UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA E COMPUTAÇÃO CONSTRUÇÃO E CONTROLE INTELIGENTE DE UM MANIPULADOR ROBÓTICO COM DOIS GRAUS DE LIBERDADE Jobson Francisco da Silva Natal-RN 2012 JOBSON FRANCISCO DA SILVA CONSTRUÇÃO E CONTROLE INTELIGENTE DE UM MANIPULADOR ROBÓTICO COM DOIS GRAUS DE LIBERDADE Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e Computação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Área de Concentração: Automação e Sistemas) como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências de Engenharia Elétrica e Computação. Orientador: Natal-RN 2012 Prof. Dr. Fábio Meneghetti Ugulino de Araújo Catalogação da Publicação na Fonte / Bibliotecário Raimundo Muniz de Oliveira CRB15-429 Silva, Jobson Francisco da. Construção e controle inteligente de um manipulador robótico com dois graus de liberdade / Jobson Francisco da Silva. – Natal, RN, 2012. 84 f. : il. Orientador Fábio Meneghetti Ugulino de Araujo. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa de Pós Graduação em Engenharia Elétrica e Computação. 1. Manipulador Robótico – Dissertação 2.Controle Fuzzy – Dissertação. 3. Controle de posição – Dissertação. Araujo, Fábio Meneghetti Ugulino de. II. Título. RN CDU 004.896 CONTRUÇÃO E CONTROLE INTELIGENTE DE UM MANIPULADOR ROBÓTICO COM DOIS GRAUS DE LIBERDADE Jobson Francisco da Silva Dissertação de Mestrado aprovada em 08 de junho de 2012, pela banca examinadora composta pelos seguintes membros: ____________________________________________________________ Prof. Dr. Fábio Meneghetti Ugulino de Araújo - DCA/UFRN ____________________________________________________________ Prof. Dr. Anderson Luiz de Oliveira Cavalcanti - DCA/UFRN ____________________________________________________________ Prof. Dr. Paulo Henrique de Miranda Montenegro - DEM/CT/UFPB À minha esposa, Maria Cléa Cavalcanti da Silva. AGRADECIMENTOS A Deus, a Jesus Cristo e Sua Mãe, Maria, pela proteção e auxílio nas adversidades. À minha esposa, Maria Cléa, pelo seu carinho, pela sua presença constante e compreensão, e aos não menos amados filhos, Pollyanna, Julianna e Jobson Júnior. Aos meus pais, João Francisco da Silva e Maria das Neves Gonçalves da Silva (in memoriam). Ao meu orientador e professor de Sistemas de Controle e Controle Inteligente, Dr. Fábio Meneghetti Ugulino de Araújo, pela paciência, pela sabedoria, pela sua orientação; enfim, pela honra de ser seu orientado. Ao professor Alberdan Santiago de Aquino, pelas inúmeras horas reservadas em prol do meu trabalho, pelos direcionamentos, conselhos e pela amizade sincera. Ao professor Arnaldo Vilela, pelo convívio, pelo incentivo, pelas conversas descontraídas, e por compartilhar comigo materiais de estudo e ideias. Aos professores Carlos Alberto Nóbrega Sobrinho e Luiz Nóbrega Sobrinho, pela ajuda e convivência durante todo o meu trabalho. Ao meu amigo e colega de mestrado Marcílio de Paiva Onofre Filho, pelas preciosas contribuições para o desenvolvimento desta dissertação. Aos professores do Projeto MINTER, pelos enriquecedores ensinamentos, essenciais para o desenvolvimento deste trabalho. Ao professor Benedito Santana de Oliveira, pelas preciosas contribuições para esta dissertação. Aos colegas de Mestrado e professores João Batista de Oliveira Silva, Francisco Roberto de Castro, José Nedício, Antônio Dália, Leonardo Telino, Fábio Lima, Jailton Moreira, José Aniceto, Milton Medeiros, Rafaelle Feliciano, Márcio Ugulino, Emânuel Guerra, Fernando Hilton, Guilherme Régis e Ivo Oliveira, pelos momentos de estudo e valiosa convivência. Ao professor Dr. Wilson Guerreiro Pinheiro, pela meticulosa revisão final da dissertação. Ao professor Dr. José Bezerra de Menezes Filho, pela coordenação operacional do MINTER. RESUMO O presente trabalho mostra o desenvolvimento e construção de um manipulador robótico de juntas rotativas com dois graus de liberdade, acionado por motores de indução trifásicos. Os posicionamentos do braço e da base são realizados, para efeito de comparação, por um controlador fuzzy e por um controlador PID, implementados no ambiente de programação LabVIEW®. O robô desenvolvido permite movimentação numa área espacial equivalente a um quarto de esfera. Resultados experimentais demonstraram que o controlador fuzzy apresenta desempenho superior ao do controlador PID quando o manipulador robótico executa trajetórias dos tipos degrau variável e degrau unitário com carga e sem carga. Palavras-Chaves: Manipulador robótico. Controle de posição. Controle fuzzy. ABSTRACT The present work shows the development and construction of a robot manipulator with two rotary joints and two degrees of freedom, driven by three-phase induction motors. The positions of the arm and base are made, for comparison, by a fuzzy controller and a PID controller implemented in LabVIEW® programming environment. The robot manipulator moves in an area equivalent to a quarter of a sphere. Experimental results have shown that the fuzzy controller has superior performance to PID controller when tracking single and multiple step trajectories, for the cases of load and no load. Keywords: Robotic manipulator. Position control. Fuzzy control. LISTA DE FIGURAS Figura 1.1 Manipulador robótico de seis graus de liberdade ................................................ 19 Figura 2.1 Elos (vínculos) e junta de um manipulador ......................................................... 28 Figura 2.2 Configurações básicas de braços robóticos: (a) junta deslizante; (b) junta rotacional; (c) junta esférica. .............................................................................. 28 Figura 2.3 Sistema de controle ............................................................................................ 30 Figura 3.1 Manipulador robótico desenvolvido ................................................................... 35 Figura 3.2 Braço mecânico desenvolvido ............................................................................ 36 Figura 3.3 Elementos necessários ao acionamento do braço mecânico................................. 37 Figura 3.4 Elementos necessários ao acionamento da base .................................................. 37 Figura 3.5 Sistema braço + base montado ........................................................................... 38 Figura 3.6 Manipulador robótico desenvolvido ................................................................... 38 Figura 3.7 Manipulador robótico e sistema de comando ...................................................... 39 Figura 3.8 Diagrama esquemático do sistema ...................................................................... 40 Figura 3.9 Enrolamentos do estator e do rotor de um motor de indução ............................... 41 Figura 3.10 Modulação PWM controlada por sinal senoidal ................................................ 43 Figura 3.11 Placa de aquisição de dados da NI .................................................................... 44 Figura 3.12 Transdutor angular (potenciômetro de 10 kΩ).................................................... 45 Figura 3.13 Transferidor da base ......................................................................................... 46 Figura 3.14 Transferidor do braço ....................................................................................... 46 Figura 3.15 Diagrama de acionamento, comando e proteção do sistema .............................. 47 Figura 4.1 Diagrama de blocos do controle da base do manipulador robótico ...................... 48 Figura 4.2 Variável ERRO e seus termos linguísticos.......................................................... 52 Figura 4.3 Variável VERRO e seus termos linguísticos .......................................................... 52 Figura 4.4 Variável de saída e seus termos linguísticos ....................................................... 53 Figura 4.5 Exemplo de regra de estratégia de controle ......................................................... 55 Figura 4.6 Fuzzificação para Erro = -1,85 grau.................................................................... 56 Figura 4.7 Fuzzificação para VERRO = -0,1 grau................................................................... 56 Figura 4.8 Defuzzificação de acordo com o Centro dos Máximos (CoM) ............................ 58 Figura 4.9 Superfície para variável de controle do manipulador .......................................... 59 Figura 5.1 Resposta ao Degrau Variável – Braço ................................................................ 61 Figura 5.2 Variável de controle do controlador fuzzy para o braço ....................................... 61 Figura 5.3 Resposta ao Degrau Variável – Base .................................................................. 62 Figura 5.4 Variável de controle do controlador fuzzy para a base ......................................... 63 Figura 5.5 Deslocamentos do sistema nas situações com carga e sem carga......................... 65 Figura 5.6 Detalhe do degrau positivo do sistema com carga e sem carga ............................ 65 Figura 5.7 Detalhe do degrau negativo do sistema com carga e sem carga ........................... 66 Figura 5.8 Acompanhamento de trajetória cossenoidal – Braço ........................................... 69 Figura 5.9 Variável de controle para acompanhamento de trajetória cossenoidal – Braço ........................................................................................... 69 Figura 5.10 Acompanhamento de trajetória senoidal – Base ................................................ 69 Figura 5.11 Variável de controle para acompanhamento de trajetória senoidal – Base ................................................................................................ 70 Figura 5.12 Resposta do braço submetido à ação do ganho crítico ....................................... 71 Figura 5.13 Resposta da base submetida à ação do ganho crítico ......................................... 72 Figura 5.14 Resposta ao Degrau Variável com diferentes técnicas de controle – Braço ....... 73 Figura 5.15 Resposta ao Degrau Variável com diferentes técnicas de controle – Base ......... 74 Figura 5.16 Variável de controle do controlador PID para o braço....................................... 74 Figura 5.17 Variável de controle do controlador PID para a base ........................................ 75 Figura A.1 Implementação do programa de controle de posição para aplicação dos sinais de referência .......................................................................................... 84 LISTA DE TABELAS Tabela 4.1 Termos linguísticos para o ERRO ...................................................................... 51 Tabela 4.2 Termos linguísticos para o VERRO ....................................................................... 51 Tabela 4.3 Base de regras linguísticas para os motores do manipulador robótico ................. 54 Tabela 4.4 Análise das quatro regras válidas ....................................................................... 57 Tabela 4.5 Resultado da inferência fuzzy ............................................................................. 57 Tabela 4.6 Resultado da defuzzificação ............................................................................... 58 Tabela 5.1 Índices de desempenho do braço obtidos experimentalmente para degraus de amplitudes variadas .......................................................................... 63 Tabela 5.2 Índices de desempenho da base obtidos experimentalmente para degraus de amplitudes variadas .......................................................................... 64 Tabela 5.3 Índices de desempenho experimentais para degrau positivo com carga e sem carga (braço). .............................................................................................. 67 Tabela 5.4 Índices de desempenho experimentais para degrau negativo com carga e sem carga (braço) ............................................................................................... 67 Tabela 5.5 Índices de desempenho experimentais do braço para degraus de amplitudes variadas – Controlador PID ................................................................................ 75 Tabela 5.6 Índices de desempenho experimentais da base para degraus de amplitudes variadas – Controlador PID ................................................................................ 76 Tabela 5.7 Índices de desempenho IAE e MSE do braço ..................................................... 