VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DA RESERVA ECOLÓGICA DE PEDRA TALHADA, ALAGOAS – BRASIL Hewerton Alves da Silva¹, Daniel Rodrigues de Lira², Lucas Costa de Souza Cavalcanti², Célia Clemente Cristina Machado², Josiclêda Domiciano Galvíncio³ ¹Programa de Pós-Graduação em Geografia - Aluno de Mestrado/UFPE ²Programa de Pós-Graduação em Geografia - Aluno de Doutorado/UFPE ³ Professor(a), Doutor do Programa de Pós-Graduação em Geografia/UFPE RESUMO A Reserva Ecológica de Pedra Talhada constitui um fragmento de mata atlântica que ainda não possui uma base de dados acerca de seus atributos físico-geográficos. Este trabalho apresenta o resultado de um mapeamento geomorfológico da área da reserva e de seu entorno. A metodologia baseou-se na edição de planos de informação construídos a partir da vetorização de classes do relevo. As classes foram definidas a partir dos dados de informações dos mapas geológicas e pedológicas além de utilizar dados de elevação do projeto TOPODATA, a partir dos quais se gerou um mapa de declividades, através de modelagem numérica do terreno. As classes foram agrupadas em morfoestruturas e morfoesculturas, conforme as definições da União Geográfica Internacional. O relevo na região da reserva ecológica de Pedra Talhada está associado à presença do plúton Correntes, cujo comportamento diante da história denudacional da região se diferencia das litologias do entorno, formando uma morfoestrutura em maciço residual. Em função de sua altitude e da relação entre o maciço residual e a as massas de ar, a atmosfera torna-se mais úmida, favorecendo o aprofundamento de mantos de intemperismo e o desenvolvimento pedogenético. Isto favorece a formação de um modelado em colinas elúvio-coluvias e patamares elevados, constituindo superfícies de cimeira em cotas superiores aos 800m e aos 850m. Estas unidades estão cercadas pelos pedimentos ora rochosos ora detríticos que se desenvolvem sobre as litologias do entorno (Complexos Cabrobó e Belém de São Francisco). Mais ao sul, os sistemas deposicionais associados ao domínio fluvial, formando plainos aluviais. Palavras Chaves: Reserva ecológica, unidades geomorfológicas, morfoesculturas 1 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais INTRODUÇÃO Com o avanço das tecnologias, a confecção dos mapas do relevo conta hoje com técnicas de fácil utilização, pois, o recobrimento de extensas áreas imageadas por satélites orbitais e radares interferométricos atende à perspectiva da análise regional da geomorfologia, uma vez que nelas sobressaem os grandes quadros estruturais (TAVARES et. al. 2009), além de gerar subsídios para realização de mapeamentos posteriores em melhor detalhe. Com isso, ampliam-se as possibilidades da realização de levantamentos dos recursos naturais de países de dimensões continentais, como é caso do Brasil. A área em estudo compreende uma região de transição morfoclimática, segundo Ab’Saber (2008) situa-se entre dois morfoclimas distintos, um mais úmido e outro semi-árido. Nesse contexto, o relevo apresenta formas típicas de ambientes com escassez quanto de áreas com maior disponibilidade de água, um dos principais agentes modeladores do relevo. A proposta desse trabalho justifica-se pela carência de mapeamentos do relevo tanto de escala de detalhe quanto de regional, pois os mapas geomorfológicos apresentam a possibilidade de mostrar as formas de relevo que estruturam a paisagem e tem por finalidade a representação do relevo quanto a suas formas estruturais e esculturais. Segundo a classificação do IBGE (2009) e outras similares como as de Ross (1992) e do Projeto RADAMBRASIL (1983) há apenas um nível hierárquico para descrição de morfoestruturas, cuja descrição não é compatível com as unidades identificadas