anquiloglossia alterações

Propaganda
CEFAC
CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDILOGIA CLÍNICA
MOTRICIDADE ORAL
ANQUILOGLOSSIA
ALTERAÇÕES
Monografia de conclusão do curso de
especialização em Motricidade Oral
Orientadora: Mirian Goldenberg
DELANO RESENDE GASPAR
FORTALEZA
1999
RESUMO
Este trabalho sobre anquiloglossia tem como objetivos principais um
melhor conhecimento da anatomia e fisiologia da língua com o grupo muscular
mais afetado pela alteração, no caso, os músculos genioglossos. Visa também
caracterizar os diversos conceitos da anomalia do desenvolvimento do órgão
língua, como alterações do tipo:
respiração bucal, podendo ocasionar
desarmonia no crescimento facial entre as partes moles e duras. Um exemplo
evidenciado é o prognatismo mandibular. O estado geral do indivíduo retrata
uma mudança de comportamento, com possível retardo de linguagem e difícil
sociabilidade. Por fim, pretende-se analisar os procedimentos cirúrgicos para a
liberação do freio lingual curto e acompanhamento fonoaudiológico dentro da
motricidade oral.
Esta é uma pesquisa bibliográfica cujos tópicos em reeducação para
cada fonema são especificados.
Aprimorar as funções estomatognáticas,
princípios de higienização bucal, crescimento ósseo, seqüelas de periodontite e
apoio psicológico são evidenciados por tamanha importância que a alteração
retrata.
Conclui-se que cada vez mais fica forte a necessidade da integração da
equipe multidisciplinar envolvida no andamento de cada quadro clínico,
favorecendo satisfação por parte do paciente e familiares.
SYNOPSIS
This work about ankyloglossia has as main objectives a better
understanding of the anatomy and physiology of the tongue with the muscular
group more afected by the alteration, in this case, the genioglosso muscles.
The intention is also to characterize the various definitions of the anomaly
development of the tongue organ, in alterations like: buccal breathing, that may
cause disharmony in facial growing among the rigid and not rigid parts. An
evidenced example is the mandibular prognathism. The general state of the
person reflects a change of the behavior , with a possible language retard and a
difficult sociability. Finnaly it is intended to analyse the surgical procedure for
the liberation of the short lingual frenum and phonoaudiological attendance in
the oral motricity.
This is a bibliographic survey which topics in reeducation for each
phoneme are specified. Perfecting the articulatory functions, buccal hygienics
principles, bony growing, periodontal consequences and psycological help are
evidenced for the great importance that the alteration reflects.
It is concluded that even more it is strong the necessity of integration of
the multidisciplinar group involved in progression of each clinic state, facilitating
satisfaction from the patient and relatives.
“Obrigado, mãe, porque no teu
ventre
forjaste-me
e,
ao
comprometer-te com risco de
perder a tua vida, deste-me a
oportunidade de viver.”
MIGUEL ÁNGEL CORNEJO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.........................................................................................
1
DISCUSSÃO TEÓRICA
•
ANATOMIA E FISIOLOGIA DA LÍNGUA............................................
3
•
CONCEITOS DE ANQUILOGLOSSIA...............................................
4
•
ALTERAÇÕES MAIS FREQÜENTES................................................
4
•
PRINCÍPIOS DE HIGIENIZAÇÃO BUCAL.........................................
6
•
TRATAMENTO CIRÚRGICO.............................................................
10
•
TRATAMENTO FONOAUDIOLÓGICO..............................................
11
CONCLUSÃO..........................................................................................
20
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................
21
INTRODUÇÃO
A linguagem humana se desenvolve desde a vida intra-uterina, pois
trabalhos realizados por estudiosos da comunicação humana demonstram a
capacidade do feto perceber todo o afeto e condições ambientais que o âmbito
familiar oferece em seu crescimento.
Todavia, as condições orgânico-
funcionais, quando não bem estabelecidas, desencadeiam uma série de
distúrbios, nos quais toda uma seqüência de aprendizado e a interação entre a
espécie, que talvez seja primordial, leve a uma desorganização no campo
emocional e muitas vezes uma não aceitação perante a sociedade, que a cada
dia nos exige a competência da competitividade e o destaque naquilo que nos
sustenta e edifica o nosso interior.
A compreensão fisiopatológica de qualquer alteração nos permite uma
visão mais límpida já que um referencial clínico minuciado favorece à equipe
multidisciplinar no desempenho para melhor adaptação ou reabilitação do caso
em estudo.
Com a anquiloglossia não haveria de ser diferente!
