relatório de pesquisa lodo de ete da empresa de reciclagem de

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RELATÓRIO DE PESQUISA
LODO DE ETE DA EMPRESA DE RECICLAGEM DE PAPEL ABBASPEL COMO
INSUMO PARA A NEUTRALIZAÇÃO DA ACIDEZ DO SOLO.
ESTUDO DE INCUBAÇÃO EM SOLO
RESPONSÁVEL:
Eng. Agr. M.Sc. José Alfredo da Fonseca
Canoinhas, 15 março de 2013.
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APRESENTAÇÃO
O presente relatório apresenta os resultados de experimentação com lodo de
estação de tratamento de efluentes da indústria Abbaspel, visando testar a hipótese
de que o lodo é eficaz para a neutralização da acidez do solo, além de influenciar
outros atributos desse mesmo solo.
O resíduo e sua aplicação com o viés agronômico é fruto do esforço da
Empresa no sentido de adequar o seu passivo ambiental, por um lado, e de outro,
do interesse do Estado em gerar tecnologias aplicáveis pelo setor rural com ganhos
técnicos, econômicos e ambientais para a sociedade. Assim, essa parceria
Epagri/Abbaspel é uma iniciativa de integração dos setores produtivos do Território
do Planalto Norte Catarinense visando perenizar as pessoas e as instituições.
Canoinhas, 15 de março de 2013.
Eng. Agr. M.Sc. José Alfredo da Fonseca
CREA 6242-3
Epagri - Estação Experimental de Canoinhas
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INTRODUÇÃO
O desenvolvimento sustentável pressupõe equilíbrio duradouro, o que remete
para a necessidade de gerenciar adequadamente todas as variáveis envolvidas em
qualquer ambiente. Dessas, o gerenciamento adequado dos resíduos, passivos
ambientais, são de grande importância, pois podem interferir em equilíbrios
sensíveis.
O Planalto Norte Catarinense tem nos produtos oriundos da produção e da
reciclagem de papel importante componente para a construção do seu PIB. O setor
integra um contingente expressivo de pessoal técnico e de mão de obra no território,
ao mesmo tempo em que explora os recursos naturais desse mesmo território.
Um dos objetivos da reciclagem de materiais é reduzir a contaminação
ambiental proveniente de resíduos gerados pela humanidade. A transformação ou a
reciclagem de papel em novos produtos a serem comercializados como, por
exemplo, papel higiênico e papel toalha, gera resíduos, também denominados de
lodo de ETE. A produção desse resíduo ocorre a partir da perda de fibra de celulose
e, principalmente, da remoção da carga mineral contida nas aparas de papel durante
o processo de reciclagem. O lodo de aparas apresenta características de uma
massa fibrosa de cor acinzentada, sendo classificado como um resíduo de classe IIA
não inerte (ABNT, 2004). Mais recentemente as empresas vêm buscando
alternativas de descarte deste resíduo, com o intuito de evitar passivos ambientais.
Uma alternativa de disposição deste resíduo é a alocação em aterros sanitários.
Todavia, esta estratégia possui custo elevado. Em adição, este resíduo apresenta
baixa capacidade de drenagem de água, o que praticamente inviabiliza a utilização
de aterros para disposição deste produto. Entre as alternativas estudadas, a
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disposição no solo visando a adequação do pH do solo às culturas tem merecido
atenção cada vez maior (Fierro et al., 1999; Nemati et al., 2000; Foley &
Cooperband, 2002).
No resíduo gerado pelo processo de reciclagem ocorre a presença de
compostos que podem servir como corretivos da acidez do solo, principalmente,
óxidos de cálcio (CaO) e de magnésio (MgO). Além disso, a aplicação deste resíduo
ao solo pode elevar os níveis de fósforo (P) no solo, macronutriente essencial às
plantas e que, em geral, se apresenta em baixos teores nos solos da região Sul do
Brasil.
Enfatiza-se que estes resíduos também apresentam em sua constituição
elementos que, potencialmente, podem causar danos ao ambiente, tais como:
Chumbo (Pb), Cádmio (Cd), Cromo (Cr), Níquel (Ni) e Mercúrio (Hg), entre outros.
Estes metais pesados provêm da tinta contida nas aparas utilizadas no processo
industrial. O acúmulo de metais pesados em solos agrícolas, devido a aplicações
sucessivas de resíduo, é o aspecto que causa maior preocupação com relação à
segurança ambiental necessária para viabilização desta prática. Os metais pesados
podem expressar seu potencial poluente diretamente nos organismos do solo, pela
disponibilidade às plantas em níveis tóxicos, além da possibilidade de transferência
para a cadeia alimentar por meio das próprias plantas ou pela contaminação das
águas de superfície e subsuperfície (Chang et al., 1987; Oliveira e Matiazzo, 2001).
Assim, é necessário verificar os efeitos do uso desses resíduos sobre a elevação
dos níveis desses elementos no solo e nos produtos colhidos.
