o relevo de teresina, pi - Seja Bem

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Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia
Goiânia
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2011
O RELEVO DE TERESINA, PI: COMPARTIMENTAÇÃO E DINÂMICA ATUAL
THE RELIEF OF TERESINA: SUDVISION AND CURRENT DYNAMIC
Iracilde Maria de Moura Fé Lima1
Introdução
Resumo: Este trabalho apresenta um mapeamento do relevo do município de Teresina-PI,
em primeira aproximação, tendo como base a gênese e a morfologia do modelado do relevo.
Para sua caracterização inicial buscou-se identificar as relações entre as formas de relevo
locais e elementos lito-estruturais e climáticos, os tipos de solos e a organização da drenagem. O município encontra-se localizado na porção centro-norte do estado do Piauí, na
Província geológica denominada Bacia do Parnaíba, de idade Paleo-Mesozóica. Apresenta
clima tropical sub-úmido e abrange pequenas porções das bacias hidrográficas Difusas do
Médio Parnaíba, do rio Poti e das Bacias Difusas do Baixo Parnaíba. É banhado em toda sua
extensão Norte-Sul pelo rio Parnaíba, nível de base regional, em cuja bacia encontra-se 90%
da área piauiense, aproximadamente.
O município de Teresina localiza-se na porção centro-norte do Estado do
Piauí (Figura 1), apresentando uma área de 1.392,0 Km² e uma população residente
de 814.230 habitantes, dos quais 94,3% encontram-se na área urbana (IBGE, 2010).
Destaque-se que em 2005, foram desmembrados 363,6Km² de sua área para formar o
município de Nazária, porém ainda existem questões de fronteira a serem resolvidas.
Teresina se encontra em parte da área de pequenas bacias hidrográficas Difusas do Médio Parnaíba e do rio Poti, sendo que o Parnaíba corresponde ao nível de
base regional e em sua bacia encontram-se 90% da área piauiense. É banhado pelo
rio Parnaíba em toda sua extensão Norte-Sul, num percurso de 83,408 Km formando o limite oeste com o Maranhão, sendo o trecho da área urbana de 26,311 Km de
extensão. O rio Poti, seu maior afluente neste município, apresenta um extensão de
55,48 Km, estando 24,48 Km na área urbana. Ao atravessar a cidade de Teresina o
Poti encontra-se no seu baixo curso, apresentando traçado fortemente meandrante
até sua foz no Parnaíba, contornando os morros residuais sustentados por depósitos
de “massará”.
Os demais rios/riachos afluentes do Paraíba e do Poti apresentam pequena
extensão tendo, em sua maioria, suas nascentes dentro do próprio município. Vários
deles deságuam na área urbana e são canalizados em galerias pluviais, para onde convergem também muitos esgotos residenciais de áreas não contempladas com o esgotamento sanitário dessa Capital. Este fato provoca problemas socioambientais, como
inundações e isolamento de ruas por forte erosão/desabamentos na pavimentação
urbana, principalmente nos anos de ocorrência de maiores índices pluviométricos.
Destaque-se que, com a expansão da cidade, muitas lagoas formadas nos terraços
desses rios vão sendo aterradas para uso urbano, agravando os problemas sanitários e
habitacionais da população.
Palavras-chave: Mapeamento. Unidades de relevo. Declividade.
Abstract: This paper presents a mapping of the relief of Teresina, initially, it is based on genesis and morphology of the patterned relief. For its characterization sought to identify the
relations between the local forms of relief, litho-structural and climate elements, soil types
and the organization of draining. The municipality is located in the central-northern portion of Piauí state, at geological province known as Parnaíba Basin which is Paleo-Mesozoic
age. It presents tropical sub-humid climate and covers small portions of hydrographic difused basin of Médio Parnaíba, from Poti river and from hydrographic diffuse basins of Baixo
Parnaíba. It is bathed in its north-south length by Parnaíba river, level of regional base,
whose basin is in 90 % of Piauí area,approximately.
Keywords: Mapping. Reliefs Units. Slope.
