análise do risco nas terras caídas: consequências socioambientais

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ANÁLISE DO RISCO NAS TERRAS CAÍDAS: CONSEQUÊNCIAS
SOCIOAMBIENTAIS NA COMUNIDADE DO DIVINO ESPÍRITO SANTO
MUNICÍPIO DE IRANDUBA (AM) - BRASIL
Regiane Campos Magalhães 1
Adoréa Rebello da Cunha Albuquerque2
1Universidade Federal do Amazonas – UFAM
Departamento de Geografia
[email protected]
2Universidade Federal do Amazonas – UFAM
Departamento de Geografia
[email protected]
RESUMO
Este trabalho aborda a complexidade morfodinâmica do sistema hidrográfico
Solimões-Amazonas, apresentando resultados conduzidos por meio da análise comparativa de
trabalhos já realizados em ambientes de aspectos geomorfológico semelhante, associados às
coletas de dados de campo. Durante os levantamentos de campo foram identificados na área a
ocorrência da erosão de margem associada aos mecanismos de deflagração de riscos e impactos
socioambientais sobre os moradores ribeirinhos. A metodologia foi conduzida por meio da
aplicação de questionários e instrumentos de campo como: GPS (Garmim 12) e máquina digital
(10.0 meg pixels) para registrar os pontos de maior ocorrência das zonas de perigo e riscos
apresentados, visando à análise da erosão de margem (terras caídas) e seus principais impactos
socioambientais na Comunidade do Divino Espírito Santo no município de Iranduba (AM).
Palavras chave: Terras Caídas, Erosão Fluvial, Impactos Socioambientais.
INTRODUÇÃO
Vários trabalhos registram que as “terras caídas” têm gerado inúmeros danos
socioambientais aos ribeirinhos, dentre os quais se destacam segundo Carvalho (2006) perda de
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propriedade, mudanças de residências risco de morte, dificuldade de embarque e desembarque e
riscos de navegação.
Com o objetivo de identificar estes tipos de impacto e correlacioná-los ao referencial
teórico obtido, durante os levantamentos de campo realizados na Comunidade do Divino Espírito
Santo, em outubro de 2009, foram reconhecidos cinco pontos de risco compondo uma área de
perigo e geração de impactos socioambientais como: perda da plantação, desmoronamento de
estrada; queda de poste de energia; perda de cercas, e desmanche de sanitários e mudança na
paisagem.
A maior parte das ocorrências de movimentos de grande magnitude é mais evidente nos
rios de água branca e planícies fluviais, compostas de sedimentos não consolidados, onde
parâmetros como a pegajosidade e plasticidade, apresentam-se muito baixos. Esse tipo de
sedimento é carreado em suspensão desde a Cordilheira Andina por toda a calha central da bacia
amazônica, ao se depositar nas margens, compõe a unidade de relevo denominada Planície
Sedimentar Amazônica, sujeita à inundação sazonal e vulnerável naturalmente aos riscos de
movimentos de massa, que afetam diretamente os moradores das margens dos rios.
Com a finalidade de apresentar as diversas formas de abordagem sobre os estudos
relacionados às terras caídas, este trabalho constitui um conjunto da revisão teórica sobre esta
temática, destacando a erosão de margem, onde se pode identificar as causas atuantes e
posteriormente, verificar as formas de impactos socioambientais sobre os moradores da
Comunidade do divino Espírito Santo no município de Iranduba.
2. OBJETIVOS
Como objetivo preliminar deste trabalho, encontra-se o estudo sobre a modalidade
erosiva do tipo “terras caídas” na Comunidade do Divino Espírito Santo, por meio de análise
comparativa de dados já obtidos, em áreas de constituição geomorfológica semelhante. Dando
prosseguimento à pesquisa, serão identificados os pontos de risco natural e os fatores que
exercem influência neste processo, por meio dos levantamentos, obtenção de coordenadas,
registros e cadastros dos pontos. Realizadas tais etapas serão identificados e descritos os tipos de
impactos ocorridos na Comunidade.
