RIBEIRO, Ana Elisa. Seis Clichês e Uma Sugestão Sobre a Leitura na Web. Portal de Periódicos Unisul. V. 9, n. 3, p. 585-602, set./dez. 2009. Ensaio disponível em http://www.portaldeperiodicos.unisul.br Pamela DUARTE1 O ensaio “Seis Clichês e Uma Sugestão Sobre a Leitura na Web” foi escrito por Ana Elisa Ribeiro e publicado pelo site Portal de Periódicos Unisul. Ana Elisa Ribeiro é Doutora em Linguística Aplicada e Mestre em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde se bacharelou e licenciou em Letras/Português. Atualmente, é coordenadora do PPG em Estudos de Linguagens na universidade já citada. Inicialmente, no resumo do ensaio, a autora explica a respeito dos assuntos que serão tratados no decorrer da produção, o porquê de ela tê-lo escrito, como, por exemplo, ter ouvido afirmações, que podem ser consideradas clichês, “em relação às possibilidades da escrita e da leitura na web e mesmo da leitura em geral; e discutir assuntos como “os hábitos e as práticas de leitura dos brasileiros, as peculiaridades da produção escrita na web e suas relações com o texto em outros domínios,” entre outros. O ensaio é dividido em nove tópicos, sendo seis deles destinados aos “clichês”; um à explicação de como surgiu a ideia para o desenvolvimento do ensaio; outro para falar a respeito de obras impressas e obras virtuais levando em conta o contexto brasileiro; e um outro destinado às sugestões da autora em relação à leitura/escrita na web, não nessa ordem necessariamente. No primeiro tópico, intitulado “Quer teclar comigo?” (que não é visto por ela como clichê, mas apenas como uma forma para se poder começar uma conversa), a autora conta que o seu trabalho acadêmico surgiu durante uma oficina ministrada a estudantes, tanto de graduação quanto de pós-graduação, de todas as localidades do país no II Encontro Nacional sobre Hipertexto, em Fortaleza (CE) em 2007. O minicurso em questão tinha como objetivo por em discursão alguns “clichês” que rodeiam debates a cerca de leitura, escrita e web. Porém, a autora frisa que essas frases de “senso-comum” estão sendo combatidas nas escolas, nas aulas de redação/produção textual, com a intenção de fazer com que os estudantes, desde o início, exercitem menos a repetição de ideias, e mais a criatividade ao argumentar acerca de algo. “O Brasileiro Não Lê”, título do segundo tópico, é o primeiro clichê a ser tratado por Ribeiro. Para ela, essa frase, entre todas, é a mais comum de se ouvir em uma vasta 1 Graduanda do Curso de Licenciatura em Letras-Inglês da Universidade Federal de Roraima – Campus Paricarana. Atividade avaliativa da disciplina de Discurso: Leitura e Produção de Textos e Hipertextos. 2014. 2º semestre. quantidade de ambientes. Na maioria das vezes, ao ser falada, essa frase é aceita por quem a ouve e muito raro alguém discorda ou a questiona, porém há quem o faça. A autora questiona, com base em Abreu (2001), sobre qual tipo de leitura se está falando quando se afirma que os brasileiros não leem. Para ela, ao se fazer essa afirmação, não estão sendo levadas em consideração leituras como, por exemplo, de jornais, revistas, gêneros primários de texto, e muito menos textos não-verbais. Entretanto, eles não deixam de ser textos apenas por não serem clássicos literários. Em “A Internet Ameaça o Hábito de Ler”, Ribeiro explica que esse clichê é disseminado, principalmente, por pessoas que acham que se o brasileiro, no dia-a-dia, já não ler, com a internet ao alcance delas é que não lerão mesmo. Porém, o que essas pessoas não percebem é que, independentemente de formato, cores, links, texto será sempre texto. Todavia, essas pessoas “preocupadas com a leitura alheia”, quando falam de textos, estão se referindo especificamente a textos literários, de preferência impressos e, clássicos se possível. Pois, para elas a web não é confiável, muito menos tem textos que possam ser considerados dignos. A web é considerada, pela professora, uma ferramenta útil a qualquer pessoa desde que ela saiba o quê e onde procurar. Ela pode desde “jogar conversa fora” a ler artigos científicos de estudiosos renomados. No tópico seguinte, Ribeiro fala a respeito da frase “A Internet Interfere Negativamente na Escrita”, que tem sido muito utilizada em reunião escolar, familiar, de amigos etc. Dizer que a escrita de outros está ruim devido ao uso da internet não tem fundamento, já que também é