UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO PROGRAMA DE MESTRADO EM FISIOTERAPIA DIEGO PAIVA DE AZEVEDO CINÉTICA DA RECUPERAÇÃO DA OXIGENAÇÃO MUSCULAR PÓS ESTIMUALAÇÃO ELÉTRICA NEUROMUSCULAR EM PACIENTES COM DPOC SÃO PAULO 2012 DIEGO PAIVA DE AZEVEDO CINÉTICA DA RECUPERAÇÃO DA OXIGENAÇÃO MUSCULAR PÓS ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA NEUROMUSCULAR EM PACIENTES COM DPOC Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Mestrado em Fisioterapia da Universidade da Cidade de São Paulo, como requisito para obtenção do título de Mestre, sob a orientação da Profª Drª. Luciana Dias Chiavegato. SÃO PAULO 2012 CINÉTICA DA RECUPERAÇÃO DA OXIGENAÇÃO MUSCULAR PÓS ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA NEUROMUSCULAR EM PACIENTES COM DPOC Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Mestrado em Fisioterapia da Universidade da Cidade de São Paulo, como requisito para obtenção do título de Mestre, sob a orientação da Profª Drª. Luciana Dias Chiavegato. Área de concentração: Avaliação, Intervenção e Prevenção em Fisioterapia Data da defesa: 18 de dezembro de 2012 Resultado: ____________________________ BANCA EXAMINADORA: Profª Dra. Luciana Dias Chiavegato______________________________________ Universidade Cidade de São Paulo Profª Dra. Ana Cristina Gimenez_____________________________________________ Universidade Federal de São Paulo Prof. Dr. Cesar Ferreira Amorim__________________________________________ Universidade Cidade de São Paulo AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, Pai de infinita bondade e compaixão, por sempre estar ao meu lado em todas as etapas de realização deste trabalho, me dando forças para concluí-lo. Aos meu pais, Ângela e Edilson que nunca mediram esforços para a minha educação, mesmo quando precisei me separar do aconchego de minha casa para dar continuidade ao meu crescimento profissional. E por estarem sempre presentes em pensamento positivo e de vez em quando dando um pulinho em Sampa, para me darem força e não me deixarem desistir dos meus sonhos e objetivos, mesmo que às vezes os mesmos pareçam impossíveis. A vocês só posso agradecer todo o carinho, amor e dedicação que sempre tiveram comigo. Sou muito grato a Deus por ter me concedido a benção de ser filho de vocês. À minha amiga-irmã, Flávia Manfredi por sempre estar do meu lado em todos os momentos de alegria, tristeza, apreensão, incerteza que esse trabalho nos proporcionou. Foram dois anos árduos, de muito trabalho, noites mal dormidas, mas sobrevivemos. E Deus foi muito generoso comigo, por te colocar ao meu lado como fiel escudeira durante esses dois anos, para dividirmos o peso do conhecimento, e nossa como pesa (rsrs). Te agradeço do fundo do coração por me aturares, sei que sou bastante orgulhoso, e dificilmente me abro, mesmo com os mais próximos, mas quero que saibas que és fundamental na minha vida, mesmo quando não atendo ou retorno as tuas ligações. Obrigado por todos os momentos de alegria, descontração sem eles a realização desse trabalho seria impossível. E só pra finalizar: Tenho muito orgulho de ti, Assis!!! À minha orientadora, Luciana Chiavegato por me aceitar como seu aluno e por acreditar em mim e nesse trabalho durante esses dois anos, principalmente nesse finzinho quando comecei a me sentir meio descrente. Obrigado por me mostrar o caminho, por estar sempre disponível para esclarecer minhas constantes dúvidas e obrigado também pelos puxões de orelha (rsrs). À minha namorada, Letícia pelo apoio, compreensão e paciência durante a realização desse trabalho. Muito obrigado por aturar meu mau-humor e sempre me fazer olhar o lado positivo das coisas. Agradeço a Deus por ter te colocado na minha vida. Te amo. Ao meu coorientador, Cesar Amorim pela árdua e complexa tarefa de desenvolver as rotinas para análise da recuperação da oxigenação muscular na plataforma Matlab. Valeu, Bro!! Aos pacientes que aceitaram participar desse trabalho pela sua disponibilidade, confiança e atenção. Aos membros do SEFICE, por terem me acolhido nesses dois anos e compartilharem o seu extenso conhecimento sobre a Fisiologia Clínica do Exercício, sempre me incentivando a questionar e procurar respostas. Implantando assim a semente da pesquisa clínica. A vocês, meu sincero obrigado. Ao Professor Neder por permitir que coletássemos os dados no SEFICE e por sempre esclarecer a melhor forma de interpretar e conduzir os achados desse estudo. Ao Professor Wladimir Medeiros por sua contribuição imensurável em todas as etapas desse estudo. Obrigado por nos ajudar nos momentos decisivos, sempre de forma otimista. E aos meus amigos que sempre torceram e me apoiaram para a conclusão dessa etapa. SUMÁRIO Lista de Figuras......................................................................................................... 07 Lista de Tabelas........................................................................................................ 08 Lista de Abreviaturas................................................................................................ 09 Prefácio..................................................................................................................... 11 Resumo..................................................................................................................... 12 Abstract.................................................................................................................... 13 CAPÍTULO 1.......................................................................................................... 15 1.1. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica........................................................... 15 1.2. Disfunção Endotelial em Pacientes com DPOC............................................ 16 1.3. Depleção Nutricional em Pacientes com DPOC........................................... 17 1.4. Síndrome da Disfunção Muscular Periférica em Pacientes com DPOC....... 18 1.5. Estimulação Elétrica Neuromuscular em Pacientes com DPOC................... 19 1.6. Espectroscopia por Raios Quasi Infravermelhos........................................... 22 1.7. Pergunta Do Estudo....................................................................................... 24 1.8. Hipótese......................................................................................................... 24 1.9. Justificativa Do Estudo.................................................................................. 24 1.10. Objetivo....................................................................................................... 25 1.11. Referências.................................................................................................. 26 CAPÍTULO 2.......................................................................................................... 33 2.1. Resumo.......................................................................................................... 33 2.2. Introdução...................................................................................................... 35 2.3. Objetivo......................................................................................................... 36 2.4. Métodos......................................................................................................... 36 2.5. Resultados..................................................................................................... 42 2.6. Discussão....................................................................................................... 46 2.7. Conclusão...................................................................................................... 51 2.8. Referências.................................................................................................... 52 CAPÍTULO 3........................................................................................................... 54 Considerações Finais............................................................................................. 54 ANEXOS............................................................................................................... 55 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Fluxograma do estudo__________________________________ 36 Figura 2. Protocolo de EENM____________________________________38 Figura 3. Tempo de recuperação da oxigenação muscular ao longo das séries de 40mA e 50mA no Grupo DPOC___________________________________43 Figura 4. Tempo de recuperação da oxigenação muscular ao longo das séries de 40mA e 50mA no Grupo Controle_________________________________43 Figura 5. Comparação das médias obtidas nas três séries de 40mA e 50mA no Grupo DPOC e no Grupo Controle ________________________________44 7 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Dados demográficos, função pulmonar e nível de atividade física de 15 pacientes com DPOC e 10 sujeitos controle submetidos à eletroestimulação em diferentes intensidades (40mA e 50mA)___________________________________41 Tabela 2- Dados da composição corporal de 15 pacientes DPOC e 10 sujeitos controle avaliados pela DEXA_________________________________________________42 Tabela 3- Tempo de recuperação da oxigenação muscular entre os grupos DPOC e controle submetidos à séries de 40 e 50 mA. ______________________________44 8 LISTA DE ABREVIATURAS ADP Adenosina difosfato ATP Adenosina trifosfato Cm Centímetros DEXA DPOC Absortometria por raios x de dupla Energia Doença pulmonar obstrutiva crônica EENM Estimulação elétrica neuromuscular FAD+ Flavina adenina dinucleotídeo HbO2 Oxihemoglobina HHb Deoxihemoglobina Hz Hertz IC Insuficiência cardíaca IL-6 Interleucina 6 IMC Índice de massa corpórea NAD+ Nicotinamida