76 Tabela 5.8 Índices de desempenho IAE e MSE da base ....................................................... 76 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AC Alternate Current [= Corrente Alternada] A/D Conversor Analógico-Digital APPC Adaptive Pole Placement Control [=Controle Adaptativo por Posicionamento de Polos] ASME American Society of Mechanical Engineers [= Sociedade Americana de Engenheiros Mecânicos] BCZM Biblioteca Central Zila Mamede CA Corrente alternada CC Corrente contínua CoA Center of Area [= Centro de Área] CoM Center of Maximum [= Centro dos Máximos] D/A Conversor Digital-Analógico Eq. Equação EUA Estados Unidos da América IAE Integral Absolute Error [= erro integral absoluto] ICRA International Conference on Robotics and Automation IECON Annual Conference of the IEEE Industrial Electronics Society IEEE Institute of Electrical and Electronic Engineers [= Instituto de Engenheiros Eletricistas e de Eletrônica] IET Institution of Engineering and Technology [= Instituição de Engenharia e Tecnologia] IFPB Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba IFR International Federation of Robotics [= Federação Internacional de Robótica] ISRR International Symposium of Robotics Research ISSN International Standard Serial Number [= Número Internacional Normalizado para Publicações Seriadas]. ISSO International Organization for Standardization [= Organização Internacional para Padronização] ITIC International Technology and Innovation Conference J. Dyn.Sys.Meas. Journal of Dynamic Systems, Measurement, and Control JIRA Japanese Industrial Robot Association [= Associação Japonesa de Robôs Industriais] J. Physiol. Journal of Physiology LabVIEW® Laboratory Virtual Instruments Engineering Workbench MINTER Programa de Apoio à Realização de Cursos de Pós-Graduação Stricto Sensu Interinstitucionais [modalidade Mestrado] MIT Massachusets Institute of Technology MoM Mean of Maximum [= Média dos Máximos] MRAC Model Reference Adaptive Control [= Controle Adaptativo por Modelo de Referência] MSE Mean Square Error [= erro quadrático médio] n. número NASA National Aeronautics and Space Administration [= Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço] NES Número de entradas do parafuso sem fim NG Negativo grande NI National Instruments® NM Negativo médio NMG Negativo médio grande N.o Número P Junta deslizante; proporcional PA Pasadena PCSPA Pervasive Computing, Signal Processing and Applications PD Proporcional-Derivativo PE Estado de Pernambuco PG Positivo grande PI Proporcional-Integral; Proporcional-Integrativo PID Proporcional, Integral e Derivativo; Proporcional-IntegrativoDerivativo PM Positivo médio PMG Positivo médio grande PP Positivo pequeno pp. Abreviação do inglês pages [= páginas] PUMA Programmable Universal Machine for Assembly PWM Pulse-Width Modulation [= modulação por largura de pulso] R Junta rotacional RAM Random Access Memory [= Memória de acesso aleatório] RIA Robotics Institute of America [= Instituto de Robótica da América] RNA Rede Neural Artificial S Junta esférica; amostra [em inglês, Sample] SAE Society of Automotive Engineers SC Estado de Santa Catarina SCARA Selective Compliance Assembly Robot Arm s.d. Abreviação da locução latina sine data [= sem data (de publicação)] s.l. Abreviação da locução latina sine loco [= sem local (de publicação)] s.n. Abreviação da locução latina sine nomine [= sem nome (do editor)] SSRR Safety, Security and Rescue Robotics Trans. Transactions UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFSC Universidade Federal de Santa Catarina UnB Universidade de Brasília Univ. University [= Universidade] USB Universal Serial Bus [= Barramento Serial Universal.] v. veja; volume vol. Volume LISTA DE SÍMBOLOS A, B , C Terminais do transdutor angular (potenciômetro) AO 0 e AO 1 Canais analógicos de saída AI 1 e AI 4 Entradas analógicas CV Cavalo-Vapor Ess Erro percentual de regime permanente f Frequência FC_1, FC_2, FC_3, FC_4 Sensores mecânicos de fim de curso g grama GB Gigabyte Gc(s) Função de transferência do controlador PID GHz Gigahertz GND Abreviação do inglês ground [= Aterramento; terminal de terra] Hz hertz Kd Ganho derivativo kg quilograma Ki Ganho integrativo KM Ganho proporcional quando o sistema entra em oscilação permanente KMbase Ganho crítico da base KMbraço Ganho crítico do braço Kp Ganho proporcional kS quilosample [= quiloamostra] kΩ quilo-ohm K1, K2 Contatores mm milímetro n número de amostras N Velocidade do eixo do motor P Número de polos do motor; junta deslizante PMbase Período crítico da base PMbraço Período crítico do braço PO 0 e PO 1 Saídas digitais ref(t) Referência do sistema no instante t rpm rotações por minuto RPMMotor Número de rotações por minuto do motor RPMSaída Número de rotações por minuto da saída do redutor s segundo S Escorregamento Ti Parâmetro relativo ao ganho integral do controlador PID Ts Tempo de assentamento Up Ultrapassagem percentual US Tensão trifásica senoidal de referência UΔ Tensão triangular V Volt Vp Tensão fornecida pelo potenciômetro à entrada analógica da placa de aquisição de dados X Eixo das abscissas Xi Comando de movimento do eixo X Yi Comando de movimento do eixo Y y(t) Resposta do sistema no instante t Z Número de dentes da engrenagem (coroa) α, β, γ, θ, φ, ψ θbase Ângulos de movimentação do manipulador robótico de seis graus de liberdade Ângulo da base do manipulador robótico θbraço Ângulo do braço do manipulador robótico µ0,k(ui) Pontos de máximo (alturas) das funções de pertinência de saída ω Frequência angular Ω ohm ωM Frequência de oscilação em regime permanente SUMÁRIO CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 19 1.1 Objetivo da Pesquisa ...................................................................................................... 21 1.2 Organização do Trabalho ............................................................................................... 21 CAPÍTULO 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................. 22 2.1 Notas Históricas sobre Robôs ......................................................................................... 22 2.1.1 Classificação dos robôs ........................................................................................ 25 2.1.2 Elementos de um manipulador robótico ................................................................ 26 2.1.3 Tipos de juntas ..................................................................................................... 27 2.1.4 Graus de liberdade e mobilidade ........................................................................... 29 2. 2 Estrutura de Controle .................................................................................................... 29 2.2.1 Controle clássico .................................................................................................. 30 2.2.2 Controle adaptativo .............................................................................................. 31 2.2.3 Redes neurais ....................................................................................................... 32 2.2.4 Lógica fuzzy ......................................................................................................... 33 CAPÍTULO 3 DESENVOLVIMENTO E INSTRUMENTAÇÃO DO MANIPULADOR ROBÓTICO ............................................................... 34 3.1 Manipulador Robótico com Dois Graus de Liberdade (Estudo, Desenvolvimento e Motivação) ..................................................................................... 34 3.2 Descrição do Manipulador Robótico .............................................................................. 35 3.2.1 Projeto mecânico .................................................................................................. 35 3.2.2 Sistema de acionamento ....................................................................................... 39 3.2.3 Sistema de aquisição de dados .............................................................................. 43 3.2.4 Sistema de medição (posicionamento) .................................................................. 44 3.2.5 Sistema de comando e proteção ............................................................................ 46 CAPÍTULO 4 CONTROLE INTELIGENTE DO SISTEMA ......................................... 48 4.1 Controlador .................................................................................................................... 48 4.1.1 Fuzzificação ......................................................................................................... 50 4.1.2 Inferência fuzzy..................................................................................................... 53 4.1.3 Defuzzificação...................................................................................................... 54 4.2 Considerações Finais ...................................................................................................... 59 CAPÍTULO 5 RESULTADOS EXPERIMENTAIS ......................................................... 60 5.1 Ensaios de Acionamento do Sistema .............................................................................. 60 5.1.1 Acionamento do tipo degrau ................................................................................. 60 5.1.2 Acionamento do braço com carga ......................................................................... 64 5.1.3 Acionamento com funções circulares .................................................................... 67 5.1.4 Ensaios com controlador PID ............................................................................... 70 CAPÍTULO 6 CONCLUSÕES .......................................................................................... 78 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 79 APÊNDICE A – PROGRAMA EM LABVIEW COM ALGORITMO DE CONTROLE FUZZY .............................................................................. 83 19 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO Nas décadas de 1950 e 1960, os robôs industriais foram introduzidos com a finalidade de substituir o homem na execução de tarefas repetitivas e/ou perigosas, visando a melhorias na qualidade, aumento da produtividade e redução dos custos de produção. No final da década de 1950, foi desenvolvido o que se pode chamar de primeiro robô automático, um conceito de J. K. Devol, chamado Unimate. (GIRALT, 1997). Tal projeto usava princípios de comando numérico para controlar o manipulador, e era acionado hidraulicamente, características muito semelhantes aos projetos encontrados na atualidade. No ano de 1961, esse robô foi instalado na Ford. A partir de então, a robótica não parou de se desenvolver de maneira acelerada, ao ponto de existirem estudos com robôs que imitam movimentos humanos (KOMAGOME et al., 2007) e robôs sociais presentes em centros comerciais. (SHIOMI, 2009). Na Fig. 1.1, é representado o arquétipo do robô manipulador, inspirado no braço humano. Através da programação dos três ângulos do braço (α, β, γ) e da aplicação do comando adequado aos motores das três articulações, é possível levar o atuador a um dado ponto dentro dos limites espaciais de trabalho. De forma análoga, podem-se programar os três ângulos (ψ, θ, φ) e comandar os acionadores do pulso para levar o elemento presente na extremidade do braço a tomar a orientação desejada com base na tarefa a ser realizada. (GIRALT, 1997). Figura 1.1 Manipulador robótico de seis graus de liberdade. Fonte: Adaptado de Giralt (1997). 