Trabalhos de pesquisa já foram realizados para verificar as variações nas
características químicas do solo decorrentes da aplicação de resíduos de fábrica de
celulose (Suzuki et al., 1991; Fonseca et al., 2012), resíduo siderúrgico (Prado &
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Fernandes, 2000), resíduos de curtume e carbonífero (Ferreira et al., 2003) e lodo
de esgoto (Anjos & Mattiazzo, 2000; Borges & Coutinho, 2004; Nascimento et al.,
2004).
Em que pese a potencialidade do produto, a sua adequação aos critérios
ambientais lhe é exigida, o que aponta para a necessidade de avaliações
criteriosas, sob crivo de metodologias de pesquisa, que avaliem sua eficácia e
sua probidade ambiental.
A hipótese de estudo do presente trabalho foi de que o produto possui
propriedades que o credencia como insumo neutralizador da acidez e fertilizante do
solo e não altera, significativamente, o nível de metais pesados no solo.
O objetivo foi obter e avaliar indicadores relativos a acidez do solo e de
variáveis correlacionadas a ela, dos nutrientes essenciais às plantas e dos principais
metais pesados que ocorrem no solo após aplicação do lodo.
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MATERIAIS E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no período de maio a julho de 2012, em casa de
vegetação localizada na estação experimental da Epagri, em Canoinhas-SC, e
constou da incubação do lodo de ETE (LETE) em solo coletado na camada de 020cm de um Nitossolo Háplico contendo as características químicas demonstradas
na tabela 1.
Tabela 1 – Atributos químicos do solo incubado. Canoinhas - SC, 2012.
pH H O
Índice
SMP
4,7
5,1
2
P
K
MOS
Al
Ca
Mg
3
mg/dm³ mg/dm³ g/dm cmolc/dm³ cmolc/dm³ cmolc/dm³
5,2
H+Al
cmolc/dm³
CTC pH
7.0
cmolc/dm³
Al
(valor
m)
10,9
15,6
35
66
47
2,5
2,7
1,8
% Saturação na CTC a pH
7.0
Bases K
Ca
Mg
Ca/Mg Ca/K Mg/K
30
1,5
1,1
17,3
11,6
Relações
15,9
10,6
*P-fósforo, K-potássio, MOS-materia orgânica do solo, Ca-cálcio, Mg-magnesio, H+Al-hidrogênio+alumínio, CTCcapacidade de troca de cátions, valor m- saturação da CTCefetiva por Al, Bases-Ca+Mg+K.
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com 8
tratamentos e 4 repetições. Os tratamentos constaram das seguintes doses do
LETE: 1) 0 t/ha; 2) 40 t/ha; 3) 80 t/ha; 4) 120 t/ha; 5) 200 t/ha; 6) 320 t/ha; e 7) 480
t/ha, correspondendo, respectivamente, a 0%, 50%, 100%, 150%, 250%, 400% e
600%, da quantidade recomendada pelo índice SMP (ISMP) para a elevação do pH
do solo à 6,5 (CQFS–RS/SC, 2004). Para termos comparativos, foi constituído um
tratamento com um calcário dolomítico (CD) comumente usado na região, na dose
correspondente a 100% da recomendação para a elevação do pH a 6,5, pelo ISMP.
As características químicas medias do lodo de ETE utilizado no experimento estão
listadas na tabela 2.
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Cada unidade experimental constou de 6Kg do solo peneirado em
peneira com malha de 8mm. Os tratamentos foram adicionados ao solo e,
imediatamente, homogeneizados. Tendo vista os altos volumes a serem aplicados,
houve necessidade de prévia mistura do lodo com água, a fim de obter-se
distribuição uniforme do produto.
Tabela 2. Características químicas do lodo de estação de tratamento de efluentes.
DETERMINAÇÃO
UNIDADE
QUANTIDADE
Umidade 65°C (desidratação)
Densidade (picnômetro)
Densidade (base seca – picnômetro)
pH (CaCl2)
Fósforo total (gravimetria)
Potássio (HNO3+HClO4)
Cálcio (HNO3+HClO4)
Magnésio (HNO3+HClO4)
Enxofre (HNO3+HClO4 - turbidimetria)
Zinco (HNO3+HClO4)
Cobre (HNO3+HClO4)
Boro (titulação potenciométrica)
Manganês (HNO3+HClO4)
Ferro (HNO3+HClO4)
Alumínio (HNO3+HClO4)
Cádmio (EPA 3051)
Chumbo (EPA 3051)
Cromo (EPA 3051)
Níquel (EPA 3051)
Mercúrio (EPA 1631, 245.7)
Arsênio (EPA 3051)
Selênio (EPA 6010)
Óxido de Cálcio (cálculo)
Óxido de Magnésio (cáculo)
Poder de Neutralização (titulação pot.)
