1 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE PATOLOGIA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA ADRIANO AUGUSTO PECLAT DE PAULA DETECÇÃO E GENOTIPAGEM DE PAPILOMAVIRUS HUMANO E IMUNOEXPRESSÃO DE COX-2 E VEGF-C EM PORTADORES DE CARCINOMA PENIANO Orientadora: Profa. Dra. Megmar A. dos Santos Carneiro Co-Orientador: Prof. Dr. Joaquim Caetano de Almeida Netto Goiânia-GO, 2011 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE PATOLOGIA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL ADRIANO AUGUSTO PECLAT DE PAULA DETECÇÃO E GENOTIPAGEM DE PAPILOMAVIRUS HUMANO E IMUNOEXPRESSÃO DE COX-2 E VEGF-C EM CARCINOMA PENIANO Orientadora: Profa. Dra. Megmar A. dos Santos Carneiro Co-Orientador: Prof. Dr. Joaquim Caetano de Almeida Netto Tese de Doutorado submetida ao PPGMT/UFG como requisito parcial para obtenção do Grau de Doutor em Medicina Tropical e Saúde Pública, na área de concentração em Doenças Infecto-Parasitárias. Este trabalho foi desenvolvido com apoio financeiro da Fundação de Apoio à Pesquisa no Estado de Goiás (FAPEG edital N 02-2008). 3 Goiânia-GO, 2011 AGRADECIMENTOS A Deus, porque sem Ele nada é possível ou sustentável. À minha esposa e filhos, Lucimeli Cristina R. S. de Paula, Leonardo e Bruno Sardinha de Paula, pelo apoio, paciência, compreensão e amor incondicional. Vocês me ensinam a viver. Aos meus pais, Carlos Inácio de Paula (meu herói) e Cirila Tereza M. Peclat de Paula (minha guerreira). Pela tolerância, orgulho, amizade, amor e imensurável força de vontade. Amo vocês. Às minhas irmãs, Luciana Peclat de Paula Correia e Sônia Helena Peclat de Paula, cunhados, Lussandra Eni R. Sardinha, Luter Cleber R. Sardinha, Luis Otávio Álvares Correia, pelo incentivo, cumplicidade, carinho e apoio à minha família. E aos meus sogros, Manoel Sardinha Sobrinho (em Memória) e Ivanilde dos Anjos Rodrigues Sardinha (minha segunda mãe) pelo carinho, amor e suporte a minha família, apoio e incentivo inigualáveis. Aos meus sobrinhos Marina, Otávio e Gustavo pelos bons momentos de descontração. Ao meu Orientador, Prof. Dr. Joaquim Caetano de Almeida Netto (cientista incansável) e Co-orientadora, Profa. Dra. Megmar Aparecida dos Santos Carneiro (“Miss Simpatia”), pela confiança, apoio, amizade e dedicação. Meus “Mestres”: Aprendi com vocês que a simplicidade e atitude revelam a grandeza da personalidade e da sabedoria. Aos meus amigos e colegas de departamento, Adriano Rodrigo L. Maltez, Antônio G. Franqueiro, Antônio G. Teles e Nilson P. Pinto, pela compreensão da minha ausência, pelo suporte técnico-científico e pelo estímulo incessante. Ao Serviço de Anatomia-Patológica do Hospital Araújo Jorge, na pessoa do Dr. Élbio Candido de Paula, figura que bem representa seu Serviço pela seriedade, engajamento, solicitude e profissionalismo. Às Dras. Eliane Duarte Motta e Rita de Cássia G. Alencar pelo exaustivo trabalho da imunoistoquímica e anátomo patologia, por todo tempo dispensado no raciocínio, na delicadeza e precisão necessárias para a interpretação dos dados. Seu apoio e empenho foram essenciais para a realização deste trabalho. Menção especial à querida Profa. Dra. Vera A. Saddi, amiga incansável, professora nata e exemplo de dedicação. Aos funcionários deste serviço, nas pessoas de Thelma Lima Silva, Marilene Alves Rocha, Artur, Júnior e Joelma pelo profissionalismo, boa vontade, simpatia e eficiência dispensadas. Também agradeço aos colegas da imunoistoquímica, Gustavo Nogueira Caixeta e Rosana Correa da Silva pelo empenho, eficácia e dedicação e aos técnicos de patologia, Eterno Ribeiro da Silva e Karla, minha admiração pela maestria no preparo dos blocos, laminas e tubos para análise genética do material. 4 Ao Dr. Paulo Moacir Campolli pela amizade, companheirismo, pela dedicação incansável ao ensino, pelos desafios científicos que empreita e nos faz evoluir. Aos meus compadres, Alexandre João Meneghini e Carina Bullamah Meneghini, e minha afilhada Lia. Também ao amigo Antonio G. Franqueiro. Amizade é raro e quase tudo na vida. Agradeço o estímulo, momentos agradáveis, consideração e apoio à minha família. Às minhas fiéis “escudeiras”, Shirley Pereira da Silva, Patrícia Nunes Luiz e Magda da Silveira Costa, pelo carinho, compreensão, organização e amizade. Aos professores da Pós-Graduação em Medicina Tropical pelos conhecimentos, paciência, profissionalismo e incentivo. Ao Prof. Dr. Aparecido Divino da Cruz pela amizade, entusiasmo, apoio e confiança. A José Clementino de Oliveira Neto e Kariny Vieira Soares, por toda ajuda, eficiência, simpatia e dedicação ao IPTSP. Ao Registro de Câncer de Base Populacional de Goiânia, nas pessoas da Profa. Dra. Maria Paula Curado e do biólogo e Mestre Edésio Martins, pela disposição, prontidão, eficiência e amizade, além de todo serviço prestado ao estado de Goiás, ao Brasil e ao mundo. Aos Drs. Wilmar José Manoel e Rubens José Pereira pela amizade, apoio, disposição, pelo exemplo científico e contribuição à Medicina de Goiás. Aos Professores da Banca de Qualificação, Dr.Adriano Moraes Arantes, Dra.Vera Aparecida Saddi e Dra.Sheila Araujo Teles, cujas críticas, observações e ajuda muito contribuíram para o aperfeiçoamento da edição final desta Tese. Aos alunos de Biomedicina da PUC-Goiás, Brhuna Carla Rodrigues da Cunha e Caio Bruno Quinta de Souza Leal pelo esforço, dedicação, paciência e amor à futura profissão. O engajamento no laboratório foi de suma importância para a obtenção dos dados referentes ao HPV. 5 LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS ACCG Associação de Combate ao Câncer em Goiás AINH Anti-inflamatórios não-hormonais BHD Gene de Birt Hogg Dube CEC Carcinoma Espinocelular Cm Centímetros CP Carcinoma Peniano COX-2 Ciclooxigenase-2 DMV Densidade Microvascular EGF Epidermal Growth Factor (do inglês, Fator de Crescimento Epidérmico) EUA Estados Unidos da América FLK-1 Fetal Liver Kinase-1 (do inglês, Quinase Hepática Fetal-1) GAPDH Gene Gliceraldeído-3-Fosfato Desidrogenase HAJ Hospital Araújo Jorge HE Hematoxilina-Eosina HER-2 Human Epidermal growth factor Receptor 2 (do inglês, Receptor 2 de fator de crescimento epidérmico humano) HGF Hepatocyte Growth Factor (do inglês, Fator de Crescimento ligado ao Hepatócito) HPV Human Papilloma Virus (Papilomavírus Humano) IC Intervalo de Confiança IL Interleucina INF Interferon IARC International Agency of Research on Cancer (do inglês, Agência Internacional de Pesquisa de Câncer) 6 MAB Monoclonal antibodie (do inglês, anticorpo monoclonal) MMP Matriz metalo-proteinase NIP Neoplasia Intra-Epitelial do Pênis NK Linfócitos Natural-Killers PAAF Punção Aspirativa por Agulha Fina PCNA Proliferative Cell Nuclear Antigen (do inglês, Antígeno Nuclear de Proliferação Nuclear) PCR Polymerase Chain Reaction (do inglês, Reação Em Cadeia da Polimerase) PDGF Platelet Derived Growth Factor (do inglês, Fator de Crescimento Derivado de Plaquetas) PECAM-1 Platelet Endothelial Cell Adhesion-1 Molecule (do inglês, Molécula Celular 1 de Adesão Plaquetária) PGF Placentary Growth Factor (do inglês, Fator de Cresciemtno Placentário) PGs Prostaglandinas PGE2 Prostaglandina E2 RT-PCR Reverse transcriptase Polymerase Chain Reaction (do inglês, Reação Em Cadeia da Polimerase por Transcriptase Reversa) SD Standard deviation (do inglês, Desvio Padrão) SCCP Squamous Cell Carcinoma of the Penis (do inglês,Carcinoma Espino-Celular do Pênis) SEER Surveillance, Epidemiology and End Results (do inglês, Resultados Finais de Seguimento e Epidemiologia) SPSS Statistical Package for Social Sciences software (do inglês, Programa de Pacote Estatístico para Ciências Sociais) 7 SUS Sistema Único de Saúde TAM Tumour-associated macrophages (do inglês, Macrófagos Associados a Tumor) TSP-1 Trombospondina-1 TNF Fator de Necrose Tumoral TXA2 Tromboxano A2 UICC International Union Against Cancer (do inglês, União Internacional Contra o Câncer) VEGF-A Vascular Endothelium Growth Factor-A (do inglês, Fator A de Crescimento do Endotélio Vascular) VEGF-C Vascular Endothelium Growth Factor-C (do inglês, Fator C de Crescimento do Endotélio Vascular) VEGF-D Vascular Endothelium Growth Factor-D (do inglês, Fator D de Crescimento do Endotélio Vascular) VEGFR Vascular Endothelium Growth Factor Receptor (do inglês, Receptor de Fator de Crescimento do Endotélio Vascular) VHL Gene Von Hippel-Lindau “X” Não avaliável 8 ÍNDICE Agradecimentos..................................................................................................... 03 Lista de abreviaturas, siglas e símbolos................................................................. 05 Índice..................................................................................................................... 08 Lista de Figuras, Tabelas e Quadros...................................................................... 11 Resumo................................................................................................................... 12 Abstract.................................................................................................................. 13 Apresentação.......................................................................................................... 14 I Introdução............................................................................................................ 15 1. O Carcinoma Peniano........................................................................................ 15 1.1 Epidemiologia do Carcinoma Peniano............................................................. 15 1.2 História Natural do CP .................................................................................... 16 1.3 Estadiamento................................................................................................... 17 1.4 Tratamento do CP e Morbidade....................................................................... 17 2- O Papilomavirus Humano.................................................................................. 19 2.1 Classificação e Biologia................................................................................... 19 2.2 Epidemiologia e Curso Clínico da Infecção.................................................... 21 2.3 Diagnóstico de Infecção por HPV.................................................................... 22 2.3.1 Técnicas Laboratoriais de Diagnóstico e Genotipagem de HPV................. 23 2.4 Prevenção e Controle de Infecção por HPV.................................................... 25 2.5 Epidemiologia do HPV em Carcinoma Peniano.............................................. 27 2.6 O HPV Como Preditor de Metástase Inguinal e de Sobrevida........................ 29 3. Ciclooxigenase-2 e Câncer................................................................................. 31 4. VEGF e Câncer.................................................................................................. 33 5. A Importância de COX-2 e VEGF-C Como Alvos de Novas Terapêuticas do Câncer.................................................................................................................... 5.1 Terapia Anti-COX-2........................................................................................ 36 36 5.2 Terapia Anti-VEGF-C e VEGF-R................................................................... 37 9 6. Justificativa........................................................................................................ 38 7. Objetivos........................................................................................................... 39 8- Material e Métodos........................................................................................... 40 8.1 População do Estudo....................................................................................... 40 8.2 Critérios de Exclusão....................................................................................... 40 8.3 Extração de DNA............................................................................................. 40 8.4 Detecção de DNA Humano ............................................................................. 41 8.5 Detecção e Genotipagem de HPV.................................................................... 42 8.6 Análise Imunoistoquímica .......................................................................... 43 8.7 Seguimento e Análise Estatística..................................................................... 45 9. Resultados da Detecção e Genotipagem de HPV.............................................. 46 II ARTIGO 1 Carcinoma Peniano e Papilomavírus Humano (HPV): Artigo de Revisão ........... 49 Introdução............................................................................................................... 49 Metodologia.............................................................................................................. 49 Caracterização viral.................................................................................................. 49 Patogêneses viral...................................................................................................... 50 HPV e imunidade do hospedeiro.............................................................................. 52 HPV e carcinoma peniano........................................................................................ 53 Conclusão................................................................................................................. 56 Referências............................................................................................................... 57 III ARTIGO 2 The Impact of Imunnoexpression of COX-2 and VEGF-C on the Prognosis of Penile Carcinoma 60 Abstract.................................................................................................................... 60 Introduction................................................................................................................ 61 Materials and Methods............................................................................................. 62 Imunnohistochemical analysis................................................................................. 62 10 Follow-up and statistical analysis.............................................................................. 63 Results..................................................................................................................... 63 Discussion................................................................................................................ 69 Conclusions.............................................................................................................. 71 References................................................................................................................ 72 Conclusões Gerais.................................................................................................... 75 Referências .............................................................................................................. 76 Autorização para uso de figuras............................................................................... 99 ANEXO I Carta de Aceite do Artigo 2............................................................... 100 11 LISTA DE FIGURAS, TABELAS e QUADROS Figura 1- Mecanismo de angiogênese tumoral.................................................... 32 Figura 2- Relação entre HPV, fatores moleculares e angiogênese...................... 35 Figura 3- Gel de Poliacrilamida 8%. PCR para HPV18...................................... 43 Tabela I- Prevalência de DNA-HPV em pacientes com CP em diferentes países no período de 1995 a 2010. ...................................................................... 28 Tabela II- Prevalência de DNA-HPV em pacientes com CP no Brasil no período de 1998 a 2008...................................................................................... 29 Tabela III- Relação do HPV e risco de metástase inguinal e de óbito por câncer................................................................................................................... 30 Tabela IV- Frequência dos fatores clínicos e terapêuticos de acordo com a positividade de HPV em pacientes com CP........................................................ 46 Tabela V- Frequência dos fatores clínicos e terapêuticos de acordo com os tipos de HPV........................................................................................................ 47 Artigo 1 Figura 1- Genoma do HPV ................................................................................. 