aqui. Por exemplo, seguindo as classificações do IBGE, Ross e RADAMBRASIL, as duas unidades morfoestruturais identificadas estariam classificadas dentro de uma única categoria. Buscando apresentar uma proximidade máxima à realidade, de acordo com a escala. Pode-se dizer que a compartimentação geomorfológica possibilita uma visão integrada do ambiente, pois considera as variáveis responsáveis pela estrutura e escultura resultante do meio físico. O objetivo deste trabalho consiste em realizar o mapeamento do relevo da Reserva Biológica de Pedra Talhada (RBPT), a fim de sistematizar os dados no que diz respeito às unidades de relevo da área analisada. CARACTERIZAÇÃO DO QUADRO FÍSICO A RBPT localiza-se sobre um plúton Neoproterozóico que se projeta positivamente em relação ao relevo do entorno, atingindo valores altimétricos de 882m. Esta característica favorece um contexto de exceção em relação à umidade. Devido à esta característica, os solos desta área são mais profundos diferente dos solos rasos e pouco desenvolvidos em sua circunvizinhança. Conforme Silva et. al. (2001) os solos predominantes na RBPT e do entorno são: Argissolos Vermelhos, Argissolos Vermelho-Amarelos, Planossolos Háplicos, e 2 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Neossolos Litólicos. A vegetação se enquadra no bioma Mata Atlântica, com fisionomia de Floresta Estacional Subperenifólia. MATERIAIS E METÓDOS Localização da área estudada A Reserva Biológica de Pedra Talhada (Figura 1) é uma unidade de conservação Federal situada na fronteira dos estados de Alagoas e Pernambuco, mas precisamente na Serra dos Guaribas, Constituindo um importante refúgio de diversas espécies endêmicas e em risco de extinção da fauna brasileira, sendo também um dos maiores mananciais de água potável nas regiões Agreste e Sertão dos estados de Alagoas e Pernambuco. Figura 1. Localização da área de estudo na Reserva Ecológica de Pedra Talhada, PE/AL. Mapeamento Geomorfológico O mapeamento das unidades geomorfológicas foi desenvolvido seguindo as recomendações do manual técnico de Geomorfologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009). Foram mapeadas as unidades na quarta ordem de grandeza: os modelados. Um polígono de modelado é definido como “um padrão de formas de relevo que apresentam definição geométrica similar em função de uma gênese comum e dos processos morfogenéticos atuantes, resultando na recorrência dos materiais correlativos superficiais.” (IBGE, 2009, p.31). Nestes termos, os 3 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais modelados são agrupados em quatro categorias: acumulação, aplanamento, dissolução e dissecação. Os modelados foram identificados em ambiente de Sistemas de Informação Geográfica a partir da interpretação de dados temáticos das litologias, estruturas e solos, bem como modelos numéricos do terreno (declividade, hipsometria, curvas de nível, direção de fluxo e densidade de drenagem). Foram elaborados perfis topográficos a fim de precisar os limites das unidades. Também foram utilizadas imagens de satélite para auxiliar a interpretação, de acordo com a metodologia proposta por Florezano (2007) onde é recomendado combinações do infra-vermelho próximo, pois estas respondem melhor a ambientes secos, com predominância de dolos expostos e vegetação rala, além de apresenta-se de modo satisfatório em ambientes mais úmidos. Os modelos numéricos foram elaborados a partir de dados de elevação da Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), com resolução espacial de 30m X 30m. Foi utilizada uma imagem Landsat 5 TM da data 19/07/2007 ponto 66 órbita 215, com a combinação 4-7-5. Todo o processamento dos dados foi realizado com os softwares ArcGis 9.3, MicroDEM, Surfer 9 e ERDAS 9,3 (disponíveis no Departamento de Ciências Geográficas – UFPE/SERGEO Geoprocessamento). – Grupo de Sensoriamento Remoto e 4 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 A B D E C Figura 2 – 2A – Hipsometria; 2B – Declividade; 2C – Imagem do Satélite Landsat 5TM na composição adequada; 2D – Direcionamento da encosta e do Fluxo superficial; 2E – Densidade da Drenagem. RESULTADOS E DISCUSSÕES Um problema quanto aos princípios de classificação adotados foi identificado quando se procedeu ao agrupamento dos modelados mapeados. As unidades estão claramente subordinadas à dois contextos morfoestruturais: a diferença litológica entre o plúton Correntes e o embasamento metamórfico circundante são visíveis também no relevo. Na região nos limites entre estas unidades ocorre uma forte ruptura de declive e o plúton se projeta positivamente em relação ao embasamento metamórfico, ou seja, duas morfoestruturas são identificadas. Para confecção do mapa geomorfológico, primeiramente identificaram-se as possíveis rupturas do relevo, a partir do mapa de declividade (Figura 2B) que podem servir de indicativo de limites entre unidades de relevo, junto ao mapa hipsométrico (Figura 2A), imagens de satélite Landsat, com combinação de banda adequada (Figura 2C), densidade de drenagem (Figura 2E) e a direção do fluxo ou da encosta (Figura 2D), para a área de estudo, logo as unidades encontradas foram: Pedimentos (Detritico e Rochoso) São áreas moderadamente planas, com declividade inferior a 7%, restringidas por maciços residuais formando áreas de retirada de sedimentos com estrutura superficial dominada por Planossolos e Neossolos Litólicos, sobre os quais se formam pavimentos 5 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais detríticos pela retirada das fáceis mais finas devido à atuação da erosão laminar. Esta unidade morfoescultural delimita-se pelas curvas topográficas de 800 a 200m, interpondo-se entre superfícies de cimeira e maciços residuas, podendo ser subdividida nas seguintes unidades a partir da desarticulação altimétrica entre os níveis de pedimentos Unidade de Cimeira (800 e 850m) Correspondem aos níveis conservados da dissecação vertical nos topos dos compartimentos planálticos e maciços residuais com uma morfologia de topo plana, essas áreas são cobertas por solos mais maduros, como os Latosslos ou ainda Argissolos, segundo Ker (1997), os Latossolos em climas semi-áridos são considerados como solos-testemunhos de condições climáticas pretéritas mais úmidas, ou neste caso são resposta a uma maior estabilidade da condição do clima nessas áreas elevadas. Esta unidade também pode apresentar morfologia em crista, desprovida de cobertura sedimentar. Colinas Elúvio-Colúviais São fruto da dissecação das unidades de cimeira, onde é grande a presença do material alóctone intercalados a matérias de transporte, no caso, recobertos por rampas de colúvio, tornando de difícil distinção a origem dos materiais superficiais que recobrem esta unidade. Plaino Aluvial Este compartimento corresponde às áreas baixas e planas, que ocorrem ao longo dos vales, englobando as formas resultantes da deposição. São formas alongadas onde predomina o escoamento superficial. O compartimento pode ser subdividido em duas subunidades, a primeira são os terraços erosivos composto por diversos tipos de sedimentos. Para Lang (2003), em bacias de drenagem, o colúvio sofre interferência lateral pelos depósitos fluviais da planície de inundação e estes diferentes tipos de sedimentos muitas vezes não podem ser diferenciados. A outra unidade é o leito fluvial, onde predominam a deposição de aluviões compostos de areia grossa e grânulos 6 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 CONCLUSÕES Em função de sua altitude e da relação