bambas

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REVISTA DA
UNIÃO BRASILEIRA
De COMPOSITORES
#20 / MAIO 2014
edson menezes, evaldo
gouveia, tito madi,
zé menezes e zuzuca do
salgueiro: as saborosas
histórias de cinco
veteranos da ubc
casa de
bambas
+ compositores de parintins sofrem com a inadimplência
+ música e cinema: em pernambuco, é tudo junto e misturado
+ nação zumbi, fernanda takai, reppolho, roberta sá, anitta
Informação é a
melhor defesa
do seu direito
REVISTA
DA UNIÃO
BRASILEIRA De
COMPOSITORES
#20 : maio 2014
Editorial
Já conhece o nosso Gu a do Assoc ado? Lá você encontra tudo sobre a UBC e os seus
d re tos além de expl cações s mpl ficadas das regras de arrecadação e d str bu ção
As e e ções pa a a D e o a e o Conse ho F sca da UBC oco e am no d a
28 de ma ço de 2014 num amb en e anqu o so dá o e pa c pa vo Há
mu o empo não se co h am an os vo os como ago a Fo uma demons ação
de que a nossa Un ão B as e a de Compos o es segue com a d e o a
enovada p ese vando a con ança dos nossos assoc ados
CASA DE
Acesse www ubc org br/gu adoassoc ado e sa ba ma s
BAMBAS
NOVIDADES NACIONAIS
NOTÍCIAS : UBC/5
Fotos boi Garantido: Élcio Farias
Foto: Vitor Salerno
4/UBC : NOTÍCIAS
6/UBC : REPORTAGEM
Foto: Midiorama
ROBERTA FERVE
NAÇÃO ZUMBI
LANÇA PRIMEIRO
ÁLBUM DE INÉDITAS
EM SETE ANOS
TRABALHO TEM PRODUÇÃO
DE KASSIN, BERNA CEPPAS
E MÁRIO CALDATO
Por Bruno Albertim, do Recife
Com patrocínio do programa Natura Musical, o disco, por
ora chamado “Cicatriz”, deve ser lançado ainda este mês.
Foto: Bruno Senna
Nesses sete anos sem a NZ no estúdio, os músicos se
dedicaram a vários projetos paralelos. “Desde que Chico
morreu, nunca tínhamos dado uma parada”, lembrou Pupillo.
Toca Ogan, por exemplo, fez seu disco e tocou com Otto. Lúcio
Maia se dedicou ao projeto “Maquinado”.
A banda tem 14 inéditas prontas. Mas o álbum deve ser
fechado com dez. É um disco que chega carregado de
simbolismo: será lançado quando a banda comemora os 20
anos do surgimento do seminal “Da Lama ao Caos”, o álbum
da então Chico Science e Nação Zumbi, que definiu e revelou
o manguebeat de Pernambuco para o Brasil.
A Nação Zumbi apareceu, sob a batuta de Chico Science, no
comecinho dos anos 1990, a partir da união do Loustal, banda
de rock pós-punk, com o bloco de samba-reggae Lamento
Negro. Desde então - e apesar da fatídica morte de Chico num
acidente de carro em Olinda, em 1997 -, o maracatu da NZ
segue pesando uma tonelada.
O MUNDO POP DE ANITTA
Menos funkeira e muito mais pop, Anitta lança seu primeiro
DVD, gravado ao vivo, em fevereiro, no Rio, apostando numa
estética internacional e em letras hedonistas e de forte
apelo popular. Mais comportada e sem explorar (tanto) a
sensualidade, a cantora teve como convidado o rapper Projota
no show dirigido por Raoni Carneiro. “Com essa equipe que
tenho, estou me sentindo grande e especial”, ela disse no
lançamento no projeto. Dividido em três partes, inferno (com
músicas como “Menina Má”, “Proposta” e “Cachorro Eu Tenho
Em Casa”), terra (um mundo inspirado no universo do cineasta
francês Georges Meliés) e céu (repleto de referências lúdicas
como ursinhos de pelúcia), “Fantástico Mundo de Anitta” tem
cerca de uma hora e meia de duração e conta com uma versão
mixada do hit máximo da cantora, “Show das Poderosas”.
TODOS OS SONS DE
FERNANDA TAKAI
Em seu quarto disco solo, e pela primeira vez com composições
próprias, a mineira Fernanda Takai, vocalista do Pato Fu,
explora a estética dos anos 80, brinca com o carnaval e se
arrisca numa parceria com o padre-cantor Fábio de Mello na
faixa “Amar Como Jesus Amou”, cuja melodia é ditada por
sons de jogos eletrônicos. O álbum “Na Medida do Impossível”
é assim: tem a cara e a marca das experimentações de
Fernanda, que apresenta a parceria com Marcelo Bonfá “De
Um Jeito ou de Outro” e outras duas letras que ela escreveu:
“Seu Tipo” (com música de Pitty) e “Partidas”. As outras
10 canções são de outros compositores, entre os quais se
destacam George Michael, cuja “Heal The Pain”, traduzida
por John Ulhoa, marido de Fernanda e parceiro de Pato Fu,
virou “Para Curar Essa Dor”; e a mexicana Julieta Venegas,
que aparece, também numa tradução, em “Doce Companhia”.
Um pouco antes do carnaval deste ano, quando, mais uma
vez, a NZ fez um show apoteótico na folia do Recife, saiu na
internet uma música do novo álbum. A faixa “Cicatriz” está
disponível para download no site da Natura. É a primeira
música a ser lançada oficialmente desde o disco “Fome de
Tudo” e tem participação do produtor Kassin.
Edson Menezes também enfileirou sucessos com seus
sambas modernos, sincopados – muitos em parceria com
Alberto Paz. “Zig-Zag” e “Deixa Isso Pra Lá” se tornaram
símbolos da música de Jair Rodrigues, que fez gravações
antológicas de ambos. Associado desde 1955, Menezes
integrou os Partideiros do Plá e foi gravado por cantores como
Elza Soares, Alceu Valença e Beth Carvalho.
Parceiro dele, Zuzuca do Salgueiro é outro que tem a história
entrelaçada à da UBC. Há 47 anos na associação, ele carrega
no nome a escola que adotou ao se mudar para o Rio, saído de
Cachoeiro de Itapemirim (ES). E foi exatamente no Salgueiro
que construiu alguns dos capítulos mais importantes
de sua trajetória. Foi descendo o famoso morro da Zona
Norte carioca que ele compôs seu primeiro sucesso, “Vem
Chegando a Madrugada”, parceria com Noel Rosa de Oliveira.
“Fiz muitas músicas no Salgueiro”, conta Zuzuca. “'Vem
Chegando a Madrugada' fiz realmente voltando para casa,
depois do samba. Composição é assim, coisa de momento.
Às vezes vem da alegria, outras, da tristeza. 'Pega no Ganzê'
(como ficou conhecido 'Festa Para Um Rei Negro', sambaenredo histórico da escola, de 1971) eu compus baseado na
história (do desfile), com aquelas ideias todas na cabeça para
transformar em samba. Ganzá é uma palavra que existe,
ganzê eu inventei para ficar bem ali. A arte não tem muita
explicação, não. Ela vem.”
O compositor conta que seus direitos autorais, hoje, vêm
“E certamente
os direitos nacionais vêm mais no
carnaval”, ele explica.
mais do exterior que do Brasil.
“Comecei a compor ainda criança, lá
em Fortaleza. A primeira foi 'Meus
Oito Anos'. Foi essa que toquei para
meu padim Ciço. Não sabia nada de
harmonia, mas ela tem uma sequência
de acordes tão bonita que parece até
que eu sabia”, relembra, em sua fala humorada e cheia
de energia. “Fui predestinado a ser músico. Com mais de 90
anos, ainda estou atuando, estudando e gostando do que faço.”
Seu olhar sobre a música e sobre a vida (“Olho para frente,
porque andar para trás não dá... Só se for caranguejo”) guia
também a avaliação que faz sobre a questão dos direitos
Por Gustav Cervinka, de Manaus
autorais. “A UBC só melhorou, e muito,
desde quando eu comecei. Já de
cara fiz sucesso, e até hoje muitas
dessas músicas ainda continuam me
rendendo, como 'Comigo é Assim',
'Seresteiro' e 'Tudo Azul'.” A UBC cresceu
muito e se modernizou, consegue agilizar meus direitos
no mundo inteiro. Alguns compositores do meu tempo
reclamam. Mas o caso é que, muitas vezes, eles fizeram uma
música de sucesso, recebiam bem por isso e se acostumaram.
Mas é natural que o músico receba menos se suas músicas
são menos executadas. E o tempo anda para frente. Antes,
ganhavam-se direitos vendendo partitura. Depois veio o
tempo do vinil, que era ótimo, porque a pessoa tinha que
comprar, e não se podia fazer cópia como se faz hoje. Mas não
tem como voltar. A evolução é assim.”
Tito Madi também prefere produzir. Ele tem um disco de
inéditas na gaveta, pronto, composto em parceria com Gilson
Peranzzetta. “Não consegui lançar, mas compus novas. O
ritmo de produção é diferente do da juventude, quando era
mais fácil escrever músicas. Mas tenho umas 20 inéditas”,
conta o veterano, dono de uma grande energia que também
se faz presente nos outros mestres. Zuzuca resume essa força:
“Compositor é um mensageiro. Esse
negócio de fazer música é divino... É
coisa de Deus.”
Por Bruno Calixto, do Rio
Com a participação de músicos, produtores, editores e
internautas, a UBC promoveu no final de março mais uma
edição do UBC Sem Dúvida, um encontro que tem por
finalidade esclarecer os associados sobre temas importantes
na área dos direitos autorais. Novas regras de distribuição,
ferramentas mais acuradas para acompanhar as contas no
nosso site e outras questões foram abordadas no bate-papo
que envolveu o público presente na sede da associação,
no Centro do Rio de Janeiro, e internautas, por meio de
transmissão ao vivo no nosso canal no YouTube.
A diretora-executiva da UBC, Marisa Gandelman, iniciou
o encontro reforçando as datas e os valores da distribuição
referentes ao acordo do Ecad com a TV Globo, anunciado em
outubro do ano passado. Dos R$ 400 milhões a serem pagos
pela emissora, Marisa lembrou que R$ 300 milhões já foram
depositados e que o aporte total cobre a diferença entre o valor
devido e os depósitos em juízo feitos pela Globo no período da
disputa com o escritório central, de julho de 2005 a outubro
de 2013. A diretora anunciou que os R$ 100 milhões restantes
serão recebidos em julho.
Depois foi a vez de tratar de distribuição. Todo o processo
de distribuição dos R$ 300 milhões recebidos pelo Ecad foi
mostrado passo a passo, de forma bastante didática, com
explicações sobre seu destino e os prazos de recebimento
pelos titulares.
Marisa detalhou ainda a quantia correspondente a cada
item da distribuição dos direitos autorais, como o valor dos
percentuais societários do Ecad e da UBC, da reserva técnica
e do ajuste de proporção entre direito de autor e direito conexo.
Entre os internautas que enviaram perguntas por e-mail
([email protected]) ou pelo Twitter (#UBCsemduvida),
o compositor Ramon Cruz, da Bahia, por exemplo, pediu
esclarecimentos sobre a taxa de 10% da reserva técnica.
“Trata-se de uma parcela retida a partir de um convênio para
posterior distribuição, com o objetivo de garantir o pagamento
a eventuais ajustes, como acontece muito no segmento
audiovisual, já que, algumas vezes, o valor destinado às
músicas de um filme que ainda não foi cadastrado não pode
ser provisionado”, esclareceu a diretora-executiva.
Entre as principais novidades relacionadas diretamente à UBC,
a assessora de comunicação da associação, Elisa Eisenlohr,
apresentou mudanças no Portal do Associado (portal.ubc.org.
br). Uma delas é o item Números do Mês, em que o filiado
encontra detalhes sobre os montantes distribuídos tanto pelo
Ecad quanto pela UBC, bem como estatísticas de arrecadação
ano a ano. Outra modalidade é o Extrato de Conta-Corrente,
por meio do qual se podem consultar dados de dedução de
imposto de renda e previsão de recebimento.
“Os números estão à disposição porque é bom para todo
mundo. Essa é nossa busca por cada vez mais eficiência e
transparência”, resumiu Marisa Gandelman.
“O associado que ainda não tem acesso ao Portal deve nos
mandar uma solicitação por e-mail para atendimento@ubc.
org.br. Se ele quiser ver também seus demonstrativos online,
deve ser claro quanto a isso na mensagem. Essa é uma medida
de segurança. A partir do momento em que liberarmos o
acesso ao demonstrativo no portal, vamos cancelar o envio
pelo correio”, lembrou Elisa.
Durante o encontro, a diretora da UBC apresentou ainda um
resumo do que foi discutido nas últimas três assembleias
gerais, ressaltando as alterações no estatuto e no regimento
interno. Por força da nova lei, a votação ou a candidatura a
sócio-diretor fica restrita aos autores. Editores agora passam
para a categoria de associado administrado no novo estatuto.
Marisa Gandelman prestou contas de balanço e planejamento
da associação e anunciou um novo capítulo denominado
governança e transparência. “O corpo operacional se torna
independente do de supervisão, formado pela diretoria e
pelo conselho fiscal. O corpo de supervisão não deve ter
interferência imprópria sobre o corpo operacional contratado
de forma a limitar sua autonomia de ação com base em
excelência profissional e busca de eficiência.”
Antes de encerrar as cerca de duas horas de encontro, a UBC
anunciou que o novo imóvel adquirido será entregue em
meados do ano que vem. Com mais espaço para comportar
funcionários e aperfeiçoar o serviço, se necessário, o imóvel
de três andares está localizado na Rua do Rosário 1, em frente
à histórica Praça Quinze, no Centro do Rio.
A íntegra do bate-papo está disponível em:
http://www.youtube.com/ubcmusica
14-15
índice
A Rev
d
LUZES,
CÂMERA,
SOM!
COLABORATIVA, MÚLTIPLA
E MUITÍSSIMO FÉRTIL, A
CENA MUSICAL LIGADA À
PRODUÇÃO CINEMATOGRÁFICA
PERNAMBUCANA VIVE UM
MOMENTO DE OURO
No final do ano passado, Helder Aragão lançou um vinil com
nove faixas. “Discos de vinil são como slow food, o resgate do
hábito de ouvir o disco inteiro, seguindo a ordem de quem o
concebeu, uma pausa no meio da correria da vida para apreciar
música”, ele diz sobre “Banda Sonora”, o álbum que seria mais
uma bolacha musical com o fetiche que o vinil evoca hoje não
fosse um detalhe: o disco assinado pelo DJ Dolores, codinome
assumido por Helder desde que se transformou num dos
pioneiros a injetar boas doses de tecnologia para reprocessar
ritmos tradicionais, é todo composto por canções e temas
feitos para o cinema.
“Compor sob encomenda é muito mais fácil. Ter patrão, prazo
definido, temática etc. só ajudam a estabelecer o foco. Compor
para mim mesmo é muito chato, porque normalmente eu não
tenho nada a dizer”, discorre, numa modéstia inadequada
como roupa emprestada, o ganhador de um Kikito pela trilha
sonora, ano passado, do aclamado longa pernambucano
“Tatuagem”, de Hilton Lacerda.
Por meio da sua assessoria de imprensa, a Secretaria de
Estado da Cultura no Amazonas afirma tão-somente que a
obrigação do pagamento de direitos autorais é exclusivamente
dos bois-bumbás.