A tentativa de
esclarecer um pouco sobre esta pequena anomalia do desenvolvimento da
língua, dá um conhecimento preciso aos profissionais que atuam dentro do
comportamento e desenvolvimento da criança, desde suas etapas mais tenras.
Apesar desta pequena anomalia da língua não ser tão freqüente, percebi
a necessidade de esclarecimentos mais detalhados sobre o trabalho realizado
de profissionais, sobre uma melhor estética na produção da comunicação
humana. Entretanto, os familiares não se sentem seguros ao ver seus filhos
com tal dificuldade, até mesmo para a simples função de mastigação.
Vale salientar que este trabalho não se detém apenas na busca de um
conhecimento puramente científico, e sim em dar uma contribuição para a
Fonoaudiologia e para todas as áreas que se interessam em proporcionar
melhores condições de vida para indivíduos portadores de freio lingual
demasiadamente encurtado.
DISCUSSÃO TEÓRICA
A língua, órgão muscular no assoalho da boca, tem origem do latim
lingua e do grego glossa, presa por músculos ao osso hióide, à mandíbula, ao
processo estilóide e à faringe, é de suma importância para a sensação na
degustação, mastigação, processos fisiológicos para deglutição e linguagem
verbalizada.
Apresenta-se
dividida
externamente
em
ápice
(ponta)
tocando
rotineiramente nos incisos, borda, que é a parte que encosta com as gengivas
e os dentes, enquanto o dorso é a porção central mais volumosa abordando
cavidade bucal e orofaringe. A superfície inferior da língua encontra-se presa
ao assoalho da boca por uma prega mediana de membrana mucosa, o frênulo
da língua. A raiz é a parte que repousa sobre o soalho da boca.
A musculatura lingual se divide em grupos de músculos intrínsecos, que
são responsáveis pelo formato da língua, e extrínsecos, dando movimentação
e sustentação. Os músculos genioglossos são músculos em forma de leque,
que constituem o corpo da parte posterior da língua, é principalmente um
depressor, sua parte posterior traciona a língua para frente. Logo, a inserção
dos genioglossos na mandíbula evita que a língua caia para trás e obstrua a
2
respiração, relatam GARDNER E COLABORADORES (1978). Para ISSLER
(1987) esses músculos têm função de elevar a língua, abaixar sua porção
mediana, trazendo-a para trás, e movimentação da ponta para cima ou para
baixo. MYSAK (1988) menciona este grupo muscular, quando fibrosado, dá
uma condição de freio lingual curto e grosso.
Anquiloglossia, anciloglocia, glossopexia ou até mesmo língua presa são
apenas algumas nomenclaturas que dizem respeito ao freio lingual encurtado.
GUEDES-PINTO (1995) traduz como aparecimento de freio lingual curto
ou inserido muito próximo à ponta da língua, de aspecto fibroso ou mesmo
muscular, conferindo uma sensação de língua presa.
Menciona TOMMASI
(1989) ser de forma total quando ocorre a fusão da língua com o assoalho da
boca, considerada de forma rara. Para ZEGARELLI E COLABORADORES
(1982), o tipo mais comumente encontrado é a forma parcial (língua de
gravata), quando devida a uma inserção muito alta do freio da língua, próximo
à ponta ou ao um freio por demais curto. No primeiro caso, a necessidade de
intervenção cirúrgica é óbvia, enquanto no segundo, quando os pacientes
desenvolvem alguma dificuldade na fala, a desinserção cirúrgica é indicada, a
frenectomia.
Inúmeras alterações são encontradas por conta de um freio lingual curto,
principalmente no que diz respeito às funções estomatognáticas:
sucção,
mastigação , deglutição e até mesmo a respiração. Pelo fato da língua se
posicionar na mandíbula, com seu peso, um possível prognatismo dessa região
dificulta a oclusão labial, como também uma articulação precisa. Os fonemas
/n/, /l/, /t/ e /d/ são articulados com a ponta da língua atrás dos dentes inferiores
e a parte medial fazendo contato com as papilas. Já os fonemas /f/ e /v/ são
3
pronunciados com o lábio superior e incisivos inferiores, como classifica
MARCHESAN (1993).
Prevalecendo este crescimento facial alterado e
estando os incisivos inferiores vestibularizados em relação aos superiores,
favorecerá a uma mordida cruzada anterior. O lábio inferior está bem mais à
frente que o superior, podendo o lábio superior estar apoiado nos incisivos
inferiores, relata BIANCHINI (1995). Na biprotusão dos incisivos e na mordida
aberta anterior ocorre uma dificuldade no vedamento labial ou hiperfunção do
músculo mentoniano, auxiliando o lábio inferior a alcançar seu antagonista.