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1980-2006 os seguintes índices de média anual de precipitação de 1.350 mm; de evapotranspiração de referência 4,9 (Penman Monteith - mm); 28,4 °C de temperatura e
72% de umidade relativa do ar. Considerando a classificação de Tornthwaite e Mather
(1955), o clima de Teresina é caracterizado como sub-úmido seco, megatérmico, com
excedente hídrico moderado no verão e uma concentração de 32,1% da evapotranspiração potencial no trimestre setembro-outubro-novembro. Para o período de 1980
a 2007 foram encontrados os índices de Aridez de 55,5%, o de umidade de 13,3% e o
índice hídrico de 20% (BASTOS; ANDRADE JR., 2007).
A estrutura geológica sobre a qual esse município se encontra corresponde
à porção centro-oriental da Bacia Sedimentar do Parnaíba, aflorando nessa área formações datadas do Paleozóico ao início do Mesozóico, com intrusões de diabásio, do
período Jurássico. A formação topograficamente mais rebaixada corresponde à Formação Piauí, datada do Carbonífero. A sua porção inferior compõe-se de bancos espessos de arenito fino a médio, pouco argiloso, róseo avermelhado, sub-arredondado,
enquanto sua parte superior é formada predominantemente por uma sequência de
folhelhos e argilitos de cor variegada com intercalações de dolomito. Essa Formação
aflora nos níveis mais baixos do município, ao longo dos vales dos rios Parnaíba e de
seu afluente Poti, em faixas que se alargam nos trechos de curvas meândricas, e que se
estreitam nos segmentos mais retos dos canais desses rios. Aflora ainda nos vales dos
afluentes do Parnaíba: Riacho São Vicente (extremo norte do município) e riachos
Lages e Fundo (extremo sul do município), desde cerca de 50 a 70 metros, ora sob
planícies e terraços fluviais de 50 a 70 metros de altitude, aproximadamente, ora como
morrotes residuais que alcançam até 120 m de altitude.
Sobreposta à Piauí, encontra-se a Formação Pedra de Fogo (datada do Permiano) aflorando de norte a sul, em cerca de 60% da área do município de Teresina.
Compõe-se predominantemente por bancos espessos de folhelho e siltito, com intercalações de chert silexito e evaporitos de coloração variegada. Esse pacote de rochas
encontra-se nos níveis de 100 ou 120 até cerca de 240 metros de altitude, em áreas
retrabalhadas pela drenagem, isolando morros residuais. A Formação Pastos Bons
(datada do Triássico) corresponde a superfícies de cimeira, numa pequena área a sudeste do município, atingindo até 250 m. Compõe-se de siltito e folhelho de coloração
variegada, intercalados por camadas delgadas de arenito argiloso e encontra-se como
camada de cobertura nos divisores topográficos dos grandes riachos da região Sudeste
do município: do Macaco e Fundo. Nessa porção do município ocorrem ainda soleiras e diques de diabásio cortando as formações sedimentares pré-existentes (CPRM,
2006; CORREIA FILHO, 1997). Em trabalhos de campo observa-se que o diabásio
Figura 1 – Localização do município de Teresina (PI) no estado do Piauí
A baixa vazão que o rio Poti apresenta durante mais da metade do ano resulta
do fato de que ao longo do percurso no alto e no médio cursos atravessa regiões de
clima semi-árido, com a média das precipitações anuais entre 600 e 800mm, concentradas em 3 ou 4 meses do ano, e somente ao se aproximar de Teresina, trecho
final de seu baixo curso, é que atravessa área de clima sub-úmido, com médias anuais
de precipitação acima de 1.000 mm anuais, concentradas em cinco a seis meses do
ano. Sendo a erosividade das chuvas um dos principais fatores naturais responsáveis
pela erosão dos solos, esse dado deve ser considerado, pois o regime de chuvas sendo
concentrado, com chuvas torrenciais de até 100 mm em poucas horas, e com totais
pluviométricos anuais distribuídos em poucos meses, confere um alto poder de erosividade nessa região.