49 Tabela I-Função dos genes do HPV ................................................................... 50 Tabela II- Classificação dos HPVs quanto à categoria de risco oncogênico....... 51 Tabela III-Autores, ano de publicação, método de detecção do HPV, número de pacientes envolvidos e taxas de positividade ................................................. 55 Artigo 2 Figure 1- IHC for COX-2(left) in 200x and VEGF-C (right) in 400x magnification, both with a staining of 80% of the tumor cells......................... 64 Figure 2- ROC curves of VEGF-C IHC staining for prediciton of groin metastasis........................................................................................................... 65 Figura 3- Curva ROC de VEGF-C para predição de metástase inguinal............ 66 Table I- Uni and multivariate analysis of clinical and histological variables according to IHC for COX-2........................................................................ 67 Table II- Uni and multivariate analysis of clinical and histological variables according to IHC for VEGF-C........................................................................ 68 12 Table III- Distribution of variables according to the occurrence of groin 69 metasasis and SCS..................................................................................... RESUMO O carcinoma peniano (CP) é uma doença grave, comum em países em desenvolvimento, que acomete homens com perfil econômico e cultural desfavoráveis. O presente estudo teve como objetivos avaliar a expressão da imunomarcação de COX-2 e VEGF-C no risco de metástase e óbito câncer-específico de pacientes com CP, bem como detectar e genotipar o papilomavírus humano (HPV) tipos 16 e 18 nessa população. Um total de 127 pacientes com CP tratados no serviço de Uro-Oncologia do Hospital Araujo Jorge (Goiânia-GO), no período de Janeiro de 2001 a Julho de 2008, foram incluídos. As amostras foram submetidas à detecção e genotipagem de HPV pela reação em cadeia da polimerase (PCR) com iniciadores tipo-especificos. Para análise da imumohistoquimica (IHQ) empregou-se o método da imunoperoxidase com anticorpos policlonal e monoclonal, respectivamente, para detecção das proteínas VEGF-C e COX-2. A positividade de COX-2 e VEGF-C na IHQ não alterou o risco de metástase inguinal, embora a imunomarcação para COX-2 tenha se associado a variáveis histológicas de valor prognóstico já conhecido. A imunomarcação para VEGF-C se associou à pior curva de sobrevida câncer-específica em três anos (p=0,02). O grau tumoral (p=0,03) e o estágio de Jackson >II (p<0,01) se mostraram bons preditores de doença inguinal, em análise multivariada. A presença de metástase regional foi fator independente para óbito por CP (p<0,01; OR=6.8; IC95% 1.6-27.7), bem como o estágio de Jackson >II (p=0,01; OR=4.5;IC95% 1.4-14.5). Os resultados da reação em cadeia de polimerase (PCR) mostraram que a prevalência da infecção pelo HPV em portadores de CP de Goiânia-Go foi de 43,3%. O HPV 16 foi o mais prevalente (50,9%), seguido pelo HPV 18 (25,5%). Entre as variáveis histológicas, apenas a presença de coilocitose (p=0,03) se associou ao HPV na análise multivariada. Após a genotipagem, o HPV 16 manteve associação com coilocitose (p=0,04). Nenhuma outra variável histopatológica se associou ao HPV 16 ou 18. A presença do HPV não alterou o risco de metástase inguinal, embora o HPV 18 tenha sido fator independente de óbito por CP em regressão logística (p<0,01). Os achados desta coorte evidenciam que a expressão de VEGF-C e COX-2 e a detecção de HPV podem auxiliar na identificação de portadores de CP com pior prognóstico. Estes dados devem ser validados em séries com maior número de pacientes e através de estudos com emprego de drogas anti-angiogênicas. 13 ABSTRACT Penile carcinoma is a serious and comumon disease among developing countries, which affects men with low economical and cultural profile. The present paper aimed to evaluate the expression of the immunostaining for COX-2 e VEGF-C on the risk of metastasis and specific cancer survival, in patients with penile cancer (PC), as well to detect and genotype the presence of human papillomavirus (HPV) among them. Onehundred and twenty-seven patients, treated by the Uro-Oncology Department of the Araujo Jorge Hospital between January 2001 and July 2008, were enrolled. All the samples underwent detection and genotyping of HPV16 and 18, through Polymerase Chain Reaction (PCR), with type-specific primers. The immunoperoxidase method with antibodies for VEGF-C and COX-2 protein was used in immunehistochemistry (IHC). The positivity for COX-2 or VEGF-C showed no impact on the risk of groin disease, although COX-2 was statistical associated to several histological known prognosticators. The staining for VEGF-C resulted in a worse specific-cancer three-year survival curve (p=0.02). Jakcson stage >II (p<0.01) and high tumor histological grade (p=0.03) were good predictors of groin metastasis in multivariate analysis. Inguinal disease was an independent predictor of PC death (p<0.01; OR=6.8; IC95% 1.6-27.7), as well Jackson stage> II (p=0.01; OR=4.5; IC95% 1.4-14.5). The results of Polymerase Chain Reaction (PCR) showed a 43.3% of HPV prevalence. HPV 16 was the most prevalent (50.9%), followed by HPV 18 (25.5%), in agreement with international and regional data. The only histological variable associated to HPV was the presence of koylocitosis (p=0.03). No other histopathological variable was associated to HPV. After genotyping, the HPV16 sustained the association with koylocitosis (p=0.04). The presence of HPV did not alter the risk of groin metastasis, though HPV 18 was proven to be an independent predictor of PC death in logistic regression analysis (p<0.01). The results of the present cohort suggest that immunohistochemical analysis of COX-2 and VEGF-C and detection/genotyping HPV may help to identify PC patients with unfavorable prognosis. These data must be validated in multi-institutional, larger, prospective series and through studies employing anti-angiogenic agents. 14 APRESENTAÇÃO Esta tese de doutorado, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública/UFG, encontra-se estruturada na forma de artigos científicos. O artigo de revisão (ARTIGO 1), abrange os aspectos relacionados à caracterização do papilomavirus humano (HPV), oncogênese viral, alterações imunológicas induzidas pelo HPV e o papel do HPV no carcinoma peniano (CP). Este artigo foi publicado na Revista Brasileira de Oncologia Clínica [ISSN 1806-6054], Vol.6, No16, pgs 7-11, 2009. O segundo artigo (ARTIGO 2- em anexo) foi elaborado em razão da carência de fatores acurados de risco para identificar metástases inguinais ocultas em portadores de carcinoma peniano (CP) operado. Tal situação gera cirurgias inguinais às vezes “desnecessárias” e com potencial de grave morbidade associado a este procedimento. O CP é uma doença que acomete, preferencialmente, paciente menos favorecido e sem poder econômico para tratamentos dispendiosos. Esta característica talvez justifique a falta de investimentos em novos fármacos por parte da indústria farmacêutica. Desta forma, observamos uma tendência em se utilizar tratamentos já consolidados para carcinoma espinocelular (CEC) de outras topografias (cabeça e pescoço, cérvice uterina) na tentativa de se obter resultados semelhantes. Estando a medicina na era de drogas alvo-dirigidas, também identificamos uma real necessidade de selecionar pacientes com potencial de resposta a novas modalidades terapêuticas, ora representadas por inibidores de ciclooxigenase-2 (COX-2) e/ou de fator C de crescimento de endotélio vascular (VEGF-C). Assim, o artigo “Impacto da Imunoexpressão de COX-2 e VEGFC no Prognóstico do Carcinoma Peniano” se refere a uma coorte prospectiva que analisa pacientes com CP, tratados em um único centro de referência (Hospital Araújo Jorge da Associação de Combate ao Câncer em Goiás) na região Centro-Oeste do Brasil. O objetivo desse artigo é determinar o impacto da imunoexpressão de COX-2 e VEGF-C, bem como, dos fatores histopatológicos convencionais no prognóstico destes pacientes. Este artigo foi submetido e aceito (em anexo) pelo The Journal of Urology. A investigação da prevalência e genotipagem do papilomavírus humano (HPV) no CP foi conduzida devido à escassez de dados regionais, somada às incertezas 15 prognósticas ainda pendentes na literatura. Os resultados serão usados para elaboração de um terceiro artigo, a ser enviado ao periódico Cancer. I-INTRODUÇÃO 1- O CARCINOMA PENIANO (CP) 1.1 EPIDEMIOLOGIA DO CP O câncer de pênis é uma doença rara em países industrializados, porém ainda considerado um grave problema de saúde pública nos países em ascensão econômica ((McDougal,1994; Parkin,2002; de Paula et al.,2005; Micali et al.,2006; BarnholtzSloan et al.,2007; Bleeker et al.,2009). O Instituto Nacional do Câncer estimou mais de 4600 casos no Brasil em 2009, sendo a região Nordeste a mais prevalente (INCA,2010). Segundo dados não publicados do Registro de Câncer de Base Populacional de GoiâniaGO, referentes ao período de 2000 a 2008, a incidência anual de CP em Goiás variou de 0,87 a 2,03 casos novos/100.000 homens. A Sociedade Brasileira de Urologia realizou um estudo epidemiológico em 2007, utilizando questionários médicos, e estimou que a maioria dos casos de CP ocorreu no estado de São Paulo (24%), seguido do Ceará (12%), Maranhão (10%) e Rio de Janeiro (9%) (Carvalho,2007). A origem do CP é multi-fatorial e ainda desconhecida. O principal fator de risco para CP é a higiêne precária, às vezes corroborada pela presença de fimose na vida adulta (Srinivas Khan,1985; Dillner et al.,2000b; Daling et al.,2005; McDougal,2005; Bleeker et al.,2009). Pois a fimose pode favorecer a persistência de infecções bacterianas (Mycobacterium esmegmatis) e virais (HPV) na genitália masculina (Daling et al. 2005). As lesões precursoras do carcinoma peniano invasor são a neoplasia intraepitelial do pênis (NIP), a balanite xerótica obliterante, o líquem escleroso, o carcinoma in situ representado pela doença de Bowen e pela eritroplasia de Queyrat e condiloma peniano gigante (Doença de Buschke-Lowenstein) (de Paula et al.,2005; Micali et al.,2006; Bleeker et al.,2009). O tipo histológico mais comum do CP é o escamoso, também denominado escamocelular ou espinocelular (CEC). A segunda histologia mais frequente é representada pelo carcinoma verruciforme. Existem variantes do CEC, de comportamento biológico diverso, com diferente etiologia e associação com HPV (Rubin et al.,2001; Cubilla et al.,2004; Micali et al.,2006). Os subtipos histológicos do 16 CEC de pênis são: 1-Usual; 2-Inespecífico; 3-Basalóide; 4-Queratinizado; 5- Nãoqueratinizado; 6-Misto; 7-Sarcomatóide; 8-Adenoescamoso (Cubilla et al.,2001). Existe grande confusão ao se reportar as variantes do carcinoma verruciforme. Em 1948, Ackerman, utilizando um modelo de cavidade oral, descreveu quatro variantes deste tumor, o verrucoso, papilar, condiloma-verrucoso e condiloma gigante (Ackerman,1948). Dos CECs, a variante basalóide é a mais agressiva e a mais freqüentemente associada ao HPV 16. O carcinoma verruciforme é mais indolente e associado ao HPV em cerca de 58% dos casos (Miralles-Guri, 2009). 1.2 HISTÓRIA NATURAL E FATORES DE RISCO DE METÁSTASES No CP a principal via de disseminação é a via linfática, como a maioria das neoplasias epiteliais (Culkin Beer,2003; Naumann et al.,2005; Bolenz et al.,2009). O aparecimento de metástases linfáticas para região inguinal ocorre em até dois anos do surgimento da lesão peniana (Ornellas et al.,1991; Ravi,1993b; Lopes et al.,1996; Kroon et al.,2005b). Os principais fatores preditivos de metástase inguinal oculta são: o grau tumoral (grau III), o tamanho do tumor (>T2) e a presença de embolização angiolinfática (Lopes et al.,1996; Slaton et al.,2001; Solsona et al.,2001; Ficarra et al.,2002; Lont et al.,2003; Ficarra et al.,2005; Kroon et al.,2005b; Naumann et al.,2005). Na vigência dos três fatores, o risco de metástase inguinal oculta é maior que 50% e a cirurgia inguinal pré-emptiva (profilática) deve ser oferecida ao paciente. Em contrapartida, no paciente com linfonodo inguinal suspeito (aumentado de volume), o índice de falso positivo é de aproximadamente 50% (McDougal et al.,1986; Ornellas et al.,1991; Lopes et al.,1996; Pizzocaro et al.,1997; Sanchez-Ortiz Pettaway,2003). Ficarra et al. em 2006 apresentaram um nomograma com predição do risco de metástase inguinal de 87%. Este sistema utiliza a regressão logística para verificar o risco estimado de aparecimento de metástase inguinal, cruzando as características anátomo-patológicas do tumor primário, e a combinação destas (Ficarra et al.,2006). Várias pesquisas relacionando as alterações de genes supressores (p53, pRb, p16), de antígeno de proliferação nuclear (PCNA), Ki-67, BAX, Bcl-2, MDM2, trombospondina, telomerase, caspases, VEGF e ciclooxigenase-2 foram realizadas, com resultados diversos, na tentativa de se identificar outros fatores preditivos de metástase inguinal oculta (Alves et al.,2001; Eschwege et al.,2001; Gaffney et al.,2001; Gil,2002; Martins et al.,2002a; Martins et al.,2002b; Ferreux et al.,2003; Ouban et al.,2003; Golijanin et al.,2004; Saeed et al.,2005; Guimaraes et al.,2007; Heideman et al.,2007; Guerrero et 17 al.,2008; Scheiner et al.,2008; Yanagawa et al.,2008; Muneer et al.,2009; Novais,2009). O papel da coilocitose como preditor de metástase inguinal também foi avaliado por alguns autores, com resultados controversos (Lopes et al.,1996; Gil et al.,2001; de Paula et al.,2007; Ornellas et al.,2008b). A maioria destes estudos são retrospectivos, com pequeno número de pacientes e com baixo nível de evidência científica. Em resumo, até o presente momento, a caracterização anátomo-patológica do tumor primário continua sendo a mais relevante para se indicar a cirurgia inguinal. O desenvolvimento de metástases hematogênicas é raro e pode ocorrer para pulmões, fígado, cérebro e ossos. O principal fator de risco de metástase à distância é a presença de metástases inguinais, o que também é fator independente de sobrevida câncer-específica (Lopes et al.,2000; Culkin Beer,2003). 1.3 ESTADIAMENTO O estadiamento do CP é de difícil aplicação clínica, uma vez que o atual sistema proposto pela American Joint Commitee on Cancer (AJCC), conhecido como TNM, só é possível após a cirurgia. Ou seja, o TNM é um estadiamento patológico e não clínico (AJCC,2002; Wiley &Sons,2002). O único estadiamento clínico aplicável ao CP é o proposto por Jackson (Jackson,1966), em que se classifica a doença em estágios de 0 a IV, sendo: 0-Carcinoma verrucoso não-invasivo; I-Tumor restrito a glande ou prepúcio, sem metástase inguinal; II- Tumor invade corpos cavernosos/esponjoso, sem metástase inguinal; III- Metástase inguinal ressecável; IV- Metástase inguinal irressecável. Devido às limitações do estadiamento TNM, incluindo-se falhas no prognóstico dos pacientes, alguns autores apresentaram propostas de mudança ou complementação do sistema atual. McDougal em 1995 propos o uso do grau tumoral e da profundidade de invasão da lesão como elementos a serem usados em um novo estadiamento (McDougal,1995). Esta proposta também foi recomendada por Cologna e colaboradores, em um estudo brasileiro (Cologna et al.,2001). Apesar das tentativas de mudança do estadiamento, o TNM e o estadio de Jackson continuam sendo os mais usados para o CP. 1.4 TRATAMENTO DO CP E MORBIDADE O tratamento do CP consiste na cirurgia da lesão primária (pênis) e das regiões inguinais. A operação do pênis (tratamento local) pode variar da excisão ampla do 18 tumor, penectomia parcial ou total e até a emasculação (ressecção do pênis, testículos e bolsa testicular) (de Paula et al.,2005). A linfadenectomia inguinal (tratamento regional) é indicada na presença clínica de metástase ou com base no risco de metástase inguinal oculta. A extensão do procedimento inguinal pode variar da simples dissecção do linfonodo sentinela até o esvaziamento radical inguinal bilateral (Lont et al.,2003). A dissecção do linfonodo sentinela consiste na identificação e estudo histológico do primeiro linfonodo da via linfática em questão. Embora seja um procedimento de menor porte, este procedimento não é custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Quando o achado do linfonodo sentinela é positivo para metástase, o esvaziamento inguinal radical torna-se imperativo. Apesar dos carcinomas escamosos, em geral, responderem a radio e quimioterapia, não há dados na literatura que suportem o emprego adjuvante (complementar) destes tratamentos no CP (Culkin Beer,2003), ou seja, mesmo diante de fatores de risco para metástase inguinal, após o tratamento da lesão primária, não há indicação de adjuvância. Da mesma forma, não há benefício em sobrevida câncerespecífica ao se usar radio e/ou quimioterapia após a linfadenectomia inguinal. A indicação de quimioterapia paliativa se faz na doença metastática à distância e como neo-adjuvância de casos inicialmente irressecáveis (Bermejo et al.,2007; Pagliaro et al.,2010). Este panorama levou vários autores a buscar meios mais eficazes de se identificar a presença de metástase inguinal oculta, assim justificando a indicação da linfadenectomia. Três fatores colaboram com a execução de cirurgias inguinais “desnecessárias”: 1-A falta de tratamento adjuvante eficaz; 2-Baixo nível sócioeconômico e cultural dos pacientes; 3-Carência de fatores prognósticos acurados para prever metástases inguinais subclínicas. A cirurgia inguinal tem elevada morbidade e os pacientes podem evoluir com linfedema crônico de membros inferiores e genitália, erisipelas de repetição, infecção de ferida operatória com eventual ruptura de vasos inguinais e risco de óbito (Ravi,1993a; Bevan-Thomas et al.,2002; Bouchot et al.,2004; Nelson et al.,2004; Kroon et al.,2005c; Pompeo,2005). Quanto maior o procedimento, maior o risco de morbidade subseqüente. Na tentativa de se reduzir a morbidade da linfadenectomia, Tobias-Machado e colaboradores chegaram a propor a realização do procedimento por via endoscópica, na tentativa de se reduzir os índices de infecção e necrose de ferida operatória (TobiasMachado et al.,2007). 