Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto Macroeconomia Observações: - Responda a cada uma das partes do exame em folhas separadas - Duração da prova: 2h 04-02-2011 Parte I (5 valores) Considere a seguinte informação relativa à economia portuguesa e responda às seguintes questões: (valores em euros) PIBpm por trabalhador (PIBpm/Nº Trabalhadores) – a preços correntes 2006 2007 2008 2009 30 100 31 500 32 000 32 400 31 373 32 016 PIBpm por trabalhador – a preços constantes do ano anterior Taxa de crescimento real do PIBpm por trabalhador 0,62% 1,60% Salário Mínimo Nacional (SMN) 385,9 403,0 426,0 450,0 Índice de Preços no Consumidor 95,09 97,47 100,00 99,20 (ano base: 2008) Fontes: Banco de Portugal; Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho; cálculos efectuados com base nas anteriores fontes. a) Calcule a taxa de crescimento nominal global do Salário Mínimo Nacional no período 2006-2009, e determine a taxa de inflação global registada nesse período. Os trabalhadores, que auferiram o salário mínimo nesse período, viram o seu poder de compra aumentar ou diminuir? Justifique, sem efectuar cálculos adicionais. (1,7v) b) Calcule o crescimento real do PIBpm por trabalhador em 2009. Tendo em conta que o número de trabalhadores diminuiu em 2009, o que pode concluir acerca do crescimento real do PIBpm nesse ano? Justifique. (1v) c) Calcule e compare o crescimento real global do Salário Mínimo Nacional com o crescimento real global do PIBpm por trabalhador no período 2006-2009. (1,4v) d) Se, no período 2006-2009, a determinação do Salário Mínimo Nacional tivesse tido por base a evolução do Índice de Preços no Consumidor e um aumento real igual à taxa de crescimento real do PIBpm por trabalhador, qual seria o valor do Salário Mínimo Nacional em 2009? Justifique os cálculos que efectuar. (0,9v) ------- mude de folha ----------- mude de folha ----------- mude de folha ----------- mude de folha ----------- mude de folha ----------- mude de folha ------- Parte II (3 valores) Considere a seguinte informação relativa a uma determinada economia (ano 2009, a preços correntes) e calcule: (Poupança interna + Poupança externa) Exportações de bens e serviços Procura global Rendimento disponível bruto da Nação PNLcf 3200 3000 14000 10400 8200 Depreciações Variação de stocks Excedente bruto de exploração Rendimento Interno Balança de transferências correntes a) Formação líquida de capital fixo (0,75v) c) Poupança bruta da Nação (0,75v) b) Salários (0,75v) d) Oferta externa (0,75v) 700 800 5400 8400 600 ------ mude de folha ----------- mude de folha ----------- mude de folha ----------- mude de folha ----------- mude de folha ----------- mude de folha ------- ------ mude de folha ----------- mude de folha ----------- mude de folha ----------- mude de folha ----------- mude de folha ----------- mude de folha ------- Parte III (12 valores) Considere o seguinte modelo representativo do funcionamento de uma economia, e responda às seguintes questões: C = 410 + 0,8Yd M = 7000 T = 400 + 0,25Y L = 4700 + 0,2Y - 20i Tr = 1750 P=1 G = 750 + 0,4T I = 2200 - 40i X = 1400 Q = 600 + 0,1Y Ye = 10000/0,8; ie = 10 Questão I (5,75 valores) A redução dos gastos públicos em bens e serviços ou a diminuição das transferências para as famílias permitem reduzir o défice público, mas potenciam o aumento da contestação social devido ao seu impacto negativo sobre o rendimento disponível das famílias. a) Calcule o impacto de uma diminuição dos gastos