Avaliação da amplitude de movimento dos ombros em mulheres operadas por câncer de mama Resumo Maria Catarina Valério Riograndense da Silva, Laura Ferreira de Rezende O objetivo deste estudo1 foi avaliar a amplitude de movimento (ADM) dos ombros das mulheres no pós-operatório de câncer de mama na cidade de São João da Boa Vista. Para este estudo foram convidadas a participar do estudo 90 mulheres, das quais 14 aceitaram. Foi realizada goniometria (exame realizado para determinar amplitude do movimento articular) para avaliação da ADM do ombro e aplicada uma ficha para coleta de dados pessoais e sobre a cirurgia. Foram encontrados ADM funcionais de flexão, abdução e rotação externa do ombro acometido, sem diferença significativa com o membro contralateral. Autores Laura Ferreira de Rezende, Coordenadora do Curso de Fisioterapia (noturno) e Professora do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE; Fisioterapeuta doutoranda em Tocoginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas – FCM/UNICAMP e Mestrado E-mail: [email protected] Palavras-chave Amplitude de Movimento, Ombros, Câncer de Mama, Pós-operatório. Maria Catarina Valério Riograndense da Silva, Aluna do 3o ano do curso de Fisioterapia do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE. E-mail: [email protected] Recebido em 18/março/2007 Aprovado em 04/setembro/2007 Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 36 Avaliação da amplitude de movimento dos ombros em mulheres operadas por câncer de mama 1. Introdução O câncer de mama apresenta grande incidência e significativos índices de mortalidade entre as mulheres. Em 2000, foram registradas no Brasil 8.390 mortes decorrentes deste tipo de câncer. Dos 467.440 novos casos diagnosticados em 2005, o câncer de mama foi o segundo mais incidente entre a população feminina, sendo responsável por 49.470 novos casos (BRASIL, 2005). Nos EUA, 211.300 novos casos foram diagnosticados em 2003, apresentando um crescimento de 2% ao ano na taxa de incidência. Uma em cada 14 mulheres entre 60 e 79 anos terão câncer de mama, sendo que 50% delas receberão o diagnóstico com 65 anos ou mais, o que representará 20% da população em geral em 2030. Considerando a expectativa de vida de 17.5 anos para essas mulheres, tornou-se fundamental o aprimoramento das técnicas de reabilitação para proporcionar uma adequada qualidade de vida física e mental (HOLMES e MUSS, 2003). A reabilitação física, realizada por meio da fisioterapia, desempenha papel fundamental no restabelecimento das funções do membro superior, na prevenção de formação de cicatrizes aderentes e de disfunções linfáticas como o linfedema . Várias são as razões para que se recomende a fisioterapia no pós-operatório de câncer de mama (SACHS et al., 1981; CAMARGO e MARX, 2000): 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Pela contratura da musculatura da região escapular, principalmente de trapézios e adutores, devido ao estresse da cirurgia e do tratamento complementar; Pela posição de extrema amplitude do membro superior durante o ato cirúrgico; Pelo potencial de desenvolvimento de retrações e lesões músculo-tendinosas e articulares no pós-operatório; Pela alteração da imagem corporal; Pelo medo de dor, deiscência e possibilidade de incapacidade do membro superior; Pela necessidade de posicionar o membro superior com, no mínimo, 90 graus de flexão, abdução e rotação externa para a realização de radioterapia; Para prevenção do linfedema, uma vez que a contração muscular é um fator de aumento do retorno linfático; Pela alteração postural gerada pelo fator mecânico, principalmente em mulheres com mama grande e pesada, levando a elevação e rotação interna do ombro, com abdução da escápula e contratura da musculatura cervical; Pela diminuição da elasticidade e mobilidade da musculatura que compõe o cavo axilar, provocando incapacidade funcional e limitação articular. A disfunção da amplitude de movimento do ombro é uma das complicações mais comuns das cirurgias de câncer de mama, atingindo mais de 50% das mulheres no pós-operatório (SUGDEN et al., 1998) interferindo na qualidade de vida das pacientes, uma vez que pode causar limitações funcionais e laborais. Outro ponto