20 Robôs industriais vêm sendo largamente empregados, devido à sua capacidade de se adaptarem a situações diversas e sua fácil programação. Contudo, para assegurar que a presença do robô seja verdadeiramente satisfatória, faz-se necessária uma boa estratégia de controle. A partir da segunda metade do século XX, com o crescente avanço da automação industrial, tem sido cada vez maior a atenção dispensada ao controle automático de sistemas dinâmicos. Durante esse período, várias técnicas de controle têm sido desenvolvidas, como controle robusto, controle ótimo, controle adaptativo, controle não linear, controle inteligente, entre outros. Como alternativa ao controle convencional, nos tempos atuais, utilizam-se controles inteligentes, consistindo basicamente de três abordagens, de acordo com Paraskevopoulos (1996): sistemas especialistas baseados em conhecimento, controle por lógica fuzzy e controle por redes neurais. O controle por lógica fuzzy incorpora a maneira de pensar do homem em um sistema de controle. (SHAW; SIMÕES, 2004). Por meio da tecnologia fuzzy, pode-se capturar a experiência de operadores humanos, que controlam processos e plantas industriais, e incluí-la em controladores computadorizados com desempenho idêntico ou melhor que o humano. O controle fuzzy não necessita da modelagem matemática do processo, e, sim, da modelagem das ações provenientes do conhecimento de um especialista, utilizando, para isso, termos linguísticos, ou seja, descrições verbais. Além disso, os controladores fuzzy tratam igualmente sistemas lineares e não lineares, e são capazes de controlar sistemas multivariáveis complexos, executando estratégias de tomadas de decisão nos mais variados tipos de plantas. Portanto, essa é uma abordagem diferente dos métodos convencionais de controle, que são desenvolvidos via modelagem matemática das plantas, derivando os parâmetros a serem controlados em função do estado do processo. (SHHEIBIA, 2001). O robô manipulador construído para a realização do presente trabalho apresenta dois graus de liberdade. Os movimentos da estrutura são realizados por meio de dois motores de .indução trifásicos acionados por inversores de freqüência. Além disso, esse sistema é retroalimentado e constituído por circuitos elétricos de condicionamento dos sinais de entrada e de saída. Os controladores fuzzy do robô foram desenvolvidos de maneira experimental, tendo sido projetados de acordo com experiência adquirida nos ensaios realizados durante a elaboração do trabalho, eliminando, assim, a necessidade de identificação e equacionamento matemático do sistema. A implementação computacional dos controladores foi realizada em ambiente LabVIEW®. 21 1.1 Objetivo da Pesquisa Este trabalho tem como objetivo a construção de um manipulador robótico de dois graus de liberdade alimentado por motores de indução trifásicos, bem como a apresentação de um acionamento automático, utilizando lógica fuzzy para o controle de posição dos elos e acompanhamento de sua trajetória. O estudo visa contribuir para o avanço nas pesquisas acerca da construção de manipuladores robóticos e do controle neles empregado, tornando-se, assim, uma referência em pesquisas futuras que desejem realizar trabalhos semelhantes ao que foi desenvolvido e aqui descrito. 1.2 Organização do Trabalho O presente trabalho está organizado em seis capítulos, com os seguintes conteúdos: No Capítulo 2, são apresentados uma revisão bibliográfica e um breve histórico sobre os robôs, contemplando sua classificação, os elementos inerentes a um manipulador robótico, os tipos de juntas e as definições de graus de liberdade e mobilidade. Além disso, é apresentada uma revisão a respeito das filosofias de controle utilizadas atualmente. O Capítulo 3 versa sobre o projeto, o desenvolvimento e a instrumentação do manipulador robótico, contemplando sua descrição mecânica, o sistema de acionamento, o sistema de aquisição de dados e, por fim, o sistema de medição de posição. Esse capítulo apresenta ainda uma nota sobre o tipo de motor de indução trifásico utilizado no projeto, além da justificativa de sua seleção e do princípio de funcionamento dos inversores de frequência. O Capítulo 4 discursa a respeito da fundamentação teórica da lógica fuzzy e dos princípios necessários ao entendimento dos processos desenvolvidos para os experimentos. Além disso, foi apresentado o desenvolvimento do controlador do manipulador. O Capítulo 5 mostra os resultados experimentais obtidos em testes realizados em laboratório com as estratégias de controle utilizadas. Testes experimentais apresentados foram obtidos como foco de controle de posição e trajetória para os elos do manipulador robótico. O Capítulo 6 apresenta comentários e conclusões finais. 22 CAPÍTULO 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Neste capitulo, é apresentado um pequeno histórico sobre robôs, contemplando suas características e alguns tipos de controle utilizados atualmente. Na seção 2.1, é apresentado um histórico sobre os robôs. Nas subseções 2.1.1, 2.1.2, 2.1.3 e 2.2.4, apresentam-se a classificação dos robôs, os elementos dos manipuladores robóticos, os tipos de juntas e as definições de grau de liberdade e mobilidade. Na seção 2.2, mostra-se como se estrutura um sistema de controle. Nas subseções 2.2.1, 2.2.2, 2.2.3 e 2.2.4, fazem-se comentários sobre controles clássico, adaptativo, por redes neurais e por lógica fuzzy. 2.1 Notas Históricas sobre Robôs O termo robô teve sua origem em 1917, derivado da palavra tcheca robata, que é sinônimo de trabalho escravo ou servidão. Sua primeira aparição foi na obra de ficção científica ―Opilek‖, e três anos depois na peça teatral ―Os Robôs Universais de Rossum‖, ambas do escritor tcheco Karel Čapek (1890-1938). No trabalho artístico, um cientista chamado Rossum, juntamente com seu filho, fabricava humanos artificiais, denominados robôs, cuja existência era destinada à realização de trabalhos escravos. Nos anos que seguiram, os robôs apresentam as mesmas características básicas expostas na obra teatral: a semelhança morfológica com seres humanos e a capacidade de repetir comandos de um operador. Nos países de língua eslava, a palavra robota significa trabalhador, embora nos dias atuais signifique tanto humano quanto mecânico. (SNYDER, 1985). A partir de 1940, os escritores Isaac Asimov (1920-1992) e John Campbell (19101971) publicaram muitas histórias e artigos de ficção científica que ajudaram a difundir o termo robô, descrevendo-o como máquina inteligente e de bom comportamento que segue fielmente as instruções e os comandos sugeridos por humanos. Foi nos trabalhos de Asimov e Campbell que o termo robótica foi aplicado pela primeira vez para definir o estudo de robôs e também que as três leis da robótica foram propostas, a saber: Primeira Lei – Um robô não fará mal a um ser humano, nem por omissão permitirá que o ser humano seja ferido; Segunda Lei – Um robô obedecerá às ordens dadas pelos humanos, exceto se tais ordens conflitarem com a primeira lei; 23 Terceira Lei – Um robô protegerá sua própria existência, até o instante em que tal ação conflite com as duas primeiras leis. Já no meio científico, o surgimento dos robôs foi resultado de constantes evoluções e inovações nas técnicas de manufatura de dispositivos e de resolução de modelos matemáticos. Os primeiros robôs construídos apresentavam uma constituição que imitava o braço humano. Tratava-se de robôs teleoperados e/ou que utilizavam técnicas semelhantes às máquinas de comando numérico. Esses robôs foram desenvolvidos durante a Segunda Guerra Mundial para manipulação de materiais radioativos. As máquinas CNC (Computer Numerical Control) foram criadas para atender as especificações do processo fabril, como alta precisão, exigidas principalmente pela indústria aeronáutica. (SPONG; VIDYASAGAR, 1989). Nas décadas de 1950 e 1960, os robôs industriais foram introduzidos com a finalidade de substituir o homem na execução de tarefas repetitivas e/ou perigosas, visando a uma melhoria na qualidade, ao aumento da produtividade e à redução dos custos de produção. Algumas das tarefas mais comuns a que os robôs se destinam são: transporte e manejo de materiais (WAWERLA et al., 2010; ENDO et al., 2008), montagem e manufatura (FEI et al., 2010) , soldagem a arco e a ponto (YANPING et al., 2009; CHEN, H. B. et al., 2008) e pintura (JARVIS, 1973; ASAKAWA et al., 1997; CHEN, H. et al., 2008; GAZEAU et al., 2011). No final da década de 1950, surgiu o que se pode chamar de primeiro robô automático, um conceito de George Charles Devol (1912-2011), chamado Unimate. Tal projeto usava princípios de comando numérico para controlar o manipulador, e era acionado hidraulicamente, características muito semelhantes aos projetos encontrados na atualidade. No ano de 1961, esse robô foi instalado na Ford. A partir de então, a robótica não parou de se desenvolver de maneira acelerada: 1968 – ―Shakey‖: robô móvel desenvolvido no Standford Research Institute, dotado de câmera de vídeo e sensores de contato; 1971 – Braço de Stanford, desenvolvido pela Universidade de Stanford (braço robótico com acionamento elétrico); 1973 – Surgimento da primeira linguagem de programação para robôs: WAVE; 1978 – Introdução do robô PUMA, pela Unimation; 1979 – Desenvolvimento do robô SCARA na Universidade de Yamanashi (Japão); 1981 – Desenvolvimento do robô com atuação direta (direct drive) na CMU; 24 1983 – Projeto para uma linha de montagem flexível automatizada com aplicação de robôs; 1984 – Muitos sistemas de programação off-line; 1989 – Sistemas de reconhecimento de imagens através da visão; 1996 – Família de robôs móveis Rocky, no Jet Propulsion Laboratory, da NASA, Pasadena, Califórnia (EUA); 1997 – Anúncio do primeiro robô humanoide que sobe escadas, pela Honda (Japão); 2000 – Sistemas de exploração de petróleo por robôs em águas profundas; 2006-2010 – Desenvolvimento de numerosos sistemas para as mais diversas aplicações, como imitar movimentos humanos (KOMAGOME et al., 2007), robôs cognitivos (WANG et al., 2010), robôs sociais em centros comerciais (SHIOMI et al., 2009), e até mesmo robôs para atuarem em resgates após ocorrência de desastres (SATO, 2008). Os robôs, hoje, convivem de maneira harmoniosa com os humanos nos ambientes fabris. Isso é possível graças à redistribuição das funções, ou seja, o humano programa a máquina, e esta, por sua vez, executa o trabalho programado. Os robôs industriais são de grande importância econômica e tecnológica. Até o final de 2007, cerca de 1,25 milhão de robôs foram instalados em todo o mundo, desde sua introdução em 1961. Nessa época, no mínimo 995 mil ainda estavam em operação, a maior parte (65% a 80%) em indústrias automotivas e de fabricação de metal. Especialistas estimam que, até o ano de 2011, cerca de 1,2 milhões de robôs industriais serão empregados em todo o mundo. Esse número resulta da estimativa conservadora de que a duração média da vida de um robô é de 12 anos de serviço, enquanto que estudos pilotos indicam que o tempo de vida real é algo próximo de 15 anos de serviço. O medo das pessoas de serem substituídas por robôs, algo marcante cerca de 20 anos atrás, praticamente desapareceu. Reconheceu-se que as indústrias que têm adotado robôs industriais no seu processo produtivo (como, por exemplo, a indústria automobilística) têm apresentado crescimento financeiro e gerado mais empregos. De maneira oposta, as indústrias que renunciaram aos robôs (por exemplo, aparelhos eletrônicos) vêm migrando para países que pagam salários menores. Não é segredo que, mais cedo ou mais tarde, pessoas irão abandonar o processo de produção nas fábricas e buscar novos tipos de trabalho mais diversificados. Qualquer nação industrializada deve estar preparada para essas mudanças estruturais que estão ocorrendo aos poucos, e que vêm acontecendo ao longo do tempo. (CHRISTALLER et al., 2001). 25 Robôs industriais garantem alta precisão para movimentos repetidos, aparentemente de maneira infinita, com alturas e cargas variáveis. (KUKA, 2008). No entanto, sua força e elevada precisão de posicionamento e rigidez vêm junto com uma alta relação de massacarga, 10:1. Apesar de já se empregarem materiais de fibra de carbono (KUKA, 2008), a relação massa-carga ainda é uma ordem de grandeza pior do que a do braço humano. 2.1.1 Classificação dos robôs Devido à constante evolução dos robôs, podem ser encontradas diversas definições para o termo robô. Fabricantes e instituições do mundo inteiro projetaram e construíram robôs, e adotaram uma definição própria para sua concepção de robô. Entre as definições atuais na área de robótica, três delas foram originadas de associações importantes, e são bastante utilizadas, a saber: Segundo a ISO 8373:1994, um robô industrial é definido como um manipulador programável em três ou mais eixos, controlado automaticamente, reprogramável e multifuncional; Para a Associação Japonesa de Robôs Industriais – em inglês, Japanese Industrial Robot Association (JIRA) –, um robô é um dispositivo com graus de liberdade e que pode ser controlado; De acordo com o Robotics Institute of America (RIA), um robô pode ser definido como um manipulador reprogramável e multifuncional, projetado para mover e manusear materiais, peças, ferramentas ou dispositivos especiais, capazes de desempenhar uma variedade de tarefas através de movimentos variáveis programados. De acordo com a JIRA, podem-se classificar os robôs conforme o nível de inteligência do controlador, isto é: Robôs manipuladores – dispositivos com vários graus de liberdade operados por pessoas; Robôs de sequência fixa – dispositivos que desempenham sucessivas tarefas de acordo com uma programação predeterminada e imutável, muito difícil de ser modificada; Robôs de sequência variável – dispositivos manipuladores que desempenham tarefas sucessivas que podem ser modificadas facilmente; Robôs repetitivos – dispositivos que permitem ao operador guiar o robô na execução de uma tarefa fixa; 26 Robôs de controle numérico – robôs cujo operador fornece o programa de movimento, ao invés de ensiná-lo manualmente; Robôs inteligentes – robôs que percebem e interagem com alterações do ambiente. Os robôs também podem ser classificados cronologicamente, por gerações: 1.