públicos autónomos em 80 u.m. sobre as contas públicas e o rendimento disponível das famílias. (3v) b) Calcule o impacto de uma redução das transferências autónomas para as famílias em 80 u.m. sobre as contas públicas e o rendimento disponível das famílias. (2,25v) c) Qual das medidas poderia gerar menor contestação social e qual das medidas mais reduziria o défice público? Justifique adequadamente as suas conclusões. (0,5v) Questão II (4,5 valores) Face aos problemas orçamentais com que se tem debatido, o Governo desta economia decidiu reduzir o montante das transferências para as famílias com o intuito de diminuir o défice público em 110 u.m. Por outro lado, o Banco Central, preocupado com a inflação, prepara-se para reduzir a oferta de moeda em 160 u.m. a) Quantifique a medida a implementar pelo Governo de modo a atingir o seu objectivo, tendo em conta que o Banco Central adopta em simultâneo a referida diminuição da oferta de moeda. Calcule o impacto destas alterações no Investimento. (3v) b) Ilustre graficamente as alterações que ocorrerão na economia. (1,5v) Questão III (1,75 valores) “O impacto das políticas orçamental e monetária depende da sensibilidade do Investimento face a variações da taxa de juro, mas também da sensibilidade da procura real de moeda face a variações da taxa de juro.” Comente a afirmação, justificando devidamente a sua resposta. Neste contexto, ilustre graficamente o caso particular da “Armadilha da Liquidez”, explicando de que modo condiciona a eficácia das políticas orçamental e monetária. Resolução Exame Macroeconomia Época Normal 2010_2011 (04-02-2011) Parte I a) • inSMN 06−09 = SMN 09 SMN 06 • Tx. Inflação06−09 = −1 = 450,0 385,9 IPC 09 b08 IPC 06 b08 − 1 = 0,1661 −1 = 99,20 95,09 (16,61%) − 1 = 0,0432 O poder de compra é dado pelo salário real, pelo que a evolução do poder de compra é dada pela taxa de crescimento real do salário. No caso em questão: (1 + irSMN 06−09 ) = 1 + inSMN 06−09 1 + Tx. Inflação06−09 . Para que o poder de compra aumente (irSMN > 0), o crescimento nominal dos salários ocorrido num determinado período tem de ser superior à inflação registada nesse mesmo período, o que se verificou para os trabalhadores que auferiram o SMN no período 2006-2009. b) • ir PIB por trabalhador 08−09 = PIB por trabalhador 09 p 08 PIB por trabalhador 08 p 08 Dado que PIB por trabalhador = PIB N º Trabalhadores −1 = 32016 32000 − 1 = 0,0005 , em termos reais esta variável pode aumentar em resultado de um aumento real do PIB (aumento das quantidades produzidas) e/ou em resultado de uma diminuição do Nº de Trabalhadores. Tendo em conta o crescimento real verificado (0,05%) e o facto do Nº de Trabalhadores ter diminuído, a única conclusão que se pode tirar, face aos dados apresentados, é que a taxa de crescimento real do PIBpm será inferior a 0,05%, podendo até ser negativa (caso a diminuição do Nº de Trabalhadores seja superior a 0,05%)! c) ( ) • 1 + irSMN 06−09 = 1 + inSMN 06−09 1 + Tx. Inflação06−09 1 + 0,1661 ⇒ irSMN 06−09 = − 1 = 0,1178 1 + 0,0432 • (1 + ir PIB por trabalhador 06−09 ) = = (1 + ir PIB por trabalhador 06−07 ) × (1 + ir PIB por trabalhador 07−08 ) × (1 + ir PIB por trabalhador 08−09 ) ⇒ ir PIB por trabalhador 06−09 = (1 + 0,0160) × (1 − 0,0040) × (1 + 0,0005) − 1 = 0,0124 Nota : ir PIB por trabalhador 07−08 = PIB por trabalhador 08 p 07 PIB por trabalhador 07 p 07 −1 = 31373 31500 − 1 = −0,0040 O crescimento real do SMN é muito superior ao crescimento real do PIB por trabalhador! d) Se, em