Meteorologia Sinóptica Análise e Previsão do Estado do Tempo Departamento de Física da Universidade de Aveiro José Eduardo Carvalho Baptista Nº mec.:33749 Introdução/Objectivos: Como o título indica, neste trabalho irão ser efectuadas análises e previsões do tempo ao longo de uma semana (de 10 a 16 de Maio) para Portugal Continental. Para isso, irão ser utilizados mapas de superfície (obtidos no site do Metoffice), radares de precipitação (site do IM e IM de Espanha), imagens de satélite (site do IM), mapas da altura do geopotencial aos 500hPa (site do IM), radiossondagens (obtidas no software IDV), mapas de espessura e altura de geopotencial aos 500hPa (obtidos com o software IDV) para identificar onde ocorre advecção fria e quente em altitude, e imagens de descargas eléctricas atmosféricas (site do IM). Com todos os dados obtidos, vamos tentar relacioná-los entre si de modo a tentar analisar e explicar qual/quais os estados do tempo que se registaram ao longo dos 7 dias. Pretende-se assim, aplicar os termos e conceitos leccionados nas aulas teóricas e práticas de Meteorologia Sinóptica. Outro dos objectivos deste trabalho é a familiarização com o software IDV, bastante útil para analisar e comparar variados parâmetros meteorológicos. De referir ainda que todas as imagens obtidas se encontram em anexo. Análise/Discussão dos Resultados: Dia 10 de Maio Vamos começar por analisar o estado do tempo às 0h. O radar de precipitação (fig. 5) mostra que à 1h (não consegui obter a imagem às 0h) ocorria precipitação em alguns locais de Portugal Continental (sobretudo no litoral centro) e no interior e sul de Espanha. Olhando para a imagem de satélite, (fig. 3) verifica-se que existe alguma nebulosidade na Península, especialmente no norte de Portugal e Espanha e também no centro/sul de Espanha. Estas nuvens, dada a cor branca na imagem de satélite (obtida em infravermelho) deverão ter os seus topos a uma altitude relativamente elevada. É devido à existência destas nuvens na Península que ocorre precipitação em alguns locais de Portugal e Espanha. Vamos agora olhar para o mapa de superfície (fig. 2), para tentar perceber porque se formou esta nebulosidade na Península. Pode-se constatar que apesar de não existirem frentes na Península, existe uma depressão (1009mb) com duas linhas de instabilidade (a preto) associadas. Repare-se que é nos locais onde estas linhas se localizam (norte da Península e centro/sul de Espanha) que se encontra nebulosidade na imagem de satélite. Conclui-se então que estas linhas de instabilidade são responsáveis pela formação das nuvens e ocorrência de precipitação. O mapa de superfície mostra ainda que um sistema frontal (localizado a cerca de 43ºN e 23ºW) com pressão de 998mb se desloca para a Península, com uma frente quente que se estende até às Ilhas Britânicas e com uma frente fria que se estende para sul. A nebulosidade associada a estas frentes também é bem identificada na imagem de satélite, parecendo que a frente fria (em forma de vírgula) do sistema frontal possa atingir Portugal dentro de algum tempo. Ao analisar agora a fig.1 (altura de geopotencial aos 500hPa) podemos perceber o que se passa à superfície. Verifica-se que sobre a Península se encontra uma zona de divergência e que a oeste desta zona se encontra uma cava. Estas situações (divergência e cava a oeste) fazem com que a pressão à superfície diminua; no primeiro caso porque se ocorre divergência de ar em cima, terá de ocorrer convergência em baixo (por continuidade), no segundo, porque tendo uma cava a oeste significa que temos um máximo de vorticidade no local, o que à superfície favorece a circulação ciclónica. O facto de o vento em altitude não ser muito forte (isolinhas de altitude de 30 em 30m afastadas) faz com que a divergência não seja muito acentuada, o que já não favorece tanto a subida de ar. Tendo em conta tudo isto, podemos perceber porque é que temos