ª geração – Robôs executores – repetem uma sequência de instruções predeterminadas, como a pintura ou a solda; 2.ª geração – Robôs controlados por sensores – dotados de malhas de controle fechadas, realimentadas por sensores, tomam decisões baseados nas informações enviadas por estes; 3.ª geração – Robôs controlados por visão – a malha de controle fechada inclui um sistema de visão para o processamento de imagens; 4.ª geração – Robôs com controle adaptativo – robôs capazes de reprogramar suas ações com base nos seus sensores; 5.ª geração – Robôs com inteligência artificial – utilizam técnicas de inteligência artificial para tomar suas decisões e até mesmo resolver problemas. Outra classificação leva em conta o nível de controle presente nos programas do controlador: Servossistemas – os atuadores controlam os parâmetros do dispositivo utilizando os dados fornecidos pelos sensores nas malhas de controle; Modo de controle – é feita uma modelagem dos movimentos realizados pelo sistema, incluindo as interações dinâmicas entre os mecanismos. As trajetórias são planejadas, e esse modelo leva à formulação da estratégia de controle; Inteligência artificial – caracterizada pela decomposição de instruções de alto nível em funções de níveis mais baixos. 2.1.2 Elementos de um manipulador robótico Os robôs manipuladores utilizam geralmente as primeiras juntas para posicionar a estrutura constituída pelas juntas seguintes, denominada punho, que é utilizada para orientar o elemento presente no terminal do braço. (CARVALHO, 1993). As juntas utilizadas para realizar esse posicionamento formam o braço. O punho apresenta geralmente duas configurações: pitch-yaw-roll (Y, Z, X) como o punho humano, ou roll-pitch-roll (Z, Y, Z), também denominado punho esférico. De acordo com Rosário (2005), os braços mecânicos 27 dos robôs são capazes de se mover de várias formas, devido às suas juntas ou uniões. Os números de juntas podem variar de acordo com o projeto, porém a maioria utiliza entre 3 e 6 juntas. A Fig. 2.1 ilustra a junta de um braço mecânico. Vínculo Junta rotativa Vínculo Figura 2.1 Elos (vínculos) e junta de um manipulador [adaptado de Rosário (2005)]. 2.1.3 Tipos de juntas Como descrito anteriormente, os braços mecânicos são constituídos por elos e ligados por juntas, podendo estas ser classificadas em dois grandes tipos: as deslizantes e as rotacionais ou rotativas. As deslizantes (P), cujos elos têm movimento relativo linear, são compostas de dois vínculos alinhados um dentro do outro, e em que um vínculo interno escorrega pelo externo, dando origem ao movimento linear. Nas rotacionais (R), a conexão permite movimentos de rotação entre dois vínculos que são unidos por uma articulação comum, com uma parte podendo mover-se cadenciadamente em relação à outra parte. Existe ainda um terceiro tipo, o da chamada junta esférica (S) que, no fundo, é a combinação de três juntas rotacionais com o mesmo ponto de rotação. (SANTOS, 2004). Os três tipos de juntas são ilustrados na Fig. 2.2. 28 (a) (b) (c) Figura 2.2 Configurações básicas de braços robóticos: (a) junta deslizante; (b) junta rotacional; (c) junta esférica. Atuador O atuador é um dispositivo que transmite movimento a uma parte mecânica pelo desenvolvimento de forças, baseado num princípio físico de conversão de energia. O atuador responde a comandos manuais ou automáticos, e podem ser, por exemplo, motores elétricos, cilindros hidráulicos ou pneumáticos, além de eletroímãs. Sensores Os sensores são elementos destinados à percepção do mundo exterior, bem como à medição do estado interno do robô. Entre os principais tipos de sensores empregados em manipuladores industriais estão os sensores de posição, de extensão, de velocidade e de proximidade: Sensores de posição monitoram a posição das juntas: a informação captada por eles é enviada ao sistema de controle, onde é utilizada para determinar a precisão dos movimentos das juntas. Sensores de extensão medem a distância entre um ponto importante e um ponto de referência, podendo essa medição ser realizada por câmeras. Sensores de velocidade são empregados na estimação da velocidade com que o manipulador se move. A variação da aceleração durante a movimentação ajuda a compreender a natureza da dinâmica do manipulador. Forças, como a de inércia causada pela mudança de aceleração, devem ser monitoradas e controladas para se garantir um bom desempenho do manipulador. 29 Sensores de proximidade são utilizados para captar e indicar a presença de algum objeto dentro de um espaço ou distância específica, sem a necessidade de contato físico, podendo ser capacitivos ou indutivos. Controlador O controlador é o responsável por gerar as informações que comandarão um ou mais atuadores com base em um algoritmo de controle. É um dispositivo que realiza operações matemáticas sobre o sinal de erro com o objetivo de produzir uma ação corretiva que, ao ser aplicada ao processo, faz com que ele satisfaça determinados critérios de desempenho. Essas operações matemáticas são chamadas de ações de controle. (BAZANELLA; SILVA JR., 2005). 2.1.4 Graus de liberdade e mobilidade Santos (2004) define graus de liberdade como sendo o número total de movimentos independentes que um dispositivo pode efetuar. Já os graus de mobilidade estão associados ao número de juntas existentes. Um exemplo de graus de liberdade é um cubo inserido em um espaço de três dimensões, podendo deslocar-se ao longo dos três eixos, e também rodar em torno de cada um deles. Isso totaliza seis graus de liberdade para sua movimentação. 2.2 Estrutura de Controle Define-se como planta ou processo um sistema a ser controlado, como representado de maneira simplificada pela Fig. 2.3. O sinal que se aplica na entrada é chamado sinal de controle. O sinal de saída do processo é denominado variável de processo, cujo comportamento se deseja controlar. Além disso, geralmente os sistemas estão sujeitos a ação de sinais externos chamados perturbações, em cujos valores não se pode interferir (BAZANELLA; SILVA JR., 2005). 30 Figura 2.3 Sistema de controle. Um sistema de controle pode ser classificado em sistema de malha aberta e sistema de malha fechada. Num sistema de controle de malha aberta, o sinal de saída não é medido nem realimentado para efetuar-se uma comparação com o sinal de entrada. No controle em malha fechada, a diferença entre a referência e o sinal realimentado é chamada de erro. Esse sinal realimentado pode ser tanto o sinal de saída da planta quanto uma função do próprio sinal de saída e suas derivadas. O sinal de erro é introduzido no controlador a fim de ser minimizado, fazendo, assim, com que o valor da saída atinja um valor desejado. O sistema em malha aberta apresenta sensibilidade a perturbações e incapacidade de corrigir o efeito de tais perturbações, realidade superada pelo sistema em malha fechada. 2.2.1 Controle clássico No âmbito da teoria do controle clássico, o sinal de controle pode ser calculado de diversas formas, entre as quais se destacam: Cálculo através da ação proporcional, integral e derivativa (PID) (AKYUZ et al., 2011); Cálculo através do posicionamento de polos (MUNSHI et al., 1989); Cálculo através de um compensador em atraso ou em avanço (KIM et al., 1994); Cálculo através da realimentação de estados (PARK et al., 1994). Esses controladores têm seus parâmetros fixos, sintonizados para um ponto ou região de operação de um processo ou planta. Essa sintonia não é modificada automaticamente, caso seja necessário; por isso, a etapa de modelagem do processo é de grande importância para garantir uma boa sintonia do controlador. Atualmente, controladores de estrutura simples e padronizada, como os controladores PID, representam a grande maioria das malhas de controle industriais em todo o mundo. 31 (BAZANELLA; SILVA JR., 2005). Nos controladores PID comercializados, apenas os ganhos de suas ações são ajustados. Tais controladores possuem uma estrutura fixa, e seus projetos podem ser realizados de forma simples e eficiente. De acordo com a necessidade do projeto, uma ou mais ações do controlador PID podem não ser utilizadas. A ação proporcional é usualmente empregada e, assim, as quatro configurações utilizadas são P, PD, PI e PID, sendo admissível utilizar ações separadas em uma malha ou em diferentes malhas do sistema. (TAKEGAKI et al., 1981; WEN et al., 1990; KELLY, 1993; ARIMOTO et al., 1984). O sinal de controle em um controlador PID é calculado em função do sinal de erro. (BAZANELLA; SILVA JR., 2005). 2.2.2 Controle adaptativo O projeto de um controlador, na maioria dos casos, depende do modelo da planta em determinada condição de operação. Contudo, a exatidão de uma modelagem é de extrema dificuldade. Além disso, em inúmeros processos, alguns parâmetros da planta são desconhecidos ou conhecidos com incertezas. Assim, surgiu a necessidade de técnicas de estimação desses parâmetros com o intuito de melhor entender o comportamento da planta. A motivação da adaptação de um sistema de controle surgiu do desenvolvimento de um piloto automático de alto desempenho, no início da década de 1950. A justificativa de um sistema de controle adaptativo se deveu ao fato de a aeronave operar numa grande faixa de velocidades e alturas, e de ter uma dinâmica não linear e conceitualmente variante no tempo. (IOANNOU et al., 1996). Uma estrutura de controle adaptativo contém, geralmente, uma malha de realimentação, um estimador de parâmetros e um controlador com ganhos ajustáveis. (IOANNOU et al.,1996). A estimação de parâmetros pode ser feita de duas formas: Off-line – após certo tempo, os parâmetros são estimados, através do processamento de dados, e armazenados; On-line – periodicamente os parâmetros são atualizados com base em estimativas anteriores e novos dados, e, assim, essa estimação é executada concorrentemente com o sistema. 32 Logo, o controle adaptativo consiste em aplicar alguma técnica de estimação para obter os parâmetros do modelo do processo e de seu meio a partir de medições de sinais da entrada e da saída da planta e usar esse modelo para projetar um controlador. (ÅSTRÖM; WITTENMARK, 1989). A estrutura de controle adaptativo é classificada em direta e indireta. No controle adaptativo direto, o modelo da planta é parametrizado em termos dos parâmetros do controlador, os quais são estimados on-line diretamente, sem cálculos intermediários envolvendo estimativas dos parâmetros da planta. É também chamado controle adaptativo implícito, por ser baseado na estimação de um modelo implícito da planta. No controle adaptativo indireto ou explícito, os parâmetros da planta são estimados on-line e usados para calcular os parâmetros do controlador. Em ambas as estruturas, os cálculos dos parâmetros do controlador são feitos por leis de adaptação. (IOANNOU et al., 1996). As principais técnicas de controle adaptativo são: PID adaptativo (KUC; HAN, 1998; TANG et al., 2010); Controle Adaptativo por Modelo de Referência (em inglês, Model Reference Adaptive Control, abreviadamente MRAC) (TSAI; TOMIZUKA, 1989); Controle Adaptativo por Posicionamento de Polos (em inglês, Adaptive Pole Placement Control, abreviadamente APPC) (TAKAGI; UCHIYAMA, 2005; ESAKI et al., 2000); Controle Adaptativo com Ganhos Ajustáveis (em inglês, Gain Scheduling Adaptive Control) (LIU et al., 2009). 2.2.3 Redes neurais Uma rede neural artificial (RNA) é um processador paralelamente distribuído, constituído de unidades de processamento simples, que têm a propensão natural para armazenar conhecimento experimental e torná-lo disponível para o uso. (HAYKIN, 2005). A estrutura das redes neurais foi desenvolvida a partir de modelos conhecidos de sistemas nervosos biológicos e do próprio cérebro humano. As unidades de processamento simples, denominadas neurônios artificiais, correspondem aos nós de rede, e são modelos simplificados dos neurônios biológicos. Tais modelos foram obtidos a partir da análise da geração e propagação de impulsos elétricos pela membrana celular dos neurônios. (HODGKIN; HUXLEY, 1952). 