A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO DA CONCEPÇÃO DE LUGAR, CIDADE, URBANO E USO DO SOLO À PRATICA NA GEOGRAFIA DA ESCOLA PÚBLICA1 TÂNIA DE FÁTIMA OLIVEIRA1 Resumo: O objetivo deste texto é apresentar a minha participação na pesquisa realizada pelo grupo de professores da rede pública, que tem como finalidade a melhoria da qualidade do ensino público, através das concepções de lugar, cidade, urbano e o uso do solo com os alunos do ensino fundamental da rede paulista, financiado pela FAPESP e coordenado pela Profa Dra Sonia Maria Vanzella Castellar. O foco da pesquisa, era o de provocar mudanças conceituais e analisar a concepções de cidade, lugar e urbano dos alunos durante o processo de ensino aprendizagem. Muitas ações didáticas foram aplicadas em sala de aula durante o período em que ocorreram as pesquisas. Trabalhamos com projetos interdisciplinares, com inovações metodológicas, tecnológicas e atividades de aprendizagem utilizando diferentes linguagens. Palavras-chave: Sequências didáticas; Geografia escolar; Ensino-aprendizagem; Interdisciplinaridade Abstract: This text’s goal is to present my participation in the research led by public school teachers, which had the intent of improving the improvement quality of the education within the schools, utilizing concepts such as place, city, urban ambiances and soil usage with basic school students from São Paulo’s public school system. The studies were funded by FAPESP, and coordinated by Prof. Dr. Sonia Maria Vanzella Castellar. The focus of this research was the analysis and the modification of the students conceptions of city, place and urban ambiances within the teaching and learning process. Many didactic actions were applied during classes, within the research period. We worked with interdisciplinary studies, utilizing methodological innovations, new Technologies and learning activities, in different languages. Key words: Didactic sequences; School geography; Teaching and learning; interdisciplinarity 1. Introdução Durante todo o decorrer da pesquisa, fizemos um trabalho de caracterização das escolas e dos professores do grupo, elaboramos questionários sociocultural dos alunos e a partir daí, elaboramos atividades didáticas na forma de oficinas para que aplicássemos na sala de aula. Muitas foram as discussões teóricas sobre modelos de ensino, sequências didáticas investigativas, incluindo os fundamentos dos conceitos estruturantes da geografia escolar, ou seja, aqueles que contribuem para a compreensão dos conceitos que são objetos de estudo nesta pesquisa. Sempre após o trabalho teórico, planejávamos as atividades que poderiam ser aplicadas nas 1 Graduada e licenciada em Geografia pela Fundação Regional e Educacional de Avaré (FREA). Professora Titular de Geografia na Escola Estadual Marquês de São Vicente na cidade de Santos/SP, Bolsista da FAPESP no Projeto Ensino Público, coordenado pela profa. Sonia Castellar (FEUSP). E-mail [email protected] 2 Professora livre-docente da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). E-mail [email protected] 3653 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO salas de aula. Trabalhamos com projetos interdisciplinares, com inovações metodológicas, tecnológicas e atividades de aprendizagem utilizando diferentes linguagens. Desenvolvemos ações didáticas que foram aplicadas em sala de aula. O objetivo dessas atividades era o de provocar mudanças conceituais e analisar a concepções de cidade, lugar e urbano dos alunos. Nas reuniões periódicas do grupo de pesquisa, realizavam-se oficinas e a partir delas, organizamos e adaptamos atividades para serem aplicadas na sala de aula (de acordo com o calendário de cada escola), sempre contemplando o conceito geográfico: lugar, cidade, urbano e uso do solo. Na Unidade escolar, a questão do calendário da escola foi um dificultador porque algumas oficinas, necessitavam por exemplo, de agendamento no laboratório de informática, e também autorização de pais para atividades extras-classe e a equipe gestora interfere diretamente na elaboração de todas as atividades da escola, são mais presentes e o cronograma das atividades não poderia ser muito alterado. 