ANÁLISE DA CONCENTRAÇÃO MÉDIA DIÁRIA DO OZÔNIO NO PERÍODO DE TRANSIÇÃO ENTRE AS ESTAÇÕES SECA-CHUVOSA NA PASTAGEM NA AMAZÔNIA Marcos Antonio Lima Moura, Roberto Fernando da Fonseca Lyra, Manoel Ferreira do Nascimento Filho Departamento de Meteorologia/CCEN/UFALBR 104 – km 14 - Maceió – Alagoas –57.072-970 [email protected] Franz X. Meixner, Joern von Jouanne Biogeochemistry Department, Max-Planck-Institute for Chemistry, Mainz, Germany [email protected] Ednaldo Oliveira dos Santos Doutorando em Ciências Atmosféricas/COPPE-UFRJ - Rio de Janeiro-RJ [email protected] ABSTRACT Regular measurements of surface ozone concentration have been continously at pasture site (Fazenda Nossa Senhora, 10º 45’ S, 62º 22’ W ) during the 1999 dry-to-wet-transition in Amazonia (Rondonia-Brazil) as part of Large Scale Biosphere-Atmosphere - European Studies on Trace Gases and Atmospheric Chemistry (LBAEUSTACH-99) field campaign. Ozone measurements were obtained using the Thermo Electron Model 49 Ozone Analyser in two heights (0,5 and 4,5m). In the evaluation of the ozone data we have considered the meteorological conditions: surface wetness-grid, solar radiation, air temperature (0,5 and 4,5m), wind velocity(0,5 and 4,5m) and soil moisture. The diurnal variations are well defined, with minimum concentration during the night and maximum concentrations in the daytime. The ozone concentration gradient increased with the height. During this measurements period the average concentration were of the order 22,4 ± 2,3 ppb at 0,5m and 27,8 ± 1,9 ppb at 4,5m. INTRODUÇÃO Na Amazônia, em especial em Rondônia, o desmatamento em grande escala associado ao fogo pode constituir uma fonte para vários componentes primários da química da atmosfera, pois a mesma libera fuligem e vários gases, particularmente dióxido de carbono (CO2), hidrocarbonos, óxido nítrico (NO) e dióxido de nitrogênio (NO2), que vão produzir, através de reações químicas, outros componentes secundários com poder de ação às vezes superior àqueles sobre o balanço de radiação, o efeito estufa e a modificação do clima. A importância do ozônio tem sido destacada por causa da sua importância nos processos fotoquímicos, como também por causa de sua importância no efeito estufa. Embora se reconheça que o balanço da concentração do ozônio na troposfera seja composto por quatro quantidades gerais (transporte da estratosfera; produção fotoquímica local; deposição na superfície e destruição fotoquímica), a quantificação de cada um desses termos é muito difícil (Fishman et al., 1985). Oxidantes fotoquímicos é a denominação dada à mistura de espécies químicas que não são emitidas diretamente na atmosfera, mas formada através de reações químicas que ocorrem devido à ação da radiação solar sobre compostos orgânicos e óxidos de nitrogênio. Em particular, o N2O é naturalmente produzido no solo através da atividade microbiológica (bactérias nitrificantes e desnitrificantes), como também é um dos gases responsáveis pelo consumo(destruição) de ozônio (O3 ) na atmosfera. Além disso, o solo desprotegido após as florestas serem removidas tem participação significativa na dinâmica de processos químicos e físicos da atmosfera, uma vez que atuam como fonte e sorvedouro de vários gases-traço, como N2O, NO, CO2, e CH4 ( Bakwin et al., 1990). Assim como, é bem conhecida a alta produção de concentração de NOx durante as queimadas (Crutzen et al., 1985), que vem a ser a prática mais utilizada, não só para o desmatamento da floresta como também para renovação das pastagens em áreas antropizadas. O presente trabalho teve como principal objetivo investigar as variações da concentração do ozônio na baixa troposfera em duas alturas em uma pastagem na Amazônia no período de transição entre a estação seca e chuvosa e tentar correlacionar os fluxos com algumas variáveis meteorológicas. 