uma depressão à superfície (embora fraca) na Península. A figura 1 mostra ainda que a cerca de 40ºN e 25ºW, ou seja acima da depressão de 998mb se encontra uma zona de forte divergência, com ventos mais fortes e com a cava a oeste. Isto explica porque é que na superfície já temos neste caso uma depressão já mais acentuada. Atendendo a que a cava se deve deslocar (por acção dos ventos em altitude) para oeste, será de esperar que nas próximas horas a pressão à superfície sobre a península diminua e que o tempo piore. A fig. 4 permite identificar quais as áreas de advecção quente e fria em altitude. Verifica-se que às 0h, sobre a Península se encontra em altitude (500hPa) uma área de advecção quente. As linhas azuis representam a altura de geopotencial, as vermelhas a espessura. Verifica-se ainda que essa área de advecção quente começa a leste da cava em altitude e se estende até próximo das Ilhas Britânicas. Se sobrepuséssemos esta figura com a fig. 1, constataríamos, como seria de esperar, que a frente quente (um pouco a sul das ilhas britânicas), está “dentro da área” de advecção quente em altitude. Verifica-se ainda que a frente fria, que está a sul da depressão e da cava em altitude aparece antes da área de advecção fria em altitude (que está a oeste da cava em altitude). Quanto à radiossondagem (fig. 8) os índices estudados (de forma aproximada devido à pouco resolução) apontam todos para uma situação de atmosfera estável. De referir que a linha a rosa representa a trajectória da parcela (permite ver se há CAPE ou não), enquanto a linha vermelha representa a temperatura, e a linha verde a temperatura de ponto de orvalho. Os índices analisados foram o CAPE, LI, SSI, ITT e K. De referir que a radiossondagem foi obtida ao meio-dia e não às 0h, como nos outros parâmetros. A razão para esta escolha reside no facto de durante o dia a instabilidade ser maior que durante a noite. As fig. 6 e 7 mostram respectivamente as horas e os locais onde ocorreram descargas eléctricas atmosféricas durante o dia 10. Verifica-se que em todo o país não ocorreram descargas durante todo o dia, o que seria de esperar uma vez que a radiossondagem de Lisboa aponta para situações de estabilidade (nota: sendo impossível obter mais radiossondagens para o resto do país, assume-se que a radiossondagem de Lisboa representa o perfil vertical da atmosfera no País. Esta “aproximação” não deveria ser feita pois uma radiossondagem representa o perfil vertical da atmosfera num ponto e não numa área. No entanto, como não há mais radiossondagens no País, a única forma de saber se temos uma atmosfera estável ou instável é fazer esta aproximação). Pode-se ainda constatar que se registaram algumas descargas eléctricas na Galiza. Estas ocorreram todas entre as 14h e as 17h, altura em que o solo está mais quente e que por isso a instabilidade é maior. Não obtendo radiossondagem para a zona da Galiza será difícil de explicar o que leva a que tenhamos aí uma atmosfera instável. No entanto a fig. 4 mostra que sobre a Corunha passa uma linha de espessura com temperatura inferior do que a linha de espessura que passa em Lisboa. Assim isto significa que aos 500hPa temos ar mais frio sobre a Corunha (cerca de 3ºC) do que sobre Lisboa. Esta situação poderá explicar porque é que na Corunha temos ar mais instável do que em Lisboa (ar mais frio em altitude aumenta a instabilidade). Outra hipótese possível para a instabilidade verificada na Corunha é o facto de a frente fria que às 0h se encontrava no Atlântico ter atingido durante a tarde a zona da Galiza, tendo só durante a noite atingido Portugal. Se a frente fria chegou à Galiza durante a tarde, com o solo quente a atmosfera ficou mais instável, o que pode ter levado à ocorrência das trovoadas registadas. Chegando a frente fria a Lisboa de noite, como o solo está mais frio a instabilidade seria muito menor. Dia 11 de Maio A imagem de radar (fig.13) às 