*IBRA – Instituto Brasileiro de Análise.
g/1000g
g/cm3
g/cm3
g/1000g
g/1000g
g/1000g
g/1000g
g/1000g
mg/Kg
mg/Kg
mg/Kg
mg/Kg
g/1000g
g/1000g
mg/Kg
mg/Kg
mg/Kg
mg/Kg
mg/Kg
mg/Kg
mg/Kg
g/1000g
g/1000g
%
680,7
0,88
0,5
7,4
1,6
0,5
166,6
1,7
0,1
314
48,24
0
20,14
1,1
8,1
<LQ
19,82
4,9
<LQ
<LQ
<LQ
<LQ
234,6
2,8
35,63
Em seguida as misturas solo/tratamentos foram colocadas em sacos plásticos
escuros mantidos parcialmente abertos visando permitir trocas gasosas. Para a
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incubação do produto as amostras receberam uma quantidade de água
correspondente a 30% do seu peso. Este nível de umidade foi mantido durante toda
a fase experimental de incubação do produto.
Após 90 dias foram coletadas amostras de solo de cada parcela e enviadas
para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul para análise dos atributos: pH em
água (1:1); H+Al (acidez potencial-tampão SMP); teores de fósforo (P) e potássio (K)
(Mehlich I); alumínio (Al), cálcio (Ca), magnésio (Mg), manganês (Mn) e sódio (Na)
trocáveis (KCl 1mol L-1); matéria orgânica do solo (MOS) (digestão úmida); enxofre
(S) (CaHPO4 500 mg L-1 de P); zinco (Zn) e cobre (Cu) (HCl 0,1 mol L -1); boro (B)
(água quente); cádmio (Cd), chumbo (Pb), níquel (Ni), cromo (Cr), molibdênio (Mo),
selênio (Se), cobalto (Co) e arsênio (As) (EPA 3050/ICP-OES); e para os teores de
Hg, o método EPA 7471 A/vapor frio (USEPA, 1986).
Foram calculadas ainda as relações Ca/Mg; Ca/K; Mg/K; CTC; saturação da
CTC por bases (V%) e saturação da CTC por alumínio (m%).
Os dados coletados foram analisados estatisticamente por meio de análise de
variância e teste F. Os indicadores que apresentaram diferenças significativas entre
tratamentos a 5 % de probabilidade foram submetidos a análise de regressão,
selecionando-se o modelo com o melhor ajuste aos dados analisados.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
O teor de argila avaliado diminuiu conforme aumentaram as quantidades de
LETE aplicadas (Figura 1). Entretanto, não foram observadas diferenças entre
tratamentos até quantidades aplicadas equivalentes a 100% da recomendação pelo
ISMP. Os valores observados até essas quantidades aplicadas foram semelhantes
aquele obtido pela aplicação da dose recomendada de CD.
60
Teores de argila no solo - %
2
R = 0,93
Y = 25,6279 + 31,3810*exp (-0,0072*X)
55
50
45
40
35
30
25
0
200
400
600
Quantidades de LETE aplicadas - t/ha
Figura 1 – Evolução dos teores de argila do solo pela aplicação de LETE (●) e CD (○).
Canoinhas, 2013.
O aumento do pH do solo pela aplicação dos tratamentos, aumentando as
cargas negativas no solo, contribui para a dispersão das argilas. Assim, esse
poderia ser um dos efeitos observados nesse estudo. Entretanto, a alta
concentração de cátions di (Ca) e trivalentes (Al e Fe), além do alto conteúdo em
matéria orgânica (M.O.) presentes no material, trabalham no sentido inverso, ou
seja, tem ação agregante no solo. Nesse caso, aparentemente, o efeito dos altos
teores de sais preponderaram, possivelmente, através da ocupação das cargas
negativas geradas, cumprindo, a partir daí, a função de elo de agregação entre
partículas, o que favorece a floculação (Raij, 2008). Observe-se que o efeito vai no
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sentido da agregação em detrimento da dispersão, o que é positivo. Contudo, até a
dose máxima recomendada, 80t/ha, as diferenças não foram significativas.
Na figura 2 estão apresentados os resultados referentes aos efeitos do
LETE e do CD sobre o pH do solo, três meses após incubação.
8,0
7,5
pHH2O do solo
7,0
6,5
6,0
5,5
2
R = 0,99
Y = 4,6630+3,0585*(1-exp(-0,0146*X))
5,0
4,5
0
200
400
600
Quantidades de LETE aplicadas - t/ha.
Figura 2 – Evolução pHH2O do solo pela aplicação de LETE (●) e CD (○). Canoinhas, 2013.
Observa-se que a aplicação de 63,8t/ha do LETE foi suficiente para elevar o
pH em água do solo a 6,5, o que era esperado pela aplicação de 80t/ha pela
recomendação do ISMP (CQFS RS/SC, 2004). Já, pela aplicação dessa última
quantidade, o pH alcançou valores em torno de 6,8 e pela aplicação do CD, 5,7.
Portanto, verificou-se alta eficácia do produto na elevação do pH. Fonseca et al.
