O Orientador Educacional como especialista comprometido com a educação É preciso pensar na atuação do especialista para que ele não se torne um profissional sem função ou desnecessário. Seu trabalho não pode estar centrado na ação de cobrir faltas e falhas de outros técnicos ou profissionais. A função primordial de qualquer técnico é mobilizar o coletivo da escola, para a reflexão crítica sobre prática educativa com o objetivo de transformá-la, lembrando aos profissionais a presença de um projeto pedagógico mais abrangente do que os projetos individuais de cada um. O especialista deve ser bem qualificado, auxiliando o grupo na tomada de consciência do que se está vivendo no momento, para juntos fazerem ajustes necessários visando ao bom andamento do processo ensinoaprendizagem. O Orientador Educacional pode ser um desses especialistas quando assume uma postura de transformação, ou seja, quando acredita que o homem pode mudar seu destino, que as situações não são completamente determinadas e que todos nós temos uma possibilidade de tomada de decisão e/ou ação, por menor ou mais complexa que seja a situação. Como ressalta Paulo Freire (1996), educador comprometido com a educação das classes populares, o homem e a mulher devem ser conscientes de que são seres inacabados e, a partir dessa consciência de si, devem buscar um processo permanente de aprendizado. Esse profissional comprometido com a mudança, que deve assumir o papel de mediador do processo educativo, parte da análise da realidade do sujeito para iniciar seu trabalho. No entanto, Vasconcellos (2002, p. 75) adverte que, ao voltar o “olhar” para realidade do aluno e da comunidade em que a escola está inserida, não se deve fazer uma “... análise moralista, de acusação, como se a pessoa tivesse o tipo de prática que tem por ter decidido livre e conscientemente. Ter clareza, no entanto, que partir de onde está não é ficar lá. Entender não para justificar, mas para ajudar a mudar”. Pense e responda: Com que ações esse profissional pode e deve comprometer-se? As ações do Orientador Educacional tornam-se abrangentes, à medida que este assumiu o papel de elemento mediador das relações e da transformação da escola. Ele atua na formação continuada dos professores, tecendo as relações interpessoais entre funcionários, professores, membros da equipe, alunos e pais, orientando e organizando os alunos para atividades de representatividade e liderança entre outras atividades. Agora, leia uma das estrofes da música de Chico Buarque (1977), pense na imagem que vem a seguir e relacione-as com o trabalho do Orientador Educacional... “Todos juntos somos fortes Somos flecha e somos arco Todos nós no mesmo barco Não há nada pra temer... “ Foto extraída do site: www.gettyimages.com.br 4.1 A Orientação Educacional em relação à Direção da escola. A Direção da escola, geralmente é composta pelo setor administrativo, Diretor e Assistente de Direção ou Vice-Diretor e pelo setor pedagógico, composto pelo Orientador ou Coordenador Pedagógico e pelo próprio Orientador Educacional. Sendo parte da Equipe, ou corpo técnico, o Orientador Educacional colabora com a direção quando: • participar das decisões tomadas e contribuir para o bom encaminhamento das questões administrativas; • auxiliar na organização das classes, horários, (da escolha de turmas pelos professores), das atividades complementares (estudo do meio, festas, reuniões), enfim, quando auxiliar na organização técnico-pedagógica do trabalho educativo; • propor assuntos de comum interesse educacional para serem debatidos e concluídos em reuniões; • realizar programações comuns e distribuir responsabilidades pela execução e avaliação das mesmas (CP/OE). 4.2 A Orientação Educacional em relação aos funcionários da escola Cozinheiros, inspetores de alunos, bibliotecários, pessoal de limpeza, secretários, enfim, todos os profissionais que exercem funções auxiliares do processo educativo devem ser considerados educadores, conscientes de sua importante tarefa para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra de maneira saudável e organizada. Para tanto, o Orientador Educacional tem a função de manter um bom clima, entre esses profissionais, trabalhando questões como relacionamento interpessoal, diálogo, respeito, resgate da auto-estima e atribuições para o bom funcionamento da escola, por meio de reuniões sistemáticas, ouvindo críticas e propostas para o trabalho, fornecendo subsídios teórico-práticos. Ao reunir-se com Inspetores de Alunos, por exemplo, é importante discutir sobre o comportamento dos estudantes, evidenciando o que é natural da idade e o que deve ser observado. Pode-se, ainda, orientar o profissional com propostas de trabalho para o desenvolvimento de atividades no recreio ou quando necessitar tomar conta de uma sala de aula, em um possível atraso do professor. 