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3. ÁREA DE ESTUDO
A área selecionada para o desenvolvimento da pesquisa está localizada na Costa do
Iranduba, precisamente na Comunidade do Divino Espírito Santo na margem esquerda rio
Solimões-Amazonas, cerca de 5 km do Município de Iranduba, com área de aproximadamente
de 2,125 km2, limitado pelas coordenadas 03º17’54,6” a 03º17’54,733” de latitude sul e
60º09’06,5” a 60º09’6,524” de longitude oeste. A área de estudo apresenta uma unidade
geomorfológica do tipo planície de inundação/várzea alta (NASCIMENTO et al. 1976) com
áreas periodicamente inundáveis, carreando sedimentos em suspensão de material não coeso, o
qual são comoltados e inconsolidados em suas margens deixando um solo rico em nutrientes,
bastante propício a o manejo da agricultura e a processos erosivos. A área apresenta feições
fluviais erosivas decorrentes do fenômeno de erosão das margens como: bancos de areia, barras
crescente, diques marginais, ilhas de canal e sistemas de canais abandonados Latrubesse e
Franzinelli (2002).
O solo é suscetível a erosão do tipo Gleissolo com autor teor de silte, argila e material
orgânico (EMBRAPA, 2009).
Quanto ao clima é do tipo equatorial úmido com fortes precipitações pluviométricas nos
meses de janeiro a abril e o mais seco de outubro a novembro (TEIXEIRA, 2009).
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FIGURA 1: Imagem Landsat-5 TM, órbita 231/62 (DPI/INPE, 2005).
FONTE: Olivaldo Patrício, 2010.
4. METODOLOGIA
Os procedimentos metodológicos foram desenvolvidos em duas etapas: a primeira
relacionada ao levantamento bibliográfico (geral, regional e local) a segunda consistiu nos
trabalhos de campo e na coleta de dados primários no que tange a erosão das margens (terras
caídas) associadas aos impactos socioambientais.
Para analisar a erosão das margens (terras caídas) e identificar os fatores que exercem
controle direto sobre esse processo, foram utilizados autores como Latrubesse e Franzinelli
(2002), Rozo (2004) e Carvalho (2006).
As técnicas utilizadas nos levantamentos de campo incluíram: observações diretas,
anotações em caderneta, GPS (Garmim 12) e máquina digital (10.0 meg pixels) para registro das
feições fluviais decorrente da erosão (terras caídas).
Para a identificação dos tipos e formas de impactos socioambientais, foram aplicados
questionários para obter o perfil socioeconômico dos moradores, que ocupam as às margens dos
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rios, susceptíveis à erosão e classificadas como áreas de risco natural (terras caídas) verificando
os principais prejuízos junto aos moradores. Sendo assim, participaram do questionário as 34
(trinta e quatro) famílias cujos domicílios estão assentados na Comunidade do Divino Espírito
Santo ao longo da Costa do Iranduba.
5. RESULTADOS
Por está situada na maior bacia hidrográfica do mundo, a área de estudo, apresenta
aspectos morfodinâmicos muito complexos conforme informações obtidas mediante a análise de
alguns trabalhos realizados no rio Amazonas como: Stenberg, 1998; Latrubesse e Franzinelli,
2002; Rozo et al. 2004; Carvalho, 2006; Freitas, 2009 e Teixeira 2009 e outros.
A erosão de margem é um processo natural decorrente da dinâmica fluvial envolvendo
erosão, transporte e deposição, onde são removidos sedimentos inconsolidados das margens
côncavas e depositados nas margens convexas. Esse processo desempenha um papel importante
no controle de largura do canal e nos ajustes do sistema fluvial, contribuindo significativamente
para carga de sedimentos do rio e reconfiguração das unidades geomorfológicas que compõem
as planícies aluviais, as faixas de inundação e as planícies de impedimento pelo trabalho do rio.
Os impactos socioambientais resultantes de tal reconfiguração incluem vários prejuízos que
atingem os moradores ribeirinhos.
Propondo formas de classificação para essas áreas Latrubesse e Franzinelli (2002)
reconheceram de modo distinto duas unidades geomorfológicas ao longo do cinturão fluvial do rio
Amazonas entre a ilha do Careiro e a foz do rio Purus: a planície de inundação de impedimento e
a planície de inundação do canal dominante, a primeira unidade se assemelha com a planície de
inundação e representa à várzea do Holoceno Superior, a segunda apresenta um complexo
mosaico de formas fluviais como: bancos de areia, barras crescente, diques marginais, ilhas de
canal e sistemas de canais abandonados.