0h mostra que ocorre precipitação em quase todo o país (excepto no interior sul). Olhando para a imagem de satélite (fig.11) vê-se que existe nebulosidade em praticamente todo o País e no noroeste de Espanha. Mais uma vez a cor branca das nuvens sugere que o topo destas está a uma altitude relativamente elevada. É a presença destas nuvens que é responsável pela precipitação verificada em quase todo o país. Olhando para o mapa de superfície (fig. 10) constata-se que esta nebulosidade aparece devido à presença de uma frente fria que se encontra a entrar na Península. Sendo que estas frentes normalmente são associadas a tempo instável; e sendo que na imagem de satélite as nuvens têm cor branca, conclui-se que estas nuvens terão algum desenvolvimento vertical. Como tínhamos previsto no dia anterior, a pressão na Península diminuiu ligeiramente (em altitude encontrava-se uma zona de divergência), sendo que a frente fria que se encontrava a oeste da Península no dia anterior, está agora a entrar na mesma, como também tínhamos previsto (isto porque os sistemas frontais se deslocam para leste nestas latitudes). No centro da depressão a pressão atmosférica aumentou de 998 para 1003mb. Olhemos para a altura de geopotencial (fig. 9) para percebermos porque é que isto acontece. Se comparamos a fig. 9 com a fig. 8, vê-se que por cima da baixa pressão à superfície (cerca de 42ºN e 15ºW), se encontra agora uma cava, quando no dia anterior se encontrava uma zona de divergência. Nesta situação, deixa de ocorrer divergência em altitude, o que faz com que a pressão à superfície comece a aumentar. Daí que o centro da depressão tenha agora uma pressão maior que no dia anterior. A zona de divergência em altitude, onde a velocidade do vento é também maior, está agora sobre a Península, o que explica porque é que aqui a pressão atmosférica à superfície diminuiu ligeiramente de dia 10 para dia 11. Analisando agora a fig. 12 constata-se que acima da Península se encontra uma área de advecção quente, sendo que a área de advecção fria ainda se encontra no Atlântico mas já mais próxima da Península. A frente fria, estando a chegar a Portugal, está como seria de esperar antes da área de adevcção fria. De referir ainda que se a área de advecção fria atingir a Península durante a tarde do dia de 11, a atmosfera ficará mais instável, devido a termos ar quente no solo e ar mais frio em altitude. Olhando para a radiossondagem (fig. 16) verificou-se que todos os índices analisados (CAPE, ITT, LI, K e SSI) apontam para uma situação de alguma instabilidade, favorável à ocorrência de alguns aguaceiros e pequena possibilidade de ocorrência de trovoadas. Esta situação acontece porque após a passagem da frente fria, ar frio é introduzido em zonas onde a superfície da Terra estava quente (devido ao aquecimento nos dias anteriores), o que conduz a uma situação de instabilidade. As fig. 14 e 15 mostram, como já era esperado através da análise da radiossondagem, que se registaram algumas descargas eléctricas em Portugal Continental e em Espanha. Mais uma vez, estas descargas ocorreram durante a tarde (entre as 12h e as 16h), altura do dia em que devido ao aquecimento da superfície do solo, a atmosfera fica mais instável. Para esta situação de instabilidade deve também ter contribuído a entrada na Península da área de advecção fria em altitude mencionada no parágrafo anterior. Dia 12 de Maio A imagem de radar (fig. 21) mostra que às 0h poucos eram os locais do país onde ocorria precipitação, sendo que esta ocorria essencialmente no centro/norte de Portugal. No sul praticamente não se regista precipitação. Analisando a imagem de satélite à mesma hora (fig. 19) constata-se que existe ainda alguma nebulosidade no centro e norte do país, sendo por isso que é nestas zonas de Portugal que se regista ainda alguma precipitação. Verifica-se igualmente que neste caso, as nuvens em questão apresentam um