adenina dinucleotídeo NIRS Espectroscopia infravermelhos NIRSCWS Espectroscopia por raios quasi infravermelhos de ondas contínuas NIRSSRS Espectroscopia por raios infravermelhos espacial resolvida quasi NIRSTRS Espectroscopia por raios infravermelhos tempo resolvida quasi mA Miliampere MB Mioglobina MMII Membros inferiores PCR Fosfocreatina Pi Fosfato inorgânico por raios quasi 9 31 Ressonância fosfato 31 QHAF Questionário habitual de atividade física QVO2 Consumo muscular de oxigênio SDMP Síndrome periférica TON On time TOFF Off time t½ Tempo de recuperação da oxigenação muscular UM’s Unidades motoras µm/s Micrômetros por segundo VEF1 Volume expiratório forçado no primeiro segundo P-MRS nuclear da magnética disfunção com muscular 10 PREFÁCIO Esta dissertação está apresentada no formato híbrido proposto pelo Programa Strictu Sensu de Mestrado em Fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), sendo constituída por três capítulos - O primeiro capítulo aborda uma revisão da literatura a respeito dos principais tópicos que norteiam o objeto de estudo desse trabalho: a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), Disfunção Endotelial, Síndrome da Disfunção Musculoesquelética (SDMP), Estimulação Elétrica Neuromuscular (EENM) e a Espectroscopia por Raios Quasi Infravermelhos (NIRS). Além de salientar o uso do tempo de recuperação da oxigenação muscular (t½) como um índice da capacidade oxidativa muscular e de como a EENM pode interferir nesse tempo de reoxigenação. Compreende também a justificativa e o objetivo do estudo. O segundo capítulo compreende o artigo “Cinética de recuperação da oxigenação muscular em pacientes pós estimulação elétrica neuromuscular em pacientes com DPOC", resultado desse trabalho, sendo dividido em introdução, métodos, resultados, discussão e referências bibliográficas. Este artigo será submetido para a revista Clinical Physiology and Functional Imaging. No terceiro capítulo encontram-se as considerações finais, apontando as principais implicações dos achados desse estudo, bem como suas limitações e sugestões para as futuras pesquisas. Por fim, está disposto em anexo o modelo do Termo de Consentimento Livre Esclarecido que foi assinado pelos participantes da pesquisa. 11 RESUMO Contextualização: As contrações desencadeadas pelos estímulos elétricos conduzem ao recrutamento inicial das fibras glicolíticas (fibras tipo II), as quais se tornam ácidas mais rapidamente, podendo resultar em fadiga muscular precoce durante a EENM (pH reduzido, acúmulo de lactato, aumento da depleção da fosfocreatina). Em decorrência desses efeitos indesejáveis da EENM, o tempo de recuperação da oxigenação muscular (t½ segundos), pode ser utilizado como instrumento de análise para verificar a influência da EENM no processo de reoxigenação tecidual, uma vez que se trata de um índice de capacidade oxidativa. Objetivo: Analisar o tempo de recuperação da oxigenação muscular (t½ segundos) após diferentes intensidades de eletroestimulação em pacientes com DPOC comparados com indivíduos saudáveis, a fim de analisar o efeito da estimulação elétrica neuromuscular na reoxigenação tecidual muscular. Métodos: O músculo quadríceps (vasto lateral e reto femoral) de quinze pacientes do sexo masculino com DPOC (GOLD moderada-grave:VEF1= 46,2 ± 18,1% do predito) e dez indivíduos saudáveis, foi eletricamente estimulado com os seguintes parâmetros: corrente pulsada bifásica simétrica e retangular, f 50Hz, pulso 400 µS, duty cycle: 20” on /60” off, com diferentes intensidades de 20mA, 30mA, 40mA e 50mA (Dualpex 961 Quark®, Brasil). A análise da cinética da recuperação da deoxihemoglobina (HHb) foi realizada pela espectroscopia de raios quasi infravermelhos (NIRS) (Oxiplex TSTM, Model 99200, Champaign, USA), pela mensuração do t½, o qual reflete o equilíbrio entre a oferta e a demanda de oxigênio no músculo. Resultados: Os pacientes com DPOC apresentaram valores médios de idade de: 65,20 + 6,14 anos; massa magra: 7, 98 + 0,69 g; índice de massa corpórea (IMC): 26, 12 02 + 2,89 kg/m2; questionário habitual de atividade física (QHAF): 6,97 + 0,99 pontos; e tempo de recuperação da oxigenação muscular mais lento (t½ segundos) 17,68 segundos para a série com intensidade de 40mA e 15, 38 segundos para a série com intensidade de 50mA; enquanto que os sujeitos saudáveis apresentaram valores médios de idade de: 65, 20 + 4,07 anos; massa magra:8,94 + 1,02 g; IMC: 26,14 + 4,41 kg/m2; QHAF: 7,92 + 1,03 pontos; e t½: 11, 35 seg + 7,23 seg para as séries de 40mA e 12,13 + 5,10 seg para as séries de 50mA. Conclusão: Os pacientes com DPOC apresentaram um tempo de recuperação da oxigenação muscular mais lento (t½ segundos) após serem submetidos ao mesmo nível de intensidade de estimulação elétrica quando comparados aos indivíduos controle. 13 ABSTRACT Background: The contractions triggered by electrical stimuli lead to the initial recruitment of glycolytic fibers (type II fibers), which become acidic more quickly, which can result in premature muscle fatigue during NMES (low pH, lactate accumulation, increased depletion phosphocreatine). Due to these adverse effects of NMES recovery time of muscle oxygenation (t½ seconds), can be used as an analytical tool to verify the influence of NMES in the process of reoxygenation tissue, since this is an index of oxidative capacity. Objective: To analyze the recovery time of muscle oxygenation (t ½ seconds) after different intensities of electrical stimulation in patients with COPD compared with healthy subjects in order to examine the effect of neuromuscular electrical stimulation in the muscle tissue reoxygenation. Methods: The quadriceps muscle (vastus lateralis and rectus femoris) fifteen male patients with COPD (GOLD moderate-severe: FEV1 = 46.2 ± 18.1% of predicted) and ten healthy subjects were stimulated electrically with the following parameters: current and pulsed biphasic symmetric rectangular f 50Hz, 400 mS pulse, duty cycle: 20 "on / 60" off, with different intensities of 20mA, 30mA, 40mA and 50mA (Dualpex 961 Quark ®, Brazil). The analysis of the kinetics of recovery of deoxyhemoglobin (HHb) was performed by near-infrared spectroscopy (NIRS) (Oxiplex TSTM, Model 99200, Champaign, USA), by measuring the t ½, which reflects the balance between supply and demand oxygen in the muscle. Results: Patients with COPD had a mean age: 65.20 + 6.14 years; less lean mass: 7, 98 + 0.69 Kg; lowest body mass index (BMI): 26, 02 + 2.89 kg/m2; lowest score on the questionnaire of habitual physical activity (QHAF): 6.97 + 0.99 points, and recovery time of muscle oxygenation slower (t ½ seconds) 17.68 seconds for the series with an intensity of 40mA, and 15, 38 seconds for the series with an intensity of 50mA, while healthy subjects had a mean age: 65, 20 + 4,07 years; lean mass: 8,94 + 1,02 Kg; IMC: 26,14 + 4,41 kg/m2; QHAF: 7,92 + 1,03 points; and t½: 11, 35 seg + 7,23 seconds for the series with intensity and 40mA, and 12,13 + 5,10 seconds for the series with an intensity of 50mA. Conclusion: Patients with COPD showed a recovery time of muscle oxygenation slower (t ½ seconds) after being subjected to the same level of intensity electrical stimulation when compared to control subjects. 14 CAPÍTULO 1 1- CONTEXTUALIZAÇÃO 1.1. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é caracterizada pela limitação ao fluxo aéreo, não totalmente reversível, geralmente progressiva e associada à resposta inflamatória dos pulmões a partículas ou gases nocivos, sendo o tabagismo a causa principal(1). Essa doença é uma das principais causas de morte no mundo, gera custos elevados para a promoção da saúde e impõe um significante quadro de incapacidade e diminuição do nível de qualidade vida. O aumento da prevalência e do seu impacto está previsto para as próximas décadas, devido a frequente exposição aos fatores de risco (tabagismo e poluição) e ao envelhecimento da população mundial(2). De acordo com dados do Ministério da Saúde (DATASUS), a DPOC foi a quinta maior causa de internação no sistema público de saúde brasileiro, em indivíduos com faixa etária maior que 40 anos, com 196.698 internações em 2003, e um gasto aproximado de 72 milhões de reais, colocando-a como um das principais doenças consumidoras de recursos(3). Em relação ao acometimento primário da DPOC, ocorrem alterações nas vias aéreas proximais, periféricas, parênquima e vascularização pulmonar. Somado a essas alterações há um quadro de inflamação crônica sistêmica, com aumento do número de células inflamatórias específicas em diferentes áreas do pulmão. Geralmente esse quadro de inflamação aumenta com o agravamento da doença e persiste mesmo com a cessação do ato de fumar(4). O quadro inflamatório sistêmico contribui para o surgimento da síndrome de disfunção musculoesquelética, que corrobora para a baixa capacidade de exercício, especificamente nos pacientes com grau de obstrução ao fluxo aéreo moderado a grave(5). Estudos verificaram que os pacientes com DPOC apresentam perda de peso significativa, fraqueza dos músculos respiratórios, redução da força dos membros superiores e uma evidente diminuição na força e endurance da musculatura periférica de membros inferiores quando comparado com sujeitos controles hígidos(5-9). Essas 15 alterações musculoesqueléticas frequentemente limitam esses indivíduos na realização de atividades de vida diária, relacionadas ao trabalho e lazer(10). 