4.3 O professor e o trabalho da Orientação Educacional O Orientador Educacional pode auxiliar o corpo docente quando: • procura evidenciar a realidade socioeconômica em que a escola está inserida e as dimensões psicobiológico- emocionais dos alunos, auxiliando o professor a interpretar e enfrentar as várias manifestações destes, por vezes complexas e contraditórias, ocorridas em sala de aula; • reflete coletivamente sobre formas de avaliar o aluno e as conseqüências da repetência e da evasão escolar; • analisa os rendimentos dos alunos e tarefas educativas conjuntas, que levem ao alcance de objetivos comuns tais como: estudos de recuperação, atividades complementares às aulas, tarefas relacionadas à orientação vocacional; • coordena estudos sobre problemas de natureza pedagógica, tais como: disciplina escolar, organização de classe juntamente com o administrativo, relacionamento com os alunos e dos alunos entre si e desenvolvimento infantil e do adolescente; • examina as queixas apontadas pelo professor em relação aos alunos, no que se refere a problemas de saúde, comportamento e dificuldades de aprendizagem, orientando o professor a como proceder e, se necessário encaminhando o aluno para diagnóstico e tratamento. Sempre que possível, procura dar devolutiva dos casos encaminhados ao professor; • auxilia o professor na busca de sua identidade profissional e complementação de sua formação humana de uma opção consciente pelo magistério. Com relação ao último item, Vasconcelos (2002, p. 76) afirma que muitos professores buscam o magistério pela baixa procura dos cursos de formação e disponibilidade de postos de trabalho para professores, o que considera seríssimo, já que a profissão exige da pessoa do professor, um trabalho formativo constante e uma escolha profissional comprometida com o contexto social e humano do educando. 4.4 Orientação Escolar e o trabalho com os alunos O aluno é o elemento central do processo educativo e deve ser visto como um sujeito social e concreto, que tem uma história de vida que deve ser levada em consideração pelos membros da escola. É tarefa do Orientador Educacional fazer a mediação entre o aluno e aspectos do processo ensinoaprendizagem, evidenciando aos educadores quem é esse sujeito; preservando seu direito de participar da vida da escola, dentro e fora da sala de aula; construindo sua identidade pessoal e grupal e criando possibilidades de refletir sobre seus valores e os valores culturais vigentes na sociedade. O Orientador Educacional pode, ainda, estimular os alunos ao protagonismo juvenil, organizando a eleição e formação dos representantes de classe e de membros dos grêmios estudantis. Tal aspecto proporciona o exercício da prática da cidadania e liderança pelos alunos. Deve propiciar, também, a integração de alunos novos, em cooperação com grêmio estudantil e outros participantes. Há a possibilidade de um trabalho sistemático com alunos antigos, como uma Associação de exalunos, que pode cooperar para a realização de grupos de estudos entre ex-alunos e alunos mais novos ou, ainda, a promoção de palestras sobre diversos assuntos de interesse dos alunos. A Orientação Vocacional ou Profissional, como já sabemos, é um dos campos clássicos do trabalho da Orientação Educacional. Contudo, tratar desse assunto hoje, na escola, significa imbuirse de uma dose de esperança, mostrando a importância de estabelecer novos valores como a solidariedade, justiça, liberdade e paz, para além da competição e do individualismo. Significa, ainda, ajudar nossos alunos a se conhecerem, a entenderem estas circunstâncias históricas complicadíssimas em que estão envolvidos, a acompanharem o movimento das profissões e a se capacitarem para encontrar alternativas dignas de sobrevivência (portanto, sem abrirem mão do compromisso com este horizonte mais geral de mudança) (Vasconcelos, 2006, p. 79). Para isso, o Orientador Educacional pode lançar mão de grupos de orientação coletiva que podem ser formados espontaneamente, ou de sessão coletivas em classe, caso haja possibilidade, dentro do horário de aula. O Orientador Educacional atua, ainda, no sentido de possibilitar o encaminhamento, o diagnóstico e o tratamento de alunos com algumas necessidades educativas especiais, desde um problema simples de visão ou audição, dificuldades de aprendizagem até problemas neurológicos e