(2012)
trabalhando
com
resíduos
de
indústria
de
celulose
observaram
comportamento semelhante, atribuindo como uma das possíveis causas para tal
comportamento a natureza do resíduo, produto de reações químicas durante
processo fabril, que lhe confere maior produto solubilidade comparativamente ao
CD, oriundo de rocha. Há que se considerar, entretanto, que para a aplicação e
avaliação da capacidade de neutralização da acidez do solo do LETE, houve
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necessidade de fazer-se a mistura desse com água, dado ao grande volume
aplicado e a necessidade de distribuição homogênea, o que, certamente, favoreceu
a rápida ação do produto. Entretanto, fica caracterizada a capacidade intrínseca do
produto quanto a sua capacidade de neutralizar a acidez quando solubilizado, por
ocasião de aplicação do mesmo no solo. Infere-se também, que a velocidade de
ação do LETE na forma sólida quando aplicada ao solo natural, provavelmente, não
seja a mesma, sendo os resultados obtidos em maior espaço de tempo, porém não
superior ao calcário (Balbinot et al., 2010). As observações a serem feitas em
experimentos implantados no ambiente real de produção, já em curso, serão
balizadores para o afinamento dessas observações.
A alta correlação existente entre o pH, o teor de alumínio (Al), a acidez
potencial (H+Al) e a saturação por bases (V%) no solo ficou demonstrada pelos
dados observados nesse experimento (Figuras 3a, 3b, 3c e 3d).
Apesar dos teores de Al contidos no LETE, houve drástica redução dos teores
desse metal no solo pela aplicação do lodo. Os dados obtidos revelam a mesma
efetividade do LETE, comparativamente ao CD (Figura 3b).
A presença de Al3+ em teores altos na solução do solo, além de ser tóxico à
maioria das plantas, pode interferir na disponibilidade de outros nutrientes. Porém,
quando o pH do solo, determinado em água, atinge valores próximos a 5,5, o Al 3+ é
reduzido a, praticamente, zero (Souza et al., 2007), fato ratificado pelos dados
obtidos nesse trabalho. A precipitação do Al como gibsita já é conhecimento de
domínio. Além disso, no presente estudo, o efeito floculante observado pela
aplicação do LETE, sugere a possibilidade do envolvimento do Al em complexos
organo-minerais e nas estruturas do solo agregado, reforçando a diminuição da
solubilidade do cátion.
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2,0
Teores de Al no solo - cmol c/dm3
8,0
pHH2O do solo
7,5
7,0
a)
6,5
6,0
5,5
R2=0,99
Y=4,6630+3,0585(1-exp(-0,0146*X))
5,0
R2=0,95
Y=1,8200*exp(-0,3436*X)
1,5
1,0
b)
0,5
0,0
0
4,5
0
200
400
600
200
400
600
Quantidades de LETE aplicadas - t/ha.
100
12
Saturação de bases do solo - %
Teores de H+Al no solo - cmolc/dm3
Quantidades de LETE aplicadas - t/ha.
R2=0,99
Y=1,1146+10,0808*exp(-0,0347*X)
10
8
c)
6
4
2
90
80
70
d)
60
50
R2=0,99
Y=35,0554+60,7124*(1-exp(-0,0331*X))
40
30
0
0
200
400
600
Quantidades de LETE aplicadas - t/ha.
0
200
400
600
Quantidades do LETE aplicadas - t/ha.
Figura 3 – Evolução do pHH2O (a), dos teores de Al trocável (b), do H+Al (c) e da
saturação por bases (d) no solo pela aplicação de LETE (○) e CD (●). Canoinhas,
2013.
A saturação da CTC do solo por bases atingiu 79% com a aplicação do
equivalente a 50% do ISMP (Figura 3d).
Valores de saturação por bases da CTC do solo próximas a 70% atendem as
necessidades da maioria das espécies cultivadas (CQFS–RS/SC, 2004). Esse valor
foi atingido com a aplicação de apenas 37% da recomendação. A aplicação do CD
na dose recomendada elevou a saturação de bases do solo a 81%. Evidencia-se,
portanto, que o LETE concorre para a obtenção de ambiente químico do solo
desejável para os cultivos com provável redução das quantidades de equivalentes
químicos aplicadas.
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Pela composição do LETE, material calcítico, a sua aplicação interfere em
relações de equilíbrio entre nutrientes importantes no solo que podem, por sua vez,
interferir na eficiência nutritiva das plantas, para além daquelas decorrentes da
reação do solo. As relações Ca/Mg, Ca/K e Mg/K são afetadas nesse contexto,
necessitando que se lhes avaliem.
Os teores de Ca, como esperado, foram fortemente afetados pela aplicação
do LETE, chegando a atingir 15,6cmolc/dm3 com a aplicação da quantidade
equivalente a 100% do ISMP. Já os teores de Mg, diminuíram na medida do
aumento das quantidades aplicadas (Figura 4a).
Essa última constatação não se constituí em fato esperado para esses casos.
Esperava-se a não alteração ou um pequeno aumento dos teores de Mg no solo,
tendo em vista haver no LETE pequenas quantidade de MgO. Teoricamente, duas
das possíveis causas que podem estar envolvidas nesse fenômeno são: primeiro, a
precipitação do Mg, mais instável do que o Ca, com ânions advindos da dissolução
do LETE e, segundo, eventuais substituições de cátions em nível estrutural de
minerais do tipo 2:1 eventualmente presentes no Nitossolo Háplico utilizado no
experimento, envolvendo o Mg. Embora haja baixa probabilidade de os solos
tropicais conterem esse tipo de mineral em quantidades significativas, Silva et al.