1.2. Disfunção endotelial em pacientes com DPOC A disfunção endotelial desempenha importante papel na patogênese inúmeras doenças, como a aterosclerose, hipertensão, insuficiência cardíaca. Estudos tem demonstrado que os pacientes com DPOC também apresentam comprometimento da função endotelial, estando estreitamente relacionado a gravidade da doença(11,12). O processo de rigidez arterial é um processo complexo e os mecanismos responsáveis por essa alteração ainda não são complemente claros. Estudos tem apontado a susceptibilidade que os pacientes com DPOC apresentam a degradação da elastina(13). O estudo realizado por Lee e colaboradores (2007) que pacientes com enfisema pulmonar apresentam aumento de anticorpos anti-elastina quando comparados a sujeitos que não apresentam enfisema(14). O endotélio apresenta função vital no controle do fluxo sanguíneo, coagulação, fibrinólise e inflamação. Pacientes com DPOC apresentam maior rigidez arterial, dentre outras anormalidades na vascularização sistêmica. O aumento da rigidez arterial ocasiona pressões sistólicas elevadas, alteração da vasomotricidade, aumento da pós carga ventricular esquerda e reduz o tempo de enchimento das artérias coronarianas(15-17). O aumento do processo inflamatório sistêmico, através da ativação de células inflamatórias, aumento dos níveis plasmáticos de citocinas próinflamatórias, hipóxia e estresse oxidativo podem ser as principais causas da disfunção endotelial em pacientes com DPOC(18). A doença pulmonar obstrutiva crônica apresenta caráter multifatorial e importante risco para a aterosclerose. Moro e colaboradores (2008) demonstraram que a função endotelial na DPOC está significativamente prejudicada e intimamente relacionada ao grau de obstrução brônquica(19-21) e acreditamos que esse quadro de disfunção possa estar relacionado com o maior tempo de recuperação da oxigenação muscular nestes pacientes. 16 1.3. Depleção Nutricional em Pacientes com DPOC A depleção nutricional frequentemente ocorre em pacientes com DPOC, sendo um limitador importante da capacidade de exercício. A perda predominante de massa magra envolve uma diminuição do equilíbrio entre as necessidades de energia e o consumo energético. O consumo alimentar desses pacientes pode ser diminuído devido a sintomas como a dispneia, fadiga e saciedade precoce(22). A associação entre a perda de peso e a doença pulmonar obstrutiva crônica tem sido reconhecida desde o século XIX. Nos anos de 1960, Vandenbergh e colaboradores (1967), já haviam relatado que um baixo peso corporal e a diminuição do mesmo estão negativamente associados com a sobrevida nesses pacientes(23, 24). A disfunção anormal dos níveis de citocinas pró-inflamatórias circulantes, ocasionando uma mudança para o estado catabólico e por conseguinte para perda significativa do tecido muscular(25). Citocinas pró-inflamatórias como o fator de necrose tumoral (TNF) e interleucina-6 (IL-6) podem induzir a perda de massa muscular em animais, e existem evidências que suportam as suas influências na caquexia humana, uma vez que níveis sanguíneos elevados de diversas citocinas pró-inflamatórias tem sido relatados em pacientes com doenças crônicas associadas à fraqueza muscular(25). No que diz respeito a avaliação antropométrica, o índice de massa corpórea (IMC) é comumente usado em estudos clínicos, porém o mesmo tem sido criticado uma vez que ignora as diferenças na composição corporal entre os indivíduos(26). Em decorrência dessa limitação, o padrão ouro para a análise da composição corporal, atualmente, são a análise de bioimpedância elétrica e absortometria por raios x de dupla energia (DEXA)(27) . O DEXA originalmente foi concebido para determinar a densitometria óssea, sendo posteriormente utilizado para avaliação da composição corporal. Essa técnica possui a vantagem de ser não invasiva e por estimar a porcentagem de massa gorda utilizando-se de uma mínima taxa de radiação. Além disso, é um modelo tri compartimental, ou seja, permite quantificar a gordura, massa magra e densidade mineral óssea, tanto por segmento corporal quanto por corpo inteiro(28). O estudo realizado por Yoshikawa e colaboradores (2001) verificou uma significante redução da massa muscular em membros inferiores (MMII) de pacientes com DPOC, através do DEXA, sendo um importante preditor da capacidade máxima de exercício dos mesmos(27). 17 1.4. Síndrome da Disfunção Muscular Periférica em pacientes com DPOC A síndrome da disfunção muscular periférica (SDMP) é uma característica incapacitante bem conhecida da DPOC, ocasiona uma redução na força e no endurance muscular(29). O mecanismo relacionado à síndrome SDMP não está totalmente claro, contudo, o mesmo parece estar bastante associado a fatores como descondicionamento, uso prolongado de corticosteroides, níveis inadequados de hormônio do crescimento e testosterona, hipóxia e/ou hipercapnia, senescência, estresse oxidativo e má nutrição(10). Diversos distúrbios metabólicos, especificamente ao nível do músculo quadríceps femoral de pacientes com DPOC tem sido relatados, dentre esses, a mudança da fibra tipo I (oxidativa) para a fibra tipo II (glicolítica) e redução da atividade de enzimas envolvidas no metabolismo energético oxidativo(30). Esses distúrbios foram demonstrados em vários estudos, como no estudo realizado por Malaguti e colaboradores (2006), onde verificou-se uma atividade glicolítica elevada (+34% fosfofrutoquinase), redução da capacidade oxidativa (-29% citrato sintase), diminuição da densidade capilar, diminuição da relação capilar/fibra, redução do metabolismo da fosfocreatina muscular(31). Tais distúrbios corroboraram para a redução do metabolismo anaeróbio alático com predomínio do sistema anaeróbio lático, ocasionando dessa forma lactacidose precoce, e por conseguinte para uma redução da performance muscular nos pacientes com DPOC(31). Os distúrbios descritos acima fazem-se presente na queixa principal dos pacientes com DPOC: a intolerância ao exercício físico, a qual torna esses indivíduos sedentários, caracterizando-se assim o modelo “espiral da dispnéia”, o qual demonstrou que os pacientes com DPOC a fim de evitar a dispnéia, adotam um estilo de vida sedentário, levando a diminuição na capacidade aeróbia dos músculos periféricos (32, 33) metabolismo . Dessa forma o descondicionamento contribui para o aumento do anaeróbio glicolítico, ocasionando lactacidemia precoce com consequente hiperventilação e agravamento da dispnéia(33). A fim de contornar essa intolerância, o uso de programas de reabilitação pulmonar em pacientes com DPOC tem sido largamente difundido e os efeitos positivos na tolerância ao exercício já vem sendo bem documentados. Contudo, os programas de reabilitação padrão que essencialmente incluem o treinamento aeróbico com o uso de bicicleta ou caminhada em esteira são difíceis de 18 serem realizados e pouco aderentes por pacientes com importante quadro de descondicionamento musculoesquelético. Além disso, pacientes com DPOC grave que apresentam falta de ar em repouso, quadro de exacerbações frequentes e perda de massa muscular associada, geralmente são incapazes de realizar um programa de treinamento físico desse porte(34). Sendo assim, a estimulação elétrica neuromuscular (EENM) poderia ser uma terapia alternativa para aumentar o trabalho muscular em pacientes gravemente comprometidos e com baixo peso. Várias investigações desde os anos de 1980 tem demonstrado benefícios musculares em indivíduos saudáveis ou em pacientes com fraqueza muscular associada a atrofia e inervação intacta(34-37). 1.5. Estimulação Elétrica Neuromuscular em Pacientes com DPOC A estimulação elétrica neuromuscular (EENM) incorpora o uso da corrente elétrica para ativar a musculatura esquelética e facilitar a contração, através do uso de eletrodos, sendo que os eletrodos adesivos são mais comumente utilizados. Esses eletrodos criam um campo elétrico que aumenta a permeabilidade da membrana neuromuscular para os íons, desencadeando assim potenciais de ação no músculo estimulado. Esses potenciais de ação são transmitidos por meio da junção neuromuscular, levando a contração das fibras musculares(38, 39). É frequentemente utilizada em situações clínicas a fim de mimetizar a contração voluntária e otimizar a reabilitação da musculatura esquelética em humanos(39). O objetivo geral da EENM é melhorar as propriedades musculares relacionadas ao treinamento como o fluxo sanguíneo intramuscular, geração máxima de força e resistência muscular através de repetitivas contrações(40). Estudos vem demonstrando que a EENM pode ser usada na forma de treinamento seguro e eficaz em pacientes que apresentam déficit funcional musculoesquelético e intolerância ao exercício em decorrência de doenças sistêmicas. Pesquisas realizadas em pacientes com insuficiência cardíaca (IC), demonstraram que a EENM foi bem tolerada e melhorou a capacidade de exercício sem ocasionar aumentos indesejáveis no débito cardíaco (41-45). Outra vantagem é que essa forma de treinamento pode ser realizada em casa e é local ou regional-dependente, sendo assim é esperado que a mesma não induza qualquer evento cardíaco adverso agudo ou remodelação tardia como efeitos colaterais(41). 