19 No tocante a sobrevida, o mais relevante fator prognóstico é a presença e a extensão (número de linfonodos comprometidos) da metástase inguinal (Lopes et al.,1996; Srinivas Lynch,1997; Lopes et al.,2000; Bissada et al.,2003; Sanchez-Ortiz Pettaway,2003; Pompeo,2005; Kattan et al.,2006; Lont et al.,2007). Enquanto mais de 80% dos pacientes sem metástase inguinal sobrevivem, apenas 20% daqueles com mais de uma metástase inguinal se curam com a linfadenectomia (Ornellas et al.,1991; Hegarty et al.,2006; Scheiner et al.,2008). Parece haver vantagem de sobrevida para os pacientes submetidos à cirurgia inguinal profilática (metástase inguinal oculta), quando os compara aos tratados com cirurgias terapêuticas (linfonodos metastáticos palpáveis) (Ornellas et al.,1991; Ravi,1993b; Izawa et al.,2005; Kroon et al.,2005a; Kroon et al.,2005b; McDougal,2005; Ornellas,2008; Ornellas et al.,2008a). Entretanto, este benefício é sugerido por séries retrospectivas, pois não há, até o momento, nenhum estudo prospectivo ou randomizado correlacionando sobrevida com o momento da realização da linfadenectomia inguinal. A linfadenectomia inguinal profilática, denominada pré-emptiva, parece estar relacionada à melhor taxa de sobrevida, quando comparada à cirurgia inguinal de resgate ou terapêutica (Lont et al.,2003; Micali et al.,2004; Pompeo,2005). Alguns estudos atribuem uma melhor sobrevida câncerespecífica (SCE) à linfadenectomia inguinal, entretanto o suposto benefício se deve à inclusão de pacientes com estádio patológico pN0 (Ornellas et al.,1991; Lopes et al.,1996; Lont et al.,2003; Kroon et al.,2005a). Para a análise coerente da mortalidade câncer específica deve-se comparar os pacientes com metástase inguinal no espécime cirúrgico, submetidos à linfadencectomia inguinal pré-emptiva ou à linfadenectomia inguinal terapêutica precoce. Assim, é possível estabelecer se realmente o benefício na SCE se mantém ao indicar o esvaziamento inguinal na fase subclínica. Ainda caberia refletir se a melhor SCE na cirurgia pré-emptiva justificaria a morbidade aplicada aos pacientes operados e com estágio pN0. Outros autores, em séries maiores, não encontraram diferença na SCE em relação ao esvaziamento inguinal positivo precoce ou tardio (Ravi,1993b; Ornellas et al.,2008a). É imperativo que se identifique melhores fatores preditivos de metástase inguinal oculta, reservando-se a linfadenectomia inguinal precoce apenas para quando devidamente justificada. 2- PAPILOMAVIRUS HUMANO 20 2.1- CLASSIFICAÇÃO E BIOLOGIA O Papilomavírus Humano (HPV) é um vírus DNA com diâmetro de 55nm, não envelopado, classificado na família Papillomaviridae (ICTV, 2009), que infecta pele e mucosas de humanos. O genoma é constituído por uma molécula de DNA de fita dupla, circular, com cerca de oito mil pares de base e possui nove regiões de leitura aberta (ORFs - Open Reading Frames), que compreendem três regiões principais: precoce ou Early (E), que codifica as proteínas não estruturais (E1, E2, E4, E5, E6 e E7); a região tardia ou late (L) responsável pela síntese das proteínas do capsídeo L1 e L2 e a região regulatória ou Long Control Region (LCR) que contém a origem de replicação e sítios de ligação para fatores de transcrição virais e celulares (Hebner Laimins,2006; Munoz et al.,2006; Ghittoni et al.,2010). O gene estrutural tardio L1 codifica proteínas maiores e é gênero-específico, enquanto o gene L2 codifica proteínas menores e é tipoespecífico (Tyring,2000). Os HPV podem ser classificados em vários tipos de acordo com alguns critérios, por exemplo, seu tropismo, potencial oncogênico e classificação filogenética com base na homologia de suas seqüências de DNA (de Villiers et al.,2004; Bernard et al.,2010). Atualmente mais de 100 tipos já foram identificados, sendo que cerca de 40 estão relacionados às infecções ano-genitais (Munoz et al.,2003; de Villiers et al.,2004; Smith et al.,2007; Smith et al.,2009). Em 2004, o HPV foi classificado em 16 gêneros distintos, sendo sua nomenclatura representada por letras do alfabeto Grego, de “alfa” a “pi”. Em 2009, vinte e nove gêneros de HPVs já haviam sido descritos, havendo a necessidade de se acrescentar o prefixo “dyo” antes da letra grega correspondente, para se contemplar os “excedentes”. Os HPVs humanos foram distribuídos em cinco gêneros (Alpha, Beta, Gama, Mu e Nu), sendo os HPV 6, 11, 16 e 18 pertencentes ao gênero Alphapapillomavirus (de Villiers et al.,2004; Frazer et al.,2006; Bernard et al.,2010). Os demais HPVs humanos de interesse clínico se encontram inseridos nos gêneros Beta- e Gammapapillomavirus. Para se classificar um HPV como um novo genótipo é necessário que a sequência da proteína estrutural da região L1 difere entre si num percentual de 10%, enquanto subtipos de 10 a 2% e, as variantes menos de 2% (de Villiers et al.,2004; Bernard et al.,2010). Em relação ao risco oncogênico, os HPVs pertencentes ao gênero alphapapillomavirus podem ser classificados em grupos de baixo e alto risco oncogênico (Walboomers et al.,1999; Silva,2003; Souto et al.,2005; Smith et al.,2007). 21 HPV considerados de baixo risco oncogênico, associados aos condilomas acuminados, são representados principalmente pelos tipos 6, 11, 40, 42, 43, 54, 61,70, 72, 81. Já os de alto risco oncogênico, por estarem frequentemente associados às lesões precursoras de câncer, às neoplasias invasoras e aos tumores anogenitais, são representados pelos tipos 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59,68, 73 e 82 (Munoz et al.,2003; de Villiers et al.,2004; Frazer et al.,2006; Bleeker et al.,2009). 2.2 EPIDEMIOLOGIA E CURSO CLÍNICO DA INFECÇÃO Estima-se que 75% da população feminina foi ou será infectada pelo HPV durante a vida, sendo esta infecção a mais comum doença sexualmente transmissível (DST) do mundo (Weinstock et al.,2004). Apesar das infecções pelo HPV serem muito frequentes, a maioria dos pacientes acometidos consegue clarear ou debelar a infecção através da ação do sistema imunológico, sem nenhum desenvolvimento de doença, num período médio de dois anos (Frazer et al.,2006; Moscicki et al.,2006). Por outro lado, alguns pacientes desenvolvem infecção persistente, situação que pode induzir à proliferação celular epitelial indefinida, podendo, sob ação de co-fatores, levar ao desenvolvimento de neoplasias e câncer (Frazer et al.,2006). O HPV depende da maquinaria celular do hospedeiro para se multiplicar. As micro-fissuras genitais causadas pelo coito permitem o acesso do HPV às células da camada basal de pele ou mucosas (Souto et al.,2005). A característica de replicação contínua das células da camada basal para formar células do epitélio colunar (mucosas) ou estratificado (pele) favorece a proliferação do HPV. Após a entrada do vírus na célula, pode ocorrer a integração de seu material genético no DNA celular, dando início à produção das proteínas virais precoces. Em alguns casos, o HPV pode manter um baixo número de cópias de seu genoma, sob a forma epissomal, nas células da camada proliferativa basal. Nestas situações, nota-se um baixo nível de expressão dos genes E1, E2, E6, E7, porém ainda suficiente para a manutenção genômica do vírus. Por outro lado, quando ocorre a integração viral, as proteínas codificadas pelos genes E1 e E2 iniciam o processo de replicação do DNA do HPV. O gene E3 não é expresso em humanos. Os genes E4 e E5 estão ligados à maturação viral e provavelmente à formação de proteínas de membrana com atividade transformadora fraca. A proteína do gene E4 leva ao colapso da rede de citoqueratina, epigeneticamente representada pela alteração perinuclear típica do HPV, chamada de coilocitose. Os genes E6 e E7 codificam 22 proteínas que interferem no funcionamento adequado das vias de supressão tumoral dos genes supressores de tumor p53 e do retinoblastoma (Rb), respectivamente (Fehrmann Laimins,2003; Kanodia et al.,2007). Posteriormente as proteínas codificadas por genes virais tardios L1 e L2 formam o nucleocapsídeo viral. O ciclo de replicação dura cerca de três semanas entre a infecção e a liberação de novos vírus, que é o tempo que um queratinócito leva para se diferenciar e descamar. Este processo não gera citólise ou inflamação, o que dificulta a ativação do sistema imunológico do hospedeiro. A infecção pelo HPV ocorre exclusivamente em ambiente intracelular, exigindo que sua presença seja reconhecida por células apresentadoras de antígeno (APC) do epitélio, denominadas células de Langerhans. Cabe às células dendríticas do estroma, ativar a imunidade celular (células T), após terem sido estimuladas por partículas virais do HPV (Stanley et al.,2007). 2.3 DIAGNÓSTICO DE INFECÇÃO POR HPV A infecção por HPV nem sempre é detectável clinicamente. Alguns pacientes podem apresentar pequenas áreas de vermelhidão do epitélio, enquanto outros desenvolvem verrugas na pele e/ou em mucosas (Cubilla et al.,2004; Krustrup et al.,2009). A proteína viral codificada pelo gene E4 leva ao colapso da rede de citoqueratina, representada pelo halo claro perinuclear, chamado de coilocitose. Na histologia, este achado é frequentemente interpretado como decorrente de ação do HPV (de Paula et al.,2007; Ornellas et al.,2008b; Krustrup et al.,2009). O HPV não cresce em culturas celulares e o diagnóstico sorológico é impreciso, por ser difícil distinguir entre infecção recente, presente ou passada. O diagnóstico molecular do HPV pode ser realizado por várias técnicas, sendo importante também a determinação dos genótipos virais (genotipagem). As diferentes taxas de prevalência de HPV reportadas podem ser influenciadas por fatores como: coleta da amostra, tipo do espécime clínico a ser examinados (citologia ou biópsia), maneira e tempo de armazenamento deste material (suspensão, esfregaço, criopreservação, parafinização) e, finalmente, à escolha da técnica laboratorial a ser empregada. Todos estes fatores podem influenciar na extração do DNA. A análise da integridade do material genético deve ser atestada por amplificação de genes constitutivos como beta-globina ou de gliceraldeíno 3-fosfato desidrogenase (GAPDH), antes de se partir para a detecção do DNA-HPV. 23 2.3.1 TÉCNICAS LABORATORIAIS DE DIAGNÓSTICO E GENOTIPAGEM DE HPV Hibridização in situ Através da hibridização de pequenos segmentos de RNA ou DNA esta técnica é capaz de identificar o DNA do HPV em células. A hibidização in situ é complementar à citologia e utiliza vários probes (sondas) com seqüências já conhecidas para hibridizar, especificamente, com o DNA-HPV intracelular. Sua sensibilidade é de cerca de 70%, devido à presença de pequenas quantidades do DNA viral em cada célula, ficando aquém da reação em cadeia da polimerase (PCR) (Birner et al.,2001). Com uma especificidade de 63%, para genotipagem ainda é necessário o uso de múltiplas sondas tipo-específicos (Molijn et al.,2005). Hibridização por Southern Blotting O DNA da amostra é digerido por meio de enzimas de restrição e os fragmentos gerados são separados por eletroforese em um gel de agarose. Os fragmentos de DNA são visualizados depois de corados com brometo de etídio. Utilizando-se solução salina, estes fragmentos são então transferidos para uma membrana de nitrocelulose ou náilon por capilaridade (Stamey et al.,2003). Apesar de trabalhosa e inadequada para detecções amplas, esta técnica possui alta sensibilidade e especificidade (Molijn et al.,2005). Captura híbrida Técnica automatizada de marcação em laboratório, que utiliza um método de amplificação de sinal não-radioativo, tendo como base híbridos de DNA-HPV que se ligam a probes de RNA tipo-específicos. Estes híbridos são colocados em microtubos, onde recebem anticorpos monoclonais em um substrato quimioluminescente, que os identificam. A leitura semi-quantitativa é então feita para determinar a quantidade de DNA-HPV presente (Bozzetti et al.,2000). As limitações deste método são: 1-A existência de coquetéis para diagnóstico de HPVs de alto ou baixo risco não permite distinguir qual ou quais tipos de HPV estão presentes; 2-Sensibilidade reduzida devido ao limite de detecção de 5000 equivalentes genômicos; 3-Risco de reação cruzada entre coquetel de HPV de alto e baixo risco (Castle et al.,2004). 24 Captura Híbrida 2 Apresenta sensibilidade superior a hibridização in situ e similar a técnica de PCR, ambas acima de 97% (Molijn et al.,2005; Stillman et al.,2009). Existem dois kits já aprovados para uso nos Estados Unidos, sendo o Hybrid Capture Tube e o Hybrid Capture 2, ambos detectam 13 tipos de HPV de alto risco (16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59 e 68). Reação em cadeia da polimerase (PCR) Para melhorar a sensibilidade diagnóstica, outras técnicas, envolvendo multiplicação do material genético viral, foram desenvolvidas. Entre estas, a reação em cadeia da polimerase (PCR) foi a mais difundida. A PCR amplifica o número de cópias do DNA-HPV, antes da adição de anticorpos marcados (corados) para se identificar oligonucleotídeos iniciadores (primers) de uma sequência genética específica. A PCR pode identificar um ou mais HPVs, dependendo do(s) primer(s) em questão. PCR tipo específica Utiliza apenas um tipo de sonda e, assim, amplifica apenas um genótipo de HPV. Trata-se de técnica trabalhosa, dispendiosa, e cada primer usado necessita ser validado. PCR de largo espectro Existem basicamente 3 tipos de sondas para PCRs de detecção de HPVs de largo espectro: 1-O primeiro emprega 2 primers sendo um no sentido senso e outro antisenso, tendo como alvo uma região genômica conservada, em baixa temperatura de anelamento (Ex: GP5+/GP6+); 2-PCR c/ primers semelhantes ao primeiro tipo, porém contendo degenerações, o que não exige baixa temperatura de anelamento (Ex: My09/11); 3-PCR com vários primers senso e anti-senso, todos com o mesmo alvo do genoma viral (Ex: PGMY e SPF10) (Molijn et al.,2005). Os resultados das PCRs dependem do tamanho do fragmento alvo a ser amplificado (quanto menor o fragmento, mais fácil a amplificação), uma vez em que os espécimes parafinados tendem a fornecer DNA degradado. PCR em tempo real A PCR em tempo real também pode ser usada, tanto para a detecção e genotipagem do HPV, quanto para a determinação, em tempo real, do número de cópias de híbridos de DNA presentes na amostra. A necessidade de se usar uma mistura de sondas e iniciadores gera dificuldades na sua padronização. PCR por transcriptase reversa (RT-PCR) 25 Também é possível buscar por RNA viral ao se empregar a transcriptase reversa na fase que antecede a amplificação da PCR. Esta técnica, denominada RT-PCR, permite avaliar a expressão dos oncogenes do HPV. Teoricamente, quanto maior a expressão de E6/E7, maior a gravidade da lesão (Lamarcq et al.,2002). Esta técnica permite a avaliação da integração do material genético viral nas células do hospedeiro, ao se estabelecer a relação entre as proteínas virais E2 e E6/E7. Hibridização reversa em pontos A tecnologia de hibridização reversa possibilita a genotipagem de múltiplos tipos de HPV ao mesmo tempo. O line probe assay (LiPA) utiliza uma tira de membrana contendo várias sondas imobilizadas como linhas paralelas. Outras variantes são o Line Blot Assay (LBA) e o Linear Array (LA) (Gravitt et al.,2003; Molijn et al.,2005). Este último pode identificar mais de 35 tipos de HPV ao mesmo tempo, embora exija material a fresco ou criopreservado (Siriaunkgul et al.,2008). A hibridização reversa permite hibridizar, simultaneamente, um produto da PCR (em fase líquida) com múltiplos oligonucleotídeos iniciadores biotinilados em fase sólida. Após a hibridação, faz-se a leitura da tira de membrana, através da observação de uma linha corada por um conjugado de estreptavidina e um substrato, correspondente à seqüência em questão. Esta tecnologia possibilita a detecção de múltiplos tipos de HPV com elevada precisão e em uma etapa única (Gravitt et al.,2003; Molijn et al.,2005). 