possível fazer bom uso da mesma. Se apenas a gramática normativa for levada em consideração é possível encontrar “problemas de escrita” em diversos meios que não a internet, como folhetos, propagandas, placas entre outros. O “internetês”, desenvolvido com o intuito de se digitar rápido, é visto por muitos como algo ruim, já que nele palavras são abreviadas, não recebem acentos, são modificadas. Porém, é considerado, não apenas pela professora, como uma linguagem criativa, e é ainda comparado às abreviações surgidas no tempo de nossos avós. O clichê seguinte é: “Como falar em acesso digital se o povo nem tomou gosto pelo papel?” Para a pesquisadora, ter contato com documentos impressos é sim importante, entretanto as pessoas não devem se prender a apenas isso. Não é porque uma pessoa não ler, por exemplo, livros físicos, que não poderá ler um e-book. Ela cita também crianças que assistem a desenhos sem antes disso saber falar e/ou aprender a ler textos verbais; e que uma pessoa não precisa, obrigatoriamente, aprender primeiro a folhear o jornal impresso para só depois aprender a enviar e-mails, conversar em chats, participar de fóruns. “A Internet Não Oferece Conteúdos, Textos e Ambientes de Credibilidade.” O tópico seis é iniciado por perguntas frequentes quando se trata dessa frase, entre elas “Como saber se uma fonte de informação merece respeito e credibilidade?” Naturalmente, qualquer pessoa pode publicar o que quiser na internet, independentemente de ser confiável ou não. Entretanto, como a autora cita, nem mesmo jornais de todo o mundo podem ser 100% confiáveis e vez ou outra cometem erros nas informações. E por mais que alguns queiram justificar, por exemplo, que determinados jornais/revistas são confiáveis por terem editorchefe, a autora lembra que até mesmo livros, às vezes não têm bom tratamento editorial (nem mesmo revisão de língua portuguesa). “Textos, na Internet, Têm Que Ser Concisos e Superficiais” é o último clichê trabalhado no ensaio. Acerca de assunto, segundo a autora “a remodelagem das interfaces e a transposição de determinadas práticas para a web trouxeram a reboque uma indústria dos manuais de como fazer isto ou aquilo na web”. Com isso surgiram vários manuais de como escrever bem. Muitos são conhecidos e respeitados, e utilizados até em curso de graduação e pós-graduação, como cita Ribeiro. Para ela, é fundamental que o texto seja conciso em alguns ambientes digitais. Todavia, isso não deve se restringir apenas a textos online, mas servir também para qualquer produção textual possível. A autora deixa claro que ser superficial não é, de forma alguma, ser conciso, e que superficialidade não é problema apenas em textos na web, mas em qualquer lugar. No tópico “Sem Querer Ser Linear, Já Sendo” Ribeiro explica brevemente sobre a história dos documentos impressos do Brasil. E com base nessa história ela afirma que “Ao contrário do que sugerem alguns “clichês”, nunca houve, na história do país, tantas pessoas alfabetizadas e potencialmente leitoras.” E como a mesma cita, “para Abreu (2001), para se entender o Brasil como um país de leitores, é necessário conceber a leitura para além de livros míticos, literatura consagrada, etc.” O último tópico do ensaio, nomeado “O Que é Que dá Para Fazer?” é composto por algumas sugestões da autora a cerca da leitura/escrita na web. Para ela, é possível ter boas experiências de escrita na composição de um Mojo Book (estórias criadas com base em músicas); a Wikipédia é recomendada por ela a quem quer ter experiência com edição de textos e trabalho em equipe, já que os textos podem ser (re)editados por vários colaboradores; em qualquer site é possível comentar a respeito de um filme/livro/CD; no YouTube é possível fazer “produção colaborativa e também avaliá-las nos comentários; também pode ser proveitosa a interação direta com autores e pessoas interessadas nos mesmos assuntos. Durante o ensaio a autora explica e explora bem todos os clichês abordados por ela, que podem ser ouvidos por qualquer um em qualquer parte do país, expondo situações e citando exemplos de como eles são usados e mostra que muitos deles além de não terem fundamentos podem ser facilmente desfeitos se bem analisados. Se pessoas que fazem uso desses clichês no dia-a-dia lerem este ensaio conseguirão não apenas ver esses clichês com outros olhos como também mudar de opinião em relação a eles.