19 A EENM gera pulsos elétricos bifásicos, não polarizados, que variam geralmente no domínio da frequência, na configuração do pulso, simetria ou assimetria e nas modulações, sendo que suas frequências variam numa faixa de 10 a 100 Hz (Hertz) e em frequências elevadas, como de 2.500 Hz. Em relação ao pulso de corrente, o mesmo varia numa faixa de 5 a 500µm/s (micrômetros por segundo) de duração, sendo que a escolha do tipo de pulso apresenta impactos sobre as características da resposta(46, 47). Alguns estudos como o realizado por Matsunaga e colaboradores (1999) verificaram que estimulações com altas frequências (100 Hz) causaram menor fadiga muscular(48), contudo Guirro em (2000) verificou em seu estudo que a EENM de 2.500 Hz modulada em 50 Hz promoveu maior fadiga muscular quando comparada com EENM com frequência de 50 Hz(49). No que diz respeito ao ganho de força muscular, alguns estudos indicam que é preferível usar os seguintes parâmetros: frequência de pulso de 50 Hz, duração do pulso entre 100 a 400µs, utilizando a máxima intensidade de corrente tolerável(45, 50-52). Com relação ao uso da EENM na DPOC, alguns estudos tem sido relatados. Neder e colaboradores (2002) demonstraram que o treinamento com a EENM, durante o período de seis semanas, cinco vezes por semana no músculo quadríceps femoral em pacientes com diagnóstico de DPOC grave apresentou melhora significativa da função muscular, endurance, tolerância ao exercício, bem como redução da percepção de esforço em MMII e dispnéia(52). Boujeily-Habr e colaboradores (2002) também analisaram os efeitos da EENM na força e na tolerância ao exercício, durante o período de seis semanas, porém três vezes na semana, nos músculos quadríceps e isquiotibiais em pacientes com diagnóstico de DPOC moderado-grave, encontrando como desfecho importante aumento de força muscular e capacidade de exercício em todos os pacientes(53). Da mesma forma, Vivodtzev e colaboradores (2006) avaliaram os efeitos do treinamento com EENM no músculo quadríceps femoral de pacientes com DPOC gravemente incapacitados e com IMC baixo, e verificaram um aumento de força muscular e diminuição da dispnéia nas atividades de vida diária, quando comparada com o programa de Reabilitação Pulmonar isolado(34). Napólis e colaboradores (2007) utilizaram a EENM durante 6 semanas, 5 vezes por semana em pacientes com DPOC com estudo funcional e nutricional 20 preservado, e verificaram um aumento no tempo de endurance do exercício em cicloergômetro(38). Dal Corso e colaboradores (2007) avaliaram as consequências funcionais e estruturais da EENM de alta frequência em pacientes com DPOC moderada, e demonstraram que que a EENM, promoveu discreto grau de hipertrofia nas fibras do tipo II, contudo sem nenhuma alteração na força muscular avaliada pela dinamometria isocinética nesses pacientes(54). Sillen e colaboradores (2008) comparou a respostas metabólicas e ventilatórias durante o treinamento resistido e a EENM do quadríceps femoral de pacientes com DPOC, e demonstrou que essas respostas foram significativamente menor durante as sessões de EENM do que os exercícios resistidos nesses pacientes(55). Embora o treinamento de força através da EENM promova adaptações musculares similares às observadas no treinamento resistido voluntário sem o uso da mesma, vários dos estudos que a avaliaram, demonstraram que a EENM promove uma maior demanda energética quando comparada às contrações voluntárias(56, 57). Outro aspecto abordado por esses estudos é o fato do torque provocado pela EENM ser frequentemente menor quando comparado ao torque voluntário. Durante o uso da EENM o padrão de recrutamento das unidades motoras (UM’s) não pode ser generalizado, contudo está bem estabelecido que o mesmo não obedece a hierarquia de recrutamento na qual primeiramente são recrutadas as unidades motoras menores, para depois ocorrer o recrutamento das unidades motoras maiores (Princípio de Henneman), que ocorre nas contrações voluntárias(57). Estudos que utilizaram a EENM sobre o ventre muscular observaram que somente uma pequena e seletiva porção de fibras que estão sobre a superfície muscular são excitadas e que a estimulação ao longo de um tronco nervoso, particularmente em pequenas intensidades, pode preferencialmente ativar axônios maiores (UM’s tipo II) devido a sua menor resistência a condutância elétrica(45, 57, 58). Desta forma, devido ao recrutamento iniciado pelas fibras glicolíticas, essas se tornam ácidas mais rapidamente que as fibras oxidativas, podendo resultar em fadiga muscular precoce durante a EENM(59). Outra particularidade importante é a ativação sincrônica de todas as unidades motoras, que ocorre nas contrações desencadeadas pela estimulação elétrica, com isso, a interação actina miosina ocorre simultaneamente em todas as fibras recrutadas, ou seja, mais um evento que corrobora para a fadiga muscular precoce(60). 21 Sendo assim, a EENM apresenta algumas desvantagens na sua aplicação, como o desconforto e a fadiga muscular precoce em relação a contração voluntária máxima(61, 62). 1.6. Espectroscopia por Raios Quasi Infravermelhos Um dos métodos utilizados para avaliar a capacidade oxidativa muscular em vivo é a biópsia muscular. Embora esse método seja considerado padrão ouro, o mesmo é bastante incômodo e inconveniente de ser aplicado em várias condições fisiológicas e clínicas devido a sua natureza invasiva(63). Outro método utilizado para avaliar condições fisiológicas e clínicas em estados estáveis e não estáveis é a espectroscopia por ressonância magnética do fósforo 31 (31P-MRS). Esse método tem a vantagem de ser não invasivo e permitir analisar o metabolismo energético muscular, contudo trata-se de um recurso bastante oneroso e necessita de uma manutenção bastante cuidadosa para garantir medidas precisas(63). Devido às desvantagens citadas acima da 31 P-MRS, a espectroscopia, um método não-invasivo e mais acessível vem sendo utilizado desde 1980 para estudar como o exercício afeta o metabolismo na musculatura em humanos é a espectroscopia por raios quasi infravermelhos (NIRS)(63). A NIRS é um método não invasivo, contínuo, que vem sendo utilizado para investigar o metabolismo oxidativo local do músculo em repouso e durante modalidades diferentes de exercício. Possibilita o estudo dos diferenças locais na oferta e consumo muscular de oxigênio (QVO2)(64, 65). Esse método tem sido usado principalmente como uma ferramenta de pesquisa para análise das mudanças dinâmicas na oxihemoglobina e ou/mioglobina (HbO2/Mb), deoxihemoglobina e/ou mioglobina (HHb/HMb) e hemoglobina total (tHb) no cérebro e no músculo(66). Sua fundamentação baseia-se na facilidade com a qual a luz quasi infravermelha atravessa os tecidos biológicos (pele, músculo e osso), através do uso de um espectrofotômetro de ondas quasi infravermelho, o qual gera luz numa faixa de comprimento de onda de 700 a 900 nm, possibilitando assim diferenciar a HbO2/MbO2 e HHb/HMb(64, 67). O padrão do caminho da luz segue uma curva em formato de banana (bananashape), onde a profundidade de penetração no tecido é aproximadamente igual a 22 metade da distância entre a fonte da luz e o detector. O tecido adiposo subcutâneo, influencia consideravelmente a intensidade do sinal NIR, como por exemplo uma espessura de 5 mm de gordura sobrejacente reduz a intensidade do sinal em cerca de 20% , contudo alguns espectrofotômetros já apresentam algoritmos de correção para a influência do tecido adiposo na leitura do sinal NIR(67). Devido as características espectrais serem idênticas não é possível distinguir a Hb da Mb. A soma das concentrações de HbO2 e HHb refletem o montante total da hemoglobina (tHb) e mudanças no mesmo podem ser interpretadas como mudanças no volume de sangue do tecido. A diferença entre a HbO2 e HHb (Hbdiff) é usada para o cálculo do consumo de oxigênio (O2) durante a oclusão arterial(64). A técnica mais comumente usada de emissão de raios quasi infravermelhos é a espectroscopia de raios quasi infravermelhos de ondas contínuas (NIRCWS), baseada na contínua iluminação do tecido, simplesmente mede a atenuação da luz através dos tecidos. Embora essa técnica tenha suas vantagens, a mesma apresenta dificuldades, como o fato de não poder determinar as concentrações absolutas de Hb/Mb devido a quantidades biofísicas não quantificáveis(63, 65). Alguns estudos relataram que diferentes tecnologias da NIRS podem monitorar a saturação absoluta tecidual: espetroscopia por raios quasi infravermelhos tempo-resolvida (NIRTRS), espectroscopia por raios quasi infravermelhos espacialmente resolvida (NIRSRS) contudo a aplicação da NIRTRS durante o exercício torna-se difícil devido ao seu baixo tempo de resolução. Por sua vez, a NIRSRS não calcula de maneira acurada a saturação absoluta, pois usa sinais óticos de áreas diferentes, porém próximas(68, 69). Apesar da NIRCWS possuir um maior tempo de resolução (até 50 Hz) quando comparada a NIRTRS, a primeira só mensura as mudanças relativas da HbO2/ Mb e Hb/Mb, como também o equilíbrio entre o consumo e oferta de oxigênio muscular. Devido a essa limitação, vários estudos investigaram a relação entre a taxa de recuperação pós-exercício da HbO2/Mb e capacidade muscular oxidativa(70, 71). Com o intuito de avaliar o equilíbrio entre a oferta e a demanda de oxigênio muscular pós exercício-físico, alguns estudos utilizaram como ferramenta de análise o tempo de recuperação da oxigenação muscular (t½), que consiste no tempo necessário para se atingir 50% do valor máximo de reoxigenação após o término do exercício(70, 72, 73) . 23 1.7. Pergunta Do Estudo Como se comporta a cinética da recuperação da oxigenação muscular após a eletroestimulação neuromuscular em diferentes intensidades em pacientes portadores de DPOC comparados a indivíduos saudáveis? 1.8. Hipótese Os pacientes com diagnóstico de DPOC apresentarão uma cinética de recuperação da oxigenação muscular mais lenta frente a um estímulo de mesma intensidade (mA) após a eletroestimulação. 1.9. Justificativa Do Estudo Os estudos anteriormente citados demonstram que a EENM pode ser usada na forma de treinamento seguro e eficaz em pacientes que apresentam déficit funcional musculoesquelético e intolerância ao exercício em decorrência de doenças sistêmicas, visando o ganho de força e endurance muscular. Contudo a EENM apresenta algumas desvantagens em sua aplicação, pois as contrações elétricas desencadeadas por essa forma de terapia, conduzem a inversão no padrão de recrutamento do tipo de fibra, onde primeiramente são recrutadas as fibras do tipo II, as quais tornam-se ácidas mais rapidamente que as fibras do tipo I, resultando assim em quadro de fadiga muscular precoce. Nesse contexto, o presente estudo visa analisar se o tempo de recuperação entre os estímulos elétricos é adequado para que ocorra um adequado tempo de reoxigenação muscular, evitando assim um possível efeito somatório para a fadiga muscular desencadeado pela EENM. 24 1.10. Objetivo Avaliar a cinética da reoxigenação da deoxihemoglobina pós eletroestimulação neuromuscular em diferentes intensidades em pacientes portadores de DPOC comparando-os a sujeitos saudáveis. 