2.4 PREVENÇÃO E CONTROLE DE INFECÇÃO POR HPV O papilomavírus humano causa uma das infecções sexualmente transmissíveis mais comuns em todo o mundo. A exposição ao HPV, tipicamente produz uma infecção que pode evoluir para um processo clinicamente aparente, como verrugas genitais e lesões cervicais do trato genital inferior. Embora a maioria das infecções por este vírus é transitória, resolvendo espontaneamente dentro de dois anos, algumas envolvendo HPV de alto risco persistem e são considerados precursores do câncer cervical (Giraldo et al.,2008; Juckett Hartman-Adams,2010). O homem é um reservatório natural do vírus, contudo, o papel carcinogênico do HPV na população masculina é menos relevante para a maioria dos tumores. Já na mulher, o HPV é um carcinógeno essencial para o desenvolvimento do câncer de colo uterino, embora também possa causar grandes transtornos através de lesões benignas como as verrugas 26 genitais (Cogliano et al.,2005). O impacto do diagnóstico de HPV extrapola o âmbito clínico, podendo resultar em trauma psíquico, por ser uma doença sexualmente transmissível, podendo promover interferências em relacionamentos conjugais presentes e futuros (Harper,2004). A prevenção primária contra o HPV deve envolver programas de orientação à comunidade, como: incentivo ao uso de preservativos e hábitos de higiene, redução do número de parceiros sexuais e de vacinação em massa de populações alvo (Svare et al.,2002). O uso de preservativos parece não alterar o risco de infecção por HPV, mas reduz o risco de desenvolver a doença (Manhart Koutsky,2002). Alguns estudos sugerem que não há benefício em vacinar homens contra HPV, embora países como Itália, Austrália e o Reino Unido a incluíram no calendário vacinal (Kim et al.,2007; Stanley,2007; Kim Goldie,2009). A população com maior recomendação é a feminina de 9 a 26 anos, antes de iniciar a atividade sexual (Stanley,2007). A vacinação contra o HPV seria o meio mais eficaz de previnir lesões pré-malígnas e o câncer cervical (Harper,2004; Villa et al.,2005). Atualmente o mercado dispõe duas vacinas profiláticas, uma bivalente contra os HPVs 16 e 18, e a outra, quadrivalente, contra estes acrescidos do 6 e 11 (Harper,2004; Villa et al.,2005; Stanley,2007; Chang et al.,2009). A sustentação da resposta biológica é em torno de 90 a 100%, para os tipos citados, além de haver evidências de proteção cruzada para outros tipos (Garland et al.,2007; Joura et al.,2007; Ault et al.,2011). Os títulos de anticorpos encontrados em populações vacinais também são muito superiores aos títulos da infecção natural pelo HPV (Harper et al.,2006). Todavia, todos os resultados vacinais publicados são referentes à proteção de lesões de colo de útero e vagina, incluindo a prevenção de verrugais genitais. O tratamento das lesões benignas associadas ao HPV pode envolver a ressecção cirúrgica ou a ablação por laser, crioterapia ou eletrocautério. As terapias adjuvantes, que visam reduzir o risco de recorrência da doença, são ancoradas em imunomodulação (interferon alfa-2a e imidazoquinolinas), em agentes antiproliferativos (podofilina, 5Fluorouracil, bleomicina), em terapia fotodinâmica ou no uso de anti-virais (aciclovir, ribavirina, cidofuvir) (Snoeck,2006). Apesar do elevado índice de prevalência de HPVs de alto risco entre pessoas sexualmente ativas, poucas pessoas desenvolvem doenças anogenitais malígnas ou prémalígnas (Frazer et al.,2006). A maioria das infecções por HPVs é eliminada, via sistema imunológico, por um processo denominado clareamento. Apenas as infecções persistentes parecem aumentar o risco de desenvolvimento de tumores. 27 2.5 EPIDEMIOLOGIA DO HPV EM CARCINOMA PENIANO O HPV está associado ao desenvolvimento de vários tipos de câncer de cabeça e pescoço, anal, vulvar e colo uterino ((Moore et al.,2001; Mork et al.,2001; Bjorge et al.,2002; Rabelo-Santos et al.,2003; Boccardo,2004; Parkin Bray,2006; Bosch et al.,2009). A relação entre câncer cervical e a infecção por HPV do tipo oncogênico já esta bem estabelecida, através de técnicas de biologia molecular, em que se consegue detectar DNA do HPV em 92,9% a 99,7% dos espécimes invasivos analisados (Walboomers et al.,1999; Munoz et al.,2003; Bosch et al.,2008). Por outro lado, a analogia do CP com o câncer de colo é frequente, porém equivocada. Apesar de ambos apresentarem a histologia epitelial escamosa, enquanto a prevalência de HPV no câncer cervical é aproximadamente 100%, no CP ela fica em torno de 50% (Walboomers et al.,1999; Dillner et al.,2000b; Moore et al.,2001; Castellsague et al.,2002; Munoz et al.,2003; Backes et al.,2009; Miralles-Guri,2009). Apenas um estudo analisando 216 pacientes com CP, utilizando PCR em tempo real, mostrou uma prevalência mais elevada de DNA-HPV (83%). Apesar disso, os autores não encontraram relação prognóstica com a presença viral (Kirrander et al.,2010). A melhor analogia de comportamento biológico e relacionado ao HPV se faz entre o CP e o câncer de vulva (Iwasawa et al.,1997; Rubin et al.,2001). Até o momento existem quatro revisões literárias sobre prevalência de HPV em indivíduos com carcinoma peniano. De acordo com estas revisões, no período de 1966 a 2008, a prevalência média de HPV em CP invasor variou de 30 a 50% (Dillner et al.,2000a; Carvalho et al.,2007; Backes et al.,2009; Miralles-Guri,2009). Segundo uma meta-análise sobre associação de HPV com CP em que foram selecionados 39 artigos, a detecção de DNA-HPV, realizada pela técnica de PCR, exibe prevalência em torno de 57%, sendo o HPV 16 o mais comum (88.4%) (Carvalho,2010). De acordo com os dados da meta-análise há uma relação significativa entre HPV 16 e câncer de pênis. A correlação de HPV com o CP depende do tipo histológico e do nível de invasão. O carcinoma basalóide, a neoplasia intraepitelial do pênis (NIP) e o carcinoma in situ podem estar associados ao HPV de alto risco em 80-100% dos casos (Malek et al.,1993; Rubin et al.,2001; Heideman et al.,2007; Miralles-Guri,2009; Cubilla et al.,2010). Já o 28 carcinoma verrucoso se associa aos HPVs 6 em 11 (baixo risco) em mais de 70% dos casos (Cubilla et al.,2001; Cubilla et al.,2004; Lallemand et al.,2005; Bleeker et al.,2009). A importância do HPV na gênese do câncer de pênis não está ainda bem estabelecida, sendo o percentual de detecção do vírus em carcinoma invasor, de 30 a 60%, segundo vários autores (Tabela I). A prevalência do HPV em homens sadios varia de 8 a 30% (Giuliano et al.,2008). Supostamente este número é ainda maior e crescente, se considerarmos o potencial de transmissão viral e a mudança global de comportamento humano, favorecendo a promiscuidade sexual. Tabela I- Prevalência de DNA-HPV em pacientes com CP em diferentes países no período de 1995 a 2010. Autores Ano País/Região n HPV(%) HPV 16 Gregoire et al 1995 EUA/Paraguai 117 22.2 88.5 Picconi et al 2000 Argentina 38 71 81 Rubin et al 2001 EUA/Paraguai 142 42.2 63.3 Zhang et al 2001 China 19 10 --- Ferreux et al 2003 Holanda 53 38 75 Daling et al 2005 EUA 94 79.8 69.2 Semba et al 2006 Tailandia 65 81.5 1.8 Lont et al 2006 Holanda 171 29 76 Heideman et al 2007 Holanda 83 55 52 Pascual et al 2007 Espanha 65 77.5 84.2 Torsenello et al 2008 Itália 41 46.3 94.7 Prowse et al 2008 Inglaterra 26 54 42.3 Krustrup et al 2009 Dinamarca 116 52 91 Kirrander et al 2010 Suécia 216 82.9 63 Cubilla et al 2010 Paraguai 202 32 71.8 No Brasil, os estudos realizados em paciente com CP verificaram uma prevalência de HPV variando de 30% a 72% (Tabela II). 29 Tabela II- Prevalência de DNA-HPV em pacientes com CP no Brasil no período de 1998 a 2008. Autores Ano Região n HPV(%) HPV 16 Levi et al 1998 SP 84 56 57.1 Gil et al 2001 SP 55 30.9 58.8 Bezerra et al 2001 SP 82 30.5 52 Neves et al 2002 DF 59 40.6 100 Scheiner et al 2008 RJ 80 72.5 20.6 Mendanha Sousa 2008 GO 29 34.5 100 Em Goiânia-GO existem dois estudos sobre a prevalência de DNA- HPV em homens. Silva Reis conduziu uma investigação em 100 homens sem evidência clínica de infecção e verificou uma positividade de 23% de DNA-HPV nesses pacientes sendo que 73,9% tinham HPV 16 e 18 (Reis,2005). Mendanha Sousa encontrou 34,5% de prevalência de DNA-HPV em 29 casos de carcinoma peniano, utilizando amostras criopreservadas.. Neste estudo, 100% das amostras positivas para HPV eram HPV 16 e 60% das amostras evidenciaram co-infecção com outros tipos (Mendanha Sousa,2008). 2.6 O HPV COMO PREDITOR DE METÁSTASE INGUINAL E DE SOBREVIDA Vários artigos têm mostrado a relação da infecção pelo HPV e CP, sendo este vírus considerado um cofator no processo da oncogênese desta neoplasia (Rubin et al.,2001; Ferreux et al.,2003; Scheiner et al.,2008). Por outro lado, a influência da infecção pelo HPV no risco de metástase inguinal e na sobrevida dos pacientes ainda não foi bem elucidado. Existem poucos estudos abordando o tema, com métodos diversos de detecção viral, sendo todos retrospectivos. A Tabela III mostra alguns destes estudos, e há controvérsia entre os resultados. Alguns autores sugerem que a simples presença de HPV não teria relevância prognostica, porém o HPV 16 estaria associado a um elevado risco de metástase inguinal e de óbito por CP (McCance et al. 30 1986; Levi et al. 1998; Bezerra et al. 2001; Rubin et al. 2001; Moore et al. 2001; Lont et al. 2006; Heideman et al. 2007; Yanagawa et al. 2008; Scheiner et al. 2008). Tabela III- Relação do HPV e risco de metástase inguinal e de óbito por câncer. Autores Método n/ % de HPV Risco N+ SCE Gil et al, 2001 PCR 55/30,9 ---- Pior* Gregoire et al, 1995 PCR 117/22,2 Inalterado Inalterada Bezerra et al, 2001 PCR 82/30,5 Inalterado Inalterada Scheiner et al, 2008 PCR 80/72,5 Inalterado Inalterada Lont et al, 2006 PCR 171/29** Inalterado Melhor Wiener et al, 1992 PCR 29/31 Inalterado Inalterada Kirrander et al, 2010 PCR 216/82,9 Inalterado Inalterada SCE- sobrevida câncer específica; *Apenas para HPV 16; ** HPV de alto risco; Risco N+= risco de metástase inguinal oculta A explicação para a não concordância entre os estudos se deve a diversidade dos métodos de detecção viral e ao desenho (retrospectivo) dos estudos. Gil e colaboradores, em uma coorte retrospectiva envolvendo 55 pacientes com CP, observaram que a presença do HPV 16 aumentou mais de sete vezes o risco de óbito em pacientes com essa neoplasia CP (Gil et al.,2001). A presença de um halo claro peri-nuclear é uma alteração morfológica denominada de coilocitose que pode indicar infecção por HPV em cerca de 60% das vezes (Backes et al.,2009). Três estudos avaliaram a presença da coilocitose em pacientes com CP. Ornellas e colaboradores, estudando 196 pacientes, verificaram a presença dessa alteração em 40,8% e, foi associada ao menor risco de metástase inguinal e morte por câncer nesses indivíduos (Ornellas et al.,1994). Lopes e colaboradores em outra série com 145 pacientes com CP, encontraram 44,8% de coilocitose em uma população semelhante, porém sem impacto prognóstico (Lopes et al. 1996). Em outra investigação, conduzida em 144 pacientes, essa alteração foi verificada em 63% dos portadores de CP, também sem impacto no risco de metástase ou morte por CP (de Paula et al.,2007). Apenas dois estudos usando técnica molecular avaliaram associação entre a presença de DNA-HPV e prognóstico em CP. O primeiro estudo, de Bezerra e colaboradores, envolveu 82 pacientes e a presença do vírus não alterou o prognóstico 31 (Bezerra et al.,2001). Na outra investigação, com 171 portadores de CP, Lont e colaboradores notaram que a presença de HPV de alto risco conferia melhor sobrevida câncer-específica. Os autores não observaram impacto da presença de HPV no risco de metástase inguinal e também não souberam explicar a vantagem de sobrevida observada entre os pacientes infectados pelo vírus (Lont et al.,2006). 3 CICLOOXIGENASE-2 E CÂNCER Desde 1863 Virchow elaborou a hipótese de que o câncer se originava em áreas de inflamação crônica (Balkwill Mantovani,2001). Sabe-se que cerca de 15% dos cânceres são originados por agentes infecciosos que promovem inflamação crônica (Kuper et al.,2000). Geralmente o processo inflamatório reparador é auto-limitado pela produção de citocinas antiinflamatórias na fase final de reparação. A carcinogênese gerada pelo processo inflamatório crônico (Eschwege et al.,2001) é complexa e envolve a participação de outros inibidores da apoptose e de angiogênese como citocinas, interleucinas e fator de necrose tumoral. Os macrófagos associados a tumor (TAM), depois de ativados pela IL-2, destroem células neoplásicas mas também produzem vários fatores de crescimento angiogênicos e linfangiogênicos, além de citocinas e proteases (Brigati et al.,2002). As células tumorais, contribuídas por TAM, produzem IL-10 que inibe o processo antitumoral mediado por linfócitos T. Os TAMs também produzem fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF) dos tipos VEGF-C, VEGF-D e receptores deste fator (VEGFR) do tipo VEGFR-3, que potencializam a proliferação de vasos sanguíneos e linfáticos (Schoppmann et al.,2002). Resumidamente, os fosfolípides de membrana são convertidos em ácido aracdônico por ação de fosfolipase A2. O ácido aracdônico, por ação de ciclooxigenase (Frazer et.al, 2006) 1 e 2, é convertido em prostaglandina. A PGE2 estimula a produção de VEGF e, conseqüentemente, da angiogênese. A PGE2 também ativa fibroblastos estromais, que produzem fator de crescimento de hepatócitos, estimulando o aumento da COX-2 (Fosslien,2001). A Figura 1 representa o mecanismo de angiogênese induzida pelo câncer. As ciclooxigenases (COXs) são enzimas regulatórias da família das mieloperoxidases que tem como produto primário as prostaglandinas (PGs). As PGs são mediadores fisiológicos e patofisiológicos de entidades como febre, dor, inflamação, trombose, vasomotilidade e função renal. As PGs promovem a angiogênese, que é um dos fenômenos necessários para o crescimento tumoral e para o desenvolvimento de 32 metástases (Suh,2000). A prostaglandina E2 (PGE2) induz a produção de VEGF e a expressão de metaloproteinases, além de suprimir a imunidade celular e humoral (Eschwege et al.,2001; Sheng et al.,2001). A COX-1 é encontrada em vários tecidos, mas a COX-2 nunca é expressa em condições normais. O gene que regula a produção da COX-2 está localizado no cromossomo 1 (1q25.2-25.3), cuja transcrição é ativada por meio de várias situações como inflamação, infecção e câncer. O controle da transcrição ocorre por metilação e mecanismos póstranscripcionais. Vários oncogenes e fatores de crescimento podem induzir expressão de COX-2. As COXs são abundantemente encontradas no retículo endoplasmático e núcleo. A COX-2 está envolvida na oncogênese através da estimulação da proliferação celular, angiogênese, redução da apoptose e interferência imunológica (inibe gênese de linfócitos T e da atividade citotóxica dos linfócitos natural killers (NK) (Fosslien,2000). A COX-2 também induz a produção de metaloproteinases e de moléculas de adesão, contribuindo assim para o processo de metastatização (Price et al.,1997; John Tuszynski,2001). A COX-2 encontra-se hiper-expressa em tumores de mama, cólon, rim, colo uterino e pulmão (Fosslien,2000; Tomozawa et al.,2000; Gaffney et al.,2001; Slaton et al.,2001; Sun et al.,2002; Tang et al.,2002), sendo às vezes considerada como fator de mau prognóstico (Madaan et al.,2000; Tomozawa et al.,2000; Gaffney et al.,2001). Melatonina Hipóxia Angiogênese Tumoral Figura 1- Mecanismo de angiogênese tumoral. (Com permissão da Annals of Clinical & Laboratory Science; Fosslein et al 2001) 33 A proteína p53 inibe a expressão de COX-2, mas estimula a expressão de trombospondina-1 (TSP-1) (Cinatl et al.,1999). Existe apenas um trabalho publicado sobre COX-2 e carcinoma peniano. Em 2003, Golijanin e colaboradores estudaram sete casos de CP no Memorial Sloan-Kettering de Nova Iorque. Os autores observaram que COX-2 e PGE-2 encontravam-se hiperexpressas em 100% dos casos de carcinoma invasor do pênis e pouco expressas em amostras de tecido peniano normal e carcinoma in situ. Os autores sugeriram a realização de estudos que avaliem a ação de antiinflamatórios não hormonais (AINH) neste tipo de câncer (Golijanin et al.,2004). 