Hubble faz história mais uma vez Em 1995, uma equipe de astrônomos liderada por Robert Williams, o diretor do Instituto do Telescópio Espacial, teve a fantástica ideia de observar uma região “vazia” do céu. Quando usou o termo “vazia”, a equipe se referia a uma região despovoada de estrelas, nebulosidades ou qualquer outro objeto da nossa própria galáxia ou de seus arredores. O que os cientistas queriam era uma região que pudesse ser observada pelo telescópio Hubble durante algum tempo, para produzir a imagem mais “profunda” já obtida até então. Em astronomia, quando dizemos que uma imagem é mais profunda, é o mesmo que dizer que ela foi obtida com tempo exposição maior da câmera. Com isso, a imagem revela objetos mais fracos – ou mais distantes. Observando durante muito tempo uma região sem objetos da nossa galáxia, estaríamos vendo objetos de um universo muito distante e jovem. Essa foi a motivação da imagem que foi chamada de Campo Profundo do Hubble, ou HDF na sigla em inglês. Uma pequena região do céu do hemisfério norte, na constelação da Ursa Maior, foi escolhida e a imagem final foi produzida juntando 342 imagens, após dez dias consecutivos de observações feitas pelo Hubble. No HDF, foram encontradas por volta de 3 mil galáxias, algumas delas a distâncias aproximadas de 12 bilhões de anos-luz. O HDF marcou a cosmologia para sempre. Em 1998, outra imagem idêntica foi feita, mas no hemisfério sul, na direção exatamente oposta à do HDF, e foi batizada de Campo Profundo Sul do Hubble (HDF-S). A comparação entre os dois campos não mostrou nenhuma diferença no que diz respeito à densidade de galáxias, à morfologia e à sua distribuição, por exemplo. Essa foi uma constatação muito importante, pois veio a confirmar o Princípio Cosmológico, a hipótese de que, em largas escalas, o universo é homogêneo. Em outras palavras, seria impossível distinguir o HDF do HDF-S, considerando a densidade ou distribuição de galáxias, por exemplo. Depois dos dois HDFs, o Hubble foi um pouco mais fundo e observou o Campo Ultraprofundo do Hubble, ou HUDF em inglês, reunindo imagens coletadas durante 16 dias. O HUDF foi lançado em 2005 e, durante esses sete anos, permaneceu como a imagem mais profunda já feita pelo ser humano, mostrando objetos como galáxias e quasares no instante em que o universo possuía por volta de 600 milhões de anos. Mas o HUDF foi finalmente superado. Na última terça (25), o Instituto do Telescópio Espacial liberou a imagem do Campo Extremamente Profundo do Hubble, ou XDF. Observando uma pequena região, na parte central do HUDF, o XDF combina observações feitas entre 2002 e 2012, totalizando 22,5 dias de observação. A imagem revela em torno de 5 mil galáxias, algumas delas a 13,2 bilhões de anosluz, o que significa observar o universo quando ele tinha meros 500 milhões de anos. A essa distância, a maioria das galáxias a se mostra jovem, pequena, mas em crescimento, às vezes de forma bem violenta, por meio de colisões com outras galáxias. Nessa idade, o universo vivenciou a formação de galáxias, constituídas de estrelas quentes e azuis, muito mais brilhantes que o nosso Sol. A galáxia mais jovem encontrada no XDF tem apenas 450 milhões de anos. Antes de o Hubble ser lançado em 1990, os astrônomos conseguiam enxergar galáxias a 7,5 bilhões de anos luz, ou seja, galáxias com metade da idade do universo. Com o telescópio espacial e suas sucessivas imagens profundas, os astrônomos foram formando uma sequência cada vez mais profunda de imagens, mostrando instantes diferentes do universo, dando a possibilidade de enxergar como o universo foi evoluindo. O XDF é, agora, a imagem do Universo mais distante já feita pela humanidade. Publicada em 28 de setembro de 2012 No Globo Ciência por Cássio Barbosa