25 1.11. Referências 1. Rabe KF, Hurd S, Anzueto A, et al. Global strategy for the diagnosis, management, and prevention of chronic obstructive pulmonary disease: GOLD executive summary. Am J Respir Crit Care Med. 2007; 6:532-55. 2. Halbert RJ, Natoli JL, Gano A, et al. Global burden of COPD: systematic review and meta-analysis. Eur Respir J. 2006; 3:523-32. 3. Doenças Respiratórias Crônicas. Cadernos de Atenção Básica n.25 Minsitério da Saúde. 2003. Disponível em: http://www.datasus.gov.br/. Acessado em 12/04/2012. 4. Pauwels RA, Buist AS, Calverley PM, et al. Global strategy for the diagnosis, management, and prevention of chronic obstructive pulmonary disease. Am J Respir Crit Care Med. 2001; 5:1256-76. 5. Silva KR, Marrara KT, Marino DM, et al. 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Alberto Neder2, Luciana Chiavegato1,2 1 Programa de Mestrado em Fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), São Paulo, Brasil; 2Disciplina de Pneumologia, Universidade Federal de São Paulo- Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM), São Paulo, Brasil Correspondência: Autor correspondente: Luciana Dias Chiavegato e-mail: [email protected] Rua Cesário Galeno 448 03071-000; Tatuapé, São Paulo, Brasil. Tel.: +55 11 21781564 2.1. RESUMO Contextualização: As contrações desencadeadas pelos estímulos elétricos conduzem ao recrutamento inicial das fibras glicolíticas (fibras tipo II), as quais se tornam ácidas mais rapidamente, podendo resultar em fadiga muscular precoce durante a EENM (pH reduzido, acúmulo de lactato, aumento da depleção da fosfocreatina). Em decorrência desses possíveis efeitos da EENM, o tempo de recuperação da oxigenação muscular (t½ segundos), pode ser utilizado como instrumento de análise no processo de reoxigenação tecidual, uma vez que se trata de um índice de capacidade oxidativa. Objetivo: Analisar o tempo de recuperação da oxigenação muscular (t½) de pacientes com DPOC, após serem submetidos a diferentes intensidades (mA) de EENM, comparados aos indivíduos saudáveis, a fim de analisar o efeito da estimulação elétrica neuromuscular na reoxigenação tecidual muscular 33 Métodos: Após terem sido investigados quanto à função pulmonar, composição corporal (DEXA) e nível de atividade física (Baecke), o músculo quadríceps (vasto lateral e reto femoral) de 15 pacientes do sexo masculino com DPOC (GOLD moderada-grave:VEF1= 46,2 ± 18,1% do predito) e 10 indivíduos saudáveis, foi eletricamente estimulado com os seguintes parâmetros: corrente pulsada bifásica simétrica e retangular, f 50Hz, pulso 400 µS, duty cycle: 20” on /60” off, com diferentes intensidades de 20mA, 30mA, 40mA e 50mA (Dualpex 961 Quark®, Brasil). A análise da cinética da recuperação da oxigenação muscular foi realizada pela espectroscopia de raios quasi infravermelhos (NIRS) (Oxiplex TSTM, Model 99200, Champaign, USA) com a mensuração do t½. Resultados: Os pacientes com DPOC apresentaram valores médios de idade de: 65,20 + 6,14 anos; massa magra: 7, 98 + 0,69 Kg; índice de massa corpórea (IMC): 26, 02 + 2,89 kg/m2; questionário habitual de atividade física (QHAF): 6,97 + 0,99 pontos; e tempo de recuperação da oxigenação muscular mais lento (t½ segundos) 17,68 segundos para a série com intensidade de 40mA e 15, 38 segundos para a série com intensidade de 50mA; enquanto que os sujeitos saudáveis apresentaram valores médios de idade de: 65, 20 + 4,07 anos; massa magra:8,94 + 1,02 Kg; IMC: 26,14 + 4,41 kg/m2; QHAF: 7,92 + 1,03 pontos; e t½: 11, 35 seg + 7,23 seg para as séries de 40mA e 12,13 + 5,10 seg para as séries de 50mA. Conclusão: Os pacientes com DPOC apresentaram um tempo de recuperação da oxigenação muscular mais lento (t½ segundos) após serem submetidos ao mesmo nível de intensidade de estimulação elétrica quando comparados aos indivíduos saudáveis. Palavras-chave: espectroscopia por raios quasi-infravermelhos; metabolismo oxidativo; reoxigenação; quadríceps, contração isométrica. 34 2.2. Introdução A síndrome da disfunção muscular periférica (SDMP) trata-se de uma condição incapacitante bem conhecida da DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), que ocasiona uma redução na força e no endurance muscular (Gosker et al., 2007). O mecanismo relacionado à síndrome SDMP não está totalmente claro, contudo, parece estar bastante associado a fatores como descondicionamento, uso prolongado de corticosteroides, níveis inadequados de hormônio do crescimento e testosterona, hipóxia e/ou hipercapnia, senescência, estresse oxidativo e má nutrição (Santiworakul et al., 2009). O uso de programas de reabilitação pulmonar em pacientes com DPOC tem sido largamente difundido e os efeitos positivos na tolerância ao exercício já vem sendo bem documentados. Contudo, os programas de reabilitação padrão que essencialmente incluem o treinamento aeróbico com o uso de bicicleta ou caminhada em esteira são difíceis de serem realizados e pouco aderidos por pacientes com importante quadro de descondicionamento musculoesquelético. Além disso, pacientes com DPOC grave que apresentam falta de ar em repouso, quadro de exacerbações frequentes e perda de massa muscular associada, geralmente são incapazes de realizar um programa de treinamento físico desse porte (Vivodtzev et al., 2006). Sendo assim, a estimulação elétrica neuromuscular (EENM) poderia ser uma terapia alternativa para aumentar o trabalho muscular em pacientes gravemente comprometidos. Várias investigações desde os anos de 1980 tem demonstrado benefícios musculares em indivíduos saudáveis ou em pacientes com fraqueza muscular associada a atrofia e inervação intacta (Duchateau & Hainaut, 1988; Magyarosy & Schnizer, 1990; Hainaut & Duchateau, 1992; Vivodtzev et al., 2006). Em contrapartida, as contrações desencadeadas por estímulos elétricos, 35 conduzem ao recrutamento em ordem inversa: primeiramente o recrutamento das fibras musculares do tipo II, menos resistentes à passagem do estímulo elétrico e posteriormente são recrutadas as fibras do tipo I. Desta forma, devido ao recrutamento ser iniciado pelas fibras glicolíticas, essas tornam-se ácidas mais rapidamente que as fibras oxidativas, resultando em fadiga muscular precoce após a EENM. Dessa forma, o tempo de recuperação da oxigenação muscular (t½) pode ser útil, como uma ferramenta de análise para verificar a influência da EENM no processo de reoxigenação muscular pois, como salientado por Chance et al. 1992, o mesmo trata-se de um índice de capacidade oxidativa, refletindo o equilíbrio entre a oferta e o consumo de oxigênio. 2.3. Objetivo Analisar o tempo de recuperação da oxigenação muscular após diferentes intensidades de eletroestimulação em pacientes com DPOC comparados com indivíduos saudáveis, a fim de verificar o efeito da estimulação elétrica neuromuscular na reoxigenação tecidual muscular. 2.4. Métodos Amostra A amostra foi constituída por 15 pacientes com diagnóstico de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), recrutados do ambulatório de DPOC da Universidade Federal de São Paulo e 10 indivíduos saudáveis, recrutados na comunidade local. Foram incluídos pacientes com o diagnóstico clínico funcional de DPOC (GOLD Stage II-III), do sexo masculino, idosos (idade > 60 anos) não envolvidos em 36 programa de reabilitação pulmonar, sedentários e indivíduos saudáveis, pareados por idade, gênero e nível de atividade física. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Brasil e todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre esclarecido. Delineamento do Estudo Este foi um estudo transversal, controlado envolvendo pacientes com diagnóstico de DPOC e controles saudáveis. O protocolo do estudo consistiu de duas visitas. Protocolo do Estudo Em um primeiro momento os participantes realizaram: (1) teste de função pulmonar (espirometria com prova broncodilatadora), (2) antropometria, (3) absortometria por radiação de dupla energia (DEXA), (4) avaliação do nível de atividade física (Questionário de Beacke). E em um segundo momento, os mesmos realizaram o protocolo de estimulação elétrica neuromuscular, concomitantemente com a análise da cinética da recuperação da deoxihemoglobina (Figura 1). Figura 1. Fluxograma do estudo. 37 Medidas Antropometria e Composição Corporal A mensuração da estatura (cm) foi realizada em estadiômetro específico e o peso (kg) utilizando-se a balança mecânica antropométrica da marca Welmy®. A avaliação da composição corporal foi realizada pela absortometria de raios X de dupla energia (DEXA), utilizando-se do aparelho da marca DPX-IQ (Lunar Radiation, Madison, WI), a fonte e o detector foram passados através do corpo permitindo a reconstrução da imagem dos tecidos subjacentes, a quantificação de conteúdo mineral ósseo, da massa gordurosa total e da massa corporal isenta de gordura. Teste de Função Pulmonar A espirometria foi realizada no grupo DPOC através do sistema Clinical Pulmonary Function-Spirometry (CPF-S, Medical Graphics Corporation, St. Paul, Mo. USA). O fluxo aéreo foi medido usando um tubo de Pitot (PreVent PneumotachTM), a calibração de fluxo e volume foi realizada diariamente com uma seringa de três litros, considerando a temperatura, umidade e pressão barométrica local. As medidas foram repetidas quinze minutos após a administração de 400 µg de salbutamol e os indivíduos completaram pelo menos três manobras expiratórias forçadas aceitáveis e reprodutíveis de acordo com as Diretrizes para Função Pulmonar da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). 