UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS – UEA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS-FMTAM MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS PREVALÊNCIA DE AGENTES DE MICOSES EM PACIENTES PORTADORES DO VIRUS HIV ATENDIDOS NA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS - FMTAM KÁTIA SANTANA CRUZ MANAUS 2004 KÁTIA SANTANA CRUZ PREVALÊNCIA DE AGENTES DE MICOSES EM PACIENTES PORTADORES DO VIRUS HIV ATENDIDOS NA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS - FMTAM Dissertação apresentada no Programa de Pós Graduação da Universidade do Estado do Amazonas, para obtenção do grau de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas. Orientadora: Profª Dra. Maria Francisca Simas Teixeira Co-orientadora : Profª Dra. Maria da Conceição de Oliveira MANAUS 2004 FICHA CATALOGRÁFICA Cruz, Katia Santana Prevalência de Agentes de Micoses em Pacientes Portadores do Virus HIV atendidos na Fundação De Medicina Tropical Do Amazonas – FMTAM/ Kátia Santana Cruz – Manaus – AM, 2004. 40 p. il. Dissertação de Mestrado – Universidade do Estado do Amazonas.Programa de Pós-graduação em Doenças Tropicais e Infecciosas. Orientador: Teixeira, Maria Francisca Simas 1. Micoses 2. HIV 3. Fungos 4. Prevalência. FOLHA DE JULGAMENTO PREVALÊNCIA DE AGENTES DE MICOSES EM PACIENTES PORTADORES DO VIRUS HIV ATENDIDOS NA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS - FMTAM KATIA SANTANA CRUZ “ Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas, aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas.” ____________________________________ Profª Maria Francisca Simas Teixeira, Dra. Orientador (a) ____________________________________ Profª Maria da Conceição de Oliveira, Dra. Co-orientador (a) ____________________________________ Profª Maria das Graças Vale Barbosa, Dra. Coordenador (a) Banca Examinadora: ____________________________________ Maria Francisca Simas Teixeira (Doutora) Presidente ____________________________________ Maria Ivone Lopes da Silva (Doutora) Membro da Banca ____________________________________ Jorge Luis Lopez Lozano (Doutor) Membro da Banca Aos meus pais (in memorian), pelos ensinamentos que moldaram meu caráter e me estimularam a buscar a felicidade. E a minha querida filha Clarissa, pela compreensão dos tantos momentos subtraídos de nossa convivência, por seu carinho e estímulo sempre presentes dedico essa conquista. AGRADECIMENTOS A Deus por seu amor infinito. Á professora Dra. Maria Francisca Simas Teixeira, pela dedicação contribuindo para minha formação científica. Á professora Dra. Maria da Conceição de Oliveira, pela ajuda no tratamento de meus dados e acompanhamento do trabalho. As coordenadoras, Maria das Graças Alecrim e Maria das Graças Barbosa pelo apoio dado ao curso e a todos os mestrandos. À Fundação de Medicina Tropical, Universidade do Estado do Amazonas e pela criação e prestimoso apoio dados ao Curso de Mestrado em doenças tropicais e infecciosas. Ao Gerente de Informática Marco Antonio Sabóia pela competência, amizade e prestimosa ajuda na criação do banco de dados e tratamento dos mesmos. Aos pacientes submetidos a essa pesquisa mais que agradecimento meu profundo respeito. Aos meus queridos irmãos Gilberto, Heloisa e Darcília e sobrinhos, Mônica, Roberta, Eduardo, Thiago, Raquel e Débora, pelo apoio, incentivo e carinho. As funcionárias Iracema Costa da Silva, Telma Maria Almeida Gomes, Socorro Craveiro e Graça, meus anjos da guarda do Laboratório de Micologia, pelo carinho, apoio e dedicação dispensados durante o período da realização da pós-graduação, tantas vezes difícil. Aos Drs. Marcus Vinitius de Farias Guerra, Wilson Duarte Alecrim e Silas Guedes da Fundação de Medicina Tropical pela criação do Mestrado em Doenças Tropicais e Infecciosas, especialmente pela seriedade e dedicação com que se empenharam para efetivação da qualificação dos profissionais dessa Fundação. Aos queridos amigos Ana Luiza e Marcus Vinitius de Farias Guerra pelo estímulo e amizade sincera ao longo de tantos anos de convivência. Aos meus primeiros professores de Micologia, Maria Ivone Lopes da Silva, Bodo Wanke, Paulo Cesar Monteiro e Julieta Cayubi que me acolheram com carinho em seus laboratórios . Ao Dr. Kevin Hazen, Carol Block, Rae Kasdan, Caroline Darracota e todos amigos do laboratório de micologia da Universidade da Virgínia pela contribuição valiosa em minha formação profissional . A Diretoria da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Amazonas, em especial as professoras, Yvette Rolland e Elisa Meneguini pela confiança e estímulo, assim como meus alunos do curso de especialização em análises clínicas. Aos amigos do Ambulatório de Alta Resolutividade Balbina Mestrinho desde seu diretor, Dr. Laércio, bioquímicos, técnicos e auxiliares do laboratório de análises clínicas, pelo apoio na execução deste trabalho. Aos amigos Pe. Humberto Guidotti e Pe.Enzo Benesperi pelo carinho e orientação espiritual, alicerce da minha caminhada pessoal. Aos amigos, funcionários da Fundação de Medicina Tropical, minha casa há quinze anos. Às bibliotecárias da Fundação de Medicina Tropical que me ajudaram com tanto empenho e carinho. Aos discentes da Pós Graduação pelo convívio que tanto me enriqueceu, em especial aqueles que se tornaram amigos. Aos professores da Pós Graduação, em especialmente aos professores Antonio Rufino e Ana Alcídia por terem me ensinado a enxergar que o verdadeiro mestre ensina para a VIDA e LUTA por valores verdadeiros. Às equipes do setor de Dermatologia e de Enfermarias da Fundação de Medicina Tropical e todos os profissionais envolvidos pelo apoio e disponibilidade no atendimento aos pacientes. Este trabalho foi desenvolvido na Fundação de Medicina Tropical do AmazonasFMTAM, com recursos parcialmente providos pela Superintendência da Zona Franca de Manaus através do convênio nº 035/2002 RESUMO A ocorrência de micoses tem aumentado especialmente devido ao crescente número de pacientes portadores de imunossupressão, inclusive aquelas causadas pelo vírus da imunodeficiência humana HIV. O objetivo desse trabalho foi conhecer a situação das micoses e os respectivos agentes a partir de casos identificados através de um estudo de levantamento retrospectivo, no laboratório de micologia da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas FMT-AM. Foram analisados registros de 170 pacientes encaminhados ao laboratório de micologia, através de solicitação médica com diagnóstico de portador do vírus da imunodeficiência humana-HIV e suspeita de infecção micótica. Os dados demográficos foram provenientes do prontuário dos pacientes, e para obtenção das informações clínicas e laboratoriais, utilizou-se livro de registro de dados relativos ao período de março de 2000 a março de 2002. Detectou-se que 214 amostras clínicas foram submetidas ao diagnóstico micológico, 61,7% originadas de pacientes do serviço de ambulatório e 38,3% de enfermaria. Entre os pacientes, 16,7% necessitaram de investigação por duas ou mais oportunidades. Quanto ao sexo, 73% foram do sexo masculino e 27% do sexo feminino Os registros mostraram que quanto a variável idade houve predominância 35,2% de indivíduos da faixa etária de 31 a 40 anos no sexo masculino e, que 15,3% pertenceram a faixa etária 21 a 30 anos no sexo feminino. A naturalidade ou procedência os dados revelaram que 51% dos pacientes foram procedentes do município de Manaus, 33% de outros municípios, 15% de outros estados da federação e 1 de outro país. Dos 155 pacientes que forneceram informação sobre rendimento salarial, maior