tom mais acinzentado, o que indica que os seus topos estão já a altitudes mais baixas (devem ser nuvens médias, pois o cinzento não é muito escuro). Recorrendo ao mapa de pressão à superfície (fig. 18) verifica-se que existe uma frente oclusa que se encontra a entrar na Península. Esta frente está associada ao centro de baixa pressão que agora se situa a norte de Espanha e tem uma pressão mínima de 1007mb. É esta frente oclusa que é responsável pela nebulosidade e alguma precipitação registadas no país. Verificamos ainda que no oceano Atlântico se encontra um sistema frontal com frentes oclusa, fria e quente, cujo seu centro tem pressão mínima de 980mb, e está situado a cerca de 55ºN e 40ºW. Este sistema frontal deve deslocar-se para leste e poderá atingir a Península dentro de algum tempo. Mas voltemo-nos agora a centrar no centro de baixas pressões cuja pressão é agora de 1007mb (cerca de 48ºN e 8ºW). Há dois dias este centro apresentava pressão mínima de 998mb, no dia anterior de 1003mb e agora uma pressão de 1007mb. Por outras palavras, a pressão no seu centro continua a aumentar. Olhando para a altura de geopotencial aos 500hPa (fig. 17) volta-se a ver que se encontra uma cava a cerca de 50ºN e 10ºW, ou seja, a cava em altitude continua a estar por cima da baixa pressão à superfície. Assim sendo, sem divergência em altitude, a pressão à superfície continua a aumentar. Sobre a Península vê-se que está uma cava a oeste, o que favorece a diminuição de pressão à superfície. No entanto, as isolinhas estão relativamente afastadas e paralelas, ou seja, a velocidade de vento é baixa e praticamente não ocorre divergência. Assim sendo, tendo em conta a acção conjunta destes factores vê-se que a pressão atmosférica na Península praticamente não variou de dia 11 para dia 12. A fig. 20 ilustra que a Península está já numa área de adevcção fria, embora no centro e sul da Península essa adevcção fria seja quase nula pois as linhas de geopotencial e espessura são praticamente paralelas. A zona onde a adevcção fria é máxima encontra-se ainda a oeste de Portugal. Analisando agora a radiossondagem (fig. 23), constata-se que a atmosfera está muito instável desde o solo até cerca de 850hPa. No entanto acima deste nível de pressão, a atmosfera está mais estável. Esta situação favorece a formação de nuvens do tipo cúmulo, mas como nas camadas médias da atmosfera o ar está mais estável, estas nuvens nunca crescerão muito em altitude. Ao analisar os índices de estabilidade para este dia, verificou-se que o LI, CAPE e K, apontavam para uma atmosfera estável, enquanto que o ITT e o SSI apontavam para possibilidade de alguns aguaceiros. A superfície terrestre, pelo facto de no dia anterior ter passado uma frente fria, está agora mais fria (o que estabiliza a atmosfera). No entanto, pelo facto de ocorrer (embora ligeira) advecção fria em altitude, também aí o ar está ligeiramente mais frio que no dia anterior, o que ajudará destabilizar a atmosfera. Daí que talvez seja este o motivo para o qual dois dos índices ainda apontam para alguma instabilidade. De resto, a fig. 22 ilustra que não ocorreram descargas eléctricas durante todo o dia. Conclui-se então que, apesar de ainda existir pequena instabilidade, responsável por alguma precipitação sob a forma de aguaceiros, essa instabilidade não foi suficiente para provocar trovoadas durante todo o dia. Dia 13 de Maio O radar de precipitação (fig. 28) mostra que praticamente não ocorria precipitação às 0h do dia 13. Apenas se registam alguns locais onde ocorria precipitação no oceano Atlântico, embora sejam próximos da costa. A imagem de satélite da fig. 25 mostra que sobre Portugal praticamente não existe nebulosidade, daí que também no País praticamente não se registe precipitação. Mais a oeste, já sobre o oceano encontram-se alguma nebulosidade de baixa altitude, uma vez que as nuvens possuem cor cinzenta. Estas nuvens é que