(1995) observaram a presença de micas em Latossolos do Estado do Paraná e
demonstraram a ocorrência da liberação de K dos mesmos para o solo. Contudo,
essas são considerações teóricas, já que no âmbito de avaliação do presente
trabalho não foram possíveis tais determinações.
Nesse contexto a relação Ca/Mg (Figura 4b) sofreu elevações consistentes,
atingindo
valores
próximos
àqueles
considerados
como
limites
superiores
adequados para a relação. Pela aplicação do CD o valor da relação foi 1,18, valor
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situado abaixo daqueles de solos nativos, e igual aquele da testemunha (solo já
35
35
30
30
Relação Ca/Mg no solo
Teores no solo - cmolc/dm3
trabalhado).
25
20
a)
R2 = 0,99
Y = 2,9863+29,8864*(1-exp(-0,0077*X))
15
10
R2 = 0,68
Y=2,2370-0,0026X
5
25
20
b)
15
10
5
R2=0,94
Y=36,9772*(1-exp(-0,0031*X))
0
0
0
200
400
0
600
80
600
R2 = 0,78
Y=4,8762-0,0051X
12
Relação Mg/K no solo
Relação Ca/K do solo
400
14
70
60
50
200
Quantidades de LETE aplicadas - t/ha.
Quantidades de LETE aplicadas - t/ha.
c)
40
R2=0,99
Y=5,9416+69,9411*(1-exp(-0,0080*X))
30
20
10
d)
8
6
4
2
10
0
0
0
200
400
Quantidades de LETE aplicadas - t/ha.
600
0
200
400
600
Quantidades de LETE aplicadas - t/ha.
Figura 4 – Evolução dos teores de Ca-LETE (●), Ca-CD (▼), Mg-LETE (○) e Mg-CD (∆)(a), e
das relações Ca/Mg (b), Ca/K (c), da Mg/K (d) no solo pela aplicação de LETE (●) e CD (○).
Canoinhas 2013.
A relação Ca/K também cresceu substancialmente (Figura 4c), sobretudo pelo
grande aumento dos teores de Ca ao solo pelo LETE. Assim, a relação seguiu a
lógica esperada a partir da composição do LETE. Com a aplicação do CD a relação
atingiu valores de 15,1, enquanto que pela aplicação do LETE chegaram a 38,
quando aplicadas quantidades equivalentes a 100% da recomendação.
A relação Mg/K variou proporcionalmente a variação dos teores de Mg
adicionados e disponibilizados no solo (Figura 4d). Pela aplicação do CD obteve-se
valor de 13 enquanto que pela aplicação do LETE, 4,5, quando aplicados 100% das
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quantidades recomendadas de ambos os produtos. A testemunha sem aplicação de
corretivos apresentou um valor igual a 5.
Do ponto de vista de aplicação corrente do LETE (material calcítico), fica claro
pelas relações entre os nutrientes observadas, e mesmo pela concentração
individual dos mesmos, que o seu uso deve ser orientado considerando essa
especificidade fundamental a fim de preservar esses equilíbrios do solo, embora,
atualmente, muitos autores relativizem a importância das relações Ca/Mg, Ca/K e
Mg/K em detrimento dos adequados teores desses nutrientes no solo (Oliveira e
Parra, 2003; CQFS–RS/SC, 2004; Souza et al., 2007).
Pelas quantidades de LETE aplicadas ao solo poder-se-ia incorporar ao
mesmo, teoricamente, 64mg/dm3 de P total pela aplicação de 100% da
recomendação pelo ISMP. Entretanto, o P disponível situou-se no entorno de
3,9mg/dm3 nessa situação (Figura 5), demonstrando que a maior parte do P aplicado
ficou indisponível, segundo o método utilizado. Apesar da elevação do pH
disponibilizar cargas negativas no solo diminuindo o poder de fixação de P pelo solo,
os processos de sorção, ainda assim, predominaram.
Devido ao aumento da força iônica da solução do solo pela aplicação de
neutralizadores da acidez, há maior competição entre íons pelos sítios de adsorção
pela diminuição de suas atividades, como resultado da formação de pares iônicos
(Alleoni et al., 2009). Nesse contexto, é provável que reações outras que não
somente aquelas com os óxidos de ferro (Fe), Alumínio (Al) e manganês (Mn)
envolvendo troca de ligantes e covalência (Novais et al., 2007) com o ânion fosfato,
ocorram. Fosfatos pouco solúveis podem ser formados com os metais pesados
(Beckett, 1989). Compostos prováveis e importantes no ambiente gerado pela
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aplicação do LETE, pH 6,8 e alta concentração de Ca, são os fosfatos de cálcio, que
precipitam.
