicas através da auto identificação étnica do grupo Kaixana situado em área urbana na atual comunidade São Francisco. Devido a não demarcação do território indígena Kaixana, têm-se como elo principal postulado pelo grupo étnico que a demarcação da comunidade os beneficiará nas práticas das ações governamentais. Uma vez que, ao tentar qualquer benefício os mesmos encontram dificuldades devido à comunidade ainda está em processo de demarcação territorial. Esta temática envolve também a nomeação da área em estudo, constituindo que os indígenas a denominam como comunidade e os nãos indígenas de bairro São Francisco. A partir desta reflexão entende-se por comunidade o conceito postulado por Aulete, (2011); no contexto geográfico dispõem que comunidade é o habitat em que os grupos convivem e compartilham suas crenças, culturas, religiões e tradições. Já a denominação de bairro é referente às divisões regionais de uma cidade, é relatado 2225 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO pelos entrevistados que a designação de bairro é pôr os povos não indígenas negarem a demarcação da área como terra indígena. Segundo Alves (2010, p 8). O nome dos lugares quase sempre é atribuído a alguma característica física ou humana, relacionadas ao simbólico e ao lúdico da população desse lugar, enfim a peculiaridade desses lugares relacionam-se em questões étnicas, alegorizam, questões religiosas ou atributos físicos ou atributos indígenas. A Comunidade São Francisco é denominada pelos indígenas residentes na própria, devido a sua localização e seus elementos físicos naturais. Tendo como homenagem ao padroeiro da comunidade, São Francisco das Chagas, sua população por ser religiosa na crença católica adotou este para ser reconhecida por todos. A atividade cultural deste povo é de maneira diversificada nas expressões e manifestações das práticas da identidade territorial, para isso temos a contribuição de Silva (2008), quando afirma que a cultura assume a formas diversas através do tempo e espaço, e que esta diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade das identidades, assim como nas expressões culturais dos povos e das sociedades que formam a humanidade. As práticas das atividades culturais são formas de expressões de cada povo, sendo sua forma de interpretar os elementos culturais através de símbolos e manifestações de caráter único de um determinado grupo social. De acordo com a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais - PNPCT (2007), O reconhecimento à valorização e o respeito das atividades socioculturais dos povos e comunidades tradicionais devem ser de acordo com os modos de vida e através da sua dinâmica social de maneira que não haja desrespeito sobre as diferenças das comunidades ou povos. As ações voltadas à valorização dos povos indígenas possibilita à eles o poder de manifestarem seus aspectos políticos sociais sobre os direitos que os grupos étnicos possuem sobre a sociedade, ocorrendo a valorização desses povos através da auto identificação e reconhecimento nos setores do governo local. A construção do espaço vivido se dá por diversas categorias de análise, os povos indígenas em sua ocupação geográfica estão localizados em várias áreas da 2226 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO região amazônica, tendo uma diversidade étnica no espaço geográfico e constrói sua própria identidade territorial, através das suas simbologias e hábitos tradicionais. Os ambientes possuem singularidades diferenciadas, logo, existem formas distintas de uso de acordo com sua finalidade, estas interpretações são possíveis pela atribuição à dimensão simbólica que constituem as representações sociais dos indivíduos, ou seja, a maneira como reconhecem, delimitam e utilizam os ambientes, sendo elementos sociais fundamentais para a consolidação de territórios (RAPOZO, 2010, p. 172). A singularidade dos povos, para Rapozo (2010), é presente nos ambientes de forma caracterizada devido as suas representações e as formas como utilizam seus recursos para designar seus elementos socioculturais. Deste modo, a compreensão do significado da identidade sobre o processo de auto afirmação étnica se apresenta, sobre as interpretação, como modalidade constitutiva de uma referência com relação a ocupação do território, na medida em que também é possível por outro lado, problematizar que o território pode ser um reflexo social materializado das dinâmicas identitárias socialmente construídas Na abordagem de Cunha (2012) observa-se modificações nos grupos étnicos, referentes a sua ocupação territorial, pois essas populações indígenas, cercadas e/ou inseridas pela urbanização, em sua maioria, encontram-se em territórios urbanos e buscam o acesso as políticas públicas por meio da afirmação de sua identidade. “Estudar as sociedades indígenas atuais do ponto de vista demográfico apresenta grandes dificuldades particularmente quando se trata também de populações urbanas” (BERNAL, 2009, p. 31). A importância da pesquisa é buscar desvelar a relação entre povos e comunidades tradicionais buscando espaço nos ambientes acadêmicos, permitindo indagações sobre a disputa por territórios e como isso vem originando conflitos territoriais. Tais fatos possuem importância para os conceitos geográficos, fazendo uma correlação entre os movimentos sociais e sua contribuição para a formação do território. Neste sentido, as interpretações produzidas procuram estabelecer uma problemática sobre a ideia de que a apropriação do território garantiria o acesso às políticas públicas por meio da reconstrução da identidade. No caso abordado, a identificação do grupo Kaixana possibilita a demarcação da área requerida como forma de luta entre os atores sociais locais, garantindo, assim, o pleno acesso às políticas públicas, na medida em 2227 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO que, este tema é apresentado como fator significativo à satisfação das necessidades básicas dos indígenas. Procura-se entender que, a dinâmica da Comunidade a respeito de suas práticas de uso quanto ao território, proporciona uma contribuição na construção identitária local, e como já afirmado, podendo contribuir no processo de demarcação do território indígena. Vale ressaltar que a pesquisa ainda está em andamento e, que posteriormente, serão enfatizados novos dados e informações, de acordo com os avanços teóricos e metodológicos da pesquisa. REFERENCIAS Livros ANDRADE, Manuel Correia. A questão do território no Brasil / de. – 2. Ed. – São Paulo: Hucitec, 2004. 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