prevalência foi observada, 46% no sexo masculino e 25,8% no feminino, respectivamente, representando grupos de rendimentos inferiores. Considerando-se a zona de moradia, 160 pacientes relataram residência no município de Manaus,com predominância 35% de pacientes da zona Sul. Dados quanto ao grau de escolaridade revelaram que 35%dos pacientes possuíam ensino fundamental incompleto. Quanto a positividade das amostras , 61,7% apresentaram crescimento de fungos enquanto 38,3% não apresentaram. Dentre as amostra positivas 74,2 % foram do sexo masculino e 25,8% do sexo feminino. Na faixa etária entre 21 a 40 anos, foi encontrada a maior ocorrência de cultivos positivos em ambos os sexos. Com relação aos agentes etiológicos, Candida spp. (38,8%) foi o agente mais isolado, seguida de Trichophyton spp (32,6%); Cryptococcus neoformans (18,2%); Histoplasma capsulatum (6,8%); Microsporum spp. (2,2%); Epidermophyton floccosum (0,7%) e Aspergillus spp. (0,7). A partir desses resultados conclui-se que as micoses oportunistas são mais freqüentes na população investigada e que as variáveis demográficas e socio-econômicas representam um importante dado para o conhecimento sobre as doenças micóticas na região. ABSTRACT The occurrence of mycoses has been raising due to the increase of the number of patients with imunossupression, including those caused by HIV virus. The objective of this research was to get to know the situation of mycoses and it´s respectives agents from identified cases based on a study of retrospective gathering in the mycology lab inside the Amazon Medicine Tropical Foundation FMT-AM. 170 registers from patients with human immunodeficiency virus -HIV and suspect of mycoses were sent to the mycology laboratory and they all have been analyzed. The demographic data came from the patient´s files and to obtain all the clinical and laboratorial information, the register´s book that covers the period of March 2000 until March 2002 was used. It was detected that 214 clinical samples were sent to the mycology laboratory, 61.7% of them were from patients from ambulatory and 38.3% from the ward. Among those patients 16.7% needed a double investigation. Related to gender, 73% were male and 27% female. The registers show that related to age they were mainly male individuals 35.2% between 31-40 yo and females were predominant 15.3% between 21-30 yo. According to the findings of this study the origin of those patients were: Manaus (51%), other cities within Amazon State (33%), other States (15%) and other Country (1%). From those among 155 patients that had given information about their earnings, 46% of the males and 25.8 of females, earn the lower salary. Taking into consideration the neighborhood, 160 informed that they live in Manaus, with the predominance in the South Area (35%). Related to educational level 35% of the patients have uncompleted primary school Related to the positive samples, 61.7% have shown positive cultures and 38.7% have not. Still among these 74.2% were male and 25.8% female. In the category of 31-40 yo there has been higher occurrence of positive cultures in both genders. Related to the etiologic pathogenic agents, Candida spp. (38.8%) was the most isolated one, followed by Trychophyton spp (32.6%); Cryptococcus neoformans (18.2%); Histoplasma capsulatum (6.8%); Microsporum spp. (2.2%); Epidermophyton floccosum (0.7%) and Aspergillus spp. (0.7%). Based on those results its was concluded that opportunistic deseases are more frequent in the investigated population and the demographic and social economic factors represent an important data to the knowledge about mycoses in this region. LISTA DE FIGURAS Figura 1 Aspecto macro (A) e microscópico (B) de Candida spp .......................... 07 Figura 2 Características micromorfológicas de representantes dos dermatófitos: A. Microsporum canis; B. Trichophyton rubrum; C. Epidermophyton floccosum ................................................................................................. 12 Figura 3 Características morfológicas de H. capsulatum: H. capsulatum var. capsulatum, forma filamentosa in vitro (A) e forma parasitária (localização intraceluar) (B); C) H. capsulatum var. capsulatum forma leveduriforme in vitro; D) H. capsulatum var. duboisii, forma parasitária ........................... 17 Figura 4 Aspecto morfológico de Aspergillus fumigatus: (A) Característica macroscópica in vitro; (B) Característica microscópica ........................... 19 Figura 5 Porcentagem dos pacientes portadores de HIV de acordo com o sexo .. 24 Figura 6 Distribuição (%) dos pacientes examinados na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, segundo a procedência ou Naturalidade ............ 27 Figura 7 Distribuição (%) dos pacientes segundo zona de residência no Município de Manaus – AM ...................................................................................... 28 Figura 8 Distribuição (%) de pacientes em função do grau de escolaridade ......... 29 Figura 9 Positividade (%) dos cultivos das amostras clínicas em relação à origem ...................................................................................................... 30 Figura 10 Porcentagem de cultivos positivos em relação as variáveis faixa etária e sexo .......................................................................................................... 31 Figura 11 Doenças fúngicas associadas a pacientes portadores do vírus HIV examinados na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas-AM ........ 34 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Micoses em pacientes infectados pelo vírus HIV, no Brasil ..................... 04 Tabela 2 Formas clínicas e sintomatologia de candidíases orofaríngeas ............... 09 Tabela 3 Características ecológicas e fisiológicas das variedades do C. Neoformans ............................................................................................. 11 Tabela 4 Rendimento diagnóstico dos materiais biológicos na criptococose associada a pacientes HIV ........................................................................ 11 Tabela 5 Formas clínicas e sintomatologia das dermatofitoses ............................. 14 Tabela 6 Quantitativo de amostras clínicas analisadas dos 170 pacientes procedentes do ambulatório e enfermaria da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas .............................................................................. 25 Tabela 7 Distribuição segundo faixa etária e sexo dos 170 pacientes portadores do vírus HIV .................................................................................................. 26 Tabela 8 Prevalência do rendimento salarial de acordo com sexo de pacientes portadores do vírus HIV examinados na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas-AM .................................................................................... 32 Tabela 9 Prevalência dos agentes etiológicos de micoses superficiais e profundas de pacientes examinados na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas-Am ......................................................................................... 33 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 01 1.1 Micoses superficiais associadas a AIDS.................................................. 1.1.1 Leveduroses ................................................................................. 1.1.1.1 Candidiases ou Candidoses.............................................. 