33 Os neurônios utilizados nos modelos de redes neurais artificiais realizam funções simples, como coletar os sinais existentes em suas entradas, agregá-los de acordo com sua função de entrada e produzir uma saída por intermédio de sua função de saída (função de ativação) inerente. Um modelo matemático de neurônio mais simples, que engloba as principais características de uma rede neural biológica – paralelismo e alta conectividade –, foi proposto em 1943 pelo neurocientista Warren Sturgis McCulloch (1898-1969) e pelo matemático Walter Pitts (1923-[196-]). (MARSALLI, [s.d.]). Esse modelo realiza a soma algébrica ponderada das entradas de um neurônio que, em seguida, serve como entrada para função de ativação, determinada a saída da rede. (HAYKIN, 2005). 2.2.4 Lógica fuzzy Lógica é o estudo de métodos e princípios de raciocínio em todas as suas possíveis formas. A lógica clássica trabalha com proposições que são verdadeiras ou falsas. A característica especial da lógica fuzzy é a de apresentar uma forma inovadora de tratamento das informações imprecisas, de forma muito distinta da teoria das probabilidades. A lógica fuzzy provê um método de traduzir expressões verbais, vagas, imprecisas e qualitativas, comuns na comunicação humana, em uma forma compreensível para os computadores. Assim, a tecnologia possibilitada pelo enfoque fuzzy tem um imenso valor prático, tornando possível a inclusão da experiência de operadores humanos para um sistema computadorizado, os quais controlam processos e plantas industriais, possibilitando estratégias de tomadas de decisão em problemas complexos. (SHAW; SIMÕES, 1999). O raciocínio aproximado é, segundo Novák (1989), um modelo matemático de raciocínio humano. Sua base é fornecida pela lógica fuzzy. Portanto, raciocínio aproximado pode ser entendido como o processo de inferir conclusões imprecisas de premissas imprecisas. Se a informação imprecisa puder ser expressa por um conjunto de regras linguísticas da forma ―se... então‖, é possível implementar um algoritmo computacional que, utilizando um método de inferência baseado no raciocínio aproximado, forneça uma saída para o sistema modelado. Mais detalhes dessa técnica são apresentados no Capítulo 4. 34 CAPÍTULO 3 DESENVOLVIMENTO E INSTRUMENTAÇÃO DO MANIPULADOR ROBÓTICO Neste capitulo, são apresentadas a descrição, a construção mecânica e a instrumentação do sistema do manipulador robótico desenvolvido. Na subseção 3.3.1, é detalhada a construção mecânica do robô de dois graus de liberdade, com apresentação clara do posicionamento dos elementos mecânicos responsáveis pelo acionamento. Nas subseções 3.3.2 e 3.3.3, são abordados o sistema de acionamento e o sistema de aquisição de dados. Por fim, na seção 3.3.4, o sistema de medição é apresentado juntamente com o elemento responsável, o transdutor linear. 3.1 Manipulador Robótico com Dois Graus de Liberdade (Estudo, Desenvolvimento e Motivação) O projeto do manipulador robótico aqui apresentado é considerado interdisciplinar, tendo em vista que ele engloba o conhecimento das diversas áreas da automação. A engenharia mecânica fornece as metodologias para o estudo de estruturas e mecanismos em aplicações estáticas e dinâmicas. As engenharias elétrica e eletrônica auxiliam nas técnicas para integração de sensores e atuadores, interfaces, além da teoria de controle, que formula e avalia algoritmos ou critérios de inteligência artificial, com o objetivo de realizar movimentos desejados e controlar as interações entre os manipuladores e o processo. Finalmente, a ciência da computação, que proporciona ferramentas para programação desses manipuladores, capacitando-os à realização de tarefas específicas. Grande parte dos componentes mecânicos (peças) necessários ao funcionamento do manipulador proposto foi confeccionada pelo Autor, como: estrutura metálica, redutor de velocidade — parafuso sem fim + engrenagem (coroa) —, e os demais que serão apresentados no decorrer deste texto. Os componentes eletroeletrônicos empregados no projeto estão todos disponibilizados comercialmente, tendo sido utilizados, entre outros, inversores de frequência, potenciômetros, motores de indução trifásicos, placa de aquisição de dados e sensores fim de curso. A construção do referido protótipo se justifica pelo fato de algumas partes serem de difícil aquisição, mesmo em sua versão didática. O hardware utilizado para o controle do robô é proprietário, visto que os fabricantes não disponibilizam a documentação do circuito de 35 controle, e o código fonte do software não é completamente aberto. A principal parte do código encontra-se em bibliotecas pré-compiladas. 3.2 Descrição do Manipulador Robótico Os tópicos seguintes apresentam o projeto mecânico, o sistema de acionamento e aquisição de dados e de medição do posicionamento que são utilizados no manipulador robótico. 3.2.1 Projeto mecânico Como pode ser visto na Fig. 3.1, o manipulador robótico desenvolvido é composto por um braço mecânico e uma base, que são responsáveis pelos movimentos de translação e rotação, respectivamente. Figura 3.1 Manipulador robótico desenvolvido. O braço mecânico foi confeccionado em perfil de alumínio quadrado, com dimensão de 50,80 mm e comprimento de 586 mm. Com a finalidade de balanceamento, uma massa de chumbo de 3,185 kg foi inserida na extremidade ―A‖ desse elemento, ou seja, essa massa foi utilizada no projeto como contrapeso. Outro detalhe importante a ser destacado é que, na extremidade ―B‖ do braço mecânico, foi inserido um complemento, cujo perfil é idêntico ao do braço mecânico. A ligação entre tais elementos foi realizada por uma articulação composta por um eixo e dois mancais de rolamentos. Um mecanismo foi desenvolvido para que esse 36 complemento permaneça sempre na posição horizontal, independentemente da posição angular do braço. Essa configuração pode ser observada na Fig. 3.2. Figura 3.2 Braço mecânico desenvolvido. O braço mecânico do manipulador robótico é acionado por um motor de indução trifásico de 220/380 volts, 60 Hz, 0,33 CV e 1720 rpm. Tendo em vista que a rotação do motor selecionado para esta aplicação de controle é bastante elevada, foi necessário acoplar ao seu eixo um redutor de velocidade composto por um parafuso sem fim, com uma entrada, confeccionado em aço SAE 1045, posteriormente temperado, sendo acoplado a uma engrenagem (coroa) com 66 dentes, confeccionada em bronze. É importante destacar que ambos (parafuso e coroa) foram fresados com uma ferramenta do tipo Módulo 1,5 N.º 7. Com essa configuração, obteve-se uma redução de 1720 para 26,06 rpm, tendo como referência a Eq. (3.1): RPM Saída RPM Motor x NES Z onde: RPMSaída = Número de rotações por minuto da saída do redutor; RPMMotor = Número de rotações por minuto do motor; NES = Número de entradas do parafuso sem fim; Z = Número de dentes da engrenagem (coroa). Aplicando na Eq. (3.1) as relações apresentadas no parágrafo anterior, tem-se: RPMSaída 1720 x 1 26,06 rpm 66 (3.1) 37 O valor de 26,06 rpm encontrado na saída do redutor significa dizer que, quando o inversor de frequência estiver emitindo uma frequência de 60 Hz ao motor, este estará girando nessa rotação. Além da redução de velocidade de rotação, tal configuração teve como finalidade a amplificação do torque a ser fornecido à carga. A Fig. 3.3 ilustra a disposição dos elementos do braço inseridos no projeto. Figura 3.3 Elementos necessários ao acionamento do braço mecânico. A base do manipulador robótico também foi construída de alumínio a fim de se ter um protótipo relativamente leve. Para o acionamento do conjunto, utilizou-se um motor de indução trifásico, com as mesmas características daquele citado anteriormente. A ideia de se utilizar o parafuso sem fim acoplado ao eixo do motor e a uma engrenagem foi mantida na base, com o objetivo de redução da velocidade de rotação e de amplificação do torque. A Fig. 3.4 ilustra a configuração dos elementos da base. Figura 3.4 Elementos necessários ao acionamento da base. 38 A velocidade de rotação e o sentido de giro do eixo dos motores são controlados por meio de sinais de controle enviados aos inversores de frequência, e os deslocamentos angulares totais da base e do braço são, respectivamente, 120º e 100º. Para proteção do sistema, foram dispostos sensores fim de curso na estrutura mecânica da máquina. Para melhor ilustrar o projeto e o desenvolvimento do manipulador robótico, as Figuras 3.5 e 3.6 apresentam um esquema representativo do sistema e sua imagem real, respectivamente. Figura 3.5 Sistema braço + base montado. Figura 3.6 Manipulador robótico desenvolvido. 39 Uma estrutura de alumínio foi desenvolvida para proteger os inversores de frequência, as chaves de proteção e as botoeiras, ou seja, todos os elementos necessários ao comando da máquina. A Fig. 3.7 mostra uma foto do protótipo completo. Figura 3.7 Manipulador robótico e sistema de comando. 3.2.2 Sistema de acionamento O sistema de acionamento do manipulador robótico pode ser dividido em cinco partes distintas: computador pessoal, placa de aquisição de dados, circuito de condicionamento de sinal, inversor de frequência e motor de indução trifásico. Sendo os controladores implementados no software computacional LabVIEW®, torna-se possível inserir um sinal de referência de posição a ser alcançado pelo sistema, através da interface com o usuário, também desenvolvida em LabVIEW. Processada a informação, essa rotina compara o valor de referência com o sinal dos potenciômetros, gerando um sinal de erro que será utilizado pelo algoritmo de controle, dispositivo esse que será detalhado na subseção seguinte. Tendo em vista que os níveis de tensão e corrente fornecidos pela placa NI-DAQ não são suficientes para o acionamento do inversor de frequência, foi necessário o desenvolvimento de um circuito condicionador de sinal. Os sinais enviados pela placa de aquisição ao inversor de frequência são responsáveis por duas informações: o controle de velocidade de rotação, que utiliza um sinal analógico, e o sentido de giro, que utiliza um sinal digital. A comunicação analógica é feita de forma direta, e a velocidade de rotação é variada 40 de acordo com o nível de tensão na saída da placa, sendo sua variação de 0 a 5 volts, o que corresponde a uma variação de 0 a 60 Hz na frequência da tensão de saída do inversor. A configuração descrita pode ser observada na Fig. 3.8. Condicionador de Sinais Figura 3.8 Diagrama esquemático do sistema. Motor de indução trifásico O princípio de funcionamento do motor de indução trifásico baseia-se nas leis do eletromagnetismo. O campo girante do motor de indução trifásico é gerado a partir de três correntes senoidais, com a mesma amplitude, mas defasadas de 120º, circulando por três bobinas fixas, cujos eixos magnéticos se distanciam de 120º entre si. (SENA, 2008). Na Fig. 3.9, é ilustrada a configuração interna de um motor de indução. 