A coordenação jurídica do Ecad, por sua vez, afirma que, de
acordo com a ação que corre na 4ª Vara da Fazenda Pública
Estadual de Manaus, os bois jamais apresentaram qualquer
documento comprovando que de fato têm autorização dos
titulares para a execução pública das obras musicais. Mais:
como titulares da UBC e de outras associações, os autores
reclamam textualmente por não receberem pelo uso das
toadas. Quanto à alegação da Secretaria de Cultura, continua o
Ecad, pelos termos da lei de direitos autorais a tentativa de se
desvincular da obrigação de pagamento não se sustenta, uma
vez que o órgão é um dos promotores do festival.
A 49ª edição do Festival Folclórico de Parintins, nos próximos
dias 27, 28 e 29 de junho, vai coincidir com a realização do
Mundial da Fifa, e Manaus, uma das sedes dos jogos, terá
uma programação cultural integrada aos festejos do interior.
Para este ano, os temas das agremiações são “Táwapayêra”
(aldeia mística), pelo Caprichoso; e “Fé”, pelo Garantido.
O cantor e compositor de toadas de boi-bumbá Tony Medeiros,
que é filiado à UBC, sustenta nunca ter visto a cor do dinheiro
dos direitos autorais relativos à execução de suas músicas na
arena, durante as três noites de realização, pelo boi Garantido,
o vermelho. “Tenho reclamado bastante. A agremiação tem
condições de pagar, e não vejo a necessidade de renunciar
a esses direitos. Sei que existem alguns casos em que,
no próprio contrato, os compositores desobrigam o boi do
recolhimento”, explica o artista, que também é deputado
estadual. Ele estima que seu prejuízo ultrapasse a marca de
R$ 100 mil nos dez anos em que escreveu músicas para o
Garantido, sem receber direitos autorais da agremiação. Entre
suas cerca de 200 composições, destacam-se “Boi de Pano”,
“Toada da Vaqueirada”, “Vou Anunciar” e “Dança do Banzeiro”.
O espetáculo de cores e ritmo que evoca as culturas do Norte
e do Nordeste do país, mesclando a herança portuguesa dos
autos de fé e as tradições dos povos indígenas da Amazônia,
será um dos principais focos da divulgação da cultura
amazonense pelo governo do estado. Como de costume, os
organizadores não revelam as surpresas preparadas para o
festival. Entre algumas possibilidades, está uma homenagem
que o boi Garantido fará a dona Maria Ângela Faria, madrinha
do vermelho, morta em fevereiro passado, aos 91 anos. Sua
devoção ao boi era tamanha que até a piscina de sua casa era
vermelha. Uma toada - “A benção, Madrinha” – foi escrita em
sua memória e deve estar na arena, assim como uma alegoria
criada especialmente para homenageá-la.
Rafael Lacerda, outro compositor do Garantido, afirma não
ter recebido nenhum valor referente aos seus direitos autorais
de arena há dois anos. “Componho para o boi desde 2004.
Admito que essa atividade, para mim, é como um hobby.
Mesmo assim, em relação a outras veiculações de minhas
obras, recebi meus dividendos de maneira retroativa. Só não
Pelo Caprichoso, pode-se adiantar a mudança no item
“Sinhazinha da Fazenda”, cujo posto deixado por Thainá
Valente será assumido por Karyne Medeiros, ex-porta
-estandarte do boi azul e branco.
AUTORES DÃO SUGESTÕES
PARA NOVAS REGRAS DE
COPYRIGHT NA EUROPA
No final do ano passado, a Comissão Europeia (órgão executivo
da União Europeia que representa os interesses de todos os
países do bloco) lançou uma consulta pública para a revisão
das regras de copyright no continente. Artistas, associações,
representações de classe e quaisquer outras partes envolvidas
foram convidadas a responder a um questionário explicitando
suas demandas e seus desejos para a nova regulamentação.
Foi, então, lançado um movimento chamado Creators For
Europe (Criadores Pela Europa), que pede, entre outras coisas,
mais proteção aos direitos autorais nos estados-membros;
regras continentais de licença (contra o atual mosaico de
legislações nacionais), facilitando a distribuição de conteúdos
digitais entre os países; proteção legal e multiterritorial ao
conceito de gestão coletiva de direitos autorais; e até melhoras
na remuneração aos criadores, entre outras questões. Dezenas
de milhares de pessoas em toda a Europa assinaram uma
petição on-line apoiando tais pleitos. O documento foi enviado
à Comissão e deve dar origem ao chamado "Livro Branco", que
consolidará as posições da classe artística e poderá nortear as
regras em debate no continente.
O Supremo Tribunal Federal (STF) realizou, no último dia
17 de março, uma audiência pública para discutir a nova lei
de direitos autorais (12.853), aprovada em agosto e em vigor
desde dezembro do ano passado. Cantores, compositores
e representantes do governo e de entidades responsáveis
pela gestão de direitos autorais, num total de 24 inscritos,
puderam falar e apresentaram argumentos contrários
e favoráveis à norma. O Ecad e a UBC contestam a sua
constitucionalidade, e a audiência foi convocada pelo relator
dos processos, ministro Luiz Fux. A lei altera a maneira
como se dá a gestão coletiva de direitos autorais, criando
instâncias governamentais de fiscalização de uma atividade
eminentemente privada e estabelecendo um cronograma
de redução da taxa administrativa cobrada pelo Ecad e as
associações. O presidente da UBC, Fernando Brant, um dos
participantes, disse considerar a nova normativa arbitrária
por interferir num sistema cujos moldes vêm funcionando
há décadas. O cantor e compositor Lobão corroborou e
afirmou que a lei 12.853 “tem pontos muito sombrios e traços
autoritários”.
KIM DOTCOM: “SE SOU
MAU, O GOOGLE É O
ÁPICE DA MALDADE”
O site de informações sobre o mercado da música Music Ally
publicou uma entrevista com o polêmico diretor da plataforma
de troca de arquivos piratas Mega (ex-MegaUpload). Ele falou
sobre seu modelo de negócios e seu novo serviço, Baboom,
que basicamente interfere em sites com avisos publicitários,
substituindo-os por seus próprios reclames. “Estou mirando
principalmente os sites do Google, porque o Google
provavelmente é o maior beneficiário da pirataria. Quando
você busca qualquer álbum ou artista, na primeira página vai
ver pelo menos um link de material pirateado”, ele disse. “Ou
seja, o Google mostra seus anúncios junto com tudo isso e não
paga nada aos artistas. Se seu sou malvado, eles são o ápice da
maldade. Se posso pegar de 5% a 10% dos lucros publicitários
deles e pagar aos artistas, então moralmente creio que é uma
grande coisa”, afirmou o polêmico empresário, que já chegou
a ser preso por pirataria quando administrava o MegaUpload.
As informações são do site Music Ally.
VENDAS DIGITAIS SUPERAM
AS FÍSICAS NA MAIOR
GRAVADORA DO MUNDO
A maior gravadora do planeta, a Universal Music, com mais de
25% de participação no mercado discográfico global, anunciou
que em 2013, pela primeira vez em sua história, os lucros com
vendas digitais superaram os de vendas físicas. De acordo com
o relatório do grupo francês Vivendi, controlador da Universal
Music, 51% de todo dinheiro obtido pela companhia vieram de
vendas de música pela internet e de serviços de streaming.
O crescimento do segmento na gravadora atingiu espantosos
75% ano passado, alcançando € 450 milhões. De acordo com
a revista “Billboard”, particularmente um único serviço de
execução digital, o Spotify, foi o grande motor do crescimento.
UBC ASSINA ACORDO
DE REPRESENTAÇÃO
MÚTUA COM A SACEM
TV ABERTA: NOVAS RUBRICAS E
NOVO PESO PARA AS MÚSICAS
EXECUTADAS
ASSOCIADOS ELEGEM
NOVA DIRETORIA
Na Assembleia Geral Ordinária realizada no último dia
28 de março, os associados elegeram a nova diretoria da
UBC. Fernando Brant foi escolhido, mais uma vez, diretorpresidente da entidade, tendo como diretor superintendente
Abel Silva. Também foram eleitos: Geraldo Vianna (diretor
secretário), Aloysio Reis (diretor administrativo financeiro),
Ronaldo Bastos (diretor de comunicação e assistência social),
Sandra de Sá e Manoel Pinto (diretores vogais). Pelo conselho
fiscal foram escolhidos: Antonio Cícero, Edmundo Souto e
Manno Goes, além dos suplentes Fred Falcão, Sueli Costa e
Elias Muniz. O grupo tem mandato até o fim de março de 2017,
quando será realizada nova eleição.
AMADOS
MESTRES
A UBC acaba de fechar um acordo com a Sacem (Sociedade
dos Autores, Compositores e Editores Musicais, na sigla
em francês), entidade de gestão coletiva francesa, uma
das maiores do mundo, e passa a representar os direitos de
execução pública das obras de grandes autores daquele país
no Brasil, como Edith Piaf, Serge Gainsbourg, Yves Montand e
até mesmo Maurice Ravel, entre outros 145 mil filiados.
Fundada em 1851, a Sacem foi pioneira mundialmente e
estabeleceu as bases para o conceito de gestão coletiva, dando
mais poder aos criadores e lançando critérios para a cobrança
de direitos autorais. Em janeiro de 2013, a UBC começou a
representar por aqui os direitos de reprodução dos associados
daquela entidade. De agora em diante, também passamos a
representar os direitos de execução pública.
UBC ALTERA ESTATUTO E
REGIMENTO INTERNO
CRÉDITO PROTEGIDO,
AGORA, TEM PRAZO
DE ATÉ CINCO ANOS
Ainda seguindo o que determina a nova lei de direitos
autorais, no último dia 10 de fevereiro foi promovida uma
Assembleia Geral Extraordinária na UBC para tratar de
alterações do estatuto e do regimento interno da nossa
associação. Agora, editores não podem mais votar ou ser
votados para a diretoria das associações. Esta, por sua vez,
passa a ter mandato de três anos, contra os quatro de antes,
com direito a uma reeleição. Além disso, foi introduzido um
novo capítulo com regras de governança e transparência.
Este capítulo assegura a independência do corpo operacional,
que atua com base em excelência profissional e busca de
eficiência, sob supervisão da diretoria e do conselho fiscal,
e estabelece garantias de que não haverá interferência
imprópria sobre a operação por parte do corpo de supervisão.
Além disso, estabelece estatutariamente todos os elementos
que devem estar presentes na prestação de contas anual aos
associados na assembleia geral de balanço, realizada sempre
no mês de março.
A nova lei de direitos autorais determinou o prazo de cinco
anos para documentação e cobrança dos créditos protegidos.
Chamado anteriormente de crédito retido, esse mecanismo é
uma segurança para o titular de direito autoral quando sua
obra ou fonograma não foram identificados no momento da
distribuição. Isso pode ocorrer por algumas razões, como falta
de cadastro da obra, obra captada com título incorreto ou
com grafia diferente da que foi registrada, bem como falta
de maiores informações sobre a obra (como o nome dos
intérpretes, por exemplo), além de disputas e duplicidades de
titularidade. Se a sua música for interpretada em um show
antes de ter sido registrada em nossa base de dados, no
momento em que for feita a distribuição dos valores de direitos
autorais arrecadados ela ficará com o pagamento suspenso.
Então, se a distribuição tiver sido feita em maio de 2014, por
exemplo, você ainda poderá receber esse crédito até 2019,
desde que o interessado tome providências para esclarecer a
dúvida que motiva a retenção.
08-09
Filme: Explosão Brega
“Desde os anos 1990, a movimentação musical da cidade
estimulou muito quem trabalha com cinema ou qualquer outra
coisa criativa”, lembra Kléber Mendonça Filho, confirmando
que o binômio música e imagem compõe um ecossistema de
permanente retroalimentação no Recife. “Foi muito natural
que o cinema levasse uma injeção na veia da música feita na
cidade. Os filmes de Cláudio (Assis), por exemplo, quase todos
têm grandes direções musicais de Pupillo, Jorge du Peixe ou
Lúcio Maia”.
Do começo dos anos 1990 para cá, mais de trinta longas
foram produzidos em Pernambuco. Uma filmografia com,
pelo menos, uma centena de importantes prêmios nacionais
e internacionais. Apenas “O Som Ao Redor”, a aclamada obraprima de Kléber Mendonça Filho, já é dono de 34 prêmios,
entre eles o de melhor filme no Festival do Rio e na Mostra
de São Paulo e o especial da crítica do festival de Roterdã,
na Holanda. Hélder Aragão foi convidado por Mendonça para
fazer o som do longa. Não apenas ilustrando, mas imprimindo
sua crônica musical a respeito das questões abordadas na
obra. “Hélder, acima de tudo, é um amigo, é talentoso, compõe
bem e tem uma grande capacidade de entender e reprocessar
o que você está falando”, elogia o cineasta. “Somos da mesma
geração, temos o mesmo senso de humor. Ele reagiu de
maneira muito forte ao filme e pareceu entender muito bem o
que eu estava falando.”
“Esse é o grande lance”, resume Otto. “Faço música para um
disco que acaba ficando no filme de um amigo. Ou para um
filme que acaba indo parar num disco meu”, diz o Galego,
como é chamado pelos amigos do Recife.
Para fechar o filme sobre o Recife caoticamente urbano e ainda
herdeiro das tensões entre casa grande e senzala, Mendonça
usou a música “Setúbal”, composta por Hélder para o médiametragem “Enjaulado” (1997), espécie de pontapé para a
temática que o diretor abordaria em “O Som Ao Redor”. “Essa
música soa como se fosse a base de uma crônica, é lacônica.
Ela abre 'Enjaulado' e fecha 'O Som...'.”
Na cidade, corre um termo sociologicamente intuitivo
sobre o processo de criação colaborativista: “brodagem”.
Implicitamente, ele explica que criações podem se dar
mais por afinidades estéticas e afetivas que por editais de
patrocínio. Lúcio Maia e Jorge du Peixe, por exemplo, estavam
fazendo a direção musical de “Amarelo Manga”, o retrato do
Recife pelo avesso de suas artérias filmado por Cláudio Assis
em 2002. Mas não estavam na cidade a tempo de enviar a
música-tema que seria cantada, à capela, por Matheus
Filme: Tatuagem
Foto: Flávio Gusmão
“Enjaulado”, aliás, é tido por Renato L, um dos autores do
Manifesto Manguebeat, como uma das primeiras coletâneas,
já no começo dos anos 90, da nova cena pop do Recife. No CD
derivado do filme, hoje esgotado, estão nomes que fizeram a
música tomar corpo e artérias no Recife noventista, entre eles
as bandas Eddie, Paulo Francis Vai pro Céu, Lara Hanouska
e Faces do Subúrbio, bem como o então novato Otto, recémsaído da bateria da Mundo Livre S.A. Ele participa com “TV
a Cabo”, canção do seu disco de estreia, “Samba Pra Burro”.
Dolores confirma um dos expedientes atualmente mais
frequentes entre os músicos do estado nordestino: a
composição ou a direção para o cinema. No Recife e nos
arredores, imagem e som vivem um casamento fecundo,
constante - e poligâmico.
Filme: Jardim Atlântico
Foto: Gilvan Barreto
Nachtergaele no bar/pensão/inferninho onde os personagens
gravitam. “Otto estava na cidade, e o chamei. Ele fez a canção
de improviso, na hora”, lembra o diretor. “Eu fiquei embaixo
da mesa (no set), cantando baixo, para Matheus poder repetir
em quadro”, lembra Otto, agora às voltas com a criação da
trilha sonora original do próximo filme de Lírio Ferreira, “Azul
Acrílico”. “Ainda estamos discutindo, não sei como vai ser”.