importante é o desequilíbrio postural causado pelo membro limitado, além do risco de desenvolvimento de linfedema no braço. Podem ser observados, também, problemas de posicionamento na radioterapia, uma vez que pacientes com limitações severas de movimento apresentam impossibilidade para colocar o braço em abdução e rotação externa (SUGDEN et al., 1998). Pensamento Plural: Revista Científica do O progresso do comprometimento da função do ombro deve ser acompanhado cuidadosamente. O desenvolvimento total ou parcial das limitações articulares requer uma reabilitação com exercícios intensos. A capsulite adesiva ou ombro congelado é uma complicação do pós-operatório de câncer de mama em decorrência da limitação dos movimentos da articulação glenoumeral. Isso é provocado pela imobilização prolongada, o que causou dores articulares ao movimentar-se e provoca compensações posturais importantes. Dessa forma a realização de exercícios no pós-operatório minimizaria essa complicação. Serviços de saúde de referência em tratamento de câncer de mama apresentam rotineiramente um programa de reabilitação que inclui o serviço de fisioterapia. Entretanto, cidades de menor porte apresentam descentralização do serviço, sendo que o atendimento de fisioterapia nem sempre é realizado ou realizado tardiamente. 2. Objetivo geral Avaliar a Amplitude de Movimento (ADM) do ombro em mulheres operadas de câncer de mama na cidade de São João da Boa Vista entre os anos de 2000 e 2004. 3. Objetivo específico Avaliar, nas mulheres operadas por câncer de mama, a amplitude de movimento de: - flexão de ombro; - abdução de ombro; - rotação externa de ombro. 4. Critérios de inclusão e exclusão - Primeira cirurgia por câncer de mama; - Cirurgia realizada entre os anos de 2000 e 2004; - Cirurgia realizada na cidade de São João da Boa Vista ou acompanhamento pós-operatório realizado na cidade. 5. Sujeitos e métodos Foram estudadas 14 mulheres operadas por câncer de mama no período de 2000 a 2004, independentemente do estadiamento e do tipo de cirurgia realizada, selecionadas no Grupo Renascer de São João da Boa Vista, nos meses de agosto e setembro de 2006. Foi realizada goniometria para avaliação da ADM do ombro e aplicada uma ficha para coleta de dados pessoais e sobre a cirurgia. Todas as pacientes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A goniometria foi utilizada para medir a amplitude de movimento da articulação do ombro, em graus. O aparelho utilizado foi um goniômetro (marca CARCI), que é um círculo completo (0 a 360°) que acompanha o arco de movimento. Para realizar a goniometria, o sujeito permaneceu com a região a ser avaliada despida, com movimentação ativo-livre do ombro e com bom alinhamento postural. Na flexão do ombro, o movimento foi realizado levando o braço para frente, com a palma da mão voltada medialmente paralela ao plano sagital, em decúbito dorsal. Na abdução do ombro, o movimento foi realizado levando o braço lateralmente ao corpo, com palma da mão voltada anteriormente paralela ao plano frontal, em decúbito lateral. Na rotação externa do ombro, o movimento foi realizado com o braço em 90 graus de abdução, mantendo o cotovelo em flexão de 90 graus, levando-o em rotação lateral, , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 37 37 da SILVA, M. C. V. R., REZENDE, L. F gem linfática acrescida aos exercícios e apenas uma realizou eletroterapia, o que não é comumente indicado. Sete pacientes relatam dor no membro superior e cinco relatam dormência em face póstero-medial do braço. Esse trabalho teve como objetivo avaliar pacientes que já tem no mínimo dois anos de pós-operatório, e os resultados encontrados são satisfatórios para a funcionalidade da paciente. O uso funcional da amplitude de movimento do ombro é definido como 145 graus de abdução, 160 graus de flexão e 80 graus de rotação externa (GERBER et al., 1992), sendo que 100-120 graus de média de abdução e 120-140 graus de média de flexão representam sérios prejuízos funcionais (BOX et al., 2002). As diferenças encontradas no membro acometido e no membro não acometido não representam diferença estatística e clínica significativa. Apesar da importância funcional e de qualidade de vida da