1.1.1.2 Criptococoses.................................................................... 1.1.2 Dermatófitos e dermatofitoses...................................................... 1.1.2.1Epidemiologia das dermatofitoses ............................................. 1.2 Micoses Profundas .................................................................................. 1.2.1 Histoplasmoses ............................................................................ 1.2.2 Aspergiloses ................................................................................ 1.3 Outras Micoses ....................................................................................... 1.3.1 Coccidioidomicosse e Blastomicose Norte Americana ............... 2 OBJETIVOS ...................................................................................................... 06 07 07 09 12 15 15 16 18 19 19 21 2.1 Objetivo Geral ......................................................................................... 2.2 Objetivos Específicos .............................................................................. 3 METODOLOGIA ................................................................................................ 21 21 22 3.1 As características do estudo ................................................................... 3.2 Delineamento do estudo.......................................................................... 3.3 Análise dos dados ................................................................................... 3.4 Análise estatística ................................................................................... 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................... 22 22 22 23 24 5. CONCLUSÃO .................................................................................................. 35 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 37 1. INTRODUÇÃO Existem descritos na natureza cerca de 100.000 espécies de fungos, sendo que dessas, aproximadamente 150 são consideradas parasitas verdadeiras, causam doenças cutâneas no homem e animais. As demais espécies são oportunistas, restando ainda muitas espécies a serem descritas (KWONG-CHUNG et al., 1992; FERREIRA et al., 1996). A maioria dos fungos saprobioticamente e em certas condições é capaz de se adaptar às condições do hospedeiro, sobrevivendo e comportando-se como patógenos. Para sobreviver neste novo meio, este microorganismo terá primeiramente que, se adaptar a alta temperatura corpórea, ao baixo potencial de oxirredução e aos fatores celulares e humorais relacionados ao hospedeiro (MENDES - GIANINI et al., 1997; FISHER et al., 1988). Nas ultimas décadas, as doenças fúngicas passaram a ser um importante problema de saúde pública, em razão do uso intenso de drogas antibacterianas e imunossupressoras. Indivíduos com microbiota alterada ou com mecanismo de defesa comprometido, como os indivíduos com AIDS, são mais propensos a desenvolver infecção por fungos (MENDES – GIANINI et al., 1997; ODDS, 1997). O grupo de fungos que se constitui como maior responsável pelo acometimento de infecções no homem é o denominado dermatófito, patógenos verdadeiros, representados por três gêneros: Microsporum spp., Trichophyton spp. e Epidermophyton floccosum. São microfungos agentes de dermatofitoses, relatados como queratinolíticos, colonizam pêlos, unhas e estrato córneo da pele (WEITZMAN et al., 1995; COLLIER et al., 1998). 2 De acordo com a ecologia e hospedeiros preferenciais, os dermatófitos são classificados como antropofílicos, zoofílicos, geofílicos, podem ser encontrados em todos os continentes, ocorrendo em alguns países especialmente de forma endêmica (SANTOS et al., 1997). A principal característica dos dermatófitos como parasita é sua restrição para tecidos queratinizados mortos. Comportamento fisiológico inverso tem os fungos oportunistas, como Candida spp., Aspergillus spp, Cryptococcus neoformans var. neoformans, Histoplasma capsulatum etc, os quais podem invadir sistemicamente na imunossupressão grave, como por exemplo, em pacientes neutropênicos e pacientes com AIDS. Tais infecções oportunistas são comuns em pacientes portadores do vírus da imunodeficiência humana - HIV (MENDES – GIANINI et al., 1997). Os fungos oportunistas surgiram em décadas passadas como causa importante de morbidade e mortalidade em paciente imunocomprometidos. Candida spp. tem sido citada como terceiro ou quarto agente mais comum de infecções nosocomiais da corrente sanguínea. As espécies de Aspergillus spp. têm surgido como causa infecciosa mais comum de mortalidade por processos pulmonares em pacientes de transplante de medula óssea (PERFECT et al., 1993; DURDEN et al., 1997). Entre pacientes infectados com o vírus HIV, meningoencefalites por Cryptococcus neoformans é o agente mais comumente encontrado definindo a AIDS como doença. Outros agentes incomuns como Fusarium spp, Acremonium spp., Paecilomyces spp., Tricoderma spp., também têm sido relatados (WALSH et al., 1999). 3 Modernamente, a ocorrência de micoses tem aumentado especialmente devido ao crescente número de pacientes portadores de imunossupressão, inclusive aquelas causadas pelo vírus da imunodeficiência humana HIV (DURDEN et al., 1997). Os fungos parasitas e oportunistas, como agentes de patologias superficiais e profundas, são comuns na Amazônia devidos as condições de exposições e ambientais. Todavia não existem dados que subsidiem as associações desses microrganismos aos indivíduos portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV). Diante do exposto, a realização desta pesquisa contribuirá de forma substancial para atualização do diagnóstico e identificação da etiologia assim como proporcionando o tratamento adequado. Estudos realizados sobre prevalência de doenças cutâneas em pacientes com a Síndrome da Imunodeficiência adquirida ou o complexo de doenças relacionadas a AIDS demonstraram que as infecções causadas por fungos corresponderam a 87% dentre as demais diagnosticadas numa população composta por 117 indivíduos examinados. Dentre as doenças micóticas diagnosticas, predominaram candidiase e dermatofitoses, em 47% e 30% dos pacientes examinados, respectivamente (GOODMAN et al., 1987). Ainda com relação a levedurose e dermatofitose, outras análises realizadas demonstraram também a prevalência dos agentes etiológicos dessas infecções, mas em usuários de drogas portadores do vírus HIV. Os resultados dessa pesquisa confirmaram que as leveduras (Candida spp.) ocorreram em maior freqüência quando comparado com os dermatófitos, entre estes, Trichophyton rubrum foi o predominante (Di SILVERIO et al., 1991). 4 Korting et al. (1993), relata que o vírus HIV não predispõe indivíduos portadores a dermatofitoses, mas a candidíase oral. Com relação a essa afirmativa, os resultados das pesquisas realizadas por esses autores revelaram que a ocorrência das dermatofitoses, entre os 138 indivíduos portadores do HIV foram mais freqüentes em pacientes terminais de AIDS, embora tenham sido detectadas em pacientes em todos os estágios da doença. As analises realizadas por Rosatelli et al. (1997) comprovaram que dos 223 pacientes, 189 do sexo masculino e 34 do sexo feminino, portadores do vírus HIV examinados, 71 assintomáticos e 152 sintomáticos, respectivamente, apresentaram doença micóticas, todavia os sintomáticos foram os mais acometidos pelas citadas infecções. Nessa pesquisa foi identificada a predominância de candidíase oral no grupo dos pacientes sintomáticos e em ambos os grupos foram observados, tinhas, pitiríase versicolor e onicomicoses. As micoses profundas (histoplasmose e paracoccidioidomicose) foram diagnosticas apenas nos pacientes sintomáticos (Tabela 1). Tabela 1: Micoses em pacientes infectados pelo vírus HIV, no Brasil Assintomáticos (n=71) Micoses Sintomáticos/AIDS (n=152) N % N % Tinhas 16,0 22,6 21,0 13,8 Pitiriase versicolor 5,0 7,0 1,0 0,7 Onicomicoses 2,0 1,8 21,0 13,8 Candidiase oral 3,0 4,2 61,0 41,1 Histoplasmose 0,0 0,0 14,0 9,2 Paracoccidioidomicose 0,0 0,0 3,0 2,0 Sem dermatose fungica 45,0 63,4 31,0 20,4 71,0 100,0 152,0 100,0 TOTAL Fonte: Rosatelli et al., 1997. 