Ao explicar o processo de criação da trilha, Cláudio Assis é
incisivo, metódico: “O músico tem que estar junto, tem que
ir ao set para sentir o clima. É parte efetiva da equipe”, diz
ele, às voltas, agora, com Hélder Aragão para a construção da
sonoridade de seu próximo filme. Adaptação do romance de
Xico Sá, “Big Jato” percorrerá os caminhos errantes de um
limpador de fossas no interior do Nordeste dos anos 1970 que é
fissurado pelos Beatles. “Além de não ter dinheiro para comprar
os direitos das músicas dos Beatles, acho que será melhor,
mais legal, se criarmos algo novo. Talvez até, claro, com uma
musicalidade inspirada nos Beatles, já que, naquele momento,
havia tantas bandas que faziam música inspirada neles.”
Marco na relação carnal entre imagem e som no cinema
pernambucano, “Baile Perfurmado”, ainda nos anos 1990,
teve na sua trilha nomes fundamentais da música do
estado naquele momento: Nação Zumbi, Mundo Livre S.A.
e Mestre Ambrósio, além do veterano Alceu Valença. Agora
terminando as filmagens de “Sangue Azul”, longa sobre
uma história de amor numa ilha, seu codiretor Lírio Ferreira
confirma ser a música ainda fonte primal de energia para
a sétima arte. “Certamente o cinema pernambucano não
seria a mesma coisa se não tivesse tido, como ainda tem, o
impulso da música”, afirma Ferreira, que conta com a direção
de Pupillo, da Nação Zumbi, para v
DECISÃO JUDICIAL DÁ AO ECAD
ATÉ DEZ ANOS PARA COBRAR
PAGAMENTOS DE RÁDIOS
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que o Ecad tem
até dez anos para cobrar de emissoras de rádio o pagamento
de direitos autorais relativos à execução de músicas. A ação
foi impetrada por uma emissora que questionava o pagamento
alegando que, de acordo com o Código Civil, o não pagamento
caracteriza um ato ilícito clássico, com prescrição de três
anos. Mas a 3ª turma do STJ entendeu que se trata, sim, de
uma quebra de obrigação contratual, o que amplia o prazo
para dez anos. Segundo o relator do processo, ministro Sidnei
Beneti, embora o não pagamento constitua ato ilícito, não é
possível compará-lo a um crime tradicional como a reprodução
não autorizada de obras. Para ele, a cobrança de mensalidade
pelo Ecad decorre de uma relação negocial, ainda que não
haja contrato.
Agora as emissoras Rede Gazeta, Rede Vida, Mix TV,
Rede Família e CNT passam a ter rubricas próprias para a
distribuição dos direitos autorais arrecadados no segmento
TV Aberta + Direitos Gerais. O objetivo é facilitar o processo
e distribuir com mais precisão os valores pagos por estas
emissoras. Antes, elas faziam parte da rubrica TV Outras
Emissoras, e os valores eram distribuídos com base em
uma amostragem das músicas executadas dentro do todos
os canais que compunham esta rubrica. Agora, os valores
passam a ser distribuídos de forma direta. Outra novidade
é a mudança nos pesos para as músicas executadas na
programação regional das emissoras afiliadas a Globo,
Record, Bandeirantes e SBT. As músicas executadas nessas
emissoras dentro de sua programação nacional passam a ter
peso 5; já a programação regional de suas afiliadas passa a ter
peso 1. Essa diferença se justifica pelo alcance populacional
dos canais. As novas rubricas e os novos pesos já estão
valendo desde janeiro passado.
Por Leonardo Lichote, do Rio
UM PAPO COM OS
'DECANOS' DA UBC,
FILIADOS HÁ MUITAS
DÉCADAS QUE
VIRAM DE PERTO
(E PROTAGONIZARAM)
A EVOLUÇÃO DA
MÚSICA E DOS DIREITOS
AUTORAIS NO PAÍS
CÂMARA APROVA
MARCO CIVIL
Depois de sucessivos adiamentos devidos a disputas
partidárias no Congresso Nacional, foi finalmente aprovado
em votação no plenário da Câmara dos Deputados, no último
dia 25 de março, o Marco Civil, conjunto de regras para a
internet no país que garante três pilares fundamentais da
rede: a sua neutralidade (ou seja, o tratamento isonômico, por
parte dos provedores, de quaisquer pacotes de dados, sem
distinção de velocidade por conteúdo acessado pelo usuário),
a liberdade de expressão e a privacidade dos usuários. A
retirada de conteúdo postado por terceiros dependerá de
ordem judicial, mas, no que diz respeito a conteúdo protegido
por direitos autorais, o Marco Civil encaminha o assunto para
lei específica.
10-11
Era uma tarde quente, com céu sem nuvens, e Tito Madi
estava na fazenda de sua irmã no interior de São Paulo. O
ano era 1954. Ele pegou o bote e o levou até debaixo de uma
árvore que havia tombado no meio do lago. Ali, na sombra
da folhagem, compôs “Chove Lá Fora”, que se tornaria um de
seus maiores sucessos. “Era uma fase em que tinha muita
facilidade para compor”, lembra Madi, aos 84 anos. “Naquele
dia não chovia lá fora, mas chovia dentro de mim.”
Filiado à UBC desde 1957, o mestre do samba-canção é um
dos representantes da “velha guarda” da nossa associação,
artistas que atravessaram décadas acumulando histórias
de vida, arte e evolução da questão dos direitos autorais no
país. Nomes como Evaldo Gouveia, Zé Menezes, Zuzuca do
Salgueiro e Edson Menezes, que começaram a compor num
Brasil pré-bossa nova, profundamente romântico, de um
tempo mais dilatado.
“A primeira música que fiz foi 'Eu
Espero Você', para uma namorada, na
minha época de estudante, com meus
19, 20 anos”, conta Madi, autor ainda de sucessos
como “Balanço Zona Sul”, lançado por Simonal. “Mas só vim
a me familiarizar com direitos autorais quando gravei meu
primeiro 78 rotações, com 'Não Diga Não' de um lado e 'Piraju'
do outro. Tive sorte, ele estourou na parada de São Paulo.
Quando estourei 'Chove Lá Fora', já na UBC, passei a receber
direitos do exterior, vindos de países da Europa e também dos
Estados Unidos, onde ela foi gravada pelo The Platters. Hoje,
posso dizer que tenho recebido os direitos autorais de forma
muito precisa.”
Evaldo Gouveia já começou na UBC, com seu parceiro Jair
Amorim – a dupla formou uma usina de canções de amor
populares, sambas-canções como “Alguém Me Disse”, lançada
por Anísio Silva e gravada por intérpretes como Gal Costa,
Maysa e Ana Carolina. Como ocorreu com Madi, sua inspiração
inicial foi uma paixão. “Comecei a compor com 'Deixe Que
Ela Se Vá', recorda o compositor de 85 anos, que deu início à
carreira como integrante do Trio Nagô. “Todas
essas
músicas vêm de mulher, né? Estava
me referindo a uma ex-namorada e
falei 'deixe que ela se vá'. Isso ficou
na minha cabeça, daí começou a sair
uma música que, no dia seguinte, já
estava pronta. Acabou sendo gravada
pelo Nelson Gonçalves.”
12-13
M
Severien, Cafofinho, além de compor a canção-título, viveu o
protagonista: um preso que volta para reencontrar a família
depois de a cidade ser devastada por uma enchente.
A convivência íntima da música com o cinema em
Pernambuco faz, frequentemente, outros músicos cruzarem a
fronteira. José Wilson de Castro Temotéo Jr., mais conhecido
pela alcunha de Júnior Black, tem seu nome nos créditos de
mais de dez fitas. Mas só em uma figura como músico. Nas
outras, é ator. “Mas foi a música que me levou para o cinema”,
diz o ex-vocalista do Negroove, hoje em carreira solo com um
elogiado disco em que imprime suas digitais de soulman à
música contemporânea de Pernambuco. “Eles (os cineastas)
viram que eu tinha desenvoltura no palco. A partir daí,
começaram a me chamar”, lembra Black, que teve seu début
no longa “Amigos de Risco” (2007), de Daniel Bandeira. Ao
lado do experiente Irandhir Santos (de, entre outros, “Tropa de
Elite” e “Tatuagem”), compunha, na película, uma tríade de
amigos em aventuras pela noite suburbana do Recife.
Black comercializa bonecos de barro ao estilo do Mestre
Vitalino adornados com gorros e cachecóis. “Me sinto muito
confortável no set, sou um amostrado”, brinca.
A primeira vez em que Black cantou num filme foi em
“Tatuagem”, em que terça a voz com Ylana Queiroga na
canção-hino “Polca do Cu”. O próprio diretor, Hilton Lacerda,
aliás, é coautor da música com o DJ Dolores. “Todas as
músicas foram construídas já no roteiro. É uma música de
revista, de fácil apelo”, diz Hiltinho, como é conhecido.
A fertilidade musical de Pernambuco (ainda que conte
com músicos parceiros de outras praças) inspira até filmes
francamente musicais. No longa “Jardim Atlântico”, de Jura
Capela, filmando entre Olinda, Recife, Fernando de Noronha
e Petrópolis (RJ), um dionisíaco e algo diabólico triângulo
amoroso é usado como fio narrativo para algumas das mais
belas sequências musicais do novo cinema brasileiro. Sob
a direção musical de Pupillo, da Nação Zumbi, Jura reuniu
um belo extrato da nossa música contemporânea: Guisado,
Fernando Catatau, Junio Barreto, Lirinha, Roger Man,
Emiliano Sette, Ava Rocha, Mariana de Moraes e Céu, num
plano-sequência de mais de quatro minutos em que realiza
a interpretação provavelmente mais sexy que “Aquarela do
Brasil” já recebeu.
Outra participação marcante de Black na filmografia
recente do Estado é como um vendedor de artesanato no
(impagável) curta “Recife Frio”, de Kléber Mendonça Filho.
Na trama que mostra como a capital pernambucana se
comportaria se sofresse uma irreversível conversão térmica,
"A presença de Pupillo como diretor musical foi imprescindível.
Ele tem a capacidade de unir e gerir todo mundo”, diz Jura.
“Eu pensava em usar fonogramas antigos, e ele sempre
insistia: 'não, vamos chamar nossa galera, as pessoas que
estão produzindo música agora'”, conta. “Na cena do surto do
personagem Pierre, a ideia era homenagear o emblemático
disco 'Paebiru', de Lula Cortes e Zé Ramalho. Pupillo entrou
com a música, e Lirinha, com a letra. O resultado final, a canção
'Demantello', é exatamente o que eu imaginei para a cena.”
Embora alguns críticos e historiadores da arte brasileira
vejam a música pernambucana feita a partir do manguebeat
como o movimento mais importante do Brasil pós-tropicalista
e como algo reconhecível por certos elementos, não é
consenso que essa produção seja uniforme. Mesmo que o uso
de novas tecnologias e de peças da cultura popular, como o
coco e o maracatu, sejam (quase) constantes, as sonoridades
são díspares. “O que nos une são dados geracionais, o fato
de compartilharmos das mesmas informações ou termos
uma perspectiva semelhante de mundo”, conceitua Dolores.
“Embora todos se ajudem, e até discutam entre si, ninguém
quer ser igual a ninguém”, corrobora Cláudio Assis, que
continua: “Acho que nunca houve, nem na época da bossa
nova, um movimento musical tão presente no cinema como
a música feita em Pernambuco. Uma música de muitas
sonoridades feita para um cinema de vários estilos.”
Filme: Recife Frio
"Desde a retomada da produção em Pernambuco, com 'Baile
Perfumado' (de Lírio Ferreira e Paulo Caldas), as relações
entre o cinema e a música do movimento manguebeat são
bem estreitas. Basta lembrar a música de Chico Science
na cena de abertura do filme”, diz o crítico e professor de
cinema Alexandre Figueiroa, da Universidade Católica de
Pernambuco. “Em outros filmes, como 'Amarelo Manga' (de
Cláudio Assis), os músicos do movimento também estão
presentes com músicas, cuidando da trilha, a exemplo de
Siba, DJ Dolores, Fred Zero Quatro, entre outros”, continua.
18-19
20-21
Nov dades Nacionais
reportagem parintins
NOVIDADES NTERNACIONAIS
f que de olho
capa os decanos da ubc
22
15 UBC SEM DÚVIDA
16 mercado cinema e música em pe
20 concurso monograf as
21 dúv da do t tular
22 d str bu ção sonorização
ambiental
a UBC é uma pub a ão da Un ão B a e a de Compo o e uma o edade em fin u a
bu ão do end men o de d e o au o a e o de en o men o u u a
o que em omo ob e
o a de e a e a
D e o a Fe nando B an p e den e Abe S a A oy o Re
Ge a do V anna Manoe Nen nho P n o Rona do Ba o e Sand a de Sá D e o a exe u va Ma
E en oh P o e o g áfi o e d ag ama ão 6D Ed o A e and o So e MTB 2629
Gu a Ce
NOVA LEI DE DIREITOS
AUTORAIS É DISCUTIDA EM
AUDIÊNCIA NO STF
Duas das maiores associações de autores e editores do
mundo estão completando 100 anos: a britânica PRS e a
americana Ascap. Fundada em 1914 por um grupo de editores
musicais, incluindo William Boosey e Oliver Hawkes, para
proteger os direitos autorais e garantir pagamentos mais
justos a compositores e editores, a PRS programou uma série
de shows e outras atividades em todo o Reino Unido para
celebrar seu centenário e se engajou, juntamente com outras
associações, nas discussões sobre a revisão das regras paneuropeias de copyright. Já a americana Ascap, considerada
a maior entidade de gestão coletiva do planeta, com mais
de 500 mil compositores de músicas, letristas e editores
associados, realizou, mês passado, em Los Angeles (EUA),
uma superconvenção em que relembrou sua história e os
desafios da luta pela gestão coletiva. A UBC deseja parabéns
e vida longa às duas.
CAPA : UBC/13
12/UBC : CAPA
FIQUE DE OLHO
Paralelamente, também na Europa, a coalizão internacional
de criadores AMP passou a pressionar as gravadoras a ampliar
a remuneração aos artistas por músicas reproduzidas em
serviços de streaming na internet. Atualmente, os contratos
são estabelecidos segundo cada caso, cabendo aos criadores,
muitas vezes, a menor parte do bolo. De acordo com a proposta
da AMP, as companhias discográficas deveriam repassar aos
compositores pelo menos 50% do valor obtido com os serviços
de execução digital, além de estabelecer contratos mais
transparentes com os artistas. As informações são do diário
britânico “The Guardian”.
PRS E ASCAP: 100
ANOS DE LUTA PELOS
DIREITOS AUTORAIS
NOTÍCIAS : UBC/11
10/UBC : NOTÍCIAS
COALIZÃO DE ARTISTAS
PEDE REMUNERAÇÃO
MAIOR COM STREAMINGS
Filme: O Som ao Redor
Para o professor, as mesmas preocupações alimentam
esteticamente a música e o cinema feitos no estado. “Eu
acredito também que há uma aproximação de ideias e traços
estilísticos compartilhados entre alguns filmes e a produção
musical local: um certo compromisso de abordagem social
nas obras, uma estética que mescla gêneros e ritmos, um
olhar sobre a realidade flagrando o cotidiano das ruas”,
explica. “Há, portanto, um diálogo entre a cena musical e a
cinematográfica.”
16-17
04
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10
12
Do outro lado, Telo Pinto, presidente do Garantido, diz que o
pagamento do prêmio e os acordos que existem com alguns
compositores “desobrigam” a agremiação de fazer repasses ao
Ecad - e, por consequência, aos autores.