parecem ser as responsáveis pela precipitação identificada no radar ao largo da costa. Pode-se ainda ver que ainda mais a oeste no oceano Atlântico, existe uma faixa de nuvens que se estende até perto da Gronelândia. Esta faixa de nuvens aparece devido à existência de um sistema frontal com centro na Gronelândia de 985mb (ver fig. 26), com frente oclusa, fria e quente que se estendem para sul. Este sistema foi já identificado no dia anterior e continua a deslocar-se para leste em direcção à Península. Verifica-se ainda que junto à Península, a oeste, se encontra ainda uma frente oclusa, que parece estar em fase de dissipação (pois já não está associada a um centro de baixas pressões). Esta frente parece ser “um resto” do sistema frontal que acompanhámos até ao dia de ontem e que já parece ter dissipado a norte da Península. É esta frente oclusa é responsável pelas nuvens e precipitação acima referidas. Analisando a altura de geopotencial aos 500hPa (fig. 24) verifica-se que uma cava se encontra sobre Portugal, o que significa que nas próximas horas a pressão na superfície do País deve aumentar durante algum tempo. No entanto, no oceano Atlântico a cerca de 50ºN e entre as longitudes de 15 e 20ºW encontra-se uma zona de alguma divergência, com vento relativamente forte e com outra cava a oeste, isto é, por cima do sistema frontal que se encontra no oceano Atlântico. Isto privilegia a diminuição da pressão à superfície nessa zona do Atlântico. Ainda assim, na Gronelândia encontra-se uma cava, o que faz com que aí a pressão à superfície aumente, o que realmente se verificou, pois no centro do ciclone a pressão era de 980mb no dia 12, sendo agora de 985mb. De referir ainda que sobre o leste da Península se encontra uma zona com uma cava a oeste, vento fraco e pouca divergência, tal como no dia 12. Como consequência, no leste da Península a pressão diminuiu ligeiramente, formando-se um novo sistema frontal com frentes quente e fria associadas e pressão no centro de 1010mb (depressão fraca visível na fig. 26). A fig. 27 ilustra que se encontra a entrar em Portugal uma área de advecção quente, sendo que no leste da Península as linhas de geopotencial e de espessura estão quase sempre paralelas o que significa que praticamente não ocorre advecção (atmosfera quase barotrópica). A aproximação da área de advecção quente aos 500hPa, que deverá chegar a Portugal nas horas seguintes deste dia, irá contribuir para estabilizar mais a atmosfera. De resto, esse facto pode ser constatado através da análise da radiossondagem da fig. 30, onde todos os índices anteriormente analisados apontam para situações de estabilidade. De referir ainda, que olhando para a radiossondagem se constata que até cerca de 850hPa voltamos a ter uma atmosfera instável, devido ao aquecimento diurno. Como o CCL parece estar abaixo do LCL, existe forte possibilidade de se formarem alguns cúmulos durante o dia. No entanto, estes nunca crescerão muito em altitude pois as camadas mais estáveis acima inibem o seu desenvolvimento vertical. A ausência de descargas eléctricas atmosféricas ilustrada na fig. 29 é consequência da estabilidade atmosférica acima discutida. Dia 14 de Maio O radar da fig. 35 mostra que existem alguns locais (essencialmente no litoral centro) onde se regista precipitação. A imagem de satélite (fig.32) mostra que existe alguma nebulosidade no País, que mais uma vez parece ser de altitude relativamente baixa, dada a cor acinzentada das nuvens. São então estas nuvens que causam a precipitação nos locais mencionados. Esta nebulosidade está associada, como se pode comprovar através do mapa de superfície da fig. 33, à passagem de uma frente oclusa. Como também se tinha previsto, a frente associada ao sistema frontal que se tinha já identificado e seguido desde dia 12, atingiu a Península, causando precipitação. A imagem de satélite mostra agora que está a aparecer um anticiclone a oeste