3005 METODOLOGIA Foram utilizadas neste estudo medidas de ozônio realizadas na Fazenda Nossa Senhora Aparecida (10º 45’ S, 62º 22’ W, 293 m ), cuja vegetação natural foi substituída por uma gramínea (Brachiaria brizantha), durante o período de 02 a 27.10.1999, correspondente a realização do projeto LBA-EUSTACH-99 (Large Scale BiosphereAtmosphere - European Studies on Trace Gases and Atmospheric Chemistry) durante o período de transição entre a estação seca-chuvosa na Amazônia. As concentrações foram medidas com o analisador de Ozônio por fotometria U.V., Modelo 49C, da Thermo Environmental Instruments, Inc., em duas alturas: 0,5 e 4,5m. A concentração foi medida a cada 30 segundos, sendo que foram utilizadas médias de 6 minutos. Também foi instalada uma estação automática micrometeorológica, onde foram realizadas medições a cada 10 segundos, mas com média a cada 30 minutos das seguintes variáveis meteorológicas: temperatura do ar e velocidade do vento em duas alturas (0,5 e 4,5m), radiação global, deposição de água sobre o solo, umidade do solo e precipitação. Com base nos dados coletados, foram feitos os cálculos diários como também foram elaborados gráficos representativos das variabilidades médias diárias. RESULTADOS E DISCUSSÕES As condições climáticas encontradas durante a realização do experimento pode ser sintetizadas nas Figuras 1(a,b,c,d), onde observa-se que a velocidade do vento acompanha o fluxo de radiação global à superfície. Desse modo, a velocidade do vento não só é maior durante o período diurno, como também na altura superior (4,5m). Enquanto a temperatura média do ar mostrou uma flutuação da amplitude de aproximadamente 4,7º C e uma diferença muito pequena entre as alturas consideradas. Já a umidade média do solo acompanha claramente a precipitação, onde nota-se que, em termos gerais, ocorreram duas grandes chuvas: uma no dia 13.10 (17,5mm) e outra no dia 25.10 (27,3mm). Na maioria dos casos, um gradiente negativo de ozônio (taxa de mistura decrescente para a superfície) foi observada. A Figura 2 mostra o desenvolvimento da concentração do ozônio para todo o período observado ( 09.10 a 27.10.1999) para médias de 6 minutos em duas alturas (0,5 e 4,5m). A referida Figura indica claramente uma maior concentração de ozônio na altura superior (4,5m). A característica mais evidente é a repetição do ciclo: altos valores durante o dia e baixos valores durante à noite. Os máximos ocorrem próximo ao meio-dia independente da altura. Também é observada uma diminuição no ciclo diário da concentração de ozônio quando foi detectada a deposição de água sobre o solo independente de ser por precipitação ou orvalho. Os valores diários da concentração do ozônio obtidos do cálculo das médias diárias nos dois níveis observados pode ser visualizada na Figura 3. As médias sofreram alterações, durante todo o período observado, não demonstrando um ciclo padrão. Enquanto, no início das medições nota-se um maior distanciamento entre as médias, observa-se no final das medições um declínio com aproximação entre as diversas médias, mas claramente influenciadas pelos índices de precipitação nesses dias, o que elevou em muito a umidade do solo, provavelmente propiciando uma maior liberação de N2O pelo solo. Em compensação, houve uma culminação do distanciamento das médias no período de 17 a 22, onde observa-se uma elevação das médias diurnas e uma diminuição das médias noturnas. A princípio, não foi possível fazer uma associação a nenhum fenômeno meteorológico, mas nota-se que as velocidade do vento nas duas alturas apresentaram-se mais constante e com menor diferença entre as velocidades do vento nas duas alturas, como também muito provavelmente isso estaria associado as queimadas, que foram intensas nestes dias, conforme registrado no diário de ocorrências do experimento. Há uma variação sazonal pronunciada nas concentrações de O3 e de outros oxidantes sobre a bacia Amazônica com valores mais elevados de O3, CO, e NOx durante a estação seca. Esta diferença foi atribuída principalmente às emissões resultantes das queimadas de biomassa e de NOx dos solos durante a estação seca (Keller et al., 1991). Segundo Kaplan et al.