2. Um breve histórico da escola A Escola Estadual Marquês de São Vicente, está localizada na Av. Dr. Bernardino de Campos, nº 569, no bairro do Gonzaga na cidade de Santos/SP.A Escola possui uma clientela diversificada oriunda dos mais diversos bairros próximos. O nível sócio - econômico é de classe média, na maioria, porque os pais são profissionais liberais, empresários, comerciantes e funcionários públicos. Há também alunos de famílias mais simples porque os pais são zeladores de prédios e empregadas domésticas. A maioria dos pais são presentes, uma pequena parcela dos pais é distante de qualquer envolvimento, não se interessando pelo estudo dos filhos e não tendo qualquer contato com a escola. 3. Aplicação dos instrumentos Durante toda a pesquisa, foram feitas muitas leituras importantes para que a discussão do grupo tivesse embasamento teórico. Também, foram elaboradas muitas atividades, tais como: Oficina dos solos, Stop Motion, Movie Maker, Google 3654 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Sreet View, Google Maps, Técnicas para Gamificação. Utilizando esses recursos práticos (Oficina dos Solos) e os tecnológicos observou-se que eles são importantes e revelaram-se aliados do professor nas aulas de Geografia. Esses instrumentos são estratégicos para uma aprendizagem significativa do aluno, estimulando a construção de conceitos de forma lúdica, com o manuseio de ferramentas como a lupa, cronômetros, amostras de solos e também quando se cria jogos, simulações e animações usando o raciocínio espacial. Antes de todos os instrumentos serem aplicados, os alunos fizeram leituras com o objetivo de discutir, conhecer e interpretar os conceitos de lugar, cidade, urbano e uso do solo. Além disso, assistiram vídeos disponíveis no Youtube que contemplavam a cidade de Santos. Os vídeos escolhidos, retratavam a cidade de Santos, no passado e como ela é hoje e podem ser vistos nos seguintes endereços: http://youtu.be/cSZDvBdELqE, e http://youtu.be/O_cJXJ2Hx_Q Fotos 1 e 2- Alunos na sala de vídeo e informática. 3.1 Resultados e considerações sobre os instrumentos A pesquisa contou com a participação de 27 alunos, do 8ºano B, do período matutino. Todos os instrumentos foram aplicados ao longo do primeiro bimestre de 2014, durante o horário de aula. Os alunos participaram de todas as fases da aplicação dos instrumentos. 3655 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 3.2 Perfil dos alunos que participaram da pesquisa: 45% Meninos 55% Meninas Figura 1 - Percentual por Gênero 7% 4% 18% 1 salário 2 Salários 15% 3 Salários 4 Salários 30% 26% 5 Salários 6 Salários Figura 2- Percentual por perfil sócio econômico 3656 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 3% 26% Computador 71% Celular 71% Nenhum Figura 3 - Tecnologias mais adotadas Essa turma é composta mais por meninos do que meninas A análise dos dados coletados, sobre esses perfis é possível concluir que os alunos dessa turma são de famílias que recebem em média 1 ou 2 salários mínimos e mais de 50% dos alunos possuem equipamentos tecnológicos tais como computador e celular. Para essa pesquisa, utilizamos alguns instrumentos. O primeiro deles foi o preenchimento da tabela de lugares e sensações que intitulamos de Instrumento 1. O objetivo dessa atividade era do de saber qual o conceito que os alunos tinham de lugar. Pude observar que os alunos tiveram poucas dificuldades em relacionar os lugares (alguns até foram inusitados), mas quando foi solicitado que colocassem as sensações sobre esse lugar, a dificuldade foi grande porque não sabiam ligar as sensações que sentiam aos lugares listados. Os principais lugares citados pelos alunos nos quadros foram: praia, escola, minha casa, shopping, igreja, quebra-mar, Gonzaga, Vila Belmiro, Lan House e casa dos avós. As principais sensações foram: Diversão, felicidade, liberdade, alegria, paz, conforto, fome, relaxamento, aprendizagem e cansaço. 