38 Protocolo de estimulação elétrica neuromuscular Foi utilizado um estimulador elétrico neuromuscular portátil de quatro canais (Dualpex® 961 Sport – Quark Produtos Médicos,Brazil). A corrente foi aplicada através de 4 eletrodos auto adesivos de superfície dispostos longitudinalmente no quadríceps femoral do membro inferior direito, onde o primeiro canal teve dois eletrodos posicionados no ventre muscular do músculo vasto lateral e na porção proximal deste músculo e o segundo canal dois eletrodos posicionados no ventre muscular do músculo vasto medial e outro na porção proximal do reto femoral. Durante a aplicação os participantes permaneceram sentados com os joelhos semifletidos (flexão de joelho de 90°) e foram orientados a não realizarem contração voluntária simultânea a contração desencadeada pelo estímulo elétrico (Figura 1). O protocolo de estimulação elétrica neuromuscular consistiu de três séries com diferentes intensidades de corrente: 20mA, 30mA, 40mA e 50mA, respectivamente. Os parâmetros utilizados foram: (i) corrente pulsada bifásica simétrica e retangular, (ii) frequência de 50Hz, (iii) duty cycle (20” on/ 60”off). Os participantes tiveram um período de repouso de 5 minutos entre cada intensidade. Figura 2. Protocolo de EENM. Análise da cinética da recuperação da oxigenação muscular A análise do tempo de recuperação da oxigenação muscular foi realizada através da espectroscopia por raios quasi infravermelhos (NIRS) através do 39 espectrofotômetro (OxiplexTSTM, Model 99200, Champaign USA) que utiliza-se da técnica de espectroscopia domínio-frequência NIRFD, a qual ilumina os tecidos com uma intensidade modulada de luz, medindo tanto a atenuação, quanto a mudança na fase de luz, sendo capaz de mensurar as concentrações absolutas de HHb e HbO2 , como o valor total de Hb (tHb= HHb+HbO2), uma vez que possibilita a caracterização absoluta das propriedades ópticas teciduais (coeficientes de absorção e dispersão diminuída da luz ) (Ferrari et al., 2011). Inicialmente foi realizada a mensuração da máxima deoxigenação tecidual, através da oclusão do cuff, para a calibração do sistema. Em seguida o optodo foi posicionado longitudinalmente e paralelamente ao eletrodo da EENM, no ventre muscular do músculo vasto lateral direito. A fim de evitar perda de luz quasi infravermelha, o optodo foi fixado na superfície da pele com uma faixa preta. Processamento e análise dos dados da cinética da recuperação da oxigenação muscular Foi desenvolvida uma rotina matemática de processamento e análise dos sinais, para isso foi escolhido à plataforma Matlab versão 7.12.0.635 por ser uma ferramenta confiável e aceita pela comunidade científica, para análise dos sinais no domínio temporal e amplitude. Com essa ferramenta foi possível importar os dados originais coletados no OxiplexTSTM, permitindo selecionar trechos de interesse do sinal através do modo cursor, processar matematicamente e extrair informações com precisão e acurácia desta seleção. As variáveis calculadas nessa seleção foram: instante inicial e final Ti (s) e Tf (s), amplitude máxima, amplitude mínima, média das amplitudes, área em baixa da curva referente à seleção, armazenamento desta seleção 40 em novo arquivo ASCII para futuras análises, salvamento da figura (gráfico) referente ao trecho analisado para efeito de relatórios. Verificamos que em algumas amplitudes (20mA e 30mA) não foram possíveis quantificar com precisão a resposta biológica a este estímulo. Sendo assim, achamos mais adequado e prudente, não utilizar essa coleta de dados referentes a essas faixas de estimulações. Decidimos usar somente as faixas de estimulação onde foi possível quantificar com precisão e acurácia os sinais biológicos referente à resposta motora, ou seja 40 e 50 mA. Análise estatística Os dados coletados foram analisados em um programa específico para análise estatística (SPSS – Statistical Package for the Social SciencesTM, versão 16.0). Todos os dados foram submetidos ao teste de normalidade Shapiro-Wilk e apresentaram distribuição não paramétrica, sendo assim o teste de Mann-Whitney foi utilizado para a comparação intergrupos, e Wilcoxon para comparação intragrupos, respectivamente. Para análise de variância de dois fatores (grupo x série) foi utilizado o teste de Kruskall Wallis. A probabilidade de erro tipo I foi estabelecida em 5% para todos os testes (p<0,05). 41 2.5. Resultados Características Gerais da Amostra Foram recrutados 15 pacientes com DPOC e 10 indivíduos adultos idosos do sexo masculino (grupo controle). A idade média dos pacientes DPOC foi de 65, 20 + 5,79 anos e dos sujeitos do grupo controle 65, 20 + 6,14 anos. Os demais dados demográficos, função pulmonar e nível de atividade física encontram-se na Tabela 1. A análise da composição corporal obtida pela DEXA encontram-se na Tabela 2. Tabela 1: Dados demográficos, função pulmonar e nível de atividade física de 15 pacientes com DPOC e 10 sujeitos controle submetidos à eletroestimulação em diferentes intensidades (40mA e 50mA). Variáveis p Grupo DPOC Grupo Controle (n=15) (n=10) Idade (anos) 65,20 + 6,14 65,20 + 4,07 0,50 Altura (cm) 166,7 + 5,19 170,1 + 7,68 0,12 Peso (Kg) 72,35 + 10,10 74,84 + 12,49 0,30 IMC (Kg/m2) 26,02 + 2,89 26,14 + 4,41 0,47 VEF1 (% predito) 38,00 + 18,12 - - SpO2 (%) 94,2 + 1,67 96,6 + 1,26 0,001* QAFH (Baecke) 6,97 + 0,99 7,92 + 1,03 0,02* Os dados estão apresentados como média e desvio padrão. IMC= Índice de massa corpórea; VEF1= Volume expiratório forçado no primeiro segundo; SpO2= saturação de pulso de oxigênio; QAFH= Questionário de atividade física habitual(Baecke) *p<0,05. 42 Tabela 2: Dados da composição corporal de 15 pacientes DPOC e 10 sujeitos controle avaliados pela DEXA. Variáveis p Grupo DPOC Grupo Controle (n=15) (n=10) MGPD (Kg) 2,83 + 0,64 2,99 + 1,33 0,38 MGPE (Kg) 2,85 + 0,59 3,04 + 1,33 0,36 MMPD (Kg) 7,98 + 0,69 8,94 + 1,02 0,02* MMPE (Kg) 8,04 + 0,78 9,10 + 0,83 0,01* BMCPD (Kg) 489,90 + 59,52 549,29 + 63,48 0,07 BMCPE (Kg) 493,60 + 62,32 544, 86 + 66,47 0,06 MTPD (Kg) 11,30 + 1,12 12,50 + 2,07 0,09 MTPE (Kg) 11,37 + 1,19 12,70 + 1,87 0,06 Os dados estão apresentados como média e desvio padrão. MGPD= massa gorda da perna direita; MGPE= massa gorda da perna esquerda; MMPD= massa magra da perna direita; MMPE= massa magra da perna esquerda; BMCPD= conteúdo mineral ósseo da perna direita; BMCPE= conteúdo mineral ósseo da perna esquerda; MTPD= massa total da perna direita; MTPE= massa total da perna esquerda *p<0,05. 43 Cinética do tempo de recuperação da oxigenação muscular O tempo de recuperação da oxigenação muscular no Grupo DPOC foi mais lento ao longo da série de 40mA e pouco se alterou ao longo das série de 50mA. Esta diferença, contudo, não foi estatisticamente significante (p=0,08 e p= 0,47), respectivamente (Figura 1). Figura 3. Tempo de recuperação da oxigenação muscular dos pacientes com DPOC ao longo das séries de 40mA e 50mA no Grupo DPOC. O mesmo achado foi observado para o Grupo Controle, também sem diferença estatisticamente significante (p=0,27 e p= 0,78), respectivamente (Figura 4). Figura 4. Tempo de recuperação da oxigenação muscular do grupo controle ao longo das séries de 40mA e 50mA no Grupo Controle. 44 O efeito de acomodação da fibra muscular frente ao estímulo elétrico desencadeado pela EENM, talvez possa explicar a manutenção do t½ entre as séries nas diferentes intensidades, pois com o aumento da intensidade, esperaríamos que ocorresse maior lentificação do t½, contudo o mesmo se manteve constante. Como não houve diferença estatísticamente significante no tempo de recuperação da oxigenação muscular entre as séries, tanto para o Grupo DPOC quanto para o Grupo Controle, a partir deste momento consideraremos para as próximas análises a média obtida nas três séries de 40mA e 50mA para ambos os grupos. (Tabela 3 e Figura 5). Tabela 3: Tempo de recuperação da oxigenação muscular entre os grupos DPOC e controle submetidos à séries de 40 e 50 mA. t½ ( seg.) t½ (seg.) Grupo DPOC Grupo Controle p Séries de 40mA 17,68 + 6,77 11,35 + 7,23 0,0004* Séries de 50mA 15,38 + 5,32 12,13 + 5,10 0,0076* Mann Whitney. Abreviaturas: t½= Tempo que a recuperação da oxigenação muscular leva para atingir metade do seu valor máximo ao término do exercício*p<0,05. 45 Figura 5. Comparação entre as médias obtidas nas três séries de 40mA e 50mA entre os Grupos DPOC e Controle *p<0,05. 