Segundo a classificação de Köppen, o clima de Teresina corresponde ao tipo
Tropical com chuvas retardadas para outono (Aw’), tendo apresentado para o período
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gênea e sua natureza associada ao modelo de análise escolhido e à escala adequada
ao objetivo do mapeamento. Atualmente existe uma grande diversidade de modelos
de mapas geomorfológicos devido à complexidade inerente à sua representação e ao
próprio interesse dos geomorfólogos de cada país, bem como à própria diversidade de
formas de relevo encontradas na várias regiões estudadas.
aflora em significativa mancha dessa rocha aflorando entre as formações Pedra de
Fogo e Pastos Bons, ora em blocos de rochas visíveis no piso das estradas vicinais, ora
nos solos cultivados com pastagens, nas bacias dos riachos Fundo e das Lages.
Na região sul do município o diabásio e os arenitos são explorados e comercializados para a construção civil. Também as argilas são exploradas como matériaprima para a fabricação de telhas e tijolos, em escala industrial.
Em vários pontos, de norte a sul do município, encontram-se faixas descontínuas de elevada concentração de seixos, de granulações que variam de 0,5 a 5 cm,
cimentados com areias e argilas, igualmente exploradas como material de construção.
Ocorrem como depósitos de cobertura desde os terraços aluviais até 150 metros de
altitude, dando maior coesão e resistência aos materiais, retardando assim o efeito dos
processos erosivos, mantendo os níveis dos morrotes residuais. Muitos desses morros
formam divisores topográficos de pequenos afluentes dos rios Parnaíba e Poti e são
cada vez mais rebaixados pelo crescente processo de ocupação urbana, na cidade de
Teresina. Localmente são denominados de “massará” e são intensamente utilizados
como material de construção civil (VIANA et. al, 2010).
Na área urbana os morros residuais baixos do interflúvio Poti/Parnaíba, antes chamados Chapada do Corisco, chegam até próximo da foz do Poti, no Parnaíba,
onde seu topo apresenta-se com cerca de 90 metros de altitude, na área do Parque da
Cidade e arredores, tendo um nível de base local em torno de 55m, na barra do Poti
(LIMA, 2002). Moreira (1972) destaca que as topografias que descem suavemente da
parte mais elevada do interflúvio Poti/Parnaíba não constituíram obstáculo ao crescimento da cidade em direção da chapada, ao contrário, e que as elevações decrescendo
de sul para norte, favoreceram a sua inicial expansão nessas direções.
Assim é que os sistemas de mapeamento geomorfológico russo, polonês e o da antiga
Checoslováquia estão entre aqueles que trabalham com o modelo das formas, no qual
as unidades básicas são as morfoestruturais, fundamentadas na morfologia, enquanto
sistemas como o britânico e o francês aplicam o modelo dos elementos do relevo
[...] e os americanos têm se interessado principalmente por mapeamentos de feições
específicas da paisagem (FLORENZANO, 2008, p. 106-7).
Com o avanço da tecnologia, os geomorfológicos passaram a utilizar cada
vez mais as técnicas de sensoriamento remoto e de geoprocessamento, uma vez que
permitem realizar observações sobre as variações altimétricas e a configuração espacial do relevo, bem como realizar cálculos de índices de declividades, de dissecação, etc., com maior rapidez e confiabilidade na representação. Sobre isto Assunção
e Hadlich (2009, p. 3488) destacam que o Projeto SRTM (Shuttle Radar Topography
Mission), um dos Modelos Digitais de Elevação (MDE) mais utilizados, atualmente,
representa a primeira experiência de interferometria a bordo de uma nave espacial
(EUA em 2000) e que para a América do Sul a precisão vertical é de 6,2m e a horizontal de 9m, estando os dados sobre o território brasileiro processados pela EMBRAPA
(MIRANDA, 2005) e disponíveis segundo a articulação das folhas topográficas, em
escala de 1:250.000.
A importância da compartimentação topográfica no estudo do relevo se deve
principalmente ao fato de que
Objetivos
[...] evidencia o resultado das relações processuais e respectivas implicações tectônico-estruturais registrado ao longo do tempo, considerando o jogo das componentes
responsáveis pela elaboração e re-elaboração do modelado, em que as alternâncias
climáticas e as variações estruturais tendem a originar formas diferenciadas (CASSETI, 2005).