3657 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Resultado das perspectivas dos alunos, listadas no Instrumento 1 com relação as sensações e os lugares listados. Figura 4 – Percentual de Perspectivas (Geral Meninos e Meninas) A análise desse instrumento mostrou que os alunos consideram a cidade apenas na perspectiva do vivido, de suas experiências pessoais. O Instrumento 2 foi a produção de carta, na qual o aluno descreveria lugares que considerassem importantes na sua cidade e deveriam convidar um amigo ou conhecido de outro lugar a vir conhece-la. A dificuldade na aplicação, deu-se pelo fato de muitos ainda não saberem o formato de uma carta, transformando em alguns momentos as cartas em bilhetes ou mesmo um e-mail. Muitos alunos indicaram em suas cartas, locais de sua própria vivência. A análise do instrumento carta, mostrou que as meninas têm mais preocupação em descrever o cotidiano da cidade, quando citam os problemas vividos pelos cidadãos como a segurança, infraestrutura e o custo de vida. Já os meninos, estiveram mais preocupados em enfatizar o que se pode fazer na cidade, levando em consideração aqui, que é uma cidade litorânea e consequentemente o turismo tem mais força. Nos gráficos, encontram-se os resultados das palavraschaves analisadas nas cartas, por gênero e a concepção expressada geral (meninos e meninas). 3658 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Figura 5 - Percentual de Palavras Chaves (Geral Meninos) Figura 07 - Percentual de Palavras Chaves (Geral Meninas) Figura 08 - Concepção Expressada (meninos e meninas). Após a aplicação desses dois instrumentos, organizamos um Trabalho de campo. O objetivo era mostrar a eles o quanto a cidade em que vivem é cheia de contrastes. A maioria desses alunos, não conheciam a cidade em que viviam ou 3659 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO mesmo, tinham uma visão deturpada de alguns pontos dela. Antes dessa saída para o trabalho de campo, e como o objetivo da pesquisa é de mostrar a possibilidade de utilizar outros recursos na sala de aula, os alunos elaboraram então, num primeiro momento, no laboratório de informática um Tour Virtual pela cidade de Santos. No laboratório usaram recursos como o Google Maps e Google Street Views e foi intitulado de Tour Virtual Pré - Campo. Esse tour contemplou pontos da cidade que eles tinham conhecimento e também lugares da cidade que ainda não conheciam, como por exemplo a Avenida Portuária e a região central da cidade. O uso de tecnologias na sala de aula, tem sido importante porque auxilia na mudança da didática da aula, como corroboram Castellar, Sacramento, Munhoz (2011, p.117). As mudanças na concepção de ensinar requerem, por exemplo, compreender o papel do currículo escolar e da didática para a construção da aula. Não temos dúvida que o papel dos artefatos tecnológicos digitais, tais como jogos educativos, portais educacionais, softwares, hipertextos, sons, mídias vídeos são atraentes aos alunos, inclusive, porque fazem parte do seu cotidiano. Nessa perspectiva, a escola, por ser um dos lócus do conhecimento, cumpre papel fundamental ao se apropriar de vários tipos de linguagens e instrumentos de comunicação, promovendo um processo de decodificação, análise e interpretação das informações, permitindo o desenvolvimento da capacidade do aluno em assimilar as mudanças tecnológicas. O resultado desse trabalho no laboratório de informática, pode ser visto no Youtube em https://www.youtube.com/watch?v=oKTW4RRgNG8. O trabalho de campo, tinha como objetivo despertar no aluno a capacidade de identificar igualdades, diferenças e transformações que ocorreram entre a Orla Marítima e o Centro Histórico de Santos.Com esses objetivos em mente, saímos da escola, com um roteiro em mãos e sabendo sobre cada uma das paradas. Em cada parada, era necessário analisar os aspectos gerais da região. Em todas as paradas os alunos deveriam fazer uma descrição do espaço, justificando tudo o que era visto. Desde