2.6. Discussão Acreditamos que este seja o primeiro estudo que tenha investigado o comportamento do tempo de recuperação da oxigenação muscular (t½ segundos) em pacientes com diagnóstico clínico de DPOC moderada-grave comparados a indivíduos saudáveis após serem submetidos à diferentes intensidades de estimulação elétrica. Verificou-se que os pacientes com DPOC apresentaram um t½ mais lento que os indivíduos controles, quando submetidos ao mesmo grau de intensidade do estímulo elétrico (mA). Este achado pode ser explicado por alguns fatores, entre eles: (i) baixo pool de fosfocreatina; (ii) tipo de fibra; (iii) disfunção endotelial. Com relação ao baixo pool de fosfocreatina presente na musculatura periférica dos pacientes com DPOC Tada et al. (1992) investigaram o músculo quadríceps femoral de pacientes com DPOC através da ressonância nuclear magnética com fosfato (31P-NRM) e demonstraram que os níveis de fosfato de alta energia (ATP), fosfocreatina e nicotinamida adenina dinucleotídeo (ADP) estão reduzidos em repouso, durante e após o exercício físico, culminando para uma refosforilação mais lenta e por consequente a formação precoce de lactato. Outros pesquisadores (Wuyam et al., 1992; Kutsuzawa et al., 1995) ao analisarem a razão fosfocreatina/fosfato inorgânico (PCR/Pi), que se encontra intimamente relacionada com a ressíntese de ATP, verificaram que a musculatura periférica de pacientes com DPOC apresenta uma baixa razão PCR/Pi quando comparada com a de indivíduos saudáveis. Somado ao baixo pool de fosfocreatina, os pacientes com DPOC apresentam disfunção endotelial, a qual promove alteração da 46 atividade vasorregulatória da parede vascular, acarretando em uma diminuição do fluxo sanguíneo. Karoli et al., (2004) analisaram a função endotelial em 60 pacientes do sexo masculino com diagnóstico de DPOC, através da hiperemia reativa, testes com uso de nitroglicerina e níveis sanguíneos de células endoteliais e observaram que os pacientes com DPOC apresentaram maior número de células endoteliais e uma significante diminuição da dilatação fluxo dependente em comparação aos indivíduos controles. Como citado previamente, para Chance et al. (1992) o tempo de recuperação da oxigenação muscular após o término do exercício pode ser utilizado como um índice da capacidade oxidativa muscular, pois reflete o equilíbrio entre a oferta e o consumo de oxigênio muscular. Além disso, esses autores ao estudarem uma população de indivíduos saudáveis, observaram que determinados fatores podem influenciar no t½: i) a acidose muscular, uma vez que dentro de uma faixa de pH de 6.0, pode ocorrer inativação do processo de fosforilação mitocondrial, corroborando para o atraso na ressíntese de ATP; ii) tipo de fibra, pois uma deoxigenação incompleta das fibras tipo I e uma grande deoxigenação das fibras tipo II, pode repercutir inicialmente em uma recuperação inicial rápida, seguida de uma recuperação lenta. Dessa forma, podemos inferir que os fatores citados acima podem ter influenciado para o tempo de recuperação da oxigenação muscular mais lento encontrado nesse estudo, uma vez que os pacientes com DPOC em decorrência da Síndrome da Disfunção Musculoesquelética apresentam maior proporção de fibras tipo II e, por apresentarem um perfil glicolítico, tornam-se mais suscetíveis a um quadro de acidez precoce e assim à fatigabilidade. Somado a isso, as fibras do tipo II apresentam menor ressíntese de ATP com maior consumo de oxigênio (Neder & 47 Nery, 2002) , já que utilizam como molécula transportadora de energia metabólica o FAD+, que possui dois sítios ativos para a ressíntese de ATP, ao contrário das fibras do tipo I que utilizam como molécula transportadora de energia o NAD+ que possui três sítios ativos para a ressíntese ATP. Resultados similares ao presente estudo foram encontrados por Shang et al. (2012), ao analisarem o t½ em mulheres com diagnóstico de fibromialgia comparadas à mulheres saudáveis, após serem submetidas a protocolos de fadiga muscular através da contração voluntária isométrica do músculo quadríceps, e através da oclusão arterial em antebraço. Esses autores verificaram que as mulheres com fibromialgia apresentaram um t½ mais prolongado que as mulheres saudáveis e atribuem esse achado às seguintes alterações: i) disfunção mitocondrial; ii) estresse oxidativo; iii) diminuição da coenzima Q10 (ubiquinona), que participa dos processos de produção de ATP; iv) aumento da produção das espécies reativas de oxigênio. As alterações metabólicas presentes nos pacientes com fibromialgia assemelham-se as alterações presentes nos pacientes com DPOC, uma vez que ambos apresentam o quadro de estresse oxidativo, como também redução na atividade enzimática oxidativa, corroborando para o inadequado processo de síntese de ATP, o qual resulta no inadequado fornecimento de energia e precocidade na fadiga muscular. Moalla et al. (2012) também analisaram o t½ após implementarem um protocolo de treinamento em cicloergômetro em crianças com doença cardíaca congênita comparadas ao grupo controle, o qual não realizou treinamento. Esses autores encontraram como desfecho melhora da cinética da recuperação da oxigenação muscular no grupo submetido ao treinamento. Os autores atribuem essa melhora ao treinamento aeróbio, que contribui para a melhora da capacidade de exercício, devido as adaptações musculares periféricas como: i) aumento do fluxo 48 sanguíneo; ii) aumento da área de secção transversa da musculatura; iii) aumento da proporção de fibras tipo I; iv) aumento da densidade capilar e mitocondrial; v) menor depleção da fosfocreatina durante o exercício; vi) melhora da ressíntese da fosfocreatina durante a recuperação. Embora os programas de Reabilitação Pulmonar padrão incluam o treinamento aeróbio com o uso de bicicleta ergométrica e caminhada em esteira, os mesmos são pouco tolerados e tem baixa aderência por pacientes com DPOC grave. Assim, a estimulação elétrica neuromuscular (EENM) poderia ser uma terapia alternativa para aumentar o trabalho muscular em pacientes gravemente comprometidos, sem provocar aumento do trabalho cardiorrespiratório, já que se trata de uma forma de terapia regional e local-dependente (Ambrosino & Strambi, 2004; Vivodtzev et al., 2006). Contudo a EENM pode apresentar algumas desvantagens em sua aplicação quando comparadas à contração voluntária, pois as contrações elétricas desencadeadas por essa forma de terapia, conduzem a inversão no padrão de recrutamento do tipo de fibra, onde primeiramente são recrutadas as fibras do tipo II (unidades motoras de maior diâmetro e menor resistência à passagem do estímulo elétrico) e, posteriormente são recrutadas as fibras do tipo I (unidades motoras de menor diâmetro e maior resistência à passagem do estímulo elétrico). Como discutido anteriormente as fibras do tipo II, tornam-se ácidas mais rapidamente que as fibras do tipo I, podendo resultar em um quadro de fadiga muscular precoce. Outro aspecto relevante é que durante a EENM ocorre a ativação sincrônica de todas as unidades motoras, com isso a interação actina miosina ocorrerá ao mesmo tempo em todas as unidades motoras recrutadas, também corroborando para o quadro de fadiga muscular precoce. Além disso, quando as correntes elétricas utilizadas na EENM deixam de 49 despolarizar as fibras, ocorre o efeito da acomodação, onde as fibras se adaptam a uma dada intensidade da corrente (Lieber & Kelly, 1993). A principal implicação clínica desse estudo, embora não tenha sido diretamente estudado, é salientar que embora a EENM promova adaptações macroestrururais: aumento da massa, força e endurance; e microestruturais: aumento da área de secção transversa da fibra, aumento do número de fibras tipo I e tipo II, aumento da relação capilar/fibra, a mesma pode desencadear um quadro de fadiga precoce. Esse estudo apresentou algumas limitações como: (i) a amostra pequena constituída por 15 indivíduos com DPOC e 10 indivíduos controles, que impede uma análise estatística com grande poder e a obtenção de dados conclusivos; (ii) ausência de biópsia muscular, que nos impede afirmar com fidedignidade a real condição muscular da população do estudo; (iii) a impossibilidade do uso da eletromiografia (EMG), pois quando aplicada juntamente com a EENM, ocorreu saturação do sinal eletromiográfico, sendo assim não pudemos verificar a ordem no padrão do recrutamento do tipo de fibra; (iv) a frequência utilizada de 50Hz, que por se tratar de uma alta frequência, corrobora para o quadro de fadiga muscular precoce; (v) a dificuldade de adesão do grupo controle ao estudo. Sendo assim o presente estudo abre portas para que novos estudos avaliem o comportamento do tempo de recuperação da oxigenação muscular após o estímulo elétrico, para que se possa discutir a respeito de quais seriam os melhores parâmetros a serem adotados durante a aplicação dessa terapia, como por exemplo estabelecer um adequado “tempo off” (Toff) da EENM, onde justamente ocorre o processo de reoxigenação muscular. Talvez um Toff maior que o utilizado no presente estudo (60 50 segundos) possa minimizar a possibilidade de um quadro de fadiga muscular precoce que a EENM possa desencadear. 2.7. Conclusão Os pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) apresentaram um tempo de recuperação da oxigenação muscular mais lento após serem submetidos às mesmas intensidades de EENM, quando comparados aos indivíduos saudáveis. 