REPORTAGEM : UBC/17
16/UBC : REPORTAGEM
Por Bruno Albertim, do Recife
Tanto a diretoria do boi Caprichoso quanto a do Garantido
afirmam que os autores das toadas recebem “uma premiação
de R$ 2 mil pela música escolhida em concurso cultural, que
acontece regularmente um ano antes do evento”. Segundo o
presidente do azul e branco, Joilto Azedo, após selecionada
a obra, o contrato assinado para a sua exploração prevê sua
aplicação em CD, DVD, ensaios, eventos oficiais e arena. “Os
compositores ficam cientes, e os que concordam assinam o
contrato. No caso de direito de arena, o Caprichoso acerta
valores individuais com cada compositor, que terá sua obra
utilizada durante o festival. Esses compromissos foram todos
cumpridos”, afirma.
EM 2014,
EVENTO GANHA
DIMENSÃO
AINDA MAIOR
Segundo a ação, nem as agremiações nem o governo do
estado se comprometem a mudar o quadro e passar a recolher
os direitos. “Apesar da magnitude e da representatividade
do evento, não há a valorização dos artistas por parte
dos organizadores. Mesmo com toda a receita gerada,
simplesmente não o fazem. Como não há o pagamento, os
titulares que têm suas obras executadas ficam sem receber
os direitos devidos”, continua o Ecad.
06-07
É CONVERSANDO
QUE A GENTE
SE ENTENDE
DISTRIBUIÇÃO PARA MÚSICOS
ACOMPANHANTES, NOVIDADES NO
PORTAL E ATÉ O PASSO A PASSO DA
PAGAMENTO DOS VALORES RECEBIDOS
NO ACORDO DA TV GLOBO ENTRARAM
NA PAUTA DE MAIS UM EVENTO UBC SEM
DÚVIDA, QUE OCORREU EM MARÇO, COM
TRANSMISSÃO AO VIVO PELA INTERNET
AGREMIAÇÕES QUE INTEGRAM
O FAMOSO FESTIVAL
FOLCLÓRICO NÃO REPASSAM
DIREITOS AUTORAIS
AOS COMPOSITORES DAS
TOADAS E SÃO LEVADAS
À JUSTIÇA PELO ECAD
De acordo com o Ecad, os pagamentos jamais foram recolhidos
nesses eventos, a despeito do processo judicial movido pelo
escritório central. “O Ecad vem procurando todos os anos os
organizadores do evento, incluindo as associações folclóricas,
o governo do Estado do Amazonas e os patrocinadores, a
fim de conscientizá-los sobre a necessidade do pagamento”,
afirma o escritório, por meio de nota.
NOTÍCIAS : UBC/15
O mais velho entre seus colegas, aos 92 anos, Zé Menezes
tem uma das histórias mais curiosas e ricas, boa parte dela
vivida com a UBC, onde está desde 1952. Sua trajetória
inclui uma apresentação, ainda criança, para o mítico Padre
Cícero e a composição do famosíssimo tema do programa
humorístico da TV Globo “Os Trapalhões”, além de passagens
pela Rádio Nacional e pelo Quarteto Continental, que tinha
em sua formação o compositor Radamés Gnattalli, bem como
a criação do divertido grupo Velhinhos Transviados, que
fazia leituras bem-humoradas de sucessos da nossa música,
como “Fica Comigo Esta Noite”, de Adelino Moreira e Nelson
Gonçalves, e “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno”, de Erasmo e
Roberto Carlos.
Bastos tem aproximadamente 30 obras compostas para o
Caprichoso. Somente em 2013, seu nome esteve em seis
das 21 músicas que fizeram parte do repertório do festival,
incluindo “O centenário de Uma Paixão”, ao lado de Guto
Kawakami e Adriano Aguiar, “Deusa da Paixão”, com Alquiza
Maria, e “Yuriman”, em parceria com Saullo Vianna.
Uma das maiores manifestações culturais do Brasil, o Festival
Folclórico de Parintins, realizado a cada ano no último fim de
semana do mês de junho, no interior do Estado do Amazonas,
é marcado pela disputa acirrada entre os bois-bumbás
Caprichoso e Garantido diante de mais de 16 mil pessoas no
bumbódromo. Fora da arena de apresentações, contudo, uma
outra disputa ofusca o brilho da riqueza artística do evento:
os compositores das toadas executadas nas apresentações de
ambos os bois simplesmente não recebem os valores relativos
aos seus direitos autorais.
04-05
O compositor lembra que, em seus tempos áureos de fama,
os direitos autorais lhe permitiram adquirir os imóveis que
NOTAS INTERNACIONAIS
recebi o que diz respeito ao Festival de Parintins. Acabei não
entrando com processo na Justiça, mas acho válido e apoio
os colegas que precisarem”, enfatiza o autor de toadas como
“Sentimento Vermelho” e “Yawira das Águas”.
UMA DISPUTA TAMBÉM FORA DO BUMBÓDROMO
Baião, zouk-lambada, ijexá, samba-funk, ciranda, rumba,
salsa, cha-cha-chá. É variado o belo saladão musical que marca
o quinto álbum solo do percussionista Reppolho, “Batukantu”.
Recheado de inéditas próprias e de parcerias com nomes
como Ary Sobral, Jó Reis, Esdras Bedai e Euclides Amaral, o
trabalho, de pegada “cool-afro-regional-pop”, como o próprio
Reppolho define, tem diversas participações especiais, entre
elas do cantores Charles Teony (na simpática mistura de
rumba e baião da faixa “Rumbaião Pernancubano”) e Mário
Bróder, do Farofa Carioca, no samba-funk “Céu de Madureira”.
A Orquestra Tabajara e o maestro Severino Araújo, morto ano
passado, ganham homenagem em “Tabajariando”.
14/UBC : CAPA
hoje garantem seu sustento. “É assim mesmo,
quem está na mídia fatura mais. Teve
época em que o hit parade era todo de
músicas minhas. Eu faturava bem.”
NOTÍCIAS : UBC/9
8/UBC : REPORTAGEM
O compositor Geovane Bastos, também criador de canções
para o boi azul e branco, conta que essa é uma realidade
comum. “Escrevo há pelo menos sete anos. Em todo esse
tempo, nada recebi de direitos autorais pela execução da obra
na arena”, afirma, citando termos dos contratos apresentados
aos compositores pelas agremiações.
PARINTINS:
A SALADA DO REPPOLHO
OSMAR NAVARRO, O MUSICAL
Falecido em 2012, o associado da UBC Osmar Navarro vai
receber uma homenagem nos palcos de São Paulo este mês.
Autor de diversos sucessos a partir dos anos 1950, como
“Quem É?” em parceira com Oldemar Magalhães, “Espere
Um Pouco, Um Pouquinho Mais”, versão da obra "La Nave Del
Olvido" do argentino Ramos Dino, “A Namorada Que Sonhei”
e “A Mais Bonita das Noites”, composta em conjunto com
Sebastião Ferreira, o carioca que brilhou na era de ouro do
rádio e na aurora dos programas de auditório na TV será tema
do musical “Quem É Osmar Navarro? Quem É?”, em cartaz
de 9 de maio a 13 de julho no Teatro Anhembi Morumbi, na
Mooca. Estreado em Santos, o espetáculo, com direção de
Sebah Vieira e direção musical de Maycon Lopes, revive os
clássicos do compositor na voz do filho dele, Donovan Navarro.
Artistas como Agnaldo Rayol, Sérgio Reis, Jair Rodrigues,
Ronie Von e Chitãozinho & Xororó fazem participações em
vídeos. As apresentações são às sextas e sábados, às 21h, e
aos domingos, às 19h.
REPORTAGEM : UBC/7
CAPRICHOSO GARANTIDO
Do outro lado, pelo boi Caprichoso, o compositor Paulinho Du
Sagrado diz que “da arena ninguém recebe nada”. Segundo ele,
suas músicas são usadas, mas os direitos autorais não chegam.
“O festival envolve uma série de patrocinadores, e circula muito
dinheiro. Por que não recolhem? A obra é que orienta tudo o que
é arquitetado para a arena. É da letra das músicas que se extrai
o espetáculo. Acontece que o boi virou uma 'cobra grande', e
tudo o que passa à sua frente ele quer comer”, filosofa. “Usam
nossa paixão pelo boi para tirar proveito de tudo isso”. Du
Sagrado escreveu obras como “Táwapayêra”, a mais recente e
que está na lista de toadas para o festival deste ano. Embora
componha desde a década 1980, ele somente passou a escrever
para o Caprichoso em 2010.
Fotos boi Caprichoso: Alessandro Hayden
A culpa não foi só da Marisa Monte. Naturalmente, os
malungos da Nação Zumbi deram (também) um tempo nas
atividades da banda para poder integrar “Verdade, Uma
Ilusão”, a última turnê da cantora. Mas os músicos tiveram
várias outras tarefas neste período de quase sete anos em
que não lançam um novo disco. “Houve até comentários de
que a banda iria acabar”, disse o guitarrista Lúcio Maia,
quando anunciado, no final do ano passado, o mais novo disco
de inéditas da banda em torno da qual, desde o início dos
anos 1990, gravitam os demais grupos que fazem a música
contemporânea de Pernambuco.
Rio Grande do Norte-Rio-Pernambuco. O eixo é a base de
“Segunda Pele”, de Roberta Sá, cantora potiguara radicada
na capital fluminense que faz uma bela homenagem ao frevo
no seu quinto álbum de estúdio. “Ritmos brasileiros me
interessam muito. Desde a infância escuto frevo. Desta vez
ele veio com força e deu uma cara carnavalesca ao álbum e
ao show”, ela disse. Tem releitura de “Deixa Sangrar”, clássico
frevo composto por Caetano Veloso em 1970 para o carnaval
da Bahia, e até uma mescla do ritmo com o dub de Pedro Luís,
marido de Roberta, na faixa “No Bolso”. “O álbum tem flerte, é
feminino, sensual. Cada canção conta uma história”, descreve
a cantora, que gravou sete inéditas entre as 12 do trabalho,
incluindo parcerias com Rubinho Jacobina (“Bem a Sós”),
Dudu Falcão (“Você Não Poderia Surgir Agora”), Lula Queiroga
(“Altos e Baixo” e “Pavilhão de Espelhos”), Moreno Veloso,
Quito Ribeiro e Domenico Lancellotti (“A Brincadeira”) e até
a primeira aventura de Roberta em espanhol, em “Esquirlas”,
composta com o uruguaio Jorge Drexler.
Oficialmente, a banda está proibida de comentá-lo antes da
conclusão. Mas os antigos companheiros de Chico Science já
soltaram algumas pistas. Ainda em novembro do ano passado,
quando o patrocínio foi confirmado, o baterista Pupillo
antecipou que a produção seria de Kassin, Berna Ceppas
e Mário Caldato. Jorge du Peixe permanece nos vocais.
Segundo o guitarrista Lúcio Maia, Jorge “está cantando bem
demais no disco”.
a Gande man Coo dena ão ed o a E a
Co abo a am ne a ed ão B uno A be m B uno Ca
n a e Leona do L ho e Capa A e de Gab e a Ro ha T agem 6 m e emp a e
D
bu ão g a u a
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Foto: Vitor Salerno
4/UBC : Notícias
NOVIDADES NACIONAIS
Notícias : UBC/5
Foto: Midiorama
Roberta ferve
Nação Zumbi
lança primeiro
álbum de inéditas
em sete anos
Trabalho tem produção
de Kassin, Berna Ceppas
e Mário Caldato
Por Bruno Albertim, do Recife
A culpa não foi só da Marisa Monte. Naturalmente, os
malungos da Nação Zumbi deram (também) um tempo nas
atividades da banda para poder integrar “Verdade, Uma
Ilusão”, a última turnê da cantora. Mas os músicos tiveram
várias outras tarefas neste período de quase sete anos em
que não lançam um novo disco. “Houve até comentários de
que a banda iria acabar”, disse o guitarrista Lúcio Maia,
quando anunciado, no final do ano passado, o mais novo disco
de inéditas da banda em torno da qual, desde o início dos
anos 1990, gravitam os demais grupos que fazem a música
contemporânea de Pernambuco.
Com patrocínio do programa Natura Musical, o disco, por
ora chamado “Cicatriz”, deve ser lançado ainda este mês.
Oficialmente, a banda está proibida de comentá-lo antes da
conclusão. Mas os antigos companheiros de Chico Science já
soltaram algumas pistas. Ainda em novembro do ano passado,
quando o patrocínio foi confirmado, o baterista Pupillo
antecipou que a produção seria de Kassin, Berna Ceppas
e Mário Caldato. Jorge du Peixe permanece nos vocais.
Segundo o guitarrista Lúcio Maia, Jorge “está cantando bem
demais no disco”.
Rio Grande do Norte-Rio-Pernambuco. O eixo é a base de
“Segunda Pele”, de Roberta Sá, cantora potiguara radicada
na capital fluminense que faz uma bela homenagem ao frevo
no seu quinto álbum de estúdio. “Ritmos brasileiros me
interessam muito. Desde a infância escuto frevo. Desta vez
ele veio com força e deu uma cara carnavalesca ao álbum e
ao show”, ela disse. Tem releitura de “Deixa Sangrar”, clássico
frevo composto por Caetano Veloso em 1970 para o carnaval
da Bahia, e até uma mescla do ritmo com o dub de Pedro Luís,
marido de Roberta, na faixa “No Bolso”. “O álbum tem flerte, é
feminino, sensual. Cada canção conta uma história”, descreve
a cantora, que gravou sete inéditas entre as 12 do trabalho,
incluindo parcerias com Rubinho Jacobina (“Bem a Sós”),
Dudu Falcão (“Você Não Poderia Surgir Agora”), Lula Queiroga
(“Altos e Baixo” e “Pavilhão de Espelhos”), Moreno Veloso,
Quito Ribeiro e Domenico Lancellotti (“A Brincadeira”) e até
a primeira aventura de Roberta em espanhol, em “Esquirlas”,
composta com o uruguaio Jorge Drexler.
Foto: Bruno Senna
Nesses sete anos sem a NZ no estúdio, os músicos se
dedicaram a vários projetos paralelos. “Desde que Chico
morreu, nunca tínhamos dado uma parada”, lembrou Pupillo.
Toca Ogan, por exemplo, fez seu disco e tocou com Otto. Lúcio
Maia se dedicou ao projeto “Maquinado”.
Em seu quarto disco solo, e pela primeira vez com composições
próprias, a mineira Fernanda Takai, vocalista do Pato Fu,
explora a estética dos anos 80, brinca com o carnaval e se
arrisca numa parceria com o padre-cantor Fábio de Mello na
faixa “Amar Como Jesus Amou”, cuja melodia é ditada por
sons de jogos eletrônicos. O álbum “Na Medida do Impossível”
é assim: tem a cara e a marca das experimentações de
Fernanda, que apresenta a parceria com Marcelo Bonfá “De
Um Jeito ou de Outro” e outras duas letras que ela escreveu:
“Seu Tipo” (com música de Pitty) e “Partidas”. As outras
10 canções são de outros compositores, entre os quais se
destacam George Michael, cuja “Heal The Pain”, traduzida
por John Ulhoa, marido de Fernanda e parceiro de Pato Fu,
virou “Para Curar Essa Dor”; e a mexicana Julieta Venegas,
que aparece, também numa tradução, em “Doce Companhia”.
Um pouco antes do carnaval deste ano, quando, mais uma
vez, a NZ fez um show apoteótico na folia do Recife, saiu na
internet uma música do novo álbum. A faixa “Cicatriz” está
disponível para download no site da Natura. É a primeira
música a ser lançada oficialmente desde o disco “Fome de
Tudo” e tem participação do produtor Kassin.