Rozo (2004), analisando a evolução do rio Amazonas durante o Holoceno, no trecho
representado entre a ilha do Careiro e a foz do rio Madeira, observou por meio de um recorte
temporal de 15 anos (1986 – 2001) a predominância de processo erosivo em 3,9 % em relação
ao processo de deposição. Isso significa dizer que o rio Amazonas, pelo menos nesse trecho
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pesquisado pelo autor, está ficando mais largo como resultado de grande pressão fluvial-erosiva
nas suas margens. Uma das conclusões foi que o rio Amazonas no trecho estudado apresenta
forte indício de mudança de um padrão meândrico para um padrão anastomasado.
Carvalho (2006) e Teixeira (2009) em estudos de erosão de margem do tipo terras
caídas no médio Amazonas, identificaram por meio de análises batimétricas, sobreposições de
imagens de satélites e medição do nível piezométrico que a erosão é maior quando está
enchendo, devido ao aumento da pressão hidraúlica, associado ao aumento das precipitações.
Embora o primeiro autor tenha identificado que no mesmo período de subida do rio, o processo
de desabamento e desmoronamento é predominante, enquanto que na vazante predomina o
processo de escorregamento.
Na área de estudo, relatos dos moradores da comunidade, evidenciam a ocorrência de
erosão (terras caídas) associada à possível mudança de curso dos canais:
“O canal do rio antes passava às margens da ilha da Maria Antônia bem em frente
à Comunidade, e a terra não caia, hoje o percurso do canal mudou, agora as terras
caem na nossa comunidade, ou seja, antes era tudo praiado, hoje é tudo barranco”
(Eulene Lima, Presidente da Comunidade do Divino E. Santo – 40 anos,
Questionário Socioambiental, 2008).
Teixeira (2009) estudando os processos que atuam na dinâmica das margens em
Manacapuru no rio Solimões-Amazonas num período de 1990 a 2008 por meio de imagens de
satélites identificou quatro processos no trecho: a migração lateral do canal fluvial por meio do
desenvolvimento de barras laterais junto às margens do canal, evolução de ilhas, erosão das
margens do canal que alguns trechos chegaram cerca de 1 km e a erosão parcial de ilhas em
margens côncavas.
Vários são os fatores já citados em trabalhos por autores no que tange a erosão de
margem (terras caídas) que foram visualizados e comparados em campo na comunidade de
estudo tais como: Para Souza (2004), os processos erosivos das margens do rio são do tipo
desmoronamento, por meio da corrasão ou abrasão e fatores preponderantes como: composição
das margens (granulometria, estrutura de sedimentos e propriedades mecânicas do material);
características hidrodinâmicas do fluxo (vazão, transbordamento e oscilação do nível do rio);
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morfologia da margem (altura, tipo de margem, densidade aparente e teor de matéria orgânica); e
características ambientais (cobertura vegetal, geologia, geomorfologia, declividade, precipitação e
uso do solo).
A erosão das paredes e do fundo do leito pelas águas correntes é realizada pela ação de
três mecanismos: corrosão, corrasão e a cavitação (CRISTOFOLETTI, 1981 & SUGUIO e
BIGARELLA, 1990).
Fatores antropogênicos, mesmo em pequena escala, aceleram esses processos. Dentre
estes fatores se destacam trânsito de embarcações de grande porte, desmatamento para fins de
manejo e habitações nas margens de rios. O colapso de material vem ser outra evidência do
desprendimento das margens em forma de blocos Mota (2001). Para Franzinelli e Igreja (1990)
o neotectonismo nas zonas de falhas causa deslizamentos de grande magnitude e modelam os rios
amazônicos em forma de serpente.
Rebelo (2010) afirma que os riscos naturais estão relacionados direta ou indiretamente
com a natureza, ao qual o homem designa um papel importante no aumento da vulnerabilidade do
risco. De acordo com o autor, a área de estudo apresenta características de risco natural de
grande magnitude com bastante vulnerabilidade à erosão de margem, resultando em diversos
impactos socioambientais, principalmente o risco de vida aos habitantes da área.
Carvalho (2006) identificou na Costa do Miracauera diversos impactos decorrentes de
erosão de margem (terras caídas) como: perda de propriedade; mudança de residência; risco de
morte; dificuldade de embarque e desembarque; construção de escadas em função da dificuldade
de acesso pela perda de material; perda de canoas e risco a navegação.