(1988), a concentração atmosférica de NO é o fator crítico na regulagem do nível de concentração do ozônio troposférico, pois a produção fotoquímica de ozônio depende principalmente da quantidade de NO presente na atmosfera (Logan, 1985). Claramente o referido período estudado reflete uma combinação do aumento da intensidade das queimadas, que libera alta quantidade de NOx (Crutzen et al., 1985), que por sua vez influencia a concentração noturna do ozônio, e a produção fotoquímica de ozônio durante o período diurno. Tanto que a média da concentração do ozônio na altura de 0,5m variou entre 13 e 29 ppb, enquanto na altura 4,5m ocorreu uma variação de 12 a 41 ppb. Valores estes maiores que os encontrados por Kirchhoff (1988) na Reserva Ducke no mês de julho que variaram de 7 a 31 ppb. 3006 CONCLUSÕES A concentração do ozônio refletiu a tendência de oscilar entre valores máximos durante o período diurno e mínimos no período noturno, sendo que os valores máximos ocorreram por volta do meio-dia, uma vez que a concentração aumenta com o nascer do sol, mas decresce antes do seu pôr. A concentração diurna média foi de 30,8ppb (0,5m) e 34,5ppb (4,5m), enquanto a concentração noturna média foi de 13,8 e 22 ppb para as alturas de 0,5 e 4,5m respectivamente. Devido aos efeitos fotoquímicos e da fumaça provocada pela queima de biomassa, comum nesta época do ano, resultaram em concentrações médias diárias de 22,4ppb(0,5m) e 27,8ppb (4,5m). REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAKWIN, P. S., WOFSY, S. C., FAN, S. M., KELLER, M., TRUMBORE, S., COSTA, J.M. Emission of nitric oxide (NO) from tropical forest soils and exchange of NO between the forest canopy and atmospheric boundary layers. J. Geophys. Res.,v.95, n.D10, p.16755-16764, 1990. CRUTZEN, P.J., DELANY, A . C., GREENBERG, J., HAAGENSON, P., HEIDT, L., LUEB, R., POLLOCK, W., DEILER, W., WARTBURG, A ., ZIMMERMAN, P. Tropospheric chemical composition measurements in Brazil during the dry season. J. Atmos. Chem. V.2, p.233-256, 1985. FISHMAN, J.; VUKOVICH, R.M.; BROWELL, E.V. The photochemistry of synoptic-scale ozone synthesis: implication for the global tropospheric ozone budget. J. Atm. Chemistry, v.3, p.299-320, 1985. KAPLAN, W. A ., WOFSY, S.C., KELLER, M., COSTA, J.M.N. Emission of NO and deposition of O3 in a tropical forest system. J. Geophys. Res., v.93, n. D2, p.1389-1395, 1988. KELLER, M., JACOB, D.J., WOFSY, S.C. et al. Effects of tropical deforestation on global and regional atmospheric chemistry. Climatic Change, v.19, p.139-158, 1991. KIRCHHOFF, V. W.H. Surface ozone measurements in amazonia. J. Geophys. Res., v.93, n.D2, p.1469-1476, 1988. LOGAN, J.A . Tropospheric ozone: seasonal behavior, trends and anthropogenic influence. J. Geophys. Res., v.90, p.10463-10482, 1985. Temp#1 Rad. Global (a) 30 (b) 26 Temp#2 23 20 28 17 26 14 11 24 8 22 10 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 Dias Dias ff#1 Precipitação (c) ff#2 (d) MSWC 22 30 20 25 18 20 16 15 1 14 10 0,5 12 5 0 10 2,5 2 1,5 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 Dias Dias Figura 1 0 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 27 Variação media diária da temperatura do ar à 0,5m (Temp#1) e 4,5m (temp#2) (a); radiação solar global (b); velocidade do vento à 0,5m (ff#1) e 4,5m (ff#2) (c) e precipitação e umidade do solo (d). 3007 Ozonio-0,5m Ozonio-4,5m Wetness-grid (2) 10 80 70 60 50 40 1 30 20 10 0 0,1 Dias Figura 2 Variação da concentração média do ozônio à cada seis (6) minutos em duas alturas (0,5 e 4,5m) e detecção de deposição de água no solo no período de 09 a 27.10.1999. 60 Média-0,5 Diurna-0,5 Noturna-0,5 Média-4,5 Diurna-4,5 Noturna-4,5 (3) 50 40 30 20 10 0 10 Figura 3 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Dias 20 21 22 23 24 25 26 27 Variação da concentração média diária, diurna e noturna do ozônio em duas alturas (0,5 e 4,5m) no período de 10 a 27.10.1999. 3008