psiquiátricos. Nesta perspectiva, o Orientador Educacional atua junto ao professor, observando o aluno, solicitando relatório do educador, entrevistando os pais ou responsáveis e buscando informações que possam auxiliar o trabalho pedagógico em sala de aula. Infelizmente, em quase todos os municípios, há poucos serviços de saúde gratuitos que realizam o diagnóstico e o tratamento desses alunos gratuitamente. Este é um dos principais aspectos conflituosos do trabalho do Orientador Educacional, relacionado, também, à questão do preconceito e da inclusão. Outra questão que merece destaque é que existem profissionais que confundem essa atribuição do Orientador e as próprias limitações em trabalhar com problemas exclusivamente educacionais, que não fazem parte da dimensão da saúde. Estes educadores encaminham todo e qualquer aluno com dificuldade ao serviço de Orientação Educacional, gerando desgaste para alunos, familiares e para o próprio Orientador Educacional. Vasconcelos (2002, p. 80) denomina tal prática de “síndrome de encaminhamento”, ou seja, mandase o aluno para que “se dê um jeito”, por conseguinte, provoca-se a “síndrome do chamamento” convocando os pais ou responsáveis para comunicar que o filho “tem ou é um problema”. Esse fato remete-nos a outro problema bem comum na escola: o da indisciplina. Não é incomum ouvirmos relatos de professores declarando que os alunos de hoje não são como os de antigamente e que, atualmente, a desestrutura familiar gera sujeitos que têm dificuldades em aceitar limites, são desrespeitosos, dispersivos e têm comportamentos agressivos. Essas situações, na opinião dos professores, os impedem de ministrar uma boa aula, pois muitas vezes, precisam trabalhar outros conteúdos como questões relacionadas a valores e saúde. Mas, será que esse é o verdadeiro ou único motivo da indisciplina na escola? Como explicar tal problemática? O fato é que a sociedade mudou e a escola mudou também ao abrir-se para a escolarização dos filhos das camadas populares. Contudo, guardamos uma herança pedagógica alheia aos dias atuais, tratando o aluno, no que se refere aos condicionantes sociais e históricos e aos aspectos psicológicos como se fossem iguais e tivessem as mesmas oportunidades dos alunos das classes mais favorecidas. Dessa forma, a indisciplina é um sintoma da inadequação do aluno real à escola idealizada, gerando a confrontação do novo sujeito histórico a velhos modelos autoritários, elitistas e conservadores de ensino. Se, por um lado, o autoritarismo, as arbitrariedades e os preconceitos provocam mais revolta e violência por parte do aluno, por outro lado, a complacência, o paternalismo e o protecionismo não auxiliam o aluno no desenvolvimento de atitudes de reflexão e autonomia moral1. Assim, tais situações de conflito só serão resolvidas se forem enfrentadas sem culpabilizar os elementos envolvidos ou tratar o caso como um problema isolado. Enfrentar o conflito significa dialogar sobre o ocorrido, tentando evidenciar as questões que o provocaram e restabelecendo os vínculos e relações quase sempre rompidos, principalmente no que se refere à relação professor-aluno. Aquino (1999) afirma que tal atitude exige uma postura de construção negociada com relação às estratégias de ensino e avaliação. Para isso, o educador deve saber quem é o seu aluno e a realidade em que vive, investindo na construção coletiva das regras do grupo e no constante relembrar das mesmas, bem como, no renovar cotidiano de suas práticas em sala de aula. Nesse enfoque, é importante que o Orientador Educacional mantenha contatos contínuos de natureza informal (visitas à sala de aula e conversas no recreio) com os alunos, possibilitando um relacionamento cordial e levando-os a aceitar naturalmente a sua presença durante as atividades desenvolvidas pelos professores. Além disso, deve auxiliar o professor a procurar formas de estabelecer vínculos de confiança e afetividade com seus alunos, motivando-os às condutas de diálogo e reflexão sobre seu trabalho educativo. Pense e responda: O tipo de relação educador–aluno promovida na escola pode gerar comportamentos inadequados nos alunos? Que atitudes o Orientador Educacional pode tomar com os alunos para minimizar a problemática? Adianta convocar os pais todos os dias para “reclamar” das atitudes do aluno? De acordo com o texto estudado, que outros procedimentos seriam mais eficientes? 1 Autonomia Moral – termo utilizado por Piaget (1978) para se referir ao sujeito que tem a capacidade de autogovernar-se. A autonomia virá da compreensão da reciprocidade e do respeito nas relações entre as pessoas.