da Península, o que significa que o tempo terá tendência para melhorar nas próximas horas. Analisando a altura de geopotencial aos 500hPa na fig. 31, constata-se que na zona de Portugal está agora outra cava, parecendo que a cava identificada no dia anterior está agora no sul de Espanha. A oeste de Portugal encontra-se uma crista (no centro do oceano Atlântico). É a presença desta crista que promove aumento de vorticidade anticiclónica a leste da mesma (na superfície), o que faz com que a pressão aumente à superfície, e que se tenha formado o anticiclone que se identificou a oeste de Portugal no mapa de superfície (a cerca de 42ºN e 25ºW). Verifica-se ainda que sobre o sul da Gronelândia se mantém uma cava, cava esta que é responsável pela subida da pressão no centro da depressão analisada nos últimos dois dias. A pressão no centro à superfície é agora de 997mb, enquanto nos últimos dias era de 985 e 980mb. De referir ainda que acima da zona oeste das ilhas Britânicas se encontra uma zona de divergência com cava a oeste (embora com vento fraco). Esta zona fez então a pressão diminuir ligeiramente à superfície, tendo se formado outro centro de baixas (com pressão mínima de 1007mb) pressões associado à frente oclusa que passa por Portugal (comparar figs. 31 e 33). A fig. 34 mostra que está agora a aproximar-se de Portugal uma zona de advecção fria, que está, como seria de esperar “atrás” da frente oclusa na superfície. Essa área de advecção fria poderá destabilizar a atmosfera se a esta se encontrar quente junto à superfície. Vamos analisar a radiossondagem (fig. 37) para este dia. Ao meio-dia de dia 14, todos os índices da radiossondagem apontavam para uma atmosfera bastante estável. A esta hora do dia, a área de advecção fria pode ter ou não já chegado a Portugal. Caso já tenha chegado, seria de esperar que a atmosfera estivesse mais instável, o que não se verifica. As principais razões pelas quais temos uma atmosfera estável prendem-se com o facto de ao meio-dia, o país estar já sob o efeito de uma situação anticiclónica (a frente oclusa já passou). Esta situação provoca subsidiência de ar, o que por sua vez leva ao arrefecimento do ar na média/baixa troposfera. Consequentemente, esta situação estabiliza a atmosfera. De referir ainda que a 700hPa a quantidade de vapor de água presente é muito baixa, o que dificulta ainda mais a formação de nuvens. Ainda assim, volta-se a verificar, tal como no dia anterior, que desde o solo até cerca de 850hPa a atmosfera está muito instável. Esta situação é mais uma vez provocada pelo aquecimento diurno do solo, e como o CCL está ligeiramente abaixo do LLC, volta a existir forte possibilidade de se formarem nuvens do tipo cúmulo. No entanto, como a atmosfera está muito estável acima dos 850 hPa, estas nuvens nunca se irão desenvolver muito em altitude. A imagem das descargas eléctricas atmosféricas (fig. 36) ilustra também a estabilidade atmosférica, uma vez que não se regista trovoada em todo o país. Dia 15 de Maio A imagem de radar da fig. 42 mostra que às 0h não ocorria precipitação em todo o país. Olhando para a imagem de satélite (fig. 39), verifica-se que praticamente não existe nebulosidade no país. Existe alguma nebulosidade baixa na Galiza e a oeste do norte de Portugal no oceano. Analisando o mapa de superfície da fig. 40, pode-se constatar que se encontra um anticiclone a sudoeste da Península. É este anticiclone que é responsável pela pouca nebulosidade no país. No oceano, em situação anticiclónica, podem no entanto formar-se algumas nuvens baixas, pelo facto de existir uma fonte de vapor de água na superfície (oceano). Talvez seja este o motivo que explica a presença de algumas nuvens baixas a oeste de Portugal. A nebulosidade identificada na Galiza e a norte da Península deverá ainda ser provocada pela frente oclusa que se encontra a entrar nas ilhas Britânicas. O mapa de superfície mostra ainda que