Teores de P no solo - mg/dm 3
5,2
5,0
4,8
4,6
4,4
4,2
4,0
3,8
2
R = 0,81
Y = 3,6391 + 0,0031X
3,6
3,4
0
200
400
600
Quantidades de LETE aplicadas - t/ha.
Figura 5 – Evolução dos teores de P no solo pela aplicação de LETE (●) e CD (○).
Canoinhas, 2013.
O quadro descrito ilustra a complexidade que envolve a dinâmica de P no
solo. Contudo, a reta obtida a partir das quantidades de LETE aplicadas,
apresentam teores crescentes de P no solo. Há, portanto, acréscimos de P
disponível no solo pela aplicação do LETE que são mais evidentes na medida do
aumento das quantidades aplicadas.
Embora tenham ocorrido diferenças entre tratamentos para o teor de S no
solo, nenhum modelo pode ser ajustado aos dados (Figura 6). Os teores cresceram
rapidamente até a aplicação de 120t/ha de LETE, 150% do ISMP, após o que
decresceram rapidamente até estabilizarem-se em valores próximos a 25mg/dm3.
Segundo Bissani & Tedesco (1988) a grande fonte de enxofre para o solo é a
matéria orgânica. A elevação do pH acelerando a transformação da matéria orgânica
do solo e o alto conteúdo dessa no LETE contribuem, fortemente, para explicar o
rápido crescimento dos teores de S já com as primeiras quantidades aplicadas. De
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Marco et al. (2012) observaram aumento da atividade microbiológica no solo pela
aplicação de LETE semelhante. Concomitantemente, houve aumento das cargas
negativas decorrentes da elevação do pH do solo provocando a dessorção de
ânions sulfato. Fonseca (2013), avaliando essa variável pela aplicação de produto
similar ao LETE e doses variadas de calcário dolomítico, concluiu que até doses
equivalentes a 200% do ISMP, o aumento de enxofre no solo se deve na sua grande
maioria aos processos de dessorção do SO42- e não à quantidade adicionada pelo
produto.
Teores de S no solo - mg/dm3
40
35
30
25
20
15
10
0
200
400
600
Quantidades de LETE aplicadas - t/ha.
Figura 6 – Evolução dos teores enxofre no solo pela aplicação de LETE (●) e CD (○).
Canoinhas, 2013.
A estabilização dos teores coincide com a estabilização do pH, entre outros
atributos correlatos, o que pode orientar para a estabilização dos processos de
geração de cargas negativas no solo.
Os Teores de K no solo foram afetados pela aplicação do LETE, porém
nenhum modelo pode ser ajustado aos dados, pela falta de uma tendência clara
(Figura 7).
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Teores de K no solo - mg/dm3
190
185
180
175
170
165
160
155
0
200
400
600
Quantidades de resíduo aplicadas - t/ha.
Figura 7 – Evolução dos teores de K no solo pela aplicação de LETE (●) e CD (○).
Canoinhas, 2013.
A composição do LETE permite afirmar que a aplicação de quantidades
equivalentes a 100% da recomendação pelo ISMP agrega ao solo 20mg/dm 3 de K
total. A máxima variação observada foi de 26mg/dm 3, valor de importância
relativamente baixa para o solo.
Os teores de Zn no solo cresceram com o aumento das quantidades de LETE
aplicadas. Contudo, esse aumento só foi observado pela aplicação de quantidades
acima de 150% da recomendação pelo ISMP (Figura 8).
Esse resultado não está em conformidade com a maioria dos estudos que
relacionam os efeitos da elevação do pH e a disponibilidade de Zn no solo, que
relatam sensível diminuição dos teores desse cátion com a elevação daquele.
Altos aportes de LETE, substância de extrema complexidade química, gera,
pela sua dissolução, uma solução do solo com grande força iônica. Espera-se daí
maiores e mais diversificadas interações entre os componentes químicos presentes,
permitindo obter-se maior teor de Zn pela existência no meio de formas mais
disponíveis (Alleoni et al., 2009). Fosfatos, carbonatos, sulfatos e outros ânions
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presentes nesse ambiente concorrem para o sequestro do Zn do meio, podendo, os
produtos resultantes, apresentarem menor poder de fixação do Zn do que aquelas
que ocorrem por ligações de esfera interna com os óxidos de Fe e Al do solo.
Teores de Zn no solo - mg/dm3
1,6
1,4
1,2
1,0
0,8
2
R = 0,85
2
Y = 0,7047 + 0,0027*X - 0,000002*X
0,6
0
200
400
600
Quantidades de LETE aplicadas - t/ha.
Figura 8 – Evolução dos teores de Zn no solo pela aplicação de LETE (●) e CD (○).
Canoinhas, 2013.
Segundo Lindsay (1972), valores altos de pH alteram as formas de Zn no
solo, podendo surgir compostos do tipo Zn(OH)2, ZnCO3 e Zn(OH)2.ZnSO4, que são
mais solúveis que o Zn-solo.