Este trabalho objetiva elaborar um mapeamento do relevo do município de
Teresina-PI, em primeira aproximação, partindo-se da identificação de unidades de
relevo e sua caracterização morfológica, e identificar aspectos de sua dinâmica atual,
a partir das relações entre o relevo e elementos lito-estruturais e climáticos, as redes
de drenagem e os tipos de solos dessa área.
Considerando que a compartimentação e a evolução das formas de relevo
ocorrem na superfície, os elementos litoestruturais devem ser estudados para compreensão do comportamento dos processos sobre esses materiais. Considerando
ainda que a estrutura geológica compõe-se do arranjo de elementos como grupos
minerais e rochas e falhas, dobras, diques, a identificação e análise dos tipos e da
Referencial teórico e conceitual
Os mapas geomorfológicos são elaborados para representar o relevo terrestre. Para tanto, concordam os geomorfólogos, a unidade de relevo deverá ser homo-
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distribuição das rochas e a presença, ou não, dos demais elementos estruturais é feita
através da observação de cortes geológicos e colunas estratigráficas. Essa coluna se
compõe de unidades geocronológicas que, no caso de bacias sedimentares possibilita
o entendimento da origem e das sucessões sedimentares, bem como dos processos e
ambientes de sedimentação.
O estudo da estratigrafia também possibilita estabelecer relações entre rochas
e outros elementos estruturais ajudando a resgatar a história da evolução geológica
em nível local, regional e até mundial (BIGARELLA, 2007). A passagem do tempo
desde o início da formação da Terra encontra-se dividido em unidades geocronológicas, medidas em milhares e milhões ou de anos, seguindo a seguinte hierarquia: Eons,
Eras, Períodos, Épocas e Idades. Já a unidade litoestratigráfica corresponde a um conjunto de rochas ou uma rocha caracterizada pelas suas propriedades litológicas e a sua
posição estratigráfica em relação a outras rochas. A unidade básica da litoestratigrafia
denomina-se Formação.
Desta forma, os depósitos de sedimentos que se sobrepõem às unidades litoestratigráficas mais antigas, tanto em áreas elevadas quanto deprimidas, são os mais
novos. Os depósitos associados a drenagens de idades Pleistocênica ou Holocênica,
constituem os aluviões Quaternários, enquanto os depósitos de encostas e divisores
topográficos são de idades Terciárias ou, localizadamente, Quaternárias. Todos esses
depósitos correspondem aos chamados depósitos de cobertura (BARTORELLI; HARALYI, 1998, p. 19).
O estudo da morfologia fluvial envolve os tipos de leitos e formas dos vales
por onde flui a drenagem. E, como destaca Lima (2006), os diferentes tipos de canais
podem ter seus percursos modificados principalmente por fatores climáticos ou tectônicos, podendo ser identificadas alterações de posições das barras ou do próprio
curso. Assim, a drenagem guarda uma forte relação com a estrutura geológica, com o
clima e com o relevo de uma região, correspondendo a uma das importantes variáveis
nos estudos geomorfológicos.
Considerando a forte relação dos solos com o relevo de uma área, tornase importante identificar a espacialização dos tipos de solos por unidade de relevo,
a fim de estabelecer suas relações principalmente com a dinâmica da paisagem. Os
estudos dos processos erosivos têm realçado essa relação solo x relevo, uma vez que o
uso inadequado dos solos tem ampliado os problemas relacionados ao assoreamento
de rios, à redução da capacidade de infiltração e à instalação de voçorocas (BERTOLANI; VIEIRA, 2001). Bertol et al. (2002) destacam a importância das chuvas no
processo de erosão dos solos, considerando que elas passam a ser erosivas a partir de
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dez milímetros precipitados num período máximo de quinze minutos. Já Lepsch et
al. (1991) e Guerra (2001) consideram ser mais adequado o critério de avaliação do
risco de erosão sob cultivo, levando em conta a erodibilidade dos solos e as classes de
declividades do relevo. Esses autores consideram que deve ser dada especial atenção à
intensidade máxima das chuvas em 30 minutos e a sua relação com o desgaste erosivo
provocado no solo.
