1 ENCÍCLICA “FIDES ET RATIO” CONCLUSÃO Resumo / Notas

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ENCÍCLICA “FIDES ET RATIO”
CONCLUSÃO
Resumo / Notas para a reunião do Grupo Pe. Leonel Franca (texto de agosto de 99)
Pe. Pedro M. Guimarães Ferreira S.J.
100. O Papa começa se referindo mais uma vez à Encíclica “Aeterni Patris” (1897) de
Leão XIII que teve um influxo enorme na “recristianização” da inteligência no seio da
Igreja, e também fora dela, ao voltar os olhos para São Tomás de Aquino. É óbvia a
importância que o pensamento filosófico tem no progresso das culturas e na
orientação dos comportamentos pessoais e sociais[...] ele exerce também uma
grande influência sobre a teologia... [Por isto] considerei justo e necessário
sublinhar o valor que a filosofia tem para a compreensão da fé, e as limitações em
que se vê quando se esquece ou rejeita as verdades da Revelação. De fato, a Igreja
continua profundamente convencida de que a fé e a razão “se ajudam
mutuamente” (expressão da Constit. “Sobre a fé católica” do Conc. Vaticano I ),
exercendo, uma em prol da outra, a função tanto de discernimento crítico e
purificador, como de estímulo para progredir na investigação e no
aprofundamento
101. [...] A teologia [...] fez seguramente com que a razão permanecesse aberta
diante da novidade radical que a revelação de Deus traz consigo. E isto foi, sem
dúvida alguma, uma vantagem para a filosofia que, assim, viu abrirem-se novos
horizontes [...] tal como reafirmei o dever que tem a teologia de recuperar a sua
genuína relação com a filosofia, da mesma forma sinto a obrigação de sublinhar
que é conveniente para o bem e o progresso do pensamento que também a filosofia
recupere sua relação com a teologia [...] De fato, quando indaga sobre a verdade, a
teologia, por sua natureza, é sustentada [...] pela tradição do Povo de Deus, com
sua riqueza multiforme de conhecimentos e de culturas na unidade da fé.
102. [Por outro lado, insistindo] sobre a importância e as autênticas dimensões do
pensamento filosófico, a Igreja promove a defesa da dignidade humana e,
simultaneamente, o anúncio da mensagem evangélica. [Para isto,] não existe hoje
preparação mais urgente do que esta: levar os homens à descoberta da sua
capacidade de conhecer a verdade e do seu anseio pelo sentido último e definitivo
da existência.
103. Além disto, a filosofia é como que o espelho onde se reflete a cultura dos
povos. Uma filosofia que se desenvolve em harmonia com a fé, aceitando o estímulo
das exigências teológicas, faz parte daquela “evangelização da cultura” que Paulo
VI propôs como um dos objetivos fundamentais da evangelização (citando a
“Evangelii nuntiandi” de 1975).
104. O pensamento filosófico é freqüentemente o único terreno comum de
entendimento e diálogo com quem não partilha a nossa fé. [...] Discorrendo à luz
da razão e segundo suas regras, o filósofo cristão, sempre guiado naturalmente
pela leitura superior que lhe vem da palavra de Deus, pode criar uma reflexão que
seja compreensível e sensata mesmo para quem ainda não possua a verdade plena
que a revelação divina manifesta. E cita o Vaticano II (Gaudium et Spes): “Por
nossa parte, o desejo de tal diálogo, guiado apenas pelo amor da verdade e com a
necessária prudência, não exclui ninguém ...”. Filosofia cristã, diz o Papa, na qual
já resplandeça algo da verdade de Cristo, única resposta definitiva aos problemas
do homem, será um apoio eficaz para aquela ética verdadeira e simultaneamente
universal de que hoje a humanidade tem necessidade.
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105. Não posso concluir esta carta encíclica sem dirigir um último apelo em
primeiro lugar aos teólogos, para que prestem particular atenção às implicações
filosóficas da palavra de Deus[...] A estrita conexão entre a sabedoria teológica e o
saber filosófico é umas das riquezas mais originais da tradição cristã no
aprofundamento da verdade revelada . Por isso, exorto-os a recuperarem e a
porem em evidência o melhor possível a dimensão metafísica da verdade [...] (O
grifo é meu). Citando São Boaventura no “Itinerarium mentis ad Deum”, diz: Tenham
sempre presente[...] que “a leitura não é suficiente sem a compunção, o
conhecimento sem a devoção, a investigação sem o arrebatamento do enlevo, a
prudência sem a capacidade de abandonar-se à alegria, a atividade separada da
religiosidade, o saber separado da caridade, a inteligência sem a humildade, o
estudo sem o suporte da graça divina, a reflexão sem a sabedoria inspirada por
Deus”. (Como se vê, o Papa não acolhe a crítica de oração “intimista”...)
106. O meu apelo dirige-se ainda aos filósofos e a quantos ensinam a filosofia, para
que na esteira de uma tradição filosófica perenemente válida, tenham a coragem
de recuperar as dimensões de autêntica sabedoria e de verdade, inclusive
metafísica, do pensamento filosófico[...] A Igreja acompanha com atenção e
simpatia suas investigações [...] De modo particular, quero encorajar os crentes
empenhados no campo da filosofia para que iluminem os diversos âmbitos da
atividade humana, graças ao exercício de uma razão que se torna mais segura e
perspicaz com o apoio que recebe da fé.
Não posso, enfim, deixar de dirigir uma palavra também aos cientistas que nos
proporcionam, com suas pesquisas, um conhecimento sempre maior do universo
[...] O caminho por eles realizado atingiu, especialmente neste século, metas que
não cessam de nos maravilhar. Ao exprimir minha admiração e meu
encorajamento a estes valorosos pioneiros, [...] o Papa lembra o que já havia dito no
discurso na Universidade de Cracóvia: a busca da verdade, mesmo quando se refere
a uma realidade limitada do mundo ou do homem, jamais termina; remete sempre
para alguma coisa que está acima do objeto imediato dos estudos, para os
interrogativos que abrem acesso ao Mistério.
107. O Papa observa que vários sistemas filosóficos convenceram [o homem] de que
ele é senhor absoluto de si mesmo, que pode decidir autonomamente sobre seu
destino e futuro, confiado apenas em si próprio e nas próprias forças. Ora, esta
nunca poderá ser a grandeza do homem.
108. Last, not least, o meu pensamento se dirige para Aquela que a oração da
Igreja invoca como Sede da Sabedoria. Assim terminam todas, creio, as
Encíclicas e textos do Papa, isto é, com invocação a Nossa Senhora. Que a Sede
da Sabedoria seja o porto seguro para quantos consagram a sua vida à
procura da sabedoria! O caminho para a Sabedoria [...] possa ver-se livre de
qualquer obstáculo por intercessão d’ Aquela que, depois de gerar a
Verdade [sic!] e tê-la conservado no seu coração, comunicou-A para sempre
à humanidade inteira.
O Papa escolhe sempre uma data com forte valor simbólico para assinar suas Encíclicas.
Ele é um homem que valoriza, bom ator que foi, o significado dos símbolos, parece que
atenta especialmente aos símbolos nos números, haja vista toda a “retórica” em torno do
terceiro milênio. Para esta Encíclica escolheu o dia 14 de setembro, Festa da Exaltação
da Santa Cruz. Creio que o símbolo não podia ser melhor: exaltação da Verdade
crucificada...
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