se encontra também no oceano Atlântico um sistema frontal com pressão no seu centro de 1005mb. Este centro dirige-se para leste e poderá atingir a Península dentro de algumas horas, voltando a trazer mau tempo. Ao olhar para a altura de geopotencial aos 500hPa na fig. 38 vemos que se encontra uma crista a oeste de Portugal, e também a oeste do anticiclone que se encontra à superfície. É a presença dessa crista a oeste do anticiclone que explica a presença do anticiclone à superfície (pois introduz vorticidade anticiclónica). Verifica-se igualmente que a cerca de 50ºN e entre 30/40ºW se encontra uma zona de divergência com uma cava a oeste e com vento com alguma intensidade. Esta zona encontra-se aproximadamente acima do sistema frontal (de pressão mínima de 1005mb) identificado no mapa de superfície, explicando então a sua presença. A fig. 41 mostra que sobre o país se encontra ainda uma área de advecção fria, estando no entanto uma área de advecção quente a noroeste de Portugal. Se se comparar o sistema frontal com pressão mínima de 1005mb que se encontra no Atlântico com as zonas de advecção quente e fria da fig. 41, verifica-se mais uma vez que a frente quente segue a área de advecção quente e a frente fria precede uma área de advecção fria (ver a cerca de 50ºN e 20/25ºW na fig.41). Ao analisar agora a radiossondagem (fig.43) constata-se que temos um caso muito idêntico ao de dia 14. Todos os índices indicam forte estabilidade (apesar de ocorrer advecção fria em altitude) pelo facto de o país estar sob situação anticiclónica, que como já referido, provoca subsidiência de ar e consequente estabilização da atmosfera. Volta-se a registar, agora a 850hPa, um valor de humidade relativa baixo, o que dificulta a formação de nuvens a partir dessa altitude. Volta-se a verificar uma atmosfera muito instável junto à superfície (até cerca de 900hPa) devido ao aquecimento diurno. No entanto, pelo facto de termos menos humidade à superfície, o CCL já se encontra acima do LLC, ao contrário do que se verificou nos dias anteriores. Assim já não há condições para a formação de nuvens do tipo cúmulo. Uma vez mais, como se vê na fig. 44 não se registaram descargas eléctricas atmosféricas, pelo facto de a atmosfera se encontrar muito estável. Dia 16 de Maio Começando agora por analisar a imagem de satélite (fig. 46), vemos que praticamente toda a Península apresenta céu limpo. Apenas a Galiza apresenta nebulosidade, que parece ser relativamente baixa dada a cor acinzentada das nuvens. Olhando agora para o radar (fig. 49) vemos que este detecta precipitação em locais como no interior centro de Portugal, a sul do Algarve e no sul de Espanha. No entanto, como se constatou na imagem de satélite, estes locais não apresentavam nebulosidade, pelo que se pode concluir que o radar pode não estar a funcionar bem, ou que, por outra lado, pode ter detectado algo que possa ser confundido com precipitação (pássaros, ou alguma nuvem baixa a diminuírem a sua altitude, etc…). A fig. 50 é o radar utilizado pelo IM de Espanha às 0h de dia 16. Como se vê, apenas se detecta precipitação na Galiza e a norte de Espanha, não se registando precipitação no resto da Península. Esta situação já está de acordo com a imagem de satélite. Conclui-se então que o radar do IM de Portugal poderá mesmo não estar a funcionar bem. Analisando agora o mapa de superfície (fig. 47) verifica-se que uma frente fria se encontra a entrar na Península através da Galiza. É esta frente que é responsável pelas nuvens que aparecem na imagem de satélite e originam precipitação na Galiza. Normalmente as frentes frias são associadas a instabilidade e consequente aparecimento de nuvens com desenvolvimento vertical. Estas nuvens possuem cor branca nas imagens de satélite. No entanto, como já foi referido, a nebulosidade detectada na imagem de satélite apresenta cor cinzenta, o que significa que as nuvens não estão a altitude