5 Ainda, com relação às micoses cutâneas, Ogawa et al. (1998) cita que tais doenças têm aumentado em freqüência e afirma que a etiologia pode ser por leveduras como Candida albicans, espécies de Malassezia ou por dermatófitos além de Coccidioides immitis, Blastomyces dermatitidis e Paracoccidioides brasiliensis. Este autor, acrescenta ainda que nessas infecções a interação parasita-hospedeiro é multifatorial e que tanto a resistência inata quanto à adquirida participam do mecanismo de defesa do hospedeiro. Nos trabalhos realizados por Orozco-Topete e Reyes (1998), ao examinarem nove pacientes, concluíram que Histoplasma capsulatum causa lesões cutâneas e que para o diagnóstico dessas patologias, a biopsia de pele fornece resultado eficiente e conclusivo. Infecções fúngicas e por microbactérias estão entre as mais comuns infecções oportunistas que ocorrem nos pacientes adultos infectados com o vírus da imunodeficiência humana 3, principalmente antes do uso de tratamentos com associações de drogas que podem proporcionar uma melhora considerável da função imune dos referidos pacientes (SANTOS et al., 1999). Doenças por fungos têm sido um dos diagnósticos de maior relevância em relação a AIDS. Nesse contexto, Candida spp. e Cryptoccocus neoformans var. neoformans são mundialmente comuns enquanto que Coccidioides immitis e Penicillium marneffei Histoplasma capsulatum, predominam em áreas endêmicas. Phaeohyphomycetes, Hyalohyphomycetes e Zygomycetes são raros como agentes de patologias entre os pacientes de AIDS, entretanto agentes desse grupo como Aspergillus spp. têm aumentado de incidência (MARQUES et al., 2000). 6 Histoplasma capsulatum, embora seja freqüente em área endêmica, tem sido citado como um dos principais agentes de doenças oportunistas que afetam pacientes portadores do vírus HIV. Nesses pacientes, essa micose sistêmica pode se disseminar do pulmão para pele e mucosa oral. A sintomatologia e os aspectos clínicos dessas lesões não apresentam especificidade e por isso o diagnóstico tem sido firmado por esfregaço citológico e biópsia de tecido da cavidade oral (GOMES FERREIRA et al., 2001). Predominantemente, os sinais e sintomas são pouco característicos e podem ser facilmente confundidos com infecções tanto bacterianas quanto virais associadas a AIDS. Assim sendo, a pandemia dessa síndrome provocou uma revolução na organização dos laboratórios de micologia devido o aumento da ocorrência de micoses, da gravidade dessas infecções e a modificação do valor diagnóstico de várias das reações sorológicas (NEGRONI et al., 2001) 1.1 Micoses superficiais associadas a AIDS Três grupos de fungos (Candida, Malassezia e Dermatófitos) colonizam pele e mucosa de muitos indivíduos acometidos de AIDS. Entre esses pacientes, espécies de Candida são patógenos comuns em estágios moderados e avançados, infectando áreas de mucosa, tais como, orofaringe, esôfago e região peri-anal. O inverso ocorre com Malassezia spp., isto é, em menor freqüência. Os dermatófitos também são freqüentes, contudo quando causa onicomicose sub-ungueal proximal que comumente se identifica Trichophyton rubrum, nessa patologia, há indicativo da associação do vírus HIV nesses pacientes (JOHNSON, 2000). 7 1.1.1 Leveduroses 1.1.1.1 Candidiases ou Candidoses São causadas por microrganismos do gênero Candida (Figura 1), comprometendo a pele e anexos, mucosas e semimucosas, podendo ocasionalmente disserminar-se produzindo lesões em órgãos distintos, em pacientes com algum tipo de imunossupressão, a colonização mais comum ocorre na região orofaríngea (40-90%) (NEGRONI et al., 2001). A B Figura 1: Aspecto macro (A) e microscópico (B) de Candida spp. A candidíase orofaríngea é a causa mais freqüente de infecção oportunista em pacientes com AIDS e C. albicans é a espécie mais isolada. Cerca de 90% dos pacientes HIV positivos (HIV+) apresentam candidíase orofaríngea pelo menos uma vez no curso da sua doença (MILAN, 2001). Ainda com relação a candidíase orofaríngea, lesões orais são consideradas sentinelas na história natural e na progressão da infecção pelo HIV. Essa infecção está correlacionada com a presença do HIV e com marcadores de imunossupressão, como a contagem de células CD4+, predizendo progressão para condições definidoras da AIDS (MILAN, 2001). 8 Estudos epidemiológicos, empregando a caracterização do DNA das cepas de Candida, têm demonstrado que as fontes de infecção são tanto endógenas como exógenas. Contudo, em estudos realizados por Costa et al. (1999) e Negroni (2001), em pacientes com AIDS a maioria das candidíases orofaríngeas têm origem endógenas. Na revisão realizada por Negroni et al. (2001), nas infecções causadas pelo gênero Candida, C. albicans tem sido a espécies mais freqüente (70%). Outras espécies descritas são C. tropicalis, C. parapsilosis, C. krusei, C. glabrata, C. stelladoidea, C. guilliermondii e C. dubliniensis. Negroni (2001), classificam as candídiases ou candidoses de localização orofaríngea segundo a apresentação clínica em 4 formas, descritas na tabela 2. A ocorrência de infecções superficiais por Candida tem sido relacionada com a função anormal de células T, que é um marco na progressão da doença. A inversão da relação CD4+/CD8+ traduz-se pela disfunção na liberação de citocinas relacionadas com a resposta de tipo Th1, conduzindo à alteração funcional de fagócitos mono e polimorfonucleares, levando ao prejuízo da fagocitose e da destruição das leveduras (MILAN, 2001). 9 Tabela 2: Formas clínicas e sintomatologia de candidíases orofaríngeas. Formas clínicas Características clínicas Sintomatologias 1. Forma pseudomembranosa Pseudomembrana brancoamarelada semelhante a leite coalhado. Localização: mucosa oral, freqüente na língua e palato. 2. Forma eritematosa atrófica Áreas vermelhas, irregulares, de extensão variável, Dor e o ardor. com pontos hemorrágicos. Localização: palato e dorso da língua 3. Forma hiperplásica Quatro tipos: hiperplasia clássica, língua pilosa negra, hiperplasia papilar palatinal e leucoplasia candidiásica. Engrossamento da mucosa lingual de cor esbranquiçado e superfície rugosa que se expande às bordas laterais e no dorso. Localização: língua Produz alteração de paladar e deglutição. 4. Queilite angular Fissuras eritematosas nas comissuras labiais às vezes coberta de membranas esbranquiçadas. Localização: comissuras labiais. Dor Produz alteração de paladar e deglutição. Fonte: Negroni, 2001. 