A formação de quelatos do tipo Zn-ácidos fúlvicos oriundos da transformação
da MOS, mais solúveis que os húmicos, também poderiam contribuir nesse sentido
(Stevenson & Ardakani, 1972).
Há que se agregar ainda, nesse contexto, o fato de que o LETE contém Zn,
incorporando, portanto, quantidades desse elemento ao solo. Contudo, no contexto
desse trabalho essas são discussões em nível teórico, já que as espécies de Zn na
solução do solo não foram determinadas e os valores de Zn acrescidos ao solo não
apresentam nenhum inconveniente à saúde do solo, pelo contrário, melhoram a
disponibilidade desse nutriente às plantas.
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Os teores de Cu no solo diminuiram com o aumento das quantidades de
LETE aplicadas (Figura 9).
0,8
Teores de Cu no solo - mg/dm 3
2
R =0,64
Y=0,06122*exp (-0,0025*X)
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
200
400
600
Quantidades de LETE aplicadas - t/ha.
Figura 9 – Evolução dos teores de Cu no solo pela aplicação de LETE (●) e CD (○).
Canoinhas, 2013.
Com a aplicação de quantidades equivalentes a 100% do ISMP os teores de
Cu no solo mantiveram-se em níveis considerados altos para solos dos Estados do
Rio Grande do Sul e de Santa Catarina (CQFS–RS/SC, 2004). Observou-se que o
efeito do LETE foi praticamente igual ao do CD.
Ao contrário do Zn, o comportamento do Cu, nas quantidades de LETE
superiores aplicadas, foi aquele que se esperava. A maior reatividade do Cu em
relação ao Zn, a alta afinidade do Cu para formar complexos estáveis com a MOS,
mais dinâmica pelo efeito do pH sobre a microbiota do solo, e a natural tendência de
formação de complexos de esfera interna com óxidos de Fe e Al, foram,
provavelmente, os principais drenos do Cu.
A disponibilidade de B no solo foi afetada pela aplicação do LETE. Na figura
10, observa-se que a curva de resposta quando da aplicação do LETE seguiu o
modelo exponencial decrescente.
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0,55
Teores de B no solo - mg/dm3
2
R =0,89
Y=0,2011 + 0,3165*exp (-0,0152*X)
0,50
0,45
0,40
0,35
0,30
0,25
0,20
0,15
0
200
400
600
Quantidades de LETE aplicadas - t/ha.
Figura 10 – Evolução dos teores de B no solo pela aplicação de LETE (●) e CD (○).
Canoinhas, 2013.
Como já abordado, a diversidade química do LETE afetando a força iônica da
solução do solo e, por conseguinte, as associações entre entidades químicas, afeta
também o B. Contudo, na quantidade aplicada igual a 100% do ISMP, dose máxima
recomendada, os teores situaram-se na faixa considerada media a alta para os
padrões da maioria dos solos do Sul do Brasil (CQFS-RS/SC, 2004) e, portanto, sem
maiores impactos à exploração agrícola.
Os teores de Mn no solo, após a aplicação do LETE, seguiram a lógica do
conhecimento existente para os casos de elevação do pH do solo, ou seja, a
elevação do pH diminuiu, drasticamente, o teor de Mn (Figura 11).
No presente trabalho, aplicações de apenas 50% da quantidade máxima
recomendada pelo ISMP para a elevação do pH a 6,5 reduziram os teores de Mn no
solo a níveis de disponibilidade considerados médios. Quantidades maiores
diminuíram os teores a níveis baixos para o bom desenvolvimento das culturas
(CQFS, RS/SC, 2004). Deficiências de Mn por excesso de calagem tem sido
observadas a campo no Planalto Norte Catarinense.
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18
2
R = 0,99
Y = 1,0040 + 15,7685*exp (-0,0414*X)
Teores de Mn no solo - mg/dm
3
16
14
12
10
8
6
4
2
0
0
200
400
600
Quantidades de LETE aplicadas - t/ha.
Figura 11– Evolução dos teores de Mn no solo pela aplicação de LETE (●) e CD (○).
Canoinhas, 2013.
Esse indicativo orienta para a importância da adequada orientação técnica
quando do uso de produtos neutralizadores da acidez do solo.
Os teores de Na, como esperado, tiveram aumentos pela aplicação do LETE
(Figura 12). Entretanto, os valores alcançados não se configuram como
problemáticos para a manutenção do adequado equilíbrio do solo. A participação do
Na na CTC do solo, quando aplicadas quantidades equivalentes a 100% do ISMP,
representaram apenas 0,03%, o que esta muitíssimo abaixo dos conteúdos tidos
como potenciais causadores de desequilíbrios físicos e químicos ao solo, que,
segundo diversas fontes e normas internas de diversos países, variam de 6 a 20%
da CTC (Galvão e Freire, 2007).
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70
2
Teores de Na no solo - mg/dm
3
60
R = 0,99
Y = 4,2363 + 0,1148*X
50
40
30
20
10
0
0
100
200
300
Quantidades de LETE aplicadas - t/ha
Figura 12 – Evolução dos teores de sódio (Na) no solo pela aplicação de LETE (●) e
CD (○). Canoinhas, 2013.