Estudando essa questão, Ross (2000) estabeleceu cinco classes de fragilidade
ou de erodibilidade das terras, de acordo com os tipos de solos considerando o escoamento superficial, indicadas no Quadro 1:
Quadro 1 - Classes de fragilidade, segundo a tipologia dos solos, considerando o escoamento
superficial
Classes de fragilidade Tipos de solos
1 – Muito Baixa
2 - Baixa
3 - Média
4 - Forte
5 – Muito forte
Latossolo Roxo, Latossolos Vermelho-Escuro e Latossolos Vermelho-Amarelo
textura argilosa
Latossolo Amarelo e Latossolos Vermelho-Amarelo textura média/argilosa
Latossolos Vermelho-Amarelo, Nitossolos, Argissolos Vermelho-Amarelo
textura média/argilosa
Argissolo Vermelho-Amarelo textura média/arenosa e Cambissolos
Argissolo com cascalhos, Neossolos Litólicos e Neossolos Quartzarênicos
Órticos.
Fonte: Ross (2000).
Metodologia utilizada
Neste estudo serão utilizados mapas temáticos como base de dados, como
o de Reconhecimento de Solos de Teresina (MORAES, 2004) e o do DSG (1973),
ambos na escala de 1:100.000 e o mapa geológico do Piauí (BRASIL, CPRM, 2006) na
escala de 1:1.000.000. Como forma de suprir a inexistência de trabalhos geológicos
dessa área em escala mais detalhada. Serão consultadas as coluna estratigráficas dos
relatórios de perfuração de poços profundos (CPRM, 1983-2006) para identificar as
formações que afloram no município de Teresina e identificar se ocorre mergulho
das formações geológicas em direção à calha do rio Parnaíba obedecendo ao padrão
do mergulho regional das demais formações – da borda oriental para o centro da
bacia sedimentar do Parnaíba, ou seja o sentido Leste-Oeste nessa porção leste-centro
da bacia. Também serão utilizadas imagens de satélite da EMBRAPA (MIRANDA,
2005) e malhas digitais do IBGE (2007), disponíveis online, bem como os relatórios
estratigráficos de poços profundos citados. Esses mapas e imagens serão trabalhados
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forte controle litoestrutural condicionante do padrão de gênese e da evolução do relevo? Como as dinâmicas dos climas e da drenagem se refletem nas formas de relevo?
A litologia, as unidades de relevo e os solos exercem grande influência na distribuição
da água da área estudada?
nos programas ArcGis (versão 9.2) e Global Mapper (versão 10.0), de maneira a se
identificar as relações dos níveis topográficos das formas de relevo, com os elementos
litoestratigráficos das formações geológicas e do clima, a espacialização dos diferentes
tipos de solos e a incisão da drenagem. Será elaborado um mapa de classes de declividade das encostas, tendo em vista que é a topografia do terreno, especialmente a
declividade, o principal condicionador de sua capacidade de uso. Optou-se pelos intervalos definidos pela EMBRAPA (1999), descritos no Quadro 2, por ser a instituição
brasileira que desenvolve pesquisas aplicadas diretamente relacionadas ao uso produtivo dos solos e, assim, através de manipulação numérica do mapa MNT, obteve-se o
mapa de classes de declividade do relevo do município de Teresina.
O Relevo de Teresina, PI: resultados alcançados
Como resultados preliminares deste estudo encontram-se: a elaboração de um
mapa de relevo do município de Teresina-PI (Figura 2); a organização de um mapa de
classes de declividades dos conjuntos das formas de relevo mapeados (Figura 3).
Com relação drenagem observou-se que, em termos regionais da mesma,
que o relevo segue a direção geral do mergulho das formações geológicas da bacia sedimentar do Parnaíba, na região Leste-Oeste até o rio Parnaíba, no espaço piauiense.
Tomando como referência as colunas litoestratigráficas de poços tubulares do município de Teresina e arredores (CPRM, 1981-86), verificou-se que o mergulho da
Formação Pedra de Fogo (no seu limite inferior) na porção centro do município de
Teresina (em 19,5 Km, do limite do município a calha do rio Parnaíba, no sentido
E-W) é de 0,05%, enquanto o valor do mergulho, desde a borda dessa bacia sedimentar para o seu interior, até a calha do rio Parnaíba varia de 5 a 12% (RADAM, 1973).