41 Figura 3.9 Enrolamentos do estator e do rotor de um motor de indução. Durante o funcionamento do motor, o rotor gira em virtude do torque (conjugado) produzido por uma força magnética aplicada ao rotor. As formas de onda aplicadas às bobinas do estator geram um campo magnético resultante que gira em torno do eixo central do motor. A variação de fluxo desse campo magnético induz uma tensão no rotor, gerando correntes rotóricas. Estas últimas, sob a ação do campo do estator, originam a força magnética geradora do torque no rotor. Em consequência disso, o rotor gira, acompanhando o campo girante, o que diminui a corrente induzida no rotor. O eixo do motor gira a uma frequência próxima da frequência da tensão aplicada, definindo-se como escorregamento a diferença existente entre a velocidade de rotação do eixo do motor e a velocidade do campo girante do estator. A velocidade do eixo do motor, em rotações por minuto, é dada por: N 120 f (1 S) P (3.2) onde: N = Velocidade do eixo do motor (rpm) f = Frequência (hertz); P = Número de polos; S = Escorregamento; De acordo com a Eq. (3.2), é possível observar que se pode variar a rotação do motor por meio da variação da frequência, uma vez que, para variar o número de polos, é necessário realizar modificações físicas no motor. Para selecionar o motor a ser utilizado neste projeto, foi levada em consideração sua comparação com os motores de corrente contínua (CC). Pelas pesquisas realizadas, foi possível verificar que os motores CC têm um custo de manutenção muito elevado, além de 42 seus contatos serem feitos por escovas, que requerem trocas e manutenções periódicas. Outros fatores a serem considerados nesses motores são os arcos e as faíscas devidos à comutação de corrente por elementos mecânicos, o que os impede de ser aplicados em ambientes perigosos. Contudo, esse tipo de motor mantém um torque melhor, mais eficiente e com menores dimensões quando comparado ao motor AC, isto é, um motor AC, para produzir um mesmo torque que um motor DC, precisaria ser mais robusto ou de maior potência. Apesar do exposto, o custo dos motores de indução trifásicos é muito menor do que um motor CC. Além disso, o uso de motores AC juntamente com o inversor de frequência apresenta mais uma vantagem quando comparado com o motor CC, pois os inversores de frequência atuais disponibilizam uma série de parâmetros sobre o controle de velocidade, precisão e leveza no acionamento. Inversor de Frequência Os inversores de frequência são os equipamentos mais adequados para controlar a velocidade de rotação e o torque dos motores de indução. (BORDON, 2004). Através dos inversores são fornecidas tensão e frequência variáveis a esses motores, controlando a relação entre tensão e frequência por meio da modulação por largura de pulso (PWM). Esta consiste de amostras representadas por pulsos de amplitude fixa e largura proporcional ao sinal de tensão no instante da amostragem. Na Fig. 3.10, é apresentado o controle PWM senoidal. A tensão trifásica senoidal de referência, US, é sobreposta por uma tensão triangular, UΔ. A interseção desses sinais gera os pulsos que ligam ou desligam os semicondutores dos inversores de frequência. Para a variação de velocidade e partidas suaves nos motores de indução trifásicos, é usado nos inversores o controle de velocidade tipo Volts/Hertz ou V/f, conhecido por controle escalar. Nesse princípio de controle, ao variar proporcionalmente a amplitude e a frequência da tensão de alimentação dos motores, o fluxo e, consequentemente, o torque permanecem constantes. No trabalho, foram utilizados dois inversores CFW08, da marca WEG ®, do tipo monofásico. A opção de utilizar inversores foi com o objetivo de obter uma partida relativamente suave dos motores e, além disso, evitar solavancos que desgastam os componentes mecânicos do sistema, principalmente nos conjuntos redutores. Para tanto, foi programado um tempo de aceleração/desaceleração de 0,1s em rampa. Isso permitiu um melhor controle, evitando um posicionamento inadequado da base e do braço, e a minimização de sobressinais. Quanto à frequência, parametrizaram-se as frequências mínima 43 e máxima, respectivamente, em 0 Hz e 40 Hz, a fim de obter um controle de posição rápido para esse tipo de configuração de sistema. Figura 3.10 Modulação PWM controlada por sinal senoidal. 3.2.3 Sistema de aquisição de dados O processo de aquisição e controle do manipulador foi realizado através de uma placa NI-DAQ USB 6008, fabricada pela National Instruments®. Essa placa possui 10 canais analógicos, sendo 8 entradas e 2 saídas, e 12 canais de entrada/saída digitais, um conversor de 12 bits, taxa de amostragem = 10 kS/s, faixa de tensão de entrada = ± 10 V, faixa de tensão de saída = 0 a 5 volts, corrente de saída = 5 mA e transferência de dados USB (Figura 3.11). Foram utilizados no projeto: dois canais analógicos de saída (AO 0 e AO 1) com a finalidade de realizar o controle da rotação dos motores através da frequência emitida pelo inversor; duas entradas analógicas (AI 1 e AI 4) com a função de receber os sinais de tensão 44 provenientes dos potenciômetros e, por fim, duas saídas digitais (PO 0 e PO 1) para indicar o sentido de giro dos motores. Figura 3.11 Placa de aquisição de dados da NI. A referida placa de aquisição de dados realiza a interface dos algoritmos de controle com a planta através dos conversores D/A (digital-analógico) e A/D (analógico-digital). O computador utilizado tinha as seguintes configurações: processador Dual Core de 1,73 GHz, com 2 GB de memória RAM. Com essa configuração, foi possível executar as ações de controle em tempo real. 3.2.4 Sistema de medição (posicionamento) Para que fosse possível detectar a posição do manipulador robótico, utilizou-se um transdutor de posição angular (potenciômetro), cujo princípio de funcionamento é o mesmo de um transdutor linear, porém o tipo de movimento do seu cursor é rotacional. Nesse caso, o dispositivo converte um dado número de voltas de seu cursor em uma tensão elétrica que é enviada para o sistema de aquisição de dados. No projeto, utilizaram-se dois potenciômetros multivoltas (um para cada eixo) por causa de sua boa resolução, com uma variação angular de 10 voltas. Esse elemento foi acoplado a um sistema de engrenagem, com a finalidade de ampliar o número de rotações. Sendo assim, o potenciômetro fornece um sinal de ―deslocamento angular‖ do braço e da base. O referido transdutor possui uma resistência elétrica de 10 kΩ ± 5%, e é de fabricação TRIMMER® e de especificação WXD3590. De maneira análoga ao potenciômetro linear, esse transdutor possui três terminais (A, B e C), com A e B conectados em 10 V e 45 GND, respectivamente. O terminal C corresponde à tensão de saída, que varia de acordo com a posição do cursor. A Fig. 3.12 ilustra o dispositivo. Figura 3.12 Transdutor angular (potenciômetro de 10 kΩ). As Equações (3.3) e (3.4), obtidas a partir de dados coletados em laboratório, representam uma função linear que possibilita relacionar os valores de tensão com os valores do deslocamento angular do eixo do motor. base braço 120 x Vp 407,4 5,43 100 x Vp 507 4,45 (3.3) (3.4) onde Vp = tensão fornecida pelo potenciômetro à entrada analógica da placa de aquisição de dados. Com o intuito de fazer uma verificação visual do deslocamento real do braço e da base e de comparar com o deslocamento fornecido pelo software de controle, confeccionaram-se dois transferidores, que foram inseridos na estrutura mecânica do manipulador. As Figuras 3.13 e 3.14 ilustram a imagem dos transferidores posicionados na base e no braço da máquina, respectivamente. 46 Figura 3.13 Transferidor da base. Figura 3.14 Transferidor do braço. 3.2.5 Sistema de comando e proteção Por serem os dispositivos de comando e proteção indispensáveis em instalações elétricas, foram implementados alguns dispositivos no sistema posicionador para evitar que o manipulador robótico saia do seu curso máximo e, consequentemente, provoque possíveis danos por choque mecânico na estrutura. Sensores mecânicos de fim de curso (FC_1/FC_2 e FC_3/FC_4), observados no diagrama de acionamento, comando e proteção do sistema da Fig. 3.15, foram inseridos nas extremidades do curso de cada uma das articulações (base e braço) que desabilitam a ligação entre o inversor e o motor através de contatores (K1 e K2). Essa configuração de comando foi 47 adotada para que o funcionamento do inversor de frequência não seja interrompido, evitando possíveis paradas frequentes e, consequentemente, o mau uso do dispositivo. Figura 3.15 Diagrama de acionamento, comando e proteção do sistema. 48 CAPÍTULO 4 CONTROLE INTELIGENTE DO SISTEMA O controle de posição de um manipulador robótico, que está sujeito a diversas cargas de trabalho, pode ser realizado de diversas formas. Para o modelo experimental adotado neste trabalho, o controle de posição do braço e da base do manipulador robótico é realizado por meio de dois motores trifásicos, sendo um para o deslocamento angular da base e outro para o deslocamento angular do braço. A ideia principal no controle de posicionamento de um manipulador robótico é fazer com que a diferença entre a posição espacial desejada e a posição final seja zero, no menor tempo possível, e isso pode ser feito de diversas formas, cada qual com suas limitações, conforme comentado no Capítulo II. A estratégia adotada para o controle de sistemas, de maneira geral, é utilizar o sinal de erro e, através dele, enviar um sinal de controle para o atuador. O diagrama de controle de posição da base do manipulador robótico é mostrado na Fig. 4.1. Figura 4.1 Diagrama de blocos do controle da base do manipulador robótico. Neste capítulo, é apresentada a fundamentação teórica da lógica fuzzy juntamente com o projeto do controlador fuzzy desenvolvido para o manipulador robótico. Na seção 4.1, é apresentada a teoria dos controladores fuzzy. Nas subseções 4.1.1, 4.1.2 e 4.1.3, são explicados os processos de fuzzificação, inferência fuzzy e defuzzificação. Na seção 4.2, são feitas as considerações finais do capítulo. 4.1 Controlador A lógica fuzzy é um método baseado na maneira como o ser humano age para controlar um determinado sistema. Um controlador fuzzy típico pode ser projetado para 49 comportar-se conforme o raciocínio dedutivo, isto é, o processo que as pessoas utilizam para chegar a conclusões baseadas em informações que elas já conhecem. (SHAW; SIMÕES, 2004). Um termo linguístico pode ser definido quantitativamente por um tipo de conjunto fuzzy conhecido como função de pertinência. A função de pertinência, especificamente, define graus de possibilidades baseados em propriedades como deslocamento, posição e tensão, entre outras. Com funções de pertinência definidas para entradas e saídas de sistemas especialistas e de controle, formula-se uma base de regra SE... ENTÃO, que são regras condicionais. Dessa maneira, uma base de regra e uma função de pertinência correspondente são empregadas para analisar as entradas e determinar as saídas de controle pelo processo de inferência da lógica fuzzy. A estratégia de controle do sistema idealizado consiste em manter a menor diferença modular possível entre a posição desejada ou de referência e a posição final do manipulador robótico através do controle de rotação de dois motores trifásicos. A posição de referência do manipulador robótico é determinada por um operador. Os sinais adotados nas entradas dos controladores fuzzy foram as diferenças entre as referências e as posições angulares do braço e da base do manipulador robótico. O bloco de construção primário de sistemas de lógica fuzzy é a variável linguística. Uma variável linguística é usada para combinar múltiplas categorias subjetivas que descrevem o mesmo contexto. Essas condições são chamadas condições linguísticas, e representam os possíveis valores das variáveis linguísticas de entrada, que, para o estudo em questão, são o erro de posição angular (ERRO) e a variação do erro (VERRO), normalmente gerada a partir da diferença entre o erro atual e o erro anterior. O ambiente computacional no qual o controlador fuzzy estará inserido é o LabVIEW, que apresenta uma limitação de utilizar apenas uma saída por cada bloco fuzzy inserido. Sendo assim, serão necessários dois blocos fuzzy: no primeiro bloco, a variável de saída irá controlar o motor da posição angular do braço; no segundo bloco, a saída irá controlar o motor da posição angular do braço. Cada variável linguística é composta de várias condições linguísticas ou termos que descrevem as diferentes interpretações linguísticas da quantidade característica que é modelada. Cada termo linguístico é definido por uma função de pertinência apropriada (conjunto fuzzy). Um controlador fuzzy é composto de três partes: fuzzificação, inferência fuzzy e defuzzificação. Essa sequência de controle transforma valores numéricos reais para o ambiente fuzzy, onde os números são convertidos em uma base numérica nebulosa. Nessa 50 transformação, um conjunto de inferência fuzzy é usado para as tomadas de decisões, e, por fim, há uma transformação inversa do ambiente fuzzy para valores numéricos reais, para que ocorra acoplamento entre a saída do algoritmo fuzzy e as variáveis de atuação. (SHAW; SIMÕES, 2004). A estratégia de controle baseada no conhecimento do sistema com respeito ao controle em malha fechada é implementada por regras linguísticas integradas na base de regras do controlador. Todos os valores das variáveis de entrada, do erro e da variação do erro são traduzidos em valores de variáveis linguísticas correspondentes. Em seguida, o passo de inferência fuzzy é executado para derivar uma conclusão da base de regra que representa a estratégia de controle. O resultado desse passo é o valor linguístico para a variável de saída. O passo de defuzzificação traduz o resultado linguístico anterior em um valor real que representa o valor atual da variável de controle. 