Além desses problemas identificados pelo autor, durante os levantamentos de campo na
Comunidade do Divino Espírito Santo em outubro de 2009, foram também identificados: a) perda
de plantação; b) mudança na paisagem; c) desabamento de estrada; d) queda de poste de
energia; e) perda de cercas; f) reconstrução dos sanitários. Esse último impacto representa a
perda dos sanitários tendo que reconstruídos, como na comunidade não existe sistema de esgoto
sanitário, geralmente fica localizado no fundo do terreno, é aberto em forma de um buraco no
chão cercado de madeira, sendo coberto de zinco.
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A partir de observações de campo identificou-se um típico ambiente de planície de
inundação (várzea alta) onde predominam os Gleissolos, compostos de argilas e elevadas taxas
de silte, aspectos que contribuem, em parte, para o fraco desenvolvimento estrutural desses
grupos de solos, apesar do elevado teor de material orgânico (EMBRAPA, 1999). Esses solos
são vulneráveis à erosão de margem, áreas semelhantes pesquisada por Freitas (2009) em Coari
(AM), com base em alguns autores Maia, 1977; Radambrasil, 1979; Vieira & Santos, 1987;
Ferreira, 1999; Horbe et al, 2007, reconheceram como níveis granulométricos para este mesmo
tipo de solo teores de silte e argila bem elevado.
Por ser uma pesquisa em andamento, os dados precisam ser conduzidos em laboratórios.
No entanto, com suporte de trabalhos de autores citados, as análises comparativas, nas mesmas
unidades geomorfológicas, permitem evidências de composição textural também semelhante. O
rio Amazonas apresenta intensa e complexa dinâmica fluvial, pois tanto suas formas internas
quanto externas são dependentes do equilíbrio entre erosão, transporte e deposição de
sedimentos, tanto em suspensão quanto por arraste no leito do rio (coesos e não coesos)
transformando constantemente a paisagem de forma natural (fenômeno) e artificial (antrópica).
Embora a erosão de margem ocorra em grande escala em rios de água branca, na grande
Bacia Amazônica, este tipo de erosão é descrita em vários trabalhos publicados por autores
Franzinelli e Igreja, 1990 no rio Negro; Ashbridge, 1995 no rio Culm; Mota, 2001 no rio Riacho
Fundo – Distrito Federal; Fontes, 2002 rio São Francisco; Souza, 2004 no rio Paraguai; Araújo
e Rocha 2009 no Córrego do Cedro (SP) e outros, apresentam também em rios de água preta e
em diversos rios do Brasil e do mundo.
O termo regional “terras caídas” segundo Guerra (1993) e Carvalho (2006), está inserido
no cotidiano dos ribeirinhos, porém não explica de forma conceitual um processo erosivo,
caracteriza-se por ser uma visão empírica dos moradores das margens de rios ao se depararem
com diversas feições erosivas fluviais.
Ainda que diversos autores afirmem que o movimento de massa seja especifico de
encostas como Fernandes et al.(2001); Selby (1990); Guerra e Cunha, (2004) entre outros,
Ritter (2002), afirmam que o movimento de massa também ocorre nas margens de rios.
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos dados analisados é possível caracterizar que a comunidade de estudo pode
ser considerada uma área de risco natural ambiental suscetível a fenômenos naturais. Levando em
consideração áreas semelhantes já publicadas em outros trabalhos e citadas acima, que a erosão
das margens raramente resulta de um único processo, e sim de uma combinação de fatores como:
geológicos, climáticos, neotectônicos, pedológicos, geomorfológicos, estruturais e em menor
escala os fatores antropogênicos, que causam impactos socioambientais aos que habitam as
margens de rios. Assim, com a continuidade da pesquisa será possível entender melhor os agentes
causadores do processo de dinâmica nas margens, no trecho estudado, e a relação dos impactos
ambientais com os ribeirinhos da Comunidade do Divino Espírito Santo.
O ribeirinho se considera dono de sua terra, no entanto para a natureza ele não passa de
um inquilino efêmero, pois quem decide o tempo de sua moradia é o rio, por meio do fenômeno
natural de erosão de margem, designado pela terminologia regional como “terras caídas”.
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