1.1.1.2 Criptococoses Nas citações de Lacaz et al. (1991), constam que o patologista Busse, em 1894, na Alemanha, isolou uma levedura capsulada de uma lesão de tíbia em paciente de 31 anos, que posteriormente foi denominada de Cryptoccocus neoformans. Este fungo unicelular foi também detectado em suco de pêssego, na Itália por Sanfelice em 1894. Nessa época, muitos dos casos reportados foram associados com pacientes com câncer. Com base no epítopos capsulares, existem duas variedades de C. neoformans (C. neoformans var. neoformans e C. neoformans var. gattii) e quatro sorotipos. Aproximadamente, as infecções em pacientes com AIDS envolvem linhagens de uma única variedade e sorotipo (C. neoformans var. neoformans), 10 entretanto tal linhagem varia de níveis genotítipos e fenotípicos (KWON-CHUNG, 1992). A criptococose é a doença de etiologia fúngica que lidera a morbidade e mortalidade entre os pacientes com AIDS. Apresenta freqüência particularmente alta no sudeste dos Estados Unidos e na África Equatorial (STANSELL, 1993; POWDERLY, 1993). Os sorotipos capsulares de C. neoformans var. neoformans foram definidos como sorotipo A, D e AD. C. neoformans var. gattii são sorotipo B e C. (MITCHELL, PERFECT, 1995). Na França, historicamente há prevalência C. neoformans var. neoformans sorotipo D. Nesse região, nos estudos realizados por Dromer et al. (1994), com 273 pacientes com criptococose, no período entre 1990 a 1992, somente 17% estavam infectados com C. neoformans var. neoformans sorotipo D, dentre os 80% de pacientes portadores do vírus HIV. Esses resultados comprovaram a que mundialmente, mesmo em áreas geográficas endêmicas por C. neoformans var. gattii, 90% dos casos de criptococose em pacientes com AIDS são causados por C. neoformans var. neoformans sorotipo A (MITCHELL, PERFECT, 1995; NEGRONI et al., 2000). Além dessas propriedades, essas variedades também diferem em características bioquímicas, ecológicas e epidemiológicas (Tabela 3). Em referencia a Cryptococcus neoformans var. gattii estão descritos 21 casos da associação HIV com essa variedade. Desses, cinco foram descritos no Brasil e os demais em outros paises (SEVERO, 1999) 11 Tabela 3: Características ecológicas e fisiológicas das variedades do C. neofornans. Características Forma teleomórfica Ecologia Distribuição geográfica Cápsula Produção de fenoloxidase Assimilação de malato Repressão de creatinina diaminase Sensibilidade Canavanina Assimilação de glicina (% de linhagens) Sorotipos C. neoformans var. neoformans Filobasidiella neoformans var. neoformans C. neoformans var. gattii Solo e fezes de ave Cosmopolita Presente Positivo Negativo Filobasidiella neoformans var. bacillispora Árvore de Eucalipto Regiões de clima tropical Presente Positivo Negativo Positivo Negativo Positivo Negativo 10-20 100 A, D e AD BeC Fonte: Mitchell, Perfect (1995) As leveduras capsuladas, fungos oportunistas, são diagnosticadas em amostras clínicas através de testes laboratoriais específicos. Assim, para observação de C. neoformans in vivo e in vitro são observados somente utilizandose tinta nanquim como contraste. São facilmente cultivados em meios convencionais a exemplo de ágar Sabouraud. Negroni et al. (2000) cita que nas analises realizadas em uma instituição hospitalar, na Argentina, os materiais biológicos que demonstram maior proporção de positividade dessas leveduras estão citados na tabela 4. Tabela 4: Rendimento diagnóstico dos materiais biológicos na criptococose associada a pacientes HIV. Material clínico % Resultados positivos Tinta china 74,5 - 83,6 LCR Cultivos 88,9 - 90,9 Hemocultivos 61,2 - 67,1 Urina 21,8 – 41,7 Secreções Bronquiais 18,5 Outros 23,5 Antigenia ≅ 95,0 Antigenorraquia ≅ 93,0 Antigenuria 78,0 – 80,0 Fonte: Negroni et al., (2000) 12 1.1.2 Dermatófitos e dermatofitoses Na primeira classificação, os dermatófitos foram incluídos em quatro gêneros: Trichophyton, Microsporum, Epidermophyton e Achorion. Emmons (1934) modernizou o esquema taxonômico proposto por Sabouraud e estabeleceu as bases da atual classificação desses fungos filamentosos, fundamentando-se na morfologia (Figura 2). Através de estudos posteriores foram reconhecidos apenas três gêneros: Microsporum, Trichophyton e Epidermophyton. Mais tarde, estudos baseados nas condições nutricionais e fisiológicas simplificaram a identificação dos dermatófitos e levaram à redução do número de espécies e variedades (HASEGAWA, KAZUYA, 1975; FLORENCIO, BALMAS, 1999). A B C Figura 2: Características micromorfológicas de representantes dos dermatófitos: A. Microsporum canis; B. Trichophyton rubrum; C. Epidermophyton floccosum. Arenas et al. (2001) cita que os dermatófitos foram observados por Remak em 1835, pela primeira vez como patógeno, ao examinar ao microscópio estruturas filamentosas e arredondadas, de um caso de tinha fávica. Posteriormente, Schoenleinii, em 1839, descreveu a natureza micótica dessa lesão e Sabouraud em 13 1890, iniciou os primeiros estudos da sistemática dos dermatófitos e, em 1910, publicou uma enciclopédia e o terceiro volume do clássico Lês Teignes. Os dermatófitos (Trichophyton sp., Microsporum sp., e Epidermophyton floccosum), têm atividade queratinolítica o que permite a assimilação da queratina como nutriente; por produção de estruturas de reprodução de forma e freqüência variada, características que conferem semelhança morfológica às diferentes espécies; podem se disseminar por transmissão direta ou indireta entre animais homeotérmicos, entre estes, o homem (COLLIER et al., 1998). Em consideração que dermatófitos da mesma espécie podem produzir diversos quadros clínicos segundo a localização anatômica e que uma determinada lesão pode ser produzida por várias espécies, o diagnóstico micológico torna-se importante ferramenta para o estabelecimento da etiologia e terapia correta. Este procedimento não só auxilia na correta terapia como também proporciona uma aproximação da situação sócio-cultural da população afetada (RUBIO et al., 1999). As infecções causadas por dermatófitos (dermatofitoses) são clinicamente classificadas se baseando na localização da lesão no corpo do hospedeiro (Tabela 5). Contudo diferentes áreas do organismo podem ser afetadas, sendo que, cada foco de infecção resulta da inoculação localizada. Tratando-se desses microfungos, a lesão tem aspecto característico (Tabela 5), isto é, forma circular, com bordo inflamatório e crescimento centrífugo. Dessa forma, a área central da lesão mostrase clara devido à ausência do parasita e de nutriente (PADHYE; WEITZMAN, 1998). 14 Tabela 5: Formas clínicas e sintomatologia das dermatofitoses Formas clínicas Tinha capitis Características clínicas Lesões no couro cabeludo, com áreas inflamatórias, descamativas e formação de foliculites e kerion resultando em áreas glabras e alopecia Tinha barbae Lesões inflamatórias, pustulosas, com placas eritematosas, descamativas, pêlos opacos e foliculite, localizadas na barba. Lesões localizadas na parte superior do corpo (tronco, ombro, axila, peito e costas). Apresentam bordos delimitados, ligeiramente elevados, com vesículas. Lesões na região palmar e área interdigital das mãos se apresentam como áreas difusas hiperceratosas. Invasão da placa da unha produz hiperceratose e paraceratose focal. Tinha corporis Tinha mannum Tinha unguium Tinha pedis Tinha favosa Tinha imbricata São lesões localizadas na região podal envolvendo a região interdigital e plantar. A forma intertriginosa é mais comum associada com maceração, descamação, fissura e eritema. Lesão purulenta no folículo piloso. Determina alopecia cicatricial. Espécies Microsporum audouinii, M. canis, M. ferrugineum, M. gypseum (parasitismo ectotrix). Trichophyton tonsurans (parasitismo endotrix) Trichophyton verrucosum, e T. mentagrophytes Trichophyton rubrum Trichophyton rubrum Trichophyton rubrum, T. mentagrophytes e Epidermophyton floccosum. Trichophyton rubrum, T. mentagrophytes e Epidermophyton floccosum. Trichophyton schoenleinii Infecção crônica com padrões clínicos Trichophyton concentricum diversos. Fonte: Padhye; Weitzman, 1998. Ao parasitar o pêlo os dermatófitos demonstram comportamento diferenciado. Sobre o pêlo ou internamente, o parasitismo denomina-se de ectotrix e endotrix, respectivamente. No parasitismo do tipo ectotrix os cabelos apresentam fluorescência quando submetidos ao teste da lâmpada de Wood, em ambiente escuro. Tratando-se de endotrix, o pêlo se fragmenta nos pontos parasitados e não apresenta fluorescência á luz de Wood (LACAZ, 1991). Ainda segundo este autor, a lâmpada de Wood é uma lâmpada de mercúrio de média pressão cuja radiação é filtrada por um filtro de Wood, constituído por vidro 15 com óxido de níquel. Este filtro limita a emissão a uma faixa entre 340 e 450 nm, com um pico nos 365 nm. Entre os dermatófitos Microsporum canis e M. ferruguneum fluorescem a luz de Wood expressando fluorescência brilhante enquanto que Trychophyton tonsurans e T. rubrum não fluorescem (LACAZ et al., 1991). 