todos os anos do período 2006-2009, a determinação do Salário Mínimo Nacional tivesse tido por base a evolução do Índice de Preços no Consumidor e um aumento real igual à taxa de crescimento real do PIBpm por trabalhador, esta regra seria também verificada em termos globais, pelo que: (1 + inSMN 06−09 ) = (1 + irSMN 06−09 )× (1 + Tx. Inflação06−09 ), com irSMN 06−09 = ir PIB por trabalhador 06−09 = 0,0124 . Assim, 1 + inSMN *06−09 = (1 + 0,0124 ) × (1 + 0,0432 ) = 1,0561 , → SMN *09 = SMN × 1 + inSMN *06−09 = 385,9 × 1,0561 = 407,55 € 06 Parte II a) I = Sint + Sext = 3200 I = FBC = FBCF + ∆Stocks = FLCF + D + ∆Stocks ⇒ FLCF = I – D – ∆Stocks = 3200 – 700 – 800 = 1700 b) RI = PILcf = S + R + J + L = 8400 PIBcf = PILcf + D = 8400 + 700 = 9100 Excedente Bruto de Exploração = R + J + L + D = 5400 PIBcf = S + Excedente Bruto de Exploração ⇒ S = PIBcf – Excedente Bruto de Exploração = 9100 – 5400 = 3700 c) RdbN = Consumo Final Nacional + SbN = 10400 Consumo Final Nacional = (C + G) = Procura Global – Procura Externa – Investimento = 14000 – 3000 – 3200 = 7800 Procura Global = Procura Interna + Procura Externa = (C + G + I) + X = 14000 Procura Externa = Exportações de bens e serviços = X = 3000 I = Sint + Sext = 3200 ⇒ SbN = RdbN – Consumo Final Nacional = 10400 – 7800 = 2600 d) RdbN = PNBpm + Balança de Transferências Correntes = PIBpm + RLE + B. Transf. Correntes RLE = PNLcf – PILcf = 8200 – 8400 = -200 (RI = PILcf) RdbN = PIBpm + (-200) + 600 = 10400 ⇒ PIBpm = 10000 DI = PIBpm = Procura Global – Q ⇒ Q = Procura Global – PIBpm = 14000 – 10000 = 4000 DI = C + G + I + X – Q Procura Global = C + G + I + X Q = Importações de bens e serviços = Oferta Externa Em alternativa, Balança de Bens e Serviços = X – Q, com BBS = B. Corrente – RLE – B. Transf. Correntes. B. Corrente = – Sext, com Sext = I – Sint (Sint = SbN) Parte III IS : Y = D Y = C + I +G + X −Q Y = C 0 + c1Yd + I + G + X − Q Y = C 0 + c1 (Y − T + Tr ) + I 0 − bi + G0 + g1T + X 0 − Q0 − q1Y Y = C 0 + c1 (Y − T0 − t1Y + Tr0 ) + I 0 − bi + G0 + g 1 (T0 + t1Y ) + X 0 − Q0 − q1Y Y = C 0 + c1Y − c1T0 − c1t1Y + c1Tr0 + I 0 − bi + G0 + g 1T0 + g1t1Y + X 0 − Q0 − q1Y Y − c1Y + c1t1Y − g1t1Y + q1Y = C 0 − c1T0 + c1Tr0 + I 0 + G0 + g1T0 + X 0 − Q0 − bi Y [1 − c1 + c1t1 − g1t1 + q1 ] = C 0 − c1T0 + c1Tr0 + I 0 + G0 + g 1T0 + X 0 − Q0 − bi LM : M =L P M0 = L0 + kY − hi P0 i= L0 M 0 k − + Y h h.P0 h L M k IS/LM : Y [1 − c1 + c1t1 − g1t1 + q1 ] = C 0 − c1T0 + c1Tr0 + I 0 + G0 + g1T0 + X 0 − Q0 − b 0 − 0 + Y h h.P0 h L k b M0 Y 1 − c1 + c1t1 − g 1t1 + q1 + b = C 0 − c1T0 + c1Tr0 + I 0 + G0 + g 1T0 + X 0 − Q0 − b 0 + h h h P0 L b M0 C 0 − c1T0 + c1Tr0 + I 0 + G0 + g1T0 + X 0 − Q0 − b 0 + h h P0 10000 Ye = = = 12500 k 0,8 1 − c1 + c1t1 − g1t1 + q1 + b h Questão I a) ∆G0 = -80 → ∆Y = α G0 × ∆G0 , α G0 = ∂Y = ∂G0 1 1 − c1 + c1t1 − g 1t1 + q1 + b k h = 1 = 1,25 0,8 ∆Y = 1,25 × (−80) = −100 → SO = T − Tr − G = T0 + t 1 Y − Tr0 − G 0 − g 1 (T0 + t 1 Y) = T0 − Tr0 − G 0 − g 1T0 + (t 1 − g 1 t 1 )Y ∆SO = − ∆G 0 + (t 1 − g 1 t 1 )∆Y = −(−80) + [0,25 − 0,4 × 0,25] × (-100) = 65 → Yd = Y − T + Tr = Y − T0 − t1Y + Tr0 = Tr0 − T0 + (1 − t1 )Y ∆Yd = (1 − t1 )∆Y = (1 − 0,25) × (−100) = −75 b) ∆Tr0 = -80 → ∆Y = α Tr0 × ∆Tr0 , α Tr0 = ∂Y = ∂Tr0 c1 1 − c1 + c1t1 − g1t1 + q1 + b k h = 0,8 =1 0,8 ∆Y = 1 × (−80) = −80 → SO = T0 − Tr0 − G 0 − g 1T0 + (t 1 − g 1 t 1 )Y ∆SO = − ∆Tr0 + (t 1 − g 1 t 1 )∆Y = −(−80) + [0,25 − 0,4 × 0,25] × (-80) = 68 → Yd = Tr0 − T0 + (1 − t1 )Y ∆Yd = ∆Tr0 + (1 − t1 ) ∆Y = −80 + (1 − 0,25) × ( −80 ) = −140 c) Dado o maior impacto dos gastos públicos sobre o rendimento (maior multiplicador), a diminuição do rendimento resultante da redução dos gastos é maior que a provocada pela diminuição das transferências, o que se traduz num impacto menos positivo sobre o Saldo Orçamental. Apesar do maior impacto negativo dos gastos públicos sobre o rendimento, a diminuição das transferências têm um impacto directo sobre o rendimento disponível, penalizando-o mais. Questão II a) Medidas: ∆-Tr0=? em simultâneo com ∆-M0= -160 Objectivo: reduzir o défice público em 110 u.m. ⇒ ∆SO = 110 → ∆Y = αM 0 × ∆M 0 + α Tr0 × ∆Tr0 = 0 , α M0 ∆Y = 2,5 × (−160) + ∆Tr0 ∂Y = ∂Tr0 , α Tr0 = c1 1 − c1 + c1t1 − g 1t1 + q1 + bk h = 0,8 =1 0,8 b h.P0 40 ∂Y = = = 20 × 1 = 2,5 k ∂M 0 0,8 1 − c1 + c1t1 − g1t1 + q1 + b h → SO = T0 − Tr0 − G 0 − g 1T0 + (t 1 − g 1 t 1 )Y ∆SO = − ∆Tr0 + (t 1 − g 1 t 1 )∆Y = 110 110 = − ∆Tr0 + [0,25 − 0,4 × 0,25]∆Y 110 = − ∆Tr0 + (0,15)∆Y ∆Y = −400 + ∆Tr0 110 = − ∆Tr0 + 0,15∆Y ∆Y = −400 + (0,15∆Y − 110) ∆Y = −600 ⇔ ⇔ ∆Tr0 = 0,15∆Y − 110 ∆Tr0 = −200 i= → I = I 0 − bi ∆I = −b∆i = −40 × (2) = −80 ↓M0 e L0 M 0 k − + Y h h.P0 h ∆i = − ∆M 0 k − 160 0,2 + ∆Y = − + × (−600) = 2 h.P0 h 20 × 1 20 ⇒ deslocação paralela LM p/esquerda (LM0→ LM1) ↓Tr0 ⇒ deslocação paralela IS p/esquerda (IS0→ IS1) LM1 i LM0 ie’ 10 E’ E IS1 Ye 12500 IS0 Y , tal que ∆i=2. Questão III I = I 0 − bi , b → mede a sensibilidade do Investimento face a variações da taxa de juro L = L0 + kY − hi , h → mede a sensibilidade da procura real de moeda face a variações da taxa de juro Considere-se uma política orçamental expansionista – por exemplo, um aumento dos gastos públicos autónomos (↑G0). A sua eficácia (impacto sobre o rendimento) é dada pelo valor do multiplicador: αG = 0 1 1 − c1 + c1t1 − g1t1 + q1 + b 0000 b ↑ (b ↑ e/ou h ↓) ⇒ α h GGGG Note-se que: se k h ↓ (diminui a eficácia da política orçamental) Considere-se uma política monetária expansionista (↑M0). A sua eficácia é dada por: αM = 0 ∂Y = ∂M 0 1 − c1 + c1t1 − g1t1 + q1 + b k h 0000 b ↑ (b ↑ e/ou h ↓) ⇒ α h MMMM Note-se que: se b h.P0 ↑ (aumenta a eficácia da política monetária) Note-se ainda que: Política Orçamental com Eficácia Máxima Se b = 0 (b=0 e/ou h→+∞) h ⇒ Política Monetária com Eficácia Nula ( α M 0 = 0) Caso da “Armadilha da Liquidez”: h→+∞ (Procura real de moeda infinitamente sensível à taxa de juro) Caso em que a taxa de juro nominal é muito baixa, próxima de zero. Face a esta situação, o custo de oportunidade de possuir moeda em detrimento de títulos é muito baixo – quase não compensa ter riqueza na forma de títulos. Os agentes económicos têm assim uma preferência absoluta por liquidez. Dado que declive LM = k : se h→+∞, o declive da LM é nulo (LM horizontal). h Vejamos o impacto de uma política orçamental expansionista (por exemplo, ↑G0) e o impacto de uma política monetária expansionista (↑M0): ↑G0 ⇒ Deslocação paralela IS p/direita (IS0→ IS1) i IS0 IS1 E1 LM0 Ye’ Y E0 ie=ie’ Ye Dado que a taxa de juro não aumenta (∆i=0) ⇒ ∆I=0, ou seja, não há efeito “crowding-out”, logo a eficácia da política orçamental é máxima. ↑M0 ⇒ Deslocação paralela LM p/direita (LM0→ LM1) i IS0 ie=ie’ E0 =E1 Ye=Ye’ LM0 ≡LM1 Y Os agentes económicos absorvem todo o aumento da oferta de moeda, mantendo a riqueza sob a forma de moeda (dada a sua preferência absoluta por liquidez). Desta forma, o aumento da oferta de moeda não afecta a taxa de juro: ∆i=0 ⇒ ∆I=0, logo a eficácia da política monetária é nula.