Verificou-se ainda que de Norte ao Sul do Município de Teresina a Formação Pedra
de Fogo predomina como base das grandes unidades ou conjuntos de relevo, a exceção das planícies e terraços fluviais que são elaboradas tendo como base a Formação
Piauí, e de parte do extremo Sudeste do município que tem sua superfície de cimeira
elaborada nas rochas da Formação Pastos Bons.
Destaque-se que, a exemplo da identificação de Lima (1990, p.668), de uma
possível estrutura anômala formada por um conjunto de formas tabulares ao norte de Teresina que, pela interpretação em imagens, assemelha-se a morfoestruturas
do tipo anticlinal e sinclinal, mas que correspondem a formas erosivas em níveis resistentes de chert, presente na Formação Pedra de Fogo. Observam-se formas com
essas mesmas características bem definidas nas imagens consultadas, ocorrendo nas
porções centro-sul e sudeste do município. Nesses pontos observa-se uma forte relação da drenagem com a litologia local, formando um padrão de drenagem radial
convergente.
Na porção sul do município a direção geral predominante dos rios e riachos
afluentes do Parnaíba (pertencentes às Bacias Difusas do Médio Parnaíba) é de Sudeste/Noroeste, apresentando Padrão de Drenagem Paralelo, considerado pela literatura
Quadro 2 – Classes de Declividades do Relevo
Tipo de relevo
Plano
Declividade (%)
0a3
Suave ondulado
3a8
Ondulado
8 a 20
Forte ondulado
20 a 45
Montanhoso
45 a 75
Escarpado
Acima de 75
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Fonte: EMBRAPA (1999).
As inspeções de campo tiveram caráter exploratório, observando-se de forma
geral as formas de relevo, o comportamento da drenagem e a localização de depósitos superficiais de seixos que ocorrem em todo o município e áreas adjacentes e que
são intensamente utilizados como material da construção civil. A continuidade do
trabalho permitirá a análise da variação espacial entre elementos da declividade das
encostas, sua relação com a litologia e com os solos, assim como o comportamento/
dinâmica das formas de relevo, nos diferentes conjuntos de relevo mapeados nesta
etapa da pesquisa.
Principais questões / Pontos Desenvolvidos
Partindo-se da hipótese de que os elementos litoestruturais têm grande influência espacial sobre as características das formas de relevo e sobre sua dinâmica,
buscou-se no referencial teórico-metodológico e observações de campo elementos
para discussão e encaminhamento que levarão a respostas às questões: Haveria um
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como freqüente em rochas sedimentares; enquanto na porção centro do município
os riachos de maior extensão são afluentes do Poti e apresentam direção geral de SENW, mantendo também de forma predominante o Padrão de Drenagem Paralelo. Na
porção norte o Poti e pequenos riachos drenam diretamente para o Parnaíba (parte
das Bacias Difusas do Baixo Parnaíba), apresentando a direção geral de E-W de forma predominante, mantendo ainda o Padrão Paralelo.
O mapa de relevo (Figura 2) identifica unidades de relevo, com base na gênese e morfologia do modelado, conforme se observa na respectiva legenda:
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Figura 2 – Mapa de Relevo do Município de Teresina, PI.
1ª) Planícies e Terraços Fluviais. Compreende as feições de acumulação por
processos fluviais sobre a formação Piauí, com desenvolvimento de solos em faixas
descontínuas ao sul e de forma contínua ao norte da cidade de Teresina, em faixas
de 50 a 70 m de altitude. Na área central da cidade, na margem do rio Parnaíba,
encontram-se aluviões que variam de 5 a 15 m de profundidade sobre a Formação
Piauí (4TE-16,17e 41-PI). Predominam solos do tipo NEOSSOLOS FLÙVICOS EUTRÒFICOS A moderado textura média Floresta Dicótilo-Palmácea (babaçual) e Floresta Ciliar de Carnaúba (MORAES, 2004);
2ª) Superfície Intensamente Retrabalhada pela Drenagem com Morros Residuais. Corresponde as formas modeladas sob intensos processos erosivos, diretamente
sobre a formação Pedra de Fogo, correspondendo à faixa de altitudes entre 70 e 100
metros. Os solos na maior parte dessa área são LATOSSOLOS e em menor proporção
ARGISSOLOS nas áreas que apresentam maior declividade e a vegetação de babaçuais se encontra nas áreas de relevo plano com transição para o cerrado no relevo
suave ondulado (MORAES, op.cit.).