paciente, além da precoce reabilitação do movimento, vários estudos mostram que não há prejuízo para a amplitude de movimento articular, a longo prazo, em pacientes no pós-operatório de câncer de mama. (CHEN e CHEN, 1999). em decúbito dorsal. Foram contatadas 68 mulheres, número total de pacientes cadastradas no Grupo Renascer, de um total de 90 operadas segundo cadastro da Secretaria Municipal de Saúde. Dessas apenas 14 preencheram os critérios de inclusão e concordaram em participar da pesquisa. As fichas de avaliação foram submetidas à revisão com relação à qualidade e legitimidade das informações. Os dados foram codificados e duplamente digitados, utilizando o programa Excel. Procedeu-se, então, a limpeza dos dados, obtendo o arquivo final a ser utilizado para análise. Os dados foram armazenados com cópia em local seguro. Os dados foram avaliados descritivamente através de média, desvio, mediana, mínimo e máximo, sendo as variáveis contínuas. 6. Resultados/discussão Referências 7. Considerações finais (1) O estudo integra o Programa de Apoio à Iniciação Científica (PAIC), patrocinado pelo UNIFAE. Não sendo São João da Boa Vista um município de referência para o tratamento de câncer de mama e não possuindo um serviço de reabilitação especializado, os resultados obtidos são satisfatórios, com déficits aceitáveis para a funcionalidade. Outra questão importante observada no trabalho foi a relutância dos profissionais da saúde do município e das pacientes em participar da pesquisa, que compreendia um questionário e avaliação da medida da amplitude de movimento do ombro. A cultura científica precisa ser implantada e cada vez mais explorada para que os resultados clínicos possam ser melhores. O tamanho da amostra do trabalho foi limitado devido à recusa das pacientes em informar. Notes Notas A média de idade das pacientes foi 60,5 anos (7347), sendo que 9 pacientes realizaram cirurgia conservadora e 5 mastectomia radical, todas com esvaziamento axilar completo. Destas, 12 realizaram cirurgia na Santa Casa de São João da Boa Vista, uma em serviço privado do município e outra fora do município. Onze pacientes realizaram radioterapia. A média de flexão do ombro encontrada no membro acometido foi de 145,43º (174-108), em comparação com 154,93º (174-125) do membro contralateral. A média de abdução do ombro do membro acometido foi de 162,14° (98-180), em comparação com 162,57º (178-142) do membro contralateral. A média de rotação externa do ombro do membro acometido foi de 80,71° (88-70), em comparação com 81,43º (90-62) do membro contralateral. Realizaram fisioterapia no pós-operatório 12 pacientes, dentre as quais sete realizaram exercícios individualmente e as outras sete realizaram em grupo. Cinco realizaram drena- (1) The study is part of the Program in Support of Undergraduate research (PAIC), sponsored by UNIFAE. BOX, R.C., REUL-HIRCHE, H.M., BULLOCK-SAXTON, J.E., FURNIVAL, C.M. Shoulder movement after breast cancer es TTreat reat surgery: results of a randomized controlled study of postoperative physiotherapy. Breast Cancer R Res reat, [s.l.]: 75:35-50, 2002. BRASIL. Ministério da Saúde. [INCA] Instituto Nacional de Câncer [on line]. 2005. Disponível em <http://www.inca.gov.br [15 Nov 2006] CAMARGO, M.; MARX, A. Reabilitação física no câncer de mama mama. São Paulo: Manole, 2000. CHEN, S.H.; CHEN, M.F. Timing of shoulder exercise after modified radical mastectomy: a prospective study. Chang Gung Med JJ,, [s.l.]: 22:37-43, 1999. GERBER, L.; LAMPERT, M.; WOOD, C.; DUNCAN, M.; D´ANGELO, T.; SCHAIN, W. et al. Comparison of pain, motion, and edema after modified radical mastectomy vs. Local excision with axillary dissection and radiation. Breast Cancer R es TTreat reat Res reat, [s.l]: 21:139-45, 1992. HOLMES, C.E.; MUSS, H.B. Diagnosis and Treatment of Breast Cancer in the Eldery. Cancer J Clin Clin, CA: 53:227-44, 2003. 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It was found an ADM functional flexion, shoulders external abduction and external rotation, without significant differences with a contralateral limb. Key words Amplitude of Movement, Shoulders, Breast Cancer, Post Surgery. Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 39 39