elevada. Assim, pode-se afirmar que temos uma frente fria com pouca instabilidade, pois as nuvens não se desenvolvem até altitudes muito elevadas. Isto acontece, pois o contraste de temperaturas antes e após a passagem da frente não deve ser muito pronunciado, o que leva a que o ar suba pouco e não esteja tão instável. Isto significa que esta frente poderá estar a iniciar uma fase de dissipação. Ainda analisando o mapa de superfície, verifica-se que o centro de baixas pressões que no dia anterior se encontrava a cerca de 50ºN e 23ºW com pressão mínima de 1005mb, se encontra agora a sudoeste e muito próximo das ilhas Britânicas. Vê-se igualmente que a pressão no seu centro diminuiu para 986mb. Olhando agora para a altura de geopotencial aos 500hPa verifica-se que acima do centro de baixas pressões se encontra uma zona de divergência, com vento forte e com cava a oeste. Com estas condições, a pressão no centro da depressão à superfície decresceu do dia 15 para 16, como já seria de esperar. Sobre a Península, encontra-se uma zona de menor divergência, vento mais fraco e com a cava a oeste. Esta situação fez com que a pressão à superfície diminuísse de dia 15 para 16 na Península (“eliminando” o anticiclone a oeste de Portugal do dia anterior). No entanto, porque a divergência não é tão acentuada e o vento (em altitude) é mais fraco, a pressão à superfície diminui menos do que no caso das ilhas Britânicas. A fig. 48 mostra que uma área de advecção fria se aproxima da Península. Pode-se constatar mais uma vez que a frente quente associada à depressão de 986mb se encontra atrás da área de advecção quente (oeste de França) enquanto a área de advecção fria se encontra atrás da frente fria à superfície (ver figs. 47 e 48). Observando a radiossondagem da fig. 51, e analisando os parâmetros de estabilidade voltou-se a constatar que a atmosfera se encontrava bastante estável, embora menos que nos dias anteriores. Esta ligeira destabilização da atmosfera em relação aos dois dias anteriores, deve ser provocada pela passagem da frente fria. De notar que o solo da Península foi aquecido durante os dias anteriores e que esta já não está sob a influência anticiclónica. Deste modo, já não ocorre a estabilização devido à subsidiência de ar provocada pela presença do anticiclone. Ainda assim, apesar de termos uma atmosfera menos estável devido à passagem da frente fria, não temos uma atmosfera suficientemente instável para que os índices da radiossondagem apontem para uma situação de instabilidade e para ocorrerem trovoadas (mais uma vez não foram detectadas descargas eléctricas para este dia, como se vê na fig. 52). Esta situação pode ser provocada pelo facto de os contrastes de temperatura antes e após a passagem da frente não serem muito grandes, como de resto já foi referido. Como última conclusão podemos ainda afirmar, com base nos mapas de superfície obtidos durante os sete dias, que em todos os dias, excepto no dia 10, Portugal foi afectado por massas de ar marítimo polar. Isto porque o ar que entrava no nosso país provinha do oceano Atlântico, mais concretamente, de noroeste de Portugal. De facto, ao longo destes dias registaram-se temperaturas relativamente baixas para esta altura do ano, sendo as máximas inferiores a 20ºC e as mínimas rondando os 10ºC, chegando a rondar os 5ºC nas cidades de Bragança e Guarda (cidades mais frias do País). Devido ao facto de esta massa de ar ser húmida, as amplitudes térmicas foram sempre inferiores a 10ºC, mesmo nos dias de céu limpo. No dia 10, Portugal encontrava-se sob o efeito de uma massa de ar tropical húmida (ar proveniente do Atlântico, de sudoeste do País). Pelo facto de esta massa de ar ser também húmida, as temperaturas máximas registadas não foram muito elevadas. Ainda assim, por ser uma massa de ar quente, este foi o dia em que as temperaturas registadas foram mais elevadas (pouco acima de 20ºC em algumas cidades).