4 VEGF E CÂNCER Desde meados de 1970 se descobriu que os tumores maiores que 2 mm de diâmetro dependem da proliferação de novos vasos sanguíneos para progredir (Folkman et al.,1971). O processo carcinogênico leva à proliferação de capilares no estroma tumoral, a partir de células endoteliais do hospedeiro, mantendo assim a oxigenação e nutrição tecidual adequadas,. Este processo, denomindo angiogênese, é induzido pela expressão de VEGF e de seus receptores (Li et al. 2001). O processo angiogênico também envolve a vasodilatação, o aumento da permeabilidade vascular, a degradação da membrana basal por metaloproteinases, a redução da adesão celular pela ativação do plasminogênio, a formação de cordões endoteliais e o recrutamento de células paraendoteliais (Hoeben et al.,2004; Roy et al.,2006). O fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF) constitui um grupo de glicoproteínas composto pelos fatores VEGF-A, B, C, D, E e F, além do fator de crescimento placentário (PGF). Todos eles possuem homologia em uma parte estrutural chamada de domínio. O VEGF-A, também chamado apenas de VEGF, é o mais compreendido. O gene que codifica esta família de proteínas está localizado no cromossomo 6 (6p12) (Wei et al.,1996). A transcrição deste gene é influenciada por citocinas e outros fatores de crescimento como o fator ligado ao endotélio (EGF), fator derivado de plaquetas (PDGF), fator de necrose tumoral (TNF-alfa), fator ligado ao hepatócito (HGF) e a interleucina-1 (IL-1) (Wissmann Detmar,2006). Nas células endoteliais o VEGF se liga a receptores de membrana, do tipo tirosina-quinase, induzindo à angiogênese. Existem diferentes receptores de VEGF, cada um ativando vias diversas de sinalização intracelular, sendo: VEGFR-1 (Flt-1), VEGF-2 (fetal liver 34 kinase-1, Flk-1 ou KDR) e VEGFR-3 (Flt-4). Os receptores 1 e 2 estão, preferencialmente, nas células endoteliais vasculares e o VEGFR-3 no endotélio vascular linfático. O VEGFR-3 é específico para o VEGF-C e D. O VEGF-A também pode induzir a linfangiogênese ligando-se no VEGFR-2. Alguns estudos mostram correlação entre a expressão de VEGF-C e D com maior risco de metástases linfonodais, sendo estes marcadores frequentemente encontrados em células tumorais (Su et al.,2007; Ke-liang,2008; Bolenz et al.,2009). Outros estudos também associam o aumento de VEGF a um pior prognóstico no câncer gástrico, de cólon e reto, de mama, ginecológico, renal e de próstata (Maeda et al.,1996; Gasparini,2000; Lee et al.,2000; Su et al.,2007; Bolenz et al.,2009). Alguns estudos utilizaram a densidade microvascular (DMV) para avaliar a angiogênese e encontraram correlação com progressão tumoral e maior risco de metástases (Maeda et al.,1996; Vermeulen et al.,2002). A imunoistoquímica (IHQ) é capaz de identificar “áreas quentes” (hot-spots) que são regiões de microcirculação não identificáveis à microscopia convencional. Alguns anticorpos utilizados são o antiCD31, anti-CD34, anti-CD105 e anti-fator VIII (Vermeulen et al.,2002). Apesar de atrativo, o método de avaliação de DMV é controverso por falta de concordância entre avaliadores, também contribuído por diferentes padrões de marcação de acordo com o anticorpo utilizado. A redução da subjetividade pode ser obtida através da imagenética, em que as imagens digitalizadas são avaliadas por softwares de computador (Tarta et al.,2004). Alguns estudos não encontraram correlação de DMV com pior prognóstico oncológico (Tanigawa et al.,1997; Kido et al.,2001). O processo oncogênico interrompe o equilíbrio entre fatores angiogênicos e antiangiogênicos que equalizam a expressão de VEGF, resultando em aumento da angiogênese. A TSP-1 inibe a expressão de VEGF, sendo, portanto, anti-angiogênica. A proteína p53 selvagem estimula a TSP-1 exercendo controle negativo da angiogênese. Os HPVs 16 e 18 parecem estar associados à maior angiogênese em portadoras de câncer de colo uterino (Nair et al.,1999). A Figura 2 mostra a relação entre a proteína E6 de HPV de alto risco e alguns fatores moleculares. 35 Proteína E6 do HPV ANGIOGÊNESE Proteólise AINH APOPTOSE Ácido Aracdônico Figura 2- Relação entre HPV, fatores moleculares e angiogênese. (Com permissão da Annals of Clinical & Laboratory Science; Fosslein et al 2001) A proteína E6 do HPV estimula o gene do VEGF através da inativação da p53, o que leva um aumento do COX-2 e, conseqüentemente, deixa de estimular a TSP-1. (Lopez-Ocejo et al.,2000; Tang et al.,2007). A alta expressão de COX-2, VEGF e metaloproteinase e a baixa expressão de TSP-1 estão associadas com a alta densidade microvascular tumoral (DMT), que é um fator de mau prognóstico em tumores malignos (Maeda et al.,1996; Lee et al.,2000; Seo et al.,2000). Em um estudo de 2002, Martins e colaboradores avaliaram a imunoexpressão de VEGF em 47 pacientes com CP e não acharam associação entre VEGF com grau e tamanho tumoral ou com desenvolvimento de metástase inguinal (Martins et al.,2002b). Em outra investigação em 44 pacientes com CP na China, também não foi observada associação entre grau e tamanho tumoral e VEGF, porém houve correlação entre VEGF e metástase inguinal (Ke-liang,2008). Até o momento, desconhecemos algum estudo que avalie o VEGF e a COX-2 em conjunto no carcinoma peniano. 36 5 A IMPORTÂNCIA DE COX-2 E VEGF-C COMO ALVOS DE NOVAS TERAPÊUTICAS DO CÂNCER 5.1 Terapia anti-COX-2 O processo inflamatório é frequentemente associado ao câncer e é tido como componente crítico para a progressão tumoral. As moléculas sinalizadoras do sistema imune inato (selectinas, citocinas) parecem ser essenciais para a invasão tumoral e para o desenvolvimento de metástases. Nos tumores o processo inflamatório é perpetualizado devido à presença de fatores indutores da carcinogênese ou devido à falha dos mecanismos inibidores da resposta inflamatória. Logo, em qualquer destas situações, o processo inflamatório representa um alvo terapêutico interessante no tratamento oncológico (Coussens Werb,2002). A COX-2 é possui um papel prognóstico já estabelecido em vários tumores, mas pode também ser importante tanto na prevenção como no tratamento de alguns tipos de câncer. As maiores evidências do papel antitumoral dos anti-inflamatórios não-hormonais (AINH) advêm de largos estudos envolvendo usuários crônicos de ácido acetil salicílico (AAS), também conhecido como aspirina. Os dados mostram uma proteção de cerca de 50% na ocorrência de câncer de cólon, além de potencial de prevenção contra câncer de esôfago, pulmão e estômago (Baron Sandler,2000; Madaan et al.,2000; Friis et al.,2006; Grau et al.,2009). A COX-2 é inibida por AINH, seletivos ou não. Os AINH inibem a COX-1 e COX-2, mas há inibidores seletivos de COX-2. A aspirina não é seletiva para COX e também inibe a inflamação induzida por plaquetas através da redução da produção de PGs, endoperóxidos e tromboxano A2 (Coussens Werb,2002). Mecanismos não ligados a COX, porém envolvidos na inflamação, também podem inibidos com o uso de AINH. São eles: a)Indução da apoptose por liberação do citocromo C das mitocôndrias (e conseqüente ativação das caspases 3 e 9); b)Inibição do fator alfa de necrose tumoral; c)Inibição de matriz metalo-proteinases (MMP), reduzindo a angiogênese, a migração de células inflamatórias e ações antiapoptóticas (Coussens Werb,2002). Há poucos dados que suportem o uso de AINH no tratamento do câncer (Fu et al.,2004; Sarkar et al.,2007), embora o uso concomitante a agentes quimioterápicos ou anti-angiogênicos mereça ser avaliado. 37 5.2 Terapia anti-VEGF e anti-VEGF-R O Projeto Genoma, iniciado em 1989 nos Estados Unidos, identificou mais de 90% do DNA humano. Com isso, foi possível o isolamento de vários genes, permitindo o melhor entendimento do processo carcinogênico. As informações sobre genes como receptor 2 de fator de crescimento epidérmico humano (HER-2), Von Hippel-Lindau (VHL), Birt-Hogg-Dube (BHD), foram usadas para o desenvolvimento de anticorpos monoclonais (Monoclonal antibodies-MABs) e inibidores de receptores de membrana do tipo tirosina quinase (NIBs), que mudaram as bases do tratamento oncológico do câncer de mama, colo-retal, rim e de leucemia no início deste século (Bross et al.,2001; Ng Cunningham,2004; Harris et al.,2007; Escudier et al.,2008). Estas drogas inibem a angiogênese, reduzindo a progressão tumoral e, consequentemente, o risco de metástases à distância. O bloqueio angiogênico pode ser feito diretamente no VEGF, em seus receptores (VEGF-R) ou através de ambos. Teoricamente, a terapia antiangiogênica é superior à quimioterapia por atingir células endoteliais geneticamente estáveis e por ser menos tóxica (drogas alvo-dirigidas). O uso do bevacizumab, que bloqueia o VEGF, já se mostrou eficaz contra o carcinoma renal metastático (Spiess Fishman; Kassouf et al.,2007). Atualmente investiga-se o sunitinib, erlotinib, sorefenib, everolimus, axitinib, pozapanib e tenserolimus como terapias adjuvantes para pacientes de alto risco de falha sistêmica (Vira et al.,2007; Linehan et al.,2010). Resultados promissores usando-se erlotinib em associação com quimioterapia para tratamento de carcinoma escamoso de cabeça e pescoço já foram observados (Cohen et al.,2009). Como o CP é representado, em sua maioria, por carcinoma escamoso, é possível que resultados semelhantes possam ser obtidos através de protocolos semelhantes. O uso de anticorpos monoclonais associado a radio ou quimioterapia, visa um efeito superior ao obtido com monoterapia, e deve ser melhor avaliado (Arap et al.,1998; Cunningham et al.,2004; Escudier et al.,2007). Até o momento não houve nenhum estudo usando-se inibidores de angiogênese ou de COX-2 no tratamento do CP. 38 6- JUSTIFICATIVA O carcinoma peniano é uma doença rara, que acomete pacientes com baixo nível sócio-econômico e cultural, porém ainda considerada um grave problema de saúde pública. A falta de higiene, contribuída pela persistência de fimose na vida adulta, promove um ambiente adequado para a carcinogênese deste tumor. O perfil epidemiológico do CP não desperta interesse econômico da indústria farmacêutica para o desenvolvimento de novos fármacos, também corroborado pelo baixo índice de investigações sobre o tema. O maior problema do portador de CP, além da lesão primária, é a doença metastática inguinal, que exige a realização de cirurgias mutilantes na tentativa de se controlar a enfermidade. Para o médico, o desafio está em selecionar bem o paciente a ser submetido à linfadenectomia inguinal. A falta de preditores precisos que identifiquem metástase inguinal clinicamente oculta determina a indicação de um grande número de cirurgias inguinais desnecessárias, podendo resultar em alta morbidade para o paciente. A busca pelo marcador ideal resultou em investigações abordando agentes biológicos como o papilomavírus humano (HPV), oncogenes (BAX, Bcl-2, Ki-67), genes supressores (p53, p16, Rb) e promotores de neoangiogênese (VEGF, COX). A importância do HPV no CP se deve ao modelo representado pelo câncer de colo uterino, em que este vírus é necessário para a promoção e progressão tumoral. Como o HPV também se associa a outros carcinomas (cabeça e pescoço, vulva, anogenital), sua investigação no CP pode resultar em avanços no entendimento da carcinogênese, do prognóstico e tratamento, além de propiciar novas ações epidemiológicas (vacinas). O interesse por COX-2 e VEGF-C extrapola a pesquisa de novos preditores de metástase inguinal no CP, pela existência de drogas que inibem estes agentes neoangiogênicos e que poderiam representar novas terapêuticas na adjuvância e neoadjuvância da doença avançada. 39 7- OBJETIVOS OBJETIVOS GERAIS Avaliar a expressão de COX-2 e VEGF-C em carcinoma peniano e seu valor prognóstico e estimar a prevalência e genotipagem de HPV 16 e 18 em portadores desta neoplasia em Goiânia-GO. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Determinar a prevalência e tipos de HPV na população estudada. Avaliar a expressão de COX-2 e VEGF-C em relação à metástase inguinal e sobrevida câncer-específica dos pacientes. Avaliar a caracterização histopatológica do tumor primário e sua influência no risco de metástase inguinal e óbito por CP. Analisar a associação entre os imunomarcadores e as variáveis clínicas e histopatológicas da lesão primária. 40 8- MATERIAL E MÉTODOS 8.1 POPULAÇÃO DO ESTUDO Estudo de coorte prospectiva envolvendo pacientes portadores de carcinoma de pênis (CP) tratados no serviço de Uro-Oncologia do Hospital Araújo Jorge (HAJ) da Associação de Combate ao Câncer em Goiás (ACCG), no período de janeiro de 2001 a julho de 2008. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Araújo Jorge (protocolo No 007/2008). A partir de janeiro de 2001, coletou-se, prospectivamente, dados clínicos e histopatológicos de todos os pacientes com diagnóstico de CP adimitidos no serviço de Uro-Oncologia. Um total de 148 pacientes foi tratado pelo serviço de Uro-Oncologia no período estabelecido. Vinte e um pacientes foram excluídos, sendo quatro por ausência de bloco de parafina do tumor primário disponível para análise e os demais por terem recebido tratamento prévio fora do HAJ. Cento e vinte e sete casos obedeciam aos critérios de inclusão. Os desfechos de interesse eram a presença ou desenvolvimento de metástase inguinal e o óbito por CP. Os casos que evoluíram a óbito por complicações de tratamento ou outra causa, na vigência de CP incurável, foram considerados como óbito câncer-específico. Para cálculo de sobrevida consideramos a data da cirurgia do tumor primário (pênis) como inicial. A censura foi aplicada na data da última consulta aos pacientes vivos e aos mortos por causa não-oncológica e sem CP em atividade. O tratamento local foi excisão ampla, penectomia parcial ou total ou emasculação, dependendo da extensão da lesão primária. A linfadenectomia empregada variou da dissecção do linfonodo sentinela, esvaziamento inguinal profilático bilateral, terapêutico uni ou bilateral ou linfadenectomia higiênica. O estadiamento clínico usado foi o proposto por Jackson e o patológico pelo TNM 2002. 8.2 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Os pacientes cujo prontuário e/ou blocos de parafina do tumor primário não foram encontrados, bem como aqueles submetidos à quimioterapia neoadjuvante e/ou cirurgia do pênis fora do HAJ foram excluídos. 41 8.3 EXTRAÇÃO DE DNA A partir dos blocos de parafina contendo os fragmentos do tecido (previamente fixados em formalina), os espécimes (0,5 a 2,0 mg de tecido) eram transferidos para microtubos de centrífuga e submetidos à desparafinização. Após três lavagens sucessivas em 500 µl de xileno, por 15 minutos cada, a 55°C, procedia-se a centrifugação a 14.500 rpm por 3 minutos, descartando-se o sobrenadante. Após a desparafinização, o xileno era retirado por meio de três banhos em etanol absoluto, por 15 minutos cada, a 55°C, e nova centrifugação a 14.500 rpm por 3 minutos. Do material resultante, as amostras eram submetidas à purificação de DNA para posterior amplificação do gene GAPDH e detecção de HPV. Para a extração de DNA, foi utilizado o kit comercial de purificação do DNA genômico Wizard® (Promega Corporation, EUA), seguindo-se as instruções do fabricante. 