A banda tem 14 inéditas prontas. Mas o álbum deve ser
fechado com dez. É um disco que chega carregado de
simbolismo: será lançado quando a banda comemora os 20
anos do surgimento do seminal “Da Lama ao Caos”, o álbum
da então Chico Science e Nação Zumbi, que definiu e revelou
o manguebeat de Pernambuco para o Brasil.
A Nação Zumbi apareceu, sob a batuta de Chico Science, no
comecinho dos anos 1990, a partir da união do Loustal, banda
de rock pós-punk, com o bloco de samba-reggae Lamento
Negro. Desde então - e apesar da fatídica morte de Chico num
acidente de carro em Olinda, em 1997 -, o maracatu da NZ
segue pesando uma tonelada.
O mundo pop de Anitta
Menos funkeira e muito mais pop, Anitta lança seu primeiro
DVD, gravado ao vivo, em fevereiro, no Rio, apostando numa
estética internacional e em letras hedonistas e de forte
apelo popular. Mais comportada e sem explorar (tanto) a
sensualidade, a cantora teve como convidado o rapper Projota
no show dirigido por Raoni Carneiro. “Com essa equipe que
tenho, estou me sentindo grande e especial”, ela disse no
lançamento no projeto. Dividido em três partes, inferno (com
músicas como “Menina Má”, “Proposta” e “Cachorro Eu Tenho
Em Casa”), terra (um mundo inspirado no universo do cineasta
francês Georges Meliés) e céu (repleto de referências lúdicas
como ursinhos de pelúcia), “Fantástico Mundo de Anitta” tem
cerca de uma hora e meia de duração e conta com uma versão
mixada do hit máximo da cantora, “Show das Poderosas”.
Todos os sons de
Fernanda Takai
A salada do Reppolho
Osmar Navarro, o musical
Falecido em 2012, o associado da UBC Osmar Navarro vai
receber uma homenagem nos palcos de São Paulo este mês.
Autor de diversos sucessos a partir dos anos 1950, como
“Quem É?” em parceira com Oldemar Magalhães, “Espere
Um Pouco, Um Pouquinho Mais”, versão da obra "La Nave Del
Olvido" do argentino Ramos Dino, “A Namorada Que Sonhei”
e “A Mais Bonita das Noites”, composta em conjunto com
Sebastião Ferreira, o carioca que brilhou na era de ouro do
rádio e na aurora dos programas de auditório na TV será tema
do musical “Quem É Osmar Navarro? Quem É?”, em cartaz
de 9 de maio a 13 de julho no Teatro Anhembi Morumbi, na
Mooca. Estreado em Santos, o espetáculo, com direção de
Sebah Vieira e direção musical de Maycon Lopes, revive os
clássicos do compositor na voz do filho dele, Donovan Navarro.
Artistas como Agnaldo Rayol, Sérgio Reis, Jair Rodrigues,
Ronie Von e Chitãozinho & Xororó fazem participações em
vídeos. As apresentações são às sextas e sábados, às 21h, e
aos domingos, às 19h.
Baião, zouk-lambada, ijexá, samba-funk, ciranda, rumba,
salsa, cha-cha-chá. É variado o belo saladão musical que marca
o quinto álbum solo do percussionista Reppolho, “Batukantu”.
Recheado de inéditas próprias e de parcerias com nomes
como Ary Sobral, Jó Reis, Esdras Bedai e Euclides Amaral, o
trabalho, de pegada “cool-afro-regional-pop”, como o próprio
Reppolho define, tem diversas participações especiais, entre
elas do cantores Charles Teony (na simpática mistura de
rumba e baião da faixa “Rumbaião Pernancubano”) e Mário
Bróder, do Farofa Carioca, no samba-funk “Céu de Madureira”.
A Orquestra Tabajara e o maestro Severino Araújo, morto ano
passado, ganham homenagem em “Tabajariando”.
Fotos boi Garantido: Élcio Farias
6/UBC : reportagem
reportagem : UBC/7
caprichoso garantido
Parintins:
uma disputa também fora do bumbódromo
Fotos boi Caprichoso: Alessandro Hayden
Agremiações que integram
o famoso festival
folclórico não repassam
direitos autorais
aos compositores das
toadas e são levadas
à Justiça pelo Ecad
Por Gustav Cervinka, de Manaus
Uma das maiores manifestações culturais do Brasil, o Festival
Folclórico de Parintins, realizado a cada ano no último fim de
semana do mês de junho, no interior do Estado do Amazonas,
é marcado pela disputa acirrada entre os bois-bumbás
Caprichoso e Garantido diante de mais de 16 mil pessoas no
bumbódromo. Fora da arena de apresentações, contudo, uma
outra disputa ofusca o brilho da riqueza artística do evento:
os compositores das toadas executadas nas apresentações de
ambos os bois simplesmente não recebem os valores relativos
aos seus direitos autorais.
De acordo com o Ecad, os pagamentos jamais foram recolhidos
nesses eventos, a despeito do processo judicial movido pelo
escritório central. “O Ecad vem procurando todos os anos os
organizadores do evento, incluindo as associações folclóricas,
o governo do Estado do Amazonas e os patrocinadores, a
fim de conscientizá-los sobre a necessidade do pagamento”,
afirma o escritório, por meio de nota.
Segundo a ação, nem as agremiações nem o governo do
estado se comprometem a mudar o quadro e passar a recolher
os direitos. “Apesar da magnitude e da representatividade
do evento, não há a valorização dos artistas por parte
dos organizadores. Mesmo com toda a receita gerada,
simplesmente não o fazem. Como não há o pagamento, os
titulares que têm suas obras executadas ficam sem receber
os direitos devidos”, continua o Ecad.
O cantor e compositor de toadas de boi-bumbá Tony Medeiros,
que é filiado à UBC, sustenta nunca ter visto a cor do dinheiro
dos direitos autorais relativos à execução de suas músicas na
arena, durante as três noites de realização, pelo boi Garantido,
o vermelho. “Tenho reclamado bastante. A agremiação tem
condições de pagar, e não vejo a necessidade de renunciar
a esses direitos. Sei que existem alguns casos em que,
no próprio contrato, os compositores desobrigam o boi do
recolhimento”, explica o artista, que também é deputado
estadual. Ele estima que seu prejuízo ultrapasse a marca de
R$ 100 mil nos dez anos em que escreveu músicas para o
Garantido, sem receber direitos autorais da agremiação. Entre
suas cerca de 200 composições, destacam-se “Boi de Pano”,
“Toada da Vaqueirada”, “Vou Anunciar” e “Dança do Banzeiro”.
Rafael Lacerda, outro compositor do Garantido, afirma não
ter recebido nenhum valor referente aos seus direitos autorais
de arena há dois anos. “Componho para o boi desde 2004.
Admito que essa atividade, para mim, é como um hobby.
Mesmo assim, em relação a outras veiculações de minhas
obras, recebi meus dividendos de maneira retroativa. Só não
Notícias : UBC/9
8/UBC : reportagem
notas Internacionais
recebi o que diz respeito ao Festival de Parintins. Acabei não
entrando com processo na Justiça, mas acho válido e apoio
os colegas que precisarem”, enfatiza o autor de toadas como
“Sentimento Vermelho” e “Yawira das Águas”.
Do outro lado, pelo boi Caprichoso, o compositor Paulinho Du
Sagrado diz que “da arena ninguém recebe nada”. Segundo ele,
suas músicas são usadas, mas os direitos autorais não chegam.
“O festival envolve uma série de patrocinadores, e circula muito
dinheiro. Por que não recolhem? A obra é que orienta tudo o que
é arquitetado para a arena. É da letra das músicas que se extrai
o espetáculo. Acontece que o boi virou uma 'cobra grande', e
tudo o que passa à sua frente ele quer comer”, filosofa. “Usam
nossa paixão pelo boi para tirar proveito de tudo isso”. Du
Sagrado escreveu obras como “Táwapayêra”, a mais recente e
que está na lista de toadas para o festival deste ano. Embora
componha desde a década 1980, ele somente passou a escrever
para o Caprichoso em 2010.
O compositor Geovane Bastos, também criador de canções
para o boi azul e branco, conta que essa é uma realidade
comum. “Escrevo há pelo menos sete anos. Em todo esse
tempo, nada recebi de direitos autorais pela execução da obra
na arena”, afirma, citando termos dos contratos apresentados
aos compositores pelas agremiações.
Bastos tem aproximadamente 30 obras compostas para o
Caprichoso. Somente em 2013, seu nome esteve em seis
das 21 músicas que fizeram parte do repertório do festival,
incluindo “O centenário de Uma Paixão”, ao lado de Guto
Kawakami e Adriano Aguiar, “Deusa da Paixão”, com Alquiza
Maria, e “Yuriman”, em parceria com Saullo Vianna.
Tanto a diretoria do boi Caprichoso quanto a do Garantido
afirmam que os autores das toadas recebem “uma premiação
de R$ 2 mil pela música escolhida em concurso cultural, que
acontece regularmente um ano antes do evento”. Segundo o
presidente do azul e branco, Joilto Azedo, após selecionada
a obra, o contrato assinado para a sua exploração prevê sua
aplicação em CD, DVD, ensaios, eventos oficiais e arena. “Os
compositores ficam cientes, e os que concordam assinam o
contrato. No caso de direito de arena, o Caprichoso acerta
valores individuais com cada compositor, que terá sua obra
utilizada durante o festival. Esses compromissos foram todos
cumpridos”, afirma.
Do outro lado, Telo Pinto, presidente do Garantido, diz que o
pagamento do prêmio e os acordos que existem com alguns
compositores “desobrigam” a agremiação de fazer repasses ao
Ecad - e, por consequência, aos autores.
Por meio da sua assessoria de imprensa, a Secretaria de
Estado da Cultura no Amazonas afirma tão-somente que a
obrigação do pagamento de direitos autorais é exclusivamente
dos bois-bumbás.
A coordenação jurídica do Ecad, por sua vez, afirma que, de
acordo com a ação que corre na 4ª Vara da Fazenda Pública
Estadual de Manaus, os bois jamais apresentaram qualquer
documento comprovando que de fato têm autorização dos
titulares para a execução pública das obras musicais. Mais:
como titulares da UBC e de outras associações, os autores
reclamam textualmente por não receberem pelo uso das
toadas. Quanto à alegação da Secretaria de Cultura, continua o
Ecad, pelos termos da lei de direitos autorais a tentativa de se
desvincular da obrigação de pagamento não se sustenta, uma
vez que o órgão é um dos promotores do festival.
Em 2014,
evento ganha
dimensão
ainda maior
A 49ª edição do Festival Folclórico de Parintins, nos próximos
dias 27, 28 e 29 de junho, vai coincidir com a realização do
Mundial da Fifa, e Manaus, uma das sedes dos jogos, terá
uma programação cultural integrada aos festejos do interior.
Para este ano, os temas das agremiações são “Táwapayêra”
(aldeia mística), pelo Caprichoso; e “Fé”, pelo Garantido.
O espetáculo de cores e ritmo que evoca as culturas do Norte
e do Nordeste do país, mesclando a herança portuguesa dos
autos de fé e as tradições dos povos indígenas da Amazônia,
será um dos principais focos da divulgação da cultura
amazonense pelo governo do estado. Como de costume, os
organizadores não revelam as surpresas preparadas para o
festival. Entre algumas possibilidades, está uma homenagem
que o boi Garantido fará a dona Maria Ângela Faria, madrinha
do vermelho, morta em fevereiro passado, aos 91 anos. Sua
devoção ao boi era tamanha que até a piscina de sua casa era
vermelha. Uma toada - “A benção, Madrinha” – foi escrita em
sua memória e deve estar na arena, assim como uma alegoria
criada especialmente para homenageá-la.
Pelo Caprichoso, pode-se adiantar a mudança no item
“Sinhazinha da Fazenda”, cujo posto deixado por Thainá
Valente será assumido por Karyne Medeiros, ex-porta
-estandarte do boi azul e branco.
Coalizão de artistas
pede remuneração
maior com streamings
Autores dão sugestões
para novas regras de
copyright na Europa
No final do ano passado, a Comissão Europeia (órgão executivo
da União Europeia que representa os interesses de todos os
países do bloco) lançou uma consulta pública para a revisão
das regras de copyright no continente. Artistas, associações,
representações de classe e quaisquer outras partes envolvidas
foram convidadas a responder a um questionário explicitando
suas demandas e seus desejos para a nova regulamentação.
Foi, então, lançado um movimento chamado Creators For
Europe (Criadores Pela Europa), que pede, entre outras coisas,
mais proteção aos direitos autorais nos estados-membros;
regras continentais de licença (contra o atual mosaico de
legislações nacionais), facilitando a distribuição de conteúdos
digitais entre os países; proteção legal e multiterritorial ao
conceito de gestão coletiva de direitos autorais; e até melhoras
na remuneração aos criadores, entre outras questões. Dezenas
de milhares de pessoas em toda a Europa assinaram uma
petição on-line apoiando tais pleitos. O documento foi enviado
à Comissão e deve dar origem ao chamado "Livro Branco", que
consolidará as posições da classe artística e poderá nortear as
regras em debate no continente.
Paralelamente, também na Europa, a coalizão internacional
de criadores AMP passou a pressionar as gravadoras a ampliar
a remuneração aos artistas por músicas reproduzidas em
serviços de streaming na internet. Atualmente, os contratos
são estabelecidos segundo cada caso, cabendo aos criadores,
muitas vezes, a menor parte do bolo. De acordo com a proposta
da AMP, as companhias discográficas deveriam repassar aos
compositores pelo menos 50% do valor obtido com os serviços
de execução digital, além de estabelecer contratos mais
transparentes com os artistas. As informações são do diário
britânico “The Guardian”.
PRS e Ascap: 100
anos de luta pelos
direitos autorais
Duas das maiores associações de autores e editores do
mundo estão completando 100 anos: a britânica PRS e a
americana Ascap. Fundada em 1914 por um grupo de editores
musicais, incluindo William Boosey e Oliver Hawkes, para
proteger os direitos autorais e garantir pagamentos mais
justos a compositores e editores, a PRS programou uma série
de shows e outras atividades em todo o Reino Unido para
celebrar seu centenário e se engajou, juntamente com outras
associações, nas discussões sobre a revisão das regras paneuropeias de copyright. Já a americana Ascap, considerada
a maior entidade de gestão coletiva do planeta, com mais
de 500 mil compositores de músicas, letristas e editores
associados, realizou, mês passado, em Los Angeles (EUA),
uma superconvenção em que relembrou sua história e os
desafios da luta pela gestão coletiva. A UBC deseja parabéns
e vida longa às duas.
Kim Dotcom: “Se sou
mau, o Google é o
ápice da maldade”
O site de informações sobre o mercado da música Music Ally
publicou uma entrevista com o polêmico diretor da plataforma
de troca de arquivos piratas Mega (ex-MegaUpload). Ele falou
sobre seu modelo de negócios e seu novo serviço, Baboom,
que basicamente interfere em sites com avisos publicitários,
substituindo-os por seus próprios reclames. “Estou mirando
principalmente os sites do Google, porque o Google
provavelmente é o maior beneficiário da pirataria. Quando
você busca qualquer álbum ou artista, na primeira página vai
ver pelo menos um link de material pirateado”, ele disse. “Ou
seja, o Google mostra seus anúncios junto com tudo isso e não
paga nada aos artistas. Se seu sou malvado, eles são o ápice da
maldade. Se posso pegar de 5% a 10% dos lucros publicitários
deles e pagar aos artistas, então moralmente creio que é uma
grande coisa”, afirmou o polêmico empresário, que já chegou
a ser preso por pirataria quando administrava o MegaUpload.