51 2.8. Referências Ambrosino N and Strambi S. New strategies to improve exercise tolerance in chronic obstructive pulmonary disease. The European respiratory journal : official journal of the European Society for Clinical Respiratory Physiology (2004); 24: 313-322. Chance B, Dait MT, Zhang C, Hamaoka T and Hagerman F. Recovery from exerciseinduced desaturation in the quadriceps muscles of elite competitive rowers. The American journal of physiology (1992); 262: C766-775. Duchateau J and Hainaut K. Training effects of sub-maximal electrostimulation in a human muscle. Medicine and science in sports and exercise (1988); 20: 99104. Ferrari M, Muthalib M and Quaresima V. The use of near-infrared spectroscopy in understanding skeletal muscle physiology: recent developments. Philosophical transactions Series A, Mathematical, physical, and engineering sciences (2011); 369: 4577-4590. Gosker HR, Zeegers MP, Wouters EF and Schols AM. Muscle fibre type shifting in the vastus lateralis of patients with COPD is associated with disease severity: a systematic review and meta-analysis. Thorax (2007); 62: 944-949. Hainaut K and Duchateau J. Neuromuscular electrical stimulation and voluntary exercise. Sports Med (1992); 14: 100-113. Karoli NA, Rebrov AP and Iudakova Iu N. [Vascular endothelial dysfunction in patients with chronic obstructive lung diseases]. Problemy tuberkuleza i boleznei legkikh (2004): 19-23. Kutsuzawa T, Shioya S, Kurita D, Haida M, Ohta Y and Yamabayashi H. Muscle energy metabolism and nutritional status in patients with chronic obstructive pulmonary disease. A 31P magnetic resonance study. American journal of respiratory and critical care medicine (1995); 152: 647-652. Lieber RL and Kelly MJ. Torque history of electrically stimulated human quadriceps: implications for stimulation therapy. Journal of orthopaedic research : official publication of the Orthopaedic Research Society (1993); 11: 131-141. Magyarosy I and Schnizer W. [Muscle training by electrostimulation]. Fortschritte der Medizin (1990); 108: 121-124. Moalla W, Elloumi M, Chamari K, Dupont G, Maingourd Y, Tabka Z and Ahmaidi S. Training effects on peripheral muscle oxygenation and performance in children with congenital heart diseases. Applied physiology, nutrition, and metabolism = Physiologie appliquee, nutrition et metabolisme (2012); 37: 621-630. Neder JA, Nery, LE Fisiologia Clínica do Exercício (2002), São Paulo. Santiworakul A, Jarungjitaree S, Jalayondeja W, Chantarothorn S and Supaibulpipat S. Effect of lower extremity exercise on muscle strength and physical capacity in COPD patients. Journal of the Medical Association of Thailand = Chotmaihet thangphaet (2009); 92: 556-563. Shang Y, Gurley K, Symons B, Long D, Srikuea R, Crofford LJ, Peterson CA and Yu G. Noninvasive optical characterization of muscle blood flow, oxygenation, 52 and metabolism in women with fibromyalgia. Arthritis research & therapy (2012); 14: R236. Tada H, Kato H, Misawa T, Sasaki F, Hayashi S, Takahashi H, Kutsumi Y, Ishizaki T, Nakai T and Miyabo S. 31P-nuclear magnetic resonance evidence of abnormal skeletal muscle metabolism in patients with chronic lung disease and congestive heart failure. The European respiratory journal : official journal of the European Society for Clinical Respiratory Physiology (1992); 5: 163-169. Vivodtzev I, Pepin JL, Vottero G, Mayer V, Porsin B, Levy P and Wuyam B. Improvement in quadriceps strength and dyspnea in daily tasks after 1 month of electrical stimulation in severely deconditioned and malnourished COPD. Chest (2006); 129: 1540-1548. Wuyam B, Payen JF, Levy P, Bensaidane H, Reutenauer H, Le Bas JF and Benabid AL. Metabolism and aerobic capacity of skeletal muscle in chronic respiratory failure related to chronic obstructive pulmonary disease. The European respiratory journal : official journal of the European Society for Clinical Respiratory Physiology (1992); 5: 157-162. 53 CAPÍTULO 3 Considerações Finais O presente estudo verificou que a EENM embora esteja sendo utilizada como terapia reabilitadora segura e eficaz na DPOC, deve-se ter critério adequado, uma vez que influencia no tempo de recuperação da oxigenação muscular de um perfil de pacientes que já apresentam susceptibilidade ao quadro de fadiga muscular devido ao somatório de alterações macro e microestruturais desencadeado pelo quadro inflamatório sistêmico da própria doença. Dessa forma a EENM pode corroborar para o quadro de fadiga muscular, levando o paciente a um menor rendimento e pior performance durante a terapia. Contudo, os resultados encontrados no presente estudo não podem ser extrapolados para uma população maior, uma vez que o mesmo apresentou como limitações: i) amostra pequena; ii) a não realização de biópsia muscular; iii) uso de EMG, a fim de analisar diretamente a fadiga muscular. Sendo assim abre-se um leque para que novos estudos avaliem o comportamento do tempo de recuperação da oxigenação muscular após o estímulo elétrico, para que se possa discutir a respeito de quais seriam os melhores parâmetros a serem adotados durante a aplicação dessa terapia, como por exemplo estabelecer um adequado “tempo off” (Toff) da EENM, onde justamente ocorre o processo de reoxigenação muscular. Como também para que outros estudos avaliem a influência do torque gerado pela EENM e sua correlação com o processo de deoxigenação e reoxigenação muscular. 54 ANEXOS Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP São Paulo, 29 de setembro de 2011 CEP No 1196/11 CONEP No: Ilmo(a) Sr(a) Pesquisador(a): MARI CLAUSSEN TANI FERNANDES Disciplina/Departamento: Pneumologia/Medicina Título do estudo: Efeitos da eletroestimulação sobre a resposta muscular funcional periférica de pacientes com DPOC que apresentam depleção muscular comparados aos não depletados e ao grupo controle Prezado(a) Pesquisador(a), Cumprindo as atribuições do Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP/HSP, comunicamos que o projeto de pesquisa foi analisado em reunião e o parecer já está disponível na secretaria do CEP. FAVOR MENCIONAR O NÚMERO DE REGISTRO DO PROJETO PARA RETIRAR O PARECER (CEP N°... canto superior direito desta carta) Atenciosamente, Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo/Hospital São Paulo 55 Página 1 de 1 Rua Botucatu, 572 - 1o andar - CEP 04023-062 - São Paulo/Brasil Tel.: (11) 5571.1062 Tel/Fax 5539.7162 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) Comitê de Ética em Pesquisa Termo de Consentimento Livre e Esclarecido O Sr.(a) __________________________________________________________ RG no _____________________________, nascido em ___________________, do sexo _______________________, residente à ________________________ ______________________________________________________________ na cidade de _________________________, está sendo convidado a participar do estudo Cinética da Recuperação da Oxigenação Muscular Pós Eletroestimulação Neuromuscular em Pacientes com DPOC . Para tanto, esse estudo tem como objetivo estudar a cinética da recuperação da deoxihemoglobina da sua perna do lado dominante após a estimulação elétrica. Avaliar o estado nutricional que o Sr.; se encontra, assim como a condição muscular da perna. Acreditamos que avaliar o estado muscular após a estimulação elétrica possa nos dar informações importantes sobre a 56 sua doença e, de maneira precoce, auxiliar no diagnóstico e tratamento de sua enfermidade. Como será o estudo? O estudo será composto por 2 etapas. No primeiro dia será realizada coleta dos dados pessoais, dados vitais, como pressão arterial, frequência cardíaca, oxigenação periférica, preenchimento de questionário de atividade física, além da medição de peso e altura. Neste dia, também serão feitos exames para avaliar sua função pulmonar. Estes testes exigem do Sr. esforços respiratórios de puxar e soltar o ar de várias formas rápidas e lentas. Na segunda visita, o Sr. conhecerá os equipamentos dos testes que realizaremos: o aparelho de eletroestimulação e o aparelho que mede a oxigenação dos músculos extensores do joelho O Sr. ficará sentado em uma cadeira e logo em seguida conectaremos o cabo do aparelho que mede a oxigenação e os cabos do aparelho da eletroestimulação e iniciaremos os estímulos elétricos (sensação de choquinho e/ou formigamento). Inicialmente, a intensidade do estímulo vai ser baixa e aumentaremos progressivamente com intervalos de 5 minutos entre cada troca de intensidade. Perguntaremos sobre a dor ou desconforto para o Sr. através de uma escala de 0 a 10, sendo 0 a sensação de nenhuma dor ou desconforto e 10 a pior dor ou desconforto que o Sr. já sentiu. Se o Sr. não tolerar tal intensidade interrompemos o teste sem qualquer prejuízo. Esta etapa será repetida 3 vezes para cada intensidade, com intervalo de 5 minutos entre cada uma. Você será acompanhado por profissionais da saúde especializados e treinados, durante todos os testes. Todos estes exames serão realizados no Setor de Função Pulmonar e Fisiologia Clínica do Exercício da Disciplina de Pneumologia (Rua Francisco de Castro 54, 3 quadras do Hospital São Paulo).Quais os riscos? Os testes e exames realizados são de riscos mínimos, o Sr. Pode sentir um pouco de cansaço após a realização dos mesmos (complicações que não interferem com a atividade física ou intelectual de rotina) para pessoas com a sua doença, principalmente se considerarmos que o Sr. não será incluído no estudos caso julguemos que exista qualquer risco aumentado para você, não será realizado nenhum procedimento invasivo. Todavia, os seus testes serão 57 acompanhados por uma equipe altamente treinada e equipada para atendêlo, caso aconteça qualquer emergência. Qualquer dúvida ou esclarecimento poderá ser dado pelo pesquisador responsável, Diego Paiva de Azevedo, que pode ser encontrado Rua Joel Jorge de Melo, Nº 253, AP: 93, e no telefone (11) 982510187. O Sr (a). tem garantia de sigilo de todas as informações coletadas e pode retirar seu consentimento a qualquer momento, sem nenhum prejuízo ou perda de benefício. Declaro ter sido informado e estar devidamente esclarecido sobre os objetivos deste estudo, sobre as técnicas e procedimentos a que estarei sendo submetido e sobre os riscos e desconfortos que poderão ocorrer. Recebi garantias de total sigilo e de obter novos esclarecimentos sempre que desejar. Assim, concordo em participar voluntariamente deste estudo e sei que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem nenhum prejuízo ou perda de qualquer benefício (caso o sujeito de pesquisa esteja matriculado na Instituição onde a pesquisa está sendo realizada). Data: __ /_ / __ _____________________________________________ Assinatura do sujeito da pesquisa ou representante legal _____________________________________________________ __ Pesquisador responsável / orientador Eu, Diego Paiva de Azevedo, Responsável pela pesquisa “Cinética da Recuperação da Oxigenação Muscular Pós Eletroestimulação Neuromuscular em Pacientes com DPOC” declaro que obtive espontaneamente o consentimento deste sujeito de pesquisa (ou de seu representante legal) para realizar este estudo. 58 Data: __/__/___ __________________________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável 59