Os teores de Fe no solo não foram afetados pela aplicação de nenhum dos
corretivos.
Em que pese os metais pesados - densidade acima de 5 kg dm-3 a 300° K serem elementos naturais e, como tal, existirem em praticamente todos os
ecossistemas, podem tornar-se perigosos ao ambiente como um todo e aos seres
vivos em especial, quando em níveis acima daqueles observados na maioria dos
ecossistemas. Isso remete a necessidade da devida avaliação dos mesmos quando
incorporados no solo, dado ao papel preponderante desse na dinâmica ambiental.
No presente estudo foram avaliados Hg, Ni, Cr, Pb, Ba, As, Cd, Mo e Se
adicionados ao solo através do LETE. Os resultados não acusaram efeitos
diferenciados em relação a testemunha, sem a aplicação de LETE, para nenhum
dos elementos e quantidades aplicadas (Tabela 3), até quantidades aplicadas iguais
100% da recomendação do ISMP. Nos casos do Ba e do Ni o teste F acusou
significância entre tratamentos, entretanto, nenhum modelo pode ser adequado a
distribuição, indicando distribuição altamente aleatória. As significâncias estatísticas
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foram observadas somente com a aplicação de 600t/ha (600% da recomendação),
volume aplicado justificável apenas com o fim de estudos.
Resultados semelhantes já haviam sido observados em trabalhos anteriores,
porém usando o lodo úmido (Balbinot et al., 2010; De Marco et al., 2012). Portanto, o
estudo ratificou o não aumento de tais metais no solo, em formas disponíveis.
Quando comparados com algumas referências e estudos em condições de solos
brasileiros (Tabela 3), observa-se que os teores observados estão compatíveis com
aqueles desejáveis para solos de boa qualidade. Por outro lado estão bem abaixo
das exigências do USEPA (United States Environment Protection Agency, 1999),
embora esses sejam dados avaliados para condições de solos de clima temperado,
o que requer cautela na avaliação.
Tabela 3 – Teores de metais pesados no solo após incubação com lodo de estação
de tratamento de efluentes (LETE) de indústria de reciclagem de papel e de calcário
dolomítico (CD). Canoinhas, 2013.
Hg
Ni
Cr
Pb
Ba
As
Cd
Mo
Se
Usepa*
8,5
210
1500
150
--21
19,5
50
50
Cetesb**
0,050
13
40
17
75
3,5
<0,5
<4
0,25
TEORES NO SOLO
3
mg/dm
Solos do Brasil***
CD
--0,055
14
11,00
36
40,50
36
19,00
201
29,00
--<2
1
0,22
7,56
<0,2
0,28
<4
LETE
ns
0,052
ns
13,00
ns
39,25
ns
19,00
ns
36,00
<2
0,20
<0,2
<4
*USEPA (1999); **CETESB (2005) para solos de boa qualidade; ***Campos et al. (2003).
F a 5% de probabilidade. CD – calcário dolomítico; LETE– lodo de ete.
ns
Testemunha
ns
0,045
ns
11,25
ns
38,75
ns
19,00
ns
31,75
<2
0,22
<0,2
<4
– não significativo pelo teste
A geração de cargas negativas no solo, fruto da aplicação dos neutralizadores
da acidez, gera um ambiente propício para a ligação dos metais com componentes
da fração argila, principalmente com os óxidos, que conferem alta retenção desses
pelo solo (McLean and Bledsoe, 1992). Raio iônico e valência do metal,
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eletronegatividade, caráter ácido-base e constantes de hidrólise são importantes
para a seletividade dos metais pesados, porém nenhum deles explica sozinho o
processo sorção/dessorção (Araújo et al. 2002; Maguirre et al., 1981; Hendricson &
Corey, 1981). Interações com a fração orgânica do solo, de alto poder complexante,
também tem sido relatados como causas da forte interação dos metais pesados com
a fração sólida dos solos (Amaral Sobrinho et al. 2009).
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CONCLUSÕES
Nas condições em que se executou o presente trabalho o lodo de ETE
apresenta capacidade superior ao calcário dolomítico para elevação do pH do solo.
A aplicação do lodo de ETE eleva os teores de cálcio, de fósforo, de sódio, de
zinco, a saturação de bases, a relação Ca/Mg e a relação Ca/K do solo e diminui os
teores de, Cu, B e Mn no solo.
A aplicação do lodo de ETE mantém os teores pseudo-totais de mercúrio,
níquel, cromo, chumbo, bário, arsênio, cádmio, molibdênio e selênio do solo em
níveis como aqueles considerados normais para solos de boa qualidade.
As variações imputadas ao solo pela aplicação do lodo de ETE estão dentro
dos padrões e expectativas conhecidas atualmente pela ciência do solo, o que
orienta para a possibilidade do uso do mesmo como neutralizador da acidez do solo.
Entretanto, a validação desses pressupostos necessita de experimentação a campo,
visando ratificação das premissas aqui observadas, quando no ambiente real de
produção.
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