As informações são do site Music Ally.
Vendas digitais superam
as físicas na maior
gravadora do mundo
A maior gravadora do planeta, a Universal Music, com mais de
25% de participação no mercado discográfico global, anunciou
que em 2013, pela primeira vez em sua história, os lucros com
vendas digitais superaram os de vendas físicas. De acordo com
o relatório do grupo francês Vivendi, controlador da Universal
Music, 51% de todo dinheiro obtido pela companhia vieram de
vendas de música pela internet e de serviços de streaming.
O crescimento do segmento na gravadora atingiu espantosos
75% ano passado, alcançando € 450 milhões. De acordo com
a revista “Billboard”, particularmente um único serviço de
execução digital, o Spotify, foi o grande motor do crescimento.
notícias : UBC/11
10/UBC : notícias
fique de olho
Nova lei de direitos
autorais é discutida em
audiência no STF
UBC assina acordo
de representação
mútua com a SACEM
O Supremo Tribunal Federal (STF) realizou, no último dia
17 de março, uma audiência pública para discutir a nova lei
de direitos autorais (12.853), aprovada em agosto e em vigor
desde dezembro do ano passado. Cantores, compositores
e representantes do governo e de entidades responsáveis
pela gestão de direitos autorais, num total de 24 inscritos,
puderam falar e apresentaram argumentos contrários
e favoráveis à norma. O Ecad e a UBC contestam a sua
constitucionalidade, e a audiência foi convocada pelo relator
dos processos, ministro Luiz Fux. A lei altera a maneira
como se dá a gestão coletiva de direitos autorais, criando
instâncias governamentais de fiscalização de uma atividade
eminentemente privada e estabelecendo um cronograma
de redução da taxa administrativa cobrada pelo Ecad e as
associações. O presidente da UBC, Fernando Brant, um dos
participantes, disse considerar a nova normativa arbitrária
por interferir num sistema cujos moldes vêm funcionando
há décadas. O cantor e compositor Lobão corroborou e
afirmou que a lei 12.853 “tem pontos muito sombrios e traços
autoritários”.
A UBC acaba de fechar um acordo com a Sacem (Sociedade
dos Autores, Compositores e Editores Musicais, na sigla
em francês), entidade de gestão coletiva francesa, uma
das maiores do mundo, e passa a representar os direitos de
execução pública das obras de grandes autores daquele país
no Brasil, como Edith Piaf, Serge Gainsbourg, Yves Montand e
até mesmo Maurice Ravel, entre outros 145 mil filiados.
Fundada em 1851, a Sacem foi pioneira mundialmente e
estabeleceu as bases para o conceito de gestão coletiva, dando
mais poder aos criadores e lançando critérios para a cobrança
de direitos autorais. Em janeiro de 2013, a UBC começou a
representar por aqui os direitos de reprodução dos associados
daquela entidade. De agora em diante, também passamos a
representar os direitos de execução pública.
TV Aberta: novas rubricas e
novo peso para as músicas
executadas
Associados elegem
nova diretoria
Na Assembleia Geral Ordinária realizada no último dia
28 de março, os associados elegeram a nova diretoria da
UBC. Fernando Brant foi escolhido, mais uma vez, diretorpresidente da entidade, tendo como diretor superintendente
Abel Silva. Também foram eleitos: Geraldo Vianna (diretor
secretário), Aloysio Reis (diretor administrativo financeiro),
Ronaldo Bastos (diretor de comunicação e assistência social),
Sandra de Sá e Manoel Pinto (diretores vogais). Pelo conselho
fiscal foram escolhidos: Antonio Cícero, Edmundo Souto e
Manno Goes, além dos suplentes Fred Falcão, Sueli Costa e
Elias Muniz. O grupo tem mandato até o fim de março de 2017,
quando será realizada nova eleição.
UBC altera estatuto e
regimento interno
Crédito protegido,
agora, tem prazo
de até cinco anos
Ainda seguindo o que determina a nova lei de direitos
autorais, no último dia 10 de fevereiro foi promovida uma
Assembleia Geral Extraordinária na UBC para tratar de
alterações do estatuto e do regimento interno da nossa
associação. Agora, editores não podem mais votar ou ser
votados para a diretoria das associações. Esta, por sua vez,
passa a ter mandato de três anos, contra os quatro de antes,
com direito a uma reeleição. Além disso, foi introduzido um
novo capítulo com regras de governança e transparência.
Este capítulo assegura a independência do corpo operacional,
que atua com base em excelência profissional e busca de
eficiência, sob supervisão da diretoria e do conselho fiscal,
e estabelece garantias de que não haverá interferência
imprópria sobre a operação por parte do corpo de supervisão.
Além disso, estabelece estatutariamente todos os elementos
que devem estar presentes na prestação de contas anual aos
associados na assembleia geral de balanço, realizada sempre
no mês de março.
A nova lei de direitos autorais determinou o prazo de cinco
anos para documentação e cobrança dos créditos protegidos.
Chamado anteriormente de crédito retido, esse mecanismo é
uma segurança para o titular de direito autoral quando sua
obra ou fonograma não foram identificados no momento da
distribuição. Isso pode ocorrer por algumas razões, como falta
de cadastro da obra, obra captada com título incorreto ou
com grafia diferente da que foi registrada, bem como falta
de maiores informações sobre a obra (como o nome dos
intérpretes, por exemplo), além de disputas e duplicidades de
titularidade. Se a sua música for interpretada em um show
antes de ter sido registrada em nossa base de dados, no
momento em que for feita a distribuição dos valores de direitos
autorais arrecadados ela ficará com o pagamento suspenso.
Então, se a distribuição tiver sido feita em maio de 2014, por
exemplo, você ainda poderá receber esse crédito até 2019,
desde que o interessado tome providências para esclarecer a
dúvida que motiva a retenção.
Decisão judicial dá ao Ecad
até dez anos para cobrar
pagamentos de rádios
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que o Ecad tem
até dez anos para cobrar de emissoras de rádio o pagamento
de direitos autorais relativos à execução de músicas. A ação
foi impetrada por uma emissora que questionava o pagamento
alegando que, de acordo com o Código Civil, o não pagamento
caracteriza um ato ilícito clássico, com prescrição de três
anos. Mas a 3ª turma do STJ entendeu que se trata, sim, de
uma quebra de obrigação contratual, o que amplia o prazo
para dez anos. Segundo o relator do processo, ministro Sidnei
Beneti, embora o não pagamento constitua ato ilícito, não é
possível compará-lo a um crime tradicional como a reprodução
não autorizada de obras. Para ele, a cobrança de mensalidade
pelo Ecad decorre de uma relação negocial, ainda que não
haja contrato.
Agora as emissoras Rede Gazeta, Rede Vida, Mix TV,
Rede Família e CNT passam a ter rubricas próprias para a
distribuição dos direitos autorais arrecadados no segmento
TV Aberta + Direitos Gerais. O objetivo é facilitar o processo
e distribuir com mais precisão os valores pagos por estas
emissoras. Antes, elas faziam parte da rubrica TV Outras
Emissoras, e os valores eram distribuídos com base em
uma amostragem das músicas executadas dentro do todos
os canais que compunham esta rubrica. Agora, os valores
passam a ser distribuídos de forma direta. Outra novidade
é a mudança nos pesos para as músicas executadas na
programação regional das emissoras afiliadas a Globo,
Record, Bandeirantes e SBT. As músicas executadas nessas
emissoras dentro de sua programação nacional passam a ter
peso 5; já a programação regional de suas afiliadas passa a ter
peso 1. Essa diferença se justifica pelo alcance populacional
dos canais. As novas rubricas e os novos pesos já estão
valendo desde janeiro passado.
Câmara aprova
Marco Civil
Depois de sucessivos adiamentos devidos a disputas
partidárias no Congresso Nacional, foi finalmente aprovado
em votação no plenário da Câmara dos Deputados, no último
dia 25 de março, o Marco Civil, conjunto de regras para a
internet no país que garante três pilares fundamentais da
rede: a sua neutralidade (ou seja, o tratamento isonômico, por
parte dos provedores, de quaisquer pacotes de dados, sem
distinção de velocidade por conteúdo acessado pelo usuário),
a liberdade de expressão e a privacidade dos usuários. A
retirada de conteúdo postado por terceiros dependerá de
ordem judicial, mas, no que diz respeito a conteúdo protegido
por direitos autorais, o Marco Civil encaminha o assunto para
lei específica.
capa : UBC/13
12/UBC : capa
amados
mestres
Por Leonardo Lichote, do Rio
Um papo com os
'decanos' da UBC,
filiados há muitas
décadas que
viram de perto
(e protagonizaram)
a evolução da
música e dos direitos
autorais no país
Era uma tarde quente, com céu sem nuvens, e Tito Madi
estava na fazenda de sua irmã no interior de São Paulo. O
ano era 1954. Ele pegou o bote e o levou até debaixo de uma
árvore que havia tombado no meio do lago. Ali, na sombra
da folhagem, compôs “Chove Lá Fora”, que se tornaria um de
seus maiores sucessos. “Era uma fase em que tinha muita
facilidade para compor”, lembra Madi, aos 84 anos. “Naquele
dia não chovia lá fora, mas chovia dentro de mim.”
Filiado à UBC desde 1957, o mestre do samba-canção é um
dos representantes da “velha guarda” da nossa associação,
artistas que atravessaram décadas acumulando histórias
de vida, arte e evolução da questão dos direitos autorais no
país. Nomes como Evaldo Gouveia, Zé Menezes, Zuzuca do
Salgueiro e Edson Menezes, que começaram a compor num
Brasil pré-bossa nova, profundamente romântico, de um
tempo mais dilatado.
“A primeira música que fiz foi 'Eu
Espero Você', para uma namorada, na
minha época de estudante, com meus
19, 20 anos”, conta Madi, autor ainda de sucessos
como “Balanço Zona Sul”, lançado por Simonal. “Mas só vim
a me familiarizar com direitos autorais quando gravei meu
primeiro 78 rotações, com 'Não Diga Não' de um lado e 'Piraju'
do outro. Tive sorte, ele estourou na parada de São Paulo.
Quando estourei 'Chove Lá Fora', já na UBC, passei a receber
direitos do exterior, vindos de países da Europa e também dos
Estados Unidos, onde ela foi gravada pelo The Platters. Hoje,
posso dizer que tenho recebido os direitos autorais de forma
muito precisa.”
Evaldo Gouveia já começou na UBC, com seu parceiro Jair
Amorim – a dupla formou uma usina de canções de amor
populares, sambas-canções como “Alguém Me Disse”, lançada
por Anísio Silva e gravada por intérpretes como Gal Costa,
Maysa e Ana Carolina. Como ocorreu com Madi, sua inspiração
inicial foi uma paixão. “Comecei a compor com 'Deixe Que
Ela Se Vá', recorda o compositor de 85 anos, que deu início à
carreira como integrante do Trio Nagô. “Todas
essas
músicas vêm de mulher, né? Estava
me referindo a uma ex-namorada e
falei 'deixe que ela se vá'. Isso ficou
na minha cabeça, daí começou a sair
uma música que, no dia seguinte, já
estava pronta. Acabou sendo gravada
pelo Nelson Gonçalves.”
notícias : UBC/15
14/UBC : capa
O compositor lembra que, em seus tempos áureos de fama,
os direitos autorais lhe permitiram adquirir os imóveis que
hoje garantem seu sustento. “É assim mesmo,
quem está na mídia fatura mais. Teve
época em que o hit parade era todo de
músicas minhas. Eu faturava bem.”
Edson Menezes também enfileirou sucessos com seus
sambas modernos, sincopados – muitos em parceria com
Alberto Paz. “Zig-Zag” e “Deixa Isso Pra Lá” se tornaram
símbolos da música de Jair Rodrigues, que fez gravações
antológicas de ambos. Associado desde 1955, Menezes
integrou os Partideiros do Plá e foi gravado por cantores como
Elza Soares, Alceu Valença e Beth Carvalho.
Parceiro dele, Zuzuca do Salgueiro é outro que tem a história
entrelaçada à da UBC. Há 47 anos na associação, ele carrega
no nome a escola que adotou ao se mudar para o Rio, saído de
Cachoeiro de Itapemirim (ES). E foi exatamente no Salgueiro
que construiu alguns dos capítulos mais importantes
de sua trajetória. Foi descendo o famoso morro da Zona
Norte carioca que ele compôs seu primeiro sucesso, “Vem
Chegando a Madrugada”, parceria com Noel Rosa de Oliveira.
“Fiz muitas músicas no Salgueiro”, conta Zuzuca. “'Vem
Chegando a Madrugada' fiz realmente voltando para casa,
depois do samba. Composição é assim, coisa de momento.
Às vezes vem da alegria, outras, da tristeza. 'Pega no Ganzê'
(como ficou conhecido 'Festa Para Um Rei Negro', sambaenredo histórico da escola, de 1971) eu compus baseado na
história (do desfile), com aquelas ideias todas na cabeça para
transformar em samba. Ganzá é uma palavra que existe,
ganzê eu inventei para ficar bem ali. A arte não tem muita
explicação, não. Ela vem.”
O compositor conta que seus direitos autorais, hoje, vêm
“E certamente
os direitos nacionais vêm mais no
carnaval”, ele explica.
mais do exterior que do Brasil.
O mais velho entre seus colegas, aos 92 anos, Zé Menezes
tem uma das histórias mais curiosas e ricas, boa parte dela
vivida com a UBC, onde está desde 1952. Sua trajetória
inclui uma apresentação, ainda criança, para o mítico Padre
Cícero e a composição do famosíssimo tema do programa
humorístico da TV Globo “Os Trapalhões”, além de passagens
pela Rádio Nacional e pelo Quarteto Continental, que tinha
em sua formação o compositor Radamés Gnattalli, bem como
a criação do divertido grupo Velhinhos Transviados, que
fazia leituras bem-humoradas de sucessos da nossa música,
como “Fica Comigo Esta Noite”, de Adelino Moreira e Nelson
Gonçalves, e “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno”, de Erasmo e
Roberto Carlos.
“Comecei a compor ainda criança, lá
em Fortaleza. A primeira foi 'Meus
Oito Anos'. Foi essa que toquei para
meu padim Ciço. Não sabia nada de
harmonia, mas ela tem uma sequência
de acordes tão bonita que parece até
que eu sabia”, relembra, em sua fala humorada e cheia
de energia. “Fui predestinado a ser músico. Com mais de 90
anos, ainda estou atuando, estudando e gostando do que faço.”
Seu olhar sobre a música e sobre a vida (“Olho para frente,
porque andar para trás não dá... Só se for caranguejo”) guia
também a avaliação que faz sobre a questão dos direitos
“A UBC só melhorou, e muito,
desde quando eu comecei. Já de
cara fiz sucesso, e até hoje muitas
dessas músicas ainda continuam me
rendendo, como 'Comigo é Assim',
'Seresteiro' e 'Tudo Azul'.” A UBC cresceu
autorais.
muito e se modernizou, consegue agilizar meus direitos
no mundo inteiro. Alguns compositores do meu tempo
reclamam. Mas o caso é que, muitas vezes, eles fizeram uma
música de sucesso, recebiam bem por isso e se acostumaram.
Mas é natural que o músico receba menos se suas músicas
são menos executadas. E o tempo anda para frente. Antes,
ganhavam-se direitos vendendo partitura. Depois veio o
tempo do vinil, que era ótimo, porque a pessoa tinha que
comprar, e não se podia fazer cópia como se faz hoje. Mas não
tem como voltar. A evolução é assim.”