1.1.2.1 Epidemiologia das dermatofitoses A severidade e a variabilidade das formas clínicas das dermatofitoses, em pacientes com AIDS estão aumentando, embora que a freqüência dessas patologias, nesses pacientes, não são superiores quando comparado com grupo controle (JOHNSON, 2000). Nos paises em desenvolvimento que contam com população superior a 95% dos pacientes infectados pelo HIV existe carência de registro das doenças causadas por dermatófitos em paciente com AIDS, provavelmente, devido essas patologias não causam a morte, mas reduzida morbidade o inverso do impacto causado pelas infecções sistêmicas (JOHNSON, 2000). 1.2 Micoses Profundas Ao contrário de candidíases e criptococose as infecções causadas por Histoplasma capsulatum, Aspergillus spp. Coccidicoides immitis e Blastomyces dermatitidis são adquiridas em áreas geográficas específicas predominantemente por inalação. As infecções causadas por esses fungos não estavam associadas com AIDS, como exemplo cita-se que a epidemia de HIV nos Estados Unidos teve inicio em grandes áreas urbanas, distantes das áreas nas quais esses fungos são endêmicos (AMPEL, 1996). 16 1.2.1 Histoplasmoses Trata-se de uma infecção de ocorrência mundial cujo agente etiológico são as variedades Histoplasma capsulatum var. capsulatum, H. capsulatum var. duboisii e H. capsulatum var. farciminosum . Entre esses microrganismos a primeira variedade está associada em maior freqüência com AIDS. Raros são os casos de histoplasmose causados por Histoplasma capsulatum var. duboisii (AMPEL, 1996; DURDEN, ELEWSKI, 1997; AJELLO et al., 1998). Geograficamente, H. capsulatum var. capsulatum tem ocorrência mundial, H. capsulatum var. duboisii se restringe a parte central da África continental, entre o trópico de Câncer e Capricórnio e ilhas da costa de Madagascar, no Oceano Índico. Com relação H. capsulatum var. farciminosum, há citação da ocorrência desse organismo na África, leste da Europa, meio oeste da Ásia (Japão e Filipinas) não se conhecendo ocorrência nas Américas (AJELLO et al., 1998). Histoplasma capsulatum se apresenta como fungo termo-dimórfico, tem aspecto filamentoso (25 oC) e leveduriforme a 37 oC (Figura 3). Assemelha-se a Sepedonium sp. e Chrysosporium sp. Contudo, Histoplasma tem crescimento lento e pode ser convertido a forma leveduriforme ao passo que os gêneros afins têm crescimento rápido e não apresentam a fase leveduriforme (GOLDMAN et al., 1999; KERN, BLEVINS, 1999). 17 Figura 3: Características morfológicas de H. capsulatum: H. capsulatum var. capsulatum, forma filamentosa in vitro (A) e forma parasitária (localização intraceluar) (B); C) H. capsulatum var. capsulatum forma leveduriforme in vitro; D) H. capsulatum var. duboisii, forma parasitária. H. capsulatum, fungo geofílico encontrado em solos ricos em substâncias orgânicas, pH ácido, em torno de cursos d’água doce. As fezes de certas aves potencializam o crescimento desse fungo no solo, porém tais animais não se infectam devido à elevada temperatura corporal, contudo representam uma ligação na epidemiologia da histoplasmose ao criarem ambientes densamente infectados por esse patógeno oportunista (NEGRONI et al., 2001). 18 Outra fonte de disseminação de H. capsulatum são os morcegos insetívoros ou frutívoros, animais que se infectam com esse fungo, eliminando-o no ambiente criando assim focos densamente infectados, os chamados pontos epidêmicos (NEGRONI, 2003). Entre as micoses sistêmicas, histoplasmose e criptococose são responsáveis alta taxa de mortalidade e morbidade (TOBON et al., 1998). Nos trabalhos realizados, no Rio de Janeiro-RJ, por Lazzarini-de-Oliveira et al. (1999), Histoplasma capsulatum var. capsulatum foi encontrado em 1,1% dos pacientes do grupo HIV positivo e em nenhum HIV negativo (p<0,001). Nesses pacientes, os quais representaram 10 casos, todos foram positivos pela cultura e somente dois foram positivos pela análise cito/histopatológica. Negroni et al. (2001) cita que histoplasmose vem sendo a terceira micose grave em ordem de freqüência associada a AIDS. Na Argentina é observado em 4% dos pacientes HIV positivos com menos de 100 células CD4 positivos/µL. 1.2.2 Aspergiloses São patologias oportunistas que têm como agente etiológico os fungos do gênero Aspergillus spp. (Figura 4), que podem causar micoses superficiais e/ou profundas. Nos pacientes infectados por HIV, são infecções que apresentam baixa freqüência. No início da epidemia da AIDS, Aspergilose foi associada a doença sendo posteriormente retirada desse contexto devido a baixa ocorrência dessa patologia. No entanto, atualmente, tornou-se um problema emergente, tanto que 1% dos pacientes que atingem estados avançados da infecção por HIV são acometidos por alguma forma de aspergilose respiratória (NEGRONI et al., 2001). 19 Figura 4: Aspecto morfológico de Aspergillus fumigatus: (A) Característica macroscópica in vitro; (B) Característica microscópica. 1.3 Outras Micoses 1.3.1 Coccidioidomicosse e Blastomicose Norte Americana São doenças causadas por Coccidioides immitis e Blastomyces dermatitidis, espécies com habitat e distribuição geográficas distintas. A primeira espécie tem caráter endêmico no sudoeste dos Estados Unidos, além de ocorrer no México, Guatemala, Honduras, Venezuela, Paraguai, Argentina e Brasil (PAPPAGIANIS, 1998). Blastomicose Norte Americana, causada por Blastomyces dermatitidis, era considerada uma doença norte-americana, com ocorrência no sul do rio Ohio e a leste do rio Mississipi. Contudo, já existe registro de casos no Canadá, na América Latina, na África e em outras áreas. Outras doenças micóticas são relativamente raras em pacientes com AIDS, mas podem causar problemas, principalmente, em certas regiões. Dentre essas patologias, estão incluídas, coccidioidomicose, blastomicose, esporotricose, 20 paracoccidoidomicose, peniciloses marneffei e histoplasmose africana (AMPEL, 1996; KERN, BLEVINS, 1999; HAGE et al., 2002). 21 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Avaliar retrospectivamente dados relativos a doenças de origem fúngicas, quanto à prevalência e ocorrência de agentes patógenos e oportunistas em pacientes portadores do vírus HIV, na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas FMT-AM. 2.2 Objetivos Específicos • Verificar a prevalência de micoses e os respectivos agentes etiológicos segundo as variáveis demográficas e sócio-econômicas. • Demonstrar a ocorrência de fungos patógenos e oportunistas, agentes de micoses superficiais, cutâneas, subcutâneas e sistêmicas em pacientes portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV). 