Patogenicidade de isolados de Pyrenochaeta terrestris, agente causal da “raiz rosada” em cebola. Eduardo Henrique de A. Maranhão 1, J. A. Navas-Cortés 2 e R. M. Jiménez-Diaz 2. 1 2 Estação Experimental Dr. Luiz Jorge da Gama Wanderley-IPA, Vitoria de Santo Antão-PE -Brasil: Departamento de Protección de Cultivos, Dinstituto de Agricultura Sostenible, Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC). Apdo. 4080, Córdoba-España RESUMO A raiz rosada causada pelo fungo Pyrenochaeta terrestris é uma das doenças mais importantes da cebola (Allium cepa L.) em regiões de clima tropical e subtropical. Com objetivo de observar o grau diferencial de patogenecidade, foram avaliados os seguintes isolados: Pt-9901 e Pt-9902 (Espanha), Pt-9905 (EE.UU.) e Pt-9908 (Brasil). Foi utilizado a cv. Texas Early Grano 502, o inóculo consistiu de micélio do fungo liofilizado e as inoculações foram feitas pelo método de cultivo em bandeja, contendo 84 plantas/bandeja/isolado e a avaliação foi realizada aos 45 dias do plantio. De modo geral os isolados Pt-9908 e Pt-9905 foram mais patogênicos que os isolados Pt-9901 e Pt-9902 provenientes da Espanha. O peso seco médio das plântulas foi reduzido em até 97% devido às infecções causadas pelos isolados Pt-9908 e Pt-9905, e em 67 e 54,6% pelos isolados Pt-9901 e Pt-9902, respectivamente. A incidência de Raiz Rosada foi de 100% em plântulas inoculadas com os isolados Pt-9908 e Pt-9905 e de 94% com o isolado Pt9901 e decresceu significativamente em plântulas inoculadas com o isolados Pt-9902 (53,6%). Os resultados deste trabalho indicam que os isolados de P. terrestris provenientes de áreas onde a doença é especialmente severa são mais virulentos que aqueles provenientes de áreas de clima Mediterrâneo onde a doença é considerada de menor importância. Palavras-chave: Allium cepa, doença, variabilidade patogênica, fungo de solo. ABSTRACT Pathogenicity of isolates of Pyrenochaeta terrestris, the causal agent of the onion Pink Root. Pink Root caused by the soilborne fungus Pyrenochaeta terrestris is a devastating disease of onion crops in warm climates worldwide, although this disease is especially severe in tropical or subtropical environments. Four P. terrestris isolates from Pt-9901 and Pt-9902 (Spain), Pt-9905 (EE.UU.) and Pt-9908 (Brazil) were used in this study. Inoculum consisted on mycelia fragments and germinated seeds, selected for uniformity, were sown in plastic trays (84 seeds per tray). Onion cv. Texas Early Grano 502, was used. Disease reactions were assessed by the incidence and severity of pink root discoloration on each individual secondary root, 45 days after sown. Overall, isolates Pt-9908 and Pt-9905 were more virulent than isolates Pt-9901 and Pt-9902 from Spain. Compared to the non-infected control, onion dry weight was reduced by at least 97% by infections with isolates Pt-9908 and Pt-9905, and by 67 and 54,6% by isolates Pt-9901 and Pt-9902, respectively. Incidence of Pink root was 100% for seedlings inoculated with isolates Pt-9908 and Pt9905 of 94% and 94% with the isolate Pt-9901 but decreased significantly for plants inoculated with isolate Pt-9902 (53,6%). Results from the present study indicates that P. terrestris isolates from areas were the disease is especially severe are more virulent than those from a Mediterranean climate, where the disease is considered of minor importance. Keywords: Alium cepa, disease, pathogenic variability, soilborne fungi. A raiz rosada causada por Pyrenochaeta terrestris (Hensen) Gorenz, Walker e Larson é uma das doenças mais importantes da cebola em regiões de clima quente. Ocorre praticamente em todo o mundo e é especialmente severa em climas tropicais e subtropicais, podendo também adquirir grande importância em latitudes mas baixas como a Cuenca Mediterránea Ocidental (Messiaen et al., 1995; Sumner, 1995). A manifestação da doença pode ocorrer em todos os estágios de desenvolvimento da planta, sendo as perdas mais severas na fase de plântula (Gorenz et al., 1949; Nunes e Kimati, 1997). A capacidade patogênica de P. terrestris está associada a vários fatores, como por exemplo a patogenecidade intrínseca do isolado. Gorenz et al (1949) demonstraram os distintos níveis de patogenecidade apresentado pelos isolados testados em seu trabalho. A temperatura do substrato tem grande influência sobre a patogenecidade. Estudos realizados por Hansen (1929), Gorenz et al (1949) e Kehr et al (1962) mostraram que os níveis mais elevados de patogenecidade ocorrem em temperaturas compreendidas entre 25º e 28º C. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a patogenecidade de isolados de P. terrestris, em cebola, proveniente de diferentes regiões geográficas. MATERIAL E MÉTODOS Para avaliar a patogenicidade de P. terrestris foram testados os seguintes isolados do patógeno com suas respectivas procedências: Pt-9901 e Pt-9902 (Espanha), Pt-9905 (EE.UU.) e Pt-9908 (Região Nordeste do Brasil). Foi utilizada a cultivar de cebola Texas Early Grano 502 por sua reação de susceptibilidade à raiz rosada reportada em diferentes investigações (Nichols et al., 1960; Noda, 1981). O inóculo consistiu de micélio do fungo liofilizado obtido de cultivos monoconídicos sendo utilizado uma densidade de inóculo de 100 unidades formadoras de colônias (ufc) por grama de solo. O substrato foi composto por duas partes de limo para uma parte de turba devidamente esterilizada. A inoculação foi feita pelo método de cultivo em bandejas (43 cm x 28 cm x 8 cm) com o solo infestado onde cada isolado correspondeu a uma bandeja com capacidade para 5,5 kg de solo, sendo semeada 84 sementes espaçadas de 4 cm x 3 cm. As plantas cresceram em câmara de cultivo com ambiente controlado, com um fotoperíodo de 12 horas dia-1 e temperatura e umidade relativa diurna de 22º C e 60% e noturna de 26º C e 70%. A avaliação foi realizada aos 45 dias do plantio, sendo determinada para cada planta as seguintes variáveis: altura da planta, comprimento das raízes, número de raízes com sintomas, número de raízes, numero de folhas, intensidade dos sintomas (escala de notas), peso fresco e seco da parte aérea, peso fresco e seco das raízes. A escala de notas foi de 0 a 5, considerando-se a média da notas mínima e máxima, onde: 0 = raízes sem sintomas; 1 = raízes com sintomas rosa claro; 2 = raízes com sintomas rosa; 3 = raízes com sintomas rosa escuro; 4 = raízes necrosadas; 5 = plantas mortas. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com vários autores, existe grande variabilidade na patogenecidade de isolados de P. terrestris. Gorenz et al., (1949) observaram que isolados de P .terrestris provenientes de 14 localidades distintas apresentaram ampla variação em sua capacidade de provocar doença. Kulik e Tims (1960) avaliaram 91 isolados obtidos de um mesmo cultivo de cebola e verificaram uma grande variação na capacidade patogenica dos isolados. Os isolados utilizados neste trabalho, provenientes da Espanha, EE.UU. e da Região Nordeste do Brasil, apresentaram diferenças estatísticas significativas na patogenecidade sobre a cultivar de cebola Texas Early Grano 502 em todos os parâmetros avaliados. Os isolados mais patogênicos foram Pt-9905 e Pt-9908, provenientes de regiões produtoras de cebola do estado da Califórnia - EE.UU. e da Região Nordeste do Brasil, respectivamente, onde as condições ambientais são altamente favoráveis ao patógeno, provocando mas de 80% de mortalidade . A incidência de raiz rosada foi de 100% em plântulas inoculadas com os isolados Pt-9908 e Pt-9905 e de 94% com o isolado Pt-9901 e decresceu significativamente em plântulas inoculadas com o isolados Pt-9902 (53,6%). Com relação aos parâmetros peso seco da parte aérea e das raízes, os isolados Pt-9905 e Pt-9908 causaram mais de 90% de redução, enquanto os isolados Pt-9901 e Pt-9902 provocaram reduções de 65,79 e 49,74% na parte aérea e de 68,34 e 59,37% nas raízes, respectivamente, em relação as plantas não inoculadas. Comportamento semelhante foi verificado quando se analisou os dados referentes a altura das plantas e comprimento das raízes. Os resultados deste trabalho indicam que os isolados de P. terrestris provenientes de áreas onde a doença é especialmente severa são mais patogênicos que aqueles provenientes de áreas de clima Mediterrâneo onde a doença é considerada de menor importância. Provavelmente, os elevados níveis de patogenecidade apresentado pelos isolados provenientes dos EE.UU. e da Região Nordeste do Brasil, quando comparados com os isolados da Espanha, se deve a fatores intrínsecos de cada um, principalmente, a maior adaptação destes isolados em sua capacidade patogênica associada as condições ambientais, favoráveis a eles, em que foi desenvolvido o presente trabalho. LITERATURA CITADA GORENZ, A. M. ; LARSON, R. H. y WALKER, J. C.. Factors affecting pathogenicity of pink root fungus of onions. Journal of Agricultural Research 78: 1-18, 1949. HANSEN, H. N.. Etiology of the pink-root disease of onions. Phytopathology 19: 691-704, 1929. KEHR, A. E., O'BRIEN, M. J., y DAVIS, E. W. 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In: Kimati, H. , Amorim, L. , Bergamin, Filho, A. , Camargo, L. E. A. , Rezende, J.A.M. (Eds.) Manual de Fitopatologia: Doenças das Plantas Cultivadas. 3 ed. Agronômic Ceres, 1997. 779 p. SUMNER, D.R. Pink root. Pages 12-13 in: Compendium of onion and garlic diseases. H.F. Schwartz and S.K. Mohan, eds. APS Press, St. Paul, Minnesota, USA. 1995.