8.4 DETECÇÃO DE DNA HUMANO O DNA extraído foi submetido à reação de PCR, utilizando-se os oligonucleotídeos iniciadores específicos para o gene GAPDH (gene constitutivo humano), que amplificam um fragmento de aproximadamente 90 pb (pares de base). A amplificação do GAPDH é necessária para assegurar a qualidade do DNA extraído e a ausência de inibidores inespecíficos da reação de PCR. Para não haver contaminação da PCR, esta era realizada em câmara de fluxo previamente limpa com álcool a 70% e irradiada com luz ultravioleta por 30 minutos. Todos os reagentes da PCR eram rapidamente centrifugados e homogeneizados no vórtex, sendo previamente descongelados sobre o gelo picado. Um controle negativo da reação contendo todos os componentes, exceto o DNA, era incluído em toda amplificação. Como controle positivo utilizou-se DNA humano extraído do sangue. As reações de PCR para amplificação de GAPDH foram realizadas num volume final de 25 µl, utilizando um termociclador (PE 2400, Perkin Elmer), em mistura contendo 2,0 mM MgCl2, 1,25 unidades de Taq DNA polimerase (Invitrogen), 200 µM de cada desoxinucleotídeotrifosfato (dATP, dCTP, dGTP, e dTTP), 100 pmol de cada primer (GAPDH P1 (f) : 5' TGGACTCCACGACGTACTCAG - 3' e GAPDH P2 (f) : 5' - TTGTCATCAATGGAAATCCCATCA - 3') e 25 ng de DNA em tampão 1 vez concentrado (Taq DNA Polimerase Buffer - Invitrogen). O protocolo de ciclagem utilizado incluía uma etapa inicial de desnaturação de 5 minutos a 94ºC, seguida de 35 42 ciclos com 30 segundos de desnaturação a 94 ºC, 1 minuto de anelamento a 59 ºC, 1 minuto de extensão a 72 ºC, com um ciclo final de 7 minutos de extensão a 72 ºC. Os produtos obtidos pelas reações de PCR, com aproximadamente 90 pares de bases, foram analisados em gel de poliacrilamida a 8% 8.5 DETECÇÃO E GENOTIPAGEM DO HPV Para detecção do genoma do HPV, foi utilizada a técnica convencional de PCR com primers consensuais GP5+ e GP6+. Todas as amostras negativas para a presença do HPV foram testadas três vezes. Como descrito anteriormente, todos os reagentes da PCR foram rapidamente centrifugados e homogeneizados no vórtex, sendo previamente descongelados sobre o gelo picado. Um controle negativo da reação contendo todos os componentes, exceto o DNA, foi incluído em todas as amplificações. Como controle positivo utilizou-se uma amostra positiva de HPV, previamente testada e DNA extraído da linhagem celular HeLa. As reações de PCR para amplificação de um fragmento da região L1 de vários HPV de alto risco foram realizadas num volume final de 25 µl, utilizando um termociclador (PE 2400, Perkin Elmer), em mistura contendo 2,0 mM MgCl2, 1,25 unidades de Taq DNA polimerase (Invitrogen), 200 µM de cada desoxinucleotídeotrifosfato (dATP, dCTP, dGTP, e dTTP), 100 pmol de cada primer (GP5+ : 5' TTTGTTACTGTGGTAGATACTAC - 3' e GP6+ :5' - CTTATACTAAATGTCAAATAAAAAG - 3') e 25 ng de DNA em tampão 1 vez concentrado (Taq DNA Polimerase Buffer - Invitrogen). O protocolo de ciclagem utilizado incluía uma etapa inicial de desnaturação de 4 minutos a 94ºC, seguida de 40 ciclos de 1 minuto de desnaturação a 94 ºC, 1 minuto de anelamento a 40 ºC, 1 minuto de extensão a 72 ºC, com um ciclo final de 7 minutos de extensão a 72 ºC. Os produtos obtidos pelas reações de PCR para detecção do DNA de HPV, com aproximadamente 140 pares de bases, foram analisados em gel de poliacrilamida a 8%. As reações de PCR usadas para genotipagem de HPV 16 e HPV 18 também foram realizadas num volume final de 25 µl, contendo uma mistura de 1,5mM MgCl2, 1,25 unidades de Taq DNA polimerase (Invitrogen), 200 µM de cada desoxinucleotídeo-trifosfato (dATP, dCTP, dGTP, e dTTP), 100 pmol de cada primer (HPV-18 P1 : 5' - ATGGCGCGCTTTGAGGATCCAAC - 3' e HPV-18 P2 : 5' CTAAGTTTTTCTGCTGGATTCAACG - 3'; HPV-16 P1 : 5'- 43 TCAAAAGCCACTGTGTCCTGA - 3' e HPV-16 P2 : 5'- CGTGTTCTTGATGATCTGCAA -3') e 25 ng de DNA em tampão uma vez concentrado (Taq DNA Polimerase Buffer - Invitrogen). O protocolo de ciclagem utilizado incluía uma etapa inicial de desnaturação de 5 minutos a 95ºC, seguida de 40 ciclos de 1 minuto de desnaturação a 95 ºC, 1 minuto de anelamento a 64 ºC p/ HPV-18 ou 1 minuto de anelamento a 62 ºC p/ HPV-16, 1 minuto de extensão a 72 ºC, com um ciclo final de 7 minutos de extensão a 72 ºC. Como controle positivo utilizou-se uma amostra de carcinoma escamoso cervical, positiva para o HPV 16 e outra positiva para o HPV 18, ambas previamente testadas. Os produtos obtidos pelas reações de PCR para detecção do DNA de HPV-16, com aproximadamente 120 pares de bases, e do HPV-18, com aproximadamente 390 pares de bases (Figura 3), foram analisados em gel de poliacrilamida a 8%, corados com nitrato de prata. Amostras testadas para o HPV-16 1 300 pb 2 3 4 5 Amostras testadas para o HPV-18 6 1 2 3 4 5 400 pb 300 pb 200 pb 200 pb 100 pb 100 pb Figura 3 - Eletroforese em gel de poliacrilamida 8%, corado com nitrato de prata, mostrando produtos de amplificação com cerca de 390 pares de bases obtidos por ensaios de PCR com a utilização de oligonucleotídeos iniciadores para a região E6 dos HPVs 16 e 18. Canaleta 1, amostra (-) e canaletas 2, 3, 4 e 5, amostras (+). 44 8.6 ANÁLISE Na análise imunoistoquímica (IHQ) empregou-se o método da imunoperoxidase associada a polímeros (Kit comercial MACH4 – Universal HRP-Polymer kit BioCare). A imunodetecção da proteína VEGF-C foi realizada com anticorpo policlonal (Rabbit anti-VEGF-C polyclonal antibody, Invitrogen) e da COX-2 com anticorpo monoclonal COX229 (Mouse anti-COX-2, clone: COX229, Invitrogen). Os cortes, montados em lâminas sinalizadas, foram desparafinizados e desidratados, em temperatura controlada, segundo o protocolo da técnica. Em seguida, foram submetidos à recuperação antigênica pelo calor, em panela de pressão, durante 5 minutos, utilizando-se o citrato 0,01M, pH 6,0. Após a recuperação antigênica, as lâminas foram mantidas à temperatura ambiente, para resfriamento, por cerca de 1 hora. O bloqueio da peroxidase endógena foi feito em peróxido de hidrogênio 3%, durante 10 minutos, e em seguida, as lâminas foram lavadas com tampão fosfato (PBS) por 5 minutos. Após o bloqueio, as lâminas foram incubadas a 4°C, durante a noite, com o anticorpo policlonal anti-VEGF-C, diluído (1:600), e anticorpo monoclonal anti-COX-2, diluído (1:800), em solução de PBS contendo 1% de albumina bovina. Após a incubação com o anticorpo primário, as lâminas foram submetidas a lavagem por três vezes em PBS, por 5 minutos, e incubadas durante 1 hora com o anticorpo secundário, conjugado com o polímero ligado à peroxidase . Depois de uma nova lavagem com PBS, por 5 minutos, a reação foi revelada com tetra-hidroclorato de 3-3’diaminobenzidina, por 5 minutos, e as lâminas levemente contracoradas com hematoxilina. Em seguida, as lâminas foram desidratadas e montadas com lamínula. A leitura da imunomarcação foi feita por duas patologistas, de modo independente. Cada patologista identificou a área tumoral mais bem corada pelo anticorpo em questão, que variou de 3-5 mm de diâmetro, em um aumento óptico de 40 vezes, utilizando-se um microscópio Nikon Eclipse E200. Nesta área, fez-se a análise de oito a doze campos, considerando-se a percentagem de células coradas pelo anticorpo para a determinação do índice de positividade. Para a leitura, considerou-se apenas as áreas epiteliais tumorais contendo células de coloração citoplasmática granular ou difusa, desprezando-se as marcações estromais, bem como a pigmentação melânica da camada basal. Um avaliador independente identificou os casos divergentes em que uma das leituras era igual a zero, encaminhando-os para re-análise conjunta pelas patologitas, obtendo-se uma graduação consensual. Devido às dificuldades em se estabelecer o diagnóstico de imunomarcação 45 positiva, procedeu-se à confecção e análise de curvas ROC (Receiver Operating Characteristic) dos índices de COX-2 e VEGF-C em relação à presença de metástase e morte por CP, obtendo-se assim, os valores de corte (cut-offs) para cada marcador. Foi realizada uma análise de concordância entre as leituras das patologistas, considerando-se divergentes os casos que não obedeceram os critérios de positividade , conforme os cut-off estabelecidos. Para isso, considerou-se a leitura inicial de cada patologista. 8.7 SEGUIMENTO E ANÁLISE ESTATÍSTICA O seguimento consistiu em exame físico e radiológico (ultra-som e tomografia pélvica) trimestral no primeiro ano, a cada quatro meses no segundo ano e, a cada semestre subsequentemente. A comparação de variáveis contínuas entre os grupos foi feita através do Teste T Student. Os testes de Qui-quadrado e exato de Fisher foram empregados na análise univariada. Para as taxas de sobrevida foram utilizadas tabelas de vida conforme descrito por Kaplan-Meier (Kaplan,1958), comparadas pelo teste de Log-Rank. Para o cálculo de sobrevida câncer-específica utiliza o desfecho óbito por CP. A censura foi aplicada na data da última visita médica ou quando ocorria o óbito por outra causa. Na análise multivariada foi utilizada Regressão Logística com correção de Bonferroni, considerando-se p<0.05 como significante para todos os testes. As curvas ROC foram usadas para encontrar o ponto de corte (cut-off) de positividade para COX-2 e VEGF-C, em relação à metástase inguinal e morte por CP. O cut-off foi determinado pela melhor sensibilidade e especificidade. ® O software Windows Statistical Package for Social Sciences versão 13.0 (SPSS , Chicago, Ill) foi utilizado para a análise estatística. 46 9- RESULTADOS DA DETECÇÃO E GENOTIPAGEM DE HPV Todos os cento e vinte e sete casos analisados mostraram positividade na PCR para o gene GAPDH, atestando a boa qualidade de material genético (DNA) obtido. Cinquenta e cinco pacientes (43,3%) apresentaram resultados positivos para a detecção do DNA-HPV, utilizando os oligonucleotídeos iniciadores GP5+/GP6+. A genotipagem dos casos positivos foi realizada com oligonucleotídeos iniciadores específicos para o HPV 16 e HPV 18. Vinte e oito casos (50,9%) foram positivos para detecção de HPV 16 e quatorze casos positivos para o HPV 18 (25,5%), sendo que em seis pacientes (10,9%), foi detectada co-infecção por estes genotipos. Outros 19 casos (34,5%) apresentaram PCR positiva para DNA de HPV não 16 e não 18. A utilização de oligonucleotídeos iniciadores para detecção de HPVs 16 e 18 foi adotada por se tratar dos genotipos mais prevalentes no carcinoma peniano e também por estarem inseridos no grupo de HPVs de alto risco oncogênico. A prevalência de HPV nesta amostra (43,3%) se mostrou concordante com os dados nacionais e internacionais (Neves et al.,2002; Tornesello et al.,2008b), bem como a presença mais comum do HPV 16 (50,9%), seguida pelo 18 (25,4%). Em um quarto dos casos não foi possível identificar qual o genotipo presente. A metodologia empregada também não permite a avaliação de infecção múltipla. Como a relevância prognóstica do HPV no CP ainda é controversa (Bezerra et al.,2001; Lont et al.,2006), foi realizada a análise entre a positividade do DNA viral e as características histológicas, dados clínicos e epidemiológicos dos pacientes. Os achados encontram-se dispostos nas Tabelas IV e V. 47 Tabela IV- Frequência dos fatores clínicos de acordo com a presença de DNA-HPV em pacientes com CP. HPV Variável Idade (anos) > 59 < 59 Estágio de Jackson 0/I/II III/IV Grau tumoral Baixo Alto Coilocitose Presente Ausente Infiltrado inflamatório Fraco Forte Nível de Infiltração Superficial (Ta, T1) Profunda (T2-T4) Invasão angiolinfática Presente Ausente Metástase inguinal Sim Não SCE Óbitos Vivos Pos/Total % 26/68 29/59 38.2 49.2 p pΩ 0.21* 0.20 0.81** 43/98 12/29 43.8 41.3 27/57 28/70 47.4 40 34/65 21/62 52.3 33.9 0.40* 0.03* 0.03 0.50* 16/41 39/86 39 45.3 30/63 25/64 47.6 39.1 10/29 45/98 34.5 45.9 0.33* 0.27* 0.35* 20/52 35/75 38.5 46.7 8/24 47/103 33.3 45.6 0.27* Pos/Total= No de pacientes com PCR positiva/ No total ; * Qui-Quadrado; Teste de Fisher **; SCE-Sobrevida câncer-específica; p= valor de p; pΩ= valor de p em Regressão logística. Entre as variáveis histológicas, apenas a coilocitose se associou a presença de DNA-HPV, inclusive em regressão logística (p=0,04; OR=2,1; IC95% 1,1-4,6). Não se observou qualquer associação entre a positividade de DNA de HPV e o risco de metástase inguinal ou óbito por CP. Ornellas e colaboradores encontraram que a ausência de coilocitose seria fator independente para óbito por CP (Ornellas et al.,2008b), o que não foi confirmado na presente análise (dado não apresentado). Em outra investigação, de Paula e colaboradores também não observaram impacto prognóstico em relação à presença de coilocitose (de Paula et al.,2007). 48 Tabela V- Frequência dos fatores clínicos de acordo com os tipos de HPV. Tipos HPV Variável HPV 16 +/- Idade (anos) > 59 < 59 Estágio de Jackson 0/I/II III/IV Grau tumoral Baixo Alto Coilocitose Presente Ausente Infiltrado inflamatório Fraco Forte Nível de Infiltração Superficial (Ta, T1) Profunda (T2-T4) Invasão angiolinfática Presente Ausente Metástase inguinal Sim Não SCE Óbitos Vivos p/ p Ω HPV 18 +/- 0.67*/0.65 14/54 14/45 0.39*/0.19 9/59 5/54 0.67**/-24/74 4/25 0.70**/-10/88 5/25 0.50*/-17/53 11/46 0.87*/-8/62 6/51 0.04*/0.04 19/46 9/53 0.10**/0.09 10/55 4/58 0.77*/-- 0.66*/-10/31 18/68 9/77 5/36 0.63*/-- 15/48 13/51 0.97*/-7/57 7/56 0.75*/-7/22 21/77 0.89**/-3/26 11/87 0.83*/-11/41 17/58 0.87*/-6/46 8/67 0.48**/-4/20 24/79 p/ p Ω <0.01*/<0.01 7/17 7/96 * Qui-Quadrado; Teste de Fisher **; +/- No de pacientes com PCR positiva/negativa; SCE-Sobrevida câncerespecífica; p= valor de p; pΩ= valor de p em Regressão logística. A colilocitose manteve associação ao HPV16 (p=0,04) e mostrou tendência de associação ao HPV18 (p=0,09), em regressão logística. A positividade para o HPV 18 foi preditor independente de óbito por CP (p<0,01). A literatura vigente é controversa. Dois autores relataram que os HPVs de alto risco estariam associados a um menor risco de metástase inguinal e óbito por CP (Lont et al. 2006; Yanagawa et al. 2008). Outros não encontraram relação entre a presença do HPV (independente do tipo) e prognóstico (Bezerra et al.,2001; Scheiner et al.,2008). 49 ARTIGO 1 Carcinoma peniano e papilomavírus humano (HPV): Artigo de Revisão Adriano Augusto Peclat de Paula1; Megmar Aparecida dos Santos Carneiro2; Joaquim Caetano de Almeida Netto2. 