4.1.1 Fuzzificação A informação do posicionamento do manipulador é obtida por dois potenciômetros, cada qual instalado no final da redução do eixo de rotação do motor. Essa informação da tensão instantânea do potenciômetro é convertida em um valor em graus. A diferença entre o valor em graus da referência e o valor em graus convertido do potenciômetro forma a variável linguística de entrada, assim como as variações de erro desse sinal. Para o ERRO, são identificadas 9 posições, ou termos linguísticos, para cada bloco fuzzy, cujos erros são definidos como mostrado na Tabela 4.1. A cada termo é associado um ERRO correspondente: por exemplo, o maior erro positivo foi traduzido para o valor linguístico PMG, que corresponde a um erro acima de 10º. Para a variação do erro do ângulo (VERRO), os procedimentos adotados são os mesmos, conforme mostrado na Tabela 4.2. 51 Tabela 4.1 Termos linguísticos para o ERRO. Tabela 4.2 Termos linguísticos para o VERRO. As Figuras 4.2 e 4.3 mostram as funções de pertinência das variáveis linguísticas de entrada, ERRO e VERRO, com seus respectivos termos linguísticos. A função de pertinência da variável de entrada, ZE, é triangular. As demais variáveis de entrada são do tipo trapezoidal. 52 Figura 4.2 Variável ERRO e seus termos linguísticos. Figura 4.3 Variável VERRO e seus termos linguísticos. Para a tensão de saída, ou variável de controle, foram utilizados outros termos e a faixa de tensão de 0 a 0,7V para comandar diretamente o inversor de frequência e, consequentemente, controlar a rotação do motor trifásico. Na Fig. 4.4, tem-se o universo de discurso da variável de saída que irá enviar essa informação para o inversor de frequência. A placa de comunicação USB 6008 fornece tensões analógicas que variam de 0 a 0,7 V. A tensão mínima de 0 volt corresponde à rotação zero do 53 motor trifásico, enquanto que a tensão de 0,7 V corresponde à rotação máxima adotada, na prática, para que o motor responda com partida suave. Figura 4.4 Variável de saída e seus termos linguísticos. 4.1.2 Inferência fuzzy Nesta parte, foram definidos os conectivos lógicos usados para estabelecer a relação fuzzy que modela a base de regras. Adotou-se o operador matemático mínimo para o conectivo lógico ―e‖, e o operador máximo para o conectivo lógico ―ou‖. As sentenças ―se... então‖ são modeladas pela operação de mínimo, e o relacionamento entre as regras é modelado pela operação de máximo. Foram utilizadas nove funções de pertinência para a variável ERRO e cinco funções de pertinência para a variável VERRO, resultando em 45 regras. Isso é disponibilizado para formar uma base de regra consistente, que foi obtida após vários ajustes. A base de regra completa é descrita em forma de matriz, como mostra a Tabela 4.3. 54 Tabela 4.3 Base de regras para os motores do manipulador robótico. A formação da base de regra, seja para o motor da base, seja para o motor do braço, se inicia com a condição básica de que, se o erro entre o valor de posição de referência e a posição atual for zero, então se deve enviar um sinal nulo para o inversor de frequência. Essa situação corresponde à condição (IF Erro é ZE AND VERRO e ZE THEN V0), como pode ser visto na Tabela 4.3. Ainda observando a Tabela 4.3, pode-se verificar que há uma simetria diagonal em relação ao erro de posição ZE. Isso se deve ao fato de os sinais enviados dos inversores de frequência para os motores serem os mesmos, independentemente do sentido de rotação. Em outras palavras, com um erro grande de posição, o motor deve girar em rotação máxima, independentemente do sentido de rotação. O que define o sentido de rotação é se o erro de posição é positivo ou negativo. Essa informação também é enviada ao inversor de frequência para que ele ative o sentido de rotação correto. A Fig. 4.5 ilustra um exemplo do comportamento do controlador quando o erro de posição da base é de -1,85 grau e a variação do erro é de -0,1 grau. 4.1.3 Defuzzificação Na defuzzificação, o valor da variável linguística de saída, inferida pelas regras fuzzy, será traduzido num valor de tensão para o inversor de frequência. Esse valor é o que melhor representa os valores fuzzy inferidos da variável linguística de saída, a distribuição de possibilidades. Assim, a defuzzificação é uma operação contrária que traduz a saída do domínio fuzzy para o domínio discreto. Para selecionar o método apropriado de defuzzificação, pode-se utilizar um enfoque baseado no centroide ou nos valores máximos da 55 função de pertinência resultante. Os seguintes métodos são utilizados: Centro de Área (CoA), Centro do Máximo (CoM) e Média dos Máximos (MoM). (SHAW; SIMÕES, 2004). Figura 4.5 Exemplo de regra de estratégia de controle. O método de defuzzificação deriva um valor de saída preciso, que melhor representa o resultado linguístico obtido do processo de inferência fuzzy. O método de defuzzificação usado foi o método Centro dos Máximos (CoM), no qual as áreas das funções de pertinência não desempenham nenhum papel e apenas os máximos (pertinências singleton) são usados. A saída discreta é calculada como uma média ponderada dos máximos, cujos pesos são os resultados da inferência. O cálculo do valor defuzzificado é realizado através da Eq. (4.1), onde μ0,k(ui) indica os pontos em que ocorrem os máximos (alturas) das funções de pertinência de saída. u N n i 1 N k 1 n u i 0,k (u i ) i 1 k 1 0,k (4.1) (u i ) Tomemos como base o exemplo mostrado na Fig. 4.5 para explicar o processo de defuzzificação, em que se tem um Erro de -1,85 grau e uma Variação do Erro de -0,1 grau. 56 Figura 4.6 Fuzzificação para Erro = -1,85 grau. Nesse caso, o erro de posição da base é traduzido no valor linguístico: {0,0; 0,0; 0,567; 0,765; 0,0; 0,0; 0,0; 0,0; 0,0}. A variação do erro de posição da base faz parte dos seguintes termos linguísticos: {0,0; 0,335; 0,75; 0,0; 0,0}. Figura 4.7 Fuzzificação para VERRO = - 0,1 grau. 57 O passo seguinte consiste da inferência fuzzy, que pode ter dois componentes: a agregação, que é a evolução da parte condicional (IF) de cada regra; e a composição, que se trata da evolução da parte conclusiva (THEN) de cada regra. O operador mínimo (min) representa a palavra AND. No exemplo que está sendo analisado, quatro regras são descrições válidas da situação atual (v. Tabela 4.4). Essas regras normalmente são chamadas regras ativas; todas as outras regras são chamadas inativas. Tabela 4.4 Análise das quatro regras válidas. O resultado final da inferência fuzzy para a variável linguística ―tensão‖ é mostrado na Tabela 4.5. Tabela 4.5 Resultado da inferência fuzzy. No processo de defuzzificação, o método utilizado foi o Centro dos Máximos (CoM). Nesse método, é calculada a média ponderada, e os valores são retirados da Fig. 4.8. A Tabela 4.6 apresenta o resultado da defuzzificação. 58 Tabela 4.6 Resultado da defuzzificação. Figura 4.8 Defuzzificação de acordo com o Centro dos Máximos (CoM). A média ponderada fica então: R 0,335 0,0 0,75 0,15 0,567 0,35 0,0 0,55 0,0 0,67 0,1882 0,335 0,75 0,567 (4.2) O resultado encontrado (0,1882 volt) corresponde ao valor de tensão que será usado para informar ao inversor de frequência, e este, por sua vez, irá alimentar o motor trifásico com uma variação de fase proporcional ao valor defuzzificado, e que, para este exemplo escolhido, pode ser verificado na Fig. 4.5. Uma forma de visualizar a gama de valores de tensão é através do mapa de regras, que faz uma associação dos valores de entrada do controlador com a respectiva saída, ou variável de controle, baseada nas regras 59 implementadas no controlador. Esse conjunto de entradas e saída pode ser representado de acordo com uma superfície tridimensional, observada na Fig. 4.9. O eixo vertical é a variável de controle, enquanto que, em cada eixo horizontal, estão as entradas do controlador, ou seja, o erro e a variação do erro. Figura 4.9 Superfície para variável de controle do manipulador. 4.2 Considerações Finais Neste capítulo, apresentou-se a lógica do sistema de controle que foi desenvolvida diretamente para controlar a posição angular da base e do braço do manipulador robótico. A implementação do controle foi baseada no conhecimento experimental do sistema obtido neste capítulo, bem como nas informações do inversor de frequência trabalhando em conjunto com o motor trifásico. A estratégia de controle para levar o braço robótico à posição desejada levou em conta o erro, que é a diferença entre a posição de referência e a posição momentânea do braço, e a variação desse erro. O controlador utilizado foi do tipo fuzzy devido à simplicidade de implementação. 60 CAPÍTULO 5 RESULTADOS EXPERIMENTAIS São mostrados, neste capítulo, os resultados experimentais obtidos no sistema de posicionamento. Na seção 5.1.1, são analisadas as curvas quanto às referências do tipo degrau e degrau variável no acionamento do sistema, bem como perturbações para avaliação da robustez do sistema. Na seção 5.1.3, avaliam-se os desempenhos dos controladores no seguimento das trajetórias das curvas de referência senoidal e cossenoidal, e da composição dessas duas últimas. 5.1 Ensaios de Acionamento do Sistema De acordo com Ramesh et al. (2005), os controladores em malha fechada, para manipuladores robóticos, podem trabalhar de duas formas. No primeiro caso, trata-se do controle ponto a ponto, no qual tanto a trajetória da ferramenta de um ponto de origem ao ponto de referência quanto a velocidade de deslocamento não são importantes. A razão para isso é que a ferramenta não entra em contato com a área de trabalho. Nesse tipo de controle, o que importa é a exatidão com que a ferramenta atinge o ponto de referência. O segundo tipo de controlador, em malha fechada, é denominado sistema de controle de contorno, no qual o caminho traçado pela ferramenta é de fundamental importância, sendo, por esse motivo, a variável controlada. Esse tipo de controle é muito utilizado em trabalhos de corte, lapidação, pintura. 5.1.1 Acionamento do tipo degrau Com relação ao braço, primeiramente foi realizado o acionamento, partindo da posição 49,0º, por um degrau de referência com amplitude de -31,5º, resultando em um deslocamento, para baixo, de 17,5º. Em seguida, foi realizado o acionamento para as posições 49,0º, 70,8º, 88,3º, 62,0º e finalizando no ponto 49,0º. No gráfico da Fig. 5.1, encontram-se as curvas de resposta do braço e da referência, e na Fig. 5.2 é possível acompanhar a evolução temporal da variável de controle para este acionamento. 61 Entradas em degrau do Braço 90 Referência Sinal do braço Deslocamento [graus] 80 70 60 50 40 30 0 20 40 60 Tempo [s] 80 100 120 Figura 5.1 Resposta ao Degrau Variável – Braço. Variável deVariável controlededocontrole controlador fuzzy do Braço do braço 0.7 0.6 Tensão [volts] 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0 20 40 60 Tempo [s] 80 100 Figura 5.2 Variável de controle do controlador fuzzy para o braço. 120 62 Da mesma forma, foi realizado o acionamento da base, partindo da posição 62,85º, por um degrau de referência com amplitude de -44,34º, resultando em um deslocamento, para a esquerda, de 18,51º. Em seguida, foi realizado o acionamento para as posições 62,44º, 85,07º, 103,2º, 76,02º e finalizando no ponto 62,44º. No gráfico da Fig. 5.3, encontram-se as curvas de resposta do braço e da referência, e na Fig. 5.4, os sinais de tensão apresentados pela variável de controle para o referido acionamento. Entradas em degrau da Base 120 Referência Sinal da base 110 Deslocamento [graus] 100 90 80 70 60 50 40 0 10 20 30 40 Tempo [s] Figura 5.3 Resposta ao Degrau Variável – Base. 50 63 Variável de Variável controle de do controlador controle da fuzzy base da Base 0.7 0.6 Tensão [volts] 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0 5 10 15 20 25 Tempo [s] 30 35 40 45 Figura 5.4 Variável de controle do controlador fuzzy para a base. Analisando as Figuras 5.1 e 5.3, é possível obter o tempo de assentamento, Ts, em segundos, a ultrapassagem percentual, Up, e o erro percentual de regime permanente, Ess, das curvas de resposta às referências supracitadas. Esses dados estão apresentados nas Tabelas 5.1 e 5.2. Tabela 5.1 Índices de desempenho do braço obtidos experimentalmente para degraus de amplitudes variadas. 64 Tabela 5.2 Índices de desempenho da base obtidos experimentalmente para degraus de amplitudes variadas. 5.1.2 Acionamento do braço com carga Com o objetivo de avaliar o comportamento do sistema em situações de deslocamento de carga, realizou-se um ensaio aplicando-se uma mesma referência ao sistema em três situações distintas. Inicialmente, o sistema foi acionado sem carga, e nas duas situações seguintes, o sistema foi acionado com cargas de 0,614 kg e 1,228 kg. Na Fig. 5.5, são apresentadas as curvas de referência e de resposta do sistema para o procedimento acima descrito. Nas Figuras 5.6 e 5.7, apresentam-se detalhes da Fig. 5.5 quanto ao deslocamento para baixo e para cima, respectivamente, do braço do manipulador robótico. O degrau aplicado neste experimento foi de 61,2o, e o tempo de subida para a situação sem carga foi de 3,3 segundos, enquanto que o tempo de subida foi praticamente o mesmo para o braço carregado com 614g e 1228g, ou seja, 3,5 segundos. Então, nessa situação, houve um atraso de 0,2s do braço carregado em relação ao braço sem carga. 