os atrativos de lazer, a temperatura em cada ponto, os tipos de construções; o tipo comércio. Foi possível perceber durante o trajeto, que os alunos notavam rapidamente as mudanças que ocorriam na paisagem e destacaram principalmente as diferenças 3660 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO nos tipos de construções e comércio ao longo do trajeto da orla até o centro histórico da cidade. Foto 3 - Saída de Campo – Morro José Menino Foto 5 - Área Portuária em Santos Foto 7- Área do centro Histórico Foto 4 - Emissário de Santos Foto 6 - Travessia de Passageiros Foto 8- Área Comercial Como resultado da aplicação desses instrumentos, temos os registros das atividades feito pelos alunos no formato de relatório e também os mapas mentais do trajeto, mostrando como conseguem visualizar a cidade em que vivem. 3661 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 4. Considerações Finais A pesquisa mostrou o quanto os alunos precisam de motivação na sala de aula e as atividades demonstraram o quanto a mudança da prática pedagógica pode mudar o relacionamento do aluno com o professor e também o quanto o aluno pode ampliar o seu conhecimento. O uso de outros recursos didáticos pode colaborar no desenvolvimento educacional. A partir do momento em que os recursos aprendidos nas oficinas do projeto, foram utilizados na sala de aula, ela tornou-se mais proveitosa e interessante para os alunos, pois a abordagem foi mais contextualizada e interdisciplinar. A experiência adquirida após a formação do grupo de pesquisa, fez com que os professores se preocupassem muito mais em utilizar novos recursos. Cada aluno de nossa escola tem necessidades e dificuldades diferentes e, por isso, jogos e atividades lúdicas possibilitaram muito mais a integração dos conteúdos e me apoiaram no desenvolvimento e planejamento das minhas aulas. O uso de aparatos tecnológicos é importante no ensino de Geografia e ter um domínio amplo desse aparato faz com que os professores tenham mais autonomia durante as aulas. Nas oficinas que foram aplicadas durante a pesquisa, foi possível adquirir mais conhecimentos e possibilidades de aplicação desses recursos. O uso da tecnologia, fez com que os alunos tivessem um olhar mais transformador e tornaram-se mais autônomos. Estes alunos conseguiram surpreender pela forma como participaram ativamente das aulas. Outro fator importante dentro desse projeto de pesquisa é que, ele envolve várias áreas do conhecimento como as disciplinas de Português, Matemática e Ciências, com ênfase no ensino de Geografia e relaciona os conceitos das disciplinas envolvidas fazendo com que a aprendizagem seja mais ampla. O projeto de pesquisa, mostrou uma possibilidade de compreender o processo de ensino, bem como elaborar técnicas conjuntamente para buscarmos a melhor forma de “como ensinar” e “como aprender”. 3662 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Os instrumentos que foram utilizados, serviram para mostrar que o interesse e a participação do aluno no desenvolvimento dos conteúdos, tornou-se um ponto positivo e que ocorreu uma maior fixação/aprendizagem; maior interatividade entre os alunos, proporcionada pelos trabalhos em grupo; maior interatividade entre professor e alunos. Permitiu também, aos professores, identificar as diferentes concepções sobre o lugar, cidade, urbano e uso do solo e se apropriar dele. 5. Bibliografia: ARCHELA, R. S.; CALVENTE, M. C. M. H. Ensino de Geografia: tecnologias digitais e outras técnicas passo a passo. Londrina: Eduel, 2008. CASTELLAR, Sonia Maria Vanzella. Educação Geográfica: teorias e práticas docentes. São Paulo: Contexto, 2007. CASTELLAR, S. M. V.; SACRAMENTO, A. C. R.; MUNHOZ, G. B. Recursos multimídia na educação geográfica: perspectivas e possibilidades. Ciência Geográfica, v. xv, p. 114-123, 2011 CASTELLAR, S. M. V.; MUNHOZ, G. B. Conhecimentos Escolares e Caminhos Metodológicos. São Paulo: Xamã, 2012. CAVALCANTI, L. de S. Geografia, Escola e Construção de Conhecimentos. Campinas – SP: Papirus, 1998 3663