Devido à protusão dentária, o lábio inferior passa a ser hipotônico e o superior
pode retrair-se.
A mordida aberta anterior sempre está relacionada a algum tipo de
hábito inadequado, já que grande parte dessa alteração de arcada é
ocasionada por sucção de língua, chupeta, de polegar e/ou postura anormal da
língua. MOYERS (1991) afirma que a erupção imperfeita dos dentes inferiores
resulta em mordida aberta anterior e a anquiloglossia também favorece essa
situação.
Havendo observação precoce, tanto a frenectomia como
aparelhagens fixas podem ser usadas para mover os incisivos, bem como para
corrigir os sobrepasses vertical e horizontal. Aparelhagens funcionais como
ativador, bionator e aparelho de Frankel são especialmente usadas na dentição
mista.
Doenças periodontais são freqüentes em crianças com alteração de freio
lingual.
Estudos epidemiológicos, conforme mostra ARMITAGE (1993),
demonstram que 80 a 90% de crianças até 15 anos exibem doença periodontal
inflamatória crônica. Entretanto não são comuns formas avançadas da doença.
A forma mais citada é a gengivite marginal, uma forma branda, sem
4
conseqüências imediatas, uma vez que é indolor e não causa perda da função.
Caso não seja tratada, pode levar a formas mais destrutivas da doença mais
tarde na vida. MARCOS (1980) cita a frenectomia como solução para uma
lesão periodontal mais duradoura, já que anomalias de freios têm relevância na
posição dos dentes em suas arcadas, interferindo para uma higiene bucal
saudável e dinâmica dos dentes. PINDBORG (1994) refere também que uma
má oclusão dentária, especialmente separação dos incisivos inferiores e uma
deformidade na abertura bucal, suscetivelmente pode contribuir a uma lesão
periodontal.
Há necessidade de manter dentes e gengivas sadios! Isso porque as
cáries e as infermidades das gengivas se iniciam com a formação da placa
bacteriana, uma película transparente, esbranquiçada, composta de bactérias e
resíduos alimentares, que adere aos dentes.
Para uma boa saúde bucal,
recomenda-se evitar o uso de açúcares e carboidratos refinados (doce, bala,
bolacha, chocolate, chiclete, refrigerante) nos intervalos das refeições, não
havendo, porém, restrições quanto à ingestão de frutas.
Os meios mais
eficazes de remoção e controle da placa bacteriana são a escovação e o uso
de fio dental. A escovação deve ser feita após as refeições, de duas a três
vezes ao dia com técnicas adequadas. Após o uso, a escova deve ser lavada,
enxugada e guardada em lugar seco e arejado.
Para uma escovação correta e completa, é necessário uma boa escova,
adequada ao tamanho da boca. O início deve ser pelo lado de dentro dos
dentes inferiores, depois os superiores e, em seguida, para o lado de fora. A
angulação da escova sobre os dentes e gengivas é de 45o (quarenta e cinco
graus), com o uso de movimentos vibratórios, para frente e para trás. A
5
superfície dos dentes deve ser varrida na direção vertical, da gengiva para a
borda.
Em relação aos dentes da frente, deve a escova permanecer em
posição vertical, de modo que as cerdas fiquem apoiadas na gengiva e nos
dentes. Para as cúspides, os movimentos com a escova são circulares. É
importante escovar a língua cuidadosamente, já que ela também contém
resíduos alimentares.
Por fim, toda a boca deve ser vigorosamente
enxaguada.
O fio dental serve como auxílio para a higienização bucal.
Os
movimentos com o fio são suaves e em “vai-e-vem” entre os dentes e
gengivas.
FOXEN (1982) estabelece que respiração bucal tem como principal
causa a hipertrofia de adenóide apresentando como resultado: nariz estreito,
incisivos proeminentes, abóbada palatina alta e boca permanentemente aberta,
infecções pulmonares faringianas e sinusite crônica.
O que acontece na
situação da junção da língua com o assoalho da boca é o favorecimento do
hábito inadequado de boca entreaberta.
Sendo assim, a via natural da
respiração nasal entra em desuso. A boca aberta dá condições aos músculos
depressores da mandíbula (supra-hióideos), ocasionando toda a flacidez da
musculatura orofacial. TABITH JR.(1995) contribui afirmando que as causas
mais freqüentes da respiração bucal são: os desvios de septo nasal, o colapso
dos ossos do nariz, a hipertrofia de cornetos e adenóides pois estes são pontos
que determinam a diminuição da permeabilidade nasal. HUNGRIA (1991) diz
ainda que o sintoma revelador da presença de hipertrofia adenoideana é
obstrução nasal permanente que acarreta respiração bucal, estagnação de
exsuderatos catarrais ou purulentos nas fossas nasais e tendência a surtos
6
agudos de otite média.
