A PEDAGOGIA DO OPRIMIDO COMO PEDAGOGIA PRIMEIRA DA

A PEDAGOGIA DO OPRIMIDO COMO PEDAGOGIA PRIMEIRA DA
FILOSOFIA DA LIBERTAÇÃO
Edivaldo Bortoleto
Julia Marta Zamarchi Bertuncello
O Projeto de Iniciação Científica A Pedagogia do Oprimido como Pedagogia Primeira
da Filosofia da Libertação aponta dois campos de conhecimentos – a Pedagogia e a Filosofia que emergem em um mesmo contexto histórico e espacial, qual seja, o latino americano
caribenho, principalmente entre as décadas de 60 e 70 do século passado.
Neste período, no contexto latino americano caribenho, está sendo formulada uma teoria
que irá ser denominada de Teoria da Dependência. O reconhecimento e a compreensão crítica
de um processo das sociedades latino americanas em transição de um modelo tradicional de
sociedade para um modelo moderno de sociedade implicou no reconhecimento e na
compreensão de um modelo híbrido, portanto, intermediário no processo de transição que irá ser
chamado de sociedades em desenvolvimento1.
Neste contexto de mudança social de sociedades dos países em desenvolvimento na
América Latina Caribenha encontrar-se-á “explosões” em todos os aspectos da cultura: o
demográfico, o político, o econômico, o religioso, o educacional, o filosófico, o teológico,
perpassa, também, pela cultura jurídica, enfim, todos os aspectos e dimensões da complexa
cultura latino americana caribenha estavam passando, bem como ainda continuam, por
processos intensos de tensões. Para salientar dois aspectos neste período vale sinalizar sobre os
processos autoritários nos regimes políticos constituídos pelo signo da força militar e, em
contrapartida, os processos de organização de guerra de guerrilhas constituídos pelo signo da
força revolucionária e libertadora.
É neste contexto, onde a lógica da dominação se impõe em todas as esferas
fundamentais da cultura latino americana caribenha, é que a necessidade das mudanças e, de
maneira muito particular de mudanças revolucionárias, pois, o que se está em jogo é vencer uma
lógica da exploração que foi se impondo sobre a grande maioria, senão, na totalidade dos países
latino americanos, é que as lutas liberacionistas vão emergindo como imperativos. Assim, neste
contexto de tensões profundas, emerge em uníssono, desde várias áreas de saberes – a
sociologia, a economia, a psiquiatria, a filosofia, a teologia, a pedagogia, a literatura, a jurídica,
a poesia, a música –, outra formulação de conhecimento transformador e libertador. Pode-se
falar desta forma, em uma sociologia da liberação, em uma pedagogia da libertação, em uma
1
Sobre esta questão, principalmente, sobre a Teoria da Dependência, conferir os dois volumes:
BIELSCHOWSKY, Ricardo. Cinquenta anos de pensamento da CEPAL. Rio de Janeiro/São Paulo:
Record, 2000.
filosofia da libertação, em uma teologia da libertação, em uma estética da libertação presentes
na literatura, na poesia e na música.
O tema da libertação será um tema recorrente e ganhará formas homológicas em todas
as áreas de conhecimento, bem como em todas as formas de organização das gentes oprimidas:
movimentos sociais, sindicatos, partidos, organizações populares etc. No campo da Filosofia
(Filosofia da Libertação), Enrique Dussel será um dos nomes juntamente com tantos outros
filósofos. No Campo da Teologia (Teologia da Libertação), Gustavo Gutierrez será um dos
nomes juntamente com tantos outros teólogos. No campo da Psiquiatria (Psicoterapia do
Oprimido), Alfredo Moffatt será um dos nomes juntamente com tantos outros psiquiatras e
psicólogos. No campo da Pedagogia (Pedagogia do Oprimido), Paulo Freire será um dos nomes
juntamente com outros tantos pedagogos e educadores.
Desta forma, será neste horizonte da cultura latino americana caribenha que um
pensamento não mais de colorações eurocêntricas constituir-se-á. Uma epistemologia não mais
fincada nos problemas europeus, mas sim, doravante, fincada agora no solo desta cultura
constituída pela diversidade e pela desigualdade resultado de um longo processo de exploração,
de dominação, portanto, de dependência. Então, é neste horizonte que se quer compreender a
estreita relação entre Pedagogia e Filosofia. Mais precisamente, a estreita relação de uma
determinada forma de Pedagogia e de uma determinada forma de Filosofia, pois, o Continente
Americano em sua abrangência maior, entendo-se e compreendendo-se em suas três
manifestações: a América do Norte, a América Central e a América do Sul, ou, dizendo d’outra
maneira, a América Anglo-Saxônica e a América Latina Caribenha constituem-se em lugares
das mais diversas e distintas teorias, idéias, escolas de pensamentos. Assim, uma coisa é
reconhecer Pedagogias e Filosofias na América enquanto um todo, outra, porém, é reconhecer
que há Pedagogias e Filosofias Americanas.
Esta abertura ao se olhar para o Continente Americano enquanto um todo é importante e
faz-se necessário, pois, há um diálogo necessário a ser feito entre as várias Américas, há um
diálogo a ser feito entre a América Anglo-Saxônica e a América Latino Americana Caribenha
para a qual este Projeto de Pesquisa quer estar aberto e se colocar de forma simpática. Isto
porque, tanto em um quanto em outro contextos deste grande mundo americano, a Pedagogia da
Libertação e a Filosofia da Libertação encontram-se em franco desenvolvimento, bem como em
outros continentes, principalmente, o Africano e o Asiático.