Mas o sol não vai tardar a desaparecer e os nossos dois amigos têm de dar por finda esta viagem. Para trás ficam o bosque e os seus misteriosos habitantes. Nuno e Xana têm a certeza de que nunca mais esquecerão tudo o que viram e ouviram. E também sabem que aprenderam muitas coisas. A tarde vai caindo. E, enquanto caminham, Nuno e Xana recordam, em silêncio, a magia do bosque e o encanto dos seres que o habitam. Têm à sua frente o caminho do regresso a casa, a melodia dos sapatos pisando a relva e o primeiro canto de um grilo, lá ao longe. Rosa Maria Cos O Bosque encantado Lisboa, Plátano Editora, 1983 O Bosque Encantado dos grandes ventos: os furacões, os nevões e os D epois de uma grande caminhada pelo bosque ciclones. Às vezes também ajudam o fogo a consumir através de um caminho desconhecido, Nuno mais depressa tudo o que esteja a arder. e Xana avistam uma casinha campestre. O dia está Descendo pela montanha, meditando e claro e o sol radioso. Cheira a Primavera! Há flores recordando as coisas novas que aprenderam, Nuno e por todo o lado... Xana encontram-se subitamente defronte de um Na casa vive um simpático ancião de barbas lindo prado cheio de flores de todas as cores e de muito brancas. Um cãozinho sai ao caminho dos formas inimagináveis. Mas... que seres são aqueles cansados visitantes, saudando-os com os seus latidos. que se movem de um lado para outro? O amável anfitrião convida Nuno e Xana a São as belas Fadas das flores. Como se estivessem passarem a noite em sua casa. Depois de terem enfeitiçados, Nuno e Xana são atraídos para elas, saboreado uma apetitosa ceia, os dois amiguinhos chamados pelos seus leves movimentos, pelas suas sentam-se junto à chaminé, atraídos pelas lindas estranhas cores. Como tudo aquilo é belo! formas e cores que as chamas vão desenhando. De seguida, as Fadas mostram a Nuno e a Xana Entretanto, Pedro, que é como se chama o ancião, como inventam os perfumes. Hum!... Hum! que conta-lhes que lá bem no meio do bosque, cheirinho! Que perfumes maravilhosos! Os dois precisamente nesta época do ano, podem ser vistos amigos abrem os braços de felicidade, tontos de tanta todos os seres criados pela fantasia da natureza: os beleza... trabalham as pedras preciosas. O ofício é divertido, seres da água, os seres do ar, os seres das flores. — O mas às vezes também é difícil e delicado. que é preciso é estar atento — acrescenta o ancião. Quando Nuno e Xana saíram da cova dos Encantados com o que o velhinho lhes contou ao Gnomos, estava um grande vendaval. O vento sopra serão, Nuno e Xana levantam-se manhã cedinho e com quanta força tem, e tudo abana: até os ramos das empreendem uma viagem até ao interior do bosque. árvores parecem que se vão quebrar. De repente, Por todo o caminho há animais a saudá-los ouve-se uma voz: — Não tenham medo! — disse- alegremente: os pintarroxos, o porco, a garça, o -lhes o Senhor do Ar. — Não vos assusteis! Vejam: se esquilo, as borboletas e até o texugo saíram das suas abano os ramos das árvores e das plantas, é para as tocas e ninhos e vieram saudar o dia lindo que sementes e o pólen poderem cair no solo e assim começava a nascer. — Este bosque tem qualquer voltarem a dar frutos; também tenho de ajudar as coisa de mágico — disse Nuno, muito baixinho, para nuvens a transportar a água de um sítio para o outro, Xana. se não a chuva caía sempre no mesmo lugar. Depois de caminharem muito tempo por estreitas Com um pequeno sopro de Silfo — pois é este o veredas e largas clareiras, chegaram a um sítio e nome do Senhor do Vento — Nuno e Xana voam descobriram uma cascata que formava um pequeno pelos ares fora, viajando até ao cimo das mais altas lago. Nesse mesmo instante viram sair da água uns montanhas. Quando lá chegam, o Silfo apresenta-os seres estranhos e de cores tão fantásticas como nunca aos companheiros que estão a ajudar na construção tinham visto antes. Estes saúdam Nuno e Xana e contam-lhes que viagem estava apenas no princípio e que ainda era são os seres da água e se chamam Ondinas. O lugar é muito longo o caminho que tinham a percorrer; tão calmo que apenas se ouve o ruído da água e o assim, depois de se despedirem das Ondinas, Nuno e cantar dos pássaros. Nuno e Xana quase apostavam Xana prosseguiram a sua marcha, até chegarem a em como nenhum ser humano tinha estado naquele uma grande árvore onde vêem uns simpáticos e lugar. divertidos seres, que nela vivem. São os seres da Quase sem Nuno e Xana darem por isso, as Ondinas tinham aumentado rapidamente de tamanho. E os dois amigos, contentes e emocionados, terra: os Gnomos, pequenos seres que habitam as árvores, as rochas, as covas, e ajudam os animais do bosque quando estes têm problemas. decidiram tomar banho com elas. Enquanto brincam Os Gnomos correm pelos prados, pelos campos e e se divertem, as Ondinas contam-lhes como a água é pelos bosques, e adoram brincar com as crianças. importante para o mundo: à terra, para que dê frutos; Assim, depois de feitas as apresentações, os Gnomos às plantas, para que cresçam e possam florescer; ao levam Nuno e Xana até junto de uma grande cova, homem e aos animais, para que não morram à sede. onde estão todos os tipos de minerais e pedras Enfim: sem a água, tudo estaria seco e não existiriam preciosas. Nuno e Xana julgam estar a sonhar: é ali a os bosques, os rios e muito menos os mares. oficina onde os Gnomos trabalham, dando forma e Xana teria ficado muito mais tempo a brincar com as Ondinas, mas Nuno disse-lhe que aquela cor a todos os minerais e rochas que há na terra. Uns têm a seu cargo as rochas e as pedras, outros