1-Hospital Araújo Jorge da Associação de Combate ao Câncer em Goiás; MSc. 2-Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás; PhD. Publicado na Revista Brasileira de Oncologia Clínica [ISSN 1806-6054], Vol.6, No16, pgs 7-11, em 2009. Introdução: O papel dos vírus no desenvolvimento de tumores foi primeiramente aventado por Borrel em 1903, entretanto, só em 1964, Epstein, Anchong e Barr demonstraram o primeiro vírus a gerar tumor em humanos (vírus Epstein-Barr) em células de linfoma de Burkitt (Borrel,1903). Strauss et al, usando microscopia eletrônica em 1949, visualizou partículas virais em verrugas. Logo depois, em 1954, Barret et al, confirmou a transmissão sexual de condilomas (Barret,1954). Em 1995 o IARC (Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer) passou a reconhecer os papilomavírus (HPVs) 16 e 18 como carcinógenos humanos, principalmente em se tratando de câncer de colo uterino, porém também de câncer anal, câncer do pênis, vulva, laringe e escroto ((IARC)). Hoje se estima que cerca de 15% dos tumores humanos sejam relacionados a vírus (Parkin Muir,1992). A presente revisão objetiva evidenciar atualizações referentes à caracterização do HPV, sua oncogênese, epidemiologia e considerações referentes ao carcinoma peniano. Metodologia: Foi realizada uma busca de artigos no PubMed, MedLine e Lilacs usando-se unitermos normatizados pelo Mesh para HPV e carcinoma peniano, estabelecendo-se limites para estudos publicados de 1997 a 2008, de língua portuguesa ou inglesa e envolvendo apenas seres humanos. Caracterização viral Os HPVs eram previamente pertencentes à família Papovaviridae e desde 2006 a nova taxonomia os classifica na família Papillomaviridae, dividindo as mais de 150 50 espécies de papilomavírus em 16 gêneros (Frazer et al.,2006). A maioria dos HPVs que causam doenças em humanos são dos gêneros alfa, beta ou gama papilomavírus. As espécies 7,9 e 10 contêm os HPVs 6, 11, 16 e 18 (Boccardo Villa,2007). O HPV é um vírus pequeno (aproximadamente 55 nanômetros), desnudo, de nucleocapsídeo com simetria icosaédrica, DNA de fita dupla e genoma circular com cerca de 8000 pares de bases nitrogenadas (Hebner Laimins,2006). O nucleocapsídeo é formado por 72 capsômeros. Seu genoma possui 9 regiões de leitura aberta (ORFs, do inglês, Open Reading Frames), funcionalmente divididos em 3 regiões (precoce, tardia e longa região de controle). Os genes da região precoce (Early) são responsáveis por codificar proteínas ligadas à transcrição e replicação viral e os genes da região tardia (Late) são responsáveis pela produção de proteínas estruturais do nucleocapsídeo. O gene estrutural tardio L1 codifica proteínas maiores e é gênero-específico, enquanto o gene L2 codifica proteínas menores e é tipo-específico (Tyring,2000). A longa região de controle (LCR), também denominada de região de controle superior (Upstream Regulatory Region), influencia na transcrição e replicação viral. A Figura 1 representa o genoma do HPV. Figura 1- Genoma do HPV Patogênese viral Apesar das infecções pelo HPV serem muito freqüentes, a maioria dos pacientes acometidos consegue clarear ou debelar a infecção através da ação do sistema imunológico, sem nenhum desenvolvimento de doença (Frazer et al.,2006). Por outro lado, uma pequena parcela de pacientes retém cronicamente os vírus, situação que pode induzir à proliferação celular epitelial indefinida, podendo, sob ação de co-fatores, levar 51 ao desenvolvimento de câncer. O HPV, como qualquer outro vírus, depende da maquinaria celular do hospedeiro para se multiplicar. A infecção pelo HPV na genitália exige acesso às células da camada basal de pele ou mucosas, geralmente ocasionado através de micro-fissuras geradas durante o coito (Souto,2005). A característica de replicação contínua das células da camada basal para formar células do epitélio colunar (mucosas) ou estratificado (pele) favorece a proliferação do HPV. Após a entrada do vírus na célula, ocorre a integração de seu material genético no DNA celular, dando início à produção de proteínas virais precoces (Early). As proteínas codificadas pelos genes E1 e E2 controlam a replicação do DNA viral. O gene E3 não é expresso em humanos. Os genes E4 e E5 estão ligados à maturação viral e provavelmente à proteínas de membrana com atividade transformadora fraca. A proteína do gene E4 leva ao colapso da rede de citoqueratina, epigeneticamente representada pela alteração perinuclear típica do HPV, chamada de coilocitose. Os genes E6 e E7 codificam proteínas que interferem no funcionamento adequado das vias de supressão tumoral dos genes supressores de tumor p53 e do retinoblastoma (Rb), respectivamente (Fehrmann Laimins,2003; Kanodia et al.,2007). Posteriormente as proteínas codificadas por genes virais tardios (Late) L1 e L2 formam o nucleocapsídeo viral. Uma breve descrição da função de cada gene viral está disposta na Tabela I. Tabela I-Função dos genes do HPV Gene E1 E2 E4 E5 E6 E7 Função Replicação viral Transcrição e Replicação viral Maturação viral e alteração de matriz intracelular (coilocitose) Provável codificação de proteína de membrana Transformação celular por inibição da via do p53 Transformação celular por inibição da via do Rb A proteína p53 é um fator de transcrição que leva a parada do ciclo celular em G1 através da indução do gene p21. O gene p21 codifica um inibidor do complexo quinase ciclina D-dependente. A falta de inibição deste complexo permite uma maior fosforilação do produto do gene Rb, que em sua forma natural hipofosforilada, é ávido pelo fator de transcrição E2F. A proteína Rb fosforilada libera mais fator E2F, ativando assim o ciclo celular. A proteína E6 aumenta a degradação da proteína p53, via ubiquitina-ligase celular, simulando o efeito gerado pela mutação do gene p53 52 (Elenbaas et al.,2001). A proteína E6 por si só não imortaliza queratinócitos, entretanto, os HPVs de alto risco, através da ativação da telomerase, aumentam a degradação da p53, criando assim um mecanismo potencial de imortalização celular. Este mecanismo também é dependente da proteína E7. A proteína E7, diante de forte fator promotor, é capaz de imortalizar queratinócitos. Na falta de fatores promotores, ou seja, diante do controle viral normal, a proteína E7 depende da proteína E6 para gerar imortalização celular. A proteína E7 tem afinidade pela proteína Rb hipofosforilada, liberando assim o fator de transcrição E2F, levando a progressão do ciclo celular. A proteína E7 do HPV 16 também pode causar duplicação de centrômeros e levar à aneuploidia e instabilidade genômica, contribuindo assim com o processo de oncogênese (Halbert et al.,1991). A desregulação do ciclo celular e alterações dos mecanismos de reparo celular geradas pelo HPV são indutoras da carcinogênese, porém, por si só, não são suficientes para o processo de malignização. O HPV é classificado, em relação ao seu potencial oncogênico, em alto e baixo risco, conforme evidenciado na Tabela II. Tabela II. Classificação dos HPVs quanto a categoria de risco oncogênico Risco Tipo viral HPV Oncogênico Inespecífico ou indeterminado 30, 34, 53, 57, 62, 64, 67 e 69. Baixo risco 6, 11, 26, 40, 42, 43, 44, 54, 61, 70, 72, 73 e 81. Alto Risco 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 55, 56, 58, 59, 66 68 e 82. HPV e imunidade do hospedeiro A infecção pelo HPV pode ser completamente debelada pelo sistema imunológico celular do hospedeiro, processo chamado de clareamento. Outras vezes o HPV pode gerar um estado infeccioso crônico, caracterizado por proliferação celular contínua, com eventual efeito promotor de vários cânceres, a exemplo o de colo uterino. Fica então clara a necessidade de outros fatores promotores e progressores da oncogênese além do HPV, ora exemplificados por alterações genéticas herdadas, por co-infecções, tabagismo, presença de fimose e, talvez o mais importante, déficit no 53 sistema imunológico celular do hospedeiro. Prova incontestável da importância do sistema imune celular no controle da infecção e da carcinogênese pelo HPV é a alta prevalência de verrugas intratáveis e de câncer de colo de útero, de cabeça e pescoço e de região ano-genital em indivíduos imunossuprimidos (Kreuter et al.,2008; Tornesello et al.,2008a). Já existe evidência científica de menor resposta mediada por linfócito T citotóxico às proteínas E6/E7 entre mulheres portadoras de HPV 16 e com neoplasia intra-epitelial do colo (NIC) quando comparada à mulheres com HPV 16 sem NIC. Sabe-se que linfócitos T helper (LTH) aumentam os níveis de interleucina 2 (IL-2) e estimulam a produção de imunoglobulina G (IgG). A persistência de infecção pelo HPV parece aumentar os níveis de IgG contra partículas da proteína estrutural maior L1 do nucleocapsídeo mediante uma maior estimulação através de LTH, embora nem sempre conferindo maior probabilidade de clareamento da infecção. Esta é a base das vacinas atualmente empregadas no combate à infecção pelo HPV, ou seja, as vacinas são compostas por monômeros de proteína L1, agrupadas em pentâmeros e denominadas capsômeros. Cada 72 capsômeros formam partículas semelhantes ao vírus (VLP), desprovidas de material genético e que induzem à formação de anticorpos que se ligam à periferia do HPV e evitam a adsorção viral. Deve-se ressaltar que as VLPs são sorotipos específicas, exigindo assim a criação de vacinas polivalentes para determinar proteção imunológica aos diversos HPVs de alto risco (Hakim et al.,2007). HPV e carcinoma peniano É inquestionável o papel oncogênico do HPV no câncer de colo uterino, entretanto, apesar de não raramente ser encontrado em pacientes com carcinoma peniano (CP), sua importância na carcinogênese desta neoplasia ainda é incerta. Devemos ressaltar que a mera detecção do DNA do HPV no paciente com CP não garante sua participação no processo oncogênico. Para se obter maior evidência da ação viral na carcinogênese do CP é necessário comprovar a presença do vírus e da mutação de genes com subseqüente inativação de proteínas supressoras de tumores, neste caso, p53 e/ou pRb, que supostamente seriam resultantes do processo patogênico deste vírus. Vários autores investigaram, através de várias técnicas, a presença de HPV em pacientes com CP. As publicações abrangem estudos de prevalência, de genotipagem, coortes retrospectivas ou prospectivas e de associação com prognóstico e sobrevida. A maioria dos estudos são coortes retrospectivas, cuja avaliação da presença viral foi 54 realizada em material tumoral parafinado e armazenado por longo período, o que pode influenciar negativamente na real detecção do vírus. O material biológico inadequado e as diferentes técnicas usadas (exemplo: simples observação de coilocitose, detecção de material genético viral por southern blot, hibridização in situ, sequenciamento genético e mais comumente a amplificação por reação de cadeia de polimerase (PCR)) para detectar o HPV podem explicar a grande diferença de prevalência viral entre os diversos estudos (Smeets et al.,2007). Mesmo se usando uma mesma técnica, diferenças em iniciadores ou primers e na metodologia e experiência do profissional que manipula o material biológico também pode influenciar nos índices de detecção de DNA viral. A identificação na microscopia convencional, de um halo grande e claro peri-nuclear, é chamada de coilocitose e se associa com a real presença do HPV em até 70%. De Paula e colaboradores, em uma coorte retrospectiva de 1994 a 2005, encontraram coilocitose em 63,2% de 144 pacientes com CP, porém sem associação com metástase inguinal ou sobrevida (de Paula et al.,2007). Gil e colaboradores, em outra coorte retrospectiva de 1979 a 1995, envolvendo 55 pacientes com CP, encontraram DNA de HPV, usando-se PCR, em 30% dos pacientes e com coilocitose presente em 70,5% dos pacientes com PCR positiva para HPV (Gil et al.,2001). Neste estudo a presença do HPV tipo 16 se associou com maior risco de óbito por CP. Lopes e colaboradores, em outra coorte retrospectiva referente a 145 pacientes com CP, entre 1953 e 1985, também encontraram 44,8% de coilocitose, contudo sem impacto negativo na sobrevida ou no aparecimento de metástases inguinais (Lopes et al.,1996). Gregoire e colaboradores analisaram retrospectivamente 117 portadores de CP, através de PCR, e encontraram 22,2% de HPV, sendo que nos tumores com diferenciação basalóide a detecção de HPV foi de 75% contra apenas 11,1% de HPV em carcinomas escamosos (CEC) típico (Gregoire et al.,1995). Bezerra e colaboradores detectaram 30,5% de PCR positivas para DNA de HPV entre 82 pacientes com carcinoma peniano, porém sem impacto prognóstico (Bezerra et al.,2001). Rubin e colaboradores, em uma coorte retrospectiva multicêntrica, com mais de 20 anos, envolvendo 142 portadores de CP, usaram uma PCR de largo espectro de detecção de HPV e encontraram 42,2% de positividade (Rubin et al.,2001). O HPV 16 foi o mais encontrado (60%) e os tipos histológicos que mais se associaram ao HPV foram o basalóide (80%) e o CEC com diferenciação verrucosa (100%), sugerindo que a analogia do CP seria com o câncer de vulva e não com o câncer de colo uterino. Os autores também avaliaram a presença de HPV em espécimes penianos de displasia, sendo que a positividade para HPV nesta circunstância 55 foi de 90%, sugerindo que o CP teria no mínimo 2 vias oncogênicas, sendo apenas uma relacionada ao HPV. A via relacionada ao HPV teria como lesões precursoras o carcinoma in situ, a displasia ou verrugas genitais e resultaria no surgimento do CP do tipo basalóide ou do CEC com diferenciação verrucosa (Rubin et al.,2001). Estes dados foram corroborados por Gross e Pfister em 2004, afirmando que os CECs basalóides e com diferenciação verrucosa (que não é o carcinoma verrucoso) estariam associados ao HPV em 80 a 100% dos casos (Gross Pfister,2004). Já o CEC típico e o carcinoma verrucoso estariam associados ao HPV em apenas 30 a 35% dos casos (Gross Pfister,2004). Zhang e colaboradores compararam a detecção de HPV, através de imunoistoquímica, entre portadores de condiloma e carcinoma peniano. Os autores encontraram 100% de positividade de HPV entre 21 condilomas estudados e apenas 10% entre 19 carcinomas. Entretanto os autores encontraram hiper-expressão de p53 em 63% dos casos de carcinomas versus apenas 24% nos condilomas, sugerindo assim a ação carcinógena do HPV (Zhang et al.,2001). Em uma coorte retrospectiva brasileira, Neves e colaboradores detectaram 40,6% de amostras parafinadas positivas para DNA de HPV usando-se PCR em 59 pacientes obtidos no período de 1994 a 1999. O HPV 16 também foi o mais prevalente, estando presente em 91,6% das amostras (NEVES,2002). No ano de 2003, Ouban e colaboradores aventaram a hipótese da participação do HPV na gênese do carcinoma verrucoso (Ouban et al.,2003). Nesta pequena série de apenas 14 casos sendo 7 carcinomas verrucosos e 7 CECs convencionais, os autores observaram diferença estatística sendo maior o índice de expressão imunoistoquímica para o Mdm2 nos carcinomas verrucosos que no restante. Já a expressão imunoistoquímica para p53 foi o contrário, porém mantendo diferença estatística. Ferreux e colaboradores avaliaram espécimes parafinados de 53 carcinomas penianos e, usando PCR para detecção de HPV, encontraram 38% de positividade viral (Ferreux et al.,2003). Os autores também encontraram forte marcação imunoistoquímica para p16 entre os pacientes com positividade para HPVs de alto risco, reforçando a hipótese de que estes vírus têm propriedade de interferir na via do gene do retinoblastoma (p16/Ciclina D/Rb). Mais recentemente, Tornesello e colaboradores publicaram os resultados da análise de DNA de HPV por PCR entre 41 biópsias de carcinomas penianos na Itália. Os achados evidenciaram positividade para HPV em 46,3%, sendo que o HPV 16 estava presente em 94,7% das amostras positivas (Tornesello et al.,2008b). A Tabela III resume os achados dos trabalhos citados, bem como a metodologia e o material estudado. 56 Tabela III-Autores, ano de publicação, método de detecção do HPV, número de pacientes envolvidos e taxas de positividade. Arrumar a tabela Autores Ano Método n % de detecção de HPV De Paula et al 2007 Coilocitose Gil et al 2001 Coilocitose PCR Lopes et al 1996 Coilocitose 145 44.8 Gregoire et al 1995 PCR 117 22.2 Rubin et al 2001 PCR 142 42.2 Bezerra et al 2001 PCR 82 30.5 Zhang et al 2001 IHQ 19 10 Neves et al 2003 PCR 59 40.6 Torsenello et al 2008 PCR 41 46.3 Ferreux et al 2003 PCR 53 38 144 55 55 63.2 21.8 30.9 Conclusão O carcinoma peniano parece estar associado ao HPV, não com a mesma importância em que ocorre no câncer de colo de útero, mas em proporções semelhantes a que ocorre no câncer de vulva. Em algumas situações como nos condilomas, nas displasias, na neoplasia intra-epitelial do pênis, no carcinoma in situ e no carcinoma basalóide, o HPV tem um papel oncogênico essencial, caracterizando-o como carcinógeno humano, tal qual no colo de útero. Por outro lado, no carcinoma escamoso convencional o HPV provavelmente exerce um papel de co-fator, sendo assim necessária a participação de outros fatores indutores, promotores e progressores. A diversidade de técnicas empregadas na detecção de DNA viral (PCR, Southern blot, hibridização in situ, imunoistoquímica), bem como as condições e o tempo de preservação de espécimes de carcinoma peniano (material parafinado) certamente influenciam nos resultados obtidos. Enfim, não há dúvidas da importância deste vírus também no carcinoma peniano, entretanto ainda é necessário estabelecer sua 57 prevalência e seu real papel carcinógeno e prognóstico através de estudos multicêntricos, prospectivos e, preferencialmente, com material crio-preservado. REFERÊNCIAS 1. Borrel A. Epithelioses infectieuses et epitheliomas. Ann Inst Pasteur 1903;17:81-112. 2. Barret TS, JD; McGinley, JP. Genital Warts-a venereal disease. J Am Medical Association 1954;154:333-4. 3. (IARC) IARC. Monographs on the evaluation of carcinogenic risks to humans: human papillomaviruses. IARC 2005;90. 4. Parkin DM, Muir CS. Cancer Incidence in Five Continents. Comparability and quality of data. IARC Sci Publ 1992(120):45-173. 5. Frazer IH, Cox JT, Mayeaux EJ, Jr., et al. Advances in prevention of cervical cancer and other human papillomavirus-related diseases. Pediatr Infect Dis J 2006;25(2 Suppl):S65-81, quiz S82. 6. Boccardo E, Villa LL. Viral origins of human cancer. 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De Paula, Adriano Augusto Peclat1; Motta, Eliane Duarte3; Alencar, Rita de Cassia3; Saddi, Vera Aparecida4 ;Rosana Correa da Silva3; Gustavo Nogueira Caixeta3; Almeida Netto, Joaquim Caetano2; Carneiro, Megmar Aparecida dos Santos2. 