Tito Madi também prefere produzir. Ele tem um disco de
inéditas na gaveta, pronto, composto em parceria com Gilson
Peranzzetta. “Não consegui lançar, mas compus novas. O
ritmo de produção é diferente do da juventude, quando era
mais fácil escrever músicas. Mas tenho umas 20 inéditas”,
conta o veterano, dono de uma grande energia que também
se faz presente nos outros mestres. Zuzuca resume essa força:
“Compositor é um mensageiro. Esse
negócio de fazer música é divino... É
coisa de Deus.”
É conversando
que a gente
se entende
Distribuição para músicos
acompanhantes, novidades no
portal e até o passo a passo da
pagamento dos valores recebidos
no acordo da TV Globo entraram
na pauta de mais um evento UBC Sem
Dúvida, que ocorreu em março, com
transmissão ao vivo pela internet
Por Bruno Calixto, do Rio
Com a participação de músicos, produtores, editores e
internautas, a UBC promoveu no final de março mais uma
edição do UBC Sem Dúvida, um encontro que tem por
finalidade esclarecer os associados sobre temas importantes
na área dos direitos autorais. Novas regras de distribuição,
ferramentas mais acuradas para acompanhar as contas no
nosso site e outras questões foram abordadas no bate-papo
que envolveu o público presente na sede da associação,
no Centro do Rio de Janeiro, e internautas, por meio de
transmissão ao vivo no nosso canal no YouTube.
A diretora-executiva da UBC, Marisa Gandelman, iniciou
o encontro reforçando as datas e os valores da distribuição
referentes ao acordo do Ecad com a TV Globo, anunciado em
outubro do ano passado. Dos R$ 400 milhões a serem pagos
pela emissora, Marisa lembrou que R$ 300 milhões já foram
depositados e que o aporte total cobre a diferença entre o valor
devido e os depósitos em juízo feitos pela Globo no período da
disputa com o escritório central, de julho de 2005 a outubro
de 2013. A diretora anunciou que os R$ 100 milhões restantes
serão recebidos em julho.
Depois foi a vez de tratar de distribuição. Todo o processo
de distribuição dos R$ 300 milhões recebidos pelo Ecad foi
mostrado passo a passo, de forma bastante didática, com
explicações sobre seu destino e os prazos de recebimento
pelos titulares.
Marisa detalhou ainda a quantia correspondente a cada
item da distribuição dos direitos autorais, como o valor dos
percentuais societários do Ecad e da UBC, da reserva técnica
e do ajuste de proporção entre direito de autor e direito conexo.
Entre os internautas que enviaram perguntas por e-mail
([email protected]) ou pelo Twitter (#UBCsemduvida),
o compositor Ramon Cruz, da Bahia, por exemplo, pediu
esclarecimentos sobre a taxa de 10% da reserva técnica.
“Trata-se de uma parcela retida a partir de um convênio para
posterior distribuição, com o objetivo de garantir o pagamento
a eventuais ajustes, como acontece muito no segmento
audiovisual, já que, algumas vezes, o valor destinado às
músicas de um filme que ainda não foi cadastrado não pode
ser provisionado”, esclareceu a diretora-executiva.
Entre as principais novidades relacionadas diretamente à UBC,
a assessora de comunicação da associação, Elisa Eisenlohr,
apresentou mudanças no Portal do Associado (portal.ubc.org.
br). Uma delas é o item Números do Mês, em que o filiado
encontra detalhes sobre os montantes distribuídos tanto pelo
Ecad quanto pela UBC, bem como estatísticas de arrecadação
ano a ano. Outra modalidade é o Extrato de Conta-Corrente,
por meio do qual se podem consultar dados de dedução de
imposto de renda e previsão de recebimento.
“Os números estão à disposição porque é bom para todo
mundo. Essa é nossa busca por cada vez mais eficiência e
transparência”, resumiu Marisa Gandelman.
“O associado que ainda não tem acesso ao Portal deve nos
mandar uma solicitação por e-mail para atendimento@ubc.
org.br. Se ele quiser ver também seus demonstrativos online,
deve ser claro quanto a isso na mensagem. Essa é uma medida
de segurança. A partir do momento em que liberarmos o
acesso ao demonstrativo no portal, vamos cancelar o envio
pelo correio”, lembrou Elisa.
Durante o encontro, a diretora da UBC apresentou ainda um
resumo do que foi discutido nas últimas três assembleias
gerais, ressaltando as alterações no estatuto e no regimento
interno. Por força da nova lei, a votação ou a candidatura a
sócio-diretor fica restrita aos autores. Editores agora passam
para a categoria de associado administrado no novo estatuto.
Marisa Gandelman prestou contas de balanço e planejamento
da associação e anunciou um novo capítulo denominado
governança e transparência. “O corpo operacional se torna
independente do de supervisão, formado pela diretoria e
pelo conselho fiscal. O corpo de supervisão não deve ter
interferência imprópria sobre o corpo operacional contratado
de forma a limitar sua autonomia de ação com base em
excelência profissional e busca de eficiência.”
Antes de encerrar as cerca de duas horas de encontro, a UBC
anunciou que o novo imóvel adquirido será entregue em
meados do ano que vem. Com mais espaço para comportar
funcionários e aperfeiçoar o serviço, se necessário, o imóvel
de três andares está localizado na Rua do Rosário 1, em frente
à histórica Praça Quinze, no Centro do Rio.
A íntegra do bate-papo está disponível em:
http://www.youtube.com/ubcmusica
reportagem : UBC/17
16/UBC : reportagem
Luzes,
câmera,
som!
Colaborativa, múltipla
e muitíssimo fértil, a
cena musical ligada à
produção cinematográfica
pernambucana vive um
momento de ouro
Por Bruno Albertim, do Recife
No final do ano passado, Helder Aragão lançou um vinil com
nove faixas. “Discos de vinil são como slow food, o resgate do
hábito de ouvir o disco inteiro, seguindo a ordem de quem o
concebeu, uma pausa no meio da correria da vida para apreciar
música”, ele diz sobre “Banda Sonora”, o álbum que seria mais
uma bolacha musical com o fetiche que o vinil evoca hoje não
fosse um detalhe: o disco assinado pelo DJ Dolores, codinome
assumido por Helder desde que se transformou num dos
pioneiros a injetar boas doses de tecnologia para reprocessar
ritmos tradicionais, é todo composto por canções e temas
feitos para o cinema.
“Compor sob encomenda é muito mais fácil. Ter patrão, prazo
definido, temática etc. só ajudam a estabelecer o foco. Compor
para mim mesmo é muito chato, porque normalmente eu não
tenho nada a dizer”, discorre, numa modéstia inadequada
como roupa emprestada, o ganhador de um Kikito pela trilha
sonora, ano passado, do aclamado longa pernambucano
“Tatuagem”, de Hilton Lacerda.
Dolores confirma um dos expedientes atualmente mais
frequentes entre os músicos do estado nordestino: a
composição ou a direção para o cinema. No Recife e nos
arredores, imagem e som vivem um casamento fecundo,
constante - e poligâmico.
"Desde a retomada da produção em Pernambuco, com 'Baile
Perfumado' (de Lírio Ferreira e Paulo Caldas), as relações
entre o cinema e a música do movimento manguebeat são
bem estreitas. Basta lembrar a música de Chico Science
na cena de abertura do filme”, diz o crítico e professor de
cinema Alexandre Figueiroa, da Universidade Católica de
Pernambuco. “Em outros filmes, como 'Amarelo Manga' (de
Cláudio Assis), os músicos do movimento também estão
presentes com músicas, cuidando da trilha, a exemplo de
Siba, DJ Dolores, Fred Zero Quatro, entre outros”, continua.
Filme: Explosão Brega
Filme: O Som ao Redor
Para o professor, as mesmas preocupações alimentam
esteticamente a música e o cinema feitos no estado. “Eu
acredito também que há uma aproximação de ideias e traços
estilísticos compartilhados entre alguns filmes e a produção
musical local: um certo compromisso de abordagem social
nas obras, uma estética que mescla gêneros e ritmos, um
olhar sobre a realidade flagrando o cotidiano das ruas”,
explica. “Há, portanto, um diálogo entre a cena musical e a
cinematográfica.”
“Desde os anos 1990, a movimentação musical da cidade
estimulou muito quem trabalha com cinema ou qualquer outra
coisa criativa”, lembra Kléber Mendonça Filho, confirmando
que o binômio música e imagem compõe um ecossistema de
permanente retroalimentação no Recife. “Foi muito natural
que o cinema levasse uma injeção na veia da música feita na
cidade. Os filmes de Cláudio (Assis), por exemplo, quase todos
têm grandes direções musicais de Pupillo, Jorge du Peixe ou
Lúcio Maia”.
Do começo dos anos 1990 para cá, mais de trinta longas
foram produzidos em Pernambuco. Uma filmografia com,
pelo menos, uma centena de importantes prêmios nacionais
e internacionais. Apenas “O Som Ao Redor”, a aclamada obraprima de Kléber Mendonça Filho, já é dono de 34 prêmios,
entre eles o de melhor filme no Festival do Rio e na Mostra
de São Paulo e o especial da crítica do festival de Roterdã,
na Holanda. Hélder Aragão foi convidado por Mendonça para
fazer o som do longa. Não apenas ilustrando, mas imprimindo
sua crônica musical a respeito das questões abordadas na
obra. “Hélder, acima de tudo, é um amigo, é talentoso, compõe
bem e tem uma grande capacidade de entender e reprocessar
o que você está falando”, elogia o cineasta. “Somos da mesma
geração, temos o mesmo senso de humor. Ele reagiu de
maneira muito forte ao filme e pareceu entender muito bem o
que eu estava falando.”
“Esse é o grande lance”, resume Otto. “Faço música para um
disco que acaba ficando no filme de um amigo. Ou para um
filme que acaba indo parar num disco meu”, diz o Galego,
como é chamado pelos amigos do Recife.
Para fechar o filme sobre o Recife caoticamente urbano e ainda
herdeiro das tensões entre casa grande e senzala, Mendonça
usou a música “Setúbal”, composta por Hélder para o médiametragem “Enjaulado” (1997), espécie de pontapé para a
temática que o diretor abordaria em “O Som Ao Redor”. “Essa
música soa como se fosse a base de uma crônica, é lacônica.
Ela abre 'Enjaulado' e fecha 'O Som...'.”
Na cidade, corre um termo sociologicamente intuitivo
sobre o processo de criação colaborativista: “brodagem”.
Implicitamente, ele explica que criações podem se dar
mais por afinidades estéticas e afetivas que por editais de
patrocínio. Lúcio Maia e Jorge du Peixe, por exemplo, estavam
fazendo a direção musical de “Amarelo Manga”, o retrato do
Recife pelo avesso de suas artérias filmado por Cláudio Assis
em 2002. Mas não estavam na cidade a tempo de enviar a
música-tema que seria cantada, à capela, por Matheus
Filme: Tatuagem
Foto: Flávio Gusmão
“Enjaulado”, aliás, é tido por Renato L, um dos autores do
Manifesto Manguebeat, como uma das primeiras coletâneas,
já no começo dos anos 90, da nova cena pop do Recife. No CD
derivado do filme, hoje esgotado, estão nomes que fizeram a
música tomar corpo e artérias no Recife noventista, entre eles
as bandas Eddie, Paulo Francis Vai pro Céu, Lara Hanouska
e Faces do Subúrbio, bem como o então novato Otto, recémsaído da bateria da Mundo Livre S.A. Ele participa com “TV
a Cabo”, canção do seu disco de estreia, “Samba Pra Burro”.
Filme: Jardim Atlântico
Foto: Gilvan Barreto
Filme: Recife Frio
reportagem : UBC/19
18/UBC : reportagem
Filme: Canção Para Minha Irmã
Foto: Pedro Sotero
Nachtergaele no bar/pensão/inferninho onde os personagens
gravitam. “Otto estava na cidade, e o chamei. Ele fez a canção
de improviso, na hora”, lembra o diretor. “Eu fiquei embaixo
da mesa (no set), cantando baixo, para Matheus poder repetir
em quadro”, lembra Otto, agora às voltas com a criação da
trilha sonora original do próximo filme de Lírio Ferreira, “Azul
Acrílico”. “Ainda estamos discutindo, não sei como vai ser”.
Ao explicar o processo de criação da trilha, Cláudio Assis é
incisivo, metódico: “O músico tem que estar junto, tem que
ir ao set para sentir o clima. É parte efetiva da equipe”, diz
ele, às voltas, agora, com Hélder Aragão para a construção da
sonoridade de seu próximo filme. Adaptação do romance de
Xico Sá, “Big Jato” percorrerá os caminhos errantes de um
limpador de fossas no interior do Nordeste dos anos 1970 que é
fissurado pelos Beatles. “Além de não ter dinheiro para comprar
os direitos das músicas dos Beatles, acho que será melhor,
mais legal, se criarmos algo novo. Talvez até, claro, com uma
musicalidade inspirada nos Beatles, já que, naquele momento,
havia tantas bandas que faziam música inspirada neles.”
Marco na relação carnal entre imagem e som no cinema
pernambucano, “Baile Perfurmado”, ainda nos anos 1990,
teve na sua trilha nomes fundamentais da música do
estado naquele momento: Nação Zumbi, Mundo Livre S.A.
e Mestre Ambrósio, além do veterano Alceu Valença. Agora
terminando as filmagens de “Sangue Azul”, longa sobre
uma história de amor numa ilha, seu codiretor Lírio Ferreira
confirma ser a música ainda fonte primal de energia para
a sétima arte. “Certamente o cinema pernambucano não
seria a mesma coisa se não tivesse tido, como ainda tem, o
impulso da música”, afirma Ferreira, que conta com a direção
de Pupillo, da Nação Zumbi, para ver seu filme musicado por
gente como Ortinho, Arto Lindsay, Otto, Marina de La Riva e
Junio Barreto.
“Eu estava na escola ainda e gazeava aula para ver a gravação
da trilha do 'Baile'. Queria ver como funcionava música com
imagem”, lembra o músico Tiago Andrade, o Zé Cafofinho,
responsável pela trilha de dois longas recentes: “Uma Canção
Para Irmã” e “Épico Culinário”, ambos de 2011. O segundo é
um filme-arte do artista Paulo Caldas sobre lendas populares
do horror pernambucano. Já no primeiro, dirigido por Pedro
Filme: Recife de Dentro para Fora
Severien, Cafofinho, além de compor a canção-título, viveu o
protagonista: um preso que volta para reencontrar a família
depois de a cidade ser devastada por uma enchente.
A convivência íntima da música com o cinema em
Pernambuco faz, frequentemente, outros músicos cruzarem a
fronteira. José Wilson de Castro Temotéo Jr., mais conhecido
pela alcunha de Júnior Black, tem seu nome nos créditos de
mais de dez fitas. Mas só em uma figura como músico. Nas
outras, é ator. “Mas foi a música que me levou para o cinema”,
diz o ex-vocalista do Negroove, hoje em carreira solo com um
elogiado disco em que imprime suas digitais de soulman à
música contemporânea de Pernambuco. “Eles (os cineastas)
viram que eu tinha desenvoltura no palco. A partir daí,
começaram a me chamar”, lembra Black, que teve seu début
no longa “Amigos de Risco” (2007), de Daniel Bandeira. Ao
lado do experiente Irandhir Santos (de, entre outros, “Tropa de
Elite” e “Tatuagem”), compunha, na película, uma tríade de
amigos em aventuras pela noite suburbana do Recife.
Outra participação marcante de Black na filmografia
recente do Estado é como um vendedor de artesanato no
(impagável) curta “Recife Frio”, de Kléber Mendonça Filho.
Na trama que mostra como a capital pernambucana se
comportaria se sofresse uma irreversível conversão térmica,
Filme: Recife Frio
Black comercializa bonecos de barro ao estilo do Mestre
Vitalino adornados com gorros e cachecóis. “Me sinto muito
confortável no set, sou um amostrado”, brinca.
Filme: Jardim Atlântico
Foto: Gilvan Barreto
A primeira vez em que Black cantou num filme foi em
“Tatuagem”, em que terça a voz com Ylana Queiroga na
canção-hino “Polca do Cu”. O próprio diretor, Hilton Lacerda,
aliás, é coautor da música com o DJ Dolores. “Todas as
músicas foram construídas já no roteiro. É uma música de
revista, de fácil apelo”, diz Hiltinho, como é conhecido.
A fertilidade musical de Pernambuco (ainda que conte
com músicos parceiros de outras praças) inspira até filmes
francamente musicais. No longa “Jardim Atlântico”, de Jura
Capela, filmando entre Olinda, Recife, Fernando de Noronha
e Petrópolis (RJ), um dionisíaco e algo diabólico triângulo
amoroso é usado como fio narrativo para algumas das mais
belas sequências musicais do novo cinema brasileiro. Sob
a direção musical de Pupillo, da Nação Zumbi, Jura reuniu
um belo extrato da nossa música contemporânea: Guisado,
Fernando Catatau, Junio Barreto, Lirinha, Roger Man,
Emiliano Sette, Ava Rocha, Mariana de Moraes e Céu, num
plano-sequência de mais de quatro minutos em que realiza
a interpretação provavelmente mais sexy que “Aquarela do
Brasil” já recebeu.
"A presença de Pupillo como diretor musical foi imprescindível.
Ele tem a capacidade de unir e gerir todo mundo”, diz Jura.
“Eu pensava em usar fonogramas antigos, e ele sempre
insistia: 'não, vamos chamar nossa galera, as pessoas que
estão produzindo música agora'”, conta. “Na cena do surto do
personagem Pierre, a ideia era homenagear o emblemático
disco 'Paebiru', de Lula Cortes e Zé Ramalho. Pupillo entrou
com a música, e Lirinha, com a letra. O resultado final, a canção
'Demantello', é exatamente o que eu imaginei para a cena.”
Embora alguns críticos e historiadores da arte brasileira
vejam a música pernambucana feita a partir do manguebeat
como o movimento mais importante do Brasil pós-tropicalista
e como algo reconhecível por certos elementos, não é
consenso que essa produção seja uniforme. Mesmo que o uso
de novas tecnologias e de peças da cultura popular, como o
coco e o maracatu, sejam (quase) constantes, as sonoridades
são díspares. “O que nos une são dados geracionais, o fato
de compartilharmos das mesmas informações ou termos
uma perspectiva semelhante de mundo”, conceitua Dolores.
“Embora todos se ajudem, e até discutam entre si, ninguém
quer ser igual a ninguém”, corrobora Cláudio Assis, que
continua: “Acho que nunca houve, nem na época da bossa
nova, um movimento musical tão presente no cinema como
a música feita em Pernambuco. Uma música de muitas
sonoridades feita para um cinema de vários estilos.”
Direitos
autorais:
questão
de estudo
“O direito da propriedade intelectual, em geral, e o direito
autoral, em particular, são disciplinas muito pouco estudadas
nas faculdades brasileiras. É até um contrassenso, considerando
que vivemos num tempo em que a maior parte do valor das
empresas está lastreada em ativos intangíveis, como marcas,
patentes, conteúdo e tecnologia, que são, em grande parte,
protegidos por direitos de propriedade intelectual”, analisa o
advogado Cláudio Lins de Vasconcelos, um dos membros da
comissão julgadora, integrada ainda pela diretora-executiva
da UBC, Marisa Gandelman, e pelo advogado especialista em
direitos autorais Sydney Sanches.
II Concurso Nacional de
Monografias, promovido
pela UBC e o Instituto dos
Advogados Brasileiros (IAB),
tem resultado anunciado
Por Bruno Calixto, do Rio
A luta pelos direitos autorais é constante e coletiva. A fim de
enriquecer o debate em torno de uma questão em permanente
ameaça, a UBC e o Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB),
com apoio da Publit Soluções Editoriais, promoveram este ano
o II Concurso Nacional de Monografias, Dissertações e Teses
Sobre Direito Autoral, cujos resultados foram anunciados em
março. A grande vencedora foi Larissa Lacerda de Oliveira
e Souza, de Salvador. Com o trabalho “A Pirataria de CDs:
Processos Descriminalizatório e Criminalizatório”, que
apresentou na conclusão da sua graduação em Direito pela
Universidade Federal da Bahia (UFBA), ela discorreu sobre o
foco equivocado da ação repressora do Estado numa sociedade
habituada à pirataria.
“O objetivo foi expor os problemas decorrentes de uma
dubiedade: a criminalização da pirataria pelo Estado e a
descriminalização pela prática da população”, ressalta a
primeira colocada, premiada com R$ 3 mil, um certificado de
reconhecimento, a publicação digital do trabalho e a elaboração
de uma matriz para impressão. “O resultado da minha pesquisa
foi a demonstração de que a pena de prisão não é eficaz para a
pirataria. O encarceramento não traz ressarcimento ao artista,
e sim ao Estado. Além disso, o indivíduo preso pode aprender
outras práticas criminosas na ‘escola do crime’ que é nosso
sistema prisional. A ação do Estado precisa ser repensada.”
Em segundo e terceiro lugares vieram Elvira Carolina Scapin
Martins, de Belém, e Bruna Schlisting Machado, de Canoas
(RS). Segundo as regras estabelecidas no edital lançado
em fevereiro, os trabalhos foram avaliados de acordo com a
adequação ao tema, a atualidade e a originalidade, além de sua
contribuição para o debate acerca dos direitos autorais.
primeiro lugar - Larissa Lacerda
A segunda colocada, Elvira Carolina Scapin Martins, que
recebeu R$ 2 mil, certificado, publicação digital e matriz para
publicação, concluiu o curso de Economia na Universidade
Federal do Pará (UFPA) com a monografia “Fatores de
Consolidação da Pirataria e seu Reflexo no Mercado da
Música: Algumas Considerações sobre o Mercado Consumidor
de Belém”. A importância de estudar esse crime, como
sublinha, está em poder observar os efeitos provocados no
mercado. “Se, por um lado, as grandes gravadoras veem seus
lucros diminuindo ao longo dos anos, o que acarreta menor
contratação de artistas novos, por outro os artistas ganham
novas fontes de distribuição de seu trabalho. É o caso dos
artistas do tecnobrega, que, no início, tiveram de recorrer à
venda de mídias piratas para se fazer conhecidos”, ela explica.
Bruna Schlisting concorreu com “Os Limites dos Direitos
Autorais dos Compositores Musicais em Razão do Acesso
Público às Composições Musicais”, publicado pelo Centro
Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), em Canoas.
Fotos: Arquivo pessoal
20/UBC : notícias
serviço : UBC/21
“Eu gostaria de entender melhor
todas as mudanças recentes
que ocorreram na distribuição
do músico acompanhante.”
Bruno Coelho (Músico Acompanhante Chimarruts/Solarise)
REVISTA UBC:
A mudança mais importante foi no modo como a distribuição
do músico acompanhante é feita e nos meses em que o músico
passará a receber a maior parte dos valores destinados a ele.
O músico acompanhante tem um percentual da verba
arrecadada destinado à sua distribuição. Na maior parte dos
segmentos de distribuição (rubricas) quando há utilização
de fonogramas, 2/3 dos valores são destinados à parte
autoral e 1/3 à parte conexa. Desta parte conexa, 16,6% são
direcionados à rubrica de músico acompanhante.
“A possibilidade de acesso (principalmente digital) mais barato,
fácil e livre demonstra, atualmente, a ilicitude generalizada que
esse ramo da ciência jurídica tem sofrido. Daí minha prioridade
em desenvolver e demonstrar, minuciosamente, os direitos
autorais dos compositores musicais em razão do acesso público
a essas composições”, pondera Bruna, premiada com um
certificado e mil reais. Anteriormente, até 2012, os rendimentos destinados aos músicos
eram distribuídos para os 650 fonogramas mais executados
nas rádios e 600 nas TVs abertas. Anunciamos em agosto de
2012 um planejamento de aumentar este número amostral
gradativamente, até que fosse possível que todos os músicos
participantes de fonogramas contemplados na distribuição
também recebessem valores. Em novembro de 2012, a
amostragem passou para 2.600 fonogramas mais executados
nas rádios, além dos 600 mais executados na TVs abertas.
Sob o ponto de vista jurídico e econômico, os trabalhos
convergem numa questão: a importância de tratarmos do
direito autoral num momento histórico cada vez mais digital
e menos material. “Não é mais possível se falar em mídia e
entretenimento, em escala industrial, sem falar na internet e
em tudo que ela representa, inclusive o compartilhamento de
conteúdo”, diz Cláudio Lins de Vasconcelos.
A partir de janeiro de 2014, todos os músicos acompanhantes
participantes de fonogramas contemplados em qualquer
distribuição são beneficiados, incluindo Rádio, TV Aberta, TV
por Assinatura, Cinema, Casas de Festa, entre outras. Além
disso, a distribuição passou a ser feita junto com a rubrica de
origem do crédito, tornando extinta a distribuição especial de
músico acompanhante em fevereiro, maio, agosto e novembro.
Elvira Scapin discorreu sobre a diferença de pirataria física
(CDs e DVDs) e digital (descargas na internet). Apesar de
ambas as formas de distribuição não terem consentimento
formal (na maior parte dos casos) e remuneração aos
criadores, a primeira é mais diretamente associada pelas
pessoas a uma atitude criminosa, uma vez que há agentes
que se beneficiam indevidamente com a venda do produto
(distribuidores, vendedores). No segundo caso, como não há
monetização aparente, os consumidores tendem a minimizar
a irregularidade.
Então, se o músico participou de um fonograma executado
em dezembro de 2013 na TV Globo, por exemplo, ele receberá
seus rendimentos junto com a distribuição de TV Aberta em
abril de 2014. Veja o calendário de distribuição para saber
quando é distribuída cada rubrica.
segundo lugar - elvira scapin
terceiro lugar - Bruna Machado
Esta mudança permitirá que os fonogramas que não entravam
no ranking de mais executados na TV ou no rádio também
tenham seus músicos contemplados. A verba de músico será
distribuída entre um maior número de titulares.
É claro que para que o músico receba seus direitos ele deve
estar corretamente registrado no ISRC, que é o documento
enviado pelo produtor fonográfico para a UBC onde são
informados a música utilizada, os intérpretes, o produtor
fonográfico, os músicos e outras informações sobre o
fonograma. Além disso, quem utilizou o fonograma deve
ter efetuado o pagamento dos direitos autorais ao Ecad e a
execução precisa ter sido informada ou captada.
Outra mudança importante é que agora os músicos
acompanhantes que também são intérpretes em dado
fonograma, podem receber os dois créditos, como músico e
como intérprete.
22/UBC : DISTRIBUIÇÃO
Ecad cria nova rubrica:
Sonorização
Ambiental
Revista UBC #20
Mudança torna mais precisa
a distribuição dos valores
arrecadados de usuários como
lojas e outros estabelecimentos
comerciais que usam músicas
em seus ambientes. REPASSE
já começa em julho
Em busca do aprimoramento dos repasses de pagamentos
de direitos autorais, o Ecad criou uma nova rubrica de
distribuição: Sonorização Ambiental. Segundo o órgão, a
proposta visa a garantir uma remuneração mais justa. A nova
rubrica se caracteriza pela distribuição dos valores de direitos
autorais arrecadados exclusivamente de estabelecimentos
comerciais com música ambiente, como lojas, supermercados
e shoppings centers. A nova modalidade contempla os
titulares de direitos de autor e conexos (músicos, produtores
e intérpretes).
“Anteriormente,
os
valores
arrecadados
nesses
estabelecimentos eram distribuídos tomando como base
uma amostra de músicas captada pelo Ecad de programações
de rádio e televisão”, explica o gerente de distribuição do
Ecad, Mario Sergio Campos. “Agora, a nova rubrica tem um
repertório específico a fim de garantir uma remuneração
cada vez mais justa aos titulares, além de incentivar a cadeia
produtiva musical.”
A administração do Ecad detalha que a amostra desse
novo segmento é composta por 25 mil execuções musicais
trimestrais, captadas através da fixação do equipamento
Ecad Tec Som em estabelecimentos comerciais adimplentes,
que permite a gravação de músicas de forma digital e
automática. A metodologia foi certificada pelo Instituto Ibope
Inteligência, assim como as amostras utilizadas em mais
outros seis segmentos: Rádio, Casas de Diversão, Casas de
Festas, Música Ao Vivo, Carnaval e Festa Junina.
A periodicidade da distribuição do segmento será trimestral.
O primeiro repasse será já em julho, referente às captações
das músicas executadas nos meses de janeiro, fevereiro e
março deste ano.
Nos últimos cinco anos, as associações de música, a UBC
entre elas, e o Ecad vêm buscando segmentar a distribuição
de direitos autorais por meio da criação de rubricas
específicas. Desde então, entraram no mercado 13 rubricas
de distribuição, beneficiando titulares que têm suas músicas
executadas exclusivamente em determinados segmentos.
Entenda como funciona
a distribuição
As distribuições de direitos autorais de execução pública
obedecem a um calendário regular, em que constam as
rubricas contempladas de janeiro a dezembro. As distribuições
ocorrem com as seguintes periodicidades:
Mensal
Shows e liberação de créditos protegidos
Trimestral
TV Aberta, Rádio, Direitos Gerais, Música ao Vivo, Sonorização
Ambiental, Casas de Festas e Casas de Diversão
Semestral
TV por Assinatura, Cinema e Mídias Digitais
Anual
Carnaval, Festa Junina e Movimento Tradicionalista Gaúcho
As distribuições trimestrais ocorrem nos meses de janeiro,
abril, julho e outubro e reúnem a maior parte dos valores
distribuídos ao longo do ano.
A variação no valor total distribuído a cada mês é
influenciada pelo número e pela característica de rubricas
que estão sendo distribuídas. Nos meses da chamada
distribuição trimestral se concentram os valores mais altos
em comparação com os demais.
A nossa música é 10
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mês
jan
mês
fev
mar
mês
mês
abr
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rubrica
rubrica
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distribuição trimestral*
tv por assinatura
cinema
distribuição trimestral*
período de
captação
período de
captação
período de
captação
período de
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julho a setembro
janeiro a junho
setembro a fevereiro
outubro a dezembro
mês
mai
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jun
mês
jul
mês
ago
rubrica
rubrica
rubrica
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mídias digitais
distribuição trimestral*
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captação
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julho a dezembro
janeiro a março
julho a dezembro
mês
set
mês
out
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nov
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dez
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rubrica
rubrica
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cinema
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movimento
tradicionalista gaúcho
mídias digitais
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captação
período de
captação
período de
captação
março a agosto
abril a junho
janeiro a junho
rubrica
festa junina
*Distribuiçãotrimestral:
Rádio, TV ABERTA, Direitos Gerais, Música ao Vivo, casas de
diversão, casas de festas e sonorização ambiental.
Observações:
a distribuição de shows e créditos protegidos ocorre todos os meses.
a distribuição de músicos acompanhantes ocorre
junto a todas que utilizam fonogramas.
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