65 Figura 5.5 Deslocamentos do sistema nas situações com carga e sem carga. Figura 5.6 Detalhe do degrau positivo do sistema com carga e sem carga. 66 Já na situação em que a força de carregamento está na mesma direção de deslocamento, verifica-se na Fig. 5.7 que o tempo de subida foi de 3,4 segundos para o braço sem carga e com carga de 614g. O tempo para esse mesmo deslocamento com o braço carregado de 1228g foi de 3,6 segundos. Figura 5.7 Detalhe do degrau negativo do sistema com carga e sem carga. Da análise das Figuras 5.5, 5.6 e 5.7, obtêm-se os tempos de assentamento em segundos (Ts), a ultrapassagem percentual (Up) e o erro percentual de regime permanente, Ess, nas situações em que o braço se apresenta com carga e sem carga, conforme mostrados nas Tabelas 5.3 e 5.4. Considera-se degrau positivo quando o braço apresenta movimento vertical para cima, e degrau negativo, quando o braço apresenta movimento vertical para baixo. Tanto o degrau positivo quanto o degrau negativo apresentaram o mesmo valor, ou seja, 61,2o. 67 Tabela 5.3 Índices de desempenho experimentais para degrau positivo com carga e sem carga (braço). Tabela 5.4 Índices de desempenho experimentais para degrau negativo com carga e sem carga (braço). 5.1.3 Acionamento com funções circulares Para verificar o comportamento do controlador na situação de acompanhamento de trajetória, foi imposto ao braço um sinal de referência do tipo cossenoidal com período T = 144s e amplitude de 34,97°. Na Fig. 5.8, são mostrados o sinal de referência (traço azul) e o sinal de deslocamento do braço (traço pontilhado vermelho), evidenciando o bom desempenho do sistema no que se refere ao acompanhamento das trajetórias impostas como referência, com erro máximo de 0,27° ao longo de toda a trajetória. Na Fig. 5.9, é observada a evolução da variável de controle do braço, ou seja, a tensão informada pelo controlador para acompanhar a trajetória. Outra situação de acompanhamento de trajetória foi experimentada, só que para a base. Foi imposto um sinal de referência do tipo senoidal com período T = 108s e amplitude de 22,63°. Na Fig. 5.10, são mostrados o sinal de referência e o sinal de deslocamento da 68 base. Observando-se essa figura, pode-se verificar um bom desempenho do sistema no que se refere ao acompanhamento das trajetórias impostas como referência, verificando-se erro máximo de 0,22° ao longo de toda a trajetória. Na Fig. 5.11, é observada a evolução da variável de controle do braço, ou seja, a tensão informada pelo controlador fuzzy para acompanhar a trajetória. Acompanhamento de trajetória cossenoidal 110 Sinal do braço Referência 100 Deslocamento [graus] 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 50 100 Tempo [s] Figura 5.8 Acompanhamento de trajetória cossenoidal – Braço. 150 69 Variável Variável de de controle controle do do braço(cosseno) Braço (cosseno) 0.12 0.1 Tensão [volts] 0.08 0.06 0.04 0.02 0 0 50 100 150 Tempo [s] Figura 5.9 Variável de controle para acompanhamento de trajetória cossenoidal – Braço. Acompanhamento de trajetória senoidal 90 Sinal da base Referência Acompanhamento [graus] 80 70 60 50 40 30 0 20 40 60 Tempo [s] 80 100 Figura 5.10 Acompanhamento de trajetória senoidal – Base. 120 70 Variável de dada Base (seno) Variável decontrole controle base(seno) 0.14 0.12 Tensão [volts] 0.1 0.08 0.06 0.04 0.02 0 0 20 40 60 Tempo [s] 80 100 120 Figura 5.11 Variável de controle para acompanhamento de trajetória senoidal – Base. 5.1.4 Ensaios com controlador PID Controladores PID são empregados em larga escala em processos industriais. Tal fato se deve, principalmente, à facilidade de sua implementação e ao seu bom desempenho quando sintonizados de maneira adequada. Com o objetivo de avaliar o desempenho do sistema de controle fuzzy, foram implementados controladores PID para o acionamento do manipulador robótico. O ajuste do controlador seguiu o que foi proposto por Ziegler e Nichols (1942), cujo método para a definição dos ganhos do controlador PID é baseado em uma análise simples de estabilidade. A função de transferência do controlador PID é assim representada: Gc ( s) K p K d s Ki s (5.1) onde Kp, Kd e Ki são, respectivamente, os ganhos proporcional, derivativo e integrativo. Para obter os ganhos dos controladores PID do braço e da base, inicialmente se atribuíram aos ganhos derivativos (Kd) e aos ganhos integrativos (Ki) valor zero. Em seguida, os ganhos proporcionais (Kp) do controlador da base e do braço foram variados até que entrassem em oscilação permanente, sendo o ensaio do braço realizado para o ponto de 49 o e 71 o da base para o ponto de 62,44o. A resposta do braço submetido ao ganho crítico (KMbraço) é mostrada na Fig. 5.12 e a resposta da base submetida ao ganho crítico (KMbase) é mostrada na Fig. 5.13. Os ganhos críticos alcançados nos ensaios foram KMbraço = 15 e KMbase = 54, e, como observado nos gráficos da Fig. 5.12 e da Fig. 5.13, o período crítico do braço (PMbraço) foi de 1,12s e o da base (PMbase) de 1,16s. Resposta do braço submetido à ação do ganho crítico 51 50.5 X: 11.32 Y: 50.52 Referência e Saída [graus] 50 X: 12.44 Y: 50.44 49.5 49 48.5 48 47.5 47 10.5 11 11.5 12 12.5 Tempo [s] 13 13.5 14 Figura 5.12 Resposta do braço submetido à ação do ganho crítico. . 72 Resposta da base submetida à ação do ganho crítico Referência e Saída [graus] 64 X: 17.32 Y: 63.39 X: 16.16 Y: 63.38 63 62 61 60 59 14.5 15 15.5 16 Tempo [s] 16.5 17 17.5 Figura 5.13 Resposta da base submetida à ação do ganho crítico. Segundo o método proposto por Ziegler e Nichols (1942), os parâmetros do controlador PID podem ser definidos como: K p 0.6 K M Kd Ki K p PM 8 Kp 2 PM (5.2) (5.3) (5.4) Com base nas equações anteriores, os ganhos dos controladores PID assumiram os seguintes valores: Kp = 9, Ki = 16,07 e Kd = 1,26 para o braço; Kp = 32,4, Ki = 55,86 e Kd = 4,7 para a base. Depois, foram sintonizados, obtendo-se outros valores, a saber: Kp = 6,0, Ki =11,41 e Kd = 1,07 para o braço; Kp = 28,6, Ki = 53,5 e Kd = 3,8 para a base. O sistema foi acionado de maneira idêntica à realizada para os controladores fuzzy, e os resultados obtidos por ambas as técnicas de controle foram comparados. Para o braço e 73 para a base, foram realizados ensaios com excitação do tipo degrau com amplitudes variadas. No gráfico da Fig. 5.12, encontram-se as curvas de resposta do braço, para ambas as estratégias de controle, bem como a curva de referência. De maneira análoga, na Fig. 5.13, são mostradas as curvas de resposta da base para as duas técnicas de controle empregadas, juntamente com a curva de referência. Entradas em degrau do Braço 90 Referência Sinal do braço - Fuzzy Sinal do braço - PID Deslocamento [graus] 80 70 60 50 40 30 0 20 40 60 Tempo [s] 80 100 120 Figura 5.14 Resposta ao Degrau Variável com diferentes técnicas de controle – Braço. 74 Entradas em degrau da Base 120 Referência Sinal da base - Fuzzy Sinal da base - PID 110 Deslocamento [graus] 100 90 80 70 X: 40.1 X: 44.2 Y: 62.44 Y: 62.44 60 50 40 0 10 20 30 40 50 Tempo [s] Figura 5.15 Resposta ao Degrau Variável com diferentes técnicas de controle – Base. As variáveis de controle dos controladores PID utilizados no braço e na base são mostradas na Fig. 5.14 e na Fig. 5.15. Variável de controle do controlador PID do Braço 0.7 0.6 Tensão [volts] 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0 5 10 15 20 25 Tempo [s] 30 35 40 Figura 5.16 Variável de controle do controlador PID para o braço. 45 75 Variável de controle do controlador PID da Base 0.7 0.6 Tensão [volts] 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0 5 10 15 20 25 Tempo [s] 30 35 40 45 Figura 5.17 Variável de controle do controlador PID para a base. A análise das Figuras 5.12 e 5.13 permite a obtenção do tempo de assentamento, Ts, em segundos, da ultrapassagem percentual, Up, e do erro percentual de regime permanente, Ess, das curvas de resposta às referências supracitadas quando se trata do controlador PID. Esses dados estão apresentados nas Tabelas 5.5 e 5.6. Tabela 5.5 Índices de desempenho experimentais do braço para degraus de amplitudes variadas – Controlador PID. 76 Tabela 5.6 Índices de desempenho experimentais da base para degraus de amplitudes variadas – Controlador PID. Para comparar de maneira mais objetiva o desempenho dos controladores, foram calculados o erro integral absoluto (IAE, sigla do inglês Integral Absolute Error) e o erro quadrático médio (MSE, sigla do inglês Mean Square Error), dados pelas seguintes equações (PASSOLD, 2003): IAE t 1 ref (t ) y(t ) t n MSE (5.5) 2 t n [ref (t ) y (t )] t 1 n (5.6) onde ref(t) e y(t) são, respectivamente, a referência e a resposta do sistema no instante t, e n é número de amostras. As Tabelas 5.7 e 5.8 apresentam os índices IAE e MSE calculados para o braço e a base nos testes mostrados nas Figuras 5.14 e 5.15. Tabela 5.7 Índices de desempenho IAE e MSE do braço. Tabela 5.8 Índices de desempenho IAE e MSE da base. 77 Comparando os parâmetros relativos ao desempenho do sistema de controle e os índices de desempenho no acompanhamento da trajetória, verifica-se que o controlador fuzzy apresentou um comportamento ligeiramente superior em relação ao apresentado pelo controlador PID ajustado pela técnica de Ziegler-Nichols. Verifica-se que o sistema, com o controlador PID, obteve uma resposta mais lenta quanto ao tempo de assentamento, como também apresentou, em algumas situações, erro de regime permanente. Os parâmetros do controlador PID podem ser mais bem ajustados; contudo, o controlador fuzzy apresenta a vantagem de se adaptar às diferentes referências impostas, enquanto que o controlador PID, cujos parâmetros são fixos, é sintonizado para uma determinada região de operação, e pode, consequentemente, apresentar erro de regime permanente quando o sistema for submetido a diferentes referências. 78 CAPÍTULO 6 CONCLUSÕES No presente trabalho, foram apresentados o controle por lógica fuzzy de um manipulador robótico de dois graus de liberdade e uma breve explanação acerca de seu aspecto construtivo. O controle aplicado ao robô foi desenvolvido em ambiente LabVIEW®. O manipulador robótico foi experimentado em situações de acompanhamento de trajetórias do tipo senoidal e cossenoidal, entradas em degrau variadas, e análise do braço com carga e sem carga. Em relação às entradas em degrau variadas, tanto o braço quanto a base do manipulador robótico apresentaram erro em estado estacionário nulo, e percentual de ultrapassagem máximo de 0,32%. Conclui-se que, em termos de posicionamento, o controlador fuzzy Mandani apresentou ótimos resultados. No experimento de acompanhamento de trajetória, foi verificado que a diferença entre a trajetória de referência e a posição do braço ou da base apresentou um erro máximo de 0,38o. Nessa situação, o sistema também se mostrou bastante eficiente. O terceiro experimento estudado consistiu de uma entrada em degrau com deslocamento de 61,2o, nas situações do braço com carga e sem carga. Nesse experimento, observou-se que as alterações nas respostas do braço carregado ou descarregado foram mínimas, com diferença de 0,2s no tempo de subida. Considerando que a maior entrada em degrau ocorreu nessa etapa do estudo, o tempo de subida em todas as situações ocorreu em torno de 3,4 segundos, sem erro em estado estacionário. Portanto, mais uma vez ficou evidenciado que, em termos de posicionamento, o sistema implementado, mesmo carregado, é bastante eficiente. Também foram realizados ensaios com o controlador PID, com o objetivo de comparar o desempenho do sistema quando controlado por outro tipo de controlador. Os resultados obtidos demonstram que, para o caso de referências do tipo degrau variável, o controlador PID apresentou um desempenho inferior ao obtido pelo controlador fuzzy. O sistema apresentou erros de regime permanente para algumas referências, visto que o controlador PID é sintonizado para uma determinada região de operação. Tal fato justifica o estudo de controladores que se ajustem a diferentes situações, como é o caso dos controladores fuzzy. 79 REFERÊNCIAS AKYÜZ, I. H. et al. 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