MOCELLIN (1992) relata que a hipertrofia de
adenóides é causada por obstrução nasal sendo este o grande causador desta
patologia, formando o chamado “fácies” adenoideanas.
HUNGRIA (1991) fala que a criança poderá dormir de boca aberta,
babar no travesseiro e roncar.
Há predisposição para resfriados, tosse
espasmódica, rouquidão e até laringite estridulosa. FERRAZ (1984) mostra a
pesquisa de Leich em 1958 que apresenta características dos respiradores
bucais, tais como, posturas anormais não só corporais como orofaciais,
apresentam também aumento das infecções próprias do aparelho respiratório,
gengiva hipertrófica, a língua com postura anormal deixando de exercer sua
função modeladora do palato com sua tonicidade prejudicada. O olfato está
afetado
e
freqüentemente
acompanhado
conseqüentemente redução do apetite.
pela
diminuição
gustativa,
Apresenta má oxigenação cerebral
ocasionando dificuldade de atenção e concentração, com isso pode ocorrer
déficits
de
aprendizagem.
MARCHESAN
(1993)
relata
possíveis
conseqüências de uma respiração bucal, como alterações de arcada, por uma
mordida aberta anterior, cruzada posterior e palato ogival.
Apresentam
também como traços estéticos alterações no formato do nariz, olheiras,
flacidez, diminuição de tensão de língua, lábios e bochechas hipotônicas,
crescimento de face alterado, dinâmica corporal com incoordenação global,
agitação, insônia, incompetência e crescimento físico diminuído. Problemas de
desempenho físico e escolar também não satisfatórios.
Uma possível situação de atraso na linguagem, por uma não confiança
de sua representação verbal, desencadeia uma forma em que a criança se
sinta retraída, gerando um bloqueio para comunicação dentro do meio social.
7
ZORZI (1993) diz que podendo existir condições ambientais favoráveis, a
criança apresenta algum tipo de dificuldade própria que afeta seu
desenvolvimento.
Bastante comum em alterações neurológicas com graus
diferenciados, dificultando todo o desenvolvimento. É necessário considerar
ainda o desenvolvimento emocional, significa a maneira como a criança está
organizando seu mundo afetivo e as sugestões que isso pode ter à sua
evolução.
As alterações da articulação, segundo CANONGIA (1988), assumem
três formas quais sejam: a omissão, a distorção e a substituição dos sons.
Estas alterações podem ser observadas através de um exame fonético bem
feito, em que o terapeuta não se prenda só aos sons audíveis, mas, ainda, à
observância da zona de articulação dos fonemas, para cientificar-se da
correção dos mesmos.
Freqüentemente são encontradas dificuldades para articulação de
fonemas por restrição dos movimentos de ponta de língua principalmente para
os fonemas linguodentais e alveolares, como afirma WEISS (1980).
Consideram SOARES E ARAÚJO (1995) que o paciente eleva a base da
língua e coloca a ponta atrás dos incisivos inferiores, substituindo o fonema /d/
por /g/.
O que acontece de forma semelhante a troca do /t/ por /k/.
Exemplificando as palavras dado à /gagu/ e tatu à /kaku/.
Observe a
semelhança nas trocas dos fonemas surdos por surdos e sonoros por sonoros.
A omissão do /l/, /n/, /r/ por exigirem movimentação mais fina da língua, são
bem mais freqüentes. Exemplos de palavras como lado à /_agu/; nata à
/_aka/ e prato à /pa_ku/, no caso do /λ/ há omissão por uma falta de elevação
da ponta e alargamento lateral da língua no caso de galho à / ga_u/. Para os
8
labiodentais /f/ e /v/ as trocas são sistemáticas pelo /k/, como em faca e vaca
por /kaka/. O que não acontece nos alveolares /s/, que é substituído por /k/ e o
/Z/ por /g/. Tendo palhaço à /pa_aku/ e azul à /agu/, respectivamente. Os
palatais /ζ/ e /z/ são trocados por /k/ e /g/ nos casos como chave à /kaki/ e
jogo à /gogu/. É importante frisar que os únicos fonemas não alterados são os
bilabiais /p/, /b/, /m/ por serem os mais anteriorizados, sendo que estes não
necessitam da atividade funcional da língua para a fala e que grande parte dos
problemas se lançam para os velares /k/ e /g/ já que estes favorecem a posição
da língua mais posteriorizada.
Como há um desarranjo muscular da língua, impossibilitando do órgão
exercer suas diversas funções, a intervenção cirúrgica, menciona SIH (1988),
nos bebês está indicada apenas quando dificulta a amamentação. Para tal
processo é usada anestesia de absorção, com o uso de anestésico oftálmico a
1%. O gotejamento é despejado no dorso da língua e na região sublingual,
próximo ao primeiro molar decíduo, onde o nervo lingual está mais superficial.
Nos bebês não se usa sutura, a menos que um vaso seja atingido levando à
hemorragia.
Cirurgias em crianças maiores são bem mais freqüentes, principalmente
quando um freio demasiado curto altera na produção da fala, mobilidade da
língua e problemas periodontais. PETERSON (1993) defende a incisão da
inserção do tecido conectivo fibroso da base da língua de modo transversal,
seguida de fechamento numa direção linear a qual libera completamente a
porção anterior da língua.
Uma pinça hemostática por três minutos, que
fornece vasoconstricção, então, uma incisão é feita na área previamente
pinçada. A atenção é redobrada para os vasos sangüíneos na face inferior da
9
língua, região do assoalho da boca e aos ductos da submandibular, os quais
são protegidos durante a incisão e sutura.
KRÜGER (1987) usa uma técnica especial de nome V-Y, utilizada
somente em adultos. O vértice do V se posiciona num setor de inserção da
língua, só que de forma invertido, o V é tracionado para cima, para que o freio
fique tenso e
possa favorecer um corte de tesoura na inserção superior.
Disseca-se a musculatura lingual de suas inserções baixas, liberando o freio de
suas conexões musculares.
Com um gancho fino, puxa-se o vértice do V
invertido para cima, suturando as bordas, resultando em um formato da letra Y
também invertida.
O cirurgião oral toma cuidado especial com a caixa fibrosa, pequena e
tensa, sem deixar excesso de tecido fibrosado. HOWE (1995) considera mais
conveniente passar uma sutura pela ponta da língua.
enquanto
seu
ligamento
abaixo
da
superfície
da
Tensiona-se o freio,
língua
é
dividido
transversalmente e costurado verticalmente. A divisão do freio deve ser de
meia polegada de comprimento para aliviar a tensão. Caso o freno seja muito
próximo
à
ponta,
ele
deve
ser
dividido
verticalmente
e
suturado
horizontalmente. Os pacientes mencionam fala embaraçada por alguns dias,
mas é amenizado após a retirada das suturas.
O trabalho e acompanhamento fonaudiológico para a reabilitação póscirúrgica condiciona ao indivíduo a possibilidade de melhor conforto para a
mastigação e deglutição, uma vez que os próprios pacientes e familiares se
direcionam ao padrão estético da fala, já que a articulação dos fonemas é o
que mais facilmente se observa. Um bom desenvolvimento da motricidade oral
10
favorecerá o estabelecimento de uma nova força muscular orofacial, dando
assim condições satisfatórias para a execução das funções antes alteradas.
O trabalho fonoaudiológico com o respirador bucal, de acordo com
MARCHESAN (1998), deve iniciar-se por várias etapas:
1. Postura corporal
a) usar fisioterapeuta quando há desarmonia entre coluna cervical e
ombros;
b) fazer filmagens quando o paciente está fora do eixo corporal;
2. Restabelecer a respiração nasal
a) ensinar usar o nariz: mostrar como funciona, expirar e aspirar,
explicar sobre secreções, ardor, coceiras e sangramentos;
b) conscientizar o paciente da fisiologia e anatomia do nariz usando
atlas ou livros. Assinalar todas as melhoras, mesmo que sejam
pequenas;
c) usar o espelho de Glatzel, fazendo marcações sistemáticas.
Comparar antes, durante e no final de cada terapia, como
também ao final de cada dois meses;
d) fazer inalação na terapia apenas com água fervida, para facilitar o
desprendimento da secreção no nariz. Logo melhorará a técnica
de assoar o nariz;
e) os medicamentos devem ser utilizados quando necessário,
entretanto, é função do fonoaudiólogo tentar reduzi-los;
f)
melhorar o condicionamento físico através de esportes, aumentar
a auto-confiança, usar o micropore com permissão dos pais e
trabalhar olfato e paladar;
11
g) fazer uso gradualmente de exercícios isométricos para a
musculatura em desuso ou com tônus alterado, usar pequenos
objetos como: pedacinhos de papel, liga ortodôntica para manter
os lábios fechados durante atividades quaisquer que o terapeuta
possa adotar com jogos, desenhos e leitura;
h) treinar a deglutição com a língua em diversas posições e vários
alimentos com texturas diferentes, de acordo com a tipologia
facial e oclusão de cada indivíduo, desde que o paciente se
encontre em um momento agradável.
A manipulação profunda, com estimulação em pontos motores da face,
serve como mecanismo de favorecer um melhor equilíbrio entre as partes
moles e duras da face.
São usadas manobras de aquecimento, soltura e vascularização:
1. deslizar sobre o M. frontal com os dedos das mãos, no sentido
vertical (de cima para baixo);
2. com os dedos indicador e médio, deslizar da ATM (articulação
têmporo-mandibular) em movimentos circulares, passando pelo
“bigode”, comissura labial e queixo, sempre em direção de ida e
volta, com relação à ATM;
3. na testa, com os dedos indicadores de cada mão, apertar um feixe
do M. temporal e fazer movimentos alternados de cima para baixo.
Em seguida, dar beliscões e chacoalhar toda a face de forma
delicada com os dedos polegar e indicador;
12
4. dar batidas com as cerdas da escova em todo o rosto.
Depois
passar no “bigode” de cima para baixo e no queixo de baixo para
cima;
As manobras de vascularização mais utilizadas são:
1. colocar os quatro dedos de cada mão embaixo do queixo, apertando
um pouco, fazendo movimentos com os polegares, do queixo até os
cantos dos olhos.
Em seguida, direcionar os polegares para as
comissuras labiais, fazendo movimentos na horizontal, usando o
feixe muscular do bucinador;
2. com os dedos indicadores e médios, em forma de V, deslizar para
fora também.
Agora nos feixes do M. orbicular dos lábios e do
bucinador;
3. com os quatro dedos de cada mão, apertar levemente abaixo do
queixo, alongando os músculos supra-hioideos.
deglutição e soltar os dedos.
Pedir para fazer
Essa manobra é adequada para
posturar a língua;
4. com os dedos indicador e médio, fazer movimentos rotatórios na
região das têmporas. Deslizar até o ângulo goníaco, daí subir em
movimentos circulares sobre o feixe do M. masseter até o arco
zigomático e voltar em deslizamento até o ângulo goníaco;
5. soltar o cinturão do M. bucinador, relaxar o M. masseter, como
também o feixe do M. orbicular através de dígito-pressão em três
pontos. Em seguida, solta-se a mandíbula, deixando-a fechada.
Manobras de contra-resistência:
13
1. elevar as sobrancelhas e segurar o M. frontal. Deslizar os dedos de
cada mão, fazendo força contrária. Franzir o nariz, não mais fazendo
a resistência. Com os dedos indicadores de cada mão, seguir o feixe
do M. piramidal, que é verticalizado, e depois o M. transverso, que é
inclinado. Daí, ao sair do nariz, seguram-se as narinas para melhor
inspiração e expiração;
2. deslizar com as palmas das mãos sobre as bochechas no sentido de
baixo para cima.
Após a preparação da musculatura facial, os pontos motores da face,
que são zonas de reação, darão uma resposta à contração muscular.
Os
estímulos devem ser com dígito-pressão e movimento circular nas seguintes
regiões de cada hemiface:
1. acima da sobrancelha: o ponto frontal;
2. sobre a sobrancelha: o ponto corrugador do supercílio;
3. no contorno da órbita: o ponto orbicular do olho;
4. no sulco da narina: o ponto nasal;
5. acompanhar o sulco naso-labial: o ponto do arco zigomático;
6. no canto externo dos olhos: o ponto da pálpebra;
7. colocar o dedo indicador no centro do queixo e fazer vibração: o
ponto do mento.
As manobras de língua mais utilizadas são:
1. com a boca aberta e a língua para fora, deslizar com dedos indicador
e médio, em movimento circular, de fora para dentro e de dentro para
fora;
14
2. com o dedo indicador, deslizar látero-lateralmente desde a papila
incisiva até o palato mole;
3. pedir para o paciente afilar a língua e, com os dedos indicador e
médio, fazer deslizamento de trás para frente, com movimentos
rápidos nas bordas da língua;
4. com a língua elevada, usar os dedos indicador e médio, um de cada
lado do freio lingual, de baixo para cima, repetidamente.
É
importante manter a língua elevada todo o tempo;
5. fazer movimentos circulares com o dedo indicador no assoalho da
boca, também com a língua elevada;
6. segurar a ponta da língua com uma gaze, balançando-a, visando ao
relaxamento da musculatura.
Em seguida, pedir para o paciente
empurrar os dedos para fora da boca;
7. com a língua para fora, sendo apoiada por uma espátula, o paciente
deve fazer contra-resistência a este movimento.
Para SOARES E ARAÚJO (1995), a necessidade de reabilitação
específica de cada fonema deve ser frisada de forma precisa, iniciando-se com
os fonemas mais anteriores:
a) /f/ - apoio do lábio inferior nos incisivos superiores
- levar a mão na altura da boca para sentir a corrente de ar
- fonema homorgânico do /v/, não produzir com sonoridade
- evitar pressão exagerada do lábio inferior com incisivos
superiores
b) /v/ - utilizar a analogia: pronúncia do /f/ e /v/, perceber as vibrações
no lábio inferior e laringe
15
- menor corrente de ar com relação ao /f/
c) /s/ - ponta da língua apoia-se atrás do incisivos inferiores; parte
posterior quase toca o palato e suas bordas tocam a arcada superior;
a parte mediana da língua fica ligeiramente sulcada
- levar a mão junto à boca e perceber a passagem de ar entre
dentes e língua
- usar canudo para sulcar melhor a língua, possibilitando o som
característico do /s/
- som homorgânico do /Z/, fazer sem sonoridade
- tentar produzir o som com a língua interposta entre os incisivos
superiores e inferiores
d) /Z/ - pronunciar /s/ e /Z/, percebendo vibrações no queixo e laringe
e) /t/ - levantar a ponta da língua para apoiá-la nos incisivos superiores
- fazer uso de uma vela para perceber a explosão do fluxo aéreo,
apagando a chama de frente à boca
- homorgânico do /d/, emitir sem sonoridade
f) /d/ - observar a vibração da laringe e queixo
- fazer menos pressão da língua contra a arcada dentária
superior; o contato é menor que o /t/
- observar para não emitir o /d/ nasalizado, confundindo-o o /n/
g) /n/ - mesma posição da língua para a emissão do /d/, tocando a parte
posterior dos incisivos superiores, evitando que se transforme em /d/
- pronuncia-se /na/, prolongando o /n/ bem nasalizado e
acoplando com o /a/; percebendo as vibrações laríngeas
- perceber vibrações nas asas do nariz
16
- usar a analogia entre /ma/ e /na/
h) /r/ - fazer uso do vibrador na ponta da língua
- fazer vibração da língua com vogais
- fazer vibração da língua entre os lábios
- treinar os seguintes sons:
•
tra, tra, tra...;
•
trara, trara, trara...;
•
trarara, trarara, trarara...;
•
tra,rara; tra,rara; tra,rara...;
•
t.rara; t.rara; t.rara...;
i) /l/ - mostrar a posição da língua de preferência de frente ao espelho
- perceber as vibrações das pregas vocais
- tomar cuidado para não emitir o /l/ nasalizado
j) /ζ/ - sulco da língua maior que na emissão do /s/
- maior apoio das bochechas para direcionar o fluxo de ar; quando
necessário faz-se uso do apoio dos dedos polegar e indicador/
médio. Caracterizar o som típico do /ζ/ (chuva).
- sentir o fluxo de ar em cada emissão
- perceber diferença do fonema /s/
- homorgânico do /z/ (gelo)
k) /z/ - perceber as vibrações do queixo e laringe; caracterizar o som do
/z/ (jóia)
l) /λ/ - mostrar a posição da língua mais posterior com o palato,
semelhante ao /l/, dando uma pronúncia “molhada”
- percepção da sonoridade nas bochechas e queixo
17
- caracterizar o som típico do /λ/ (malha)
- repetir rapidamente o /li-ê/, originando o som do /λ/
m) /η/ - recorrer à analogia partindo do /λ/, percebendo as vibrações
nasais com auxílio do dedo indicador
- pronunciar o /η/ acrescentado de vogais
- repetir rapidamente o /ni-ê/, originando o som do /η/
n) /R/ - perceber as vibrações laríngeas
- fazer uso do escarro e gargarejar
- prolongar o som do /R/ com vogais
Vale salientar que os exercícios de articulação com cada fonema são
extremamente recomendados para fixação do som, treinando mais ainda o
ponto de articulação de cada fonema. Exemplificando: para o /f/ → fifa; foca; a
fita ficou furada.
CONCLUSÃO
A necessidade faz do homem o único ser vivo capaz e gerar uma
situação qualquer para seu melhor bem-estar.
O diagnóstico precoce continua sendo a chave principal para a
prevenção e tratamento não só de pequenas alterações como também de
enfermidades mais comprometedoras, para isso o bom acompanhamento de
profissionais capacitados deverá ser bem antes do indivíduo exercer suas
funções dentro dos contextos familiar e social.
18
O caso exposto envolveu um conhecimento anátomo-fisiólogico do
órgão língua, tão importante para a nutrição, crescimento e desenvolvimento
do ser, os diversos conceitos do tema em pesquisa, alterações importantes que
levam ao caso em estudo todo um desarranjo estético-facial e aquisição da
linguagem, tratamento cirúrgico e enfoque fonaudiológico para melhor
integração em suas etapas de relacionamento.
Mais uma vez fica clara a importância do estudo em equipe, envolvendo
conhecimentos bem distintos, porém ramificados em uma só direção, uma
melhor qualidade de vida do indivíduo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARMITAGE, G.C. - Bases fisiológicas da terapia periodontal. 2ed. São Paulo,
Santos Edit.,1993.
BIANCHINI, E.M.G. - A Cefalometria nas alterações miofuncionais orais:
Diagnósticos e tratamento fonoaudiológico. 3ed. São Paulo, PróFono,1995.
CANONGIA, M.B. - Manual de terapia da palavra. 4ed. Rio de Janeiro, Rio Med
Livros LTDA.,1988.
FERRAZ, M.C.A. - Manual prático de deglutição atípica e problemas correlatos:
Terapia miofuncional nos tratamentos orofaciais. Rio de Janeiro, Arantes
Edit.,1984.
FOXEN, E.H.M. - Conceitos básicos em otorrinolaringologia. São Paulo,
Organização André Edit.,1982.
19
GARDNER, E.; GRAY, D.J.; O'RAHILLY, R. - Anatomia: Estudo Regional do
corpo. 4ed. Rio de Janeiro, Guanabara/Koogan Edit.,1978
GUEDES - PINTO, A.C. - Odontopediatria. 5ed. São Paulo, Santos Edit.,1995
HOWE, G.L. - Cirurgia oral menor. 3ed. São Paulo, Santos Edit.,1995.
HUNGRIA, H. - Otorrinolaringologia. Rio de Janeiro, Guanabara/Koogan
Edit.,1991.
ISSLER, S. - Articulação e Linguagem. 3ed. São Paulo, Lovise Edit.,1996
KRUGER, E. - Técnica quirúrgica para odontólogos. 1ed. São Paulo,
Quintessence Publishing Co., Inc.,1987
MARCHESAN,
I.
Q.
-
Motricidade
oral:
Visão
clínica
do
trabalho
fonoaudiológico integrado com outras especialidades. São Paulo, Pancast
Edit.,1993.
-----------. Fundamentos em Fonoaudiologia: Aspectos clínicos da motricidade
oral. Rio de Janeiro, Guanabara/Koogan, 1998.
MARCOS, B. - Periodontia: Um conceito clínico preventivo. 2ed. Rio de
Janeiro, Guanabara/Koogan Edit.,1980.
MOCELLIN, M. - Ortodontia para fonoaudiologia. Lovise Edit.,1992.
MOYERS, R.E. - Ortodontia. 4ed. Rio de Janeiro, Guanabara/Koogan
Edit.,1991.
MYSAK, E.D. - Patologias do sistema da fala: Identificação dos distúrbios da
fala, princípos de exame e tratamento. 2ed. Rio de Janeiro, Livraria
Atheneu.,1988.
PETERSON, L.J. - Cirurgia oral e maxilofacial contemporânea. 2ed. Rio de
Janeiro, Guanabara/Koogan Edit.,1993.
20
PINDBORG, J.J. - Atlas de enfermidades de la mucosa oral. 5ed. Ediciones
Cientificas y Tecnicas, S.A.,1994.
SIH, T. - Otorrinolaringologia Pediátrica. Rio de Janeiro, Revinter Edit.,1988.
SOARES, L.S.D.; ARAÚJO, R.B. - Práticas em fonoaudiologia. Vol.1.,
Enelivros.
TABITH JR, A. - Foniatria: Disfonias, fissuras labiopalatais, paralisia cerebral.
6ed. São Paulo, Cortez Edit.,1995.
TOMMASI, A.F. - Diagnóstico em patologia bucal. 2ed. São Paulo, Pancast
Edit.,1989.
WEISS, C. - Clinical managemente of articulatory and phonologic disorders.
2ed.1980.
ZEGARELLI, E.V.; KUTSCHER, A.H.; HYMAN, G.A. - Diagnóstico das doenças
da boca e dos maxilares. 2ed. Rio de Janeiro, Guanabara/Koogan
Edit.,1982.
ZORZI, J.L. - Aquisição da linguagem infantil: Desenvolvimento, alterações e
terapia. São Paulo, Pancast Edit.,1993.
21
Download