22 3 METODOLOGIA 3.1 As características do estudo A proposta deste estudo transversal visou conhecer a situação das micoses e os respectivos agentes a partir de casos identificados através de um estudo levantamento retrospectivo, no laboratório de micologia da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas FMT-AM. 3.2 Delineamento do estudo Nessa pesquisa foram analisados registros de 170 pacientes encaminhados ao laboratório de micologia, através de solicitação médica, oriundos dos serviços de ambulatório e enfermarias com diagnóstico de portador do vírus da imunodeficiência humana-HIV. 3.3 Análise dos dados Os dados demográficos foram provenientes do prontuário dos pacientes, considerando-se: sexo, idade, grau de escolaridade, naturalidade do paciente, zona de moradia, grau de escolaridade (classificados em oito grupos) Para obtenção das informações clínicas utilizou-se livro de registro relativo ao período de março de 2000 a março de 2002. Dessa forma, 170 pacientes foram avaliados considerando-se as seguintes variáveis: origem da amostra clínica (ambulatório e enfermarias), Positividade dos cultivos versus população–alvo; Positividade dos cultivos das amostras clínicas em relação à origem (ambulatório e enfermarias); cultivos positivos em relação as variáveis, faixa etária e sexo; 23 prevalência do rendimento salarial de acordo com sexo; micoses e agentes etiológicos. 3.4 Análise estatística Os dados referentes aos 170 pacientes foram submetidos a análise estatística descritiva para as variáveis demográficas, clinicas e relativas ao diagnóstico laboratorial. Para toda a análise utilizou-se os seguintes programas, Epi Info 6,0 versão 6.04 D e Microsoft Excel 2002. 24 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos 170 participantes deste estudo, 73% (125) foram do sexo masculino e 27% (45) do sexo feminino (Figura 5). Resultados semelhantes foram observados por Rosatelli et al. (1997) ao examinarem 223 pacientes, entre os quais a maioria (84,7%) pertencia ao sexo masculino e apenas 15,3% ao sexo feminino. Dados sobre epidemia da AIDS, publicados a partir de 1997, mostraram que a razão entre os sexos passou de seis homens registrados com AIDS para cada mulher, entretanto esse panorama vem apresentando modificações nos últimos anos com taxas crescentes entre as mulheres infectadas (FONSECA et al., 2002). Figura 5: Porcentagem dos pacientes portadores de HIV de acordo com o sexo. Embora, nesta pesquisa, tenham sido examinados os prontuários de 170 participantes, 214 amostras clínicas foram submetidas ao diagnóstico micológico. Assim, a análise estatística comprovou que 16,7% dos pacientes necessitaram de investigação por duas ou mais oportunidades. Provavelmente, esse acréscimo do quantitativo de amostras clínicas tenha ocorrido devido à origem das mesmas. 25 Ainda considerando-se esses dados contidos na tabela 6, observou-se que 61,7% das amostras clínicas analisadas foram originadas de pacientes do serviço de ambulatório e 38,3% de enfermaria. A condição hospitalar dos pacientes de enfermaria acrescida da diversificação dos quadros clínicos exigia urgência no estabelecimento de diagnósticos, inclusive do micológico, levando a uma maior necessidade de investigação em um mesmo paciente. Tabela 6: Quantitativo de amostras clínicas analisadas dos 170 pacientes procedentes do ambulatório e enfermaria da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. Origem N % Ambulatório 132 61,7 Enfermaria 82 38,3 Total 214 100,00 As idades dos pacientes foram agrupadas em intervalos de 10 anos e distribuídas por sexo para facilitar o processo de análise. A tabela 7 mostra que houve predominância (35,2%) na faixa etária de 31 a 40 anos, nos indivíduos do sexo masculino e em relação ao sexo feminino, 15,3% pertenceram a faixa etária 21 a 30 anos. Fonseca et al., (2002), cita que a epidemia de AIDS que em décadas passadas apresentou uma proporção de seis homens para uma mulher e que, nos últimos anos esse perfil evolui passando a ser dois homens para cada mulher infectada. De acordo com Bastos et al. (2000), as mulheres constituem um segmento populacional mais vulnerável à infecção pelo HIV por razões biológicas, devido às 26 "regras" de pareamento entre os gêneros, homens mais velhos interagindo com mulheres mais jovens. Tabela 7: Distribuição segundo faixa etária e sexo dos 170 pacientes portadores do vírus HIV. Sexo Total Faixa etária Masculino Feminino (anos) 0 a 10 11 a 20 21 a 30 31 a 40 41 a 50 > 50 anos Total N 3 1 32 60 20 9 125 % 1,8 0,6 18,8 35,2 11,8 5,3 73,5 N 3 0 26 10 5 1 45 % 1,8 0,0 15,3 5,9 2,9 0,6 26,5 N % 6 1 58 70 25 10 170 3,6 0,6 34,1 41,1 14,7 5,9 100,0 A figura 6 apresenta os dados relativos à procedência ou naturalidade do pacientes examinados na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. Esses resultados revelaram que 51% foram procedentes do município de Manaus. Os demais, que corresponderam a 33% procederam de outros municípios do estado do Amazonas, 15% de outros estados da federação e somente um procedeu de outro país. Com relação a variável procedência ou naturalidade notou-se que houve predominância de paciente oriundos do Município de Manaus e o menor quantitativo foi representado por paciente oriundo de outro país. Assim sendo, pode-se inferir que esses resultados estejam associados à proximidade dos pacientes com o Hospital de referência. 27 Outro país 1% Outros Estados da Federação 15% Manaus 51% Outros Municipios do Amazonas 33% Figura 6: Distribuição (%) dos pacientes examinados na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, segundo a procedência ou naturalidade. Considerando-se a zona de moradia, neste estudo 160 indivíduos relataram residência no município de Manaus (Figura 7). Nesse contexto, constatou-se que 35,0% residiam na Zona Sul; 17,5% foram provenientes da Zona Norte; 14,4% da Zona Oeste, 12,5% da Zona Centro–Sul, 11,2% da Zona Centro-Oeste e 9,4% indivíduos da Zona Leste. Observou-se que predominaram pacientes da Zona Sul, localização do Hospital de referência. Esse resultado demonstra a maior abrangência na busca por assistência médica da população residente em áreas próximas a essa casa de saúde. 28 Figura 7: Distribuição (%) dos pacientes segundo zona de residência no município de Manaus - AM. Na figura 8 estão citados os resultados referentes ao grau de escolaridade, dos 170 pacientes avaliados os quais foram classificados nos seguintes grupos: Grupo I, Grupo II, Grupo III, Grupo IV, Grupo V, Grupo VI, Grupo VII e Grupo VIII. De acordo com essa classificação, os dados obtidos revelaram que 35% dos pacientes (Grupo VI) declararam possuir ensino fundamental incompleto e a segunda categoria de maior prevalência (28%) foi a do Grupo III com ensino médio completo. Dessa forma, ficou evidenciado que com relação a variável escolaridade, os dados obtidos estão em concordância com as citações de Fonseca et al. (2002), ou seja, o aumento relativo dos casos de AIDS com menor escolaridade ocorreu desde a década de 90. 29 Figura 8: Distribuição (%) de pacientes em função do grau de escolaridade Nas análises realizadas para investigação de agentes etiológicos a partir de 214 amostras clínicas, oriundas de pacientes provenientes de enfermarias e ambulatório, verificou-se que 61,7% das amostras apresentaram crescimento de fungos enquanto 38,3% (82) foram negativas. Notadamente, a predominância de positividade esteja relacionada com a seleção apropriada do material biológico associado ao imediato processamento para recuperação do agente etiológico das infecções micóticas (KONEMAN, ROBERTS, 1988; FISHER, COOK, 1998; MILLER, 1999). 30 Na figura 9 estão apresentados os resultados referentes à positividade dos cultivos obtidos a partir das amostras clínicas provenientes de coletas realizadas em pacientes no serviço de ambulatório e enfermaria. Dentre as amostras que apresentaram positividade, 69,7% foram provenientes do serviço de ambulatório e 30,3% de enfermarias e, das demais amostras não foram isolados agentes patógenos. Esses resultados constantes da figura 9 estão associados a origem da amostra clinica, provavelmente, devido a influencia de fatores intrínsecos ao paciente e fisiológico do fungo. Com relação a estes fatores, visto que os pacientes em enfermaria são constantemente submetidos à terapia inespecífica, condição que proporciona a alteração fisiológica dos microrganismos, conseqüentemente, dificultando o isolamento do agente etiológico (GRIFFIN, 1994, BROCK et al., 1994). Figura 9: Positividade (%) dos cultivos das amostras clínicas em relação à origem 31 Os métodos laboratoriais empregados no diagnóstico das infecções fúngicas envolvem a detecção do organismo no material biológico, isolamento do patógeno em cultivo (HAY et al., 1998; MILLER, 1999). Assim sendo, das 214 amostras clínicas analisadas micologicamente foram isoladas 132 culturas das quais 74,2% se desenvolveram de amostras coletadas de pacientes do sexo masculino e 25,8% do sexo feminino. A figura 10 mostra a relação entre a positividade dos cultivos e as variáveis sexo e faixa etária. De acordo com os resultados obtidos, a predominância de fungos foi detectada na faixa etária entre 21 a 40 anos, em ambos os sexos. Notadamente, foi evidenciada a maior freqüência de cultivos positivos 64,7%, no sexo feminino, faixa etária 21-30 e 56,2%, no sexo masculino, faixa etária 31-40. De acordo com os resultados, provavelmente, os pacientes estivessem submetidos aos mesmos fatores ambientais, na época em que foram examinados. 70 64,7 Feminino 56,2 Cultivos positivos (%) 60 Masculino 50 40 26,5 30 22,4 17,3 20 10 5,9 3,1 2,9 1 0 0 -10 11-20 21 - 30 31 - 40 41 - 50 >50 Faixa etária Figura 10: Porcentagem de cultivos positivos em relação as variáveis faixa etária e sexo. 32 Para esclarecer os resultados da condição econômica, os dados referentes ao rendimento salarial os pacientes foram classificados em grupos (Tabela 8), sendo que, apenas 155 pacientes forneceram tal informação. Analisando-se os resultados contidos nessa tabela, observou-se que 72,3% pertenciam ao sexo masculino e 27,7% do sexo feminino. Constatou-se que o grupo I foi o que apresentou maior prevalência, 46% e 25,8%, nos sexos masculino e feminino, respectivamente, representando os pacientes de rendimento salarial inferior. Os de maior rendimento salarial, apresentaram menor prevalência e foram classificados no Grupo IV. Esses dados corroboram com Fonseca et al. (2002) ao citarem que a disseminação do vírus HIV afeta progressivamente e mais profundamente as classes menos favorecidas do ponto de vista socioeconômico. Tabela 8: Prevalência do rendimento salarial de acordo com sexo de pacientes portadores do vírus HIV examinados na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas-AM. Grupo Masculino % Feminino % Total % Grupo I 72 46,5 40 25,8 112 72,2 Grupo II 24 15,5 3 1,9 27 17,4 Grupo III 10 6,4 0 0,0 10 6,5 GrupoIV 6 3,9 0 0,0 6 3,9 TOTAL 112 72,3 43 27,7 155 100 Grupo I = 0 -1 salário mínimo; Grupo II = 1,03 – 2,0; Grupo III = 2,01 – 3,33; Grupo IV = 4,58 – 13,3 As micoses causadas por fungos, especialmente, aquelas causadas por leveduras são as mais freqüentes infecções oportunistas em pacientes com AIDS. Além desses fungos, há prevalência de dermatófitos e outros fungos filamentosos, como Histoplasma capsulatum e Aspergillus spp. 33 Na tabela 9 está constando o resultado da identificação dos 132 cultivos. A freqüência dos agentes etiológicos foi diferenciada, observando-se a presença de Candida spp. (38,8%); Trichophyton spp (32,6%); Cryptococcus neoformans (18,2%); Histoplasma capsulatum (6,8%); Microsporum spp. (2,2%); Epidermophyton floccosum (0,7%) e Aspergillus spp. (0,7%). Entre esses, houve predominância das leveduras, Candida spp. e Cryptococcus neoformans (57,0 %) e dos dermatófitos (35,5%). Em menor porcentagem (7,5%) foi identificado o parasitismo por outros fungos filamentosos (H. capsulatum e Aspergillus sp.). Esses achados estão em concordância com outros trabalhos realizados com o mesmo grupo de pacientes (AMPEL, 1996; NEGRONI et al., 2001; ROMANO et al., 2000; HAGE et al., 2002). A predominancia de Candida spp., nos pacientes analisados pode ser entendida pelo fato, dessas leveduras constituirem a microbiota normal da orofaringe em 20 a 50% da população adulta sadia. Nos pacientes com AIDS, essas taxas alcançam cifras de 24 a 87%, em virtude da progressiva deterioração da função imunológica e da elevação da carga viral, que tornam esses pacientes mais susceptíveis ao aumento da colonização oral (MILAN, 2001). Tabela 9: Prevalência dos agentes etiológicos de micoses superficiais e profundas de pacientes examinados na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas-AM. Identificação dos cultivos N % Leveduras Candida spp. 51 38,8 Criptococcus neoformans 24 18,2 Sub-Total 75 57,0 Dermatófito Trichophyton spp. 43 32,6 Microsporum spp. 3 2,2 Epidermophyton floccosum 1 0,7 Sub-Total 47 35,5 Outros fungos filamentosos Histoplasma capsulatum 9 6,8 Aspergillus spp. 1 0,7 Sub-Total 10 7,5 Total 132 100,0 34 Os fungos causam um grupo heterogêneo de enfermidades, tanto por suas manifestações clínicas quanto pela evolução dos métodos de diagnósticos que são exigidos para sua confirmação (NEGRONI et al., 2001). Os dados da figura 11 demonstram as doenças fúngicas identificadas nos pacientes portadores do vírus HIV. Entre essas patologias predominaram Candidíase (38,8%) e Dermatofitoses (35,5%). Foram identificadas também Criptococose (18,2%), Histoplasmose (6,8%) e Aspergilose (0,7%). Os referidos achados estão em concordância com os citados por Ampel (1996); Negroni et al. (2001); Romano et al. (2000); Hage et al. (2002). Observou-se que as patologias fungicas diagnosticadas nos pacientes da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas foram micoses oportunistas (candidíase, criptococose, histoplasmose e aspergilose) e dermatofitoses, cujos agentes etiológicos são parasitas verdadeiros, classificados no Filo Deuteromycota. Figura 11: Doenças fúngicas associadas a pacientes portadores do vírus HIV examinados na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas-AM. 35 5. CONCLUSÃO Os resultados obtidos conduziram as seguintes conclusões: 1 Os pacientes atendidos no Laboratório de Micologia da FMTAM, portadores de HIV, com suspeita de apresentarem doenças fúngicas se diferenciam quanto as seguintes variáveis demográficas e socioeconômicas: 1.1 Os pacientes que mais buscam atendimento clínico laboratorial são: • Encaminhados pelo serviço medico ambulatorial; • Predominantemente os do sexo masculino; • Da faixa etária de 21 a 40 anos; • Naturais do município de Manaus-AM; • Os procedentes dos bairros da Zona Sul; • Com ensino fundamental incompleto; • Os de baixa renda salarial; 2) O diagnóstico laboratorial micológico proporciona: • Estabelecimento da etiologia das doenças por fungos; • A identificação dos fungos parasitas e oportunistas; 3) Candida spp., Cryptococcus neoformans e os dermatófitos são os agentes etiógicos mais associados a doenças fúngicas e Histoplasma capsulatum e Aspergillus sp. são os de menor freqüência. 36 5) Candídases, Dermatofitoses, Criptococoses são as doenças fúngicas mais freqüentes. 37 6. 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