entre o maciço residual e a as massas de ar, a atmosfera torna-se mais úmida, favorecendo o aprofundamento de mantos de intemperismo e o desenvolvimento pedogenético. Isto favorece a formação de um modelado em colinas elúvio-coluvias e patamares elevados, constituindo superfícies de cimeira em cotas superiores aos 800m e aos 850m. Estas unidades estão cercadas pelos pedimentos ora rochosos ora detríticos que se desenvolvem sobre as litologias do entorno (Complexos Cabrobó e Belém de São Francisco). Mais ao sul, os sistemas deposicionais associados ao domínio fluvial, formando plainos aluviais. O relevo da área estudada apresenta características variadas, predominando extensas superfícies planas, desenvolvidas em diferentes tipos litológicos e cotas topográficas variadas. Intercaladas a estas superfícies sobressaem-se superfícies de 7 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais relevos dissecados formados por erosão diferencial, representado por superfícies remobilizadas, diferenciando-se da pela litologia. Finalmente, o esquema classificatório está construído que claramente destoa da realidade encontrada. REFERÊNCIAS BRITO NEVES, B. B. 1975. Regionalização geotectônica do Pré-cambriano nordestino. Tese de doutoramento, USP/Inst. de Geoc. 198p. DEMEK, J.; EMBLETON, C. 1978. INTERNATIONAL GEOGRAPHICAL UNION. COMMISSION ON GEOMORPHOLOGICAL SURVEY AND MAPPING. Guide to medium-scale geomorphological mapping. Stuttgart: 348p. FLORENZANO, T.G. In: FLORENZANO, T.G. (org.). 2007. Geomorfologia: conceitos e tecnologias atuais. São Paulo: Oficina de textos, p.36-72. FONSECA L. M. G.; 2000. Processamento Digital de Imagens. INPE, São José dos Campos, KER, J.C.. 1997. Latossolos do Brasil: uma revisão. Geonomos, Vol. 5, n. 1. 17-40p. LANDIM, P. M. B.; MONTEIRO, R. C.; CORSI, A. C.. Introdução à confecção de mapas pelo software Surfer8. Geomatemática. Texto Didático 8, DGA, IGCE, UNESP/Rio Claro, 2002. Disponível em <http://www.rc.unesp.br/igce/aplicada/textodi.html>. Acesso em: 10 de maio de 2008. LANG, A. Phases of soil erosion-derived colluviation in the loess hills of South Germany. Catena: An Interdisciplinary Journal of Soil Science, Hydrology, Geomorphology focusing on Geoecology and Landscape Evolution, Elsevier n. 51: 209–221, 2003. MIRANDA, E. E.; (Coord.). 2009. Brasil em Relevo. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite, 2005. Disponível em <http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br>.Acesso em: 16 jun. SILVA, F.B.R., SANTOS, J.C.P., SILVA, A.B., CAVALCANTI, A.C., SILVA, F.H.B.B., BURGOS, N., PARAHYBA, R.B.V., OLIVEIRA NETO, M.B., SOUZA NETO, N.C., ARAÚJO FILHO, J.C., LOPES, O.F., LUZ, L.R.Q.P., LEITE, A.P., SOUZA, L.G.M.C., SILVA, C.P., VAREJÃO8 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 SILVA, M.A., BARROS, A.H.C. 2001. Zoneamento agroecológico do Estado de Pernambuco. Recife: Embrapa Solos - Unidade de Execução de Pesquisa e Desenvolvimento - UEP Recife; Governo do Estado de Pernambuco (Secretaria de Produção Rural e Reforma Agrária), CD-ROM.- (Embrapa Solos. Documentos; no. 35). SILVA JÚNIOR, J. M. F. 1997. Um regime rúptil, pós-Siluro-Devoniano no domínio da Zona Transversal, Província Borborema-Nordeste do Brasil. Dissertação de Mestrado, UFOP/Dep. de Geologia, Ouro Preto, 156p. TAVARES, B. A. C.; LIRA, D. R.; SILVA, H. A.; CAVALCANTI, L. C. S.; CORRÊA, A. C. B. 2009. Aplicação de técnicas de Sensoriamento Remoto para compartimentação geomorfológica na área do gráben do Cariatá, Estado da Paraíba. Anais XIV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Natal, Brasil, 25-30 abril, INPE, p. 3395-3402. NUNES, B. E.; RIBEIRO, M. I. C.; ALMEIDA, V. J. ; NATALI-FILHO, T.. 1995. Manual Técnico de Geomorfologia. IBGE. Rio de Janeiro. 111p. 9