3ª) Superfície Residual Recortada por Vales Encaixados:
B - Morros com Tendência ao Arredondamento Limitados por Relevo Escalonado. Compreende formas erosivas de topos definidos, porém reafeiçoados pelos processos erosivos, tendendo ao arredondamento, sendo recortados por vales encaixados
e se encontram na faixa de 100 a 170 metros de altitude. Esse relevo é moldado em
rochas da Formação Pedra de Fogo, onde predominam os ARGISSOLOS nas encostas
mais inclinadas e LATOSSOLOS nas áreas de relevo suave ondulado. Na porção sul
do município, ocorrem também Associações de CHERNOSSOLO ARGILÙVICOS e
ARGISSOLOS VERMELHO-AMARELO em áreas de relevo mais elevado, parte sobre
o diabásio e parte da área de rochas da Pedra de Fogo (MORAES, 2004).
A - Mesas com Topos Achatados Limitados por Escarpas. Compreende formas erosivas de topos mais elevados e encostas íngremes, entre os níveis de 170 a
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250 metros de altitude. Formam as pequenas áreas de maiores altitudes do município com cobertura de vegetação arbórea e, segundo Moraes (2004) apresentam solos
dos tipos LATOSSOLOS VERMELHO-AMARELO e Associações de ARGISSOLOS
VERMELHO-AMARELO.
O mapa de declividade do relevo mostra a predominância de relevo Suave
Ondulado (3 a 8%) em todas as unidades de relevo mapeadas neste trabalho, conforme se observa na Figura 3 e no Quadro 3.
Quadro 3 – Classes de Declividade, segundo a altitude, por unidade de Relevo do Município
de Teresina, PI.
Unidade de relevo
1ª) Planícies e Terraços Fluviais
2ª) Superfície Intensamente Retrabalhada pela
Drenagem com Morros Residuais
3ª) Superfície Residual Recortada por Vales
Encaixados:
B - Morros com Tendência ao
Arredondamento Limitados por Relevo
Escalonado.
3ª) Superfície Residual Recortada por
Vales Encaixados:
A - Mesas com Topos Achatados
Limitados por Escarpas
Figura 3 – Mapa de Declividade do Relevo do Município de Teresina, PI.
Classe de altitude (m)
Área (%) na Classe de
Declividade Suave ondulado
(3 a 8%)
50 a 70
60, 82
70 a 100
66,00
100 a 170
65,76
170 a 250
51, 67
Fonte: DSG,1973; INPE,2009; EMBRAPA,1999. Organizado por Iracilde M.Fé Lima, maio /2011.
Com base nesses dados de classes de declividade do relevo encontrados para
o município de Teresina e de acordo com a Classificação Internacional de Uso do Solo
(LEPSCH, op.cit.) considera-se que cerca de 60% de toda a área do município seja de
potencial de uso agrícola. Entretanto, faz-se necessário que sejam estudados outros
fatores como textura, estrutura e profundidade dos solos no planejamento agropecuário e gestão do espaço teresinense.
Com relação à dinâmica do relevo, os dados referentes aos elementos do
clima atual, principalmente os totais pluviométricos e sua distribuição, indicam sua
concentração em 5 meses do ano, com episódios frequentes de chuvas torrenciais que
ultrapassam 100mm, distribuídos em poucas horas. Considera-se como fator–mor
a erosão hídrica, o principal agente desencadeador da dinâmica natural dos solos e
também do relevo do município de Teresina.
nota
1. Doutoranda do DINTER UFMG/UFPI em Geografia e Professora da UFPI - cidinhafe@
yahoo.com.br. Artigo produzido sob orientação da Professora Pós-Doutora Cristina H.Ribeiro
Rocha Augustin, do Programa de Pós-graduação em Geografia, área de concentração Análise
Ambiental, do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG,
Projeto Dinter (UFMG/UFPI). E-mail: [email protected].
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IX ENANPEGE
Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia
Goiânia
8 a 12 de outubro
2011
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