1-Onco-Urology Department of Araujo Jorge Hospital from the Associaçao de Combate ao Cancer em Goias, Brazil; MD, MSc. 2-Institute of Tropical Pathology and Public Health of the Federal University of Goias, Brazil; PhD. 3-Pathology Department of Araujo Jorge Hospital from the Associaçao de Combate ao Cancer em Goias, Brazil; MD. 4-Genetics Department of the Pontificius Catholic University of Goias, Brazil; PhD. Correspondent author (e-mail: [email protected]) Abstract: Objective: To assess the influence of cyclooxygenase-2 (COX-2) and vascular endothelium growth factor-C (VEGF-C) immunoexpression on groin metastasis and cancer survival and their association with histological variables in patients with penile carcinoma (PC). Materials and methods: The histological and COX-2/VEGF-C immunohistochemical (IHC) profiles of patients with PC treated at a single institution between 2001 and 2008 were evaluated. Univariate and multivariate analyses were performed to determine the impact of histological and IHC markers on the risk of inguinal metastasis and cancer survival of these patients. A survival analysis of the relevant variables was also conducted. Results: One hundred twenty-seven patients were enrolled, 76 with positive immunoexpression for COX-2 and 30 positive for VEGF-C. Univariate analysis identified an association between VEGF-C immunoexpression and groin metastasis and certain histological variables. Logistic regression showed that high tumor grade, Jackson stage, and VEGF-C immunoexpression were independent predictors of inguinal metastasis. Cancer survival was only influenced by advanced Jackson stage and groin metastasis. 61 Conclusions: The findings of this cohort study suggest that the expression of VEGF-C may help to identify patients with an unfavorable clinical course of PC. COX-2 did not alter the risk of groin metastasis or cancer death. The presence of inguinal disease and advanced Jackson stage were independent prognostic factors for worse cancer survival. Key words: penile carcinoma; prognosis; treatment; COX-2; VEGF-C. INTRODUCTION Penile carcinoma (PC) is a poorly studied disease with a low prevalence in developed countries. It is, however, frequently associated with high morbidity due to the course of the disease or its treatment.1, 2 In developing countries, such as Brazil and India or Paraguay and Uganda, PC still represents a serious health problem, accounting for nearly 10% of cancers in men.3 There are a relatively small number of published studies regarding PC, none of which are randomized trials. As a result, there is a fragile scientific evidence for addressing critical issues with the disease. The risk of inguinal metastasis can be determined by the histopathological analysis of the primary lesion. Histological characterization is subjective and pathologist-dependent, which may lead to a biased interpretation with variable degree of agreement between physicians.4 Both penile histopathology and the patient’s socioeconomic profile should be considered before performing a pre-emptive groin dissection, since surveillance programs have shown low treatment adherence by patients with a low socioeconomic status. The major challenge in the treatment of PC is performing a pre-emptive lymphadenectomy in patients at high risk of occult metastatic disease. Some papers, despite little scientific evidence, have associated delayed groin dissection with worse survival when compared to a pre-emptive procedure.5, 6 It has, however, been reported that inguinal dissection is associated to high morbidity represented by wound infection, suture dehiscence, and chronic lymphedema of the scrotum and inferior limbs.7, 8 It is necessary to more accurate identify predictors of occult inguinal disease. In this context, the objective of this present study was to evaluate the impact of 2 molecular factors involved in angiogenesis on outcomes of PC. 62 MATERIALS AND METHODS A prospective cohort study enrolling patients with PC was conducted at a single institution in Goiania, Goias, Brazil. All patients with a histological diagnosis of squamous cell PC admitted in the Uro-Oncology Department between January 2001 and July 2008 were included. The number of patients needed for a power of 80% (considering a 20% difference between groups) was 202. The expected recruitment rate was 25 patients/year, requiring 8 years to include all cases. Patients whose medical records and/or paraffin wax-embedded tissue blocks were not available, as well patients who underwent previous surgery or chemotherapy, were excluded. The study was approved by the Institution Ethics Committee (protocol # 007/2008). All patients gave informed consent. A pathologist determined the grade and size of the tumor and the presence of koilocytosis, lymphovascular invasion, inflammatory tumor infiltrate, or inguinal node metastasis. An immunohistochemical (IHC) analysis for cyclooxygenase-2 (COX-2) and endothelial vascular growth factor-C (VEGF-C) expression was also performed. The TNM staging system of the American Joint Committee on Cancer (AJCC) 2002 was also used. The Broders’ system was used for histological grading. All epidemiological data and outcomes (inguinal metastasis and cancer-related death) were tested for association with both histological and IHC profiles. Radical inguinal node dissection was conducted in patients with enlarged inguinal nodes, in those with clinical stage N0 cancer in the presence of unfavorable histological factors, or when adequate follow-up (due to low treatment adherence) was not possible. No superficial or modified inguinal lymphadenectomies were performed. Patients with extranodal disease underwent adjuvant radiotherapy (60Gy with a 1.8 Gy daily fraction to the involved inguinal regions). Chemotherapy for patients with metastatic disease (clinical stage IV) consisted of infusional 5-fluorouracil and cisplatin. Immunohistochemical Analysis A 3-mm section was taken from all the paraffin blocks, and the slides were stained for immunohistochemistry with a polymer-associated immunoperoxidase method using a commercial kit (MACH4, Universal HRP-Polymer kit, BioCare). Polyclonal (Rabbit anti-VEGF-C polyclonal antibody 1:600, Invitrogen) and monoclonal antibodies (Mouse anti-COX-2 1:800, clone COX229, Invitrogen) were used for the detection of VEGF-C and COX-2, respectively. Incubation with the 63 antibody was performed overnight. The antigenic recovery was performed under wet heating and the endogenous peroxidase was blocked with 3% hydrogen peroxide. The IHC study was independently validated by a second pathologist, and all the divergent cases were discussed for a consensus diagnosis. The evaluation was done using the best stained tumor area of the primary tumor, considered as the percentage of marked cells in a 3- to 5- mm high-power area (400x) under light microscopy. The area comprised 8 to 12 fields and only epithelial tumor cells presenting granular or diffuse cytoplasmic staining of the employed antibody were appreciated. Estromal and basal melanin staining were not considered. The cut-off values for a positive staining status were established by the analysis of receiver operating characteristics (ROC) curves of IHC grading based on the presence of groin metastasis and cancer-related death for each marker. Follow-up and statistical analysis The follow-up was done by physical and radiological examinations (chest x-ray and pelvic computed tomography [CT]) 4 times during the first year, every 4 months in the second year, and twice a year thereafter for 3 years. For qualitative variables in univariate analysis, chi-square or Fisher’s exact test were used. The student t-test was used to compare means between 2 groups. Clinical status, outcome, and date of patients’ last information were used for Kaplan Meier curves, compared with log-rank test. All living patient or dead of non-cancer condition were censored. Multivariate study was carried out by logistic regression. For all tests a p values <0.05 was considered significant. The software Windows Statistical Package for Social Sciences version 13.0 (SPSS®, Chicago, Illinois) was used for statistical analysis. RESULTS In 2006 the local government changed the method of referring patients to the city of Goiania, causing a decrease in the recruitment rate. Therefore, we recruited patients until 2008, although this compromised the power of the study. One hundred forty-eight patients with PC were treated during the study period. Twenty-one patients were not eligible; 4 because the paraffin blocks were not found and the remaining 17 because of previous treatment at another institution. A total of 127 patients were included. The mean age of the patients was 59.3 years (range, 24 to 101 years; SD 15.27). Phimosis was present in 85% (108) of patients. Primary treatments for lesion included local excision (7.9%), partial penectomy (80.3%), total penectomy (7.9%), and 64 emasculation (3.9%). Fifty-five (43.3%) patients underwent inguinal lymphadenectomy; 8 bilateral prophylactic (pre-emptive), 19 unilateral therapeutic, 20 bilateral therapeutic, 5 hygienic, and 3 sentinel lymph node dissection (data not shown). Based on the Jackson classification system, 63 patients had stage I cancer, 35 patients had stage II, 24 patients had stage III, and 5 patients had stage IV cancer. Pathologically-diagnosed groin metastases were seen in 40.9% of patients. Fifty-seven patients showed low grade tumors (Broders’ grade I), another 57 patients were diagnosed as grade II, and only 13 patients as grade III. Pathological classifications were: pTa 3.9%, pT1 35.4%, pT2 21.3%, pT3 34.6%, and pT4 2.4%. Three patients, despite previous biopsy of invasive tumor, only had carcinoma in situ. Vascular invasion was observed in 28.8% of patients; severe inflammatory tumor infiltrate was seen in 86. The mean (SD) immunostaining scores were 28.2% (25.8) for COX-2 and 8.9% (17.1) for VEGF-C. For the 52 patients with inguinal metastatic disease, the mean (SD) expression for COX-2 was 34.1% (27.7) and for VEGF-C was 12.9% (SD20.8). Patients with no metastatic disease had mean (SD) values of 24.1% (23.8) and 6.1% (13.4) for COX-2 and VEGF-C, respectively. The cut-off values for positive results obtained by ROC curves analysis were 15% for COX-2 and 20% for VEGF-C. The distribution of patients according to IHC status and clinical-pathological profile are given in Tables I and II. Figure 1 shows the IHC staining for COX-2 and VEGF-C, and Figure 2 shows the ROC curves for inguinal metastasis according to VEGF-C. Figure 1- IHC for COX-2 (left) in 200x and VEGF-C (right) in 400x magnification, both with a staining of 80% of the tumor cells. Positive COX-2 staining (>15%) was observed in 76 (59.8%) patients. For VEGF-C, the positive cut-off value was >20% and was seen in 30 (23.6%) patients. 65 VEGF-C 1 100 Sensitivity 80 60 40 Sensibility : 25.0 Specificity : 90.7 Cutoff : >20 20 0 0 20 40 60 80 100 100-Specificity Figure 2- ROC curves of VEGF-C IHC staining for prediction of groin metastasis. A positive COX-2 IHC status was associated with severe inflammatory tumor infiltrate (p=0.03), high histological tumor grade (p<0.01), a deep level of tumor invasion (p<0.01), and lymphovascular invasion (p=0.04) by univariate analysis. After multivariate analysis, positive COX-2 staining remained significantly associated with high histological tumor grade and a deep level of tumor invasion. 66 Table I- Uni and multivariate analysis of clinical and histological variables according to IHC for COX-2. Variable COX-2 Positive Negative n (%) n (%) p value n Total Age (years) > 59 < 59 40 (58.8) 28 (41.2) 36 (61) 23 (39) 68 59 Jackson stage 0/I/II III/IV 56 (58.3) 40 (41.7) 20 (54.5) 11 (35.5) 96 31 Koilocytosis Present Absent 38 (58.5) 38 (61.3) 27 (41.5) 24 (38.7) 65 62 Histological tumor grade Low High 23 (40.4) 53 (75.7) 34 (59.6) 17 (24.3) 57 70 Inflammatory tumor infiltrate Low 19 (46.3) Severe 57 (66.3) 22 (53.7) 29 (33.7) 41 86 Level of tumor invasion Superficial (pTa,T1) Deep (pT2-T4) 29 (46) 47 (73.4) 34 (54) 17 (26.6) 63 64 Lymphovascular invasion Present Absent 22 (75.9) 54 (55.1) 7 (24.1) 44 (44.9) 29 98 SCS Death Alive 16 (66.7) 60 (59.8) 8 (33.3) 43 (40.2) 24 103 Univariate Multivariate¥ 0.80** -- 0.54* -- 0.74** -- <0.01** <0.01 0.03** 0.12 <0.01** <0.01 0.04** 0.97 0.44** -- . n= # of patients; * Fisher test; ** Chi-square test; COX-2 positive= >15%; SCS- Specific-cancer survival; Logistic regression. ¥ Positive staining for VEGF-C was associated with a worse survival (p=0.02) with evidence of a trend for high histological tumor grade (p=0.06) based on univariate analysis. The association between positive VEGF-C staining and these variables were not significant after multivariate analysis (Table II). 67 Table II- Uni and multivariate analysis of clinical and histological variables according to IHC for VEGF-C. Variable VEGF-C Positive Negative n (%) n (%) p value Age (years) > 59 < 59 16 (23.5) 14 (23.7) 52 (76.5) 45 (76.3) 68 59 Jackson stage 0/I/II III/IV 19 (19.8) 77 (80.2) 11 (35.5) 20 (64.5) 96 31 Koilocytosis Present Absent 18 (27.7) 12 (19.4) 47 (72.3) 50 (80.6) 65 62 Grau tumoral Low High 9 (15.8) 21 (30) 48 (84.2) 49 (70) 57 70 Inflammatory tumor infiltrate Low 8 (19.5) Severe 22 (25.6) 33 (80.5) 64 (74.4) 41 86 Level of tumor invasion Superficial (pTa,T1) Deep (pT2-T4) 13 (20.6) 17 (26.6) 50 (79.4) 47 (73.4) 63 64 Lymphovascular invasion Present Absent 8 (27.6) 22 (22.4) 21 (72.4) 76 (77.6) 29 98 SCS Death Alive 10 (41.7) 20 (19.4) 14 (58.3) 83 (80.6) 24 103 Univariate Multivariate¥ . n Total 0.97** -- 0.07* -- 0.26** -- 0.06** 0.18 0.45** -- 0.43** -- 0.56** -- 0.02** 0.11 n= # of patients; * Fisher test; ** Chi-square test; COX-2 positive= >15%; SCS- Specific cancer-survival; ¥ Logistic regression. The evaluation of the outcomes and their association to the variables of interest as well the survival analysis are given in Table III. Jackson classification stages III/IV (p<0.01), high histological tumor grade (p<0.01), a deep tumor level of invasion (p<0.01), lymphovascular invasion (p<0.01), and severe tumor inflammatory infiltrate (p=0.02) were associated with a higher rate of groin metastasis by univariate analysis (Table III). Logistic regression revealed that Jackson stages III/IV (p=0.01) and high histological tumor grade (p=0.03) were independent predictors of inguinal disease. Variables significantly associated with groin metastasis, as well a positive IHC status for VEGF-C by univariate analysis showed worse cancer survival Kaplan Meier curves using log rank test. 68 Table III- Distribution of variables according to the occurrence of groin metastasis and SCS. Inguinal Metastais Present Absent n (%) n (%) Variable Age (years) > 59 < 59 26 (38.2) 26 (44.1) 42 (61.8) 33 (55.9) Jackson stage 0/I/II III/IV 26 (27.1) 26 (83.9) 70 (72.9) 5 (16.1) Histological tumor grade Low (I) 13 (22.8) High (II/III) 39 (55.7) 44 (77.2) 31 (44.3) Koilocytosis Present Absent 23 (35.4) 29 (46.8) 42 (64.6) 33 (53.2) Level of tumor invasion Superficial (pTa,T1) 17 (27) Deep (pT2-T4) 35 (54.7) 46 (73) 29 (45.3) Lymphovasc. invasion Present Absent 11 (37.9) 64 (65.3) Specific-Cancer Survival p value %Alive p value Univariate Multivariate£ 3 years Log-Rank Multivariate£ 0.50* 36 (47.4) 16 (31.4) 40 (52.6) 35 (68.6) VEGF-C IHC status Positive (>20%) Negative 16 (53.3) 36 (37.1) 14 (46.7) 61 (62.9) 0.01 0.03 <0.01 0.14 -- 0.77 -- 0.22 0.03 0.76 0.04 0.85 0.03 0.31 0.34 -- 0.02 0.28 87.3 75 <0.01* COX-2 IHC status Positive (>15) Negative <0.01 80 82.3 <0.01* 30 (73.2) 45 (52.3) <0.01 93 83.2 0.19* 11 (26.8) 41 (47.7) -- 91.7 48.4 <0.01* Inflammatory tumor infiltrate Low Severe 0.90 83.8 78 <0.01* 18 (62.1) 34 (34.7) -- 0.38 72.4 83.7 0.02* 0.58 92.7 75.6 0.07* -78.9 84.3 0.11* -66.7 85.6 * Chi-square test; £ Logistic regression. Multivariate analysis for SCS identified Jackson stages III/IV (p=0.01; odds ratio [OR] 4.5, 95% confidence interval [CI] 1.4-14.5) and the presence of groin metastasis (p<0.01; OR 6.8, 95% CI 1.6-27.7) as independent risk factors for this outcome (data not shown). The mean and median follow-up were 29.7 and 25 months, respectively. Only 5 patients developed distant metastasis. Twenty-four patients (18.8%) died of PC, 8 showed pulmonary and/or bone metastasis. Most of them died of infection, vascular rupture or multiple organ failure. The IHC mean (SD) gradings for COX-2 and VEGFC for these patients were 31.4% (28.1) and 14.5% (18.4), respectively (data not shown). Figure 3 illustrates the SCS curves for 3 years according to VEGF-C expression. 69 ERROR: undefined OFFENDING COMMAND: ‘~ STACK: