CAMPINAS PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia TRABALHOS E RESUMOS 2006 Campinas/SP – Brasil PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS Pró-Reitoria de Pesquisa Programa de Pós-Graduação em Psicologia MANTENEDORA Sociedade Campineira de Educação e Instrução GRÃ-CHANCELARIA Dom Bruno Gamberini REITORIA Prof. Pe. Wilson Denadai PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO Profa. Dra. Vera Engler Cury DIRETORA DO CENTRO CIÊNCIAS DA VIDA Profa. Dra. Miralva Aparecida de Jesus Silva COORDENADORA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA Profa. Dra. Raquel Souza Lobo Guzzo PRESIDENTE DO EVENTO Profa. Dra. Elisa Medici Pizão Yoshida Sumário Apresentação.……………………………………………………………………………... ii Programação............................................................................................................. iii Comissão Organizadora e Comissão Científica ....................................................... v Apoio e Promoção.................................................................................................... vi Trabalhos............................................................................................................... 001 Resumos............................................................................................................... 199 Índice de Trabalhos e Resumos............................................................................ 318 i Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Apresentação O Programa de Pós Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas abriga, atualmente, seis grupos de pesquisa que têm entre seus objetivos a pesquisa em psicoterapias. O trabalho de cada um vem se intensificando nos últimos anos, dando origem a uma ampla produção científica que necessita ser socializada e discutida. O Simpósio tem como objetivo abrir um espaço para que alunos e professores possam debater sobre as pesquisas em curso no Programa, estabelecendo um diálogo que certamente será profícuo a todos. Além disso, traz convidados pesquisadores externos para apresentar as pesquisas em psicoterapias de diferentes orientações teóricas, possibilitando o enriquecimento e a interlocução do Programa com outras instituições de pesquisas, inclusive de âmbito internacional. Comissão Organizadora ii Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Programação Dia 21 8:00 / 8:30h INSCRIÇÕES Profa. Dra. Vera Engler Cury - Pró-reitora de Pesquisa e Pós Graduação PUC-Campinas e Profa.do Programa de Pós Graduação em Psicologia; Profa. Dra. Miralva Aparecida de Jesus Silva - Diretora do Centro de Ciências da Vida da PUC-Campinas; 8:30 / 9:00h 9:00 / 10:30h 10:30/11:00h ABERTURA CONFERÊNCIA INTERVALO Prof. Dr. José Gonzaga T. de Camargo, Diretor-Adjunto do Centro de Ciências da Vida da PUC-Campinas; Profa. Dra. Raquel Souza Guzzo - Coordenadora e Profa. do Programa de Pós Graduação em Psicologia da PUC-Campinas. "Da terapia comportamental à terapia cognitivo comportamental: uma história de 35 anos." / Prof. Dr. Bernard Pimentel Rangé – UFRJ. - Quando o corpo reclama: a terapia cognitivo comportamental de distúrbios psicofisiológicos / Profa.Dra. Marilda Emmanuel Novaes Lipp - PUCCampinas (coordenadora); MESA REDONDA 11:00/ 12:30h Pesquisas em psicoterapia cognitivo comportamental - Comprovações biológicas do treino de controle do stress: abordagem cognitivo-comportamental / Profa. Dra. Lúcia Emmanoel Novaes Malagris UFRJ; - A terapia cognitivo-comportamental aplicada à infância e à adolescência / Profa. Dra. Valquíria Aparecida Cintra Trícoli - Associação Brasileira de Stress; - O tratamento do stress - Prof. Dr. Jose Antonio Carrobles Isabel Universidad Autônoma de Madrid. 12:30 /13:30h ALMOÇO 13:30/ 15:00h CONFERÊNCIA 15:00/ 15:30h INTERVALO MESA REDONDA 15:30 /17:00h 17:00/ 18:00h A pesquisa em psicoterapia sob a perspectiva da análise do comportamento: SESSÃO DE PÔSTERES O acesso a eventos encobertos na pesquisa clínica em análise do comportamento / Prof. Dr. Roberto Alves Banaco - PUC-SP. - Pesquisas do laboratório de análise do comportamento, saúde e reabilitação / Profa. Dra.Vera Lúcia Raposo do Amaral - PUC- Campinas (coordenadora); - Terapia analítico-comportamental / Prof. Wilton de Oliveira - PUCCampinas; - Análise do comportamento e o transtorno dismórfico corporal / Ms. Kátia Perez Ramos - PUC-Campinas. Páteo sob o Prédio Administrativo iii Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Dia 22 9:00 /10:30h CONFERÊNCIA 10:30/11:00h INTERVALO MESA REDONDA 11:00 /12:30h Pesquisas em Psicoterapia Humanista: desafios e perspectivas 12:30 /13:30h ALMOÇO 13:30/ 15:00h CONFERÊNCIA 15:00/ 15:30h INTERVALO MESA REDONDA 15:30 /17:00h 17:00/ 18:00h Pesquisas em psicoterapias psicanalíticas e psicanálise SESSÃO DE PÔSTERES Psicoterapia humanista e a contemporaneidade/ Profa. Dra. Maureen Müller O’Hara - Saybrook Institut, São Franciso, CA. - Pesquisa fenomenológica do Laboratório de Psicologia Clínica Social/ Profa. Dra. Vera Engler Cury- PUC-Campinas; -Abordagem centrada na pessoa e o plantão psicológico/ Profa. Dra. Marcia Alves Tassinari - U.Estácio de Sá; -A psicoterapia é uma antropologia?/ Prof. Dr. Mauro Martins Amatuzzi- PUCCampinas. La investigacion de procesos y resultados em psicoterapia psicodinâmica focal / Profa. Dra. Denise Defey - Universidad de la Republica, Uruguai. - Pesquisa psicanalíticas do Laboratório de Psicologia Clínica Social/ Profa.Dra. Tânia Aiello Vaisberg - Puc-Campinas/ USP (coordenadora); - À guisa de “resultados de pesquisa” /Profa. Dra. Jussara Falek Brawer - USP e Prof. Dr. Jean Pierre Pétard - Université de Nantes; Psicanálise baseada na evidência:sintomas e relacionamentos/ Prof. Dr. José Tolentino Rosa- USP/UMESP. Páteo sob o Prédio Administrativo. Dia 23 9:00 / 10:30h CONFERÊNCIA 10:30/11:00h INTERVALO Mudança em Psicoterapia Breve Infantil / Profa Irani Tomiatto de Oliveira Universidade Presbiteriana Mackenzie - Avaliação de mudança em psicoterapia:processo intensivo de caso único / Profa. Dra. Elisa Medici Pizão Yoshida – PUC-Campinas (coordenadora); MESA REDONDA 11:00 / 12:00h 12:00 /13:00h 13:00/ 14:00h Pesquisas em psicoterapia psicodinâmica ALMOÇO SESSÃO DE PÔSTERES 14:00/ 15:00h CONFERÊNCIA 15:00/ 15:30h INTERVALO MESA REDONDA 15:30 /17:00h 17:00/ 18:00h O aparelho Psíquico grupal:construções de grupos ENCERRAMENTO - Delineamentos metodológicos e a pesquisa de psicoterapias/ Profa. Dra. Maria Leonor Espinosa Enéas - U. Presbiteriana Mackenzie; - Psicoterapias psicodinâmicas breves com enfoque preventivo: pesquisa de resultados e acompanhamento/ Prof. Dr. Tales Vilela Santeiro -Universidade de Franca. Páteo sob o Prédio Administrativo Construções para uma teoria dos grupos / Prof. Pablo de Carvalho GodoyCastanho – USP - Estudos psicanalíticos sobre grupos / Prof. Dr. Antonios Térzis - PUCCampinas (coordenadora); - O grupo de casais / Ms. Eliane Vergínia Rovigatti Gasparini - PUC-Campinas; - Experiências com grupos nas instituições Márcio Chevis Svartman / PUCCampinas. Profa. Dra. Raquel Souza Guzzo - Coordenadora do Programa de Pós Graduação em Psicologia da PUC-Campinas. iv Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Comissão Organizadora Elisa Medici Pizão Yoshida – Pontifícia Universidade Católica de Campinas Tânia Ailleo Vaisberg – Pontifícia Universidade Católica de Campinas Vera Engler Cury – Pontifícia Universidade Católica de Campinas Comissão Científica Antonios Terzis – Pontifícia Universidade Católica de Campinas Berenice Victor Carneiro – Centro Universitário Padre Anchieta Denise Defey – Universidade da República do Uruguai Gláucia Mitsuko Ataka da Rocha – Universidade Presbiteriana Mackenzie Lúcia Novaes Malagris – Universidade Federal do Rio de Janeiro Luis Fernando Galvão – Pontifícia Universidade Católica de Campinas Maria Leonor Espinosa Enéas – Universidade Presbiteriana Mackenzie Marilda Emmanuel Novaes Lipp – Pontifícia Universidade Católica de Campinas Mauro Martins Amatuzzi – Pontifícia Universidade Católica de Campinas Sebastião Elyseu Júnior – Pontifícia Universidade Católica de Campinas Vera Lúcia Raposo do Amaral – Pontifícia Universidade Católica de Campinas v Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Apoio Elisa Frederich Penteado Fabrícia Medeiros Sanches Fernanda Robert de Carvalho Santos Silva Ítor Finotelli Júnior Departamento de Comunicação – Pontifícia Universidade Católica de Campinas Promoção Pontifícia Universidade Católica de Campinas Centro de Ciências da Vida Programa de Pós Graduação em Psicologia vi Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Trabalhos 1 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 A Arteterapia como um novo campo do conhecimento Irene Gaeta Arcuri Marília Ancona-Lopez Pontifícia Universidade Católica de São Paulo [email protected] “Temos arte para que a realidade não nos mate” Nietzsche A Arteterapia é um novo campo do conhecimento, um campo de interfaces, interdisciplinar por natureza. Ao se constituir como um novo campo do saber, a Arteterapia se depara com a interlocução entre várias áreas do conhecimento: antropologia, arte, psicologia, neurologia, psiquiatria, filosofia, sociologia, etc, enfim, fazendo várias interlocuções, sem que seja possível que não seja assim. Inter é sufixo latino que significa “entre”, “no meio de”. O termo “interface” carrega em si a idéia de que há uma superfície de contato, de articulação entre espaços de realidades diferentes, que pode ser mais ou menos amplo e que varia de momento para momento, ou seja, nunca é estanque. E para que dois elementos funcionem em conjunto é necessária uma conexão, ou várias. Desta maneira podemos pensar que se trata de uma área do conhecimento interdisciplinar por excelência, a qual não pretende a unidade de conhecimentos, mas a parceria e a mediação dos conhecimentos parcelares na criação de saberes. Trata-se de um exercício que requer responsabilidade pelo pensamento, pelas idéias, pelas ações e pelos sentimentos, viabilizando o conhecimento por meio de competências multifacetadas, incluindo uma racionalidade aberta e acolhedora, pois a emergência das emoções e também da intuição deve necessariamente estar incluída no processo como um todo. Certamente, não se trata de uma proposta simples, já que, neste sentido, a Arteterapia não apresenta um escopo de conhecimento básico exclusivamente seu, como seria o caso da biologia, por exemplo, ou da psicopatologia, entrando então estas em contato com outras disciplinas; o que ocorre, a meu ver, é o surgimento de um novo saber a partir de múltiplos outros saberes, o que suscitaria porventura o termo “transdisciplinaridade” como o mais correto para designar o caminho que se descortina à nossa frente. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 2 A perspectiva transdisciplinar requer a eficácia de uma dialógica, abertura para escutar o que se passa em outras esferas do conhecimento, mesmo mantendo posição divergente, pois é impossível saber tudo e, diferentemente da ciência cartesiana, na Arteterapia, conhecimentos divergentes não são necessariamente excludentes. A transdisciplinaridade aparece como um movimento de reconhecimento do espírito e da consciência, uma consciência nova de realidade e, a bem da verdade, uma nova realidade. È uma conciliação que resulta da compreensão e do re-equilíbrio entre o saber produzido e as necessidades interiores do Homem. Portanto, a transdisciplinaridade instala-se na interação entre o sujeito e o objeto, na compreensão de que a realidade é multidimensional, ou parafraseando Jung (1964, p.23), diante do infinitamente grande e do infinitamente pequeno: “não importa até onde o Homem estenda os seus sentidos, sempre haverá um limite à sua percepção consciente”, e a Arteterapia busca, no próprio cerne do seu nascimento, do seu desenvolvimento e da sua proposta, transcender este limite. Fazendo uso da arte como ferramenta de trabalho, a Arteterapia exalta e liberta as qualidades do indivíduo na práxis da vida, ajudando-o a sentir-se, pensar-se e a agir de acordo consigo mesmo, criando um canal de comunicação entre seus conteúdos conscientes e seus conteúdos inconscientes, ao longo de sua existência. Trabalhando a criatividade, dando forma, cor, expressão aos sentimentos inonimados, conexões são feitas e novos significados podem ser atribuídos a velhas situações vividas que não puderam ter livre canal de expressão no momento em que ocorreram. A arte devolve a liberdade à alma aprisionada pelo vazio, pelo medo, ou ainda pelos sentimentos não nomeados (Arcuri, 2004), e leva à concretização dos anseios das necessidades interiores do ser humano. Arteterapia pode ser considerada como a utilização de recursos artísticos em contextos terapêuticos, baseando-se na percepção de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Age a serviço das leis da necessidade interior do Homem e facilita o entrar em contato com o poder criador de cada um, permitindo transpor para o exterior o que ocorre – via de regra, de maneira caótica – no interior, levando assim o paciente a poder observar, refletir, interagir, dialogar e elaborar. Proporciona o reconhecimento da dinâmica psíquica que é uma via de acesso à totalidade de ser. O arteterapeuta amplia e desdobra o potencial do processo de criação do ser humano, como que num processo alquímico, ou como diria são Tomáz de Aquino 3 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 citando Avicenna em seu Tratado da Pedra Filosofal: “tudo aquilo que existe em potência pode ser reduzido em ato”. As percursoras da Arteterapia foram Margaret Naumburg, em 1941, e Edith Kramer, em 1958. Naumburg foi responsável por sistematizar a Arteterapia. Começou a desenvolver sua teoria a partir do âmbito educacional e fez algumas relações com trabalhos realizados de forma espontânea. Suas técnicas de Arteterapia eram baseadas na pressuposição de que todo individuo pode projetar seus conflitos em formas visuais. Com abordagem psicanalítica, fazia uso da associação livre no trabalho de arte espontâneo, o qual era compreendido como uma projeção do inconsciente. Posteriormente Janie Rhyne em 1973, e Natalie Rogers, em 1974, contribuíram de forma significativa para a história da Arteterapia explicando como o processo criativo acontece. Rhyne uniu a teoria gestáltica ao trabalho com arte. O foco do seu trabalho foi a experiência vivida no presente, na teoria do contato, na sensibilização e no conceito praticamente intraduzível de awareness. Na experiência gestáltica de arte, o processo criativo acontece na medida em que as pessoas expressam suas emoções, confiando e usando suas percepções sensoriais. A Arteterapia surge então como uma profissão e, em 1969, foi fundada a American Art Therapy Association. No Brasil, em 1925, Osório César começou a utilizar a Arteterapia no Juqueri e, posteriormente, a psiquiatra Nise da Silveira, em 1946, começou a desenvolver também um trabalho arteterapeutico no Rio de Janeiro, particularmente no atendimento de esquizofrênicos, criando mais tarde o Museu do Inconsciente. Atualmente temos vários cursos de Arteterapia distribuídos por todo o país; os mesmos têm crescido de forma rápida, e podemos dizer que a emergência e a consolidação do ensino e da pesquisa em Arteterapia no âmbito da Universidade e fora dela é um significativo evento científico dos últimos dez anos no Brasil. Este crescimento tão rápido parece ocorrer para atender as demandas do ser humano que, na atualidade, podem estar entorpecidos pela tecnologia e pelas doutrinas materialistas com suas tendências meramente utilitárias. A Arteterapia pode prover a alma de sua necessidade de libertação. A expressão artística, muitas vezes, exprime indivisíveis emoções, levando à concretização dos anseios e das necessidades do ser humano. Emoções que não encontram uma maneira socialmente aceitam de expressão, que se introvertem, 4 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 criando fendas nas profundidades do psiquismo, e deformando suas estruturas básicas. Certamente a linguagem abstrata presta-se a dar forma a segredos pessoais, satisfazendo uma necessidade de expressão sem que os outros os devassem. A linguagem abstrata cria-se a si própria a cada instante, ao impulso das forças em movimento no inconsciente. (SILVEIRA,1981, p.19) O que garante o Homem sadio contra o delírio, a depressão e o sofrimento psíquico de ordens diversas não é a sua crítica, mas a estruturação do seu espaço. O sofrimento, muitas vezes, é oriundo do estreitamento do espaço vivido, do enraizamento das coisas no nosso corpo, da vertiginosa proximidade do objeto. Nos sintomas neuróticos, as experiências da espacialidade são essencialmente determinadas pelo tom afetivo dominante no momento. O espaço adquire qualidades peculiares de acordo com o estado emocional do individuo: sensação de plenitude ou de vazio, de espaço amplo ou opressor, iluminado ou sombrio. A expressão artística, muitas vezes, exprime indivisíveis emoções, levando à concretização dos anseios e das necessidades do ser humano. Emoções que não encontram uma maneira socialmente aceitam de expressão, que se introvertem, criando fendas nas profundidades do psiquismo, e deformando suas estruturas básicas. Minkowski (1968) aponta que vivemos em dois mundos, ou seja, dois sistemas de percepção totalmente diferentes: percepção de coisas externas, por meio dos sentidos, e percepção de coisas internas, por meio das imagens do inconsciente. A expressão plástica pode tornar real esse fenômeno psicológico por meio das imagens realizadas no ateliê terapêutico, permitindo que a nebulosidade de sentimentos e pensamentos ou a clareza de afetividade se torne visível. Se os conteúdos internos entram em intensa atividade, sua forte carga energética subverte a ordem espacial estruturada pelo consciente. Nesse sentido, podemos concluir que toda obra de arte pode ser considerada um documento psíquico, e é pela expressão artística que podemos entender as relações do individuo com o meio em que vive e também a idéia que ele tem da ordem cósmica. Silveira (1981) alerta para o fato de que o espaço imaginário e o espaço da realidade estão estreitamente interligados. A reconstrução do espaço cotidiano acompanha a reconstrução do ego. Como o corpo tem necessidade de trabalho, de um fortalecimento muscular, a alma também necessita ser fortalecida. O trabalho por 5 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 meio da arte proporciona o reconhecimento da dinâmica psíquica, tornando-se uma via de acesso à totalidade do ser, fortalecendo a alma. Tem-se substituído a alma pela palavra psique. Mas será que a psique substitui a alma? Jung(1985) nos fala que “realmente é impossível fazer o tratamento da alma e da personalidade humana isolando umas partes do resto”(pg.91). Desta forma, podemos pensar que a Arteterapia pode possibilitar a ampliação da consciência, pois, ao promover o reconhecimento da dinâmica psíquica, um diálogo com os conteúdos inconscientes pode ocorrer e os mesmos podem ser trazidos à consciência. Esta ampliação da consciência permite que as projeções sejam recolhidas do mundo exterior e integradas. Não é o sujeito que se projeta, mas o inconsciente. Por isto não se cria a projeção, ela já existe de antemão. A conseqüência deste processo é o isolamento do sujeito em relação ao mundo exterior, pois, em vez de uma relação real, o que existe é uma ilusão. As projeções levam a um estado de ensimesmamento, no qual se sonha com um mundo cuja realidade é inatingível. Quanto mais projeções se interpõem entre o sujeito e o mundo exterior, tanto mais difícil se torna para o Eu perceber suas ilusões. Entendemos por Eu aquele fator complexo com o qual todos os conteúdos conscientes se relacionam, diferenciando-o do Self, no qual também os conteúdos inconscientes se relacionam. Este fator se constitui como o centro do campo da consciência e é o sujeito de todos os atos conscientes da pessoa. O Eu considerado como conteúdo consciente em si, não é um fator simples, elementar, mas extremamente complexo, sendo impossível, portanto, descrevê-lo com exatidão. O Eu possui livre-arbítrio, embora apenas dentro dos limites do campo da consciência, possibilitando, entretanto, um sentimento subjetivo de liberdade. O Eu é o sujeito de todos os esforços de adaptação do ser humano. Mediados pela Arte, estes fenômenos da ampliação da consciência podem ser expressos de forma a adequar significados na vida da pessoa. Ou seja, a arte surge como potencialização, um recurso que propicia olhar a experiência vivida, atribuindo-lhe um sentido singular. A experiência arteterapêutica pode acolher e dar forma e significado ao que antes se apresentava como um desconforto. Para Delefosse: “...a consideração da interação que auxilia a explicitação do vivido, tratase, portanto de um trabalho interativo que visa, de um lado, favorecer a atividade de construção do sentido do mundo vivido através de uma situação dialógica reflexiva e de outro lado, produzir conhecimentos psicológicos a partir deste material” (p.150. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 6 Ainda segundo Delefosse: “compreender nas ciências do Homem é rejeitar a busca de formulas e leis universais, pelo menos enquanto objetivo principal, e buscar colher a partir do interior a subjetividade significante. A retomada da criatividade possibilita transformações e atribuições de novos significados às experiências vividas, frustradas, ou simplesmente sonhadas. Desta forma as experiências dolorosas e suas cicatrizes podem ser integradas numa consciência ampliada. Grof (2000) sugere que no estado de consciência cotidiana identificamo-nos com apenas uma fração de quem realmente somos. Nos estados que chamou de holotrópicos, o que significa “caminhar em direção à totalidade do próprio ser”, podemos transcender as fronteiras restritas no ego corporal e reivindicar uma identidade total. Nos estados holotrópicos, ocorre uma mudança qualitativa de consciência de forma profunda e fundamental. Desenvolver um estado holotrópico de consciência leva o indivíduo a mudanças de percepção em todas as áreas sensoriais. No entanto, a consciência quando se amplia tem acesso a informações antes inconscientes, e libera um quantum de energia emocional que estava ligada a processos traumáticos do passado, e então retorna ao estado de vigília anterior, embora acrescida destas experiências e de seus conteúdos. Segundo Grof (2000): “Um aspecto particularmente interessante dos estados holotrópicos é seu efeito sobre os processos de pensamento. O intelecto não fica debilitado, mas opera de uma forma significativamente diferente do seu modo de funcionamento diário. Esse tipo de experiências holotrópicas é a principal fonte de cosmologias, mitologias, filosofias e sistemas religiosos que descrevem a natureza espiritual do cosmo e da existência. Elas são as chaves para a compreensão da vida ritual e espiritual da humanidade, desde o xamanismo e as cerimônias sagradas das tribos aborígenes, até as grandes religiões do mundo” (p.19). Cézanne, pintor francês, tratava os objetos como homens e descobria a vida interior em tudo. Até mesmo uma taça transformava-se em um ser dotado de alma. A arte pode ser uma força capaz de levar o homem além do “vazio”. É uma linguagem capaz de estabelecer uma conexão com a psique e é a única capaz de compreendê-la. A arte devolve a liberdade à alma aprisionada pelo vazio, pelo medo ou ainda pelos sentimentos que não têm nome. E ela leva à concretização dos anseios da necessidade interior do ser humano. Rollo May (1995) define criatividade como um processo altamente emotivo que decorre da experiência da auto-realização da nossa potencialidade com um intenso encontro com uma idéia. Kandínsky (1985), ao analisar as diferenças Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 7 culturais, aponta que o silêncio é sentido como morte para os chineses cristãos enquanto os chineses não cristãos consideram o silêncio como a primeira fase em direção a uma linguagem nova. Depois de buscar esse silêncio interior atingimos o ponto zero, que possibilita a entrada na criação do novo. Este “novo” pode ser expresso pela modelagem em argila. A argila rompe a inércia, enaltecendo o princípio feminino da criação, gestando vida, possibilitando a vivencia simultânea dos quatro elementos da natureza: ar, água, fogo, terra. Gouveia (1989) descreve: “...quando em certos pedaços de barro, ele consegue achar sombras vivas que se movem e tudo o mais que for necessário para simbolizar os seus medos profundos, o cotidiano de sua vida em comum com os restos dos mortais, quando encontra a criança escondida na angustia da adolescência e da idade adulta ... e modela o que capta para além da aparência” (p.56). Em relação ao vazio existencial, o medo profundo sinaliza uma dependência psicológica. Esta carência, a sensação de falta que se dá em todo ser humano, pode encontrar na Arteterapia, com a expansão da consciência, uma modificação de sentimentos, de visões e atitudes frente ao mundo, possibilitando uma transformação eficiente, uma transição menos dolorosa para um estado de inteireza do ser, porque o mesmo encontra um canal de expressão que pode conter o sofrimento. Kandisky (1985) afirma: “...como qualquer ser vivo é dotado de poderes ativos, e a sua força criadora não se esgota, vive, age e participa na criação de uma atmosfera espiritual” (p.113). A arte é, portanto é uma linguagem capaz de criar um canal de comunicação com a psique, é capaz de compreendê-la na sutileza dos seus nuances. Ao considerar a dimensão espiritual da psique humana encaminhamos a nossa discussão para a questão da Psicologia que estuda atualmente o fenômeno da ampliação da consciência, muito presente nos processos arteterapeuticos. Os precursores da Psicologia Transpessoal concentraram-se no estudo da consciência e pesquisaram os fenômenos e as experiências “não ordinárias” de consciência. Dentro da perspectiva transpessoal a consciência comum é considerada como um estado contraído e defensivo. Neste sentido, nossa consciência opera inundada por um fluxo contínuo de pensamentos e fantasias que acorrem para atender as demandas de nossas defesas cotidianas. Dentro desta visão, a ampliação da consciência se daria por meio do abandono dessa contração defensiva e da remoção dos obstáculos ao reconhecimento do potencial de encontro com os 8 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 mundos interno e externo, sempre presente no apaziguamento da mente e na redução da distorção perceptiva. Diferentemente da concepção ocidental que considera apenas uma gama limitada de estados de consciência, fundamentalmente o estado onírico e o estado desperto, a Psicologia Transpessoal considera que há um amplo espectro de estados de consciência. Grof (1987) sugere que, no estado de consciência cotidiana identificamo-nos com apenas uma fração de quem realmente somos. Nos estados que chamou de holotrópicos podemos transcender as fronteiras restritas no Ego corporal e reivindicar uma identidade total. Nos estados holotrópicos de consciência, ocorre uma mudança qualitativa de consciência, profunda e fundamental. Desenvolver um estado holotrópico de consciência leva o indivíduo a mudanças de percepção em todas as áreas sensoriais. Assim, explica Grof: “Um aspecto particularmente interessante dos estados holotrópicos é seu efeito sobre os processos de pensamento. O intelecto não fica debilitado, mas opera de uma forma significativamente diferente do seu modo de funcionamento diário. Esse tipo de experiência holotrópica é a principal fonte de cosmologias, mitologias, e sistemas religiosos que descrevem a natureza espiritual do cosmo e da existência. Elas são as chaves para compreensão da vida ritual e espiritual da humanidade, desde o xamanismo e as cerimônias sagradas das tribos aborígines, até as grandes religiões do mundo” (2000 p. 19). Ao longo de nossa existência, em momentos de crise podemos re-desenvolver, romper ou ampliar as fronteiras do “Eu”. Isto significa que, a todo o momento, reconstruímos ou destruímos nossa identidade. Uma das metas da terapia transpessoal seria a tentativa de rompimento com o estado de estagnação da consciência nas porções da personalidade que impedem que outras esferas do ser se manifestem, e, por meio deste rompimento, permitir que a personalidade integral exerça cada vez mais efeito nas atividades cotidianas do indivíduo. O resultado bem sucedido da terapia transpessoal pode ser descrito então como um senso ampliado de identidade, em que o Eu é visto como o contexto da experiência de vida, considerada como conteúdo, sem um grau de restrição tão dramático, como o que ocorre na experiência usual dominada pelo ego. O conteúdo transpessoal inclui quaisquer experiências em que a pessoa transcenda as limitações da identificação exclusiva com o ego ou com a personalidade, o que termina por se constituir então num objetivo fundamentalmente similar ao da Arteterapia. Também inclui os domínios míticos arquetípicos e Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 9 simbólicos da experiência interior, que podem vir à consciência por meio de imagens e de sonhos. As experiências transpessoais têm uma posição especial na cartografia da psique humana. Os níveis rememorativo-analítico e o inconsciente individual são de natureza claramente biográfica. A dinâmica perinatal parece representar uma intersecção ou fronteira entre o pessoal e o transpessoal. Isto se reflete em sua profunda associação com o nascimento e a morte – o início e o fim da existência humana individual, fenômenos que, no momento, estão além de nossa compreensão. (Grof, 1997). Porém, tudo que podemos dizer é que no processo de desdobramento perinatal parece ocorrer um estranho retorno qualitativo e, por meio dele, a auto-exploração profunda e o inconsciente individual tornam-se um processo de aventuras e experiências no universo, que envolvem o que pode ser melhor descrito como consciência cósmica ou mente superconsciente. Os sintomas emergentes refletem o esforço do organismo para livrar-se dos antigos estresses e das marcas traumáticas, e simplificar seu funcionamento. Este desenvolvimento é, ao mesmo tempo, um processo de descoberta da própria e verdadeira identidade e também das dimensões do próprio ser, que converte o individualismo com todo o cosmos e que são proporcionais a toda existência. 10 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 A escolha profissional na prática psicoterapêutica: pesquisando um enquadre clínico diferenciado Christiane Isabelle Couve de Murville Camps 1 Universidade de São Paulo Tânia Maria José Aiello Vaisberg 2 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: adolescentes; enquadres diferenciados; psicanálise do self; Winnicott; trabalho. O aprofundamento da concepção winnicottiana da psicoterapia como superposição de áreas do brincar nos conduziu à proposição dos enquadres diferenciados “Ser e Fazer” a partir do uso paradigmático do Jogo do Rabisco. Na “Ser e Fazer”: Oficinas Psicoterapêuticas de Criação, temos desenvolvido pesquisas sobre psicoterapia buscando investigar o potencial transformador de enquadres psicanalíticos diferenciados, capazes de atender as demandas de sofrimento que surgem na atualidade, a partir de uma interlocução constante e aprofundada com o pensamento de D.W.Winnicott. Levando em conta que existem diferentes possibilidades de intervenções, em função da necessidade do paciente e da situação vivida, realizamos diferentes atendimentos clínicos em instituições como escolas, hospitais e empresas, estendendo, deste modo, os benefícios do conhecimento psicanalítico a outros segmentos populacionais, para além do dispositivo tradicional concebido para o tratamento individual de pacientes neuróticos. Em nossos atendimentos, valorizamos o brincar como meio de favorecer o desenvolvimento emocional e não apenas como substituto a dificuldades de verbalização, que inviabilizariam a associação livre, concebida estreitamente como discurso. O brincar deu entrada, no campo psicanalítico, a partir do momento em que se pensou em incluir, como pacientes, crianças e psicóticos, que não tinham Mestre e Doutoranda em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Professora Livre Docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Coordenadora da Ser e Fazer, Orientadora do Programa de Pós Graduação em Psicologia Clínica do IPUSP, Orientadora do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, e Diretora Presidente do NEW – Núcleo de Estudos Winnicottianos de São Paulo. 1 2 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 11 condições de verbalização, a qual permitiria acesso ao inconsciente recalcado (Aiello-Vaisberg, 2004). Entretanto, encontramos na obra de Winnicott, uma valorização do brincar em si mesmo, como posição existencial brincante, vale dizer como expressão do “ser e fazer” que por si só facilita o amadurecimento pessoal. Para Winnicott (1967) o brincar diz respeito a uma experiência criativa, que permite a aproximação do self verdadeiro, lugar teórico, mas verdadeiro, a partir do qual emerge o gesto espontâneo. Desde essa perspectiva, o brincar não corresponde a uma atividade, pois neste registro pode acontecer como manifestação do falso-self. Embasando o nosso ser e fazer clínico, tomamos como referência a psicopatologia implícita no pensamento winnicottiano, que entende a sanidade como possibilidade de alcançar um viver mais espontâneo e autêntico, levando o indivíduo a se sentir vivo, real, e capaz de gestualidade no mundo, superando eventuais estratégias defensivas que ocasionam a organização falso-self. Dentro dessa perspectiva, cabe perguntarmos se ajudar o jovem em seu processo de escolha profissional pode ser pensado como prática essencialmente psicoterapêutica. Para Carvalho (2000), a orientação profissional assemelha-se a uma terapia breve que tem a escolha profissional como foco. O caráter terapêutico da orientação vocacional é apontado, também, por Bohoslavsky (1975), que propôs uma estratégia clínica, que inclui um conjunto de tarefas, que articulam dimensões psicológicas e pedagógicas, fundamentado-se num referencial psicanalítico kleiniano, segundo o qual toda escolha tem sentido reparatório. Concordamos com os autores que abordam a orientação vocacional como prática clínica. Entretanto, embora de acordo com uma abordagem clínica psicanalítica, adotamos um referencial psicanalítico diverso, que consiste em uma leitura particular que fazemos de Winnicott, a partir do pensamento de Bleger. Este referencial, que adotamos, critica a noção de tratamento psicanalítico como meio de promover aumento de auto-conhecimento, o que remete a um trabalho com feições pedagógicas ao informar o paciente sobre si. Entendemos que as práticas psicanalíticas pautadas na interpretação, ou na tentativa de recuperar fantasias inconscientes, ou ainda que buscam, através de situações transferenciais, resgatar acontecimentos que não foram vividos, em última instância, sempre encobrem a intenção de promover no paciente um aprendizado sobre si, conferindo, deste modo, um caráter pedagógico ao trabalho realizado (Aiello-Vaisberg, 2004). Desde este ponto de vista, as propostas de trabalho em orientação profissional, que deixam transparecer esse caráter pedagógico, seja dando ênfase à transmissão de informações ou à promoção de auto-conhecimento, Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 12 contrapõem-se à nossa clínica “Ser e Fazer” na escolha profissional, que, acreditando no potencial criativo do ser humano, visa favorecer a emergência do gesto espontâneo e um viver mais livre, autêntico e criativo. Esse modo de entender a orientação profissional subentende a concepção winnicottiana de ser humano como essencialmente criador e capaz de ação no mundo, diferentemente de uma visão que acredita que as pessoas devem ser sempre informadas e educadas. Entretanto, observamos que os cuidados direcionados aos jovens, no momento da escolha de uma profissão, ficam muitas vezes associados a atividades pedagógicas, que muitas vezes compreendem cursos, com conceitos e assuntos pré-determinados a serem tratados. Também notamos, em nossa prática clínica, que este modo pedagógico de entender a orientação profissional estende-se a muitos jovens e seus pais. Freqüentemente somos procurados por pessoas interessadas em obter informações a respeito do “curso” de orientação profissional. A experiência clinica e a observação de diversas situações humanas tem indicado que, no imaginário social, o trabalho do psicólogo, no campo da escolha profissional, é figurado, atualmente, em termos de atividades pedagógicas, que compreendem cursos estruturados em termos de transmissão de informações. Notamos, também, que em alguns meios ainda persiste, no imaginário social, a idéia de que testes podem revelar a vocação, entendida como sendo um atributo interno. É, no entanto, importante lembrar Bleger (1963) para esclarecer que não existe tal coisa como um homem isolado, não social, nem tampouco uma interioridade desvinculada do mundo e em oposição à uma realidade entendida como exterior. Podemos pensar que falar de orientação profissional como curso talvez seja uma forma de lidar com a situação da escolha profissional de modo mais intelectualizado, remetendo a estratégias defensivas diante de eventuais dificuldades sentidas. Reconhecemos que a atividade intelectual, bem como o conhecimento a respeito de si e do que se apresenta no mundo como possibilidades de carreira, estudo, etc., podem ser muito valiosos e ajudar na tomada de decisão a respeito da profissão a seguir. No entanto, acreditamos que esses elementos não são o que de fato favorece o engajamento no processo de escolha profissional. Entendemos que para ajudar o jovem a tomar sua decisão são necessárias intervenções clínicas que valorizem as dimensões afetivas e vivenciais. Deste modo, afastamo-nos de uma visão de intervenção em orientação profissional que dá ênfase ao tratamento intelectualizado de dados e à análise das possibilidades no ambiente vivido. Entendemos que o trabalho em orientação vocacional pode e deve ser Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 13 entendido como prática psicoterapêutica. Neste sentido, contamos com a companhia de Bleger (1976) quando diz que cabe ao psicólogo clínico promover a saúde mental da população propondo intervenções, seja em uma perspectiva psicoprofilática, ou direcionadas a momentos de crise e de dificuldades. Nesta linha de pensamento,a escolha de uma profissão configura-se como momento de crise vital, que aponta para algo de novo, diferente do que antes existia (Bohoslavsky 1977). Levando em conta essas considerações, temos proposto atendimentos clínicos, que pautados no modelo do jogo de rabiscos de Winnicott, favorecem um brincar capaz de promover a comunicação emocional, numa relação inter-humana, intersubjetiva, que rompe o paradigma sujeito-objeto. No contexto dos cuidados direcionados a jovens em momento de escolha profissional, empregamos o teatro da espontaneidade desde uma perspectiva winnicottiana, como enquadre diferenciado capaz de favorecer a criação de um “rabisco” (Winnicott, 1968) coletivo em forma de peça teatral. Expressando-se coletivamente, os jovens aproximam-se da dramática existencial inerente à escolha profissional. O uso paradigmático do Jogo do Rabisco consiste na apresentação de uma mediação que favorece o brincar ou o desenvolvimento da capacidade de brincar. Quando o brincar não pode acontecer, apesar da sustentação oferecida pelo terapeuta presente, em virtude das falhas ocorridas no processo de amadurecimento emocional, a psicoterapia deixa de ser a superposição de áreas do brincar, cabendo ao terapeuta buscar favorecer o desenvolvimento dessa capacidade Winnicott (1971). Em nossos atendimentos em orientação profissional costumamos apresentar aos jovens uma mala como mediação brincante com vestimentas variadas, que os convidam a “brincar” mundos profissionais. O uso da mala e de seus objetos fundamenta-se no conceito winnicottiano de apresentação, que surge no contexto do estudo da relação mãe-bebê, para descrever um evento de grande importância, denominado primeira mamada teórica (Winnicott, 1945). Tal evento é bem sucedido quando a mãe delicadamente “apresenta” o seio no momento em que a criança está pronta para viver a experiência ilusória de criá-lo/ encontrá-lo. Entendemos que este conceito de apresentação de objeto define o modo como se estabelece a relação do indivíduo com a realidade, remetendo à possibilidade de gesto espontâneo na presença de um outro que oferece a oportunidade de viver a ilusão. Análoga, mas precisamente, buscamos, em nosso trabalho com os jovens, oferecer oportunidades de vivência da experiência ilusória de criação e encontro, em Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 14 um mundo transicional, favorecendo a emergência do gesto espontâneo e criativo. Nossa proposta de atendimento, em momento de escolha profissional visa, portanto, ajudar o jovem a alcançar uma posição existencial mais livre e criativa, que subentende um desenvolvimento emocional, e a partir da qual seja possível fazer uma escolha autêntica. Nesse contexto, o holding, como um modo sensível e particular do terapeuta ser e estar na presença dos jovens, permite garantir a sensação de continuidade de ser, convidando os jovens a arriscarem seus movimentos. Em ambiente humano, sustentado pela terapeuta presente, a comunicação emocional pode acontecer como brincar, tornando possível a surpresa diante do vivido no grupo, levando ao encantamento e à satisfação de se perceber capaz de circunscrever o drama encenado sob o gesto criativo, conferindo-lhe novo destino. Já tivemos oportunidade de realizar atendimentos psicoterapêuticos, para jovens em momento de escolha profissional, em diferentes ambientes tais como escolas, cursinhos pré-vestibular e consultório particular. De modo singular, cada grupo tem trazido temas relacionados à escolha da profissão, à inserção no mundo adulto do trabalho, aproximando-se do universo do trabalho de forma menos racionalizada e mais integrada. Em um setting acolhedor, os jovens podem compartilhar expectativas, dúvidas e impressões, o que parece contribuir para que o ingresso no mundo profissional e adulto possa ser vivido como um processo que não interrompe dramaticamente a continuidade do viver. 15 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Referências AIELLO-VAISBERG, T. M. J. Ser e fazer: interpretação e intervenção. In: Ser e Fazer: Enquadres diferenciados na clínica winnicottiana. São Paulo: Idéias e Letras, 2004. p. 23-58. BLEGER, J. (1976) Psico-higiene e psicologia institucional. Tradução de Emilia de Oliveira Diehl. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984. 138 p. ______. (1963) Psicologia da conduta. Tradução de Emilia de Oliveira Diehl. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. 244 p. BOHOSLAVSKY, R. (1977) Orientação profissional. Tradução de José Maria Bojart. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 218 p. BOHOSLAVSKY, R. (1975) Primeira aula do curso sobre Orientação Vocacional - Estratégia Clínica Labor - Revista do Laboratório de Estudos sobre Trabalho e Orientação Profissional, Universidade de São Paulo, Editora Vardi, n. 0, p. 21-50, 2001. CARVALHO, M. M.M. J. (2000) Entrevista. Labor - Revista do Laboratório de Estudos sobre Trabalho e Orientação Profissional, Universidade de São Paulo, Editora Vardi, n. 0, p. 9-20, 2001. WINNICOTT, D. W. (1971). Brincar e realidade. Tradução de José Octávio de Aguiar Abreu e Vanede Nobre. Rio de Janeiro: Imago, 1975. p. 187-202. ______. (1945). Desenvolvimento emocional psimitivo. In: Da pediatria à Psicanálise. Tradução de Davi Bogomoletz. Rio de Janeiro: Imago, 2000. p.218- 232. ______. (1968). O jogo de rabiscos. In: WINNICOTT, C.; SHEPHERD, R.; DAVIS, M. (Orgs.). Explorações psicanalíticas. Tradução de José Otávio de Aguiar Abreu. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. p. 230-243. 16 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Alexitimia e sintomas psicopatológicos em pessoas idosas Eduardo Khater 1 Elisa Medici Pizão Yoshida Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras- chave: terceira idade; emoções; ansiedade; depressão. Resumo Considerando que alexitimia e sintomas psicológicos podem contribuir para o comprometimento do bem estar de pessoas idosas, hipotetiza-se que sua ocorrência deva ser maior em idosos de população clínica se comparados aos de população não clínica. Estabeleceu-se, portanto como objetivo, verificar o grau de associação entre alexitimia e sintomas psicopatológicos (psicotismo, obsessividade-compulsividade, somatização e ansiedade) em pessoas idosas hospitalizadas e não hospitalizadas O envelhecimento é um processo universal, inerente a todos os seres vivos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a idade de 60 anos como o início da terceira idade. Esta idade é questionável, pois alguns autores concordam com esse limite e outros consideram como pertencentes a essa faixa etária apenas os adultos com mais de 70 anos. Entretanto, é importante ressaltar que a denominação dessa fase adulta é comumente relacionada ao envelhecimento. É natural, portanto que haja divergências entre os profissionais acerca do início da terceira idade. Essa definição depende dos critérios utilizados para denominar determinada camada da sociedade de velhos ou idosos. Do ponto de vista biológico, a velhice corresponde a uma fase da vida humana em que alguns traços de senilidade, tais como a diminuição da acuidade visual e auditiva, tornam-se mais aparentes. Já do ponto de vista econômico, a terceira idade está ligada a uma fase improdutiva da vida humana, isto é, após a aposentadoria. No entanto, alguns psicólogos gerontologistas, sociólogos e educadores vêm dando um tratamento mais humanista ao assunto, procurando ressaltar as potencialidades dos adultos em sua idade madura. 17 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Uma velhice bem-sucedida revela-se em idosos que mantêm autonomia, independência e envolvimento ativo com a vida pessoal, com a família, com os amigos, com o lazer, com a vida social. Revela-se em produtividade e em conservação de papéis sociais adultos. Traduz-se em auto-descrições de satisfação e de ajustamento. Reflete-se em reconhecimento social às pessoas porque oferecem contribuições à sociedade ou ao grupo familiar e por serem modelos de velhice boa e saudável. O número de pessoas capazes de atingir completamente esse padrão é muito pequeno, porque além da genética, o estilo de vida e as condições sócioeconômicas e culturais podem impor restrições ao alcance de tal resultado. No entanto, sua existência é útil para balizar as aspirações individuais e sociais e para sinalizar que velhice pode ser um período de desenvolvimento (Neri & Yassuda,2004). Em muitos casos, no entanto, isto não se verifica. Principalmente em situações de doença maus tratos físicos e psicológicos podem comprometer o bem estar do idoso. Neste sentido, as condições que cercam o idoso têm merecido especial atenção nos últimos anos. Ao envelhecer, os indivíduos precisam de maior cuidado e atenção. A Organização Mundial de Saúde (2001) considera abuso ao idoso: “qualquer ato isolado ou repetido, ou a ausência de ação apropriada ocorrendo em qualquer relacionamento onde haja uma expectativa de confiança que cause dano ou incômodo a uma pessoa idosa”. Esta definição inclui: abuso físico: provocação de dor ou lesão; coerção física; restrição física ou química; abuso psicológico/emocional; imposição de angustia mental; abuso financeiro/material: exploração imprópria ou ilegal e/ou uso de fundos ou recursos; abuso sexual: contato não consensual de qualquer tipo com pessoa idosa; negligência: a recusa ou falha em cumprir obrigação de qualquer cuidado incluindo esforço consciente e intencional de infringir dor física ou emocional à pessoa idosa (Machado, Gomes & Xavier, 2001). As restrições biológicas não são os únicos fatores que impedem uma vida plena na terceira idade, mas as condições sociais da velhice também afetam as relações de poder e de auto-estima dos indivíduos que ultrapassam os limites etários estabelecidos como etapa produtiva de vida. 1 Projeto de pesquisa de Bacharelado em Psicologia. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 18 As condições sociais dos idosos no âmbito das relações familiares, nos contatos sociais com amigos e vizinhos bem como, nos atendimentos prestados a eles nas unidades de saúde são muitas vezes alarmantes. No contexto familiar, eles se sentem desprezados e sem atenção, não fazem nenhum tipo de passeio com seus parentes, têm convivência difícil, o que acaba piorando seu estado de saúde, deixando-os mais nervosos e angustiados; sentem-se abandonados ou esquecidos e consideram o tratamento que recebem dos parentes como sendo ruim, relatam que até os profissionais da saúde os tratam melhor que seus parentes (Cruz, et al 2003). Os idosos estão demonstrando um elevado índice de reprovação para a forma como a sua família e sociedade os tratam, conscientes da condição que estão vivenciando, embora se tenha observado poucos esforços para se organizar, em seus grupos de idosos ou de saúde que freqüentam, com o objetivo de construir caminhos para melhorar tais condições. As situações de maus tratos com os idosos são mais freqüentes quando estes são doentes crônicos, pois necessitam de cuidados e atenção especial com dietas específicas, bem como medicação no momento certo; o que acaba por aumentar sua dependência de outras pessoas. Em relação aos maus tratos, foram evidenciados o abandono, o isolamento, a negligência, a exploração financeira e a agressão verbal, até a falta de carinho e atenção, especialmente quanto aos cuidados com a saúde do idoso, o que lhes proporciona revolta, depressão, desgosto e amargura. A carência afetiva é outra questão muito importante, os idosos são percebidos como sendo pessoas carentes de atenção, carinho e afeto, além de serem tristes e se sentirem solitários. Alguns idosos são sobrecarregados nas atividades domésticas, pois são designados a realizar tarefas que vão desde os serviços do lar até os cuidados com netos. Como os filhos têm que trabalhar, os idosos acabam tomando conta das crianças (avós cuidadores), sendo que na verdade, em muitos casos, quem precisa ser cuidado, tratado com atenção e paciência são eles. Profissionais de saúde também relataram perceber os idosos como sendo pessoas poliqueixosas e somatizadoras. Pessoas que reclamam excessivamente de dores pelo corpo, ou ainda que desenvolvem doença por conta de problemas emocionais. 19 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 O meio urbano, ao gerar diferentes dinâmicas de relacionamento entre os indivíduos, tende a marginalizar os idosos, retirando-lhes qualquer visibilidade social. Eles acabam ficando cada vez mais sós. O respeito tornou-se menos profundo. Mesmo tendo experiência acabam sendo ultrapassados pelos jovens em matéria de conhecimentos; o que acaba fazendo com que os chefes de pessoal optem por alguém mais jovem, deixando o idoso com a sensação de inutilidade. Como conseqüência das vicissitudes impostas pela vida, muitos idosos desenvolvem características psicológicas específicas como enfrentamento, que nem sempre são consideradas bem adaptativas. forma de Entre elas incluem-se, a alexitimia e os sintomas psicopatológicos, objetos mais específicos desta pesquisa. O termo alexitimia vem do grego: a (significa ausência), lexis (palavra) e thymos (emoção). O conceito de Alexitimia foi formulado em conseqüência das observações clinicas em Paris e de Sifneos em Boston nos anos de 1960, sobre uma condição que resultava em certo déficit em pacientes que sofriam de alguma condição psicossomática. Trata-se de uma marcante dificuldade para a expressão apropriada da língua, para descrever os sentimentos próprios e para relatar as sensações corporais, uma dificuldade para fantasiar e uma maneira prática e utilitária de pensar (pensamento operante), ou seja, é um termo que diz respeito à marcante dificuldade para usar a comunicação verbal apropriada para expressar e descrever sentimentos, bem como das sensações corporais. Nos dias atuais é muito comum encontrar pessoas com essas características. Por fim, o alexitímico sofre de incapacidade de descrever sentimentos próprios ou de reconhecer os sentimentos daqueles à sua volta. Não sabem discriminar emoções e nem distinguir emoções de sensações físicas, ou seja, podem reclamar de um determinado sintoma físico como dor de estômago ou coceira e não conseguem detectar sua ansiedade ou sua necessidade de contato corporal. A percepção, avaliação e expressão da emoção abrangem desde a capacidade de identificar emoções em si mesmo, em outras pessoas e em objetos ou condições físicas, até a capacidade de expressar essas emoções e as necessidades a elas relacionadas, e ainda, a capacidade de avaliar a autenticidade de uma expressão emocional detectando sua veracidade, falsidade ou tentativa de manipulação. 20 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Em face da importância que a alexitimia e os sintomas psicopatológicos podem assumir no desenvolvimento de doenças físicas e de natureza psicossomática, considerou-se relevante estudá-los em população de idosos hospitalizados e não hospitalizados de forma a se poder compreender o papel destas variáveis na condição da pessoa idosa. Sendo assim foi definido por objetivo principal da pesquisa verificar a relação de alexitimia e sintomas psicopatológicos em pessoas idosas e por objetivos específicos, verificar a distribuição de alexitimia e de sintomas psicopatológicos de acordo com variáveis sócio-demográficas (sexo, nível de escolaridade, estado civil, condição laboral) e o fato de estarem ou não hospitalizadas. O percurso metodológico contou com uma amostra composta por 47 pessoas, com idade mínima de 60 anos, de ambos os sexos, atendidas no Ambulatório de Saúde Mental e em diferentes Clínicas Médicas do Hospital e Maternidade Celso Pierro- H.M.C.P. e alunos da Universidade da Terceira Idade da PUC-Campinas, que concordem em participar como voluntários da pesquisa. Foram excluídos os idosos que não apresentarem condições de responderem os instrumentos por: alteração de consciência, estado de humor alterado ou que apresentem alguma dificuldade de compreensão dos itens por provável rebaixamento intelectual. Os instrumentos utilizados foram: Versão em Português da Escala de Alexitimia de Toronto - TAS de Taylor e cols (1985) (Yoshida, 2000). Trata-se de instrumento de auto-avaliação, de 26 itens, idealizado para medir o grau de alexitimia. Escala de Avaliação de Sintomas -40 - EAS-40 (Laloni, 2001) - É uma escala multidimensional de auto-relato de 40 itens que mede sintomas psicopatológicos segundo quatro dimensões: psicotismo, obsessividade-compulsividade, somatização e ansiedade. A amostra (N=47) ficou composta predominantemente por sujeitos do sexo feminino, e da faculdade da terceira idade conforme pode ser visualizado na Tabela 1. 21 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Tabela 1 – Variáveis sócio demográficas da amostra Variável 1o. Grau 2o. Grau 3o. Grau Fac.3ª idade (N=32) Idade 60 a 70 71 a 80 81 a 90 Sexo Masculino Feminino Estado Civil Solteiro Casado Divorciado Viúvo Escolaridade Completo Incompleto Completo Incompleto Completo Incompleto Condição Laboral Aposentado Desempregado Trabalhando F 18 14 0 F 5 27 F 1 12 3 16 F 3 3 10 2 14 0 F 23 0 9 HMCP (N=15) % 56 44 0 % 16 84 % 3 38 9 50 % 9 9 31 6 44 0 % 72 0 28 f 7 5 3 F 7 8 F 1 7 2 5 F 0 2 5 5 1 2 F 12 1 2 Total (N=47) % 47 33 20 % 47 53 % 7 47 13 33 % 0 13 33 33 7 13 % 80 7 13 f 24 20 3 f 12 35 f 2 19 4 23 f 6 8 15 3 16 0 f 37 12 1 % 51 43 6 % 26 74 % 4 40 9 49 % 13 17 32 6 34 0 % 79 26 2 No que concerne às médias e desvios padrões dos escores totais e segundo cada dimensão da EAS-40, de acordo com os locais de coleta e o sexo, os dados ficaram distribuídos conforme indicado na Tabela 2. Tabela 2 - Média e Desvio Padrão da EAS-40 EAS 40 HMCP (N=15) Fac 3ª idade (N=32) Amostra Total (N=47) M(N=12) F(N=35) Total (N=47) Média DP Média DP Média DP Média DP Média DP ST 28,92 13,30 19,61 12,21 26,00 12,85 21,35 13,24 22,52 13,16 S+ 19,33 9,25 15,73 8,68 20,00 8,64 15,81 8,88 16,85 8,92 F1 0,49 0,39 0,32 0,30 0,47 0,46 0,35 0,28 0,38 0,33 F2 0,70 0,34 0,59 0,42 0,67 0,29 0,61 0,43 0,62 0,39 F3 1,07 0,54 0,66 0,37 0,95 0,44 0,73 0,47 0,78 0,47 F4 0,63 0,40 0,39 0,38 0,52 0,44 0,45 0,39 0,47 S + = Sintoma Positivo | ST = Score Total | F1 = Psicoticismo | F2 = Somatização | F3 = Ansiedade | F4 = Obssessividade – Compulsividade 0,40 Pode se observar que as maiores médias dos fatores mensurados pela EAS40, se apresentam nos sujeitos hospitalizados no HMCP, como era esperado e Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 22 o fator que apresenta o maior índice nas duas populações é a dimensão da somatização (F3), apresentando-se maior em pacientes hospitalizados (1,07), do que nos sujeitos da faculdade da terceira idade (0,66). A somatização é caracterizada pela presença de queixas somáticas múltiplas e recorrentes com a duração de vários anos, para os quais houve procura de recursos médicos, mas que não parecem revelar qualquer distúrbio físico/iniciais de ardência genital, amnésia, dispnéia, dismenorréia, bola esofagiana, dores nas extremidades, vômitos/ Há amiúde dores de cabeça, pescoço, dorso e extremidades (Lobato, 1992, p.174). Como a EAS-40 foi utilizada neste estudo (estudo 1) com amostra de pessoas idosas, procedeu-se a uma comparação das médias e os desvios padrões da EAS40 observadas no estudo com estudantes universitários (estudo 2), a fim de verificar se haveriam diferenças entre as duas amostras. A expectativa teórica era a de que as médias da população da terceira idade fossem superiores às da população estudantil, já que se esperava que esta última apresentasse índices inferiores de sintomas psicopatológicos. Efetivamente, os resultados apontaram médias inferiores para as quatro dimensões da EAS-40 na amostra estudantil para os sujeitos do sexo masculino, e no sexo feminino, as médias de F1 e F2 apresentaram-se maiores no estudo com universitários conforme indicado na Tabela 3, o que equivale a dizer que as mulheres idosas sofrem menos sintomas das dimensões F1 e F2 que as estudantes universitárias. Tabela 3 – Média e Desvio Padrão da EAS-40 em população de idosos (N=47) e de universitários (N= 113). EAS 40 sexo Estudo 1 (N=47) M(N=12) Estudo 2* (N=113) F(N=35) M(N=14) F(N=99) Média DP Média DP Média DP Média DP ST 26,00 12,85 21,35 13,24 21,21 11,31 23,99 13,31 S+ 20,00 8,64 15,81 8,88 17,79 8,68 18,00 9,81 F1 0,47 0,46 0,35 0,28 0,59 0,42 0,56 0,34 F2 0,67 0,29 0,61 0,43 0,76 0,40 0,77 0,40 F3 0,95 0,44 0,73 0,47 0,55 0,42 0,53 0,50 F4 0,52 0,44 0,45 0,39 *(Silva 2005) Validade Simultânea da Escala /EAS-40 com Estudantes Universitários 0,49 0,41 de Avaliação de 0,34 0,37 Sintomas – 40 A TAS mostrou as dimensões de Alexitimia presente nos dois locais pesquisados, com distinção para os sexos, com médias e desvio padrões como Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 23 consta abaixo na Tabela 03. Uma vez que o grau de alexitimia teve uma diferença significativa em relação ao sexo (maior grau na população masculina) e a grande maioria de sujeitos pesquisados é do sexo feminino, optou-se por fazer as análises separando a amostra de acordo com o sexo. Tabela 4 – Média e Desvio Padrão para as dimensões da TAS para a amostra total e de acordo com o local. HMCP (N=15) Amostra Total (N=47) Fac 3ª idade (N=32) M(N=12) F(N=35) Total (N=47) Média DP Média DP Média DP Média DP Média DP ST 69,67 7,50 67,73 13,78 71,08 11,33 67,42 12,39 68,33 12,12 F1 2,75 0,51 2,42 0,79 2,84 0,69 2,42 0,71 2,53 0,73 F2 2,83 0,77 2,92 1,06 2,67 0,92 2,96 0,96 2,89 0,97 F3 2,64 0,46 2,70 0,55 2,64 0,51 2,70 0,51 2,68 0,52 F4 2,45 0,34 2,64 0,75 2,67 0,62 2,55 0,64 2,58 0,65 ST= Score Total | F1 = inabilidade humana em identificar e descrever os sentimentos, distinguindo de sensações corporais F2 = capacidade de fantasiar, sonhar-acordada, “draydreming” | F3 = preferência por focalizar eventos externos a internos F4 = habilidade em expressar e comunicar os sentimentos a outras pessoas A média do score total é maior no Hospital do que na faculdade da terceira idade, porém nos itens F2, F2 e F4, os sujeitos do hospital apresentam índices menores dos apresentados pelos da faculdade da terceira idade. Como foi feito com a EAS-40 procedeu-se a comparação das médias e os desvios padrões da TAS observadas no estudo com estudantes universitários, a fim de verificar se haveriam diferenças entre as duas amostras. A expectativa teórica era a mesma, de que as médias da população da terceira idade seriam superiores às da população estudantil. Porém a média do score total da população feminina apresentou-se maior no estudo com universitários conforme indicado na Tabela 5. Tabela 5 – Média e Desvio Padrão da TAS em população de idosos (N=47) e de universitários (N= 113). TAS Estudo 1 (N=47) M(N=12) Estudo 2 (N=113) F(N=35) M(N=14) F(N=99) Média DP Média DP Média DP Média DP ST 71,08 11,33 67,42 12,39 67,60 8,85 67,90 10,90 F1 2,84 0,69 2,42 0,71 2,68 0,57 0,69 2,07 F2 2,67 0,92 2,96 0,96 2,05 0,48 2,20 0,75 F3 2,64 0,51 2,70 0,51 2,71 0,65 2,55 0,39 F4 2,67 0,62 2,55 0,64 2,73 0,37 2,96 0,55 24 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 TAS Tabela 6 – Correlação entre TAS e EAS-40 para amostra total (N=47) EAS 40 Score Total F1 F2 F3 F4 Score Total 0,51* 0,36*** 0,47* 0,35 0,51* F1 0,65* 0,42** 0,54* 0,53* 0,63* F2 0,01 0,13 -0,01 -0,08 0,04 F3 0,21 0,11 0,24 0,07 0,28 0,04 0,19 0,05 0,02 F4 0,09 r(45) *=p<0.001 **=p<0.01 ***=p<0.02 A correlação entre os scores totais dos instrumentos utilizados é estatisticamente significante, bem como existe uma correlação entre o F1da TAS (inabilidade humana em identificar e descrever os sentimentos, distinguindo de sensações corporais) e os sintomas psicopatológicos. Em comparação com estudos sobre alexitimia e sintomas psicopatológicos em estudantes universitários, foi verificado que os sintomas depressivos aparecem com mais freqüência em indivíduos da terceira idade. A inatividade, a solidão, a perda de entes queridos e o uso abusivo de medicamentos estão entre as principais causas desta doença. Além disso, a diminuição do suporte familiar, o declínio físico e a perda de status também contribuem para o aparecimento da sintomatologia depressiva. Foi verificado que atividades sociais proporcionam momentos de bem estar, uma vez que os idosos têm uma participação ativa, expressando seus sentimentos, e tendo a auto-estima como ponto fundamental trabalhado nas relações. O cuidado preventivo apropriado para a terceira idade é um desafio para os profissionais de saúde. É necessário um planejamento e desenvolvimento de políticas públicas, no sentido de atender mais objetivamente as necessidades do idoso. Estas políticas, além de evitar altos custos para o Sistema de Saúde podem proporcionar melhores condições para um envelhecimento saudável, preservando a sua capacidade funcional, a sua autonomia e desenvolvendo suas potencialidades, mantendo assim o nível de qualidade de vida. 25 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Referências Cruz, J.M.O, Fontes.M.R, Santos,J.M.J, & Bergo,M.S.A (2003). Cuidados com idosos: percepção de idosos e de profissionais de saúde sobre maus tratos no espaço familiar. Textos sobre Envelhecimento v.6 n.2 Rio de Janeiro. Laloni, D. T. (2001). Escala de Avaliação de Sintomas-90-R SCL-90-R: adaptação, precisão e validade.Tese de Doutorado não publicada, Curso de Pós Graduação em Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Campinas, SP. Machado L., Gomes R. & Xavier, E. (2001). Meninos do passado; eles não sabiam o que os esperava. Revista Insight Inteligência, 15, .37 – 55. Neri, A. L., Yassuda, M. S., &, Cachioni, M. (2004). Velhice bem sucedida: aspectos afetivos e cognitivos. Campinas: Papirus - www.papirus.com.br Taylor, G. J., Ryan, D., & Bagby, R. M. (1985). Toward the development of a self-report alexithymia scale. Psychotherapy and Psychosomatics, 44, new 191- 199. Yoshida, E.M.P. (2000). Toronto Alexthymia Scale-TAS: precisão e validade da versão em português. Psicologia:Teoria e Prática, 2 (1), 59-74. 26 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Apego e posse em psicoterapias psicodinâmicas Sebastião Elyseu Júnior Elisa Medici Pizão Yoshida Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave:apego; posse; psicoterapias psicodinâmicas; Bowlby. O objetivo das psicoterapias psicodinâmicas é o de levar o paciente a resolver os principais conflitos de natureza intra e interpessoal, através do esclarecimento da transferência e da superação das resistências internas. Sendo que a maneira mais usual de fazê-lo é através da identificação do padrão relacional que se atualiza na transferência, e que é integrado por um sentimento (ou impulso) encoberto, mecanismos de defesas e uma modalidade predominante de ansiedade (Yoshida, 2004, Yoshida & Rocha 2006). Estes três pontos configuram o chamado “triângulo de conflito”, e devem ser examinados no contexto dos episódios relacionais que envolvem além do terapeuta, outras pessoas do presente e do passado do paciente (“triângulo de pessoas”) (Malan,1979/1983). A idéia básica é, pois, a de que os conflitos atuais do paciente decorrem da manutenção de padrões de relacionamento antigos em que, sentimentos, defesas e ansiedade se repetem de forma mais ou menos inflexível, dificultando a discriminação das peculiaridades da situação atual. E neste sentido, as intervenções do terapeuta visam levar o paciente a reconhecer o padrão relacional maladaptativo e com isto abrir espaço para a mudança (Yoshida & Rocha, 2006). Dentre os conflitos que se manifestam na transferência, os autores destacam o padrão de apego ( Aisnworth, Blehar, Waters & Wall , 1978; Main & Solomon, 1990, citado por Fonagy, 1999) e o padrão de posse (Elyseu Jr, 1998, 2006), devido à importância que assumem ao longo da vida das pessoas e pela freqüência com que se manifestam em processos psicoterapêuticos psicodinâmicos. Neste sentido, o objetivo deste trabalho é o de destacar as manifestações transferenciais, relacionadas a esses padrões, muitas vezes predominantes no funcionamento psíquico de pacientes em psicoterapias psicodinâmicas. Inicialmente, são apresentadas as formulações teóricas de apego e de posse, procurando-se Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 27 demarcar os limites e especificidades de cada constructo; depois, são apresentados fragmentos de casos clínicos, usados como exemplos, sinalizando as mudanças alcançadas pelos pacientes em virtude das intervenções realizadas durante uma psicoterapia breve. A Teoria do Apego (Bowlby (1969) concebe os fenômenos psíquicos como resultados do processamento de informação por meio de sistemas comportamentais filogenéticos e adota o método etológico para o estudo desses fenômenos. Exemplo destes fenômenos podem ser observados nas reações de crianças separadas da mãe, nos primeiros anos de infância, e dos seus efeitos sobre o desenvolvimento da personalidade. Bowlby (1969) reporta que as reações mais significativas observadas, nas crianças de mais de seis meses separadas de suas mães, eram de protesto, de desesperança e de desapego; e, quando voltavam para casa, após o período de ausência, as mudanças eram ou de intenso agarramento à mãe, que se mantinham por semanas, meses ou anos, ou de rejeição, temporária ou permanente, a ela. As conclusões gerais de estudos mais aprofundados sobre a saúde mental de crianças sem lar são resumidamente: (1) que a perda ou privação da figura materna, por si só ou combinada com outras variáveis, pode gerar reações e processos psicopatológicos e (2) que essas reações e processos são os mesmos que estão ativos em adolescentes e adultos ainda perturbados por separações sofridas nos primeiros anos de vida (Bowlby, 1965, 1969). Ainsworth (1963) estabeleceu o conceito de base segura para designar o fato de que crianças usam a sua mãe como ponto de partida para as suas explorações. As crianças amedrontadas (inseguras) não fazem isso, de sorte que o comportamento exploratório passou a ser considerado como uma dimensão capaz de discriminá-las quanto ao tipo de vinculação (padrão de apego) que mantinham com a mãe. Um outro trabalho, realizado com 83 crianças de 12 meses e suas mães, permitiu discriminar melhor os padrões de apego da criança à sua mãe (figura de apego), em virtude da interação entre elas, e considerar a segurança do apego como a dimensão de maior utilidade na compreensão desses padrões. Um padrão de apego é a forma pela qual o comportamento de apego se organiza em virtude das experiências tidas com as suas figuras de apego durante a infância e a adolescência; e, uma figura de apego (fda) é qualquer figura mais capaz que o indivíduo para fazer frente a uma situação adversa, e à qual ele recorre através do Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 28 comportamento de apego (Bowlby, 1969). A criança que tem uma base segura tende a desenvolver um padrão de apego seguro, caracterizado, segundo por ela ser capaz de fazer explorações numa situação estranha, quando a mãe está por perto; por não se afligir com a chegada de uma pessoa estranha; e, por acolhê-la alegremente quando ela retorna. Esse padrão é considerado saudável psicologicamente, o que não acontece com os seguintes (Ainsworth & cols. ,1978). A criança que tem uma base insegura tende a desenvolver um padrão de apego inseguro, caracterizado por ela não fazer explorações no ambiente, mesmo com a mãe presente; por mostrar-se alarmada com a chegada de um estranho; e, por não acolher alegremente a mãe, quando esta retorna. Pelo tipo de resposta que as crianças manifestavam em relação à mãe no seu retorno, esse padrão de apego pôde ser subdividido em resistente, quando a criança mostra forte ansiedade e raiva pela separação e dificuldade em recompor-se, mesmo quando os cuidadores tentam acalmá-la e reconfortá-la, e em evitante, quando a criança tende a evitar a proximidade à mãe, não a preferindo mais do que a um estranho. A quarta categoria, isto é, o padrão de apego desorganizado/desorientado, segundo Main e Solomon (1990, citado por Fonagy, 1999), caracteriza-se pelo imobilismo exibido pela criança, por pancadas com as mãos ou com a cabeça, aparentemente sem um objetivo definido, causando a impressão de desorganização e desorientação. Além disso, deseja evadir-se da situação, mesmo com os cuidadores presentes. Supõe-se, diante disso, que para a criança o cuidador pode se fonte tanto de reasseguramento quanto de temor. Esses padrões são estruturados de acordo com o tipo de experiência que o indivíduo tem com as suas figuras de apego, e constituem aspectos integrantes da personalidade normal ou patológica. A proteção é exercida pela figura de apego por meio de um comportamento instintivo de cuidar, identificado e reconhecido tanto na espécie humana, como em outras espécies animais. O filho, por seu lado, complementa o comportamento de cuidar por meio de um comportamento instintivo de apego, caracterizado pela busca e/ou manutenção de proximidade ou contato a esta figura para ser cuidado, especialmente protegido, por ela. O comportamento de apego é, portanto, o resultado de um sistema de regulação homeostática de segurança, que concorre para a proteção do próprio indivíduo. A Teoria do Apego é, afinal, um conjunto de afirmações que pretende explicar o comportamento de apego, o seu aparecimento e desaparecimento episódicos, assim como os tipos de apegos duradouros que os indivíduos formam por causa das Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 29 suas interações com determinadas figuras de apego, especialmente, durante a infância. Teoria da Posse Apesar da excelência da Teoria do Apego, existem dois fatos fundamentais a considerar: (1) a ansiedade não é uma resposta restrita à frustração do comportamento de apego, mas a qualquer evento que coloque em risco a estabilidade do indivíduo, principalmente se tende a impedir a realização de uma conduta instintiva ou, em última instância, ameace a sua sobrevivência, e (2) o comportamento de apego, por ter a função de regular a segurança do próprio indivíduo, não cobre outras funções como, por exemplo, a do comportamento de posse, que é a de regular a provisão para usufruto próprio e/ou da prole, e, portanto, igualmente necessário à sobrevivência. Além dessas razões importantíssimas, a notória questão da posse, presente na vida do homem e de outros animais, levou Elyseu Jr. (1996) a sugerir e postular uma teoria etológica da posse (Elyseu Jr., 1998), baseada no comportamento e vivências de posse e sugerir a existência de alguns padrões de posse, à semelhança do que foi feito em relação ao apego. Para enfrentar a predação ambiental, Bowlby (1969) afirma que algumas espécies animais, entre as quais a humana, desenvolveram além dos comportamentos de apego e de cuidar, o mimetismo, os comportamentos de vigilância, de alarme, de fuga, de congelamento (catalepsia) e de manifestações agonísticas, e, entre essas, está o comportamento de luta em defesa própria ou da prole. Mas, que comportamentos foram desenvolvidos nas espécies animais para serem realizadas as competições intra e interespecíficas, cuja meta-fixada é vencer o outro, conquistando ou mantendo algum bem existente no ambiente para usufruto próprio ou da prole? Exceto os comportamentos de luta e de fuga, os demais citados não são utilizados nessas competições; nelas, os comportamentos de luta e de fuga deixam de ter o sentido de defesa pessoal, e passam a ter o sentido de obter ou manter a posse da sua figura de posse, como o território, o fêmea, o alimento etc. Além desses comportamentos, há o predatório, que visa à posse da presa; os de coleta e armazenagem, que se destinam à posse do alimento ou a manutenção deste por meio de comportamentos de esconder, de carregar na fuga ou, ainda, de prender. Tais comportamentos, observados também na espécie humana, são 30 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 algumas formas específicas de o indivíduo poder ter à sua disposição as figuras de posse, como provisão para seu usufruto e/ou da prole. A essas formas comportamentais, com a função de regular a provisão, Elyseu Jr. (1998) deu o nome genérico de comportamento instintivo de posse, pelo fato de que, na tradição etológica, sempre que diferentes formas de comportamento têm em comum a mesma conseqüência se costuma reuni-las numa só categoria, rotulada conforme essa conseqüência (Bowlby, 1969). O exposto está, portanto, de acordo com o fato de que a sobrevivência animal está estruturada, basicamente, em dois sentidos: (1) o de defender-se do ambiente, sobretudo da predação, e (2) o de usufruir dele, servindo-se do que já está disponível ou tendo que obter aquilo que ainda não está, o que implica em competições tanto intra, quanto interespecíficas (Elyseu Jr., 2006). O comportamento de posse é, então, o resultado de um sistema de regulação de provisão, cujas atividades tendem a reduzir o risco de o indivíduo e, conseqüentemente, de a prole ficarem desprovidos de bens necessários às suas vidas. Quando o risco se reduz o indivíduo sente um alívio de ansiedade e um aumento do sentimento de segurança. O comportamento de posse é ativado e finalizado basicamente por inputs sensoriais, de feedback ou não, e mediado por sistemas de controle comportamentais (Elyseu Jr., 1998 e 2006). A figura de posse (fdp) é definida como qualquer figura que possua características para serem usufruídas pelo indivíduo e/ou pela sua prole, de modo imediato ou oportuno, e em virtude da qual o comportamento de posse se manifesta. O conjunto dessas figuras possuídas constitui a provisão (Elyseu Jr., 2006), que na espécie humana transcende a provisão básica de outras espécies animais. Posse e comportamento de posse, assim como vivência de posse e posse psicológica, são conceitos diferentes. A posse é uma tendência ou disposição instintiva (filogenética) em obter e/ou manter figuras de posse, isto é, em ter o domínio sobre elas. Essa disposição é um atributo do indivíduo, que parece não ser afetado pela idade na medida em que a posse de figuras de posse é permanentemente essencial à saúde física e psíquica ou até mesmo à sobrevivência. O comportamento de posse é todo aquele que realiza a obtenção e/ou a manutenção da figura de posse, gerando a vivência de posse, na qual predomina um sentimento de ter um relativo ou absoluto domínio sobre essa figura. No entanto, a vivência de posse não se limita à obtenção e/ou manutenção da figura de posse, porque esta também pode ser presenteada pelos outros. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 31 As vicissitudes pelas quais passa a tendência de posse, desde a tenra infância, gerando vivências de posse, são basicamente o que estrutura a posse psicológica ou padrão de posse psicológica, isto é, uma forma organizada de posse em virtude da qual os indivíduos sentem, pensam, desejam e se comportam sempre da mesma maneira. A qualidade predominante das vivências do indivíduo com suas figuras de posse contribui para a configuração do tipo de padrão de posse mais evidente nas suas relações interpessoais, com animais de estimação e no trato de seus bens materiais (Elyseu Jr, 1998, 2006). Foram propostos seguintes padrões de posse 1. padrão de posse segura - Se no início da vida predominarem vivências de domínio ou controle sobre as principais figuras de posse (pai, mãe, avós, babás, animais de estimação, brinquedos, ambiente físico, etc), e houver confiança do indivíduo de que suas figuras de posse não vão abandoná-lo (caso de pessoas), nem de que elas lhe serão tiradas ou perdidas, não precisando vigiá-las ou controlá-las etc.; 2. padrão de posse ansiosa Se a vivência for predominantemente a de ameaça de perda da figura de posse, e houver desconfiança e ansiedade de perda da figura de posse, precisando vigiá-la ou controlá-la e, no caso de objeto, escondê-lo, não emprestá-lo etc. ; 3. padrão de posse ciumenta - Se a vivência for predominantemente a de ter um rival, dividindo ou tentando dividir o usufruto da figura de posse, e houver ciúme e por condutas que visem à posse exclusiva da figura de posse; 4. padrão de posse reativa - se a vivência for predominantemente a de frustração e/ou privação e/ou perda de figuras de posse, e houver intensificação do comportamento de posse para obter e/ou manter a figura de posse. Porém, esse tipo de defesa não é a única resposta possível às vivências de frustração e/ou privação e/ou perda da posse; pode ocorrer, alternativamente, a desativação do comportamento de posse ou a ativação do comportamento invejoso, que podem estruturar padrões, mas não os de posse. Passa-se agora a identificar os padrões de apego no contexto psicoterápico para observar tanto a influência das figuras de posse, quanto como o lidar com as motivações subjacentes a esses comportamentos pode levar à mudança de conduta do paciente e/ou do terapeuta. Posse segura P- Minha filha, apesar de ter também passado na Unicamp, vai fazer o curso na USP. T- Percebo que está triste com a separação. 32 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 P- É, depois de tanto tempo morando juntos é difícil se separar. Mas, eu não devo barrá-la. T- Separação não é necessariamente perda, não é? Por isso está conseguindo suportar a sua angústia... O pai não vê a filha como fonte de proteção. Ela se constitui numa figura de posse amada e que certamente se reuniria com o pai, a seu pedido. Posse ansiosa P- Briguei com o meu namorado porque ele não me ligou ontem à noite, como costuma fazer. T- Você precisa da atenção do seu namorado para combater a sua sensação de que é sempre preterida, ....como se sentia quando achava que sua mãe preferia o seu irmão... P- É, porque parece que ele não está mais se importando comigo. T- Parece porque sente que todo mundo é igual à sua mãe, em vez de se apoiar nas demonstrações de interesse das pessoas ao seu redor. P- É, ele vive dando atenção pra mim, mesmo quando eu não cobro. Aqui, também, não há uma figura de apego, mas de posse, sobre a qual a paciente sente não ter domínio, apesar das várias demonstrações de interesse do namorado. A situação se repetiu algumas vezes, mas não brigou mais. Posse ciumenta P- Uma amiga me perguntou o seu nome porque pensava em fazer terapia, mas eu não falei. T- Você me valoriza tanto que não consegue me dividir com os outros e, talvez, nem passe pela sua cabeça que eu me relaciono com outras pessoas. P- De fato eu não penso nisso. T- Creio que você nunca sentiu ter completamente a posse de alguém. P- É, acho que isso nunca aconteceu. Depois a paciente disse que deu o nome do terapeuta à amiga, mas é provável que não seja uma autêntica mudança quanto ao seu ciúme, mas medo de desgostá-lo. Posse reativa P- Eu sempre tenho que comprar as coisas em dobro. Uso uma e a outra fica guardada. T- Gostaria de ter um clone de mim guardado no seu armário? P- (Deu risada) 33 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 T- Acha que com coisas guardadas está protegido ... P- Protegido não... garantido. T- É, garantido contra a ameaça explícita nas palavras de sua mãe. (A mãe, embora com boa intenção, sempre dizia a ele e ao irmão, queridos, aproveitem bastante (viagem ao exterior etc.), ou, não estraguem (tênis caro etc.), porque a gente não sabe se vai poder fazer isso de novo ou comprar outro). A guarda da duplicata, como figura de posse, caracteriza a defesa à possibilidade de ficar sem nada. Deve-se considerar que o vínculo transferencial com o terapeuta pode ser de apego, isto é, o terapeuta constitui uma figura protetora para o paciente, como aparece no seguinte fragmento de um caso clínico, tomado como exemplo. P- Senti muita falta do nosso encontro (o dia da sessão coincidiu com um feriado). T- Quer dizer que precisa da minha presença para se sentir seguro? P- Não é bem assim, mas me sinto mais seguro quando estou aqui. T- Apesar de ter adquirido muitas condições, continua sentindo que a força está nos outros. P- Isso seria cômico, se não fosse trágico. T- Pode deixar de ser trágico se você conseguir sentir que é você quem faz as suas coisas. P- Eu sei, mas não sinto. T- Você tem a impressão de que os outros já nasceram grandes e com força. P- (Sorriu) Passagens como essa se repetiram ao longo da terapia, mas a mudança do padrão de apego ansioso não foi significante; o máximo conseguido foi uma pequena diminuição da angústia de separação. Bowlby (1988/1989), por entender que o apego ansioso é estruturado por frustrações do comportamento de apego nos anos de imaturidade (infância e adolescência), preconiza que o terapeuta deve se constituir em uma figura de apego disponível e receptiva para o paciente, isto é, uma base segura, que oferece suporte para que ele possa explorar e enfrentar os aspectos dolorosos de sua vida, reavaliando-os e reestruturando-os com base em uma nova compreensão, isto é, reconstruindo os modelos funcionais de si e dos outros. A perspectiva de que as relações interpessoais podem ser avaliadas do ponto de vista da posse (em que um usufrui o outro) e/ou do apego (em que um obtém proteção do outro), pode ser muito útil para a compreensão da dinâmica que se Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 34 estabelece entre terapeuta e paciente, na medida em que fornece as bases para a compreensão das vivências afetivas dominantes, das ansiedades e por conseguinte da defesas, que se atualizam na transferência. Referências Ainsworth, M. D. S. (1963). The development of infant-mother interaction among the Ganda. Em M. F. Foss (Org.), Determinants of Infant Behaviour, v. 2. London:: Methuen. Ainsworth, M. D. S., Blehar, M. C., Waters, E., & Wall, S. (1978). Patterns of attachment: A psychological study of the Strange Situation. Hillsdale, NJ: Erlbaum. Bowlby, J. (1965). Child care and the growth of love. Baltimore: Penguin Books. Bowlby, J. (1969). Attachment and Loss. Volume I: Attachment. New York: Basic Books. Bowlby, J. (1989). Uma base segura: aplicações clínicas da teoria do apego. (Trad., Sônia Monteiro de Barros) Porto Alegre: Artes Médicas. (original publicado em 1988) Elyseu Jr., S. (1996). Contribuições a uma teoria de personalidade. Campinas: Editora Alínea. Elyseu Jr., S. (1998). Teoria da posse. Estudos de Psicologia, 15 (1), 77-80. Elyseu Jr., S. (2006). Construção e validação de Escala de Posse. Tese de Doutorado não publicada, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas. Fonagy, P. (1999). Persistencias transgeneracionales del apego: una nueva teoría. (Trad., Mariano de Iceta) Revista de Psicoanálisis, 3. Malan. D. H. (1983). Psicoterapia individual a ciência da psicodinâmica. (Trad., M. C. Juchem). Porto Alegre: Artes Médicas. (Original publicado em 1979) Yoshida, E.M.P. (2004). Evolução das psicoterapias breves psicodinâmicas. Em E.M.P. Yoshida & M.L.E. Enéas (Orgs.), Psicoterapias Psicodinâmicas Breves: propostas atuais (pp.13-36) Campinas: Editora Alínea. Yoshida, E.M.P & Rocha, G. M. A. da (2006). Avaliação em Psicoterapia Psicodinâmica. Em J. C. Alchieri & R. Cruz (Orgs.), Avaliação Psicológica no contexto Iberoamericano. São Paulo: Vetor (no prelo) 35 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Da flor frágil e despetalada ao brotar da Florzinha: menina super poderosa Roberta Elias Manna 1 Vera Lúcia Mencarelli 2 Tânia Maria José Aiello Vaisberg 3 [email protected] Palavras-Chave: enquadres diferenciados; oficinas psicoterapêuticas de criação; psicanálise; Winnicott; soropositividade. Na clínica nos deparamos, muitas vezes, com situações que solicitam do psicoterapeuta flexibilidade e rápido e eficaz manejo do setting que permita atender às necessidades de nossos pacientes. Neste artigo apresentamos a narrativa de um atendimento realizado em enquadre diferenciado de atendimento, no qual o conhecimento do diagnóstico de uma doença grave, que se dá durante o atendimento, exige da terapeuta presença viva e real, capaz de acompanhar a paciente nesta dramática que ameaça o viver. Esta descoberta fez com que a terapeuta passasse a ser cúmplice do segredo da paciente, permitindo que ela aos poucos alcançasse posição mais integrada de si mesma. Os enquadres psicanalíticos diferenciados de atendimento são inspirados nas consultas terapêuticas de Winnicott (1965; 1971), que utilizava o jogo do rabisco 4 (1964) para se comunicar com seus pacientes. Para Winnicott (1971) a psicoterapia se dá pela superposição de duas áreas do brincar, a do terapeuta e do paciente. Nas situações nas quais o viver está ameaçado, se faz necessária a criação de Psicóloga/Psicanalista Colaboradora da Ser e Fazer: Oficinas Terapêuticas de Criação do IPUSP e Psicóloga da Unidade de Referência à Saúde do Idoso da Coordenadoria Regional de Saúde Centro – Oeste de São Paulo, Coordenadora e criadora da Oficina Psicoterapêutica de Tapeçaria e Outros Bordados. 2 Psicóloga/Psicanalista,Doutoranda em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Psicóloga do Ambulatório de Moléstias Infecciosas, Programa DST/AIDS do Município de Santo André, Prefeitura Municipal de Santo André, criadora da Oficina Psicoterapêutica de Velas Ornamentais. 3 Psicóloga/Psicanalista, Professora Livre Docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Coordenadora da Ser e Fazer, orientadora do Programa de Pós Graduação em Psicologia Clínica do IPUSP, Orientadora do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e Diretora Presidente do New – Núcleo de Estudos Winnicottianos de São Paulo. 4 Neste jogo, Winnicott desenhava um traço qualquer que poderia ser modificado pelo paciente, em seguida, era a vez do paciente fazer seu rabisco, modificado, por sua vez, por Winnicott. Neste jogo a interação viva e real de Winnicott permitia que ele e seu paciente se comunicassem, de forma espontânea, facilitando a emergência do lúdico. 1 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 36 ambiente suficientemente bom, capaz de permitir o gesto espontâneo como possibilidade de expressão do verdadeiro self. Winnicott (1962), em seu texto sobre os objetivos do tratamento psicanalítico, coloca duas possibilidades de posicionamento diante do conhecimento psicanalítico: utilizar o dispositivo criado por Freud para o atendimento individual de pacientes diagnosticados como neuróticos, ou ser um psicanalista capaz de fazer outra coisa mais apropriada para a ocasião. Seguindo este pensamento e entendendo a unicidade do método 5 psicanalítico , podemos criar / encontrar variadas possibilidades de intervenção clínica que sejam apropriadas às condições concretas de vida das pessoas que atendemos. Tendo isto em vista, temos desenvolvido pesquisas clínicas sobre a potencialidade mutativa de enquadres diferenciados, dentre os quais destacamos, no momento, as oficinas psicoterapêuticas, que se caracterizam, à primeira vista, pela utilização de materialidades mediadoras. Inspiradas no jogo do rabisco, no qual Winnicott fazia uso do desenho porque apreciava muito esta atividade, entendemos que a materialidade está intimamente ligada à pessoalidade do terapeuta: é o jogo que se gosta de jogar! O atendimento clínico, narrado a seguir, aconteceu na Oficina Psicoterapêutica de Tapeçaria e Outros Bordados 6 que acontece nas dependências da Clínica de Psicologia do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Os encontros são semanais, em grupo e as materialidades mediadoras utilizadas são: lãs coloridas 7 para bordar tapeçaria, agulha e tela branca. O material é oferecido/apresentado pela psicoterapeuta que fotografa os bordados criados pelos pacientes, e estes levam suas criações para casa. O encontro psicoterapêutico acontece na clínica escola, atendendo a população adulta em geral que procura a Ser e Fazer: Oficinas Psicoterapêuticas de Criação. Entendemos que a unicidade do método psicanalítico repousa no seu potencial de transformação de campo. Herrmann (1977) aponta que o método é a grande invariante da Psicanálise e compreende que sua aplicação se dá pela ruptura do campo discursivo, levando o analisante a “um sem fim de sentidos”. Nós, ainda que influenciadas por Herrmann, nos atemos às transformações do campo existencial e, já não do campo discursivo. 6 A Oficina Psicoterapêutica de Tapeçaria e Outros Bordados foi criada e é coordenada pela psicóloga Roberta Elias Manna. 7 A Oficina Psicoterapêutica de Tapeçaria conta com o apoio da Paramount, fabricante das lãs Pingouin Paratapet, que fornece lãs para a realização do grupo. 5 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 37 Acompanhando Florzinha e nosso Segredo Compartilhado Florzinha chega até a Oficina Psicoterapêutica de Tapeçaria com o auxílio de outra profissional que a descreve como alguém que apresenta problemas emocionais intensos, caracterizados por muito desânimo em relação a vida pessoal e familiar, temendo que ela tentasse algo contra sua própria vida. Florzinha é uma mulher de 45 anos, de pele e olhos claros, porte pequeno, gêmea de uma irmã que mora com a família fora de São Paulo, tendo também uma irmã mais nova com problemas psiquiátricos e um irmão já falecido. A paciente é mãe de dois filhos de um primeiro casamento, um rapaz de 22 anos, terminando a Faculdade de Processamento de Dados que mora com o pai e um garoto de quatorze anos que vive com ela e seu atual companheiro. Ela adotou seu sobrinho desde um ano de idade, filho de sua irmã caçula, que tem hoje quatro anos. Conheceu seu atual companheiro ainda casada separando-se em seguida, porém manteve com o ex-marido um pequeno comércio que vende um pouco de tudo, na Periferia de São Paulo, de onde vem o seu sustento, do primeiro marido e dos filhos. Florzinha iniciou no atendimento muito contida, calada, falando apenas de coisas como o tempo ou outras banalidades. Ao bordar sempre dizia não saber que cor usar, o que fazer, demonstrando insegurança e pedindo opinião da terapeuta ou de outra participante do grupo. Apesar de Florzinha interagir com a outra paciente, seja preocupando-se por suas faltas eventuais, seja proporcionando carona no final da atividade, nunca abordava suas questões pessoais na presença daquela. Preferia chegar com meia hora de antecedência para conversar com a terapeuta, antes do início do encontro grupal. Durante este período, algo muito importante aconteceu na vida de Florzinha. Seu atual marido havia emagrecido muito, sendo encaminhado pela empresa na qual trabalhava como caminhoneiro para realizar uma série de exames. Florzinha surpreendeu-se com esta providência, no entanto, reconhecia que o emagrecimento do marido era evidente e significativo. A terapeuta questionou-a a respeito desta evidência, tendo alegado a paciente que, na verdade, não se dera conta, até então, deste fato, pois permanecia mais em companhia do ex-marido, pai de seus filhos, do que do próprio marido. Podemos perceber que Florzinha não estava ali, não estava presente em sua vida, não estava presente também em seu casamento. Decidiu realizar os mesmos exames, por iniciativa própria. Contou para a terapeuta que há aproximadamente dez anos, ao doar sangue no HC com o marido, Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 38 não haviam aceitado o sangue dele, apenas o dela. Na ocasião, ambos concluíram que este deveria ser um procedimento normal. Esta declaração da paciente deixou a terapeuta extremamente perplexa. Como Florzinha não percebera que algo no mínimo estranho estivesse acontecendo quando o sangue do marido fora recusado, formulando/aceitando tranqüilamente a explicação de que deveria ser assim mesmo? Neste momento, a terapeuta não pôde deixar de comunicar seu estranhamento à paciente que, nesta altura, também vivia certa perplexidade numa espécie de “efeito retardado”. Florzinha e a terapeuta exploraram mais esta falta de preocupação e de cuidado, manifestada no esquecimento, por tantos anos, deste fato tão importante. A terapeuta concluiu que mais uma vez ela se ausentara, não vivera esta experiência, provavelmente, porque não estava ali para vivê-la. Assim, ausente de si, Florzinha descobriu que ela e o marido eram portadores do vírus HIV, sendo dramaticamente arrancada de um “sono profundo” por esta descoberta 8 . Este acontecimento se deu às vésperas das férias do final de ano, deixando a terapeuta muito preocupada com a interrupção do atendimento. Talvez existisse, num registro imaginário, uma crença onipotente de que mantendo o atendimento nada de pior poderia ocorrer a Florzinha, por outro lado, havia certeza de que presença humana, viva e real, era a única possibilidade de ajuda naquele momento. Ela estava vivendo uma experiência de dor e sofrimento, porém parecia mais presente, atenta e preocupada em não mais se ausentar de sua própria vida, manifestando desejo de se cuidar. Ela queria viver! 9 . A terapeuta informou o número de seu telefone, mas nenhuma chamada foi feita. Reiniciado o atendimento após as férias, Florzinha retomou a conduta de chegar antes dos outros pacientes para estar sozinha com a terapeuta, que a recebia com total disponibilidade, procurando acolher este movimento de buscar um rosto, um gesto, um outro, que ainda só poderia ser um e não muitos. Florzinha pôde contar o que estava lhe acontecendo apenas para sua mãe e para seu filho mais novo, não queria que ninguém mais soubesse o drama que estava vivendo, temendo sofrer preconceito, o mesmo preconceito que sentia diante de outras pessoas que viviam situação semelhante à sua. É preciso, aqui, lembrar da dissociação como estratégia defensiva contra o sofrimento. Nesta situação dramática pela qual passava Florzinha, fazia-se necessário uma mudança de enquadre, distanciando-se ainda mais do dispositivo padrão, no qual tudo o que é dito é ouvido como sonho. O enquadre que poderia sustentar esta experiência não poderia jamais negar a veracidade do trauma por que passava Florzinha, não poderia negar a concretude de suas vivências e de sua dor. Vale a pena aqui remeter o leitor às dissertações de Mencarelli (2003) e Vitali (2004) e ao artigo de Mencarelli e Aiello-Vaisberg (2005). 8 9 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 39 A terapeuta passou, a partir de então, a ser cúmplice de seu segredo, percebendo que ela precisava falar, precisava que algumas poucas pessoas soubessem e compartilhassem seu drama, no entanto, precisava também que as outras pessoas não soubessem, que o mundo não mudasse tanto com ela 10 . Durante a Oficina se calava, falando de coisas aparentemente supérfluas. Era esta a maneira possível, provavelmente, a melhor forma de estar no grupo naquele momento dramático de vida. Bleger (1963) ajuda-nos a compreender esta situação, quando diz que: “Toda conduta, no momento em que se manifesta, é a ‘melhor’ conduta, no sentido de que é a mais ordenada e melhor organizada que o organismo pode manifestar neste momento e é a que pode regular a tensão no máximo possível para essas condições”. Acrescentando logo abaixo: “... nisso incluímos, também, não só a normalidade como também a patologia; de tal maneira que inclusive o sintoma é a conduta melhor que o organismo pode manifestar, para resolver da melhor forma possível as tensões que enfrenta nesse momento” (p.144). Aqui, vale a pena pararmos um pouco para destacarmos uma questão importante que aparece nesta narrativa: o segredo compartilhado com a terapeuta. Como agir quando um paciente atendido em enquadre grupal solicita atenção individualizada para seu sofrimento? A terapeuta optou, não de forma deliberada, mas apoiada nas necessidades de Florzinha, em aceitar o que ela pedia: que a terapeuta fosse guardiã de seu segredo, que passou a ser um segredo compartilhado! Pedia que na Oficina pudesse ter um momento de descanso para o drama que vivia, que pudesse bordar como se aquela não fosse sua história. Ela não queria pena, nem o preconceito das pessoas, parecia querer continuar vivendo, e bordando, apesar de tudo! Winnicott (1963), fala em um sofisticado jogo de esconder, no qual o “eu privado que não se comunica, e ao mesmo tempo querendo se comunicar e ser encontrado (...) em que é uma alegria estar escondido, mas um desastre não ser achado” (p.169). Neste mesmo texto ele postula a existência de um núcleo da personalidade que nunca se comunica e podemos imaginar como esta experiência de não-comunicação pode ficar aumentada quando a pessoa experencia ameaça em seu viver, como a que passa Florzinha com o conhecimento do diagnóstico e conseqüentes modificações em sua vida: 10 Mantinha assim certa dissociação que a protegia de seu diagnóstico e podia por alguns momentos “esquecer” o fato de ser soropositiva. Percebemos aqui que dissociação e integração não são estados “tudo ou nada”, mas que existem gradações e oscilações momentâneas. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 40 “Estupro, ser devorado por canibais, isso são bagatelas comparados com a violação do núcleo do self, alteração dos elementos centrais do self pela comunicação varando as defesas. Para mim isto seria um pecado contra o self. (...) A Pergunta é: Como ser isolado sem ser solitário? (...) Há um elo aqui com a idéia de estar só na presença de alguém, de início um acontecimento natural na vida da criança e mais tarde uma questão de aquisição da capacidade de reclusão sem perda da identificação com aquilo do que esta reclusão se originou. Isto aparece com a capacidade de se concentrar em uma tarefa” (p. 170-171). Parece ter sido exatamente isto que se passou com Florzinha que borda até este momento com dificuldade, esquecendo-se com freqüência que caminho seguir com a lã para realizar o ponto, ora requisitando muito auxílio da terapeuta, ora “apanhando” sozinha sem sair do lugar, desmanchando várias vezes, mas demonstrando não querer ajuda em seu bordado. Aos poucos, com pequenos gestos, porém gestos espontâneos e significativos, Florzinha seguiu seu devir, iniciando movimento de busca por algo novo, retomou sua vida que antes parecia irreal e represada, como água parada. No grupo este movimento assumiu a disposição para aprender a bordar um ponto novo, aparentemente mais difícil, pois requer um caminho mais longo para que possa ser finalizado. Neste período Florzinha bordava com independência, criando coisas novas, escolhendo suportes diferentes para bordar: em tecido xadrez fez toalhinha de bandeja, na juta fez suporte de papel higiênico. Parecia experimentar novos mundos, novas possibilidades. Naquele momento, seu movimento passou a ser de retomada do viver e de sua existência, sendo o mais importante e evidente em tudo isto que estava retomando um movimento, como se acordasse de um sono profundo, tendo a companhia atenta e cuidadosa da terapeuta. Certo dia, Florzinha chegou ao grupo com o cabelo diferente, com roupa diferente da habitual, mais arrumada e carregando uma maleta cor de rosa com seus “apetrechos de bordar”, contando que quando a encontrou no supermercado quis comprar para carregar seu material. Parecia estar vestida de bordadeira! Seria uma “fantasia” de bordadeira, um apegar-se dissociadamente ao “mundo bordadeiro” onde talvez não exista morte? Ou seria um movimento de integração? De qualquer forma, parece-nos que ela, naquele momento, podia brincar com seu bordado, brincar de bordar e ir retomando sua presença, mais viva na Oficina. Florzinha seguiu bordando muito compenetrada, na maioria das vezes acompanhada de sua “maleta de bordar”, ainda em silêncio quando não estava só com a terapeuta, mas aos poucos podendo estar mais presente, mais viva, Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 41 parecendo às vezes feliz. Sentada sempre ao lado da terapeuta, Florzinha mantinha longos períodos de silêncio, no entanto, silêncio presente, podendo estar só na companhia de seu bordado, dela mesma e da terapeuta. Observando estes momentos, parecia que ela estava recuperando uma capacidade que não demonstrava ter no início de nossos encontros, a capacidade de estar só ao mesmo tempo em que presente diante de seu ser, seu fazer e do outro (Winnicott, 1958). Florzinha apresentou à terapeuta uma nova faceta, lutadora, valente, usando um tom de voz carregado de presença e força, surpreendendo-se ao encontrar em si mesma uma vitalidade que não lembrava existir. Em um determinado dia, interrompeu seu bordado contando à terapeuta que seu marido a chama de “Florzinha”. Imitando o jeito de falar do marido, num tom que parecia desdenhoso e frágil. A terapeuta intervém perguntando se ela era a Florzinha, a menina super poderosa? Florzinha faz cara de surpresa, imitando a voz do marido: “Meus poderes acabaram!”, completando que ele, daqui por diante, não a dominará mais. Após este diálogo, pela primeira vez, contou que já apanhara muito dele, mas que agora se sentia mais forte para lidar com a situação. Na sessão seguinte contou que tivera um fim de semana muito tumultuado, brigando com o marido por causa de sua irmã. Mandou-o ir embora de casa, Em resposta, o marido saiu de casa, o que a fez sentir-se muito culpada por usar sua força de forma tão agressiva. Chorou bastante no final de semana e decidiu telefonar para ele pedindo para voltar. Esta força ainda era desconhecida por ela, precisando de um percurso para poder integrá-la a sua personalidade total para poder viver o ser frágil sem medo e o ser forte sem culpa. É como se acontecesse uma dança entre dois parceiros, a Florzinha fragilzinha e a Florzinha, a menina super poderosa, que pode, a nosso ver, revelar-se como um caminho rumo à integração, desde que possa contar com o ambiente terapêutico sustentador. Florzinha seguiu participando assiduamente da Oficina Psicoterapêutica de Tapeçaria e Outros Bordados por mais alguns meses, neste mesmo movimento oscilatório. Entretanto, após as férias de Natal, Florzinha não retornou à Oficina. Esta data coincidia com o diagnóstico de soropositividade. Em algumas ocasiões conversou por telefone com a terapeuta, às vezes ligava para justificar sua ausência, outras vezes a terapeuta ligava para saber como ela estava. A paciente mostrava-se sempre feliz em falar com a terapeuta, porém parecia preocupada com a possibilidade de ser ouvida por alguém, temendo que descobrissem seu segredo. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 42 Trocava de telefone, pedia que a terapeuta ligasse em horários pré-combinados, fora da presença e da escuta do ex-marido e do filho mais velho. Na última conversa que tiveram por telefone, Florzinha dizia que queria retornar ao grupo, pois muitas vezes se sentia fraca e sozinha, mas tinha que ser forte, pois seu marido havia piorado e o pai de seus filhos também não estava bem. Combinaram que poderia retornar quando quisesse, pois a Oficina estaria lá, aguardando por ela. Referências BLEGER, J. (1984) Psicologia da Conduta. Porto Alegre, Artes Médicas, 1989. 242 p. HERRMANN, F. (1977). Andaimes do Real: o método psicanalítico. São Paulo, Casa do Psicólogo, 2001. 328 p. MENCARELLI, V.L. Em Defesa de uma Clínica Psicanalítica Não – Convencional: Oficina de Velas Ornamentais com Pacientes soropositivos. 2003. 101 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, 2003. MENCARELLI, V.L., VAISBERG, T.M.J.A. Iluminando o Self: uma Experiência Clínica Psicanalítica não Convencional. In: Estudos de Psicologia. Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Centro de Ciências da Vida. Programa de Pós – Graduação em Psicologia. Campinas, S.P., v. 1 n. 1 (1983-) v. 22n. 4 out. / dez. 2005. p. 415-423. VITALI, L.M. Flor-Rabisco: Narrativa Psicanalítica de uma Experiência Surpreendente. 2004. 189 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Instituto de Psicologia de Psicologia da Universidade de São Paulo, 2004. WINNICOTT, D.W. (1958) A Capacidade para Estar só. In: O Ambiente e os Processos de Maturação. Porto Alegre, Artes Médicas, p. 31-37, 1983. WINNICOTT, D.W. (1962) Os Objetivos do Tratamento Psicanalítico. In: O Ambiente e os Processos de Maturação. Porto Alegre, Artes Médicas, p. 152-155, 1983. WINNICOTT, D.W. (1963) Comunicação e Falta de Comunicação Levando ao Estudo de Certos Opostos. In: O Ambiente e os Processos de Maturação. Porto Alegre, Artes Médicas, p. 163-174, 1983. WINNICOTT, D.W. (1964) O Jogo do Rabisco. In: Explorações Psicanalíticas. Porto Alegre, Artes Médicas, p. 230-243,1994. 43 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 WINNICOTT, D.W. (1965) O valor da Consulta Terapêutica. In: Explorações Psicanalíticas. Porto Alegre, Artes Médicas, p.244-248, 1994. WINNICOTT, D.W. (1971) Consultas Terapêuticas em Psiquiatria Infantil. Rio de Janeiro, Imago Ed., 1984. WINNICOTT, D.W. (1971) O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro, Imago Ed., 1975. 44 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Da terapia comportamental à terapia cognitivocomportamental: uma história de 35 anos Bernard Rangé 1 2 Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected] Palavras-chave: terapia cognitivo-comportamental; transtorno do pânico; agorafobia. Key-words: cognitive-behavioral therapy; panic disorder; agoraphobia. Resumo Este artigo descreve a evolução do conhecimento sobre um tratamento cognitivo-comportamental do transtorno do pânico e da agorafobia. É baseado em contribuições de vários pesquisadores, sendo descrito como um tratamento integrativo na medida em que associa tratamento farmacológico e vários tipos de intervenções cognitivas e comportamentais. Utiliza técnicas de restruturação cognitiva, de habituação interoceptiva, técnicas respiratórias, de exposição situacional e de restruturação existencial. O tratamento foi originalmente desenvolvido para atendimentos individuais, mas depois foi também utilizado para atendimentos em grupo. Foi concebido para ser um atendimento que pudesse ser desenvolvido por terapeutas que trabalhassem em locais onde não existisse uma terapia cognitivocomportamental qualificada, num modelo de tratamento passo-a-passo. Os resultados têm sido muito satisfatórios, com exceção de algumas intervenções como o treinamento em assertividade e o relaxamento muscular. Ajustes foram realizados para atender esses achados. Abstract This paper describes the knowledge evolution about a cognitive-behavioral treatment of panic disorder and agoraphobia. It is based on contributions of many researchers, and it is described as an integrative treatment since it associates pharmacological treatment and various types of cognitive and behavioral therapies. It uses cognitive restructuring techniques, interocepetive habituation, respiratory techniques, and existential restructuring. The treatment was originally developed for an individual approach, but later it has been also used for group treatments. It has been conceived as a treatment to be used in places where it would not be possible find qualified cognitivebehavioral treatment, in a step by step model. Results have been most satisfactory with the exception of some interventions like assertive training and muscular relaxation. Adjustments were made to attend these findings. Bernard Rangé, Centro de Psicoterapia Cognitiva do Rio de Janeiro. Rua Visconde de Pirajá 547 sala 608, Ipanema. Rio de Janeiro, RJ. 22410-900. Telefax: +55 (21) 2259-7949 2 Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia / Supervisor da Divisão de Psicologia Aplicada Instituto de Psicologia. 1 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 45 Meu primeiro cliente, ICC, apresentou-se com um quadro que, naquele longínquo ano de 1972, era chamado de “neurose de angústia” mas que hoje seria classificado como Transtorno do Pânico (TP) com Agorafobia (AGO) (APA, 2002). Seu primeiro ataque de pânico ocorreu quanto estava num ônibus que vinha de Petrópolis para o Rio de Janeiro, vindo da casa de seus pais que passavam uma temporada de férias naquela cidade. Os seus sintomas consistiram de uma forte taquicardia, sensações de falta de ar, tonteira, ondas de frio e calor, sudorese, tremores internos, e idéias de morte iminente por ataque cardíaco. Em decorrência disso, passou a evitar andar de ônibus, de elevador, de avião, passar em túneis e viadutos, evitando também engarrafamentos. Isto teve como uma implicação a contratação de um sócio para trabalhar em sua empresa, uma vez que ela prestava serviços em outros locais do Brasil, notadamente São Paulo, Salvador, Belo Horizonte e Curitiba. E outra, os seus deslocamentos pela cidade do Rio de Janeiro eram feitos em horários muito cedo ou muito tarde, para evitar os previsíveis engarrafamentos que já naquela época ocorriam. Por sorte o seu escritório era no primeiro andar, mas, às vezes, clientes lhe solicitavam que fosse ao escritório deles, que com freqüência eram em andares acima do 25º, o que lhe exigia que fosse de escada. Ele só se sentia bem dirigindo o seu próprio carro e assim, fazia viagens longas para os lugares mais próximos como São Paulo ou Belo Horizonte. Mesmo assim, os negócios não estavam indo tão bem, porque o sócio não se dedicava com a garra necessária. Ele não agüentava mais ter esses ataques e essas limitações em sua vida. Ele era uma pessoa muito alegre, agradável e divertida mas seu sofrimento parecia ser intenso. Quís muito ajudá-lo. Isso me motivou a estudar este quadro com mais dedicação... até mesmo porque eu não tinha outros clientes mesmo... Desde essa época eu me interessei pelo tratamento desses quadros e muito da minha evolução pode ser creditada a esforços para ajudar melhor aos pacientes com esses quadros. Como aluno ainda, eu já havia começado a minha formação em terapia comportamental. Tenho gratidão por dois grandes mestres que tive. Um, infelizmente, precocemente falecido: Octávio Soares Leite. Ele era um estudioso insaciável que conhecia desde as últimas novidades no campo da psicologia experimental até as contribuições mais recentes sobre Carl Gustaf Jung. Nesta época, sobretudo no Rio de Janeiro, Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 46 por influência de um velho amigo, Gerado Lanna, a terapia comportamental era chamada de “condutoterapia” e as primeiras informações que tive sobre trabalhos nessa área vieram de uma aula do Octávio sobre a dessensibilização sistemática de Joseph Wolpe, num curso que ele dava sobre Aprendizagem Humana, em 1969. Ao final da aula, ao comentar que havia gostado do que ele havia exposto mas que eu tinha dúvidas sobre se aquele procedimento funcionaria mesmo de modo efetivo, ouvi dele o melhor conselho que já tive: “Se você tem dúvidas, teste!” Foi assim que começou a surgir um grupo de pessoas interessados em terapia comportamental, rodeado em torno do Octávio. Pouco depois, começou a fazer parte do grupo uma outra professora, que acabava de chegar de um treinamento de um ano com o próprio Wolpe, na Temple University. Esta foi minha segunda grande mestre. Infelizmente foi por pouco tempo, pois acabou indo morar em São Paulo, onde vive até hoje. Ela supervisionava os aspectos práticos que Octávio não conseguia dar conta. Afastando-me um pouco destas agradáveis recordações, voltemos ao caso ICC. Meus estudos informaram que o conhecimento na época não validava tratamentos baseados na dessensibilização sistemática para quadros de agorafobia: o tratamento efetivo era exposição gradual ao vivo para o objetivo de produzir uma extinção da resposta de medo (Gelder e Marks, 1966). E assim começou o meu interesse na área de pânico e agorafobia. Em meu curso de mestrado, a minha dissertação versou sobre assuntos novamente discutidos nas aulas de Octávio Leite: evidências empíricas que estremeciam os fundamentos teóricos da teoria bifatorial de Mowrer como explicação para a esquiva e os quadros fóbicos. Em 1991, houve um Congresso Brasileiro de Psiquiatria em Maceió, no estado de Alagoas, para o qual eu havia sido convidado para dar um curso de três aulas sobre terapia cognitiva, saudosamente preparadas em meu primeiro computador, um Apple II Plus. Na semana anterior, eu havia atendido pela primeira vez um dos casos mais graves de transtorno do pânico que eu já havia acompanhado até então: esta mulher tinha vários ataques de pânico por dia. Sendo assim, após entrevistá-la, constatar o seu problema e explicar-lhe os seus mecanismos de ação, encaminhei-a para uma psiquiatra amiga minha, Dra. Vera Lemgruber, que atende alguns andares acima no mesmo prédio que Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 47 eu para que ela fosse medicada. Combinei com ela que ela voltaria na semana seguinte. Nesta semana, ela já havia sido recebida pela psiquiatra que a avisara que estaria num congresso a partir do dia seguinte. Quando ela chegou ao meu consultório, eu também a avisei que estaria no mesmo congresso, também a partir do dia seguinte. Ela se sentiu muito abalada e desamparada e, muito aflita, perguntou se eu não tinha nada escrito para ajudá-la. Prometi a ela que o faria durante o vôo. Foi assim que surgiu a “Estratégia A.C.A.L.M.E.S.E.”. Ao chegar no hotel, a datilografei numa máquina de escrever para enviar por fax para ela (Rangé, 1995). Em 1993, ocorreu um Congresso Mundial de Psiquiatria no Rio de Janeiro. Graças à minha amizade com a Dra Vera, consegui ter acesso aos resumos enviados e pude descobrir a vinda de David Barlow, Samuel Turner, Jack Maser, Joseph Wolpe, Rafael Navarro Cuevas, Gualberto Buela-Casal, Vicente Caballo, Herbert Chappa, Sergio Pagés e Hector Fernandez-Alvarez... De conversas com David Barlow e Jack Maser, surgiram informações fundamentais para o crescimento do meu conhecimento sobre transtorno do pânico e agorafobia. De conversas com Herbert Chappa, Sergio Pagés e Hector Fernandez-Alvarez surgiu uma amizade que é um dos motivos de eu estar aqui falando para vocês. Motivos de ordem pessoal atrasaram o início de meu doutorado, que só pôde começar em 1994, depois de meu ingresso na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Depois de cursar várias disciplinas e em conversas com meu orientador sobre o que eu gostaria de escrever como tema da minha tese, ele me relatou que um outro orientando dele tinha feito uma tese baseada num programa de rádio em que ele apresentava informações para a população que o ouvia. Tive então a idéia de desenvolver um protocolo de tratamento para o transtorno do pânico e a agorafobia para ser utilizado por pessoas que não tivessem um treinamento específico em terapia cognitivo-comportamental (TCC). Isso ocorreu porque eu estava naquele ano de 1996 dando cursos de TCC em Goiânia e eu havia desenvolvido um protocolo integrativo (tratamento farmacológico, terapia cognitiva, terapia comportamental, terapia racionalemotiva-comportamental) que estava sendo utilizado pelos meus estagiários na Divisão de Psicologia Aplicada (DPA) do Instituto de Psicologia (IP) da UFRJ. Uma das alunas, era uma psicóloga clínica de formação digamos Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 48 “psicodinâmica” que se interessou em testar o protocolo com três de seus clientes. Os resultados que ela obteve, medidos por diversos inventários, foram muito bons. Decidi durante os anos de 1997 e 1998 ir aprimorando-o até que alcançou a forma final denominada “Vencendo o Pânico: Programa de Tratamento Multicomposto Específico para o Transtorno do Pânico e a Agorafobia”, em duas versões: uma para terapeutas não treinados em TCC e outra para pacientes. Esse protocolo foi sendo utilizado pelos meus estagiários da seguinte forma: eu os entregava impressos para eles lerem e usarem com seus pacientes com TPAGO. Eventualmente eles faziam relatos sobre como estavam indo os atendimentos, mas eu não dava supervisão. Os pacientes recebiam também o material deles a cada sessão, para lerem e exercitarem em casa as tarefas indicadas. Estava concebido inicialmente para ser um protocolo para uso com casos individuais em sessões de hora e meia, em função da quantidade de tarefas para fazer em cada sessão. [Posteriormente foi utilizado também para atendimentos em grupo.] Tudo isso começou com uma pesquisa de David Clark citada no livro de Martin Seligman “O Que Você Pode e o Que Não Pode Mudar” 3 em que para um grupo de 20 pacientes com TP que ele divide em dois de dez e ele apresenta para um dos grupos a seguinte frase: “O lactato é uma substância corporal natural que produz sensações semelhantes ao exercício ou ao álcool. É normal sentir intensas sensações durante a infusão, mas elas não indicam uma reação adversa”. Para o outro grupo nada foi informado. Uma substância foi administrada e dos dez pacientes do primeiro grupo apenas três tiveram ataques de pânico e dos dez do outro, aqueles que nada sabiam, nove tiveram ataques de pânico (pg. 71). Isso demonstrava com clareza a importância das informações para quem tem ataques de pânico. Ao mesmo tempo, entrei em contato com o livro de Wolfe e Maser 4 , que representava o relatório de uma conferência realizada em 1991, promovida pelo Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos visando o estabelecimento de um consenso entre os 25 especialistas das mais diferentes Seligman, Martin E.P. (1995) O Que Você Pode e o Que Não Pode Mudar. Rio de Janeiro: Objetiva. Wolfe, B.E. e Maser, J.D. (eds.) (1994). Treatment of panic disorder: A consensus development conference. Washington, DC: American Psychiatric Press 3 4 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 49 áreas do conhecimento sobre TPAGO convidados para esse encontro. Um resumo deste relatório pode ser encontrado abaixo: Conferência do NIMH • A TCC é um tratamento efetivo para o TP, variando entre 74% e 95% o seu grau de eficácia, medida em termos de ausência de ataques de pânico depois de 3 meses de tratamento e com os ganhos se mantendo de modo consistente depois de seguimentos de 1 e 2 anos. • Tanto a resposta imediata quanto a de longo termo comparam-se favoravelmente em relação a tratamentos alternativos como imipramina e relaxamento aplicado. • A taxa de recaída é significativamente menor do que com a imipramina. • A análise de componentes indica que os efeitos operam por mudança cognitiva e extinção interoceptiva e exteroceptiva. • Há evidências de eficácia com apenas 3,5 horas de contato com um terapeuta, complementadas com biblioterapia. • Tratamentos combinados (exposição mais imipramina ou alprazolam) indicam eficácia de curto prazo de 66% 76% para TP com agorafobia, com pequena vantagem para exposição mais imipramina do que exposição, imipramina ou alprazolam sozinhos. • Tratamentos combinados (exposição mais imipramina ou alprazolam) indicam eficácia de longo prazo de 50% 75% em seguimentos de 1 ou 2 anos, mas a combinação de exposição mais imipramina não se mostrou mais efetiva do que exposição apenas. • O uso combinado de exposição e alprazolam mostra resultados de longo prazo piores e maior taxa de recidiva do que exposição apenas. 50 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 • Os resultados não recomendam o uso de tratamentos combinados a não ser quando: 1. não houver TCC disponível 2. ela não for aceita pelo paciente 3. quando uma TCC adequada não tenha mostrado bons resultados; 4. quando houver a presença de outros problemas (p.ex., depressão). A declaração consensual destacou que: • O transtorno do pânico é uma condição distinta, com uma apresentação, curso específico e história familiar positiva, para o qual existem tratamentos farmacológicos ou cognitivo-comportamentais efetivos. •Tratamentos que falham em produzir resultados em 6 ou 8 semanas devem ser reavaliados. •Pacientes com transtorno do pânico, com freqüência, têm uma ou mais condições comórbidas que requerem avaliação e tratamento cuidadoso. •As necessidades mais críticas de pesquisa são: Desenvolvimento de medidas confiáveis, válidas e estandartizadas para avaliação e resultados; Identificação de escolhas ótimas e a estruturação de tratamentos desenhados para atender às necessidades individuais variadas de cada paciente; Implementação de pesquisa básica para definir a natureza do transtorno. • Barreiras para o tratamento incluem conhecimento, acessibilidade e recursos. • Uma campanha educacional agressiva para aumentar a consciência desses temas deve ser montada para clínicos em geral, pacientes e suas famílias, para a mídia e para o público em geral. 51 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Sublinhei aqueles trechos que pareciam mais pertinentes aos meus objetivos, apesar de que o último, hoje em dia, já não é tão verdadeiro. Mas os outros três sublinhados e todas as outras informações descritas eram importantíssimas. Este material fundamentou o meu protocolo “Vencendo o Pânico: Programa de Tratamento Multicomposto Específico para o Transtorno do Pânico e a Agorafobia”. Ele consiste de oito sessões [a primeira versão consistia de seis sessões] de tratamento cognitivo-comportamental, com duas sessões de avaliação inicial; mais uma bateria de escalas para serem preenchidas em casa; e ainda uma reavaliação das escalas ao final da penúltima sessão em que novamente os pacientes levam para preencher em casa. Nas sessões de avaliação eram aplicadas as entrevistas estruturadas ADIS-IV (Anxiety Disorders Interview Schedule for DSM-IV: Entrevista Estruturada para os Transtornos da Ansiedade para o DSM-IV, de Di Nardo e cols., 1995) e a SCID-TP (Structured Clinical Interview for DSM - Personality Disorders: Entrevista Clínica Estruturada para o DSM, versão para Transtornos da Personalidade (Pfohl e cols., 1989) além de uma variedade de testes, escalas e inventários que os pacientes levam para casa para preencher: Questionário de Pânico (Rangé, 1996) e de Crenças de Pânico (Scott, Williams e Beck, 1994); Inventários Beck de Depressão (Beck e cols., 1961) e de Ansiedade (Beck e cols., 1988); IDATE (Biaggio, 1977); Escala de Sensações Corporais, Escala de Cognições Agorafóbicas e Inventário de Mobilidade (Chambless e cols., 1984; 1985); SCL-90 (Derogatis, 1983); Escala Brasileira de Assertividade (Ayres e Ferreira, 1995). Essas escalas são reaplicadas no pós-teste e nos seguimentos. Com as reformulações realizadas as escalas também foram modificadas. Sairam as escalas IDATE, SCL-90 e entraram as seguintes escalas: (1) Escala de Pânico e Agorafobia (Bandelow, 1995); a escala SF-36 (Ciconelli, Ferraz e Santos, 1998). A primeira sessão de tratamento tem como objetivos estabelecer um rapport, oferecer informações básicas sobre o problema e o seu tratamento, coletar informações complementares e estabelecer metas do tratamento. Ao final desta sessão os clientes levam um texto referente ao primeiro passo do programa de tratamento, que inclui informações sobre o transtorno do pânico e Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 52 da agorafobia, sobre o modelo cognitivo dessas perturbações e sobre o tratamento dele derivado, além de textos com informações sobre a fisiologia e a psicologia do medo e da ansiedade e da fisiologia da hiper-respiração. Com essas informações ele já vai chegar à segunda sessão entendendo um pouco mais o que se passa com ele (Baillie & Rapee, R, 2004). A segunda sessão tem como objetivos treinar habilidades de manejo. As metas e tarefas da sessão incluem: 1. Introduzir a Estratégia A.C.A.L.M.E.-S.E.. 2. Fazer hiperventilação no passo 4 do A.C.A.L.M.E.-S.E.. 3. Introduzir o treino respiratório com a respiração diafragmática ao final do exercício. 4. Introduzir a estratégia SPAEC. 5. Verificar se o paciente compreendeu claramente as relações das seqüências SPAEC. 6. Treinar o preenchimento dos RDPDs e a folha do SPAEC. As instruções para a Estratégia A.C.A.L.M.E.-S.E. (Rangé, 1995) exigem que ela deva ser lida em voz alta pelo paciente, com o terapeuta interrompendo freqüentemente para ressaltar, sublinhar, explicar, detalhadamente cada aspecto. O primeiro aspecto importante a ressaltar diz respeito à aceitação das sensações. O cliente já leu nos textos que essas sensações são apenas sinais de ansiedade ou de uma ativação simpática, que é uma reação primitiva de luta-ou-fuga, necessária para a sobrevivência dos organismos em situações de perigo, ou em situações em que ele pensa que está em perigo. Com essa informação ele entende que essas sensações podem até ser desagradáveis, mas não são perigosas. Mesmo o aspecto de desagradabilidade é discutível pois, na atividade sexual, sente muitas dessas sensações e as acha muito agradáveis. Donde tudo depende do contexto em que se avalia essas sensações. Daí ser perfeitamente aceitável experimentá-las. Outro aspecto importante diz respeito à idéia de que essas sensações parecem antecipações de “perigos” (morrer sufocado ou de ataque cardíaco, 53 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 perder o controle, ficar louco, desmaiar). Na verdade não são antecipações, são conseqüências dos pensamentos que ele tem a partir de suas sensações. E a maior evidência disso é que nunca foram confirmadas. Cada letra da palavra A.C.A.L.M.E.-S.E. representa um passo necessário para o manejo adequado de uma situação percebida como ameçadora, como a iminência de novas sensações corporais. O paciente levará para casa uma cópia da ESTRATÉGIA A.C.A.L.M.E.S.E. e duas cópias das folhas de Registro de Pensamentos (Beck, 1997). Nas sessões, todos esses registros serão revisados com o terapeuta. A sessão 3 tem como objetivo provocar uma conscientização corporal e fortalecer o treino de restruturação cognitiva. Suas principais metas e tarefas são: 1. Análise dos RDPDs: rever registros (se houver) fazendo as devidas correções sobre a forma de registrar pensamentos automáticos (PA), se necessário. Ex.: “vou cair”, ao invés de, “vontade de fugir”. Solicitar que o paciente analise os PAs em seu registro, e proponha “respostas (racionais) alternativas”. 2. Fazer os exercícios de exposição interoceptiva para produzir uma habituação às sensações (Barlow, 1999). 3. Iniciar um exercício de relaxamento. Caso o paciente resista ao exercício (movendo-se, falando, mantendo os olhos abertos, desobedecendo instruções etc.) ou dê sinais de intensa ansiedade, interromper o exercício e solicitar novos RDPDs incluindo respostas racionais. 4. Solicitar treino em relaxamento como tarefa para casa, mais treino respiratório. A sessão se inicia com a revisão dos Registros de Pensamento. Os registros são completados, incluindo também as respostas racionais e o prenchimento da coluna de reavaliação. A seguir, o treino de habituação interoceptiva (Barlow, 1999) é iniciado com uma explicação da lógica do condicionamento interoceptivo e como ela se Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 54 aplica a ataques de pânico. O argumento básico consiste em que as sensações iniciais de ansiedade tendem a ficar associadas com as sensações finais (isto é: o próprio ataque de pânico) por meio de um condicionamento pavloviano. Dessa forma, as sensações iniciais podem disparar, sem mediação cognitiva, novos ataques de pânico. Essa é a razão de ataques de pânico poderem ocorrer à noite quando as pessoas estão dormindo e sem estarem pensando em nada. O terapêuta deve solicitar que o paciente realize os exercícios abaixo conforme descritos e anotar nas colunas correspondentes as avaliações feitas pelo paciente. Solicitar também que o paciente os faça uma vez por dia em casa (e em outros locais considerados seguros por ele), anotando os resultados das sensações nas colunas correspondentes. Os resultados de intensidade da sensação e de similaridade se mantêm, mas os resultados de ansiedade costumam cair. Nas sessões subsequentes, deve-se solicitar que ele faça uma hierarquia de situações reais em que se produzam sensações equivalentes (p.ex.: montanha russa, caminhadas, nadar, dançar, exercícios em bicicletas ergométricas de academias de ginástica etc.) para que o paciente venha a se expor progressivamente a cada uma. Quadro 1. Exercícios de Exposição Interoceptiva para Pacientes Duração (seg) Exercício Sacudir a cabeça de um lado para o outro 30 Colocar a cabeça entre as pernas e levantar 30 Correr parado 60 Prender a respiração 30 ou mais Tensão muscular completa do corpo 60 ou mais Rodar numa cadeira giratória 60 Hiperventilar 60 Respirar por um canudo fino 120 Manter o olhar em um ponto na parede ou na própria imagem no espelho Intensidade da sensação (0-10) Ansiedade (0-10) Similaridade (0-10) 90 55 (Barlow, 1999) Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 No que respeita ao relaxamento muscular progressivo (Jacobson, 1938), apenas fazer o exercício no paciente chamando a atenção dele para a concentração necessária para discriminar a diferença entre graus variados de tensão nos diversos músculos do corpo. É importante também destacar a importância que o relaxamento muscular tem para produzir um relaxamento periférico, mas que, por sua vez, induz um estado de relaxamento mais central, representado pela ativação do sistema parassimpático. É importante acrescentar sugestões como são feitas no treinamento autógeno de (Luthe, 1969) e incentivar a visualização de cenas traquilizadoras, como uma praia deserta ou a relva de uma montanha, com seus odores e brisas. Os objetivos da sessão 4 são os de fortalecer a auto-eficácia. As seguintes metas e tarefas são almejadas: 1. Análise dos RDPs, com respectivas correções, se necessárias. 2. Fazer hierarquia de exposições situacionais (para pacientes que também tenham Agorafobia). 3. Iniciar exposição gradual ao vivo, ressaltando o uso da estratégia A.C.A.L.M.E.-S.E., através de aceitação das sensações, treino respiratório e restruturação por meio dos RDPDs. 4. Solicitar preenchimento de Curtograma e Lista de Desejos. 5. Solicitar treino em relaxamento. 6. Recomendar novos exercícios graduais de auto-exposição como tarefa de casa. Esta sessão é para pacientes que, além de TP, também preenchem critérios diagnósticos para Agorafobia. Se o paciente não tiver problemas de deslocamento solitário, a quinta e a sexta sessão serão desenvolvidas nesse momento. Se ele tiver, deve-se fazer uma hierarquia de exposições, conforme exemplo abaixo. Depois de construída, começar junto com o paciente pelo item mais baixo e ir subindo progressivamente. Este exercício deve ser feito com exposição prolongada, isto é, só se passa para o item seguinte quando a ansiedade experimentada num determinado item seja desprezível. O rebaixamento da ansiedade pode durar mais de meia hora, mas pode ser muito Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 56 menor. Avaliar, ou pedir ao paciente para avaliar (conforme o estágio na hierarquia), a quantidade de ansiedade em graus subjetivos de ansiedade numa escala imaginária de 0 a 100. Exemplo uma de Hierarquia de Exposições 1. Distanciar-se uma quadra. 2. Dar uma volta no quarteirão. 3. Dar uma volta em dois quarteirões (terapeuta vai na frente e espera no final). 4. Caminhar por x quarteirões sem a presença do terapeuta (ou outra pessoa). 5. Pegar um taxi até a própria casa (dependendo da distância, trajeto com túneis, engarrafamentos ou não). 6. Andar num elevador (um andar ou mais). 7. Pegar um ônibus (1 ponto ou mais). 8. Andar de metrô (uma estação ou mais) O objetivo da sessão 5 é tentar favorecer uma modificação na forma como cada cliente maneja a sua existência. As seguintes metas e tarefas fazem parte dela: 1. Análise dos RDPs, com respectivas correções, se necessário. 2. Introduzir noção de Hedonismo Responsável 3. Discutir a crença irracional de Albert Ellis (1962): “É absolutamente necessário para mim ser admirado ou amado pelas pessoas que me são importantes”. 4. Introduzir a noção de assertividade, fazendo também uma dramatização de uma das situações negativas. 5. Tarefas para casa: (a) Preencher RDPDs; (b) Satisfazer itens do Curtograma; (c) Satisfazer itens da Lista de Desejos; (d) Treinar relaxamento muscular; (e) Fazer auto-exposições 57 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Deve-se discutir neste momento também a noção hedonismo responsável. Entende-se por isto a idéia que somos movidos por desejos, mas que isto só se justifica se for feito de forma racional, isto é, em que se avalie as implicações positivas e negativas de curto, médio e longo prazo de cada decisão. Senão poderíamos agir impulsivamente e nos arrepender de nossas decisões. Deve-se discutir também a medida em que uma (ou mais) das próximas três crenças possam estar sendo seguidas por ele: Quadro 2. Crenças Irracionais (Albert Ellis, 1962) 1. A idéia que existe uma extrema necessidade para qualquer ser humano adulto ser amado ou aprovado por virtualmente qualquer outra pessoa significativa em sua comunidade. 2. A idéia que se deva ser inteiramente competente, adequado e realizador em todos os aspectos possíveis para se considerar como tendo valor. 3. A idéia que é terrível e catastrófico quando as coisas não são do jeito que a gente gostaria muito que fossem. O conceito de assertividade ou de afirmação pessoal refere-se à expressão direta, honesta e adequada de sentimentos acompanhada dos comportamentos correspondentes (Martins, 2005). Já foi visto que pacientes com pânico são pouco assertivos (Chambless, Hunter e Jackson, 1982). Podese compreender isto por seu temor de serem reprovados. Um certo tempo da sessão 5 e 6 deverá ser ocupado com uma análise das situações em que o paciente não consegue ser assertivo e com treinamento de habilidades de assertividade. Treinar habilidades de afirmação diz respeito a ensiná-lo a agir desta forma. Uma afirmação é um pensamento positivo que escolhemos para expressá-la, para que assim possamos atingir um objetivo. A maior força de uma pessoa virá primeiramente do modo como ela afirma seu valor como pessoa. Existem duas formas de afirmações que ela poderia explorar: a 58 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 primeira são crenças particulares referentes a quem ela é; e a segunda são crenças referentes às coisas que ela quer fazer em sua vida. A sessão 6 tem como objetivo básico a manutenção e o fortalecimento do que foi aprendido. As metas e tarefas: 1. Rever e analisar tarefas 2. Discutir a crença irracional de Albert Ellis (1962): “Devo ser inteiramente competente, adequado e realizador em todos os aspectos possíveis para me considerar como tendo valor”. 3. Discutir a crença irracional de Albert Ellis (1962): “É terrível e catastrófico quando as coisas não são do jeito que a gente gostaria muito que fossem”. 4. Análise de iniciativas existenciais 5. Repetir exercícios de relaxamento, de conscientização corporal e respiratórios. 6. Despedidas. O pós-teste consiste em reavaliar o desempenho nas escalas aplicadas anteriormente. O objetivo é avaliar status do paciente em relação a níveis de ansiedade, depressão, evitações, assertividade e funcionamento global na vida. Uma das primeiras mudanças foi adaptar o protocolo para tratamentos em grupo. O número original de sessões era de seis sessões. Considerando que nos grupos talvez existissem pessoas com menor qualificação de entendimento, aumentei então o protocolo para oito sessões. Houve uma diminuição de tarefas em cada sessão e uma distribuição mais adequada naquelas ocorrendo a partir da quarta sessão. O treino assertivo, que não apresentava resultados satisfatórios, teve a sua duração aumentada, com as atividades distribuídas em quatro sessões ao invés de apenas uma. A reestruturação existencial ficou dilatada para três sessões. A exposição situacional foi ampliada para quatro sessões. Assim a sessão 4 passou a ter como objetivo o fortalecimento da autoeficácia, na medida em que se iniciaria a exposição situacional. As principais metas e tarefas nessa sessão seriam de, em primeiro lugar, construir uma Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 59 hierarquia inicial para exposições situacionais e fazer uma primeira exposição usando as habilidades de manejo da ansiedade já adquiridas. Em segundo lugar, começaria a discussão da crença irracional “É absolutamente necessário para mim ser amado e aprovado pelas pessoas que me são importantes. O combate desta crença favoreceria o fortalecimento da auto-estima e da independência. Para terminar, a sessão envolveria também o início do treino assertivo, com exercícios envolvendo elogios e ser elogiados. Como tarefas de casa seriam atribuídas continuar a fazer exercícios de relaxamento respiratório e muscular, preencher RDPDs e elogiar outras pessoas. A sessão 5 continuou a ter como primeiro objetivo a reestruturação existencial, isto é, como o paciente conduz a própria vida em termos de exigências consigo próprio e de não tolerar as sensações desconfortáveis da ansiedade. Nesta sessão, além dele continuar a fazer exposições a situações ansiogênicas, ele deverá ser capaz de aprender a dizer não para solicitações inadequadas de outros. Será introduzida a noção de ‘hedonismo responsável’ e discutida outra crença irracional de Ellis: “Devo ser inteiramente competente, adequado e realizador em todos os aspectos possíveis para poder me considerar como tendo valor.” Como tarefas para casa será solicitado um Curtograma, que ele faça auto-exposições e que ele exercite dizer “não” para outras pessoas. A sessão 6 envolverá uma segunda parte do manejo existencial, onde será analisado o Curtograma e incentivado ao cliente a fazer mais o que gosta mas não faz. Será também instado a fazer mais exposições situacionais da hierarquia construída. Quanto ao treino em assertividade, será exercitada a terceira parte: pedir coisas ou ajuda de outros. Haverá também uma discussão da terceira crença irracional de Ellis: “É terrível e catastrófico quando as coisas não acontecem do jeito que eu queria.” Como tarefas para casa, será solicitado o preenchimento de uma Lista de Desejos, a continuar a fazer auto-exposições, a pedir coisas ou ajuda para outras pessoas. A sessão 7 envolverá mais uma sessão de manejo existencial. Ele será solicitado a fazer mais exposições situacionais da hierarquia. Além disso, será verificado se o cliente tentou fazer mais coisas que lhe dessem prazer como indicado no Curtograma, bem como analisar a sua Lista de Desejos e incentivá-lo a planejar um futuro realizador e feliz. Quanto ao treino em Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 60 assertividade, será realizada a quarta parte, que envolve pedir mudanças no comportamento dos outros. As tarefas para casa incluem continuar a fazer auto-exposições, pedir mudanças no comportamento de outras pessoas e solicitar que tragam os questionários do pós-teste e preenchidas as avaliações sobre o trabalho realizado. A sessão 8 é a sessão de encerramento. O objetivo desta sessão é fortalecer estratégias de manutenção e de prevenção de recaídas. Para isso, serão revisadas e analisadas as iniciativas em relação ao curtograma e aos desejos, aos pedidos para outras pessoas mudarem seus comportamentos, ao preenchimento de RDPDs etc. Serão feitos novamente exercícios de relaxamento muscular e respiratório e de exposição interoceptiva. Informações para prevenir recaídas serão oferecidas e será revisto tudo o que foi examinado durante o tratamento para que possa existir uma manutenção do que foi aprendido e evitar recaídas. Uma avaliação do trabalho feito, incluindo ganhos com tratamento, dificuldades, sugestões, será umaparte importante desta sessão. Serão feita então as despedidas. A partir de novas investigações empíricas, houve algumas modificações no protocolo original. No protocolo anterior, havia uma sessão dedicada ao relaxamento muscular e recomendações para esta atividade fosse exercitada em casa. Considerando que esta tarefa, diferentemente de outras que os pacientes deverial trazer algo produzido (p.ex., um registro de pensamentos preenchido, uma folha de registro de habituação interoceptiva), cabia apenas o paciente informar se tinha feito ou não o exercício. Talvez alguns até tivessem feito, mas provavelmente a maioria não. Como já tínhamos muitos dados de tratamentos individuais e em grupo com relaxamento muscular, fizemos quatro grupos sem relaxamento muscular, para comparar os resultados. Não houve diferenças significativas entre tratamento com e sem relaxamento muscular. Os dados de pós-teste não comprovavam efetividade do treinamento assertivo: em geral os pacientes pioravam em sua assertividade. Desenvolvi então um novo protocolo que retirava a ênfase em quatro sessões de treino assertivo e introduzi a participação de um familiar com o objetivo de extender a duração do tratamento até depois dele ter terminado na DPA (Craske & Barlow, 1998). Os resultados iniciais confirmam que foi uma mudança adequada. Na Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 61 quinta sessão, realizada com a presença de acompanhantes, o objetivo dela é obter o apoio destes como aliados no processo de recuperação dos pacientes. Para esse fim, são dadas a eles as devidas explicações sobre o transtorno de pânico, tal como foi feito com os pacientes na primeira sessão. Se possível, essa explicação deve ser dada pelos próprios pacientes, a fim de verificar o entendimento destes acerca do transtorno. Na sexta sessão, realizada também com a presença de acompanhantes, o objetivo dela é começar a preparar as exposições situacionais que serão feitas pelos pacientes. Para tal, é explicada aos pacientes e aos acompanhantes a lógica da exposição situacional, e os acompanhantes são instruídos a respeito de como devem proceder ao acompanhar os pacientes numa exposição. Além disso, são elaboradas hierarquias de exposição para cada paciente, listando todas as situações evitadas e organizando-as em ordem crescente de dificuldade. Na sétima sessão, realizada com a presença de acompanhantes, o objetivo dela é finalizar a elaboração das hierarquias de exposição e demonstrar como essa deve ser realizada. Para tanto, são revistas as hierarquias de cada um e é escolhida uma situação para se realizar uma exposição prolongada. A oitava sessão tem como objetivos rever o que foi visto durante as sessões anteriores e preparar os pacientes para possíveis recaídas. Para tanto, são revistos os conceitos e exercícios transmitidos durante o grupo, repetindo algum se necessário, e discutida a possibilidade de recaídas futuras, buscando desconstruir alguns mitos acerca das recaídas e levar os pacientes a enxergá-las sob uma perspectiva mais favorável. Após o grupo, observa-se que os pacientes obtêm uma melhora significativa de seus sintomas, e espera-se que estejam preparados para continuar seu processo de melhora sem a ajuda do terapeuta. A decisão de incluir acompanhantes no processo foi tomada justamente com o objetivo de tornar os ganhos mais duradouros e como uma forma de reduzir o tempo do tratamento, pois não é necessário que o terapeuta acompanhe os pacientes durante todas as suas exposições situacionais. Esse protocolo foi elaborado a fim de se desenvolver uma forma de tratamento eficaz que consuma o mínimo de tempo possível, dada a grande procura que existe pelos serviços da DPA. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 62 Vale lembrar que, embora o protocolo seja de curtíssimo prazo, durando apenas oito semanas, há evidências na literatura que sugerem a eficácia de protocolos desse tipo, ou até mesmo mais curtos, para o pânico e para a agorafobia (Deacon & Abramowitz, 2005; Elsesser, Mosch & Sartory, 2002). 63 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Referências 1. Ayres, L.S. e Ferreira, M.C. (1995). Para medir assertividade: construção de uma escala. Boletim CEPA, 2: 9-19. 2. American Psychiatric Association (2002) Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. (4ª ed. Texto Revisado). São Paulo: Artmed. 3. Baillie, A. & Rapee, R. (2004) Predicting who benefits from psychoeducation and self help for panic attacks. Behaviour Research and Therapy, v. 42: 513-527. 4. Bandelow, B. (1995) Assessing the Efficacy of Treatment for Panic Disorder and Agoraphobia. II. 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Pode-se entender como mudança terapêutica o resultado da relação entre atividades intrapsíquicas e interpessoais que ocorrem no decorrer do processo terapêutico e que se traduzem em alterações de aspectos do comportamento, conduta, sistema de valores e/ou auto-percepção do paciente (Enéas, 2004). Baseado nesta concepção, conclui-se que o processo terapêutico pode ser usado e interpretado como um novo modelo de aprendizagem, sendo que a mudança é com decorrência da dinâmica do relacionamento terapeuta-paciente, pois há uma tendência inconsciente do paciente de colocar o terapeuta no papel do outro significativo e repetir com ele seus padrões mal-adaptativos de comportamento, que estão enraizados em seus conflitos inconscientes. O terapeuta tenta entender o sentido latente do comportamento interpessoal do paciente e transmitir a sua compreensão de maneira a ajudá-lo a rever aspectos de sua experiência que não eram admitidos na consciência, ou aceitos como seus, ajudando-o assim a desenvolver padrões mais adaptativos de respostas (Enéas,2004). 1 Bolsista de Iniciação Científica –FAPESP. 68 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Segundo Enéas (2004), privações precoces e experiências traumáticas podem tornar o individuo incapaz para ter gratificação suficiente em suas interações e relacionamentos. Também pode ter dificuldades em aplicar recursos apropriados no manejo de seu ambiente de acordo com seus autênticos desejos e necessidades. Como conseqüência disto, o paciente pode desenvolver expectativas irrealistas de si mesmo e dos outros, como também se sentir incapaz para agir segundo a sua vontade. O reconhecimento dos padrões de interação pessoal mal-adaptativos pelo paciente é considerado o mais importante requisito no processo de mudança. Para existir a mudança é necessário que o terapeuta ajude o paciente a substituir seus padrões de conduta por outros mais adequados e que o ajude a desenvolver um novo modelo de identificação. Para isso é preciso favorecer um bom desenvolvimento da aliança terapêutica, pois esta é a força motriz de todas as formas de psicoterapia. Quando estabelecida muito cedo a aliança terapêutica propicia a consecução de bons resultados terapêuticos, pois o paciente experimenta o terapeuta como uma pessoa confiável. Baseado nesta confiança experimentada pelo paciente na relação terapêutica, este se dispõe a confrontar suas emoções e fantasias, resultando na conquista progressiva de maior liberdade para mudar atitudes e comportamentos conflituosos em busca de respostas mais flexíveis e adaptativas que lhe permitam maior satisfação de suas necessidades interpessoais. Esta mudança é compreendida e associada com a melhora do individuo como um todo (Enéas,2004). Um grupo de pesquisadores americanos, preocupados em oferecer um referencial teórico da mudança, baseados em dados empíricos, que explicasse como as pessoas mudam durante um processo terapêutico e também fora dele, vem se empenhando na formulação da terapia transteórica, um enfoque integrativo e eclético (Prochaska, 1995 citado por Yoshida, 1999). Apresentarei um resumo dos conceitos e formulações expressos por Prochaska (1995, citado por Yoshida, 1999) que, em grande parte, são resultados de várias pesquisas do grupo do qual é o principal autor.O enfoque transteórico contribue para a identificação e a proposta de avaliação de mudança, a partir de três dimensões: os processos de mudança, os estágios e os níveis. Constituem os processos de mudança, as atividades encobertas ou manifestas que as pessoas se apóiam para mudar o pensamento, o afeto, o comportamento ou 69 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 relacionamento interpessoal ligados a problemas pessoais ou padrões de vida. (Prochaska,1995 apud Yoshida,1999). Baseado no conceito de que a mudança acontece no decorrer do tempo, foram identificados os estágios de mudança pelos quais o sujeito passa até alcançar seus objetivos. Os estágios constituem a segunda dimensão do processo de mudança. Estes estágios são: pré-contemplação, contemplação, preparação, ação, manutenção e término. No estagio de pré-contemplação, o sujeito ainda não tem noção de que existe ou de que enfrenta um problema, ainda que à vista dos outros isto possa ser evidente. Dificilmente, quando se encontra neste estágio o sujeito procura por psicoterapia e quando o faz geralmente é pressionado por outras pessoas. Portanto, a resistência em reconhecer ou modificar um problema ou um padrão comportamental, é a principal característica do estágio. Na contemplação já há o reconhecimento de que o problema existe mas ainda não aparecem iniciativas para resolvê-lo ou enfrentá-lo. O próximo estágio é o de preparação, quando a pessoa tem algumas iniciativas para a mudança, porém estas não chegam a ser efetivas. Por exemplo, em uma situação que o sujeito está buscando um outro emprego, ele envia curriculum vitae a empresas, porém no final sempre considera as dificuldades que terá que enfrentar e abandona a sua intenção. Quando a pessoa enfrenta a situação problema, ela já se encontra no estágio de ação. Este estágio requer verdadeiros esforços no que se diz respeito a tempo e energia para superar as dificuldades. As tentativas de mudanças são claras e o sujeito tende a receber elogios de outras pessoas, pelos seus esforços. É importante ressaltar que o sujeito não só tem que alterar sua atitude ou comportamento como também tem que mantê-la durante um período de tempo. Portanto todos os esforços feitos para impedir o retorno aos padrões anteriores e para tornar estáveis os ganhos, caracterizam o estágio de manutenção. Há padrões de comportamento que necessitam a vida toda de manutenção, então, nestes casos, a principal função deste estágio seria o de consolidar o novo padrão de conduta e a ausência de recaídas, à custa de um esforço continuo por parte do sujeito. O último estagio, o término, é atingido quando o sujeito superou totalmente a situação problema e está seguro de que o antigo padrão não deve voltar. É essencial destacar que o progresso através dos estágios não costuma se dar de forma linear, as recaídas e o retorno aos padrões antigos de comportamento são os mais freqüentes. 70 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 A terceira dimensão de mudança, apontado pelos pesquisadores transteóricos são os níveis de mudança. Segundo Prochaska (1995, citado por Yoshida,1999) esses níveis de mudança representam uma organização hierárquica de cinco níveis diferentes porém inter-relacionados de problemas psicológicos que podem ser tratados em psicoterapia. Estes níveis são: o nível dos sintomas ou dos problemas situacionais, das cognições maladaptativas, dos conflitos interpessoais atuais, dos conflitos sistêmicos ou familiares e dos conflitos intrapessoais. Cada um desses níveis, tem sido tradicionalmente focalizado pelos diferentes enfoques terapêuticos, que o elegem como alvo (Prochaska, 1995, citado por Yoshida, 1999). Apesar de cada nível se constituir no foco de cada modalidade terapêutica, todos eles acabam sendo mais ou menos atingidos em todos ou qualquer processo terapêutico. As modalidades de psicoterapia se diferem umas das outras a partir da ênfase dada pelo terapeuta aos processos e níveis de mudança, que determinarão a origem de suas intervenções. Portanto, não importa por qual nível se inicie a mudança, se for estabelecido um processo genuíno e bem sucedido, certamente, a mudança se estenderá por todos os níveis. Referências Enéas, M.L.E (2004). Terapia dinâmica de tempo limitado. Em, E. M. P. Yoshida & M. L. E. Enéas (Orgs), Psicoterapias Psicodinâmicas Breves: propostas atuais (pp.37-65).Campinas:Editora Alínea. Yoshida, E. M. P. (1999). Psicoterapia breve e prevenção: eficácia adaptativa e dimensões da mudança. Temas em Psicologia da SBP, 7 (2), 119-129. 71 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Encontros e Consultas Terapêuticas : Uma proposta de pesquisa intervenção no Hospital Psiquiátrico Claudia Aranha Gil 1 Leila Cury Tardivo Universidade de São Paulo [email protected] Palavras-chave: intervenção terapêutica; psicopatologia; pacientes psiquiátricos; psicanálise. Embora o psicodiagnóstico clínico venha sendo utilizado ao longo do tempo como forma de estudo da personalidade e apreensão dos aspectos da dinâmica psíquica do indivíduo,notamos que,principalmente na última década,a demanda imposta pela clínica contemporânea se apresenta de tal ordem que acaba por interrogar a si própria em diversos aspectos de sua prática,inclusive em relação à questão diagnóstica e interventiva,não só no que diz respeito à prática clínica,mas também a pesquisa.Neste contexto,um dos elementos norteadores deste trabalho,é o fato que pesquisa e intervenção são atividades que se desenvolvem de forma integrada e indissociada quando se trata de psicologia clínica. Segundo Bleger (1976),no âmbito da psicologia clínica,indagação e ação são práticas inseparáveis,que na prática acabam por se enriquecer reciprocamente.Assim para o autor: “A psicanálise se define por constituir ao mesmo tempo uma terapia,uma teoria e uma investigação:três aspectos que são estritamente solidários e inseparáveis:somente podemos curar cientificamente com uma técnica como a da enfermidade e dos processos psicológicos, e só podemos curar-portanto,unicamente na medida em que investigamos o que se sucede em nossos pacientes” (p.171) .Esta visão metodológica que considera a produção de conhecimento necessariamente integrada a intervenção é também compartilhada por Tardivo (2004), que fala da importância do psicólogo clínico como aquele que investiga e intervém em um movimento de aproximação compreensiva,buscando meios para que as possíveis mudanças possam ocorrer.No entanto,considera Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, sob orientação da Professora Livre Docente Leila Cury Tardivo. 1 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 72 necessária uma articulação entre teoria e prática,ou seja, “(...) teoria sem prática é estéril e prática sem fundamentação teórica pode ser superficial e até inconseqüente” (p. 73201). Baseado nestes conceitos, apresentamos neste estudo uma experiência que integra o ensino da psicopatologia e a pesquisa interventiva no hospital psiquiátrico, por meio de um estágio oferecido a alunos do terceiro e quarto ano de graduação em psicologia que cursaram a disciplina de Introdução à psicopatologia. O estágio referente à parte prática da disciplina ocorre como parte de um projeto, fruto da parceria entre o Laboratório de Saúde mental e Psicologia Clínica Social – APOIAR (PSC/IPUSP) e o Hospital Psiquiátrico São João de Deus,instituição destinada à população masculina localizada na cidade de São Paulo.Trata-se de um projeto que visa o psicodiagnóstico compreensivo e a intervenção clínica por meio de encontros e consultas terapêuticas dirigidas aos pacientes,com a presença tanto do supervisor quanto dos alunos aos atendimentos realizados. Neste sentido portanto,o projeto em questão possui uma dupla finalidade:criar um espaço de escuta e continência para os pacientes psiquiátricos internados e possibilitar a participação de estudantes de graduação em psicologia,sob a orientação de profissionais da área clínica,a vivência e o contato com os pacientes,constituindo assim também em uma experiência de aprendizado.(Tardivo e Gil,2005). O trabalho desenvolvido tem inspiração na Psicanálise Winnicottiana,especialmente no modelo de Consultas Terapêuticas proposta por Winnicott (1965),pois o autor considera que a entrevista diagnóstica deve ser uma entrevista de caráter terapêutico,pois. Assim: “Não existem instruções técnicas nítidas a serem dadas ao terapeuta uma vez que ele deve ficar livre para adotar qualquer técnica que seja apropriada ao caso.O princípio básico é o fornecimento de um setting humano,embora o terapeuta fique livre para ser ele próprio,que ele não distorça o curso dos acontecimentos por fazer ou não fazer coisas ou por causa da sua própria ansiedade ou culpa,ou sua própria necessidade de alcançar sucesso.O piquenique é do paciente e ,e até mesmo o tempo que faz é do paciente.” (p.247). Em 1968,Winnicott irá reforçar esta idéia,enfatizando o potencial da consulta terapêutica como possibilidade de comunicação privilegiada entre paciente e terapeuta,que poderá ser desenvolvida em uma base de confiança por parte do paciente,que acreditará possível receber ajuda do terapeuta,em quem confia.Nesses momentos,o terapeuta assume o papel de objeto subjetivo,objeto este que Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 73 raramente sobrevive à primeira ou às primeiras entrevistas.Desta maneira,nesses primeiros encontros o profissional tem uma maior oportunidade de estar em contato com o seu paciente.O terapeuta,ao conseguir estabelecer este setting humano ao qual se refere o autor,torna possível um tipo de comunicação que possibilita com que o paciente possa surpreender-se com idéias e sentimentos que não estavam antes integrados a personalidade total;integração esta tornada possível,ainda segundo o autor, “pelo apoio no relacionamento humano,mas profissional – uma forma de sustentação (holding)”.(p.230). Nas entrevistas iniciais,encaradas como encontros terapêuticos,há a possibilidade de um conhecimento dos sintomas e sinais que o paciente traz,sendo possível levantar aspectos referentes a um diagnóstico estrutural da personalidade,de forma a contribuir com uma compreensão psicodinâmica da personalidade do paciente com o qual estamos em contato.Gabbard (1988), ao falar sobre as distintas abordagens do diagnóstico em psicopatologia,ressalta que no diagnóstico psiquiátrico o foco principal é na descrição dos sintomas,baseado em um modelo médico embasado na nosologia descritiva científica da doença psiquiátrica,em um sistema que se apóia na classificação segundo o modelo da American Psychiatric Association (DSM-IV) (2002) e da Classificação Internacional das doenças (CID-10) (1996).Visa assim,determinar os sintomas estatisticamente significativos considerando a dimensão temporal dos distúrbios. Ainda segundo o autor,o diagnóstico estrutural aborda os aspectos psicodinâmicos e estruturais,buscando a compreensão da personalidade como um todo,o que inclui “os conflitos inconscientes,os déficits e as distorções das estruturas intrapsíquicas e as relações objetais internas”.(p.31).Embora as distintas formas de diagnóstico se complementem e sejam necessárias para uma compreensão mais ampla do paciente,bem como a realização de um projeto terapêutico e possível prognóstico,enfocamos no contato com o paciente os aspectos dinâmicos e estruturais da personalidade. O diagnóstico de transtornos relacionados ao uso de substancias, principalmente álcool e drogas, é bastante freqüente em pacientes internados em hospitais psiquiátricos.O alcoolismo, caracterizado pelo uso crônico e excessivo de álcool, é um transtorno heterogêneo,de etiologia multifatorial,que acarreta inúmeros problemas físicos,psicológicos e interpessoais.No entanto,é consenso entre diversos autores que as variáveis de personalidade e os aspectos da dinâmica psíquica são de grande importância no diagnóstico e tratamento destes pacientes.Características Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 74 como fragilidade egóica , baixa auto-estima e dificuldades em modular o afeto são freqüentemente atribuídas a estes pacientes.(Gabbard,1988). A co-morbidade com transtornos psiquiátricos é alta,sendo que o alcoolismo tende a coexistir particularmente com os transtornos de humor,a depressão e o transtorno bipolar,porém também com a esquizofrenia,os transtornos de ansiedade e de personalidade anti-social.Autores como Kernberg (1995),ressaltam o paralelo entre pacientes alcoolistas e pacientes com transtorno borderline.Estes transtornos ,muitas vezes,são precedentes ao alcoolismo,contudo existem dificuldades em determinar causas e efeitos.A relação entre alcoolismo e depressão vem sendo bastante pesquisada,sendo que é freqüente o relato de sintomas depressivos anteriores ao alcoolismo,durante o período de abstinência e muitas vezes no período inicial de internação. Quanto ao uso abusivo de drogas,há uma grande prevalência de transtornos psiquiátricos que acompanham esta condição,como depressão e transtornos de ansiedade.Gabbard (1988),aponta que a conduta adita parece refletir um déficit no autocuidado,causada por distúrbios precoces de desenvolvimento,levando a internalização inadequada das figuras parentais;o que muitas vezes resulta na incapacidade de controlar os afetos,os impulsos e na manutenção da auto-estima. Objetivo O presente trabalho tem por objetivo principal apresentar as reflexões e possibilidades de compreensão da vivência de estágio supervisionado realizado por alunos de graduação em psicologia que cursam a disciplina de introdução à Psicopatologia a partir de encontros e consultas terapêuticas com pacientes psiquiátricos,constituindo assim uma experiência que integra o ensino da psicopatologia e a pesquisa relacionada ao psicodiagnóstico interventivo no hospital psiquiátrico. METODOLOGIA Trata-se de um trabalho de abordagem qualitativa desenvolvido no Hospital São João de Deus,instituição psiquiátrica fundada pela Ordem hospitaleira de São João de Deus.Trata-se de uma instituição dirigida a pacientes masculinos,localizado no bairro de Pirituba (SP).Atende a 120 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 75 pacientes,provenientes em sua maioria de convênios com o funcionalismo público estadual e municipal,além de uma pequena parcela atendida pelo SUS e outros convênios.Como uma instituição alinhada com os atuais preceitos da promoção de saúde mental,tem um modelo que se propõe à assistência focada no período de crise,realizando dentro do possível,internações breves,devendo ser dada continuidade ao tratamento ambulatorial em equipamentos como CAPs,Hospitais-Dia,etc. Durante o período da realização do estágio foram atendidos cerca de 40 pacientes com transtornos diversos como: transtornos relacionados ao uso de álcool e drogas,transtornos esquizofrenia.Apresentamos afetivos,transtornos neste estudo,como de forma ansiedade de e ilustração,o atendimento de um paciente de 50 anos internado devido a transtorno ocasionado pelo uso de álcool e drogas. Instrumentos Durante a realização do estágio foram formados grupos com a presença de quatro alunos e um supervisor,com atendimentos semanais de cerca de 50 minutos de duração.Embora houvesse ,por vezes,variações quanto aos pacientes (muitos recebiam alta devido justamente ao modelo de realizar internações breves e em períodos de crise),o grupo de atendimento permanecia o mesmo.Os atendimentos,visando o psicodiagnóstico compreensivo e intervenções clínicas, ocorreram como entrevistas iniciais por meio de encontros e consultas terapêuticas.O paciente que será apresentado no estudo foi atendido semanalmente durante cinco semanas e após este período recebeu alta hospitalar. Apresentação dos Resultados A título de ilustração clínica apresentamos o paciente,E. , 50 anos, casado e com três filhos.Está internado no Hospital São João de Deus à cerca de 4 semanas e esta é sua terceira internação,embora seja a primeira vez na instituição atual.Contou-nos que sua internação foi devido à depressão e também a alguns episódios de agressividade principalmente dirigidos à família.Relata o uso de bebida alcoólica e drogas (maconha) com freqüência,embora não associe o uso Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 76 diretamente como causa das internações.Segundo ele,sua história com a bebida e as drogas teve iniciou quando jovem,quando começou a misturar medicamentos com álcool e a fazer uso também de maconha e anfetaminas; e intensificou-se quando começou a trabalhar como policial,devido principalmente ao stress relacionado a esta função.E. formou-se em direito,chegou a exercer a profissão de advogado,mas teve muitas dificuldades financeiras,o que segundo ele, contribuiu também para aumentar o uso de álcool e drogas. E. tem problemas de relacionamento tanto com a esposa e os filhos,quanto seus pais e irmãos,principalmente com seu pai.Ele não se descreve como alcoólatra,mas diz que tanto a bebida como as drogas o ajudam a se desinibir e o fazem sentir-se melhor,trazendo inclusive compensações como:conseguir conversar numa roda de amigos,fuga de brigas em casa e demais situações estressantes,etc.Os problemas financeiros foram com o tempo o deixando mais nervoso e ele bebia e se drogava para se sentir melhor.Sua relação com a família também piorou,ocorrendo brigas freqüentes e situações em que ele tinha que sair de casa e beber até o dia seguinte para se acalmar e não agredir algum familiar. E. durante a primeira entrevista mostrou-se um pouco apático e falou pouco.Contou sobre a razão de sua internação ,ressaltando que a depressão e o nervosismo devido a causas externas são o motivo principal de sua estada no hospital.Neste sentido,ele vê a internação como uma oportunidade de descanso e não como um tratamento,pois segundo E.,não há problemas em abusar no consumo das drogas e álcool,já que segundo ele não ocorre perda de controle.Ainda nesta entrevista inicial o paciente afirmou que mesmo após sair do hospital não pretendia parar de beber ou se drogar,embora pudesse diminuir a intensidade do consumo,pois segundo ele, este não era o seu problema. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Visando abordar os aspectos dinâmicos e estruturais da personalidade de E.;pudemos perceber por meio das consultas terapêuticas que este apresenta Transtorno pelo uso de substâncias,em um quadro de adição/abuso de substâncias químicas (neste caso álcool e drogas).Observamos em sua fala aspectos como:compulsão para beber,perda de controle,estereotipacão e repeticão,sintomas de abstinência,tolerância com o tempo e negação da dependência..O paciente apresenta também transtorno afetivo,com a presença de sintomas depressivos. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 77 Pudemos perceber ainda por meio do contato com E.,que este embora por vezes demonstrasse de início uma aparente confiança,apresentou sentimentos de desvalia,culpa e acentuada autocrítica;além da auto-estima rebaixada,fragilidade egóica e dificuldades em manter o equilíbrio emocional.Neste sentido,o uso abusivo das referidas substâncias pode ser interpretado como tentativa de substituir as estruturas psicológicas que lhe faltam,restaurando assim algum sentido de autoestima e harmonia interna.Além disso,podemos perceber também um forte sentimento de incapacidade,reflexo de prejuízo narcisista,o que resulta em sentimentos de desamparo e humilhação.Isso se verifica na incapacidade do paciente em lidar com as adversidades e frustrações;na baixa tolerância frente a situações ansiógenas (fica irritado,inquieto e com vontade de brigar);e no pobre controle afetivo(não controla sua agressividade).E. parecia evitar entrar em contato com os afetos dolorosos,negando assim a sua relação de abuso com o álcool e as drogas. Encontrava no álcool essa condição de “anestesia”,encarando a bebida ou as drogas como “remédio”,que tinham como efeito deixa-lo mais sociável e feliz.Neste sentido também,podemos levantar a hipótese que o uso de substâncias tinha a função de preencher uma necessidade adaptativa a seus problemas,oferecendo-lhe não só alívio,mas também uma experiência de aumento da capacidade de enfrentamento frente às adversidades. Durante os atendimentos do paciente,pudemos perceber que inicialmente E. parecia pouco à vontade e desconfiado,deixando claro que, ao negar o uso abusivo do álcool e das drogas,parecia não se implicar com as suas próprias questões,permanecendo dissociado e atribuindo o seu sofrimento a aspectos externos.No entanto,à medida que foi criado um espaço de escuta e continência por meio das consultas terapêuticas,E. pareceu estar bem mais à vontade e disposto a falar sobre si .Durante as sessões,percebemos que ele,gradualmente,mostrava-se mais reflexivo e receptivo às intervenções feitas pela supervisora e eventualmente pelos alunos,passando a verbalizar sua satisfação sobre a consulta como possibilidade de,segundo ele, “pensar sobre a vida e o futuro”.Na terceira entrevista,E.parecia um pouco mais realista quanto a sua relação de abuso do álcool e drogas,porém insistia na necessidade de usar as substancias para poder conversar e ser mais extrovertido.Foi feita então uma intervenção apontando que E. havia podido estar lá conosco,durante quatro sessões,falando sobre si e buscando se organizar melhor e que não havia necessitado da bebida ou das drogas para isso.E. concordou e sentimos que nas duas últimas sessões ele pareceu menos Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 78 deprimido e integrado , fazendo planos para o futuro (tentar voltar a exercer a profissão de advogado,acertar a condição financeira,etc.) e valorizando a necessidade de, após a alta hospitalar,buscar por atendimento psicológico. Com relação aos estagiários,pudemos perceber que,do mesmo modo que o paciente,eles foram se sentindo gradualmente menos ansiosos frente à situação do atendimento,podendo aos poucos,estar mais presentes e com uma menor resistência frente a uma demanda de intensos conteúdos transferenciais e de muitas identificações com o paciente.Pudemos sentir a forte necessidade do aluno elaborar esta experiência tão nova,buscando nos instrumentos teóricos que tem, o elo de ligação entre teoria e prática e neste sentido acreditamos que a possibilidade diagnóstica e interventiva se complementam nesta oportunidade de aprendizado,tanto ao procurar aliviar o sofrimento que os alunos sentem à medida que tentam nomear e buscar um sentido para esta nova experiência;quanto ao gerar novos questionamentos. CONCLUSÃO No estudo realizado pudemos perceber que nos Encontros entre o supervisor,os estagiários e o paciente no hospital psiquiátrico foi criado um espaço de escuta e continência para o paciente atendido.As entrevistas iniciais foram feitas com a finalidade de auxiliar no diagnóstico estrutural da personalidade e,sendo assim também uma consulta terapêutica. As intervenções ocorreram enquanto sustentação do processo terapêutico oferecido na forma de holding; configurando um acompanhamento onde foi valorizada a singularidade do paciente, em um processo que demonstrou ser potencialmente mutativo. Pudemos perceber que tanto o paciente apresentado neste estudo,bem como muitos dos pacientes atendidos,de modo geral, ao final do processo,demonstrou estar mais integrados,menos dissociados e depressivos e apresentando demanda pela continuidade do tratamento psicológico. Com relação à experiência didática,os alunos vivenciaram a experiência de acompanhar a avaliação e ao mesmo tempo,na mesma entrevista,fornecer apoio ao paciente e alivio do intenso sofrimento psíquico que os acomete.Concluímos que esta experiência que integra o ensino da psicopatologia e a pesquisa relacionada ao psicodiagnóstico interventivo no hospital psiquiátrico tem se mostrado bastante rica 79 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 e significativa,tanto quanto possibilidade de aprendizado como no que diz respeito aos benefícios revertidos ao próprio paciente. Referências American Psychiatric Association (2002) DMS-IV-Manual diagnóstico de transtornos mentais,4.ed.rev.,Porto Alegre,Artemed. Bleger,J.(1976) Psicohigiene Y Psicologia Institucional,Buenos Aires,Editorial Paidós. Gabbard,G.O.(1998) Psiquiatria psicodinâmica :Baseada no DSM-IV,Porto Alegre,Artemed. 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O jogo do rabisco (Squiggle game). Winnicott, C.Shephard, R.(Org) Explorações Psicanalíticas, Porto Alegre,Artes Médicas. 80 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Envelhecimento e Depressão: O uso de instrumentos projetivos como mediadores no contato terapêutico Claudia Aranha Gil 1 Leila Cury Tardivo Universidade de São Paulo [email protected] Palavras-Chave: idoso; psicodiagnóstico; técnicas projetivas; psicanálise. Envelhecimento e Depressão O fenômeno do envelhecimento populacional e o conseqüente aumento da expectativa de vida têm se tornado realidade, não só em nosso pais, mas também no mundo todo; gerando novas demandas e a necessidade do aumento de pesquisas sobre temas relacionados à velhice.Neste contexto,a alta incidência do diagnóstico de depressão na velhice e as suas conseqüências,tanto no âmbito individual como no social,tem sido um tema recorrente na literatura. Diversos estudos apontam para o fato de que a depressão e a demência são os diagnósticos mais frequentemente encontrados nos serviços de Psiquiatria destinados ao atendimento da população idosa (LAKS, 1998). Segundo Alexopoulos, Kiosses e Klimstra (2002), a prevalência de sintomas depressivos em indivíduos idosos na comunidade é de 22%. No que diz respeito a idosos institucionalizados, este número tende a aumentar, o mesmo ocorrendo em relação a idosos hospitalizados portadores de algum distúrbio somático, cuja prevalência de depressão varia entre 35% a 45%. Em 2001, diversos especialistas da área da psiquiatria geriátrica reuniram-se para realizar, a nível mundial, um levantamento sobre a depressão nesta faixa etária e as possíveis diretrizes para o tratamento. Publicado em 2003, este estudo concluiu que a depressão na velhice representa um sério problema de saúde pública e que tem causado, além dos prejuízos pessoais a quem é acometido deste transtorno, 1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de São Paulo, sob orientação da Professora Livre Docente Leila Cury Tardivo. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 81 prejuízos financeiros à própria rede de saúde. Além disso, concluiu-se que a depressão na velhice é ainda pouco estudada e que os pacientes, muitas vezes, acabam por não ter suas necessidades atendidas pelos serviços de saúde pública porque estes não estão preparados, nem para diagnosticar e nem para tratar corretamente (CHARNEY et al., 2003). Em um primeiro momento, a depressão no idoso pode ser semelhante à depressão em pessoas de outras faixas etárias, podendo ser seguidos os padrões de diagnóstico internacionais, como o CID-10 e o DSM-IV . Porém, o relato da prática clínica, no que diz respeito ao diagnóstico diferencial, tem revelado inúmeras dificuldades como, por exemplo, o fato de o processo de envelhecimento, por si só, apresentar sintomas que podem ser confundidos com doenças orgânicas. Desta forma, queixas somáticas, dores crônicas, distúrbios de sono e apetite podem ser as principais queixas do idoso deprimido. Sobre a dificuldade no diagnóstico e tratamento da depressão no idoso, diversos autores (FRIEDHOFF, 1994; ROCHA, 1996; FRAGUAS JR. e FIGUEIRÓ, 2001) têm observado que, além da semelhança entre os sintomas de depressão e várias doenças orgânicas um dos fatores que tem contribuído de forma preponderante para esta questão é a desinformação e/ou preconceito em relação aos distúrbios mentais. Como conseqüência, muitos pacientes deixam de receber tratamento adequado com base na crença errônea, muitas vezes de familiares, profissionais da saúde e por vezes do próprio paciente, de que a depressão é conseqüência natural do envelhecimento. Assim, a associação da depressão com a doença orgânica tem confundido e dificultado o diagnóstico e o prognóstico dos quadros depressivos. Devido a particularidades na apresentação clínica da depressão nesta faixa etária e a comorbidade com doenças orgânicas, diversos estudos sugerem que estes pacientes são, com freqüência, mal diagnosticados e pouco tratados, o que pode comprometer a qualidade de vida de um grande número de indivíduos que se beneficiaria com tratamentos adequados (STEWART et al., 1999). Sob a ótica da psicanálise buscam-se compreender os efeitos psíquicos do envelhecimento, especialmente aqueles relacionados à depressão.A partir das contribuições de Freud com a publicação de “Luto e Melancolia” em1917, Ferenczi (1939/1993), faz referência à condição básica para o surgimento das psiconeuroses do envelhecimento que se manifesta em pessoas que, na velhice, não conseguiram modificar e nem se adaptar à nova distribuição da libido, que se faz necessária nesta Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 82 etapa da vida. Os estados depressivos são assim vistos (p. 48) como a “expressão psíquica do empobrecimento e do dano infligido ao ego querido pelo desperdício da libido dos pecados contra si mesmo”. Winnicott (1963/2004),no entanto,considerou a depressão sob uma ótica mais saudável e menos patológica,à medida que, associa a depressão à capacidade de desenvolvimento e maturação inerente a todos os indivíduos.Com base nos fundamentos teóricos deixados por Melanie Klein,Winnicott faz uma distinção entre a posição depressiva,que considera um estágio normal e saudável do desenvolvimento e que revela,segundo ele,uma conquista, e a depressão ligada a aspectos patológicos. Fazendo um percurso cronológico, encontramos nas duas últimas décadas diversos autores que tem desenvolvido este tema.Dentre eles,podemos citar Bianchi (1993),que aponta que a ação do tempo é, por si só capaz de ativar a depressão que se encontra presente em todas as estruturas .Para Goldfarb (1998,p.29), a depressão ocorre na velhice como uma resposta do indivíduo à falta de investimento do ambiente em direção a ele e também em relação ao seu próprio investimento no meio que o cerca,levando a uma “desnarcisação do sujeito.” Autores como Korovsky e Karp (1998),tendo também como base à teoria do narcisismo proposta por Freud,frisam o papel decisivo do conflito que se instaura entre o ideal de ego e este frente aos desejos que não foram satisfeitos na velhice,gerando uma crise narcisista. Demonstrando um outro tipo de percurso, Birman (1997) propõe uma releitura da psicopatologia da terceira idade, buscando compreender os efeitos psíquicos que são produzidos no envelhecimento, em face da imposição da morte como possibilidade real e a ausência de perspectivas para o futuro. Neste contexto, ele entende a depressão como uma das formas paradigmáticas de ordenação psíquica que o indivíduo tem para lidar com esta situação de impasse. Psicodiagnóstico Interventivo e o uso de Instrumentos Projetivos como Mediadores no Contato Terapêutico Embora o psicodiagnóstico clínico venha sendo utilizado ao longo do tempo como forma de estudo da personalidade e apreensão dos aspectos da dinâmica psíquica do indivíduo,nota que principalmente na última década,a demanda imposta pela clínica contemporânea se apresenta de tal ordem que acaba por interrogar a si própria em diversos aspectos de sua prática,inclusive em relação á questão Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 83 diagnóstica e interventiva.Trinca et al (1984) conceituou o que vem a ser o diagnóstico compreensivo.Segundo ele o termo designa “(...) no diagnóstico psicológico,uma série de situações que inclui,entre outros aspectos,o de encontrar um sentido para o conjunto das informações disponíveis,tomar aquilo que é relevante e significativo na personalidade,entrar empaticamente em contato emocional e,também conhecer os motivos profundos da vida emocional de alguém”.(p.15). Observamos ainda que, mesmo referindo-se a um psicodiagnóstico de caráter compreensivo,autores como Ocampo e Garcia Arzeno (1981) e Grassano (1996) enfatizaram a finalização do processo psicodiagnóstico (a entrevista devolutiva) como uma possibilidade de intervenção que levaria a modificação na dinâmica psíquica dos pacientes.Analisando este percurso,pudemos notar que,de forma gradual mas incisiva,vai-se consolidando esta nova vertente que valoriza uma maior abrangência do psicodiagnóstico à medida que destaca seu caráter interventivo.Autores como Ancona –Lopes (1995) e Santiago (1995) também apontam para a transformação da visão diagnóstica como prática investigativa e interventiva e as questões que decorrem deste processo. Em nosso meio,destacamos as contribuições significativas de Tardivo (2004) no campo do psicodiagnóstico interventivo,realizando pesquisas que têm aliado diagnóstico e intervenção na prática clínica.Como relevante etapa de seu trabalho,podemos citar a tese de livre docência que retrata o adolescente e o sofrimento emocional na atualidade.Neste estudo,os procedimentos projetivos são apresentados aos adolescentes em diferentes âmbitos,sendo utilizados em um contexto de consultas terapêuticas coletivas, Diversos autores-e dentre eles podemos citar Ocampo(1981),Trinca(1984) e Tardivo(2002,2003,2004)-tem ao longo de sua obra observado a importância da utilização das técnicas projetivas não só como instrumento diagnóstico,mas também de intervenção psicoterápica. Aiello-Vaisberg (2004) tem sistematizado estudos e pesquisas sobre enquadres clínicos diferenciados sob a luz da psicanálise utilizando-se por vezes de instrumentos projetivos como mediadores no contato terapêutico. Aiello-Vaisberg ((2004) ,aponta que as técnicas projetivas têm sido utilizadas ao longo do tempo conforme um paradigma de sujeito-objeto,apoiado pela metapsicologia freudiana de modo positivista). Assim,são contextualizados os esforços em validar as técnicas projetivas, procurando sempre um parâmetro Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 84 psicométrico exterior. Ainda segundo a autora, foi Winnicott quem contribuiu de modo significativo para que se abandonasse este tipo de paradigma,quando criou o “Jogo do Rabisco” (1968) , mostrando a possibilidade de um procedimento lúdico a serviço de um encontro inter-humano que considere a singularidade da pessoa do terapeuta,e não o tenha somente como alguém que possui um treino considerado adequado. Assim,as técnicas projetivas,podem ser repensadas segundo referências psicanalíticas contemporâneas,passando a configurar estratégias clínicas denominadas “apresentativo-expressivas” (AIELLO-VAISBERG,MACHADO,2003). Podemos,neste contexto,citar os trabalhos de Oliveira,Vaisberg e Tardivo (2003), que realizaram um estudo com o desenho temático como mediador no contato terapêutico com jovens do sexo feminino em um contexto de consultas terapêuticas grupais. Aspectos Metodológicos Este estudo tem por objetivo principal investigar a utilização dos instrumentos projetivos como mediadores no psicodiagnóstico interventivo de idosos com sintomas de depressão, e apresentar as reflexões sobre a forma como se deu o Encontro Terapêutico com estas pessoas.Trata-se de um trabalho de abordagem qualitativa, embasado no método clínico,que busca estabelecer relações entre depressão,envelhecimento e o uso de técnicas projetivas,não somente como auxiliares no psicodiagnóstico,mas fundamentalmente como elementos facilitadores no contato com estes pacientes. Apresentamos dois pacientes: uma mulher e um homem, Helena e Jaime (os nomes são fictícios) ,com idades entre 72 e 70 anos, respectivamente, e grau de escolaridade de nível fundamental e médio. Estes pacientes inicialmente procuraram a Clinica Psicológica Durval Marcondes, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, com queixa de depressão e relatando sintomas que caracterizavam um quadro depressivo. Nenhum dos pacientes havia tido contato anterior com psicólogo. Após uma entrevista com o psicólogo da equipe técnica da clínica, houve o encaminhamento para o APOIAR, serviço abrigado no Laboratório de Saúde Mental e Psicologia Clínica Social do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. 85 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Os pacientes foram encaminhados para o atendimento psicológico por médico psiquiatra que diagnosticou um quadro de depressão ,segundo os critérios do DSMIV. Embora houvesse sido prescrito o uso de medicação antidepressiva, nenhum paciente, na ocasião dos atendimentos, fazia uso deste tipo de medicação.Helena,senhora de 72 anos,costureira,veio em busca de atendimento psicológico trazida pelas filhas.Ficou viúva há um ano,tem três filhas.Após a morte do marido descobriu que ele a traia.Relata tristeza,não tem vontade de trabalhar ou sair de casa e chora com facilidade.Jaime tem 70 anos,apresenta e tristeza e desanimo,principalmente após a morte da esposa há cinco anos.Tem três filhos e dificuldades de relacionamento com estes. Os atendimentos psicológicos aconteceram em um período de 10 sessões, com a freqüência de um encontro semanal com a duração de uma hora. Iniciamos o contato com os pacientes por meio de três entrevistas iniciais, em que pudemos conhecer aspectos gerais da história de cada um e as queixas que apresentavam. Na primeira entrevista estabelecemos um contrato de atendimento psicoterápico pelo período de 10 semanas. A partir da quarta sessão foram utilizadas as seguintes técnicas projetivas: Questionário Desiderativo (NIJANKIM; BRAUDE, 2000) e aplicação de cinco pranchas selecionadas do SAT - Teste de Apercepção Temática para idosos ( BELLACK,1949 /1992) i Discussão dos resultados A concepção original deste estudo, apresentado ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo como dissertação de Mestrado (GIL,2005); baseava-se na aproximação do idoso, visando à compreensão de suas características e dinâmica psíquica. Para cumprir tal objetivo, planejamos a utilização das técnicas projetivas de modo a privilegiar a vertente psicodiagnóstica e as possíveis intervenções a serem realizadas. Assim,ao efetuarmos uma análise dos aspectos projetivos nos instrumentos apresentados,podemos em síntese,destacar no Questionário desiderativo de Helena respostas que,conforme a análise de Ocampo e Garcia Arzeno (1981) e Grassano (1996),evidenciam a presença de traços depressivos e a dificuldade de em instrumentalizar as defesas,principalmente em relação à identificação projetiva frente a angustia e ansiedade despertadas pela utilização do instrumento.Esta dificuldade pode ser observada,à medida que ocorre,por exemplo,a perda de distancia entre os Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 86 símbolos e os aspectos representados (que aparecem nas respostas como:1+Eu ficaria na gaiola ou 3+Gostaria de ser piano para ser tocado)..Há indicadores psicopatológicos de personalidade depressiva,como por exemplo,a eleição do símbolo “passarinho” e a conseqüente racionalização referente a um animal pouco agressivo,passivo e cuidado por um ser humano com relação de proximidade.Da mesma forma,nas respostas negativas,há a perda da distancia emocional com o objeto e a escolha de símbolos negativos (objetos que ferem,destroem,arma e planta com espinho). No SAT,este aspecto aparece novamente com o uso do mecanismo de identificação projetiva direta,representando justamente a dificuldade que surge no Questionário Desiderativo em instrumentalizar este tipo de defesa.Deste modo,à medida que as histórias passaram a assumir um caráter auto-referente,conforme a teoria estudada,estava implícito o significado da perda da distancia em relação ao estimulo.Assim,o mecanismo de identificação projetiva direta pode significar,em um primeiro momento,uma forma de defesa frente a angustia que o estímulo representou.Sob esta perspectiva,as respostas de Jaime também evidenciaram aspectos semelhantes.Embora o mecanismo de identificação projetiva possa indicar a depressão,ele não é necessariamente patológico,pois sendo configurado um dialogo,tanto Helena como Jaime só poderiam falar na primeira pessoa,apropriando-se assim de sua experiência. Consideramos que ,ao longo do processo o psicodiagnóstico interventivo inicialmente proposto foi se aproximando da idéia da consulta terapêutica inspirada na teoria desenvolvida por Winnicott (1968),onde as intervenções estabelecidas ao longo do processo buscaram criar um ambiente favorável ao relacionamento humano,em que fosse respeitada a singularidade do paciente e ,por meio do holding como forma de sustentação do acontecer clínico possibilitasse a integração de sua personalidade.Neste sentido procurou-se favorecer a busca do gesto espontâneo e criativo,com a intenção de colocar as questões em marcha em um contexto não interpretativo. Conclusão .De uma concepção psicodiagnóstica,empreendeu-se original um que caminho privilegiava em direção a a vertente uma nova perspectiva,com um modelo que inspirado nas Consultas Terapêuticas propostas Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 87 por Winnicott (1965/1994) ,resultou em Encontros Terapêuticos como enquadre diferenciado em psicanálise,os quais demonstraram ser, ao longo do processo,potencialmente mutativos. Sem, no entanto, desconsiderar a importância ou desvalorizar os aspectos relativos ao diagnóstico do quadro depressivo, pudemos ver que este caminho aconteceu de forma natural, enquanto sustentação do processo terapêutico, oferecido na forma de holding do paciente e possibilitando que fosse retomada a continuidade de ser e um viver de forma criativa e integrada, configurando, a nosso ver, um acompanhamento em que foi valorizada a singularidade do paciente. Destaca-se a utilização dos instrumentos projetivos não só como auxiliares no psicodiagnóstico,mas fundamentalmente como facilitadores e mediadores no contato com o paciente, bem como seu efeito terapêutico.Assim,pudemos pensar em seu uso inspirado no Jogo de Rabisco proposto por Winnicott (1968),pois á medida que foram sendo apresentados os estímulos (Questionário Desiderativo e pranchas do SAT),iam sucedendo-se as elaborações dos pacientes e as intervenções do terapeuta,procurando assim dar o holding necessário a este tipo de enquadre. Ao final das sessões, pudemos observar modificações marcantes nos pacientes,tanto com relação à remissão dos sintomas depressivos quanto à diminuição do sofrimento e o vislumbre da potencialidade de um viver criativo e dotado de sentido e assim a dimensão passiva foi sendo substituída pela capacidade de apropriar-se de suas próprias vidas. Deste modo, os encontros terapêuticos como forma de intervenção psicanalítica especializada,segundo a nossa visão, tiveram efeito mutativo, à medida que puderam ser acompanhados por uma articulação simbólica, gerando condições para que cada indivíduo pudesse utilizar-se de seu próprio potencial criativo, podendo lidar com os problemas e dificuldades inerentes à vida. Referências Aiello-Vaisberg,T.M.J.Ser e Fazer:enquadres clínicos diferenciados na clínica Winnicottiana.Aparecida,SP:idéias e Letras,2004. Aiello-Vaisberg,T.M.J;Machado,M.C.Sofrimento humano e estudo da “eficácia terapêutica” de enquadres Vaisberg,T.M.J;Ambrosio,F.F.(org.) Cadernos clínicos Ser diferenciados.In:Aielloe Fazer:apresentação e 88 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 materialidade.São Paulo:Instituto de psicologia da Universidade de São Paulo,2003 Alexopoulos,G.S & Kiosses, D.N. & Klimstra, S. 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Winnicott, D.W.(2004) El valor de la depression,in: El hogar,nuestro ponto de partida:Ensaios de un psicoanalista.Buenos Aires:Paidós Winnicott, D.W.(1994) O valor da consulta terapêutica,In:Explorações Psicanalíticas.Porto Alegre:Artes Médicas 90 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Infertilidade e Adoção: Reflexões sobre a Importância da Psicoterapia no Tratamento da Infertilidade Mariana Leme da Silva Pontes 1 Jaqueline Caldamone Cabreira 2 Marcela Casacio Ferreira-Teixeira 3 Tânia Maria José Aiello Vaisberg 4 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: infertilidade; adoção; desenhos-estórias; Winnicott. No Brasil é grande o número de crianças abandonadas que permanece institucionalizada, sem esperança de acolhimento por parte de famílias, porque predomina, entre aqueles que se interessam por adoção, preferência por recémnascidos. Deste modo, realiza-se, de modo camuflado, um processo socialmente perverso, que passa facilmente desapercebido pela sociedade civil: a exclusão de crianças maiores de dois anos de idade da possibilidade de obter cuidados parentais. As pesquisas e a experiência indicam que este fenômeno está estreitamente ligado ao fato da adoção ser pensada, em nosso país, como forma de solucionar o problema da infertilidade do casal. Deste modo, de um lado a pobreza extrema gera o abandono infantil, enquanto pelo outro lado, casais de classe média buscam recém-nascido para escapar ao sofrimento e à frustração derivados da infertilidade (Gagno e Weber, 2003). Cria-se, deste modo, uma situação complexa, que merece ser estudada a partir de diferentes pontos de vista. Temos optado por abordar o fenômeno em nossas pesquisas, privilegiando a abordagem psicanalítica do imaginário social, o qual, de acordo com uma perspectiva teórica winnicottiana, que se deixa atravessar pela psicanálise concreta de José Bleger (1963), é compreendido como ambiente, ou seja, como “um lugar em Bolsista PIBIC/CNPq. Bolsita FAPIC. 3 Doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas/ Bolsa CNPq. 4 Professora Livre Docente pela USP, orientadora permanente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia. 1 2 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 91 que vivemos” (Winnicott, 1975). É a partir deste lugar, ou mundo vivencial, que, sendo imaginário, é absolutamente concreto em seus efeitos, que ganham sustentação práticas sociais preconceituosas e mais ou menos abertamente violentas contra os vários excluídos sociais, entre os quais se encontram as crianças rejeitadas para adoção. Considerando a amplitude fenomênica do imaginário social, percebemos claramente a necessidade de delimitar o trabalho de pesquisa. Escolhemos abordar um segmento interessante, professores do ensino fundamental e médio, tanto porque representam uma camada eventualmente melhor informada da população, como também por estarem sempre próximas de crianças, mães e famílias, e de suas dinâmicas de relacionamento afetivo. A pesquisa foi realizada mediante o uso do procedimento de DesenhosEstórias com Tema (Aiello-Vaisberg, 1999), que, desde uma perspectiva epistemológica intersubjetiva, deve ser compreendido como recurso mediador capaz de facilitar a comunicação, captando os campos psicológicos não conscientes segundo os quais se organiza o imaginário do grupo abordado. Os encontros com trinta professores ocorreram individualmente, em seus domicílios. Cada participante foi convidado a desenhar uma criança adotiva e a inventar uma história sobre a figura desenhada, a qual foi escrita pela própria pessoa no verso da mesma folha. Após as entrevistas, as pesquisadoras elaboraram narrativas do acontecer clínico, que incluem tanto as produções dos professores como suas próprias associações livres, conforme a regra psicanalítica fundamental, tal como vem sendo trabalhada pela Teoria dos Campos (Herrmann, 2004). Este processo de análise envolve um trabalho baseado no uso método psicanalítico, que se constitui pela articulação de dois passos: associação livre e atenção equiflutuante. Assim, os desenhos-estórias foram inicialmente considerados a partir da adoção de uma atitude, que tem caráter fenomenológico, conhecida, no campo psicanalítico, como atenção equiflutuante. Num segundo momento, as narrativas psicanalíticas foram construídas a partir da produção de associações livres pelas pesquisadoras. Originou-se, deste modo, um material clínico composto pelo conjunto de desenhos-estórias e pelo conjunto das narrativas psicanalíticas referentes a cada entrevista, o qual foi examinado, in totum, tendo em vista a detecção interpretativa dos campos psicológicos não conscientes. O trabalho analítico indicou que o imaginário destes professores, tal como pode ser captado por meio dos desenhos-estórias, organiza-se a partir de vários Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 92 campos psicológicos não-conscientes, tais como: abandono, tristeza, medos e dúvidas sobre o passado e o futuro da criança, ruptura de vínculos com a família biológica e infertilidade, sendo que esse último assumiu maior posição de destaque, estando presente na maior parte dos desenhos-estórias. É importante ressaltar que o sofrimento ligado à infertilidade é invocado, pelos professores, como o principal motivo para a adoção, a qual aparece como alternativa aceitável após sucessivas tentativas frustradas de gestação. Deste modo, torna-se claramente compreensível porque adoção passa a ser praticamente sinônimo de adoção de infantes, que teriam seus laços com pais biológicos rompidos tão precocemente a ponto de não poderem guardar lembranças conscientes da época anterior à adoção. Nesta linha, podem ser colocados na posição de substitutos de filhos biológicos que os casais não conseguiram gerar. Deste modo, detecta-se a existência de um campo de ruptura de vínculos, que se liga diretamente ao fato da não elaboração da infertilidade gerar a necessidade de ocultar da criança sua verdadeira origem. Isso não quer dizer, evidentemente, que não se “conte” à criança que ela é adotiva. Entretanto, o que ocorre é que os pais adotivos acabam fazendo questão de não conhecer nem sequer saber quem são os pais biológicos, do que resulta uma história cheia de lacunas relativas a informações essenciais. Então, o que acontece, de fato, é uma pseudo-revelação, evidentemente geradora de sofrimento. Saber-se adotado, sem dados concretos e na natural ausência de memórias relativas aos primeiros tempos de vida, resulta em dificuldade de integração pessoal. Como todas as pesquisas psicanalíticas, que geram, via de regra, volumosa quantidade de comunicações emocionais, que demandam tempo para serem elaboradas interpretativamente, nosso estudo inicial sobre o imaginário de professores aponta a necessidade de processamento reflexivo dos conhecimentos que produz. Neste momento, ao nos darmos conta de que, em um plano coletivo, a adoção se revela verdadeiramente problemática do ponto de vista emocional, lembramos que a busca de atenção psicológica clínica só acontece quando uma situação é socialmente reconhecida como sintomática (Aiello-Tsu, 1993). Se o coletivo negar o potencial gerador de sofrimento de uma situação, não haverá demanda de cuidados, sejam psicoterapêuticos, sejam psicoprofiláticos. A nosso ver, o fato de casais inférteis buscarem recém-nascidos para adoção levanta uma interessante interrogação, na perspectiva da psicanálise winnicottiana do self, que consiste em questionar em que medida a adoção pode acontecer não Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 93 como gesto autêntico e espontâneo, que refletiria uma posição emocional amadurecida, caso em que o bebê não seria "usado" para resolver o problema do casal, mas sim como "passagem ao ato" essencialmente imatura, ou seja, como sintoma, para o qual seria importante um tratamento psicoterapêutico. A experiência clínica indica que a adoção tanto pode acontecer – como aliás qualquer manifestação humana – sob a égide de motivações saudáveis ou determinada por problemáticas emocionais nem sempre conscientes. Entretanto, em termos de uma psicanálise concreta, que pudesse levar em conta a saúde mental pública, seria interessante disponibilizar atendimentos psicoterapêuticos para todos aqueles que se candidatam à adoção de crianças. Finalizando, é necessário acrescentar que tal medida, que teria indiscutíveis efeitos psicoprofiláticos (Bleger, 1966), só se tornaria possível se pudéssemos combater o preconceito contra a psicoterapia. Aqui seria preciso lembrar que é fundamental diferenciar práticas positivistas, que trabalham no sentido do conformismo e da submissão, daquelas outras que visam favorecer a gestualidade espontânea, a autonomia pessoal e o desenvolvimento da capacidade de transformação da realidade no sentido do incremento à dignidade e ao respeito humanos. Referências Aiello-Tsu, T.M.J. A Internação Psiquiátrica e o Drama das Famílias. São Paulo, Edusp/Vetor, 1993. Aiello-Vaisberg, T. M. J. Encontro com a loucura: transicionalidade e ensino de psicopatologia. Tese de livre docência, Instituto de Psicologia, USP, 1999. Bleger, J. Psicologia da Conduta (1963). Tradução Emília de Oliveira Diehl. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984. Bleger, J. Psico-higiene e psicologia institucional (1966). Tradução Emília de Oliveira Diehl. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984. Gagno, A. P. e Weber, L, N. D. A adoção na mídia: revisão da literatura nacional e internacional. Paidéia, 13(25), p. 111-118, 2003. Herrmann, F. Pesquisando com o Método Psicanalítico. In F. Herrmann e T. Lowenkron. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. Winnicott, D. W. O brincar e a realidade. Tradução José Octavio de Aguiar Abreu e Vanede Nobre. Rio de Janeiro: Imago, 1975. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 94 Instrumentos de avaliação de mudança em psicoterapia breve Ítor Finotelli Júnior 1 Elisa Medici Pizão Yoshida Pontifícia Universidade Católica de Campinas. [email protected] Palavras-chave: método de avaliação de psicoterapia; avaliação intensiva de caso único; psicoterapia psicodinâmica. Resumo Procede a uma revisão teórica de alguns instrumentos de avaliação utilizados em pesquisas para avaliação de mudança em psicoterapias, em especial as psicoterapias breves. Focaliza duas escalas clínicas a Escala Rutgers de Progresso de Psicoterapia - RPPS (Rutgers Psychotherapy Progress Scale) e a Escala de Avaliação dos Mecanismos de Defesa – DMRSs (Defense Mechanism Rating Scales). A psicoterapia vem sendo desenvolvida por diversas áreas do conhecimento humano, podendo-se até afirmar, segundo Hanns (2004), que ela não somente diz respeito à área da psicologia clínica, mas a um arcabouço de conhecimentos oriundos de áreas que estudam o desenvolvimento do ser humano em geral. Nos últimos 20 anos, estudos feitos sobre os resultados de psicoterapia indicaram que é eficaz para inúmeras configurações de personalidade e diferentes casos (Hanns, 2004). No entanto persistem dúvidas quanto às variáveis responsáveis pelas mudanças. Nesta medida, observa-se na atualidade um interesse crescente pelos processos psíquicos, e a partir disto compreender o que acontece em uma sessão e como operam as variáveis dentro desta. As características acima demarcam o movimento Integrativo, “que tem como marco inicial o clássico artigo de Goldfrield (1980), que identifica o descontentamento dos terapeutas com os limites de seus enfoques” (Yoshida, 2002, p.59). 1 Este movimento olha além das fronteiras que demarcam as diferentes 95 Bolsista PIBIC. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 abordagens na tentativa de observar o que pode ser aprendido de outras perspectivas, sendo um importante canal de comunicação entre elas (Sundfeld, 2000). Dentre as técnicas de psicoterapias, a psicoterapia dinâmica breve vem se desenvolvendo desde a década de 40, sendo as suas contribuições mais relevantes de autores da década de 60. Buscando retratar um pouco de sua história, pode-se dividi-la segundo três gerações de autores que se pautaram pelos diferentes modelos teóricos que surgiram no bojo da psicanálise: a primeira geração e o modelo pulsional/estrutural, a segunda geração e o modelo relacional e a terceira geração e o modelo integrativo (Yoshida, 2004). A primeira geração pautava-se na concepção de funcionamento mental defendida por Freud, seus autores estavam preocupados em destacar as diferenças entre a psicanálise e a psicoterapia breve. Já a segunda geração, defendia os mesmos procedimentos técnicos para os processos psicoterápicos longos e breves, com a diferenciação de focos sucessivos e o maior interesse teórico eram as relações interpessoais e os conflitos delas decorrentes. Entretanto, a terceira geração apresenta concepções de diferentes vertentes da psicanálise e se utiliza de aspectos técnicos de outras abordagens. (Yoshida, 2004). Yoshida (2004) destaca ainda que no Brasil os primeiros estudos de psicoterapia breve datam da década de 80. Contrapondo-se com a realidade internacional onde já as primeiras propostas surgiram nas décadas de 40 e 50. Apesar da grande influência da Escola Inglesa, uma das vertentes do modelo relacional sobre o pensamento psicanalítico brasileiro, observamos que as peculiaridades de nossa realidade contribuíram fortemente para proposta de psicoterapias breves com perfil próprio, bem diferente do das européias ou norteamericanas. (Yoshida, 2004, p.18) Os autores deste novo modelo de psicoterapia utilizam “procedimentos psicoterápicos que têm sua fundamentação teórica na psicanálise, mas que se distanciam dela, enquanto técnica e objetivos” (Yoshida, 1993, p.24). E o termo “breve” emerge em decorrência da necessidade de psicoterapias de tempo limitado, focados na resolução de problemas específicos dos indivíduos. Desta forma, alguns casos são apontados como contra-indicados para o tratamento de psicoterapias 96 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 breves, são eles: surto psicótico, drogadição, alcoolismo, ou intenção de modificar a condição de homossexualidade (Enéas, 1999). Numa psicoterapia breve o terapeuta procura estabelecer junto ao indivíduo, de acordo com suas expectativas e limites, o objetivo e o processo de tempo a ser trabalhado durante o processo terapêutico. Para isso, focalizam-se dois conceitos: atividade do terapeuta e foco da terapia. O primeiro, trata-se da avaliação inicial da terapia e seu planejamento: funcionamento mental do paciente e atenção seletiva sobre o tema prioritário; já o conceito de foco, ‘situação problema’, limita a área de trabalho da psicoterapia, diferenciando-a das de longa duração (Enéas, 1999). Para Simon (1996a) a ‘situação problema’, “é um conjunto de fatores ambientais que interagem com fatores intrapsíquicos e que levam a uma alteração – seja crise ou deterioração – da qualidade adaptativa” (Enéas, 1999, p.8). Desta forma, a psicoterapia breve procura uma melhora adaptativa do indivíduo a partir de um planejamento interventivo; além disso, o planejamento do término da psicoterapia é feito desde o início e trabalhado com o paciente, vislumbrando a elaboração do luto pela perda do vínculo e determinando um tempo para o cumprimento do objetivo estabelecido (Enéas, 1999). Escala de Avaliação de Progresso em Psicoterapia Com base na literatura psicanalítica, a Escala Rutgers de Progresso de Psicoterapia - RPPS (Rutgers Psychotherapy Progress Scale) foi proposta pelo grupo de pesquisa da Universidade de Rutgers por Messer, Tishby e Spillman (1992); e desenvolvida para medir o progresso mostrado pelos pacientes durante o processo de psicoterapia psicodinâmica. Ela é composta por oito itens que são avaliados por meio de uma escala diferencial, variando de 0 (não houve progresso) a 4 (progresso extremamente bom); cada um deles pretende extrair aspectos do progresso do paciente de forma distinta (RPPS, 1992). Os oito itens avaliados pela escala são: a) Expressão de Material Significante - MS; b) Desenvolvimento de Insight - DI; c) Foco sobre Emoção - FE; d) Referência Direta ao Terapeuta e/ou Terapia - RDT; e) Novo Comportamento na Sessão - NCS; f) Colaboração - C, g) Clareza e Vivacidade da Comunicação- CV; h) Foco sobre Si – FSS, padronizados para a população norte-americana (Enéas, 1999). Que pretende ainda: 97 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Oferecer uma perspectiva naturalista que permita uma micro-análise em profundidade de terapias inteiras, considerando o contexto de seu desenvolvimento e compreendendo o sentido único das trocas entre paciente e terapeuta (Enéas, 1999 p.61). Para a avaliação do progresso em psicoterapia, parte-se da leitura das transcrições, para se obter a compreensão dos problemas atuais do paciente. Levando em consideração suas características e o contexto de tudo que tenha sido dito durante o processo, até o ponto em que está sendo avaliado (RPPS, 1992). Cada sessão é avaliada individualmente, sendo necessário que os avaliadores tenham lido antes as já transcritas; divididas em blocos de tempos aproximadamente iguais. Para a avaliação de cada bloco, são atribuídos escores para cada item da escala e o avaliador pode ler o bloco que está sendo avaliado quantas vezes sentir necessidade. No entanto, em hipótese alguma poderá passar a outro sem findá-lo e/ou alterar a pontuação já atribuída. Assim, o escore global da RPPS é a média dos escores de cada item avaliado (RPPS, 1992). Mecanismos de Defesa Os mecanismos de defesa, de acordo com a teoria psicanalítica, funcionam em um nível inconsciente do sujeito, tendo como função “manter a homeostase do ego e afastar conflitos de origem intrapsíquica, interpessoal ou de estressores ambientais da consciência” (Blaya, 2003, p.68). Sua importância é vista por ser o primeiro conceito da psicanálise a ser utilizado pelo DSM IV, evidenciando seu reconhecimento dentro dos manuais de diagnóstico, ampliando seus estudos. (Blaya, 2003). Destaca-se dentre os estudos sobre os mecanismos de defesas, os realizados por Vaillant que por meio de vinhetas clínicas e utilizando da teoria psicodinâmica, correlacionou as defesas maduras com medidas objetivas de sucesso de vida, apontando que uso dos mecanismos de defesa não significa um funcionamento patológico, uma vez que estes envolvem também funções de características adaptativas e protetoras. Portanto, desvelar os mecanismos de defesa do indivíduo é descobrir o seu funcionamento defensivo e a forma que ele lida com seus conflitos; utilizando de defesas maduras: mais adaptativas por maximizar a gratificação do impulso no 98 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 manejo com os estressores; ou defesas imaturas: ao distorcer a imagem de si mesmo e dos outros por manter estressores como: impulso, afetos inaceitáveis e desagradáveis fora da consciência, fazendo atribuição incorreta à causa externa, ou distorcendo a realidade (Blaya, 2003). Esta proposta evidenciou um maior conhecimento conceitual e empírico a partir da década de 70 e desde então, surgiram diversas formas empíricas de avaliação desses mecanismos, podendo segundo Skodol e Perry (1993), serem agrupadas: técnicas projetivas, instrumento de auto-avaliação e manuais. (Gatti, 1999). Dentre as técnicas projetivas destacam-se: Rorschach, Teste de Relações Objetais – TRO, Teste de Apercepção Temática – TAT, sendo o uso restrito desses instrumentos em pesquisa (Gatti, 1999). Já os instrumentos de auto-avaliação podem ser representados pelo: Defense Mechanism Inventory – DMI, Defense Style Questionnaire – DSQ, Life Style Index – LSI, mais próximo e fidedigno no uso de pesquisas, por serem potencialmente precisos; com ampla referência na literatura (Gatti, 1999). E a avaliação por meio de glossários e manuais que tem sido amplamente citada nos estudos de Vaillant (1992), Jacobson e cols. (1992) e Perry & Cooper (1989) por utilizarem a avaliação de observadores externos, a partir de entrevistas clínicas gravadas em áudio e/ou vídeo e transcritas para realização de julgamentos. Esse método pressupõe avaliadores treinados para identificarem os episódios defensivos nos materiais apresentados e classificá-los (Gatti, 1999). É importante ressaltar que o estudo de Perry & Cooper (1989) citado acima foi alterado por Perry em 1990, originando a quinta edição da Defense Mechanism Rating Scales – DMRSs (Gatti, 1999). Escala de Avaliação dos Mecanismos de Defesa A Escala de Avaliação dos Mecanismos de Defesa – DMRSs (Defense Mechanism Rating Scales) proposta em sua quinta edição por Perry (1990) na Universidade Harvard, classifica os mecanismos de defesa em sete níveis hierárquicos: defesas maduras, defesas obsessivas, outras defesas neuróticas, defesas narcisistas, defesas de evitação, defesas boderline, defesas de ação (Gatti, 1999). Este instrumento é proposto para auxiliar na obtenção da fidedignidade “quanto à probabilidade de um determinado sujeito usar cada um dos mecanismos Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 99 de defesa apresentados” (Perry, 1990, p.1). E “medir de modo direto as manifestações do funcionamento defensivo e ser aplicável a entrevistas, clínicas, psicoterápicas ou a extratos de material clínico” (Gatti, 1999, p.16). Esta escala não se fundamenta em definições para a avaliação dos mecanismos de defesa, mas “em pontos quanto ao uso provável e definitivo de cada mecanismo, ancorados em exemplos e regras adicionais de observações” (Perry, 1990, p.1). Para isso, são considerados: histórias recentes contadas pelo sujeito, episódios relevantes de sua vida, e sua interação com o entrevistador (Perry, 1990). Segundo Gatti (1999), “As DRMSs permitem dois tipos de avaliação – quantitativa e qualitativa – e um cálculo do nível de funcionamento defensivo global” (p.17). A avaliação qualitativa da escala realiza-se de duas formas: por observadores individuais ou grupo de observadores. Recomenda-se que para esse tipo de avaliação as entrevistas sejam filmadas e as transcrições das entrevistas estejam disponíveis para os observadores (Perry, 1990). Caso as transcrições não estejam disponíveis, recomenda-se ao menos que os observadores façam anotações das possíveis atividades defensivas do entrevistado em um outro material. Essa precaução deriva-se da quantidade de eventos defensivos que um sujeito emite em uma entrevista, sendo que “a experiência mostra que podem ser encontrado de 15 a 75 atos defensivos em uma entrevista” (Perry, 1990, p.1). Os juizes devem ler individualmente cada uma das escalas, pontuando a intensidade do uso das defesas em: uso não provável (0), uso provável (1), uso definitivo (2). Esta avaliação individual permite um maior aprendizado dos juízes e protege os resultados de serem enviesados. Posteriormente, os juízes devem discutir suas avaliações com o intuito de entrarem em consenso a fim de maximizar a eficiência, uma vez que o juiz com alta avaliação deve identificar as evidências na entrevista e justificar sua avaliação (Perry, 1990). Já a avaliação quantitativa permite uma variação de 0 a 15 ocorrências das defesas em cada sessão, o que fortalece a análise estatística dos dados. Esta avaliação possibilita evidenciar “diferenças na freqüência de uma defesa e é melhor para estudos longitudinais que pretendam detectar mudanças” (Perry, 1990, p.3). Muitas vezes, as defesas estendem-se por vários diálogos, devendo ser avaliadas uma única vez a não ser que surjam novos exemplos ou materiais, avalia-se mais de 100 uma vez (Perry, 1990). Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 As duas escalas focalizadas têm sido utilizadas nas pesquisas do Grupo de Pesquisa dos autores, tendo–se mostrado úteis para a avaliação de mudança em psicoterapias realizadas em nosso meio. Referências Blaya, C., Kipper, L., Filho, J. B. P., & Manfro, G. G. (2003). Mecanismos de defesa: uso do Defense Style Questionnaire. Revista Brasileira de Psicoterapia, 5 (1), 67-80. Enéas, M.L.E. (1999). Uso da Escala Rutgers de Progresso em Psicoterapia na exploração de processos psicoterápicos. Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica de Campinas, São Paulo. Gatti, A. L. (1999). Escalas de Mecanismos de Defesa: precisão e validade concorrente. Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica de Campinas, São Paulo. Hanns, L. A. (2004). Regulamentação em Debate. Ciência e Profissão: Diálogos, 1 (1), 6-13. Perry, J. C. (1990). Escalas de Avaliação dos Mecanismos de Defesa (5ª ed.). (D.Wiethaeuper e E. M. P. Yoshida, Trad.). Manuscrito. Rutgers Psychotherapy Progress Scale – RPPS (1992). Scoring manual. Manuscrito. Sunfeld, A. C. (2000). Abordagem integrativa: reterritorialização do saber clínico? Psicologia: Teoria e Pesquisa, 16 (3), 251-257. Yoshida, E.M.P. (1993). A psicoterapia breve na realidade brasileira. Mudanças: psicoterapia e estudos psicossocias, 1 (1), 23-25. Yoshida, E. M. P. (2002). Escala de estágios de mudança: uso clínico e em pesquisa. Psico-USF, 7 (1), 56-66. Yoshida, E.M.P. (2004). Evolução das psicoterapias breves psicodinâmicas. In E. M. P. Yoshida & M. L. E. Enéas (Orgs.), Psicoterapias psicodinâmicas breves: propostas atuais (pp. 14-36). Campinas: Alínea. 101 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Intervenção breve em organizações: adaptação às mudanças através do coaching Sueli Aparecida Milaré 1 , Elisa Medici Pizão Yoshida P o n t i fí c i a U ni v e r s i da d e C a t ó l i c a d e C am p i n a s [email protected] Palavras-chave: coaching de executivos; eficácia adaptativa; desenvolvimento de executivos. Resumo: O objetivo deste estudo de caso é o de investigar e avaliar a eficácia adaptativa de um executivo que se submeteu ao programa de coaching de executivos. Para isto faz-se necessário discutir o contexto em que este executivo desenvolve sua atividade profissional. O mercado dinâmico, globalizado e exigente têm provocado importantes processos de mudança nas organizações. Por sua vez, as organizações estão buscando avidamente a flexibilidade, com estruturas mais leves e investimentos na melhoria da qualificação dos trabalhadores, para que ocorra a adaptação às exigências do mercado. As regras que norteavam as decisões organizacionais no passado deixaram de ser eficazes, fazendo com que o tempo e o espaço, dimensões básicas transformadora: instantâneas, a do universo, comunicação reduzindo o tempo sejam e e a modificados computação concentrando de forma estão quase na velocidade, resultando na quase inexistência da distância. De sua parte, os líderes nas empresas têm a função de dominar este mundo embaçado e difuso, mantendo o ritmo acelerado das mudanças. Estas mudanças cada vez mais intensas, além das pressões globais que as organizações têm que enfrentar, acabam exigindo incremento substancial na capacidade de aprendizagem para viabilizar 1 Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Psicologia da PUC-Campinas, Bolsista do programa de capacitação docente da PUC Campinas. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 102 a gestão de sua complexidade, diversidade e ambigüidade, características das condições atuais. As mudanças organizacionais podem ser enfrentadas a partir de metodologia que permita que as pessoas aprendam primeiramente de forma individual e depois aplicando e ampliando seus conhecimentos para o nível grupal e organizacional. Dentre as modalidades de intervenção profissional existentes para se obter as mudanças desejadas, existe o coaching. Etimologicamente coaching vem de coach, uma palavra antiga com origem em uma pequena vila húngara onde foi desenvolvida a carruagem coberta, chamada koczi, foi idealizada para proteger seus habitantes das intempéries regionais ao serem transportados de um lugar para outro. Esta palavra ao longo da história esteve associada ao transporte e mais recentemente ao esporte, em que um especialista treina e desenvolve um atleta ou uma equipe de atletas a atingirem suas metas. Também é utilizada no sentido de tutorado, alguém que guia os passos de uma pessoa para que esta tenha sucesso sustentado em valores e princípios. A essência do coaching é ajudar o indivíduo a resolver seus problemas e a transformar o que aprendeu em resultados positivos para si e para a equipe a qual lidera. Desta forma seu aprendizado é ampliado para seu grupo de trabalho e daí para a coletividade organizacional profissional (O’Neil, qualificado 2001). a Ser ajudar um uma coach pessoa significa a ser expandir um suas competências, levando-o de um posicionamento a outro, sustentado por seus princípios e valores. Enquanto que a expressão coaching é utilizada para designar este processo de ajuda. A utilização do coaching como forma de desenvolvimento dos executivos é mais uma evolução do conceito que tem se ampliado através dos anos. O coaching de executivos é um processo individualizado de desenvolvimento de liderança que otimiza a capacidade do líder para alcançar metas organizacionais a curto e a longo prazo. É conduzido por interação um – a – um dirigido por feedbacks de múltiplas fontes e baseado em confiança e respeito mútuo. A organização, um executivo, e o coach trabalham em parceria para alcançar aprendizagem e impacto máximos. Em sua prática mais formal, um coach profissional é Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 103 formalmente contratado por um executivo e sua organização para trabalhar em parceria colaborativa com o executivo e outros na organização para alcançar os resultados de negócios e os objetivos de aprendizagem para o executivo. Os coaches ajudam executivos a crescerem através de questionamentos que buscam ampliar o seu autoconceito o que melhora sua eficácia adaptativa, nos termos de Simon (1989, 1995). O conceito técnico do coaching de executivos é diferente de Mentoring e de Counselling, ambos procedimentos utilizados pelas empresas para desenvolvimento de pessoas e de líderes. O Mentoring é um processo no qual o Mentee, ou participante do processo, aprende sobre a cultura da organização onde está inserido. Um líder sênior mais experiente desta organização decide ser um orientador para um novo líder ou um novo empregado, o qual pode ser sido apontado como líder de alto potencial. O Counselling é um tipo de aconselhamento para a orientação de problemas. É uma fonte de consulta e recomendações. Geralmente o conselheiro é respeitado pela quantidade e qualidade das informações que detém. O contato é pontual. Um empregado pode procurar seu líder solicitando um conselho ou perguntando como resolver um problema. O líder ouve e dá sugestões (Milaré, 2005). Portanto, a especificidade do coaching de executivos em relação ao mentoring e counselling é ser focado na melhoria do desempenho em busca do desenvolvimento de novas competências, levando à satisfação profissional e pessoal, sendo o seu ponto de início o desejo (ou necessidade) de mudança para o atingimento de suas metas. Quanto à tipologia, o Coaching de executivos, pode ser dividido em: individual, no qual a pessoa física é quem procura a ajuda profissional por iniciativa própria, no sentido de realizar mudanças que promovam o seu auto-desenvolvimento. E corporativo, quando é a pessoa jurídica quem contrata a ajuda profissional, para atender um ou mais executivos, no sentido de promover mudanças pessoais que possam ser convertidas em resultados positivos para a organização e para o envolvido (Milaré, 2003). A escolha de um coach capacitado para exercer esta função é o principal cuidado que deve ser tomado ao Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 104 iniciar um programa de coaching de executivos. A condução de programas de desenvolvimento deste tipo deve ser realizada por profissionais com uma forte base e formação humanista que entenda sobre relações interpessoais, grupais. Além de ter vivência organizacional, institucional diversificada, ser um profissional sênior com garantia que seja ouvido pelo participante (recomenda-se já ter exercido cargo de comando de mesmo nível ou superior aos de seus clientes) e seu histórico profissional e pessoal garanta credibilidade e confiança em necessárias processos para o sigilosos exercício e do delicados. coaching Nas há qualificações duas atitudes relacionadas e representadas na literatura. A primeira acredita que os psicólogos já possuem um número grande das habilidades necessárias para fornecer o coaching de executivos e então são os provedores de serviço mais qualificados. Estas habilidades incluem respeitar confidência e manter relações altamente intensas com objetividade, além da habilidade de escutar, empatizar, fornecer feedback, criar argumentos, desafios, e explorar o mundo do executivo. A segunda atitude diz que mesmo que a psicologia qualifique o necessário, ela sozinha não será suficiente. É preciso ter ciência em negócios, gerenciamento, assuntos político e conhecimento de liderança para ser efetivo. Kilburg (2000) afirma que os coaches são indicados normalmente pelo profissional da área de recursos humanos das organizações, pelo superior ou por um amigo e lista os três principais critérios de escolha: confiança, reputação sólida e empatia. Sugere a seleção de coaches pela experiência anterior em acompanhar feedbacks 360 graus, conhecimento de ambiente corporativo e habilidade em confrontar e mesmo assim ser suportivo, mantendo a confidencialidade. O coach profissional precisa entender e trabalhar dentro do sistema organizacional (Ennis & cols., 2003) em lugar de ver o executivo como seria visto em um tradicional aconselhamento ou relação de coaching pessoal (com menos ênfase no sistema organizacional dentro de que o cliente trabalha). Para fazer isso, o coach precisa envolver as pessoas chaves do executivo no coaching para verdadeiramente ajudá-lo a compreender como suas ações são Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 105 afetadas e impactadas pelo sistema organizacional inteiro. Estas pessoas chaves incluem: gerente do executivo; o departamento de RH; executivos de desenvolvimento dentro da organização; pares do executivo, empregados, e outros. Muitos motivos justificam o interesse pela utilização desta metodologia, mas o principal é que ela contribui diretamente para a aquisição e processos amadurecimento de de transformação competências, organizacional adaptação com aos melhoria de desempenho (Milaré, 2004). Etapas de um Programa de Coaching de Executivos Este estudo foi realizado utilizando-se da metodologia proposta pela autora e composta de três etapas: formalização do contrato com a empresa-cliente, formalização do contrato com o participante e avaliação dos resultados. Sendo que a segunda etapa é subdividida em 4 módulos, que compõem a essência do programa de coaching de executivos propriamente dita e que são: módulo 1: auto-percepção; módulo 2: identificação das oportunidades de melhoria; módulo 3: elaboração do plano de ação e módulo 4: execução e acompanhamento (Milaré, 2003). Formalização do contrato com a empresa-cliente - A primeira etapa do programa inicia-se com reuniões de levantamento de necessidades e expectativas do cliente. É considerado como cliente, a pessoa jurídica (empresa-cliente) que procura o programa para um de seus executivos, espontâneo) que submeter-se ao expectativas tem ou pode por sua programa. como ser uma própria O pessoa iniciativa levantamento finalidade informar física tenha de o (participante interesse em necessidades e coach o sobre planejamento estratégico da empresa cliente, o período de vigência deste planejamento, as metas que o participante precisará atingir dentro deste planejamento e as dificuldades que estão interferindo no seu desempenho. A fase final desta primeira etapa é a apresentação ao cliente do diagnóstico da situação elaborado pelo coach, quais são os resultados Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 106 previstos, o cronograma e o local das reuniões, quais serão os relatórios disponíveis e qual será o investimento necessário. Formalização do contrato com o participante - A segunda etapa do programa inicia-se com a formalização da proposta ao profissional alvo do coaching (participante), pois até neste momento o contato foi realizado com a empresa-cliente, representada normalmente pelo profissional da área de Recursos Humanos e o superior imediato do participante. Nesta etapa a metodologia de coaching de executivos começa a ser apresentada ao participante, dividida em quatro módulos, a seguir: O primeiro módulo do programa de coaching de executivos- autopercepção – tem como objetivo a avaliação do auto-conhecimento do participante e o reconhecimento das oportunidades de melhoria e a necessidade de mudança. É realizado através do preenchimento e discussão de um questionário que versa sobre questões pessoais e sobre questões profissionais. O segundo módulo do programa de coaching de executivos – Identificação das oportunidades de melhoria - tem a finalidade de identificar claramente as dificuldades encontradas no exercício do cargo que estão impedindo o participante de atingir suas metas empresariais. É realizada uma discussão sobre a natureza causal destas dificuldades e quais recursos estão agindo favoravelmente ou contrariamente à manutenção destas dificuldades. Em todos os módulos do programa de coaching o participante é levado a refletir sobre as mudanças requeridas pela empresa-cliente. Poderá haver divergência entre o posicionamento de um e de outro. Diante deste tipo de situação, o coach fará a intermediação necessária entre ambos, para se chegar a um consenso. Para dar mais subsídio ao participante discute-se sobre valores, hábitos e atitudes característicos de sua ação profissional. O terceiro módulo do programa de coaching de executivos – elaboração do plano de ação - tem por objetivo o levantamento das ações estratégicas e táticas que o participante poderá adotar para melhorar seu desempenho e atingir as suas metas profissionais. Estas ações são elaboradas pelo participante e discutidas com o coach que Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 107 verificará a eficácia delas diante das solicitações da empresa-cliente e do próprio participante no início do processo. No último e quarto módulo - execução e acompanhamento - o participante estará executando as ações identificadas no módulo anterior com o acompanhamento do coach. Espera-se que as mudanças sejam rapidamente apontadas pelos colegas de trabalho e pelo superior imediato, como feedback positivo ao participante. O programa é acompanhado pelo coach e imediatamente antes do enceramento dos encontros o programa é avaliado pelo participante e são resgatadas as oportunidades de melhoria do segundo módulo versus a situação atual do participante. Esta avaliação do programa é feita pelo participante. Avaliação dos resultados - Na terceira e última etapa do programa de coaching de executivos, os resultados alcançados são comparados com os esperados e previstos no início do programa. Esta verificação é realizada em reunião da empresa-cliente e o coach. O conteúdo desta reunião foi discutido anteriormente com o participante, obtendo permissão para exposição de seus dados. Esta avaliação é feita pela empresa-cliente. Este programa foi desenvolvido para privilegiar a complexidade do mundo dos negócios e a crescente necessidade de rápida adaptação dos executivos neste contexto. Foi baseado na experiência profissional da autora e em práticas de mercado. Conforme apontado nos estudos de Koonce (1994), a velocidade das mudanças está gerando executivos com comportamentos não adequados às necessidades atuais, mesmo que tenham tido no passado excelentes resultados. Os processos de coaching de executivos trabalham, portanto, diretamente com a eficácia de sua adaptação. Avaliação da adaptação e o coaching de executivos A evolução da adaptação de executivos pode ser comparada à evolução das mudanças nas organizações ao longo da história. No passado, as organizações evoluíam de forma lenta e gradual, dando tempo de se acomodarem às novas culturas e filosofias. Atualmente, as mudanças são velozes, o que dificulta os ajustes necessários para que todos as absorvam adequadamente. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 108 No nível de adaptação do individuo, do mesmo modo, há ritmos de mudança: aquelas graduais que se dão de forma imperceptível ao longo do tempo, oferecendo condições da pessoa desenvolver um repertório de respostas necessário às situações de vida, e aquelas repentinas que quebram a homeostase e que desafiam a capacidade de adaptação das pessoas (Simon, 1995). A adaptação consiste num processo formado pelo: Co njun to de res pos tas de u m org an ismo vivo , e m vários momen tos , a s i tuaç ões q ue o mod i ficam, per mitind o manu tençã o de su a o rga niz ação (p or mínima q ue se ja ) co mpa tível co m a vid a ( Simon , 1 995 , p .14) . De acordo com Yoshida (1999), a avaliação da configuração adaptativa de candidatos a psicoterapias fornece base segura dos recursos da pessoa em termos de capacidade de enfrentamento e de flexibilidade de respostas frente aos seus problemas, constituindo-se em critério prognóstico da qualidade dos resultados terapêuticos de sujeitos que concluem atendimentos. De forma análoga aos processos psicoterápicos, acredita-se que a eficácia adaptativa do executivo possa ser utilizada também em processos de coaching de executivos, como um critério diagnóstico e prognóstico, na medida em que fornece indicações das condições de enfrentamento e flexibilidade de repostas do sujeito, necessárias para o sucesso deste processo. No coaching de executivos tem sido observado que as atitudes positivas e abertura em relação ao desenvolvimento do programa fazem com que o processo seja mais fluido, consistente e com evolução gradual. Da mesma forma, já foi observado na prática profissional da autora, que as mudanças obtidas por alguns não possuem a mesma rapidez e consistência observadas em outros, principalmente aqueles com maiores dificuldades no setor afetivo-relacional. Estudos científicos são necessários para investigar esta analogia sugerida entre a psicoterapia e o processo de coaching de executivos. 109 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 O estudo de caso O objetivo foi o de investigar e avaliar a eficácia adaptativa de um executivo que se submeteu ao programa de coaching. O instrumento utilizado foi a EDAO R – Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada – Redefinida, desenvolvida por Ryad Symon (1989), que acompanhou as mudanças na eficácia adaptativa promovida pelo programa de coaching de executivos. A listagem dos comportamentos da escala aborda o setor Afetivo-Relacional, que ocupa posição central no conjunto da adaptação e tem um diferencial na determinação da eficácia adaptativa e o setor Produtividade na avaliação geral da pessoa. A classificação da escala é dada por setores o que facilita a verificação do conjunto de respostas da pessoa, permitindo a visualização dos campos bem sucedidos e daqueles comprometidos. É participante um executivo em cargo de comando em empresa de grande porte, multinacional, privada, indicado a se submeter ao programa de coaching por sua empresa, e de formação superior. É considerado como executivo por ocupar cargo com nível de comando na empresa em que trabalha. A pesquisadora consultou o participante que concordou em participar do estudo de caso e foi confirmado através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e seguiu-se ao procedimento: a) Avaliação da Eficácia Adaptativa através da EDAO-R no início do programa de coaching de executivos. b) Realização do programa segundo a metodologia desenvolvida pela pesquisadora; c) Reavaliação através da EDAO-R ao final do programa. Os Resultados Os dados levantados na última entrevista do programa e na primeira entrevista de acompanhamento (dois meses depois do encerramento) mostraram melhoria no setor Afetivo-Relacional e no setor Produtividade, ambos avaliados no início do processo como pouco adequados, gerando a classificação como Adaptação Ineficaz Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 110 Moderada e após o programa avaliados como adequados, com a classificação geral como Adaptação Eficaz (avaliação e reavaliação através da EDAO-R). Os resultados demonstram que o programa de coaching é eficaz no processo de adaptação do indivíduo às mudanças organizacionais e promove a incorporação de novas competências pessoais a fim de o executivo atingir suas metas organizacionais de desempenho. Referências Ennis, S., Stern, L. R., Yahanda, N., Vitti, M., Otto, J., Hodgetts, W., Goodman. R., Hodgetts, W., & Hunt, J. (2003). The executive coaching handbook. Wellesley, MA: The Executive Coaching Forum. Kilburg, R. R. (2000). Executive coaching: Developing managerial wisdom in a world of chaos. A.P.A. Washington, DC. Koonce, R. (1994). One on one. Training and Development Journal, 48(2), 34-40. Milaré, S.A. (2003). Manual do Programa de Coaching. Korum Consultoria.Manuscrito. São Paulo. Milaré, S.A. (2004). Investimento com Retorno Garantido. Revista T&D – Inteligência Corporativa,12 (132),20 - 22. Milaré, S.A.; (2005). Afinal, o que é Coaching? Revista Inove – Conceitos, Tendências e Negócios Corporativos, 2, 5 - 5. O’Neill, M.B. (2001) Coaching: Treinando Executivos (Lasserre, Trad). São Paulo: Futura. Simon, R. (1989). Psicologia Clínica Preventiva: novos fundamentos. São Paulo: EPU (original publicado em 1983, pela Vetor). Simon, R. (1995). Teoria da Evolução humana. Mudanças, 3, 25Stern, L.R. (2004). Executive Coaching: A Working 36. Definition. Consulting Psychology Journal: Practice and Research,56(3):15462. Yoshida, E.M.P. (1999). EDAO-R: Precisão e Validade. Mudanças Psicoterapia e Estudos Psicossociais, 7 (11), 189 – 213. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 111 Mudança em psicoterapia: avaliação intensiva de caso único Elisa Medici Pizão Yoshida Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: adaptação; mecanismos de defesa; progresso e estagnação em psicoterapia. Resumo Apresenta um método de avaliação de mudança em psicoterapia que se baseia no estudo intensivo de caso único. Examina como diferentes variáveis do paciente no início de processos de psicoterapias breves psicodinâmicas (PBPs), se relacionam com mudanças ao longo do processo e com os resultados obtidos. Para viabilizar a apresentação, dentro do tempo disponível, será visto em detalhes um dos quatro processos de psicoterapia que integraram a pesquisa original As pesquisas em processo terapêutico têm como finalidade, buscar compreender quais os processos psicológicos de uma psicoterapia que propiciam a mudança do paciente. Apesar de todo o esforço realizado no campo da pesquisa esta questão continua em aberto. O objetivo continua a ser o de identificar os fatores específicos envolvidos no processo terapêutico e que sejam capazes de facilitar ou ensejar a mudança (Goldfried & Wolfe, 1996 ). Novos procedimentos metodológicos que visam garantir maior objetividade na coleta e no registro dos dados o que amplia a confiança nos resultados e nas conclusões das pesquisas. Tratam-se de algumas diretrizes básicas para o processo de observação, descrição e de medida, fatores com valor capazes de permitir a identificação de preditivo e que possam ser generalizados ( Greenberg & Newman, 1996 ). Na observação, o uso de audio, ou vídeo possibilita que a sessão seja exaustivamente estudada pelo terapeuta e/ou por juízes independentes. Os registros são acompanhados de transcrições das sessões, realizadas segundo padrões especificamente criados para a pesquisa em clínica, e têm possibilitado diferentes leituras e interpretações de um mesmo material. 112 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 A descrição exaustiva dos dados clínicos, procura a reprodução, a mais fiel possível, do que se passa no contexto das psicoterapias e favorece o desenvolvimento de instrumentos de medida baseados em análises intensivas do processo e qpermitem um melhor acompanhamento das interações terapeuta – paciente. Estes instrumentos permitem: 1. explicar os mecanismos subjacentes às mudanças; 2. circunscrever os eventos bem definidos de mudança com significância prática e teórica; 3. identificar momentos de mudanças que possam ser generalizados (Greenberg, 1994 ); 3. são teoricamente orientados. Isto é, avaliam em que medida uma formulação teórica permite a compreensão de um aspecto do processo;4.há uma valorização do contexto, pois pretende-se saber que tipo de intervenção é mais útil em um contexto específico. Com base nestes pressupostos metodológicos foi realizada uma pesquisa envolvendo quatro processos psicoterapêuticos breves (Yoshida,2000), dos quais se apresenta um a título de ilustração do método. Foram estabelecidos dois objetivos específicos: 1.verificar a existência ou não de alterações no meio e ao término dos processos de PBPs, quando comparados ao início do atendimento, quanto à: qualidade da eficácia adaptativa e ao funcionamento defensivo global. 2.verificar se é possível estabelecer relações entre a qualidade da eficácia adaptativa e o funcionamento defensivo e variáveis que indicam progresso ou estagnação ao longo do processo. Método Instrumentos Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada Redefinida - EDAO - R (Simon, 1997) ¾Avaliação quantitativa ⇒ dois setores da personalidade: Afetivo - Relacional (AR) e Produtividade (Pr). ¾Em cada um a adaptação pode ser considerada: adequada, pouco adequada ou pouquíssimo adequada, em função de: 1. Fornecer solução ao problema, 2. Satisfazer o sujeito, 3. Gerar conflito intrapsíquico ou ambiental. ¾Cinco grupos de adaptação possíveis: Adaptação eficaz (Gr. 1); Adaptação Ineficaz Leve (Gr. 2); Moderada (Gr. 3); Severa (Gr. 4); Grave (Gr. 5). Nos casos de crise acrescenta-se esta designação ao grupo adaptativo. Ex.: adaptação eficaz em crise ou Gr. 1-C. 113 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 ¾Avaliação qualitativa, inclui a qualidade da adaptação dos setores SócioCultural (SC) e Orgânico (Or), além do Ar e Pr. Escalas de Avaliação dos Mecanismos de Defesa - DMRSs (Defense Mechanism Rating Scales) (Perry, 1990) ¾Medida das manifestações clínicas dos mecanismos de defesa. ¾Definição de 28 mecanismos de defesa, a função de cada um, comentários sobre como discriminá-los de outras defesas e uma escala de 3 pontos acompanhada de exemplos em que o mecanismo de defesa não está presente, há a presença provável ou há presença definitiva de mecanismos de defesa. ¾ Avaliação qualitativa ou quantitativa. A qualitativa fornece uma visão geral do estilo defensivo do paciente. A quantitativo a localização e quantificação dos mecanismos de defesa utilizados na sessão. Uma média ponderada a partir do número total de defesa e seus pesos relativos fornece um índice de maturidade das defesas: Funcionamento Defensivo Global - FDG. Escala Rutgers de Progresso em Psicoterapia - RPPS (Rutgers Psychotherapy Progress Scale) ( Holland, Messer & Roberts , 1996) ¾Mede o processo de melhora do paciente, conforme conceituado na literatura psicanalítica. ¾8 itens que avaliam os domínios: Expressão de Material Significativo – MS; Desenvolvimento de Insight – DI; Foco sobre Emoção – FE; Referência Direta ao Terapeuta e/ou Terapia – RDT; Novo Comportamento na Sessão- NCS; Colaboração – C; Clareza e Vivacidade da Comunicação - CVC ; Foco sobre Si - FSS ¾ Aplicada a cada bloco de 5 minutos de transcrição de psicoterapias psicodinâmicas. ¾ Cada item é avaliado em cada bloco segundo uma escala que varia de zero (ausência do item) a 4 ( extremamente presente), sempre se considerando o valor do item no bloco anterior. ¾Ao final da sessão a média aritmética dos valores atribuídos a cada item indica a intensidade de sua ocorrência na sessão. ¾O acompanhamento dos índices de cada item permite identificar seu progresso ou estagnação ao longo do processo terapêutico. 114 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Psicoterapeuta ¾ Psicóloga (43 anos)e 23 anos de experiência clínica em processos longos, e aluna do terceiro ano de formação em psicoterapias breves de adultos em instituição da cidade de São Paulo. Juízes EDAO-R - duas psicólogas, DMRSs familiarizadas com a escala. - psicólogos do 2º ano do curso para psicoterapeutas de psicoterapias breves de adultos da instituição em que a pesquisa foi realizada. RPPS - estudantes do 3º ano de psicologia. Procedimento O processo foi supervisionado pela pesquisadora. Transcrição das gravações de todas as sessões de acordo com as normas elaboradas pelo Comitê sobre Atividades Científicas da Associação Psicanalítica Americana (Klumpner & Frank, 1991), realizada por estudantes de psicologia e posteriormente confrontadas com as gravações pela pesquisadora. Avaliações da EDAO-R na etapa inicial do processo (três primeiras sessões), medial (uma sessão) e final (as duas últimas). Avaliações de forma independente para a estimativa do coeficiente de precisão, a seguir foram realizados julgamentos consensuais, nos casos em que não houve acordo. Após a formação de avaliação das DMRSs (dois meses em sessões semanais de duas horas com a pesquisadora), cada juíz avaliou quantitativamente cada sessão, de forma independente. Quando houve discordância no nível de Funcionamento Defensivo Global, uma discussão entre os componentes da dupla deveria ser realizada para se chegar a um consenso. Finalizada a avaliação da etapa inicial, receberam a sessão do meio do processo e só então as duas últimas sessões. Para a RPPS, optou-se pela divisão das sessões em cinco blocos de dez minutos cada (e não em dez de cinco minutos conforme sugerido pelos autores da escala), porque se considerou que os juízes teriam mais material para realizarem seus julgamentos. A avaliação iniciava-se na quinta sessão. Cada juíz avaliava independentemente cada sessão e, só então, a dupla se reunia para obter consenso, quando houvesse divergências. 115 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Resultados e Discussão Conforme o Objetivo Geral, examinou-se como diferentes variáveis do paciente, no início do atendimento, se relacionam com o progresso ou estagnação da mudança almejada, assim como sua relação com os resultados obtidos. Procedeu-se à análise de cada processo em particular, em que as medidas obtidas em cada um dos estágios ajudaram a guiar a análise clínica de cada caso. Apresenta-se a título de exemplo o caso de Paula. Avaliação do processo terapêutico de Paula No que respeita à avaliação da Eficácia adaptativa, apenas na fase final os juízes recorreram a avaliação consensual, dado que um juiz tinha inicialmente considerada a Pr neste momento pouco adequada (1) e o outro, pouquíssimo adequada (0,5 (Figura 6)). No julgamento consensual prevaleceu a avaliação pouco adequada, indicando que a melhora na qualidade da adaptação já verificada na fase medial, manteve-se até o término do processo. Tabela 1. Avaliações da EDAO-R e DMRSs nas etapas: inicial, medial e final. Etapa EDAO-R DMRSs Inicial Ad. Ineficaz Severa - Gr 4* Neurótico* (AR = 2 / Pr = 0,5) Neurótico* Obsessivo* Medial Ad. Ineficaz Moderada - Gr 3* Neurótico * (AR= 2 / Pr = 1,0) Final Ad. Ineficaz Moderada - Gr 3** Neurótico** (AR= 2 / Pr = 1,0) Obsessivo* * = acordo a partir de julgamentos indepedentes ** = acordo consensual Nas DMRSs, apenas uma sessão os juízes recorreram a julgamento consensual, que, no entanto, não levou a uma alteração em relação às avaliações 116 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 anteriores. Predominou o neurótico de defesas(FDG), sendo que na terceira e última sessão mostrou-se algo mais maduro, atingindo o nível obsessivo. Considera-se que o nível verificado na última sessão não deva ser tomado como garantia definitiva de melhora no padrão defensivo, mas um nível possível de ser atingido em situações mais favoráveis. Parece mais razoável pensar-se num movimento oscilatório entre os dois níveis, que seria regulado pelas situações relacionais vividas por Paula. O mesmo pode ser dito em relação à eficácia adaptativa, que apresentou uma melhora já na fase medial da terapia e que se manteve Ineficaz Moderada até o fim. Esta configuração, neuróticos, inibição segundo Simon (1997), reflete “alguns sintomas moderada, alguns traços caracterológicos “ (p.92) , tradicionalmente objeto de psicoterapias longas, que dispõem do tempo necessário para a revisão e elaboração de aspectos mais estruturais da personalidade. Há que se registrar a divergência entre a avaliação da eficácia adaptativa e do FDG da fase inicial do processo. Passando para as avaliações com a RPPS, que visaram itens de progresso e de estagnação das psicoterapias, a Figura 1indica uma evoluão do MS em que os escores médios variaram entre 3,0 e 2,5 (M = 2,9 e DP = 0,18). Houve predomínio do escore 3, que corresponde a material “ muito significante”. Portanto, houve a focalização em temas relacionados com as dificuldades que levaram Paula a buscar o atendimento. 3 Escore Médio 2,9 2,8 2,7 2,6 2,5 2,4 2,3 MS 2,2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Sessão Figura 1 - Escores Médios de Material Significativo (MS) da 5ª à 13ª sessão de Paula. 117 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 No caso de DI, conforme Figura 2, os escores médios variaram entre 1,3 e 0,4 (M = 0,71 e DP = 0,33). Isto é , Paula teria apresentado, em alguns momentos (especialmente nas sessões 5 e 12), compreensão dos motivos de sua atitude submissa e de auto-desvalorização em relação às outras pessoas, o que justificaria a avaliação da ocorrência de “um leve insight”. Esta “nova compreensão “, estaria na base das mudanças conseguidas com o processo. Escore Médio 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 DI 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Sessão Figura 2 - Escores Médios deDesenvolvimento de Insight (DI) da 5ª à 13ª sessão de Paula. No que concerne ao item FE, observa-se na Figura 3, que os escores variaram entre 0,8 e 0,4 (M= 0,67 e DP= 0,18). Estes índices revelam uma “leve focalização sobre a emoção”, o que corresponde a uma exploração restrita de seus sentimentos. A leitura das transcrições mostra efetivamente que Paula falou de seus sentimentos e de suas emoções, mas com uma elaboração contida. Especialmente nas sessões 6 e 11, esta contenção na expressão da emoção teria ficado mais evidente. 118 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 0,8 Escore Médio 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 FE 0,1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Sessão Figura 3 - Escores Médios de Foco sobre a Emoção (FE) da 5ª à 13ª sessão de Paula. Em relação ao item RDT, a Figura 4 indica que os escores médios variaram entre 1,5 e 0,0 (M = 0,46 e DP = 0,52 ). As referências aparecem mais explicitamente nas sesões 5 e 13, em que Paula expressa o reconhecimento pela Escore Médio ajuda que vem recebendo, ao falar das mudanças que vem observando em si. 1,6 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 RDT 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Sessão Figura 4 - Escores Médios de Referência Direta ao Terapeuta (RDT) da 5ª à 13ª sessão de Paula. A RDT vem acompanhada da expressão de afeto, conforme já observado no item FE, o que sinaliza para uma boa aliança terapêutica estabelecida. 119 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 A dupla de juízes obteve acordo excelente no item Colaboração. A apresentação dos escores médios obtidos nas sessões, aparece na Figura 5. 3 Escore Médio 2,5 2 1,5 1 0,5 C 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Sessão Figura 5 - Escores Médios de Colaboração ( C ) da 5ª à 13ª sessão de Paula. Os escores médios variaram entre 3,0 e 1,6 (M = 2,63 e DP 0,55), sendo que entre a 5ª e 6ª sessões teria havido uma queda na C, seguida de uma falta da paciente. Depois, verifica-se uma ligeira recuperação já na 8ª sessão, acompanhada de uma melhorada mantido na 9ª, quando atingiu o escore 3,0, patamar até o final do processo. No que concerne ao sentido da Colaboração, refere-se “ ao grau em que as respostas indicam que o paciente está trabalhando espontânea, colaborativa e ativamente na tarefa da terapia, e o grau com que ele parece estar ativamente envolvido e engajado no processo de tratamento” (Rutgers Psychotherapy Progress Scale - RPPS,1992, p.31). Nas sessões 6 e 8, o escores médios teriam ficado entre 2,0 e 1,6 apontando uma atitude “moderadamente colaborativa” ( escore 2), o que de acordo com a escala, ocorre quando, “ao responder a uma questão do terapeuta, ou seguindo a condução do terapeuta, o paciente continua elaborando no tópico. Contudo, o paciente ainda parece necessitar da ajuda do terapeuta para explorar totalmente o material que está sendo discutido” (p. 31). Quando se retoma o material clínico, é possível ver que, neste momento do processo, Paula estava voltada para as dificuldades em suas relações interpessoais, especialmente aquelas do ambiente de trabalho e das amizades ao 120 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 seu redor. A terapeuta, por sua vez, assume claramente a condução do processo, fazendo questões e propondo que Paula examine suas atitudes e sentimentos nas diferentes situações. É possível, que esta atitude suportiva, tenha permitido o progresso de Paula neste item, a partir de então. Quanto ao escore 3, especificamente, corresponde a “muito colaborativo”, isto é “ o paciente encontra-se elaborando sobre o tópico ou traz espontaneamente material que vai além dos temas ou questões colocados pelo terapeuta “(p. 31). Efetivamente na 8ª sessão, Paula estende suas observações ao seu relacionamento com a mãe, mostrando como muito dos seus receios de parecer ridícula e incapaz estaria ligado à maneira como a mãe reagia às pessoas que agiam de uma forma diferente à dela, ou que não correspondiam às suas expectativas. Escore Médio 3 2,5 2 1,5 1 0,5 CV 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Sessão Figura 6 - Escores Médios de Clareza e Vivacidade ( CV ) da 5ª à 13ª sessão de Paula. Clareza e Vivacidade foi outro item em que o acordo entre os juízes foi excelente. Refere-se “ao grau em que o paciente está comunicando de uma maneira que seja clara, compreensível, vívida e evocativa” ” (Rutgers Psychotherapy Progress Scale - RPPS,1992, p.37). Os escores médios (Figura 6) ficaram entre 3,0 e 2,0 (M=2,67 e DP= 0,42), sendo que 3,0 corresponde a “muito comunicativo” e 2,0 a “moderadamente comunicativo”. Avalia-se o item como “muito comunicativo”, quando “a intenção do paciente é clara e sua comunicação é algo vívida e/ou evocativa” . E, “moderadamente comunicativa”, quando “ a intenção é geralmente clara e compreensível, no entanto, sua comunicação não é muito vívida ou Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 121 evocativa” (p.37). Como no caso da Colaboração, é possível observar uma queda nos escores médios nas sessões seis e oito, seguida de uma recuperação. Pela leitura das transcrições não fica claro o por quê da falta à sétima sessão, o que limita a possibilidade de análise. De toda forma, a recuperação e manutenção dos escores até o final do processo, fala em favor de um progresso sustentado neste item, que integrado à ocorrência de progresso nos demais itens, sugerem uma mudança significativa da paciente. Escore Médio 3 2,5 2 1,5 1 0,5 FSS 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Sessão Figura 7 - Escores Médios de Foco sobre Si ( FSS ) da 5ª à 13ª sessão de Paula. Os escores de FSS oscilaram entre 3,0 e 2,0 (M = 2,69 e DP =0,46), sendo que também com este item, é possível observar escores mais baixos nas sessões seis e oito, que antecedem e sucedem, respectivamente, uma falta da paciente. A partir da 9ª sessão, observa-se um progresso no item que se mantém até o final do processo. A oscilação entre uma atitude “moderadamente focalizada no eu”, para outra “muito focalizada no eu”, sugere, que Paula teria sido capaz de superar vicissitudes do processo, que teria atingido o seu apogeu na sexta sessão. A Figura 8, permite a visualização do comportamento dos itens em conjunto e uma noção mais clara da evolução do processo terapêutico. Apenas os ítens MS e DI teriam obtido escores mais elevados na sessão seis, valores que se mantiveram até o final. Por outro lado, FE e RDT teriam sofrido o maior rebaixamento. 122 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 3 Escore Médio 2,5 MS DI 2 FE 1,5 RDT C 1 CV 0,5 FSS 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Sessão Figura 8 - Escores Médios de MS, DI, FE, RDT,C, CV e FSS da 5ª à 13ª sessão de Paula. Conforme referido, na quinta sessão a paciente oferece explicitamente um feedback à terapeuta sobre os progressos que começa a identificar em si e que seriam resultado do trabalho que realizam. Neste momento detém-se também um pouco mais sobre suas emoções. Contudo, como é possível verificar, este não chegou a ser um item mais expressivo até o final. A partir da 9ª sessão é possível acompanhar o crescimento dos escores da C e CV, que atingem os mesmos patamares de MS e FSS, ítens que revelam mais claramente o conteúdo das preocupações da paciente. Concluindo, Paula manteve-se focalizada em suas dificuldades e foi ao longo do processo podendo se expressar mais clara e vividamente, colaborando ativamente no processo, ao mesmo tempo que reconhecia a importância da ajuda recebida da terapeuta. Este processo teria, por outro lado, ocorrido sem uma exploração mais intensiva das emoções. A atitude suportiva da terapeuta deve ter contribuído para que Paula superasse algumas dificuldades adaptativas e demonstrasse progresso especialmente no setor da Pr, podendo ganhar alguma confiança neste aspecto. Esta melhora na adaptação foi acompanhada de progresso no padrão defensivo, o que vem reforçar a idéia de uma mudança genuína, apesar da sintomatologia inicial de Paula sugerir um quadro bastante desfavorável. 123 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Referências Goldfried , M. R. & Wolfe, B.E. ( 1996 ). Psychotherapy practice and research: repairing a strained alliance. American Psychologist, 51 ( 10 ), 1007 - 1016. Greenberg, L.S. ( 1994 ). The investigation of change its measurement and explanation. In R. L. Russell ( Ed. ) Reassessing psychotherapy research. (p. 114 - 143). New York: The Guilford Press. Greenberg, L. S. & Newman, F. L. ( 1996 ). An approach to psychotherapy change process research: introduction to the special section. Journal of consulting and clinical psychology, 64 ( 3 ), 435 - 438. Holland, S. J., Messer, S. B. & Roberts, N. E. (1996). Construct Validity of the Rutgers Psychotherapy Progress Scale ( manuscrito não publicado). Klumpner, G. H. & Frank, A. (1991). On methods of reporting clinical material. Journal of the American Psychoanalytic Association, 39, 537- 551 Perry, J.C. (1990). Defense mechanisms ratings scales. 5a.ed. Cambridge,MA (manuscrito não publicado). Rutgers Psychotherapy Progress Scale - RPPS (1992). Scoring manual. (manuscrito não publicado). Simon, R. (1997). Proposta de redefinição da E. D. A. 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Apresenta exemplo clínico em que o CCRT é aplicado. A psicoterapia é uma prática nascida a partir do desejo em ajudar a minorar o sofrimento humano de uma maneira eficiente, eficaz, econômica e acima de tudo, humanizada (Strupp & Howard, 1992/1997). Ao longo de seu desenvolvimento e desdobramentos em diferentes modalidades de atendimento, surgiu a preocupação acerca da eficácia desta prática. A primeira questão surgida foi se as psicoterapias funcionavam e, num primeiro momento, através da prática clínica, foi possível observar se teoria e técnica eram congruentes e responsáveis pela melhora do paciente. No entanto, as respostas obtidas referiam-se à observação de poucos casos atendidos pelos clínicos. O psicoterapeuta atendia em consultório, estudava seus próprios casos e chegava a conclusões que, na maioria das vezes, corroboravam suas hipóteses iniciais. Este tipo de pesquisa era, muitas vezes, contaminado pelo viés do pesquisador: ele atendia, estudava, articulava com a teoria que embasava sua técnica e concluía sobre os resultados de seu próprio trabalho. Neste sentido, Fonagy (2005) aponta que a relevância de muitos dos estudos sobre psicoterapias para a depressão maior pode ser questionada pelas fortes correlações entre a orientação teórica do pesquisador e a magnitude dos efeitos terapêuticos Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 125 relatados para aquele tratamento. Luborsky, Crits-Christoph, Mintz & Auerbach (1988) demonstraram que a linha de orientação do pesquisador prediz quase 70% da variação no resultado entre estudos. Na virada do século XX, as pesquisas começaram a apresentar a preocupação com a qualidade dos resultados, a natureza dos problemas para os quais é indicada e a eficiência de diferentes técnicas. A necessidade de maior especificidade tem grandes implicações práticas, pois visava chegar a estratégias terapêuticas mais apropriadas e responder com mais precisão à questão sobre o quê a psicoterapia pode fazer por um determinado tipo de paciente, a qual custo e em quanto tempo. Surgiu, então, a necessidade de uma definição mais clara de técnicas para tratamento de pacientes com problemas específicos, como por exemplo, na resolução de problemas focais em psicoterapia breve psicodinâmica (Strupp & Howard, 1992/1997). Para acompanhar as necessidades da pesquisa em psicoterapia, que avançava em direção a questões muito específicas, foi necesssário desenvolver uma linha de pesquisa que visava criar instrumentos de medida e procedimentos clínicos de avaliação que permitissem um maior grau de precisão das avaliações e evidências empíricas de sua validade. Havia a necessidade de se definir critérios que orientassem a avaliação de pacientes, de variáveis do processo e de resultados. No bojo deste movimento, foram propostas baterias padronizadas de avaliação que incluíam diferentes medidas do funcionamento dos pacientes, como uma tentativa de padronizar a avaliação em diferentes propostas de psicoterapia e entre diferentes grupos de pesquisa. Foram criadas medidas e procedimentos clínicos de avaliação, alguns não-fundamentados em uma determinada teoria, como por exemplo, a Escala de Estágios de Mudança (McConnaughy, DiClementi; Prochaska & Velicer, 1989) e medidas teoricamente fundamentadas, como por exemplo, o Método do Tema Central de Relacionamento Conflituoso - CCRT (Luborsky, 1998a), o Central Relationship Questionnaire - CRQ (Barber, Foltz & Weinryb, 1998), as Escalas de Mecanismos de Defesa –DMRS ’s (Perry, 1990), dentre outras. Um destes procedimentos clínicos - o CCRT - é resultado das pesquisas conduzidas por Lester Luborsky e seu grupo de pesquisa na Universidade da Pensilvânia (EUA) e no Instituo de Pesquisa Menninger, desde o início da década de 50 (Luborsky, 1997). A sigla CCRT designa o método de delineamento do “Tema Central de Relacionamento Conflituoso”, assim como o resultado a que se chega a partir de sua Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 126 aplicação ao material clínico do paciente. O CCRT é o padrão central que cada pessoa segue ao conduzir seus relacionamentos e é formulado a partir de suas narrativas de interação com outras pessoas. Estas narrativas são extraídas de sessões de psicoterapia, entrevistas clínicas ou entrevistas semi-estruturadas (Luborsky, 1998a). Este tema central é um padrão de relacionamento, ativado de forma recorrente, com algumas variações, durante a terapia e durante a vida da pessoa (Luborsky & Mark, 1991). Padrões centrais de relacionamento referem-se a maneiras características de se relacionar com outras pessoas, que são construídas através de interações emocionalmente carregadas com as figuras parentais nos primeiros anos de vida e atualizadas em relacionamentos subseqüentes (Barber, Foltz & Weinryb, 1998). O conceito no qual o CCRT está fundamentado é o de transferência, estando mais próximo do conceito de padrão transferencial (transference template) de Freud (1912/1974). Comparando a formulação de transferência na clínica psicanalítica clássica e a obtida através do CCRT, a segunda é considerada uma versão mais abrangente e orientada (Luborsky, 1998b). Abrangente, pois não focaliza a transferência apenas enquanto interação com o terapeuta, mas inclusive com outras pessoas e orientada, pois sua formulação é operacionalizada em torno de categorias estabelecidas a priori. Aplicando-se o método CCRT a sessões de psicoterapia ou entrevistas, é possível chegar-se a um foco que vai orientar, na prática clínica, o processo terapêutico (Messer & Warren, 1995; Book, 2003). Com a formulação do foco, o paciente começa a identificar que o seu comportamento se manifesta em função de expectativas irrealistas em relação ao outro, ou em função de expectativas irrealistas que ele atribui a si mesmo. O CCRT (Luborsky, 1998c) descreve o padrão de relacionamento ou conflito da pessoa em termos de três componentes: 1) Desejos, necessidades ou intenções expressos pelo sujeito (D); Respostas dos outros (expectativas de ou respostas reais) (RO) e Respostas do Eu (expectativas de ou respostas reais) (RE). Destes três componentes, os identificados mais freqüentemente nas narrativas de interação do paciente, configuram um padrão central de relacionamento conflituoso. Estas categorias podem ser classificadas segundo três listas de categorias (Barber & CritsChristoph, 1998), adaptadas por Bottino, Gondo, Romano e Junqueira (Bottino, 2000) e bastante úteis para a pesquisa, pois permitem a verificação da concordância entre a avaliação de juízes independentes. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 127 A seguir, apresenta-se uma ilustração clínica, em que o CCRT foi formulado a partir de material clínico de entrevista, gravada em fita cassete e transcrita com o consentimento livre e esclarecido da paciente, que será chamada de Fátima. Fátima tem 47 anos, é casada, tem duas filhas adolescentes e trabalha como faxineira em uma clínica médica. Procurou o atendimento psicoterápico em uma instituição de ensino, pois se sentia uma pessoa nervosa, não se sentia bem com seu jeito de ser, magoava as pessoas e depois se sentia culpada, não se aceitava e não aceitava as pessoas, sentia-se insegura, culpada por tudo, enfim, “meio pirada da cabeça”. Em sua entrevista, foram levantadas 11 narrativas de interação da paciente com outras pessoas (episódios de relacionamento) e identificados, em cada episódio, a pessoa com quem a paciente interage, os Desejos da paciente em relação a esta pessoa, as Respostas dos Outros (expectativas de ou reais) e as Respostas do EU (expectativas de ou reais). Depois de identificadas as categorias segundo as tabelas de categorias, foram destacados os Desejos, Respostas dos Outros e Respostas do EU mais freqüentes e que compõem o CCRT de Fátima, conforme apresentado na tabela abaixo. Episódio Pessoa Principal Desejos Respostas do Outro Respostas do Eu 1 Marido Opor-se, magoar e Rejeita e opõe Oponho, machuco os outros, sinto-me controlar os outros desapontada 1 Filha mais velha Controlar os outros Rejeita e opõe Oponho, machuco os outros, sinto-me desapontada 2 Marido Ser amada e Rejeita e opõe Sinto-me desapontada compreendida, controlar os outros 3 Filha mais nova Ser amada e É compreensiva Respeito e aceito Rejeita e opõe Sinto-me compreendida 3 Marido Ser amada e desapontada compreendida 3 Filha mais velha Ser amada e Rejeita e opõe 4 Filha mais nova Ser amada e Sinto-me desapontada compreendida É compreensiva Respeito e aceito compreendida 128 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 5 Marido Ser amada e Rejeita e opõe Sinto-me desapontada, sinto- compreendida me ansiosa e envergonhada 6 Colegas do trabalho Ser amada e Rejeitam e opõem Ajudo as pessoas Rejeitam e opõem Sinto-me compreendida, estar perto dos outros e ser aceita 7 Família de origem Ser amada e desapontada compreendida 8 Marido Ser amada e Rejeita e opõe Sinto-me desapontada, oponho compreendida e machuco os outros, sou impotente, sintome ansiosa e envergonhada Sinto-me 9 Marido Controlar ou outros É controlador desapontada, sou impotente Sinto-me 10 Psicoterapeuta anterior Estar perto dos É controladora desapontada outros e ser aceita Sinto-me 11 Família de origem Assegurar a si própria São e ser independente, rejeitam e opõem estar perto dos outros controladores, desapontada, oponho, machuco os outros e ser aceita, ser amada e compreendida As categorias mais freqüentes foram as: Desejos – opor-se, magoar e controlar os outros e ser amada e compreendida; Respostas dos Outros – rejeitam e opõem e são controladores; Respostas do Eu – oponho, machuco os outros e sintome despontada. Chegou-se, portanto a uma formulação psicodinâmica do caso em relação à queixa da paciente. Esta formulação foi obtida de uma maneira mais orientada, o que vem a ser uma vantagem, principalmente para a pesquisa e para o ensino da psicoterapia dinamicamente orientada a jovens terapeutas. Ampliando o alcance e apontando uma vantagem para o terapeuta, pode-se destacar que é possível, a partir do CCRT, didaticamente, apresentar ao paciente o foco do futuro processo de psicoterapia. Para o paciente, através dos exemplos Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 129 apresentados acerca de seu padrão de relacionamento conflituoso, atualizado nos relacionamentos atuais, é possível apreender a expressão do seu conflito em sua vida cotidiana. Referências Barber, J. P., Crits-Christoph, P., & Luborsky, L. (1998). A Guide to the CCRT Standard categories and their classification. Em L. Luborsky & P. Crits-Christoph (Eds.), Understanding transference: the core conflictual relationship method. [Rev. e Exp.] (pp. 43 - 63). Washington: American Psychological Association. Barber, J. P., Foltz, C., & Weinryb, R. (1998). The Central Relationship Questionnaire – initial report. Journal of Counseling Psyhchology, 45 (2), 131142. Book, H. (2003). How to practice brief psychodynamic psychotherapy: the CCRT method. Washington: American Psychological Association. Bottino, S. M. B. (1999). Estudo da sistematização do diagnóstico em psicoterapia através do CCRT: “Tema central de conflitos nos relacionamentos”. Dissertação de Mestrado não publicada, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo. Fonagy, P. (2005). Pesquisa em psicoterapia. Em Eizirick, C.L., Aguiar, R.W. & Schestatsky, S.S. (Orgs.). Psicoterapia de orientação analítica: fundamentos teóricos e clínicos. Porto Alegre: Artmed. Freud, S. (1974). A dinâmica da transferência. Em S. Freud. Obras completas. José Otávio de Aguiar Abreu (trad.)(pp.131-143, vol. XII). Rio de Janeiro: Imago. (trabalho original publicado em 1912). Luborsky, L. (1997). The Penn research project. Em D.K. Freedheim (Ed.) History of psychotherapy – a century of change. Washington: American Psychological Association. Luborsky, L. (1998a). The early life of idea for the Core Conflictual Relationship Theme Method. Em L. Luborsky & P. Crits-Christoph (Eds.), Understanding transference: the core conflictual relationship method. [Rev. e Exp.] (pp. 15 - 42). Washington: American Psychological Association. Luborsky, L. (1998b). The convergence of Freud’s observations about transference with the CCRT evidence. Em L. Luborsky & P. Crits-Christoph (Eds.), Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 130 Understanding transference: the core conflictual relationship method. [Rev. e Exp.] (pp. 307 - 325). Washington: American Psychological Association. Luborsky, L. (1998c). A Guide to CCRT method. Em L. Luborsky & P. Crits-Christoph (Eds.), Understanding transference: the core conflictual relationship method. [Rev. e Exp.] (pp. 3 - 14). Washington: American Psychological Association. Luborsky, L., Crits-Christoph, P., Mintz, J., & Auerbach, A. (1988). Who will benefit from psychotherapy? Predicting therapeutic outcomes. New York: Basic Books. Luborsky, L., & Mark, D. (1991). Short-term supportive-expressive psychoanalytic psychotherapy. Em P. Crits-Christoph & J. P. Barber (Eds.), Handbook of shortterm dynamic psychotherapy (pp. 110-134). New York: Basic Books. Messer, S. B., & Warren, C. S. (1995). Models of brief psychodynamic therapy. A comparative approach. New York: Guilford Press. Perry, J.C. (1990). Escalas de mecanismos de defesa. 5ª ed. D. Wiethaeuper & E.M.P. Yoshida (trad). Manuscrito. Popp, C., Luborsky, L., Faude J., Johnson, S., Schaffer, N., Diguer, L., Morris, M., & Schaffler, P. (1996). 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Não tardou para que os primeiros casos de infecção de crianças pelo HIV surgissem ainda bastante próximos aos primórdios da epidemia. A grande maioria destas crianças foi vitimada pela infecção em função de ter sido gerada por mãe, por sua vez, também soropositiva. A apresentação destes dados, para além de ter função informativa a respeito do tema que nos propomos explanar, faz-se necessária por contextualizar uma situação muito específica em relação aos cuidados do menor que sofre deste mal. É bastante freqüente que a criança portadora do HIV, ou doente de aids, além da complexidade que envolve o seu convívio com a doença e tratamento, tenha que se deparar com a perda de um de seus genitores, quando não de ambos. São muitas as crianças que, a partir de certa idade, passam a serem criadas por avós idosas, ou outros tutores, com diferentes graus de parentesco, perdendo assim os parâmetros usualmente organizadores de sua formação afetiva e emocional e tendo em idade precoce lutos importantes a elaborar. Quando apenas um dos genitores deixa de existir, muitas vezes a nova formação familiar exige da criança, enlutada pela sua própria doença e pela perda do pai ou mãe, uma tarefa psicológica suplementar a Mestre em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, com a dissertação intitulada: “Em defesa de uma clínica psicanalítica não-convencional: oficinas de velas ornamentais com pacientes soropositivos”, doutoranda pelo mesmo Instituto, psicóloga do Ambulatório de Moléstias Infecciosas de Santo André. 2 Prof.a Livre Docente pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Orientadora Colaboradora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Orientadora Permanente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. 1 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 132 cumprir. São inúmeras as diferentes formações que acabam por se constelar e as questões psicológicas destas crianças referentes a “ser portador do HIV” ganha singularidade mergulhada nas nuances da vida familiar diferente que se constitui. Inspiradas pelo pensamento winnicottiano, não conseguimos conceber a criança ou adolescente, sem observar de maneira estrita o meio ambiente/familiar onde está inserido. Há cinco anos, uma de nós 3 faz parte de um serviço oficial referenciado para o tratamento de portadores do HIV e doentes de aids, enquanto ambas fazem parte de grupo de pesquisa dedicado ao estudo de enquadres psicoterapêuticos diferenciados em clínica psicanalítica. Objetivando pesquisar o desenvolvimento e a eficácia clínica de práticas psicoterapêuticas pertinentes ao sofrimento existencial específico de tais pacientes, que não demonstram interesse em um investimento psicoterápico que intenta um maior conhecimento de seu mundo interior, e sim buscam por alívio do sofrimento emergente a partir de sua condição de adoecimento e de seu severo tratamento, ocupamo-nos de um empreendimento clínico investigativo que redundou na criação de uma Oficina Grupal de Velas Ornamentais para os pacientes adultos. Tomando o Jogo do Rabisco de Winnicott como paradigma, elegemos a parafina como materialidade cara à psicoterapeuta que atuaria junto aos pacientes, e não mais o desenho, caro a Winnicott. Através da materialidade, o estabelecimento de uma mediação presentificadora da pessoalidade do analista, no contato emocional com o paciente, pode ser atingido (Winnicott, 1968), pois segundo concepção winnicottiana a psicoterapia se efetua na sobreposição de duas áreas do brincar, a do paciente e a do terapeuta. A psicoterapia trata de duas pessoas que brincam juntas. (Winnicott, 1971). Em tal contexto experiencial, no qual impera o paradigma do brincar e não mais o do sonho, interpretações deixam de ser o propósito principal do trabalho psicanalítico, que se voltará, fundamentalmente, para as necessidades de sustentação do self do paciente. Não se trata mais de privilegiar oportunidades de reedição do passado, mas o favorecimento do inédito e genuíno em um encontro inter-humano. Pode-se perceber a pertinência da adoção deste estilo de clinicar junto a aqueles que necessitam de acompanhamento psicoterápico por se encontrarem em dramáticas de vida marcadas por eventos exteriores que trazem uma peculiar, forte e intensa pressão emocional, como, por exemplo, aquela advinda do fato de ter que se haver com um diagnóstico de soropositividade. 3 133 Vera Lúcia Mencarelli. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 O bem sucedido empreendimento de pesquisa intervenção junto aos pacientes adultos, que demonstrou grande potencialidade mutativa (Mencarelli, 2003), gerou estímulo para a realização de projeto semelhante dedicado às crianças. Por época da construção deste novo setting clínico, contávamos com a demanda e disposição dos familiares de quatro crianças que, por outro lado, compartilhavam a condição de conhecimento prévio de seus diagnósticos, que estabelecemos como critério para participação no novo trabalho. Tal requisito tinha razão de ser. A revelação diagnóstica é um verdadeiro divisor de águas e a experiência clínica tem demonstrado que o processo de comunicação da condição de soropositividade, sempre que a família demanda um psicoterapeuta, exige atenção individual. Como nossa intenção era a formação de um espaço clínico grupal, este passou a ser um critério fundamental, pois não podíamos correr o risco de ver uma criança ser invadida por tal notícia de maneira inadvertida por um outro companheiro. As quatro crianças acima citadas são meninas, de 11 ou 12 anos, conhecedoras de sua soropositividade. Neste projeto resolvemos optar pela escolha de uma oficina de montagem de bijouterias, pois foi necessária a busca de uma nova materialidade que, respeitando o vínculo “amadorístico” com a psicoterapeuta atuante, fosse mais adequada ao trabalho psicoterapêutico com crianças. Experiências anteriores de atendimento de meninas na mesma faixa etária, realizadas em consultório, por clínicos/pesquisadores vinculados a nosso grupo, já haviam indicado a potencialidade de contas e fios se prestarem como “rabisco” em oficina psicoterapêutica Ser e Fazer. Chegamos, assim, a uma materialidade, que tanto agradava à psicoterapeuta, como parecia adequada para meninas a caminho da adolescência. Esta materialidade contemplava a amorfia necessária para que o “rabisco” acontecesse, presentificando a analista e apresentando a possibilidade de poder ser criada/encontrada pelas meninas. O trabalho foi batizado como “Oficina de Pulserinhas”. Foi necessário separar as meninas em pares, pois não era possível reuni-las numa mesma sessão semanal em função do horário escolar. Por coincidência, as duas meninas atendidas pela manhã contavam com a família mais íntegra. Uma delas, Rita 4 , tinha os pais vivos, ambos soropositivos. A outra menina, Sara, era órfã de mãe soropositiva e tinha, há oito anos, uma madrasta soronegativa e pai soropositivo. As meninas que freqüentavam a oficina à tarde eram criadas pelas 4 Os nomes aqui utilizados são fictícios tendo em vista preservar a real identidade das pacientes. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 134 avós já idosas. Uma delas, Amanda, teve ambos os pais vitimados pela aids quando ainda era bem pequena e a outra, Lúcia, era órfã, há dois anos, de mãe soropositiva e jamais conheceu o pai. As meninas que contam com figuras parentais em casa são trazidas por estes para os atendimentos e é interessante observar que Rita, que vive com os próprios pais, é a que comparece menos assiduamente, fazendo com que, eventualmente, Sara permaneça sozinha com a psicoterapeuta no encontro da oficina. As circunstâncias concretas tornaram necessário o auxílio de uma voluntária, para que Lúcia e Amanda pudessem ser buscadas e levadas para casa, pois as avós idosas já não tinham condições de se deslocarem para trazê-las aos encontros semanais. Não faltaram ocasiões nas quais a própria psicoterapeuta se viu obrigada a buscá-las em casa porque a voluntária enfrentou problemas pessoais e de saúde e não havia motorista do serviço disponível para fazê-lo. Isto se fez necessário, pois a suspensão de algumas sessões gerou, especialmente, em Lúcia, um nível de ansiedade muito grande. Lúcia ligava para a voluntária chorando e dizendo que ficariam bem “quietinhas” para não perturbá-la e que no ambulatório a voluntária poderia ficar “sentadinha” sem se cansar... Pode-se compreender, assim, o grau de insatisfação no atendimento de necessidades afetivas a que algumas destas crianças estão expostas, ainda que o familiar/cuidador(a) dedique-se na medida máxima de suas possibilidades. Não raro, Lúcia, durante os encontros, dava um jeito de encostar-se na psicoterapeuta, ou deliberadamente procurava sua mão para ficar segurando, enquanto observava Amanda fazer alguma atividade. Esta situação faz lembrar os comentários de Winnicott (1971), discorrendo a respeito de assistência residencial como terapia, quando da experiência das crianças inglesas evacuadas no período da guerra: “Bem depressa eu aprendi que a terapia estava sendo feita na instituição, pelas paredes e pelo telhado; pela estufa de vidro que fornecia um alvo magnífico para pedras e tijolos, pelas banheiras absurdamente grandes, para as quais era necessária uma quantidade enorme de carvão, tão precioso em tempo de guerra, caso se quisesse que a água quente chegasse ao umbigo de quem quisesse tomar banho. A terapia esta sendo realizada pelo cozinheiro, pela regularidade da chegada das refeições à mesa, pelas colchas das camas quentes e coloridas.” (Winnicott, 1970, p. 249) 135 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 A instalação do dispositivo clínico da Oficina de Pulserinhas, logo se tornou o centro referencial para o “acontecer” de inúmeras situações psicoterapêuticas diferenciadas, análogas àquelas apontadas por Winnicott, constituindo um psicoterapêutico que podemos designar como cuidado psicológico expandido. Vimos, então, configurarem-se demandas, por parte das crianças, que acabavam por quebrar fronteiras tradicionalmente delimitadas nas práticas psicoterapêuticas. Seguem-se alguns exemplos. Por ocasião de eventos comemorativos, como o dia das crianças, final do ano letivo, período de férias, surgiam, como é esperado, em qualquer grupo de crianças, pedidos para fazermos passeios, festinhas, visitas, etc. Estivemos, com estas meninas, por duas vezes, na rede McDonald’s. Fomos, também, ao cinema assistir, “Os incríveis” e, além disso, visitamos o local de trabalho da voluntária. Em todas estas oportunidades, comparecem também outros membros da equipe, como agentes de saúde, estagiárias, etc. Amanda esteve internada por um longo mês no hospital Emílio Ribas e para lá nos deslocamos em visita. Outro fato interessante a abordar, nos encontros psicoterapêuticos, refere-se ao próprio uso da materialidade. Muito bem recebida pelas meninas, que no princípio criaram diversos colares e pulseiras, a materialidade usada apresenta, como característica, uma possibilidade de recolhimento que cria um ambiente favorável à reflexão e a conversa. Pudemos perceber que enquanto necessitavam de explicações para o “fazer”, as crianças acolheram muito bem esta materialidade. Porém, à medida que foram ganhando certa prática no manejo das contas e fios, o processo passou, visivelmente, a caminhar no sentido de certo recolhimento. Observamos, então, a ocorrência de visível repúdio da materialidade. Como o consultório-atelier, onde tem lugar a Oficina de Pulserinhas é o mesmo onde funciona a Oficina de Velas Ornamentais, dedicada aos adultos, foi possível às crianças substituir sua atividade habitual pela confecção de velas. Tal mudança teve como efeito afastar o movimento de recolhimento, na medida em que exigia uma ação de vigilância, em suas etapas, que acabava por impossibilitar ou interromper o fluir de uma conversa. Outras atividades, como jogos, que eram procurados nos armários, ou outras brincadeiras, que excluíam propositalmente a psicanalista, também aconteceram, em diferentes momentos. Obviamente, todas estas manifestações eram acolhidas, pois sempre mantivemos em mente as indicações de Winnicott, que, ao sugerir o jogo do rabisco, mantinha-se também aberto para acolher outras formas de comunicação emocional do paciente. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 136 Julgamos importante comentar este efeito clínico da Oficina de Pulserinhas sugerindo uma hipótese para a compreensão deste acontecimento. As crianças sabem que estão sendo atendidas pela psicóloga do centro de referência onde se tratam e, certamente, deduzem que as conversas, em parte, acabarão por abordar sua problemática de saúde. Acreditamos que, além do caráter de exploração do lúdico em inúmeras atividades, sinal de vitalidade, neste caso específico, o deslocamento nômade, muitas vezes até errante, por diferentes atividades, tenha o objetivo de evitar defensivamente a aproximação da temática ansiógena, ou seja, o HIV ou a aids. Muito lentamente, as meninas da manhã, aquelas que contam com a presença de figuras parentais, começaram a falar de seu problema de saúde. Coincidentemente, conversar sobre a doença e o tratamento acontecia quando resolviam fazer bijoux. Rita, aquela que tem ambos os pais vivos, foi quem primeiro tocou no assunto. Comunicou contente, à psicanalista, que seu médico havia trocado seu remédio de xarope para comprimidos, pois já estava grande o suficiente, então, já podia tomar remédio de um jeito mais adulto. Passaram-se alguns meses até que Sara, em um encontro no qual Rita não compareceu, já imersa na atividade perguntou à psicanalista o que seria carga viral. Esta entendeu que a questão, feita à queima-roupa, demandava uma resposta objetiva. Sara: Vera, o que é carga viral? Vera: É o exame que você faz de vez em quando para ver se o vírus da aids está bem quieto. Sara: Como assim? Quer dizer que não é para ele morrer? (assustada) Vera: Ainda não descobriram como fazer para matar todos os vírus e acabar com eles de uma vez, mas o remédio que você toma é para eles ficarem em número pequeno, para não fazerem filhotes de vírus e então deixar de ter força para fazer você ficar doente e você fica bem. Por isto que não pode esquecer de tomar o remédio nenhuma vez. Sara: Ah, entendi. (meio decepcionada) 5 Importante alertar o leitor no sentido de que a inserção da psicanalista na equipe deste serviço faz dela um orientador de saúde. Esta duplicidade funcional impõe o desafio da orientação sem afrontas à singularidade/subjetividade de cada paciente. A Dissertação de Mestrado de Mencarelli (2003) sustenta a tese da possibilidade de não incompatibilidade destas funções. 5 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 137 O pai de Sara é um rapaz jovem que, por convicções religiosas, oscila muito em relação à adesão à medicação antiretroviral. Soubemos que o serviço social fez grandes esforços para que iniciasse seguimento médico para si e para a filha. Em entrevista individual, comunicou à psicanalista da filha que, no que diz respeito ao seu próprio caso, decidiu manter-se afastado do uso da medicação apesar de manter a freqüência às consultas médicas. Declarou, ainda, que esta posição derivava de um “acerto” que fizera, como adulto, com Deus. Entretanto, não adotava a mesma conduta para com a criança, que segue fazendo uso da medicação. No mesmo dia desta entrevista, no qual a outra garota esteve ausente da Oficina, o seguinte diálogo teve lugar: Sara: Você demorou conversando com meu pai. Vera: Estava falando para ele da importância de dar o remédio para você direitinho. Sara: Às vezes eu atraso de dia de sábado, porque acordo mais tarde e meu pai também. Vera: Então é preciso colocar o relógio para despertar, tomar o remédio e voltar dormir. Não é muito legal, mas precisa ser assim, se você tiver sono acaba dormindo de novo. Sara: É...eu vou fazer um colar daquele de amarrar para dar para minha professora. Por que é preciso a gente contar para a professora que tem isto? Vera: Não é preciso contar para ela se não quiser... Sara: O meu pai achou melhor contar. Vera: E você acha que foi bom? Sara: Acho que sim, ela ajuda. Ela disse que eu tenho que tomar o remédio direitinho que daí dá para eu fazer tudo normal, até namorar... Referindo-se à conversa com a professora, a menina de fato introduziu um assunto muito importante. Seu relato parecia veicular uma pergunta. A associação entre remédio e namoro indicava a percepção de que talvez, em sua condição, algumas coisas normais seriam possíveis, mas outras não. Não podemos nos esquecer da força do discurso discriminatório, originário de fantasias persecutórias que circula largamente no âmbito social, ao qual os pacientes soropositivos estão expostos. Sara parecia estar em busca da confirmação de esperanças de poder realizar sonhos futuros que povoam suas fantasias de menina pré-adolescente. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 138 Tomada contratransferencialmente de sentimentos da ordem do compadecimento pelo sofrimento, imbuído na ameaça da não realização do projeto afetivo/amoroso que começava a esboçar-se para a menina, a analista não se furtou, quando lhe pareceu conveniente, a oferecer-lhe informações que garantiriam a possibilidade do exercício pleno de uma vida amorosa e sexual no futuro. Importante sublinhar que o oferecimento de informações tem a função do holding, compreendido como intervenção ativa que visa a preservação do devir humano, a continuidade de ser. Esta sessão acaba com o diálogo seguinte: Sara: Sabe Vera, tem gente que quando fica sabendo que tem o vírus da aids fala que quer morrer. Eu não falo isto, eu estou boa e quero continuar boa. Eu quero viver ! Este encontro que a psicoterapeuta teve com Sara ocorreu após mais de um ano de convívio semanal e parece ter contemplado algumas necessidades da menina. Uma situação ocorrida com as crianças atendidas à tarde, aproximadamente no mesmo período, retrata, por outro lado, posição bastante diversa em relação à expressão emocional relacionada à soropositividade. Amanda e Lúcia chegaram para mais um início de encontro clínico e começaram a envolver-se com um álbum de figurinhas que Lúcia havia ganhado do tio. Não sabiam o que queriam fazer... Enquanto folheavam o álbum de um programa, uma espécie de novelinha para crianças chamada “Alegrifes e Rabujos”, na qual existem personagens que são bruxas, Lúcia pegou em cima de um armário um folder que divulgava um evento do dia 1.0 de dezembro, dia mundial de combate à aids, pedindo informações a respeito. Amanda imediatamente soltou o seguinte comentário: Amanda: Que coisa mais chata, detesto isto e falar disto... Vera: O que foi Amanda? Amanda: Nada não, é esta bruxa aqui, eu estava dizendo que detesto ela... A psicoterapeuta resolveu não intervir, porém retribui o olhar compreensivo de Lúcia, que havia entendido exatamente como ela o comentário de Amanda: Ela não queria tocar neste assunto! 139 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Desta maneira vão se dando os acontecimentos na Oficina de Pulserinhas, um espaço pscicoterapêutico e lugar expandido de acolhimento. Esperamos que sua construção, tal qual a pequena unidade social substituta da família quando da falta desta, conforme concepção de Winnicott (1968), possa auxiliar estas crianças nas provisões de amparo afetivo/emocional. Referências MENCARELLI, V. L. Em defesa de uma clínica psicanalítica não-convencional: Oficinas de velas ornamentais com pacientes soropositivos. 2003. 101 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2003. WINNICOTT, D.W. (1964 e 1968). O jogo do rabisco. In: Explorações psicanalíticas. Tradução José Octavio de Aguiar Abreu. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. p. 230243. ______ . (1968). A imaturidade do adolescente. In: Tudo começa em casa. Tradução Paulo Sandler. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p.145-163. ______. (1970) Assistência residencial como terapia (1970). In: Privação e Delinquência. Tradução Álvaro Cabral. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 249258. ______. (1971). O brincar. In: O brincar e a realidade. Tradução de José Octávio de Aguiar Abreu e Vanede Nobre. Rio de Janeiro: Imago, 1975. p. 59-77. 140 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Pesquisas do Laboratório de Análise do Comportamento, Saúde e Reabilitação Vera Lucia Adami Raposo do Amaral 1 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-Chave: análise do comportamento; comportamento e saúde; reabilitação, anomalias craniofaciais. As pesquisas do Laboratório de Análise do Comportamento, Saúde Reabilitação baseiam-se principalmente no modelo do behaviorismo radical, filosofia da ciência que define o comportamento dos organismos como seu objeto de estudo. Ao se buscar as “causas” do comportamento busca-se a contribuição de fatores do ambiente (externo e interno) aos eventos comportamentais. Esta perspectiva é distinta do mentalismo, do ambientalismo radical, do dualismo e do positivismo lógico (Moore, 2002). Sob esta perspectiva compreende-se que uma parte do comportamento é eliciada por estímulos de importância primariamente biológica e foi selecionada através da evolução, em virtude de seu valor de sobrevivência para as espécies. Outra forma de análise do comportamento enfatiza as contingências ambientais que afetam o comportamento de um indivíduo durante sua vida. Eventos dentro da pele do indivíduo e não estão diretamente acessíveis aos outros devem ser analisados não apenas como eventos fisiológicos, mas como contribuição ao controle discriminativo sobre a resposta em questão. Assim dizendo, o comportamento humano é produto de três tipos de variação e seleção: um deles é a seleção natural, outro se refere ao comportamento operante selecionado pelas suas conseqüências e o terceiro, à cultura. Por comportamento se entende um conjunto de funções que promovem a interação do organismo com o ambiente, envolvendo o agir, o pensar e o sentir. O comportamento individual selecionado pelas conseqüências constitui grande parte do repertório humano - o 1 Programa de Pós-Graduação em Psicologia – PUC-Campinas Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 141 que faz e como faz – e depende em grande parte das práticas do grupo a que pertence. Enquanto membro de uma cultura o indivíduo se comporta da maneira como foi ensinado e de acordo com as contingências de reforçamento mantidas pelo grupo. O comportamento dos indivíduos tende a estar em conformidade com os padrões de uma dada comunidade porque certas respostas são reforçadas, outras não reforçadas e outras são punidas. A Análise do Comportamento para a Saúde enfoca comportamentos que produzem doença, promovem a saúde, facilitam ou dificultam o tratamento. Para que haja esta seleção é necessário que o indivíduo se comporte, sendo ele único e em constante construção de sua história. É possível que o indivíduo se comporte de modo a promover saúde ou aumentar a probabilidade de contrair doenças ou agravar condições geneticamente determinadas. Portanto o objetivo das pesquisas em Análise do Comportamento para a Saúde é contribuir para a compreensão e manejo de repertórios que levem à promoção da saúde, prevenção de doença e redução de repertórios problemáticos como comportamentos de risco e não adesão a tratamentos médicos e hábitos saudáveis. Adesão são classes de comportamentos que facilitam o tratamento, amenizam condições adversas da doença, melhoram o prognóstico de cura e controle da doença e aumentam a expectativa de vida. As condições ameaçadoras e aversivas presentes durante os tratamentos médicos e inerentes aos contextos hospitalares geram respostas de fuga e esquiva e eliciam sentimentos de medo e ansiedade, que interferem nas respostas de adesão. Nossas pesquisas enfocam a análise de contingências de comportamentos de adesão a tratamento em Instituições de Saúde particularmente no hospital. O desenvolvimento destes comportamentos tem grande vantagem, pois diminuem o risco de abandono do tratamento, com conseqüente agravamento da doença, diminuem os problemas de comportamento associados à doença, incluindo os emocionais. Em geral, classes de comportamento de não adesão aparecem em função de história de aversão acarretada pelo próprio tratamento e na inter-relação com a equipe médica; resultados positivos em longo prazo não têm força de controle sobre o comportamento; o custo de resposta de adesão é alto ocorrendo a extinção; baixa “motivação” para o tratamento (condições estabelecedoras não alteram o valor da conseqüência); e outras contingências da vida têm maior força de controle sobre o comportamento do indivíduo. 142 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Este grupo de pesquisa trabalha basicamente em duas linhas de pesquisa: Análise do comportamento e deformidades craniofaciais e Prevenção e Intervenção Psicológica. A primeira linha tem como objetivo descrever comportamentos de indivíduos portadores de diferentes tipos de deformidades craniofaciais, tanto através de pesquisas clínicas como experimentais. A segunda linha tem como objetivo desenvolver pesquisas que contribuam para a compreensão dos transtornos psicológicos sob a perspectiva da análise do comportamento, assim como pesquisas que contribuam diretamente para a compreensão do processo psicoterápico e das mudanças comportamentais decorrentes dele. Como exemplo de projetos de pesquisas em andamento dentro da primeira linha de pesquisa tem-se: • “Equivalência de Estímulo em crianças portadoras de cranioestenose” • “Análise da aprendizagem em modelos animais com cranioestenose” • “Modelagem do comportamento de amamentar com mães de bebês com fissuras lábio-palatinas” • “Preparação para procedimentos invasivos com crianças portadoras de deformidades faciais”. A segunda linha de pesquisa: Prevenção e Intervenção Psicológica envolve projetos mais amplos como: 9 “Análise e Intervenção nos Transtornos Comportamentais em Saúde”. Dentro deste projeto outras pesquisas estão em desenvolvimento como: • “Análise do comportamento de dor em DTM” • “Análise do Comportamento e Adesão ao Tratamento em Portadores de Diabetes Tipo II” • “Fazer e Dizer: correspondência verbal em situações de exames médicos envasivos”. 9 “Análise do Processo e Intervenção Psicoterápica” envolve projetos como • “O que se diz e o que de faz: auto-tatos emitidos por terapeutas comportamentais” • “Transtorno Dismórfico Corporal: psicoterapia sob a perspectiva da Análise do Comportamento” • “Transtorno Dismórfico Corporal: validação de um instrumento auxiliar de diagnóstico” • “Depressão Infantil: normatização de um instrumento já validado como auxiliar 143 de diagnóstico” Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 O trabalho do grupo tem tido intensa repercussão, pelo número de dissertações e teses defendidas associadas às suas linhas de pesquisa, além das dissertações e teses em andamento, o que demonstra a transmissão de conhecimento científico através dos membros doutores do grupo. Além disto, o grupo enquanto formador de novos pesquisadores tem contado com alunos de graduação e mestrandos, demonstrando os vários níveis de atuação em termos de formação de novos pesquisadores. Tem sido interesse do grupo a discussão de novas metodologias necessárias e úteis para a pesquisa na área. Os capítulos de livros publicados, os artigos em periódicos, as apresentações em congressos mostram que o grupo já possui representatividade científica no cenário nacional. Este grupo, através de mais de vinte anos de pesquisa é o pioneiro no estudo psicológico de populações portadoras de anomalias craniofaciais congênitas e adquiridas. Todas as pesquisas deste grupo estão dentro de duas Linhas de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC-Campinas: - Prevenção e Intervenção Psicológica: pesquisas que visam o estudo de processos psicoterápicos, o desenvolvimento, acompanhamento e avaliação de programas preventivos e de intervenção nas áreas clínica, escolar e da saúde com enfoques teóricos psicodinâmico, comportamental e humanista. - Instrumentos e Processos em Avaliação Psicológica: Pesquisas sobre aspectos teóricos e práticas que visam a construção, adaptação e uso de instrumentos e procedimentos da avaliação psicológica, em diferentes áreas de atuação. 144 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Pesquisas Psicanalíticas do Laboratório de Psicologia Clínica Social Tânia Aiello Vaisberg 1 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-Chave: pesquisa clínica; psicanálise; método psicanalítico; fenomenologia. O Laboratório de Psicologia Social da Pontifícia Universidade de Campinas é um espaço institucional onde tem lugar as atividades do Grupo de Pesquisa Atenção Psicológica Clínica em Instituições: Prevenção e Intervenção. Aí trabalham dois coletivos de pesquisa fraternos, voltados a investigações clínicas que insistem em romper com visões que isolam o homem das condições concretas do seu viver – sociais, econômicas, políticas, culturais, históricas, religiosas e afetivo-vinculares. Em outros termos, acreditamos que as dimensões individuais e coletivas não mantenham entre si relações de exterioridade, criticando outras abordagens que pensam o indivíduo como originário e as relações sociais como derivadas e secundárias. Exemplos dessas abordagens, entre outros, são as psicologias sociais de inspiração comportamental ou a teoria freudiana da libido, que nada mais é do que uma tentativa de explicar porque os indivíduos, concebidos como unidades desvinculas, podem vir a se abrir para o contato com os demais. Ao contrário, sustentamos que o indivíduo é emergente sofisticado do coletivo, ainda que sua experiência imediata, quando adulto não psicótico, seja a de usufruir uma existência individual, singular e perfeitamente não confundível com a dos demais. Esta experiência, contudo, não nos deve cegar para o fato de que a existência humana é originariamente coexistência, e a de que a própria emergência da pessoalidade é um fenômeno complexo que só se completa quando somos emocionalmente capazes de vivenciar os demais como semelhantes. Esta visão antropológica, que abandona decididamente os mitos do homem natural, abstrato e isolado (Bleger,1963), pode ser assumida por diferentes escolas de pensamento, enquanto, obviamente, não pode ser aceita por aqueles que Professora Livre Docente pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Orientadora Permanente do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. 1 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 145 trabalham desde perspectivas biologizantes próximas do pensamento etológico e anteriores aos desenvolvimentos recentes alcançados pelas ciências humanas. Deste modo, tanto a psicologia fenomenológico-humanista, como perspectivas dialéticas, por exemplo, podem subscrever o pressuposto segundo o qual existe uma natureza humana originária, que é, desde sempre, social e vincular. Pode seguir a mesma trilha o pensamento psicanalítico não metapsicológico, segundo o qual a teorização coerente, neste campo, deve seguir linhas biográficas de respeito à dramática do viver. Assim, é por razões meramente histórico-institucionais que hoje albergamos, neste Laboratório, um coletivo de pesquisa que realiza seu trabalho a partir de uma perspectiva fenomenológico-humanista e outro que busca encontrar vitalidade e rigor na manutenção de uma interlocução contínua com a psicanálise winnicottiana do self. Tais perspectivas, como veremos, são suficientemente próximas para permitir diálogos e trocas fecundas, mas distanciadas a ponto de valer a pena, para enriquecimento geral, manter suas identidades claramente diferenciadas. Muitos acreditam que a psicanálise está condenada, se quiser ser profunda, a cultivar o pensamento metapsicológico. A meu ver, este é um engano grosseiro, porque a metapsicologia nada mais é do que a compreensível decorrência do fato do discurso freudiano ter sido elaborado tendo por horizonte a ciência moderna, que tinha na física seu ideal. Não vejo, contudo, razões para prosseguir no seu uso, nem mesmo quando os psicanalistas apelam para a idéia de que o aparelho psíquico é um simples modelo, porque o uso deste ou daquele modelo teórico não pode deixar de ter conseqüências. Não vejo como o pensar o humano como coisa seja possível sem afetar significativamente os conhecimentos e práticas que daí decorrerão. Por outro lado, considero que a riqueza do saber que o campo psicanalítico pode gerar está indissoluvelmente ligada ao seu método, que exige, para ser posto em prática com rigor, a adoção de uma atitude fenomenológica. Aliás, quando se compreende que o método exige a atitude fenomenológica, percebe-se também que o chão que dá a sustentação necessária para o uso do método não pode ser uma metapsicologia, mas uma ética capaz de reconhecer a especificidade da natureza humana (Winnicott, 1988). Um caminho pelo qual pode ficar bastante clara a diferença entre a visão metapsicológica e as teorizações psicanalíticas não abstratas, tais como a psicanálise do self, consiste em lembrar que a primeira opera a partir da noção de organismo, postulando a existência de uma continuidade entre o mundo animal e o Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 146 humano, enquanto a segunda pensa a vida como dramática e não como bios. O viés é, portanto, biológico, como bem reconheceu Freud (1915) quando admitiu que sua teorização acerca do aparelho psíquico se fazia desde o ponto de vista do biólogo. Diferentemente, toda teorização psicanalítica dramática e concreta é ciência da pessoa, da subjetividade, feita em primeira pessoa (Politzer,1928), correspondendo assim a um retorno ao acontecer clinico, que requer a adoção de uma atitude fenomenológica. Para muitos, existiria um verdadeiro antagonismo entre a Psicanálise e a Fenomenologia. Tal noção decorre, entretanto, do equívoco, certamente compreensível, de reduzir toda Psicanálise à construção metapsicológica, que fixa conceitos pensando o ser humano como organismo composto por aparelhos vários, respiratório, digestivo, imunológicos e outros, dentre os quais se incluiria o aparelho psíquico, cujo funcionamento teria natureza neuronal. Não resiste, entretanto, quando pensamos que o mais essencialmente psicanalítico não é a metapsicologia clássica – que inclusive pode ser substituída por outras teorizações, tais como a teoria do amadurecimento pessoal de Winnicott, sem com isso nos excluir do campo psicanalítico propriamente dito – mas o método sui generis inventado por Freud. Entre nós, coube a Herrmann (1979) dedicar-se com grande afinco e perseverança à demonstração de que o método é a invariante fundamental de toda atividade que se queira psicanalítica. Como sabemos, este método é constituído pelo convite à associação livre de idéias e pelo cultivo, por parte do analista, de uma postura denominada “atenção equiflutuante”, que outra coisa não é senão o exercício da própria associação livre de idéias diante das comunicações do analisando. Entretanto, associação livre e atenção flutuante são termos que correspondem ao caso particular em que operamos numa área discursiva de conduta, o que nem sempre é o caso na clinica – lembremos aqui das ludoterapias e das arteterapias, por exemplo. Na verdade, estas expressões significam precisamente a adoção de atitudes de abertura ao outro no aqui e agora do acontecer clínico, com máximo desprendimento de teorias e conhecimentos anteriores – ou, como diria Bion, “sem memória nem desejo”. Pode-se assim afirmar que o paciente é convidado a adotar uma atitude fenomenológica, ao permitir-se uma expressão maximamente livre – seja por via verbal ou não verbal, do mesmo modo que o psicanalista se volta para a tentativa,jamais garantida, de viver o momento do encontro como abertura, desprendendo-se maximamente de teorias prévias. Fica, assim, claro que atender pessoas para encontrar em seus relatos de Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 147 vida ou em seus comportamentos durante a sessão provas de que nossas teorias favoritas são corretas, sejam elas psicanalíticas ou não, nada tem a ver com o uso rigoroso do método psicanalítico. Por outro lado, há que se reconhecer que o desprendimento total e permanente de memória e desejo não é humanamente possível. É por este motivo que usamos o termo atitude, para sinalizar que se trata mais de uma tentativa ou tendência do que de uma prática que consigamos manter por longos períodos. Autores que buscaram profunda honestidade intelectual,como Bleger (1963), admitem que o desapego máximo do sistema referencial adotado exige a constante pesquisa e revisão dos nossos pressupostos. De fato, parece importante reconhecer que a abertura máxima ao acontecer exige pontos de apoio, do mesmo modo que a improvisação jazzística pode ser despreendida e renovada exatamente porque ancorada sutilmente sobre um baixo contínuo que lhe fornece o apoio mínimo mas imprescindível. Em outros termos, posso abrir mão de teorias para encontrar-me com o paciente de modo maximamente aberto para o acolhimento de suas comunicações emocionais exatamente porque me apoio em pressupostos que não são mais psicológicos nem metapsicológicos, mas fundamentalmente éticos. Em suma, a solução para aquele que pretende usar o método psicanalítico, ou qualquer outro método que se assente sobre uma atitude fenomenológica de desprendimento do saber prévio, é a seguinte: usar do modo mais transparente possível uma base ética. Não fazê-lo corresponde a um risco altíssimo de trair o método. Assim, não hesito em dizer que o apego à metapsicologia gera infidelidade metodológica. Herrmann (1979) parece perceber isso e nesta linha nos propõe a substituição da metapsicologia por uma “pequena ficção metafísica”, coerente com uma visão do mundo e da vida como absurdos, que não esconde sua afinidade com o pessimismo freudiano sobre o ser humano. De nossa parte, temos encontrado na teoria winnicottiana do amadurecimento pessoal este fundamento que, mais do que clínico, é, a nosso ver, ético porque, ainda que seja apresentada sempre como fruto da observação clínica, traz em seu bojo uma crença norteadora anterior, segundo a qual todas as manifestações humanas são dotadas de sentido e tendem à realização do potencial humano. Esta crença impulsiona o psicanalista a receber todas as comunicações do paciente em estado de máximo desprendimento teórico e, paradoxalmente, acolhê-las também como expressão da tendência inata à realização de potencialidades e à busca da existência autêntica. 148 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Se assim descrevemos as práticas psicanalíticas, coerentemente não admitimos que se reduza a Psicanálise ao uso do dispositivo padrão de atendimento privado individual ao neurótico. Construímos, assim, uma base para pensar que diferentes práticas psicológicas podem ser psicanaliticamente orientadas, o que nos conduz tanto à pesquisa relativa a novas modalidades de atendimento, ou, como costumamos dizer, à busca de enquadres diferenciados, como à realização de pesquisas que visem detectar a potencialidade mutativa das práticas. Este é o campo amplo e instigante no qual tem lugar pesquisas do nosso Laboratório que, sem suma, busca estender os benefícios do conhecimento psicanalítico para além da clínica privada individual, favorecendo a realização de potencialidades de indivíduos e coletivos humanos. Referências BLEGER,J. (1963) Psicologia de la Conduta. Buenos Aires, Paidos,2003. FREUD,S. (1915) Los instintos y sus destinos.Obras Complestas. Tradução Luis Lopes Ballesteros y de Torres. Madrid, Biblioteca Nueva, 1948. HERRMANN,F (1979) O método da psicanálise. São Paulo, Brasiliense, 1991. POLITIZER,G. (1928) Critique des Fondements de la Psychologie. Paris, PUF, 2003. WINNICOTT,D.W. (1988) Natureza Humana. Tradução Davi Bogomoletz. Rio de Janeiro, Imago, 1990. 149 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 População alvo atendida em psicoterapias breves psicodinâmicas: produção nacional e estrangeira (1980/2002) Tales Vilela Santeiro Universidade de Franca Elisa Medici Pizão Yoshida Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-Chave: avaliação psicológica; metaciência; pesquisa envolvendo seres humanos; pesquisa em psicologia clínica; psicoterapia focal. Resumo Trata-se de parte da Tese de Doutorado do primeiro autor que pesquisou a produção científica de dois periódicos nacionais e dois estrangeiros sobre as psicoterapias breves psicodinâmicas. Apresenta-se aqui as análises relativas à população alvo atendida. Ao lado dos indicadores usualmente tomados em consideração para monitoração da qualidade de textos científicos, como o número de trabalhos por autor, a autoria e a co-autoria, os delineamentos metodológicos dos estudos empíricos, dentre outros, verificar as características da população alvo dos estudos em psicoterapias breves psicodinâmicas (PBP) permite avaliar práticas em andamento e direcionar práticas futuras nesse e em outros campos de atuação na psicologia clínica. OBJETIVOS Descrever e analisar em artigos sobre PBP, publicados nos periódicos brasileiros Jornal Brasileiro de Psiquiatria (JBP) e Estudos de Psicologia (EP) e nos estrangeiros Psychotherapy and Psychosomatics (PP) e Journal of Consulting and Clinical Psychology (JCCP), as seguintes variáveis: população alvo (etapas de desenvolvimento e sexo dos participantes); modalidades de atendimento Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 150 dispensadas (individual, grupal, grupal familiar, outra); patologias e/ou queixas pesquisadas; e instrumentos de avaliação psicológica utilizados (testes, escalas e outros procedimentos). Também foi objetivo do estudo, comparar, quando pertinente, o conjunto da produção publicada nos quatro periódicos, considerandose os objetivos anteriores. É necessário frisar que foram consideradas apenas produções classificadas em estudos empíricos, relatos de experiência e trabalhos teóricos ilustrados, tal como avaliadas no estudo original (Santeiro, 2005), naturalmente porque apenas nesses casos esse tipo de informação era acessível. MÉTODO Material Artigos publicados periódicos científicos (N=65), sendo dois nacionais (EP/n=8; e JBP; n=13) e dois estrangeiros (PP/n=26; e JCCP/n=18), entre 1980 e 2002. Periódicos EP: publicação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, cujo primeiro volume foi editado em 1983. JBP: publicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Seu primeiro volume data de 1942. JCCP: de propriedade da American Psychological Association. Seu primeiro volume foi editado em 1937. PP: de propriedade da International Federation for Medical Psychotherapy, cujo primeiro volume data de 1953. É editado na Suíça. PROCEDIMENTO Os artigos foram acessados, inicialmente via resumos, nas bases de dados internacionais PsycINFO, Medline e Lilacs, e nacional Indexpsi, responsáveis, por 63% e 37% da produção, respectivamente. A busca foi feita usando palavras-chave como brief/short-term/time-limited psycho/dynamic psychotherapy e foi finalizada em meados de 2003. 151 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 RESULTADOS Etapa de Desenvolvimento A classificação dos participantes numa ou noutra etapa considerou informações constantes dos próprios documentos. Nos casos em que os autores não especificavam a que etapa os indivíduos pertenciam, mas somente a idade, os critérios estabelecidos foram os seguintes. Crianças: até 12 anos. Adolescentes: acima de 13 até 20 anos. Adultos, acima de 21 até 59 anos na amostra nacional e mais que 21 até 64 na estrangeira. Idosos: acima de 60 e 65, respectivamente na amostra nacional e estrangeira. Na amostra nacional de artigos, tanto analisada em separado, quanto no geral, os adultos foram os participantes que mais integraram os estudos (em torno de 50%), seguidos de pesquisas desenvolvidas com vários indivíduos, inseridos em mais de uma etapa desenvolvimental (30%). Nestes últimos casos, participaram dos estudos publicados no EP adolescentes e adultos em dois casos e num terceiro caso adolescentes, adultos e idosos. Nesta amostra não foram observados estudos com adolescentes ou idosos em separado, nem aqueles onde esse dado não pôde ser extraído. No JBP não foram observados estudos com crianças e idosos em separado. Num caso essa informação não pôde ser detalhada, por referir a um relato de experiência no qual o enfoque central não era voltado aos pacientes propriamente ditos, mas a uma reflexão sobre o papel da técnica e da supervisão numa PB de grupo desenvolvida em contexto institucional. Nesse periódico, embora idosos não tenham sido objeto de estudo em separado, integraram três estudos, juntamente com adultos, adolescentes e adultos. No JBP foi encontrado o único estudo voltado unicamente a adolescentes. Na amostra de artigos estrangeiros foram encontrados resultados semelhantes aos observados na amostra nacional: predomínio significante de pesquisas focalizando adultos em separado (70%) [χ2(4, N=44)=66,89, p<0,001] e praticamente inexistência de estudos com enfoque às demais etapas do desenvolvimento humano. Isso se aplica tanto à análise dos periódicos JCCP e PP, quanto ao conjunto da produção estrangeira. No JCCP, foi observado um único estudo onde participaram idosos; um outro que tinha como participantes crianças, sendo que estas foram estudadas juntamente com seus pais. Também foi verificado um estudo em que várias etapas foram Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 152 pesquisadas em conjunto: adolescentes, adultos e idosos. Também houve casos em que a faixa etária não pôde ser especificada. A análise dos artigos do PP indicou, igualmente, maioria de trabalhos voltados para adultos (65%). Outros 19% dos trabalhos foram classificados quanto à faixa etária como “não especificada”. Houve um único estudo desenvolvido com crianças e outros trabalhos desenvolvidos com “várias” etapas (11%), sendo dois com adolescentes e adultos e um com adultos e idosos. Portanto, no PP não foram observados trabalhos voltados a adolescentes ou a idosos como amostras únicas. Devido à relevância da infância, adolescência e velhice de per se no contexto sociocultural de um país, fica evidente a necessidade de uma maior atenção por parte dos pesquisadores da área às etapas de desenvolvimento em pauta. Vale ressaltar que exatamente nessas “lacunas” residem novas possibilidades de pesquisa e produção de conhecimento para o psicoterapeuta e o pesquisador, em especial o brasileiro. Por outro lado, pesquisas com adultos, predominantes tanto nos periódicos nacionais, quanto nos estrangeiros analisados, seja como etapa desenvolvimental unicamente estudada, seja como etapa focalizada em conjunto com outras, indicam uma continuidade de certa tradição de pesquisas em psicologia clínica. Sexo Quanto ao sexo da população alvo na amostra nacional, no EP foi verificada grande parte de trabalhos voltados a pessoas ambos os sexos (62%), seguidos de outros, voltados a mulheres como únicas participantes (37%), não tendo havido estudos desenvolvidos somente com homens ou onde esse dado não pôde ser especificado. No JBP, por outro lado, o sexo dos participantes não foi identificado em 15% dos casos. Em 7%, foram focalizadas apenas indivíduos do sexo masculino, em 23% especificamente participantes do sexo feminino, seguido de 53% de trabalhos desenvolvidos com pessoas de ambos os sexos. Quando se analisou a amostra total de artigos de periódicos nacionais, trabalhos voltados para participantes de ambos os sexos (57,1%) foi uma categoria estatisticamente significante [χ2(3, N=21)=14,22, p<0,01], confirmando o observado nas análises do EP e do JBP em separado. Na amostra de artigos da produção estrangeira, no JCCP houve claro predomínio de estudos voltados para participantes de ambos os sexos (88%), seguidos de trabalhos onde isso não foi especificado (11%), não tendo havido Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 153 estudos unicamente voltados para pessoas de um único sexo. No PP, embora tenha havido estudos que foram enquadrados em todas as categorias analisadas, a freqüência de trabalhos desenvolvidos com indivíduos de ambos os sexos foi significante (74%) [χ2(3, N=27)=35,05, p<0,001]. No conjunto da produção estrangeira, resultado semelhante ao observado na análise dos periódicos em separado, bem como na análise de periódicos nacionais, foi constatado: significantemente mais trabalhos com participantes de ambos os sexos (80%) [χ2(3, N=45)=73,3, p<0,001]. Houve estudos nos quais o sexo dos participantes não foi especificado, posto que descreviam os pacientes de modo geral, referindo-se a eles como adultos que se submeteram a PB. Casos nos quais não se especificou o sexo, bem como naqueles onde não se identificou a etapa de desenvolvimento, mesmo não tendo sido observados com freqüência elevada, tanto podem dificultar a aplicação dos resultados das experiências e pesquisas relatadas na prática clínica, quanto, em última instância, impediriam réplicas, especificamente dos estudos empíricos. E nos dias atuais ambas as coisas são requisitos necessários ao consumidor e ao produtor de ciência. Modalidades de Atendimento Também foram analisadas as modalidades de atendimentos dispensadas aos participantes dos estudos, classificadas em quatro categorias distintas: 1. individual, 2. grupal, 3. grupal familiar, e 4. modalidade não especificada, sendo esta última categoria necessária apenas na amostra de artigos estrangeiros. No EP atendimentos individuais foram claramente predominantes (77%) [χ2(1, N=13)=0,06, p>0,70], sendo que no JBP houve distribuição homogênea entre individual e grupal (53% e 46%, respectivamente). Quando se considera a produção nacional no geral, a diferença observada na modalidade de atendimento individual foi significante (63%) [χ2(2, N=22)=11,58, p<0,01]. Atendimento grupal familiar apenas ocorreu no EP, num estudo de avaliação de perfil e queixas de crianças encaminhadas para PBP em instituição. Nesse periódico também houve um caso em que o enfoque do artigo era sobre o psicoterapeuta, mas também se considerou a modalidade de atendimento oferecida ao paciente. No JBP foram identificados vários trabalhos nos quais a modalidade de atendimento era grupal, a maioria relatos de experiências e apenas um estudo Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 154 empírico. Interessante observar que em todos eles os autores estavam vinculados a instituições médicas, dos ambientes mais propícios ao desenvolvimento de intervenções grupais devido à grande parcela da população que procura por assistência. Nos periódicos estrangeiros o predomínio de atendimentos individuais foi acentuado tanto na análise em separado, quanto na geral (em torno de 85%). No JCCP não houve atendimentos na modalidade grupal e no PP apenas um. No PP foram verificadas várias modalidades de atendimento, mas tiveram baixa freqüência. Assim como ocorrido na amostra de artigos nacionais, também nos estrangeiros atendimentos na modalidade grupal familiar foram escassos (4%). Nessa amostra foi observada freqüência de trabalhos nos quais a modalidade de atendimento não foi especificada (8%). Mas em todos estes casos provavelmente os atendimentos se deram na modalidade individual, pelas demais características descritas nos artigos e pelos respectivos autores, com tradição em desenvolvimento de pesquisas cujos atendimentos são individuais. O predomínio de trabalhos desenvolvidos na modalidade de atendimento individual observado tanto no conjunto da produção nacional, quanto no da estrangeira reflete novamente uma característica da produção científica da área, também identificada em outros estudos. Patologias e/ou Queixas Foram criadas três categorias de análise: 1. patologia/queixa única; 2. mais de uma patologia/queixa; e 3. patologias/queixas não especificadas. No EP estudos nos quais as queixas/patologias não são especificadas foram observados em alta freqüência (62%). No JBP, por sua vez, houve distribuição mais homogênea entre as três categorias, com maior freqüência daqueles que investigaram mais de uma queixa/patologia (46%). No geral da produção nacional foi verificada distribuição homogênea daquelas classificadas em todas as categorias [χ2(2, N=21)=0,85, p>0,50]. No EP em dois trabalhos a queixa/patologia investigada foi especificada, um deles sobre depressão, e o outro, sobre câncer de mama. Alguns estudos foram desenvolvidos com participantes apresentando várias queixas/patologias, tais como problemas relacionais (conjugais, entre mãe e filha) e outros genericamente chamados de adaptativos. Houve ainda dois artigos onde essa variável não foi mencionada. 155 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Depressão, ansiedade e insegurança no trabalho e no namoro foram algumas queixas/patologias únicas investigadas num dos artigos do JBP. Nesse periódico foram encontrados também três trabalhos com pacientes com diversas queixas/patologias, incluindo principalmente quadros depressivos e ansiosos, além de queixas somáticas, sexuais, de dificuldades relacionais e fobias, dentre outras, em outros três estudos. Houve, ainda, dois artigos onde a variável em questão não foi especificada. Nos artigos estrangeiros amostras maiores favoreceram o cálculo do χ2 em todas as análises. Sendo assim, no JCCP, embora sendo observado maior número de estudos nos quais foram investigadas patologias/queixas específicas (52%), esta categoria não foi significantemente superior às demais [χ2(2, N=17)=4,39, p>0,05]. Dentre os nove artigos com queixa/patologia única no JCCP, oito eram estudos focalizando a depressão (88%) e um (11%) com enfoque em transtorno de estresse pós-traumático. Em alguns casos, trabalhos sobre depressão eram relatos que compunham projetos de pesquisa de grupo já consolidado, com banco de dados constituído. A depressão constituiu, ainda, patologia/queixa investigada em conjunto com outras. Nesse periódico foram observados trabalhos focalizando participantes com queixas diversas, como os transtornos sexuais, de personalidade, do humor e de ansiedade. Num artigo essa informação não foi especificada. No PP houve freqüência significantemente superior de produções nas quais mais de uma queixa/patologia era relatada (61%) [χ2(2, N=26)=9,6, p<0,02]. Na análise geral da amostra de artigos estrangeiros esta categoria também foi a mais freqüente (51%) [χ2(2, N=43)=8,98, p<0,02]. Queixas/patologias focalizadas de modo específico nos estudos do PP foram fobias, queixas somáticas e insônia. Embora nesse periódico estudos focalizando depressão de modo específico não tenham ocorrido, esta queixa/patologia foi bastante explorada em conjunto com outras, como os transtornos de ansiedade. Mesmo em trabalhos nos quais a depressão e a ansiedade não se tratavam de diagnósticos principais como nos acima referidos, constituem parcela de queixas/patologias dos participantes de praticamente todos aqueles classificados em “várias” queixas, juntamente com transtornos de personalidade, problemas interpessoais e de ajustamento, fobias, manias e baixa auto-estima, dentre outras. No PP houve ainda artigos nos quais as patologias/queixas não foram especificadas. Importante observar que há, por parte dos autores dos artigos estrangeiros, clara preocupação em estabelecer critérios de inclusão e exclusão de participantes. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 156 Dentre os últimos, os seguintes são bastante comuns: histórico de abuso de substâncias químicas e/ou de uso continuado e persistente de medicação psicotrópica, evidências de psicose, de transtorno afetivo bipolar, ou de tendências claras de suicídio. A análise detalhada das queixas/patologias mais pesquisadas, embora de extrema relevância para traçado qualitativo da produção sobre PBP, mostrou-se inviável porque, exceto nos trabalhos classificados em patologias/queixas únicas, nos demais os autores forneciam idéia muito geral das patologias investigadas. Isto é, a patologia não era especificada nos estudos que contemplavam pacientes com várias delas porque esse não era o objetivo dos autores. Citavam algumas e referiam a algo como: “dentre outras”; não especificavam, entretanto, todas as patologias/queixas que os pacientes apresentavam, limitando-se a alguns exemplos. Em outros casos apenas mencionavam os transtornos que compreendem os Eixos I e II das DSM e não foi constatada maior especificação. Mesmo fenômeno foi observado no que diz respeito a critérios de exclusão de pacientes, onde nem sempre essas informações foram detalhadas. 3.9.5 Instrumentos de Avaliação Psicológica Em relação à análise dos instrumentos de avaliação psicológica utilizados, no EP foram escalas (57%), especificamente a Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada (EDAO). Outros instrumentos utilizados foram: Teste de Relações Objetais de Philipson, entrevista do tipo aberta e Versão de Sentido, um instrumento de pesquisa qualitativa do tipo “auto-relato”. No JBP o uso de instrumentos de avaliação psicológica foi proporcionalmente menor, sendo igualmente utilizadas entrevistas e escalas (42% cada um). Testes psicológicos não foram utilizados, o que se relaciona diretamente ao fato de, no Brasil, esse tipo de ferramenta ser de uso privativo de psicólogos. Nesse periódico, a Escala de Hamilton para Ansiedade (EHA) foi utilizada num estudo, e num outro, as Escalas de Resultados Obtidos (ERO) e a de Qualidade da Relação PacienteTerapeuta (EQRPT) em conjunto. Também foram utilizados a entrevista estruturada e questionário enviado por Correios. No geral da produção nacional, portanto, escalas foram os instrumentos de avaliação mais utilizados (50%). Vale ressaltar que a EDAO, a ERO e a de EQRPT foram enquadradas na categoria “escalas clínicas”, pois são baseadas em julgamentos externos e que a EHA é aplicada na forma de auto-relato (self-report). Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 157 Nos periódicos estrangeiros a utilização de instrumentos de avaliação foi proporcionalmente superior em relação ao observado na produção nacional (N=117 versus N=14). Tanto nas análises em separado, quanto na geral, o uso de escalas foi constatado como de freqüência significantemente maior: 46% no JCCP [χ2(3, N=81)=24,9, p<0,001], 38% no PP [χ2(3, N=36)=9,2, p<0,05] e 44% no geral [χ2(3, N=117)=30,71, p<0,001]. Essa maior utilização de instrumentos psicológicos na produção estrangeira possibilitou que se realizasse análise detalhada dos instrumentos mais utilizados. Como na produção estrangeira era comum o uso de bateria de instrumentos num só estudo, todos os ali utilizados foram considerados no estudo original (Santeiro, 2005), mas no momento serão detalhados os mais freqüentes. Sendo assim, a escala Symptom Checklist-90/Symptom Checklist-90-R (N=9), a entrevista estruturada Present State Examination (N=4) e o Beck Depression Inventory (N=9) foram os instrumentos mais utilizados nas produções do JCCP, sendo o primeiro e o último deles medidas do tipo auto-relato (self-report). Nas do PP, por sua vez, foram a Global Assessment Scale (N=5), entrevistas semiestruturadas no momento de follow-up (N=4) e o Minnesota Multiphasic Personality Inventory (N=4). O MMPI é um instrumento do tipo self-report e a GAS, escala clínica. Integrando as informações, pode ser afirmado que na amostra de artigos do periódico norte-americano há maior ênfase em utilização de instrumentos de avaliação clínica padronizados, quando em comparação ao observado nos artigos do PP. Quando comparados esses resultados ao observado na amostra de artigos nacionais como um todo, pode ser dito que nos estrangeiros foi observado maior refinamento metodológico na condução das pesquisas, haja visto que tanto os procedimentos padronizados, quanto os não padronizados conferem maior confiabilidade nos resultados dos estudos. CONCLUSÕES Em retomada aos objetivos do trabalho, que eram os de descrever, analisar e comparar a produção sobre PBP nos periódicos Estudos de Psicologia, Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Journal of Consulting and Clinical Psychology e Psychotherapy and Psychosomatics, os seguintes tópicos foram verificados sobre a população alvo dos estudos envolvendo seres humanos: 158 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Adultos de ambos os sexos, atendidos na modalidade individual, desenharam o perfil da população alvo dos estudos. Na realidade brasileira, foram observados tanto estudos onde as patologias/queixas não eram especificadas, quanto aqueles nos quais se investigou mais de uma em conjunto. Na amostra de artigos estrangeiros, foram constatados tanto estudos voltados a queixas específicas, quanto aqueles que focalizavam mais de uma. Houve indícios de que a depressão foi o transtorno mais comumente investigado. Escalas, tanto aplicadas por avaliadores/terapeutas, quanto do tipo autorelato (self-report), foram os instrumentos de avaliação psicológica mais utilizados na produção nacional e estrangeira conjunta. Entre pesquisadores estrangeiros, principalmente entre norte-americanos, a utilização de baterias de medidas padronizadas foi muito freqüente. São feitas sugestões para que se avaliem novas produções na área de PBP, contemplando novas palavras-chave, novo período temporal e periódicos não focalizados neste momento, para se refutar ou confirmar/ampliar os resultados apresentados. Referência Santeiro, T. V. (2005). Psicoterapias breves psicodinâmicas: produção científica em periódicos nacionais e estrangeiros (1980/2002), Tese de doutorado em Psicologia não publicada, Pontifícia Universidade Católica de Campinas. 159 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Psicoterapia breve psicodinâmica conduzida por psicoterapeuta inexperiente: pesquisa de resultados e acompanhamento Alessandra Silvério Ribeiro Evelise Fernandes Chagas Josiane Alves de Melo Maria de Fátima Lopes Ramos Tales Vilela Santeiro Universidade de Franca [email protected] Palavras-chave: estudo de caso sistemático; avaliação psicológica; psicoterapia focal; psicologia clínica preventiva; universitário. Resumo A pesquisa em relato foi desenvolvida a partir de processo conduzido por estudante de quarto ano de Psicologia, que atuou como psicoterapeuta, em 2005. Está vinculada: 1) à atividade prática da disciplina de Técnicas de Exame e Aconselhamento Psicológico, da qual o primeiro autor era docente e os demais autores estudantes; e 2) projeto de pesquisa maior e também as atividades do Grupo de Pesquisa sobre psicoterapia breve psicodinâmica: avaliação de mudança e instrumentos de medida, cadastrado no Diretório do Grupo de Pesquisas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, sediado na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, do qual o primeiro autor é membro pesquisador. A psicoterapia breve psicodinâmica (PBP) tem sido tomada como uma alternativa para as pessoas que necessitam de atendimento psicológico, mas que apresentam pouca disponibilidade, seja financeira e/ou emocional, para tratamento de longo prazo, e que com freqüência se avolumam em filas de espera de instituições de saúde mental. Por essas e outras características, trata-se de modalidade psicoterapêutica que tem se mostrado coerente para as demandas da realidade brasileira e para serviços desenvolvidos em instituições. Na PBP se elege um foco para ser trabalhado durante um tempo estabelecido, que pode ser variável, mas usualmente gira em torno de 12 a 16 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 160 sessões, o que numa clínica-escola, por exemplo, corresponderia à dinâmica de um semestre letivo. Esse foco surge a partir das queixas trazidas pelo paciente e de suas necessidades mais urgentes, mas também são considerados eventuais conteúdos latentes no seu estabelecimento. Para um processo de PBP ser considerado bem sucedido é importante que se estabeleça uma boa aliança terapêutica entre paciente e terapeuta, a qual tem sido apontada em estudos da área como uma variável que prediz bons resultados. Nesse sentido, alguns estudos têm demonstrado que mesmo um psicoterapeuta inexperiente pode obter sucesso na condução de um processo breve. Nas clínicas-escola brasileiras tem sido constatada escassez de investigações clínicas direcionadas a participantes universitários, sendo este relato uma pequena contribuição nesse sentido. Como a entrada na universidade coincide com uma das maiores crises evolutivas previstas no ciclo vital humano, a adolescência, alterações no humor, no grau de ansiedade e no ajustamento emocional podem ser algumas das respostas na busca de adaptação do calouro a esse novo momento de vida. Objetivos a) avaliar através de escalas do tipo self-report, possíveis mudanças nos graus de depressão, ansiedade e de ajustamento emocional, em processo de PBP desenvolvido com ingressante em curso universitário (calouro); b) reavaliar possíveis manutenções ou não de mudanças referentes às mesmas variáveis, após seis meses do término do processo (follow-up); e c) a partir das possíveis mudanças ocorridas em relação às variáveis investigadas, verificar se o processo de PBP oferecido e conduzido por psicoterapeuta inexperiente foi bem sucedido. Método Participante: caloura de curso da área da saúde, com 19 anos, matriculada em instituição da rede particular de ensino. Psicoterapia: o processo foi desenvolvido na modalidade individual, com 10 encontros semanais, dos quais o primeiro e o décimo foram reservados para aplicação da bateria de instrumentos. A entrevista de follow-up ocorreu seis meses Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 161 após o término do processo. A orientação teórica era psicodinâmica, norteada a partir de focalização, objetivos e planejamento de estratégia terapêutica. Estudantes: atuou como psicoterapeuta uma estudante de 4o ano de Psicologia, com 22 anos de idade, com estágio de psicodiagnóstico concluído em momento prévio ao da condução do processo, o que obedecia a normas institucionais da clínica-escola. Os atendimentos foram observados por grupo de três alunas, também estudantes de 4o ano. Instrumentos: Escalas Beck de Depressão e Ansiedade (Cunha, 2001), que medem o nível de depressão (BDI) e de ansiedade (BAI). Escala de Ajustamento Emocional/Neuroticismo (EFN; Hutz & Nunes, 2001), que mede essa variável em quatro subescalas: vulnerabilidade (N1), desajustamento psicossocial (N2), ansiedade (N3) e depressão (N4). Procedimento Recrutamento de participante: a participação foi voluntária e esclarecida, formalizada através de assinatura de Termo de Consentimento apresentado na primeira sessão. Também era de conhecimento a inclusão de observadores, bem como o registro em áudio, e que o atendimento integrava projeto de pesquisa maior, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Franca. Inicialmente, foi feita uma pré-triagem, para verificar grau de motivação, uso de medicação psicotrópica ou presença de outra contra-indicação para processo de PBP. Registro de sessões: foram gravadas e observadas através de espelho unidirecional. Avaliação da Fase Inicial: momento no qual se objetivava a assinatura do Termo de Consentimento, o estabelecimento de rapport e a aplicação dos instrumentos BDI, BAI e EFN. Fase Psicoterapêutica: ocorrida em 8 sessões, com uso de estratégias psicoterapêuticas que compreenderam o pólo de intervenções suportivas, do contínuo suportivo-expressivo. 162 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Avaliação da Fase Final: na décima sessão foi realizada uma avaliação do processo pela paciente e pela estudante/psicoterapeuta e reaplicadas as escalas de auto-relato. Follow-up: conduzido pela estudante/psicoterapeuta responsável pelo caso, momento no qual os recursos grupo de observadores e gravador não foram utilizados e as escalas foram reaplicadas. Queixa: a participante refere dificuldades relacionais com pessoa de convívio íntimo e consigo mesma. Foco: modo como a participante se relaciona com as pessoas de seu convívio íntimo e consigo mesma, envolvendo expectativas apresentadas e exploração de conteúdos latentes relacionados. Objetivos: refletir sobre modos como a participante estabelece seus padrões de relacionamento e ampliar conhecimento sobre queixa manifesta. Síntese de Resultados No início do processo, o grau de depressão, medido pela BDI, foi classificado como moderado; ao término, houve redução para mínimo. No follow-up, o grau moderado foi reavaliado. Em relação à variável ansiedade, tal como avaliada pela BAI, no início do processo foi observado grau moderado, o qual se manteve até o final. No follow-up, o grau observado foi mínimo, havendo, portanto, decréscimo em relação aos momentos inicial e final da PBP proposta. Sobre o ajustamento emocional/neuroticismo, considerando-se os escores padronizados da escala geral, foram verificadas alterações nos três momentos do processo: no início, 128,3; no final, 96,4 e no follow-up, 94,8. Em relação aos estudos de validação do instrumento, o esperado em termos globais seriam escores entre 80 e 120 (Hutz & Nunes, 2001). O observado no estudo de caso em relato sugeriu que em relação à variável neuroticismo, foram verificadas mudanças quando se comparou o desempenho da participante no início do processo, em relação aos outros dois momentos. Ao se analisar os desempenhos da participante nas quatro subescalas da EFN em separado, foi observado que no início da PBP todos os escores padronizados foram altos: N1=32,0; N2=28,1; N3=33,5 e N4=34,7. Ao término do processo, as mudanças foram assim avaliadas: 19,2 em N1; 24,7 em N2; 26,6 em N3 e 25,9 em N4. Esses novos escores sugeriram alterações Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 163 significativas nos itens avaliados na primeira sessão. Quando se considera que resultados muito altos, como os observados no início, podem estar relacionados a desajustes emocionais (Hutz & Nunes, 2001), foi verificado que a participante obteve mudanças positivas impulsionadas por seu processo, especificamente no que dizia respeito ao modo como estava se ajustando emocionalmente nesse seu momento de vida. No follow-up, as mesmas variáveis foram reavaliadas e os escores padronizados foram os seguintes: 20,3 em N1; 23,3 em N2; 24,4 em N3 e 26,8 em N4. Houve, portanto, indícios de que as alterações observadas quando do término da PBP se mantiveram praticamente inalteradas no acompanhamento, feito seis meses após. Isso sugeriu que as eventuais mudanças obtidas ao longo do processo, pelo menos no que dizem respeito à variável ajustamento emocional, foram mantidas quando comparadas ao início. Conclusões No caso relatado, no qual a participante apresentou queixas relacionais, foram tomadas como medidas de possíveis mudanças escalas do tipo self-report. Em relação aos objetivos propostos, algumas observações merecem destaque: • Os dados obtidos via aplicação da BDI, indicaram que do início ao fim do processo proposto, houve mudanças positivas no que diz respeito à depressão, o que não foi mantido no momento de follow-up. • Quando a BAI foi utilizada como medida, do início ao fim do processo houve manutenção no grau de ansiedade e no follow-up houve ganho em relação aos outros dois momentos. • Na avaliação global feita através da EFN, foram verificadas mudanças positivas no ajustamento emocional da participante, quando o desempenho nos escores padronizados obtidos no início foi comparado ao do término e ao do follow-up. • A qualidade da aliança estudante/psicoterapeuta e terapêutica participante, construída demonstrada pela tanto dupla pela disponibilidade interna de ambas em explorar o foco da psicoterapia, tanto quanto pela empatia da primeira, favorece o entendimento das mudanças observadas, sugerindo que a PBP proposta foi bem-sucedida. Essa constatação se deu com base nos instrumentos propostos como medida de mudança, o que era objetivo específico do estudo, mas também esteve Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 164 amparada nas discussões empreendidas pelo grupo de alunos envolvidos e pelo supervisor. Isso pôde ser confirmado no follow-up, visto que a participante retornou e manteve sua postura colaborativa. Extrapolando-se os objetivos do estudo, foi observado que a gravação e a observação sistemática facilitaram a análise das sessões nas supervisões e auxiliaram a terapeuta na condução do processo. Referências Cunha, J. A. (2001). Manual da versão em português das Escalas Beck. São Paulo: Casa do Psicólogo. Hutz, C. S. & Nunes, C. H. S. S. (2001). Escala Fatorial de Ajustamento Emocional/ Neuroticismo. São Paulo: Casa do Psicólogo. 165 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Psicoterapias psicodinâmicas breves com enfoque preventivo: pesquisa de resultados e acompanhamento Tales Vilela Santeiro Universidade de Franca [email protected] Palavras-Chave: estudo de caso clínico; psicoterapia focal; prevenção; clínica-escola; formação de psicoterapeutas Resumo Este relato é uma continuidade das pesquisas que deram origem à Tese defendida pelo autor no Programa de PósGraduação em Psicologia como Profissão e Ciência da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (Santeiro, 2005). Naquele momento foi realizado um levantamento sistemático da produção bibliográfica sobre as PBP e agora a proposta assume o caráter de um estudo empírico na busca de exploração de aspectos do processo psicoterapêutico. Para tanto, recorreu-se a processos conduzidos por estudantes de psicologia, que atuaram como terapeutas. As PBP definem-se por visarem atendimentos de curto prazo e que seguem orientações embasadas na teoria psicanalítica. Essa modalidade de psicoterapia, para ser considerada breve deve, além de ser circunscrita temporalmente, obedecer a outros critérios, como por exemplo, o estabelecimento de um foco a ser trabalhado, a definição dos objetivos a serem alcançados e a existência de um planejamento de estratégias. Disposição face-a-face entre terapeuta e paciente, flexibilidade e atividade do terapeuta são outras características peculiares. Algumas das estratégias referidas e que são de uso corrente em psicoterapias psicodinâmicas de modo geral e também nas PBP são as de apoio, situadas no escopo das psicoterapias suportivas ou supressivas, e as de esclarecimento e transferenciais, situadas no campo das psicoterapias expressivas ou exploratórias. A estratégia expressiva seria aquela que tem por objetivo ajudar o paciente a compreender o sentido latente de seu comportamento e basicamente objetiva a Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 166 obtenção de insight, através do uso sistemático de interpretações e com ênfase nas transferenciais. A suportiva, seria um tipo de estratégia indicada para pacientes com funcionamento psicológico e adaptativo menos fortalecido, sendo apontada como estratégia mais pragmática e, portanto mais adequada a contextos de psicoterapias com término preestabelecido; nelas o uso da interpretação transferencial cede espaço às extratransferenciais. É necessário frisar que o uso de estratégia situada num ou noutro pólo do contínuo suportivo-expressivo é correspondente ao modo como predominam as intervenções do terapeuta, porque em PBP ampla variedade de intervenções têm sido empregadas, baseadas em ambas as estratégias, o que vai depender dos recursos da dupla paciente-terapeuta. Ter em mente o que seriam algumas dessas características básicas de uma PBP favorece o entendimento de como essa modalidade de atendimento pode ser uma opção adotada no cenário brasileiro e de modo ainda mais específico no institucional, onde as clínicas-escola se enquadram. As psicoterapias têm sido amplamente reconhecidas como um dos pilares para a resolução de problemas de saúde mental, ao lado da farmacoterapia, da reabilitação psicossocial e profissional, dentre outras. Desse modo, diante do imenso contingente de pessoas que atualmente sofre de perturbações mentais ou comportamentais no mundo todo e igualmente diante da pequena parcela delas que desfruta de tratamento é que a Organização Mundial da Saúde tem salientado os cuidados com a saúde mental imprescindíveis. As clínicas-escola, enquanto locais que colaboram para o atendimento à saúde pública e cujos objetivos primordiais voltam-se às questões de ensinoaprendizagem e de pesquisa, devem centralizar esforços para melhor exercer e fomentar discussões e práticas preventivas. Estas, inclusive para evitar contrasensos, deveriam incluir como alvo de cuidados a própria comunidade acadêmica e de modo especial a parcela de profissionais em formação na área da Saúde Mental, o que não tem sido constatado em nossa realidade, salvo exceções. Os atendimentos psicológicos realizados em clínicas-escola têm ensejado reflexões de natureza teórica, de pesquisa e de prática de modo crescente. Essa evolução tem se dado nas psicoterapias de modo geral e nas PBP, a ponto de atualmente contar com expressivo rol de publicações, muitas das quais têm a clínica-escola como objeto de estudo e como geradora de dados passíveis de investigação. 167 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Por outro lado, é sabido que a entrada no mundo universitário é um dos momentos da vida de um jovem que podem levar a dificuldades adaptativas. Estas decorrem de mudanças nos mais diversos níveis, que incluem mudanças de papéis diante dos pares de iguais, diante da família e de si mesmo. A iminência de adotar um papel mais independente no início do curso escolhido, inclusive do ponto de vista profissional e financeiro, coincide com uma das maiores crises do ciclo vital humano, a adolescência. Desejos e medos, sentimentos de onipotência e impotência se coadunam e muitas vezes colidem e desse modo, alterações no humor, no grau de ansiedade e no modo como o calouro se ajusta emocionalmente, podem ser algumas das respostas a esse novo momento. Considerando-se essas questões, acredita-se que um estudo que contemple em sua amostra universitários, os graus de depressão, de ansiedade e de ajustamento emocional podem estar alterados, e não necessariamente estarão alterados. Medidas objetivas sobre essas variáveis podem, num processo de PBP, serem tomadas como critérios para análise de possíveis mudanças. Ao lado de outras medidas possíveis, as do tipo self-report têm sido amplamente utilizadas no âmbito clínico e correspondem a uma tendência em pesquisas clínicas, ao lado das técnicas projetivas e de entrevista. Sabendo-se que em Saúde Pública a depressão e a ansiedade são dois dos transtornos que mais acometem a população como um todo e também os jovens, sabendo-se que a depressão tem sido um dos mais investigados e que em PBP tem havido poucos estudos que contemplam participantes adolescentes, a proposta foi pensada e os objetivos da mesma puderam ser determinados, os quais serão esclarecidos na seqüência. Objetivos Verificar possíveis mudanças ocorridas após condução dos processos de PBP, quanto às variáveis graus de depressão, de ansiedade e de ajustamento emocional/neuroticismo, via aplicação de instrumentos padronizados (escalas do tipo self-report). Reavaliar as mesmas variáveis após 6 meses dos términos dos processos (follow-up), através de reaplicação dos instrumentos padronizados. Reavaliar possíveis mudanças ocorridas após 6 meses dos términos dos processos (follow-up), via aplicação de instrumento subjetivo (entrevista semiestruturada). 168 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 A partir das possíveis mudanças ocorridas, pode ser dito que processos de PBP conduzidos por psicoterapeutas inexperientes são bem-sucedidos? Isto é, a proposta de atendimento oferecida aos calouros é eficiente para os casos estudados? Devido a limitações de espaço, considerar os objetivos anteriores do ponto de vista quantitativo. Método Participantes A amostra foi composta por calouros voluntários de curso de Psicologia, matriculados em instituição de ensino da rede particular, situada no interior paulista (N=6), com idades entre de 18 a 25 anos. O estudo teve início com 8 voluntários, mas no decorrer do processo houve uma desistência e um dos atendimentos teve que ser interrompido, devido a problemas pessoais do estudante/psicoterapeuta. Como é sabido que as PBP exigem indicações específicas, alguns critérios de exclusão foram respeitados: estudantes que apresentassem co-morbidades ou estado geral de funcionamento muito comprometido (psicóticos, dependentes químicos, dentre outros). Foram excluídos, ainda, menores e pessoas que já estivessem em terapia no momento de realização da pesquisa e/ou que não demonstrassem grau mínimo de motivação para um processo psicoterapêutico, avaliada por texto escrito no qual deveriam explicitar os porquês de fazer uma psicoterapia. Foi devidamente verificada e excluída a possibilidade de que os estudantes/terapeutas ou os observadores dos processos mantivessem algum grau de contato pessoal, prévio ou atual, com os participantes. Psicoterapias Os participantes foram submetidos a processos individuais de intervenção breve de orientação psicodinâmica, norteada a partir de focalização, objetivos e planejamento de estratégia terapêutica. Os atendimentos foram semanais e totalizaram 10 encontros; destes, o primeiro e o décimo foram previstos para aplicação dos instrumentos. A entrevista de follow-up foi realizada seis meses após o término dos processos. Na entrevista de follow-up, além dos dois instrumentos descritos foi utilizada uma entrevista semi-estruturada, composta por 15 tópicos, inspirada em questionário desenvolvido por Azevedo (2004), versando sobre como o próprio Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 169 paciente avalia seus ganhos ou não com seu processo psicoterapêutico, bem como os aspectos do serviço oferecido. Estudantes Atuaram como psicoterapeutas seis estudantes do 4o ano do Curso de Psicologia, todas mulheres, entre 21 e 45 anos de idade, com estágio na área de psicodiagnóstico concluído e matriculadas na disciplina TEAP. Cada estudante se responsabilizou por um paciente. Os atendimentos foram observados por pequenos grupos de alunos, entre 2 e 4, em sala de espelho unidirecional. Instrumentos Escala de Depressão Beck/Escala Beck de Ansiedade– BDI/BAI (Cunha, 2001). Escalas de auto-relato, ambas com 21 itens, cada um com quatro alternativas, desenvolvidas para a avaliação da intensidade da depressão e da ansiedade. Tratase dos instrumentos mais utilizados em pesquisas em psicoterapias e em PBP (Santeiro, 2005). Escala Fatorial de Ajustamento EmocionalNeuroticismo – EFN (Hutz & Nunes, 2001). Instrumento de auto-relato, com 82 itens, que corresponde a uma medida de Neuroticismo/Estabilidade Emocional segundo quatro facetas: vulnerabilidade, desajustamento psicossocial, ansiedade e depressão. Procedimento Composição da amostra: os participantes foram selecionados dentre os alunos do primeiro ano do curso de Psicologia, que atenderam, como voluntários, a um convite para a pesquisa. Dentre estes, foram selecionados 8, basicamente em função dos limites de estudantes/terapeutas e tempo de supervisão/caso disponíveis. Além disso, foi considerado outro critério para aceite ou não do interessado, que foram as respostas dadas a um breve questionário que tinha função de triagem, já que não eram pacientes já triados pela clínica-escola, cujos tópicos versavam sobre: 1) experiência prévia com psicoterapia pessoal; 2) uso de algum tipo de medicação e em especial psicotrópicos; 3) por que fazer psicoterapia neste momento de sua vida? e 4) como se percebe, hoje, como pessoa? Essas questões tinham como objetivo verificar a existência de algum grau de comprometimento mais grave por parte de algum dos interessados. Por exemplo, voluntários que tomassem medicação psicotrópica, pessoas que não se justificassem sobre os porquês de se Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 170 submeter aos processos e que não tivessem grau de auto-percepção que indicasse noção de si mesmo seriam excluídas. Cabe observar que anteriormente a todo o processo de pesquisa, o projeto da mesma foi devidamente analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Franca. Avaliação da Fase Inicial: os objetivos do primeiro encontro foram: informar sobre os objetivos da pesquisa e da gravação das sessões; obter assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; estabelecer rapport; e aplicar os instrumentos BDI/BAI e EFN. Fase psicoterapêutica: ocorrida em 8 sessões. Para o registro fidedigno das mesmas, foram gravadas em áudio e posteriormente transcritas pelos observadores. Uma vez realizadas as transcrições, estas foram discutidas nas supervisões. Em alguns casos considerados mais graves (a partir das avaliações realizadas com base nos instrumentos aplicados no primeiro encontro), os relatos foram analisados com pormenores pelo supervisor responsável. De modo geral as transcrições embasaram as discussões e auxiliaram na definição das estratégias terapêuticas a serem utilizadas e que compreenderam principalmente intervenções do pólo suportivo, do contínuo suportivo-expressivo (De la Parra, 2004). Avaliação da Fase Final: na última entrevista foi realizada uma avaliação do processo pelo paciente e pelo estudante/terapeuta e aplicados novamente os instrumentos de auto-relato. Queixas: os participantes tiveram como queixas questões que no geral voltavam-se ao modo como lidavam consigo mesmo e com outros, em especial com membros da família de origem (irmãos, pai, mãe). Alguns também buscavam espaço para melhor compreensão sobre como lidar com situações estressoras, que alguns casos envolviam eventos relacionados à vida universitária (conflitos com colegas de república e de sala, com professores) e com namorados. Focos: os processos foram focalizados, no geral, nos temas relacionais trazidos como queixa, no sentido de que se buscou explorar como os padrões de relacionamento eram vividos e em como se davam as expectativas para consigo e para com os outros nessas relações, incluindo-se tentativas de exploração de conteúdos latentes. Objetivos: propiciar espaço para reflexão sobre questões relacionais trazidas como queixas e para, em última instância, obter auto-conhecimento. Follow-Up: realizado num único encontro, onde se aplicou uma entrevista semiestruturada e as escalas já descritas. Três das entrevistas foram feitas pelos Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 171 estudantes condutores da PBP e as outras três pelo pesquisador, diante de impossibilidade dos antigos estudantes. Nesse momento não estavam presentes observadores e também não houve gravação. Resultados Em relação à variável depressão, medida pela BDI, foi observado que 50% dos casos estudados obtiveram ganhos, passando de graus moderados no início dos processos para leve em dois casos (P1 e P6), e de grau moderado para mínimo num caso (P3). Os demais três dos casos (P2, P4 e P5) mantiveram graus mínimos de depressão tanto no início, quanto no final dos processos. No follow-up, dois dos participantes que no início dos processos apresentaram graus moderados de depressão reapresentaram mesmo desempenho (P1 e P3). Um deles passou de moderado a mínimo (P6). Após seis meses do término, o P2 apresentou grau mínimo novamente, o P4 se recusou a responder ao BDI e o P5 apresentou acréscimo no grau de depressão (leve), quando comparado o seu desempenho no início e fim do processo (Quadro 1). Em relação à variável ansiedade, medida pela BAI, foi observado que 83% dos casos mantiveram mesmo grau no início e fim dos processos (P1, P2, P3, P4 e P5). Apenas o P6 apresentou ganhos, passando de grau grave no início do processo para leve no final. No follow-up deste último caso, houve acréscimo no grau de ansiedade observado no final do processo, mas ainda assim manteve decréscimo em relação ao início (grau moderado). Na entrevista de seguimento dos outros cinco casos, em 17% dos casos (P1) houve acréscimo no grau de ansiedade em relação ao início e final do processo, passando de leve para moderado; em 33% (P2 e P 5) essa variável se manteve estável (mínimo nos três momentos); em 13% não foi possível reavaliar (P4) e em 13% o grau de ansiedade diminuiu em relação aos dois momentos anteriores, de moderado para leve (P3) (Quadro 1). Em relação à variável ajustamento emocional/neuroticismo, medida pela EFN, nas escalas gerais de todos os casos estudados, foi observado em 73% deles praticamente mesmo desempenho no início e fim dos processos e no follow-up (P1, P2, P3, P5 e P6), sendo que a maioria obteve escores padronizados em acordo com os estudos de validação do instrumento (média 100 e desvio padrão de 20). Em 17% dos casos (P4), essa variável não pôde ser reavaliada, por recusa do participante (Quadro 2). 172 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Como já descrito no método, no follow-up também foi realizada uma entrevista semi-estruturada, que forneceu dados complementares sobre como foi a percepção subjetiva dos participantes sobre os processos, para que se pudesse contrapô-la às informações objetivas coletadas via instrumentos de auto-relato padronizados. Por exemplo, quando indagados sobre se notaram alguma melhora na sua capacidade de funcionamento ou rendimento, 17% acreditaram que não, contra 17% que ficaram em dúvida e 66% acreditaram que sim. Destes últimos, num total de 10 respostas, 40% notaram melhoras no relacionamento com familiares; 40% no relacionamento com amigos, vizinhos ou colegas; 10% no rendimento no trabalho e 10% no intelectual. Isto é, alguns pacientes observaram melhoras em mais de um setor de suas vidas. Noutra questão, que fazia referência à percepção do papel da psicoterapia no enfrentamento de suas dificuldades, 17% estiveram em dúvida, contra 66% que acreditaram que sim, sendo que neste item um dos entrevistadores não coletou resposta. Quando questionados sobre se havia alguma sugestão para melhorar o atendimento oferecido, 17% disseram que não e 83% salientaram que a estrutura física e em especial a acústica da clínica-escola fossem melhoradas. Quadro 1. Resultados do BDI e BAI de cada participante (P), no início, final e follow-up. Escala BDI BAI (grau) (grau) Início Final Follow-Up Início Final Follow-Up P1 27 13 24* 11 18 27* P2 4 5 1* 5 4 3* P3 29 9 26 25 24 18 P4 8 0 (--)* 8 0 (--)* P5 10 5 15 8 2 8 P6 21 15 11 36 15 21 Caso *Indica follow-up realizado pelo coordenador do projeto. --Indica recusa do paciente em responder ao instrumento. 173 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Quadro 2: Resultados da escala EFN de cada participante (P), no início, final e follow-up. Escala EFN Escores Padronizados Desajustamento Vulnerabilidade Início Final F-U P1 32,0 32,0 P2 18,5 P3 Ansiedade Psicossocial Início Depressão Escala Geral Final F-U Início Final F-U Início Final F-U Início Final F-U 34,0* 24,2 29,6 24,2* 28,5 26,6 25,3* 34,7 34,7 34,7* 119,4 122,9 118,2* 17,7 17,7* 20,8 20,8 20,8* 22,7 19,7 17,5* 21,1 19,9 21,8* 83,1 78,1 77,8* 32,0 19,2 20,3 28,1 24,7 23,3 33,5 26,6 24,4 34,7 25,9 26,8 128,3 96,4 94,8 P4 28,2 17,7 --* 20,4 23,3 --* 27,5 17,5 --* 24,0 24,0 --* 100,1 82,5 --* P5 32,0 30,2 32,0 24,4 23,3 23,3 31,9 31,9 33,7 24,8 22,7 34,2 113,7 107,1 123,2 P6 32,0 30,2 30,2 26,2 25,2 21,3 33,5 33,5 32,2 34,7 24,0 31,9 126,4 112,9 115,6 Caso *Indica follow-up realizado pelo coordenador do projeto. --Indica recusa do paciente em responder ao instrumento. FU indica follow-up. Conclusões Quando se procura integrar todos os dados obtidos no início e término dos processos de PBP propostos, bem como no momento de follow-up, foi verificado que cada um dos participantes apresentou evolução particular. É necessário aprofundamento e maiores discussões dos casos, o que não é objetivo neste momento. Entretanto, de modo geral, pôde ser observado que os processos conduzidos por psicoterapeutas inexperientes são bem-sucedidos, principalmente do início ao término dos processos. No follow-up os ganhos obtidos sobre as variáveis estudadas via instrumentos padronizados nem sempre foram mantidos, embora na entrevista semi-estruturada tenham sido obtidos dados que questionam esses dados via impressões subjetivas. 174 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Referências Azevedo, M. A. S. B. (2004). Psicoterapia dinâmica breve: Saúde mental comunitária. 2.ed. São Carlos: RiMa. Cunha, J. A. Manual da versão em português das Escalas Beck. São Paulo: Casa do Psicólogo. De la Parra, G. (2004). Psicoterapia breve en el grupo de Santiago de Chile: La indicación adaptativa y el continuo “expresivo-de apoyo”. Em E. M. P. Yoshida & M. L. E. Enéas (Orgs.), Psicoterapias psicodinâmicas breves: Propostas atuais (pp.95-130). Campinas: Alínea. Hutz, C. S. & Nunes, C. H. S. S. (2001). Escala Fatorial de Ajustamento Emocional/Neuroticismo. São Paulo: Casa do Psicólogo. Santeiro, T. V. (2005). Psicoterapias breves psicodinâmicas: Produção científica em periódicos nacionais e estrangeiros (1980/2002), Tese de doutorado em Psicologia como Profissão e Ciência não publicada, Pontifícia Universidade Católica de Campinas. . 175 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Ser e Fazer na Arte de Papel: artepsicoterapia na clínica winnicottiana Fabiana Follador e Ambrosio 1 Tânia Maria José Aiello Vaisberg 2 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: psicoterapia; psicanálise; arteterapia; Winnicott. Resumo O presente trabalho apresenta e fundamenta uma proposta de artepsicoterapia que adota o psicanalista D. W. Winnicott como seu principal interlocutor. Traz uma narrativa psicanalítica, que apresenta brevemente a trajetória de uma paciente atendida na Oficina Arte de Papel, ilustrando este tipo de acontecer clínico. O projeto de pesquisa clínica Ser e Fazer foi criado em 1997, no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, com o objetivo de criar um espaço institucional capaz de configurar-se como campo para a elaboração de mestrados e doutorados voltados à investigação da potencialidade mutativa de enquadres diferenciados. Em suas fases iniciais, priorizou a pesquisa de enquadres artepsicoterapêuticos grupais, realizados desde uma perspectiva psicanalítica winnicottiana. A Oficina Psicoterapêutica Arte do Papel, que aqui apresentamos, corresponde a um dos subprojetos que, como os demais, fundamenta-se rigorosamente, desde pontos de vista teóricos, epistemológicos e éticos, numa visão que articula o método psicanalítico à visão blegeriana do ser humano. Fundamentos Teóricos: Mestre em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Responsável pela Oficina Psicoterapêutica Arte de Papel da Ser e Fazer: Oficinas Psicoterapêuticas de Criação do IPUSP. Membro efetivo do NEW Núcleo de Estudos Winnicottianos de São Paulo. Pesquisadora associada do grupo de pesquisa CNPq “Atenção Psicológica Clínica em Instituições: Prevenção e Intervenção” da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. 2 Professora Livre Docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Orientadora dos Programas de Pós Graduação em Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Presidente do NEW - Núcleo de Estudos Winnicottianos de São Paulo. 1 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 176 Uma Interlocução com o Pensamento Winnicottiano Seguindo as indicações de Herrmann (1979), entendemos que é imprescindível o estabelecimento de distinções entre o método psicanalítico, que se constitui como estratégia investigativa específica no campo das ciências humanas 3 , e os procedimentos que sustentam os atendimentos clínicos. Assim sendo, consideramos que o método psicanalítico é interpretativo em seus fundamentos, sem exigir, para sua concretização clínica, a enunciação de sentenças verbais interpretativas. Dizer que o método científico da psicanálise é interpretativo corresponde a conceber que toda conduta humana, por mais incompreensível que se apresente, ao primeiro olhar, está dotada de múltiplos sentidos, inscrevendo-se como acontecer humano: “É importante, pois, destacar, que a aceitação do método psicanalítico, tal como se expressa vivamente no encontro inter-humano, implica uma visão de ser humano, implica concepções de vida, de mundo, de cura e de loucura. Dizemos que uma clínica é coerente e rigorosamente fundamentada quando estão alinhados o método, a teoria, a clínica e a ética, adiantando que, desde o nosso ponto de vista, o método psicanalítico (...) harmoniza-se com uma concepção do homem como ser criador, do mundo como realidade humanamente criada e da cura como evento mutativo favorecido pelo psicanalista em respeito à condição de ser criador inevitavelmente presente no paciente. (AielloVaisberg, 2004, p.30). Consequentemente, o método psicanalítico pode fundamentar práticas clínicas diversas do dispositivo padrão, que Freud usou inicialmente para atendimento individual de pacientes diagnosticados como neuróticos, privilegiando a comunicação verbal. Abre-se, deste modo, a possibilidade para a concepção rigorosa de enquadres diferenciados, entre os quais se insere a artepsicoterapia winnicottiana, que ora apresentamos. Assim, fundamentando nossa prática clínica no estudo da obra de D. W. Winnicott, psicanalista e pediatra inglês, da qual nos apropriamos com a finalidade de propiciar encontros inter-humanos potencialmente mutativos, temos realizado diferentes grupos, que fazem uso de diferentes materialidades mediadoras, constituindo oficinas de arranjos florais, de papel artesanal, de velas ornamentais, de teatro espontâneo, de fotos, cartas e lembranças, de bordados e outras tapeçarias, de panos e linhas, de rabiscos, fantoches e outras brincadeiras, de pintura e música, e outras. Cada oficina realiza- 177 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 se como um mundo transicional que acolhe o gesto do paciente, buscando favorecer a emergência do espontâneo, que é real e criativo. A Oficina Arte de Papel, ora focalizada, caracteriza-se pela disponibilização da polpa do papel como materialidade mediadora capaz de facilitar a expressão emocional. De acordo com Winnicott (1971), experimentamos a vida na área dos fenômenos transicionais. Essa área da experiência localiza-se em um espaço potencial existente entre o bebê e a mãe, que no início ao mesmo tempo une e separa. O espaço potencial depende da experiência que conduz à confiança confiança no fator ambiental, fornecida pela manifestação do amor da mãe - e pode ser visto como sagrado pelo indivíduo porque é aí que este experimenta o viver criativo. Comunicações silenciosas, sensoriais e físicas, que acontecem antes mesmo que o bebê exista desde seu próprio ponto de vista (Winnicott, 1945), constituem um campo pré-subjetivo no qual tem lugar uma interação que permite que o bebê crie/encontre o mundo, ao mesmo tempo em que se constitui como self. Ou seja, o ser humano estabelece uma relação inicial com a realidade desde uma experiência criativa onipontente, que é justamente aquilo que vai paradoxalmente permitir que possa posteriormente aceitar a alteridade e a externalidade do mundo. Encontramos aqui uma posição absolutamente inovadora, na medida em que se concebe que a sanidade repousa paradoxalmente na loucura vivida, na experiência onipotente. Esta idéia, absolutamente revolucionária, encontra nos enquadres artepsicoterapêuticos, um campo favorável a uma pesquisa detida, que provavelmente lançará luz tanto sobre nossa compreensão dos fenômenos psicóticos como sobre as questões existenciais que são trazidas, na clínica contemporânea, por um grande número de pacientes (Kimura, 2001). O ser humano inicia seu viver a partir de um incipiente sentido de continuidade de ser – um “going on being”. Deste modo, pode-se dizer que vigora, nos primórdios da existência individual, um campo experiencial mãe-bebê que é, rigorosamente falando, pré-subjetivo (Souza, 2001) 4 . Desde tal perspectiva, admite- Vários métodos científicos rigorosos podem ser usados no campo das ciências humanas: o fenomenológico, o dialético, o etnográfico, o psicanalítico e outros. 4 Souza (2001) propõe a interessante idéia segundo a qual é possível compreender a multiplicidade de teorias psicanalíticas dividindo-as em dois grandes grupos: as de base identificatória, entre as quais alinha os escritos de Balint e Winnicott e as de base intersubjetiva, rubrica sob a qual reúne as obras de Freud, Klein e Lacan. Enquanto as primeiras consideram que não se pode falar em sujeito no momento inicial, que teria um caráter de indiferenciação, correspondendo ao que se compreende winnicottianamente como um "momento puro feminino", que é a condição básica para a constituição de um ser 3 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 178 se haver, no ser humano, uma tendência para ser, uma abertura para o mundo, que, quando devidamente sustentada por um ambiente suficientemente bom, permitirá a integração pessoal, a instalação do ser no corpo e o estabelecimento de relação com a realidade. Cabe ao cuidador maternal a tarefa de facilitar os processos de desenvolvimento do bebê, tornando possível a realização de seu potencial humano. Disso resulta uma continuidade da existência, um senso de existir, um senso de self, a partir do qual se poderá alcançar uma posição existencial caracterizada, paradoxalmente, por vinculação ao outro e autonomia. Vemos, assim, que a criatividade não aparece, na obra winnicottiana, como talento que premia diferentemente os indivíduos. De fato, a criatividade é dimensão inerente ao estar vivo, condição que se contrapõe ao mero sobreviver. No viver verdadeiro, que é o viver criativo, descobrimos que tudo o que fazemos fortalece o sentimento de existência, na medida em que a criatividade é dimensão própria do modo humano de estar vivo: “O impulso criativo é algo que pode ser considerado como uma coisa em si, algo naturalmente necessário a um artista na produção de uma obra de arte, mas também algo que se faz presente quando qualquer pessoa – bebê, criança, adolescente, adulto ou velho – se inclina de maneira saudável para algo ou realiza deliberadamente alguma coisa.” (Winnicott, 1971a, p.100). No sentido winnicottiano, ser vivo e ser criativo é um mesmo e único fenômeno humano. Esta idéia pode parecer simples e óbvia, mas é prudente contextualizá-la como emergente de uma teoria de desenvolvimento emocional que foi elaborada a partir da experiência psicanalítica com crianças e pacientes difíceis. Tal teoria considera que a vida humana tem início num estado indiferenciado e não integrado, durante o qual o bebê existe como que fusionado ao cuidador maternal e que o devir pessoal se funda primordialmente sobre a possibilidade de sustentação de um gesto criativo inicial do bebê. Diz Winnicott (1990) que na primeira mamada teórica 5 , o bebê estaria pronto para criar o seio. A mãe devotada ao seu bebê, naquele estado tão peculiar de sensibilidade às suas necessidades, facilitaria a experiência da ilusão, apresentando ao bebê exatamente aquilo de que necessita. que vai existir no tempo, as segundas operam considerando a existência, desde o início, da diferenciação sujeito-objeto. Em seu magistral artigo de 1911, Freud, ao abordar os dois princípios do funcionamento psíquico é o melhor exemplo desta idéia de um sujeito desde sempre constituído como tal. 5 “A primeira mamada teórica é representada na vida real pela soma das experiências iniciais de muitas mamadas. Após a primeira mamada teórica o bebê começa a ter material com o qual criar.” (Winnicott, 1990, pág.126). Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 179 Nesta experiência criativa onipotente, o bebê estaria acima da questão “isto foi criado ou encontrado” e poderia conviver com o paradoxo de que aquilo que criou estava ali para ser também encontrado. Um bebê ao qual fosse permitido viver esta experiência ilusória poderia ser posteriormente desiludido de modo não traumático, atravessando uma passagem existencial que se constitui como uma área intermediária da experiência, que foi designada como transicional. Esta área do viver infantil seguirá vigente por toda a vida, sob a forma da experimentação intensa que caracteriza as artes, a religião, o viver imaginativo e o todo trabalho criador (Winnicott, 1971). O que acontece quando interferências ambientais não permitiram que os primeiros tempos do viver pessoal tivessem transcorrido do melhor modo? Evidências clínicas indicam que neste caso a capacidade criadora pode ficar comprometida e que um falso self, de caráter fundamentalmente cuidador, possa ser construído como estratégia defensiva. Nesta linha, pode-se alcançar um viver normótico, mas fica comprometida a possibilidade do indivíduo se sentir vivo, real e capaz da gestualidade espontânea pela qual o si mesmo e o mundo possam se transformar continuamente. Desde uma perspectiva winnicottiana, a psicoterapia em geral, e a artepsicoterapia em particular, podem ser vistas como possibilidade de auxílio ao paciente que busca a superação de dissociações entre o falso e o verdadeiro, num sentido de maior autenticidade pessoal. Deste modo, o paciente pode ser favorecido num processo de colocação em marcha daquele potencial que ficou bloqueado por falha ambiental no início da vida. Por outro lado, o prosseguimento das pesquisas clínicas tem mostrado que nem todas as dissociações falso/verdadeiro self 6 dependem das primeiras experiências. Temos observado que quando situações traumáticas do cotidiano irrompem a experiência de ser 7 , movimentos dissociativos defensivos têm lugar, mesmo naquelas pessoas que viveram situações infantis muito favoráveis. Experiências extremas, tais como o risco de morte ou a certeza de morte próxima marcada por perdas sucessivas e radicais, como acontece com determinadas Vale aqui lembrar que o self verdadeiro não é um ente interiorizado, mas o lugar teórico onde emerge a gestualidade criadora e espontânea. 7 Consideramos fundamental compreender que não é apenas o bebê ou aquela pessoa que teve uma experiência "desafortunada" como bebê, quem fica sujeito às agonias impensáveis. O enlouquecimento é, segundo Paz (1976), uma potencialidade humana, à qual ninguém está imune e que espreita muito proximamente quando a vida é radicalmente afetada a ponto de gerar sofrimento humano insuportável. 6 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 180 doenças, são alguns exemplos clínicos que nos tem indicado que a continuidade de ser poder ser afetada a qualquer momento da vida. Assim, é importante lembrar que uma clínica que cuida da continuidade do ser pode beneficiar não apenas pessoas que padeceram de um inicio menos afortunado, como todos aqueles que, em outros momentos, sofreram invasões ambientais que lhes deixaram, como alternativas, a queda em agonias impensáveis ou a defesa dissociativa. O Ser e o Fazer na Oficina Arte de Papel Concebendo a artepsicoterapia winnicottiana como prática que permite um cuidado à continuidade do ser, num sentido que busca favorecer a superação de dissociações defensivas, apresentamos, a seguir, uma pequena narrativa, que focaliza o percurso de uma paciente da Oficina da Arte de Papel. Tina conheceu o grupo Arte de Papel quando fazia parte de um atendimento no IPUSP destinado aos aposentados. Ao final do grupo, soube da existência de oficinas psicoterapêuticas e, como acreditava precisar de alguma ajuda “prolongada”, inscreveu-se. Começou a freqüentar a oficina no grupo das 12h00. Contou-nos que trabalhava numa emissora de TV com o planejamento e execução de cenários e que havia sido demitida. Sentia-se perdida com o longo tempo disponível e não conseguia decidir qual atividade a inseriria no mercado de trabalho. Todas as semanas, Tina trazia elementos como quem “estuda” para alguma apresentação. Por muito tempo, comentou que não conseguia fazer papéis como Gina, tão lisos e com uma quase perfeita graduação das cores. Também não encontrara algum elemento como as folhas de Eduardo, que ela sabia serem importantes para ele, sabia que se tratava de algo mais intenso que uma preferência, mas não conseguia descrever. Também não fazia quadros como Mara. Pedia, incessantemente, à terapeuta 8 , que lhe contasse qual era a sua marca. Conheceu os papéis de duas cores, os lisos com perfume, com diferentes texturas, quadros de papel, blocos para anotações revestidos com os papéis que fizera na oficina, enfim, Tina e o grupo percorreram muitos estilos e possibilidades com a polpa de papel. Apresentou a terapeuta à sua mãe, pois estava preocupada com uma eventual depressão, em vista da viuvez recente. Tínhamos a impressão de que tentava fazer com que ela também aproveitasse do grupo. Por fim, percebeu que o grupo era seu espaço e que a presença da mãe constrangia seus gestos. Chegando ao período de férias, entendeu que seu estilo pessoal estava relacionado a sua freqüente pesquisa por materiais, que sua singularidade pessoal relacionava-se não a um determinado material – folhas, conchas, linhas – ou a uma certa técnica para fazer folhas de papel. Transitava relativamente bem por todos esses campos e era exatamente essa característica que a distinguia. Passamos alguns meses sem notícias de Tina. Voltara a trabalhar na emissora de TV, agora como freelance. Algumas vezes comunicava-se com 8 Este atendimento foi realizado por Fabiana Follador e Ambrosio. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 181 a terapeuta para pedir ajuda na escolha de materiais diferentes para realizar alguma tarefa. Tina e o marido sempre sonharam com o momento em que sairiam da cidade “grande”. Guardaram as economias dos muitos anos de trabalho e adquiriram um terreno em uma cidade do litoral de São Paulo. Construíram sua casa aos poucos, minuciosamente, e planejavam dedicar-se a um pequeno comércio. Em paralelo à edificação da casa, pesquisavam qual seria o ramo de atividades e cogitavam mudar-se em breve. Pouco tempo antes dessa mudança, seu marido faleceu num acidente de carro. Semanas depois desse triste ocorrido, Tina voltou à Oficina. Mesmo incerta quanto aos nossos horários e a sua possibilidade de freqüentar o grupo, Tina nos visitou e participou do encontro. Voltou a fazer parte do grupo. Trouxe-nos seus papéis, que havia guardado cuidadosamente e não mais mexera e constatou que haviam sido corroídos por traças. Havia “caminhos” e o aspecto nos pareceu muito interessante. Começamos um longo período confeccionando materiais: cadernos, blocos, agendas. Tina dispôs de um intervalo demorado de familiaridade com suas antigas experiências. Dividiu conosco suas tristezas e dúvidas quanto aos rumos de sua vida. Havia uma enorme dificuldade em voltar para a casa na praia, em resolver se continuaria morando com a mãe. Desanimada, queixava-se da falta de amparo da sua família. Seus irmãos mantêm-se afastados de problemas familiares e, como é a única filha, sente a necessidade de cuidar da mãe. Ambas passam pelo luto da viuvez e, aos olhos dos irmãos, parecem “cuidar-se” reciprocamente. Esta decisão também é estudada, levando em consideração o relacionamento entre as duas. Além disso, sua casa no litoral é relativamente afastada da cidade e Tina vê alguns problemas para sua mãe adaptar-se à nova vida. Além de, sem dúvida, não estar certa se ela gostaria de mudar-se. Tina encontra-se firmemente disposta a estabelecer-se no litoral, em suas palavras “na nossa casa”, com vontade de seguir com os planos que fizera com o marido, mesmo que, desta vez, vá realizá-los sem contar com sua companhia. Ainda que breve, esta narrativa parece-nos suficiente para dar uma visão do tipo de trabalho realizado na Oficina Arte de Papel. Fundamentalmente, parece-nos apontar tanto para os movimentos da paciente no sentido de busca de modos autênticos de ser, vale dizer, de modos de inserir-se no mundo de forma pessoal e autêntica, como para o fato da Oficina se constituir como ambiente sustentador e suficientemente bom. Percebe-se que o acolhimento sustentado dos gestos da paciente, conjugando a compreensão psicanalítica e o holding, constitui-se como intervenção clínica fundamental. Há, inclusive, que notar que o holding é um tipo de ato terapêutico que não dispensa, muito pelo contrário, a compreensão analítica. De fato, é apenas a sensibilidade clínica, aliada a uma compreensão aprofundada aos processos de constituição do self e da trajetória dramática de cada paciente, em sua singularidade histórica, o que possibilita um holding que seja, ele próprio, self verdadeiro do analista presentificado como gesto terapêutico. 182 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Referências Aiello-Vaisberg, T. M. J. Ser e Fazer: interpretação e intervenção na clínica winnicottiana. In Aiello-Vaisberg, T. M. J. Ser e Fazer: enquadres diferenciados na clínica winnicottiana. Aparecida: Idéias e Letras, 2004. p. 23-58. Freud, S. (1911) Dois Princípios do Funcionamento Mental. 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Rio de Janeiro: Imago, 1990. 222p. 183 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 À guisa de “resultados de pesquisa” Jussara Falek Brauer Instituto de Psicologia da USP École Lacaniènne de Psychanalyse [email protected] Para a minha equipe de tecelãos 1 Resumo Pesquisando, em bases psicanalíticas, as condições necessárias à constituição de uma unidade de tratamento voltada à inclusão escolar e social de crianças que apresentam distúrbios graves, fomos colhidos por um “resultado” paradoxal: a superação, por parte dos pacientes, dos impasses em que se constituiam seus distúrbios, e por outro lado a resistência de suas mães em acolher a mudança em que isto consistia.O texto que segue propõe-se a refletir sobre este paradoxo.Define de forma breve a hipótese de trabalho, feita a partir da teoria lacaniana do distúrbio da criança, para depois centrar-se no problema desencadeado pela demanda de laudos psicológicos, utilizados pelas mães para manter a condição social de seus filhos, a condição por elas nomeada como aposentados.Retoma a materia legal referente ao assunto, o que permite que se faça uma leitura do têrmo aposentadoria que propõe tratar-se de um significante, que dá forma a um imaginário social e familiar, e não de uma condição social determinada legalmente. O texto se fecha com uma retomada da noção de demanda tal como ela é proposta por Lacan, um operador no trabalho analítico, propondo que a demanda por laudos psicológicos seja tomada neste viés, após considerar a impossibilidade técnica do psicólogo e do psicanalista para a emissão de laudos preditivos capazes de assessorar uma decisão com base em um prognóstico. Introdução Quem desenvolve sua clínica junto à criança está normalmente exposto a um zum zum zum, a um ruído, que é permanente. Trata-se da solicitação freqüente por parte da escola e da família para que sejam emitidos laudos contendo a avaliação psicológica da criança. Como em um trabalho de análise, que é o trabalho que faço, a única avaliação útil, no meu entendimento da coisa, é aquela que permite discernir se o problema apresentado pela criança é passível ou não de análise, e de que modo é possível fazê-lo, esse tipo de solicitação costuma cair, dentro do que entendo da ferramenta que utilizo, em um vazio conceitual. No texto que segue relatarei aquilo que foi uma “descoberta” relativa a este tipo de solicitação, uma descoberta que fiz ao longo do 1 Agradeço à Fernanda, Katia, Renata e Cristina pelo levantamento de documentos que permitiram a elucidação da questão jurídica Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 184 desenvolvimento de minha pesquisa sobre esta clínica, uma reflexão sobre o assunto. O texto é também uma tentativa de recolocar nossa contribuição profissional no lugar que lhe cabe. Desenvolvendo desde 1987 um trabalho terapêutico junto a crianças que apresentam distúrbios muito graves que a psiquiatria diagnostica como psicose, autismo, deficiência mental e outros assimilados, cheguei a propor em 2002 um projeto temático de equipe voltado à inclusão social e escolar de nossos pacientes. Este projeto calca-se na demanda social aberta em decorrência da aprovação no Brasil de uma lei datada de 1999, que, seguindo as decisões de uma convenção da UNESCO denominada Convenção de Salamanca, determinava a inclusão escolar da criança deficiente. Uma vez que esta intenção havia sido formulada em um texto com valor de lei, era o caso de criar, de formular caminhos que possibilitassem fazer da intenção uma realidade viável, e este era e continua sendo o objetivo de nosso projeto: constituir, com base em fundamentos psicanalíticos de vertente lacaniana, uma unidade de tratamento que se ocupe da inclusão social e escolar de nossos pacientes. Meu projeto investiga as condições necessárias para a criação de uma instituição deste tipo, uma instituição constituída a partir de pressupostos psicanalíticos, exclusivamente. O trabalho, que pode bem ser qualificado de ousado e visionário, tem se realizado com sucesso. Recebemos experimentalmente alguns poucos pacientes com distúrbios bastante acentuados, e já conseguimos inserir em classes normais dois deles. Quanto aos demais, depois de transcorrido um tempo de aproximadamente um ano de trabalho individual feito na direção do estabelecimento de algum vínculo com nossos monitores, eles têm convivido entre si e conosco, desenvolvendo diversas atividades em grupo. E de quando em quando somos assaltados pelos pedidos de laudos avaliadores. Esses pedidos costumam convulsionar a equipe, que no princípio desenvolveu um funcionamento defensivo em que se tentava um descomprometimento com o pedido, buscando transferir para os demais membros da equipe o encargo incômodo. Confusão. Entre as mães falava-se de benefícios tais como a possibilidade de obter uma carteirinha que daria direito ao uso de ônibus gratuitamente, e depois se começou a falar em aposentadoria das crianças. Custamos a enfrentar esse disque-disque. Finalmente, no ano passado, depois desse zum zum zum ter insistido muito, começamos a nos inteirar daquilo de que se tratava, e a coisa aconteceu assim: Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 185 No meio do ano de 2005 organizamos uma reunião com mães e pais de nossos pacientes, onde comunicaríamos algumas pequenas alterações de rotina e horário na TECER, alterações estas que haviam sido pensadas para que pudéssemos nos organizar em vista de uma tentativa de investir fortemente no trabalho de recuperação escolar, para dar apoio a algumas de nossas crianças que estavam por assim dizer no ponto para passar para uma classe normal. Precisávamos da participação dos pais. Nesta ocasião, paradoxalmente, retornou da parte das mães o pedido de laudos, e foi então que pudemos ouvir finalmente, foi assim que nos demos conta, de que vários de nossos pacientes eram aposentados. Mas o que seria exatamente essa aposentadoria, uma interdição judicial? Não entendíamos. De todo o modo essa aposentadoria auferia às famílias um salário mínimo mensal, um auxílio oferecido pelo governo. As outras mães reivindicavam o mesmo benefício. Todos víamos isso com maus olhos. Nossa reunião tinha sido um fracasso. Não contávamos com o apoio que havíamos procurado. Restava a pergunta: o que seria essa aposentadoria? O forte impacto desta informação sobre a equipe fez com que vários monitores saíssem do projeto repentinamente. Um pesado clima de desânimo tomou o grupo, e com o reinício das atividades, após as férias, aqueles monitores e terapeutas que restaram enunciaram em nossa primeira reunião a intenção de se desligar do projeto, para, só depois de alguma conversa, podermos nos encorajar a colher informações sobre as leis que determinam a interdição judicial, e a posição das crianças que tratamos em relação a estas leis, concluindo-se que há dois patamares para a obtenção do auxílio proposto pelo governo, um que não implica em interdição, e outro que sim. O que pretendo explorar no presente texto diz respeito por um lado à explicitação daquilo que constitui em meu entender o distúrbio das crianças que temos tratado, e, portanto o tipo de contribuição que entendo posssamos fazer à sociedade a este respeito a partir da psicanálise; em segundo lugar refletir um pouco sobre a prática dos laudos, sua demanda, suas conseqüências e finalmente num terceiro momento desenvolver uma breve reflexão sobre uma incongruência, a um mal-entendido daquilo que se lê na lei, e que engessa o profissional, inviabilizando seu trabalho na ressocialização das crianças propondo então um destino à demanda por laudos que nos é feita. 186 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 De que distúrbio tratamos Para a psicanálise que se desenvolve após Lacan a loucura é concebida como uma passagem que produz um traço, uma passagem que deve ser habitada justamente porque ela produz um traço, um traço nominativo que é justamente aquilo que permite ao seu portador incluir-se no mundo. Cito Lacan que no ano de 1969, na vigésima sessão do seminário D’um Autre à l’autre 2 , disse a seguinte frase: Um ser que pode ler seu traço, isto basta para que ele possa se reinscrever em outro lugar que não aquele de onde ele o porta. Esta re-inscrição é este o laço que o faz desde então, dependente 3 de um Outro cuja estrutura não depende dele. Já se pode intuir que é bem longo e complexo o caminho para a dedução desta hipótese psicanalítica, e não pretendo percorrê-lo no âmbito do presente texto 4 . Ela indica, no entanto, que o ser que pode ler seu traço pode inserir-se em um lugar novo, passar para outra coisa, inserir-se no universo social. E se esse traço se produz em uma crise de loucura então se torna importante habitar essa crise, para dela colher o traço que possibilitará a saída da mesma. Este o tratamento proposto para a crise, atravessá-la em busca da leitura do traço que nomeia este ser em crise. A psicanálise introduz uma forma de aproximação da loucura que é completamente diversa da forma proposta pela medicina, um percurso que está às voltas com o nome, que é uma clínica do nome, poder-se-ia dizer. Fato é que uma vez que se põe em funcionamento essas hipóteses, essas teorias, a coisa costuma funcionar. Não pretendo ater-me neste momento ao âmbito da explicitação e da dedução dessas teorias. Anuncio apenas seu efeito e o impasse que encontramos, eu e meu grupo de pesquisa, em barreiras que são colocadas no trajeto de aplicação das leis e pelas práticas desenvolvidas por alguns psicólogos e outros profissionais que se voltam ao cuidado dos loucos em nosso país. Trata-se qui de refletir sobre o lugar que cabe ao psicólogo e ao psicanalista, no que tange às solicitações que lhes são feitas a partir deste lugar. Lacan, J. Seminário D’un Autre à l’autre, 1969, lição 20 (inédito – tradução livre). Existe aqui um desacordo nas diferentes versões de transcrição deste seminário. Trata-se de um seminário ainda inédito, que circula em edições pirata. Lê-se em algumas delas independente de um Outro. Jean Allouch e seu grupo da École Lacaniènne de Psychanalyse preferem a forma como aparece acima: dependente de um Outro, que nos parece mais coerente com a teoria de Lacan, sendo esta, portanto nossa opção. 4 Ele pode ser encontrado no livro Brauer, J.F. Ensaios sobre a clínica dos distúrbios graves na infância, Casa do psicólogo, 2003. 2 3 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 187 No entanto, para que não fique no mistério a prática que venho desenvolvendo, vou fazer uma indicação que deixa transparecer a simplicidade da estratégia. Uso para isso uma metáfora que nos aproxima da figura de um jardineiro, ou enfim, de alguém que está às voltas com a terra, e que foi sugerida por Roland Léthier, parceiro em meu projeto de pesquisa: Sobre uma terra compacta, a água escorrega… ela não entra na terra, não a molha. Sobre uma terra compacta, quando se anda, não se deixa marcas. Não se deixa traços. Enquanto que sobre uma terra fofa e arejada, quando se anda marca-se o passo. Logo o passo marca o passo. E efetivamente pode-se apagar o passo. O som pas, que designa a marca, ao mesmo tempo, ele a apaga. Logo, escreve-se : pas de pas 5 . É exatamente a operação de que falamos a propósito do nascimento da escrita… Havia o signo e a leitura do signo, “pas” e escrita de “pas”, logo, escreve-se “pas de pas”. Logo, o “pas de pas” escreve que o ser já está em outro lugar. 6 Podemos ficar com essa indicação neste momento: Trata-se de “afofar a terra para que traços, passos na metáfora de Léthier, possam ir se marcando nela, para que possa produzir-se essa passagem, essa saída para um outro lugar. Pode-se dizer hoje que a hipótese se verifica, que é perfeitamente possível conviver socialmente com nossos pacientes, e por outro lado pode-se dizer também, no outro extremo, que para alguns deles a pretensão de uma inclusão escolar plena é muito ambiciosa. Há que se calcular esse alcance verificando caso a caso. Quero dizer com isso que nosso trabalho tem nos colocado a possibilidade esperançosa de um “meio termo”: nossos pacientes não são nem incapazes nem normais. Hoje, a partir de uma prática clínica que já desenvolvo há 20 anos, posso afirmar que a hipótese médica, que afirma que o autista não dispõe das células que permitem o relacionamento social 7 , que esta hipótese não se verifica nos casos que tenho acompanhado. O autismo é uma inibição radical que a criança produz para se defender de alguma agressão que o meio lhe faz, essa a minha hipótese sobre o autismo. A criança se petrifica, mas ela não é uma pedra, ela está uma pedra. E é deste modo de estar no mundo que cuidamos. Concluo esse tópico citando Lacan: A psicanálise deve ser levada a sério, ainda que ela não seja uma ciência. 8 Do francês, o que quer dizer “não há passo”. Léthier, Roland Seminário A loucura, uma escritura? Apresentado no Instituto de Psicologia da USP em fevereiro de 1999. Inédito. 7 Cf Pierre Kaufman Dicionário enciclopédico da psicanálise – verbete Autismo Infantil Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2003, pg. 56 8 Lacan, J. Seminário Le moment de conclure, 15/11/1977, inédito. 5 6 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 188 Que tipo de laudo podemos produzir Seguindo com a idéia enunciada acima, de que a psicanálise não é uma ciência, podemos acrescentar que ela é uma práxis, que ela não é preditiva porque se trabalha em psicanálise sempre no depois, a psicanálise não pode ser preditiva como a medicina o é em função de seu método de trabalho. Ela não ataca as causas para prevenir os efeitos. O conceito de causalidade no campo da psicanálise, desde Freud, vincula-se a uma sobredeterminação, a uma conjunção de fatores que coincidem formando um sintoma, casualmente. Como ficou indicado acima, uma vez que o sintoma é simbolizante, uma vez que o sintoma escreve o traço, então justamente não se trata de evitar o sintoma, de eliminar o sintoma, mas de atravessá-lo. Assim se entende a coisa no campo da psicanálise. Deduz-se daí que um psicanalista não está aparelhado para produzir laudos que tenham a competência de informar do acerto ou não de uma interdição judicial, porque uma interdição opera, intervém, em um tempo futuro e a psicanálise opera em um tempo passado. A psicanálise é regressiva. Ainda porque, citando Lacan: ...Uma psicanálise chega normalmente a seu termo sem nos informar senão pouca coisa do que nosso paciente tem de próprio em sua sensibilidade aos golpes e às cores, da prontidão de suas respostas ou dos pontos fracos de sua carne, de seu poder de reter ou de inventar, e mesmo da vivacidade de seus gostos. 9 Para depois contrapor, reafirmando o que viemos de dizer: Quanto à Psicopatologia da vida quotidiana,..., é claro que todo ato falho é um discurso bem sucedido, e mesmo bem graciosamente elaborado, e que no lapso é a mordaça que gira sobre a fala, e justo com o quadrante que é preciso para que um bom entendedor aí encontre sua meia palavra... Pois se para admitir um sintoma na Psicopatologia psicanalítica, quer seja neurótico ou não, Freud exige o mínimo de sobredeterminação que constitui um duplo sentido, símbolo de um conflito defunto mais além de sua função num conflito presente não menos simbólico, se ele nos ensinou a seguir no texto das associações livres a ramificação ascendente dessa linhagem simbólica, para aí referenciar nos pontos onde as formas verbais se Lacan, J. Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise In Escritos, Ed. Perspectiva, São Paulo, 1978, pg. 130-131. 9 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 189 entrecruzam os nós de sua estrutura - já está de todo claro que o sintoma se resolve inteiramente numa análise de linguagem, porque ele próprio é estruturado como uma linguagem, que ele é linguagem cuja fala deve ser liberada. 10 …o que teríamos a partir daí a informar num laudo, nós psicanalistas? Nada E mesmo um psicólogo, munido de testes, o que poderia ele predizer em um laudo psicológico? O que são os testes psicológicos senão situações que se oferecem à leitura, uma leitura que só se realiza a partir de referenciais teóricos determinados. Seja ela feita a partir de uma referência estatística ou a partir de uma leitura psicanalítica ou mesmo de uma referência em uma outra teoria, um teste psicológico poderá no máximo situar uma determinada pessoa em relação à média de uma determinada população. Poderá sim oferecer o retrato que o psicanalista não é capaz de fornecer, como afirma Lacan no texto citado acima, com seu instrumento: sobre a sensibilidade, a prontidão de resposta, sobre o tipo de raciocínio, sobre as preferências e habilidades da pessoa testada. Mas mesmo sendo um dado numérico obtido a partir da aplicação de um determinado teste, ele não foi tratado estatisticamente de tal modo a que possa ser preditivo. Quero dizer que não conheço estudos feitos com os vários testes psicológicos que tenham trabalhado com uma prospecção no tempo, de sorte a avaliar a evolução dos comportamentos alvo nas mesmas pessoas testadas, verificando sua variação ou manutenção, e a relação disto com fatores tipo educação, história de vida, tratamentos oferecidos ou não oferecidos, etc. Afirmar que alguém deva ser interditado como cidadão em função de um comportamento que é “anormal”, ou seja – encontra-se fora da média de uma determinada população é um passo incongruente, excessivo, se levarmos em conta a ferramenta que lhe serve de base, se esta ferramenta for um teste psicológico. Este é o meu entendimento da coisa. Eu concluiria em vista disso que nós profissionais psi não estamos aparelhados para elaborar laudos com poder de estabelecer se um cidadão deve ou não ser interditado. 10 190 Lacan, J. op. cit., pg. 133. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Isto não significa que não possamos contribuir, que devamos nos omitir, mas que nossas ferramentas não estão desenvolvidas de forma a poderem fornecer um dado preditivo que sirva de base para uma intervenção que vai operar nos direitos de cidadania num tempo futuro. Fica então a pergunta: que fazer com o pedido de laudos? As leis brasileiras que pensam o lugar social da pessoa incapaz Partimos em nosso projeto de uma lei que foi promulgada em 1999. Há, entretanto outras duas leis relativas à pessoa incapaz, que já se encontram na constituição de 1988: 1) Sessão IV, artigo 203: A assistência social 11 será prestada a quem dela necessitar, independentemente da contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: Parágrafo IV: A habilitação e reabilitação de pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária. Parágrafo V: A garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. E ainda: Capítulo VII, artigo 227, § 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança e do adolescente, admitida a participação de entidades não governamentais e obedecendo aos seguintes preceitos: II – criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de 11 191 Grifo meu. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços públicos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos. Vê-se que diante de nossa constituição de 1988 nosso trabalho enquadra-se perfeitamente naquilo que diz respeito ao fato de estarmos empenhados na habilitação e reabilitação de nossos pacientes, mas, e o que dizer com respeito aos laudos psicológicos que nos solicitam? A leitura deste parágrafo V esclarece: tratar-se-ia de atestar, de comprovar incapacidade em garantir sua própria subsistência, o que, em nossa constituição é um dever da família que, esta sim, deve comprovar não ter meios de prover a subsistência de sua prole para que possa receber o benefício que a lei lhe garante no caso de haver uma criança deficiente nesta família. Ora, isto atestar sobre a condição socioeconômica de uma família está longe de ser atribuição de um psicólogo. Trata-se aqui de um trabalho de assistente social. Já o atestado da deficiência da criança, por ater-se ao dado relativo ao desenvolvimento, desenvolvimento orgânico de habilidades, e por tratat-se de um prognóstico, seria da competência do médico, como viémos de demonstrar. Fica a pergunta: de onde veio esse descaminho, como foi que esse rio se desviou e instituiu essa prática dos laudos psicológicos? Concluo aqui reafirmando aquilo que já se encontra na letra da lei, e que nos convoca a nós psicólogos e psicanalistas ao desenvolvimento de um trabalho para o qual estamos sim habilitados, ou estamos nos habilitando, pesquisando caminhos, aquele de devolver à vida de cidadania as crianças de que nos ocupamos. É o que o projeto de pesquisa que desenvolvo tem procurado fazer. 2) Capítulo II Da Curatela Art. 1767. Estão sujeitos a curatela: I – aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil; II – aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade; 192 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 III – os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos; IV – os excepcionais sem completo desenvolvimento mental; V – os pródigos Art. 1768. A interdição deve ser promovida: I – pelos pais ou tutores; II – pelo cônjuge, ou por qualquer parente; III – pelo Ministério público. Art. 1769. O Ministério Público só promoverá interdição: I – em caso de doença mental grave; II – se não existir ou não promover a interdição alguma das pessoas designadas nos incisos I e II do artigo antecedente; III – se, existindo, forem incapazes as pessoas mencionadas no inciso antecedente. Art. 1770. Nos casos em que a interdição for promovida pelo Ministério Público, o juiz nomeará defensor ao suposto incapaz; nos demais casos o Ministério Público será o defensor. Art. 1771. Antes de pronunciar-se acerca da interdição, o juiz, assistido por especialistas, examinará pessoalmente o arguído de incapacidade. E ainda Art. 1776. Havendo meio de recuperar o interdito, o curador promover-lhe-á o tratamento em estabelecimento apropriado. Art. 1777. Os interditos referidos nos incisos I, III e IV do artigo 1767 serão recolhidos em estabelecimentos adequados, quando não se adaptarem ao convívio doméstico. É notório que nossa lei, neste tocante à curatela, pauta-se no saber médico sobre a questão da loucura e da deficiência. Ela fala em termos de “desenvolvimento mental”, em desenvolvimento, atendo-se portanto a um dado biológico, orgânico. Fica a questão: tratar-se-ia sempre de desenvolvimento? A partir da teoria psicanalítica eu afirmaria que não. Bem escrita a lei, ela prevê a possibilidade de uma recuperação, no artigo 1776. Portanto prevê que não se trataria sempre de um mal irrecuperável. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 193 Não me deterei ainda mais nos aspectos legais, que estão muito bem colocados na nossa constituição como se pode notar, mas apontarei apenas para a possibilidade de uma anulação da interdição em caso de uma recuperação, que está apontado neste artigo 1776, e que está previsto na lei. Resta perguntar da viabilidade disto a partir do momento em que alguém foi interditado judicialmente. Em nossa experiência, a simples nomeação de um distúrbio em uma criança, e a conseqüente obtenção dos benefícios de que falávamos acima colocam a criança em uma situação de superação muito problemática, a criança e também sua família e algumas vezes os próprios profissionais que se ocupam dela. Pensando na criança Vai se tornando bem claro que, para aquilo que nos atinge enquanto profissionais que nos ocupamos de crianças que apresentam distúrbios graves, este extremo da interdição judicial não se coloca. A criança é, perante a lei, incapaz, não há porque interditá-la uma segunda vez. No entanto pudemos constatar o quanto o lugar social que a loucura tem ocupado no Brasil, e que se faz presente de certa forma na letra da lei, em sua concepção psiquiátrica do assunto, o quanto essa sombra toma conta de todos aqueles que se ocupam da criança: pais, professores, médicos, psicólogos, psicanalistas. Afirmar, preto no branco, que se trata de uma psicose, de uma deficiência, isso determina, ainda que não em termos de lei, uma aposentadoria. O exame da matéria legal deixa claro que não se fala aí em aposentadoria. O termo, constatamos, é a nomeação popular dada à condição das crianças que atendemos. Assim, como nomear a condição social desses nossos pacientes? Aposentados dizem as mães, e o dicionário esclarece: Hóspedes, albergados, alojados. Inativos beneficiados por um vencimento mensal 12 . E assim vivem realmente nossos pacientes, isolados em suas casas, inativos, excluídos do relacionamento social. Como já se aprende em Lacan, o nome faz a coisa, de fato. Assim, se o exame da matéria legal nos mostra que em termos de lei não se usa o termo aposentadoria, já o cotidiano de nosso trabalho traz este significante, este nome identifica nossos pacientes. Note-se aqui que se trata de um nome que advém de uma intervenção feita no âmbito social. Não se trata aqui do traço nominativo de que falávamos acima. 12 Cf. Novo Aurélio. Ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1999. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 194 Temos aqui um nome que se superpõe àquele e que o apaga duplamente. Uma operação que trabalha contra a reinserção da criança na sociedade. Ainda que em termos legais as coisas estejam postas de uma forma muito adequada prevendo o tratamento e reinserção na sociedade, ainda que o auxílio oferecido pelo governo seja justo quando se considera a que título ele é concedido, há que se cuidar dos efeitos paralisantes que todo esse processo de nomeação produz sobre os personagens envolvidos nele, entre eles a própria criança. Esta carteira de identificação que é obtida pelas mães a partir da emissão dos laudos psicológicos que elas nos demandam, esta carteira já foi algumas vezes objeto de questionamento, um questionamento feito pelas crianças em algumas oficinas da TECER, nosso projeto de pesquisa. A “irresponsabilidade” atestada pela condição de deficiente comparece nas sessões de terapia do menino que, dito incapaz, neste caso um incapaz que o menino lê como irresponsável, se põe a quebrar tudo e depois pergunta: “quem paga pelo prejuízo?” para depois afirmar: “lá em casa sou eu que entro com o dinheiro”. Os laudos que possibilitam a obtenção do auxílio têm conseqüências subjetivas que vão para além do auxílio que eles possibilitam. Há que se trabalhar sobre isso. Mas como? Eu sugeriria que em nosso trabalho clínico de psicanalistas nós tomássemos o pedido de laudos feito por parte das mães a nós, que não os podemos fornecer como demonstrei acima, como demanda, no sentido que Lacan dá a este termo. A demanda no sentido que Lacan dá ao termo Em Lacan o termo demanda designa um operador no trabalho analítico: A demanda em si refere-se a algo distinto das satisfações por que clama. Ela é demanda de uma presença ou de uma ausência, o que a relação primordial com a mãe manifesta, por estar grávida 13 desse Outro a ser situado aquém das necessidades que ele 14 pode suprir. Ela já o constitui como tendo o “privilégio” de satisfazer as necessidades, isto é, o poder de privá-la da única coisa pela qual elas são satisfeitas. Esse privilégio do Outro, assim desenha a forma radical do dom daquilo que ele não tem, ou Tomo a liberdade de substituir aqui por ser prenhe (como se encontra traduzido nos Escritos edição Zahar) por por estar grávida aquilo que no texto escrito original de Lacan é escrito d’être grosse.. 14 Aqui também, prefiro que ele pode ao que pode que comparece na tradução da edição Zahar, pois a opção aí tomada esconde o sentido paradoxal contido na frase, mas que exemplifica o conceito de demanda que estou tentando frisar aqui. 13 195 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 seja, o que chamamos de seu amor. É através disso que a demanda anula (aufhebt) a particularidade de tudo aquilo que pode ser concedido, transmutando-o em prova de amor, e as próprias satisfações que ela obtém para a necessidade degradam-se (sich erniedrigt) em nada menos do que o esmagamento da demanda de amor (tudo isso sendo perfeitamente sensível na psicologia dos primeiros cuidados a que se apegam nossos analistas babás). Há, portanto, uma necessidade de que a particularidade assim abolida reapareça para além da demanda. E ela de fato reaparece, mas conservando a estrutura receptada pelo incondicionado da demanda de amor. Por um reviramento que não é uma simples negação da negação, a potência da pura perda surge do resíduo de uma obliteração. Ao incondicionado da demanda, o desejo vem substituir a condição “absoluta” condição que deslinda, com efeito, o que a prova de amor tem de rebelde à satisfação de uma necessidade. O desejo não é, portanto, nem o apetite de satisfação, nem a demanda de amor, mas a diferença que resulta da subtração do primeiro à segunda, o próprio fenômeno de sua fenda (Spaltung). 15 Comecemos então pelo final da citação: O desejo não é, portanto, nem o apetite de satisfação, nem a demanda de amor, mas a diferença que resulta da subtração do primeiro à segunda, o próprio fenômeno de sua fenda (Spaltung). Se concebemos que em psicanálise o alvo do trabalho é o desejo, demarcador da posição do sujeito, sujeito de uma falta, portanto sujeito desejante, então podemos tomar do texto citado aqui uma indicação: a demanda é, no contexto de uma análise, um operador no trabalho que aí se desenvolve na pesquisa do sujeito. Mas, como assim? Como operar isso? Lacan esclarece: A demanda em si refere-se a algo distinto das satisfações por que clama. Então, se temos claro, no caso que colocamos em discussão neste texto, que a elaboração de laudos não poderia ser uma atribuição cabível para a formação profissional que temos, para nós psicanalistas certamente que não, podemos ficar tranqüilos quanto a “fornecer os laudos” pois não podemos fornecê-los. Mas enquanto analistas não devemos deixar passar aí a demanda pelo laudo, tomando-a como demanda no sentido que Lacan dá ao termo, demanda de outra coisa distinta O texto, escrito, em francês é bem claro: qu’il peut combler, afirmando aquilo que é difícil de entender numa leitura rápida, que a demanda é feita pela mãe à criança que está por nascer, que o Outro é a criança, e não a mãe nesta circunstância. 15 Lacan, J., A significação do Falo in Escritos, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, pg. 697. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 196 da satisfação por que clama. A demanda no caso é demanda de amor, ela está aquém, portanto do lado de cá como se lê no Aurélio, que exemplifica: Não terás de atravessar o rio: a casa fica situada aquém 16 . Exemplo oportuno esse que nos reenvia ao texto de Lacan, agora no seminário da Angústia: É isto que nos reconduz ao nosso ponto de partida de hoje, designando a alavanca (butée) sobre a angústia de castração: o neurótico não dará sua angústia. Nós saberemos mais sobre isso…nós saberemos porquê. É tão verdadeiro que é disso que se trata, da mesma forma, todo o processo, toda cadeia da análise consiste nisso: ao menos ele dá seu equivalente, ele começa por dar um pouco, seu sintoma, e é por isso que uma análise, como dizia Freud, começa por uma formação de sintomas. Nós estamos bem no lugar de que se trata [A] e nós nos oferecemos a tomá-lo, meu deus!, sua própria armadilha. Não podemos fazer jamais de outra forma com ninguém. Ele faz uma oferta a vocês, em resumo, falaciosa…e bem, aceita-se! Daí, entra-se no jogo pelo qual ele faz apelo à demanda. Ele quer que vocês lhe demandem alguma coisa, como vocês não lhe demandam nada – é isso, a primeira entrada na análise -, ele começa a modular as suas: suas 17 demandas vêm lá, no lugar Heim … Nesta sessão de seminário Lacan retoma o texto de Freud sobre o Unheimlich, o estrangeiro, para deduzir daí, seguindo Freud, que aquilo que seria o mais particular de nós mesmos encontra-se nesta paradoxal sensação de estranheza de que fala Freud no texto, e que Lacan vai designar por Heim. Lacan está referindo-se ao traço unário, o traço nominativo, aquele mesmo que estamos buscando na clínica analítica: Bem, para nossa convenção, para a clareza de nossa linguagem daqui para frente, esse lugar, ali, designado na última vez, vamos chamá-lo pelo seu nome: é isso que se chama Heim. Se vocês quiserem, digamos que, esta palavra tem um sentido na experiência humana, é lá a casa do homem. Dêm a essa palavra, casa, todas as ressonâncias que vocês quiserem, inclusive a astrológica. O homem encontra sua casa em um ponto situado no Outro, para além da imagem de que somos feitos, e esse lugar representa a ausência onde nós somos. Supostamente, o que acontece, que ela se revela por aquilo que ela é: a presença alhures que torna esse lugar ausência, então ela é a rainha do jogo, ela se apodera da imagem que a suporta e a imagem especular devém a imagem do duplo, com tudo aquilo que ela traz de estranhamento radical e – para empregar termos que tomam sua significação por se oporem aos termos hegelianos -, fazendo-nos 16 17 Cf. Novo Aurélio O dicionário da Língua Portuguesa, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1999. Seminário A angústia, versao Roussan, www.école-lacaniènne.net, sessão do dia 5 de dezembro de 1962, pg. 45. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 197 aparecer como objeto, revelando-nos a não autonomia de sujeito 18 . Assim, retomando a nossa posição dentro do discurso, retomando o discurso que nos cabe como psicanalistas, não respondendo, portanto, à demanda que nos é feita, no caso particular a demanda de um laudo, a demanda de dinheiro como já aconteceu na TECER, abre-se a oportunidade de trabalhar essa paralisia em que comparece a mãe de nosso paciente, constituindo-o como tendo o privilégio de satisfazer as suas necessidades, o poder de privá-la da única coisa pela qual elas são satisfeitas. É um fato digno de nota que essa clínica dos distúrbios graves na infância ilustre com tanta clareza aquilo mesmo de que fala Lacan em seu seminário da Angústia, no texto que viemos de recortar de lá, ou seja, o engodo que é o sintoma, e o fato de ele vir como algo que se dá para obter algo em troca. No caso o engodo acaba sendo o próprio distúrbio – grave – que apresenta a criança, distúrbio que ela oferece à mãe como “prova de amor”. Se tomamos os pedidos que nos são feitos neste cruzamento onde dois caminhos se oferecem à intervenção como demanda no sentido analítico do termo é bem possível que isto nos possibilite trabalhar sobre o equívoco que constitui o distúrbio da criança, e também que isso nos conduza à análise da mãe, que estaria sendo demandada obliquamente. Este o trabalho que podemos fazer ante à solicitação de laudos. 18 198 Idem, pg. 42. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Resumos 199 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 “Brincando de ser mamãe” Um estudo clínico-qualitativo sobre gravidez em idade precoce, no Sudeste do Brasil Bianca Stella Rodrigues 1 2 [email protected] Palavras-chaves: adolescência; psicodinâmica; pesquisa clínica-qualitativa. Esta pesquisa tem como objetivo estudar as significações psíquicas do que é ser mãe em idade precoce. O assunto merece atenção na medida em que o índice cresce a cada dia, tornando-se problema de saúde publica. Para tal, usaremos o método clínico-qualitativo. Sua proposta não é somente teórica, mas pratica e concreta. Construído a partir de duas áreas metodológicas; de um lado as concepções epistemológicas dos métodos qualitativos (compreensivo-interpretativo) de pesquisa desenvolvida a partir das ciências do Homem e, de outro lado, os conhecimentos e as atitudes clínicas psicológicas desenvolvidas tanto no enfoque psicanalítico das relações interpessoais, como historicamente no campo da pratica da medicina clínica. Baseia-se essencialmente em uma atitude existencialista que busca valorizar elementos como “angustia” e “ansiedade” vivas na existência do sujeito; uma atitude clínica que debruça o olhar, a escuta, na busca de amenizar os sofrimentos, proporcionar ajuda; e a atitude psicanalítica que com seus conceitos calcados na dinâmica do inconsciente possibilitam a construção e aplicação dos instrumentos auxiliares em campo assim como a interpretação dos resultados (Turato, 2003). A amostragem será composta por jovens grávidas de 10 a 14 anos, atendidas pelo Posto de Saúde Central, na cidade de Atibaia, para acompanhamento pré-natal. O número será decidido posteriormente pelo método de amostragem por saturação. A técnica para coleta de dados será a entrevista semidirigida, com questões abertas, proposta por Bleger (1979). As entrevistas serão 1 Mestra em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas 2 Aluna especial da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 200 gravadas e os dados de observação do comportamento global do indivíduo e de possíveis sentimentos tanto transferenciais como contratransferenciais, serão anotados posteriormente. A técnica para tratamento dos dados em estado bruto será a análise de conteúdo. Segundo Bardin (1995), tratar um material é codificá-lo, transformando-o de um estado bruto para uma possível representação de conteúdo. Estes serão interpretados à luz da teoria psicanalítica. Referências Bardin M. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1995. Bleger J. Temas de Psicologia (Entrevista y Grupos). 10 ed. Buenos Aires, República Argentina: Ediciones Nueva Visión; 1979. p.9-34. Turato ER. Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitativa. 2.ed. Petrópolis (RJ): Vozes; 2003. 685p. 201 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 “Criança-problema”: intervenção junto aos pais Ariane Cristina Massei FUNDAP Valdemar Donizete de Sousa Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: grupo psicoeducativo; intervenção psicológica em instituições. A família é o primeiro grupo social e de referência para a criança. Dentro desse microsistema, dimensões do comportamento dos pais em relação à criança, como o método de manter o controle e a forma como se comunicam, influenciam no desenvolvimento e no comportamento infantil. Dessa forma, ao iniciar o atendimento com criança, a estrutura e a dinâmica familiar são aspectos importantes a serem considerados. No atendimento de crianças, muitas vezes se apresentam dificuldades vivenciadas pelos pais no exercício da educação e orientação dos filhos. Sendo assim, existe a necessidade de uma breve intervenção junto aos pais, com o objetivo de trabalhar as angustias e dificuldades enfrentadas por eles. Diante dessa demanda, esse trabalho tem como objetivo propor uma intervenção junto aos pais de crianças que estão em acompanhamento psicoterápico em um Centro de Saúde da cidade de Campinas. Considerando-se a dificuldade apresentada pelos pais em comparecerem aos atendimentos psicoterápicos, muitas vezes considerados longos, assim como a grande demanda de pacientes em espera por atendimento nos serviços públicos, no atendimento junto aos pais são definidas questões a serem trabalhadas, de acordo com a necessidade e dificuldades dos mesmos, com relação aos seus filhos. Os atendimentos são agendados conforme a necessidade da família, e nele são tratadas questões que tem trazido incomodo ou dificuldade para os cuidadores. Percebe-se que, em muitos casos, a intervenção breve é suficiente para a resolução da problemática trazida pelos pais dos pacientes. 202 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 A análise do comportamento e o transtorno dismórfico corporal Kátia Perez Ramos Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: transtorno dismórfico corporal; análise do comportamento; estudo de caso. No presente trabalho serão apresentados dois casos de pacientes com diagnóstico de Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) baseados na Análise do Comportamento. No TDC, em geral, o indivíduo discrimina uma parte de seu corpo como deformada e apresenta uma alta freqüência de comportamentos tais como examinar seu defeito, olhar-se no espelho, utilizar estratégias para camuflar o defeito (maquiagem, vestimentas especiais, etc), esquivar-se de situações sociais, esquivarse do contato com pessoas do sexo oposto, entre outros. Esses comportamentos têm como função a diminuição da ansiedade do indivíduo, por isso se mantêm por reforçamento negativo. A busca por cirurgia plástica é outro comportamento emitido dentro da classe de comportamentos de camuflagem do defeito. Em um dos casos, C. de 33 anos, havia realizado, desde os 18 anos, 13 cirurgias plásticas para corrigir o defeito do nariz. Em um episódio na infância, quando tinha 9 anos, C. quebrou o nariz mas não se submeteu a cirurgia pois, segundo o médico responsável, não houve necessidade. Entretanto a partir dos 18 anos começou a apresentar comportamentos relacionados ao repertório de TDC. Relatos como: “Não tinha vontade de sair de casa”; “Ficava pensando no meu nariz”; “Olhava meu nariz a toda hora, ele estava mesmo deformado”; “Queria arrumar meu nariz”; “Não falava com as pessoas por ter vergonha do meu nariz”, mostram a esquiva social, a busca pela camuflagem do defeito através de cirurgias plásticas, a compulsão pela checagem do imaginado defeito. A análise do comportamento tem como base, neste caso, os procedimentos de exposição e prevenção de resposta da cliente. No caso de C., o procedimento de modelagem em relação a exposição pública é uma das técnicas utilizadas, ou seja, através de aproximações sucessivas, fazer com que a pessoa saia de casa e freqüente ambientes (barzinhos) a meia luz, com poucas pessoas, Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 203 até fazer com que ela chegue a freqüentar ambientes mais públicos, e fique bem mais exposta. Além disso, é importante instalar comportamentos que sejam incompatíveis com respostas relacionadas ao transtorno como forma de prevenir que ela se engaje em suas compulsões. É necessário também que a terapia proporcione o aumento da freqüência de comportamentos incompatíveis com as respostas de fuga-esquiva e que tenham alta probabilidade de serem reforçados. Outro fator importante é a análise do histórico de vida da cliente, como forma de se eliminar regras implícitas nas mensagens culturais acerca da aparência física e do modelo de beleza reforçado em nosso contexto cultural. 204 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 A Grupoterapia com adolescentes institucionalizados Ticiane Renata Auko 1 Antonios Térzis 2 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: psicoterapia de grupo; casa abrigo; abandono. O grupo é antes de tudo a realização imaginária de um desejo. Do ponto de vista da dinâmica psíquica o grupo é um sonho, assim, os sujeitos humanos vão aos grupos da mesma forma que, no seu sono, entram no sonho. O presente estudo tem como objetivo compreender como os adolescentes institucionalizados vivenciam a técnica de grupo e se ela é capaz de sensibilizá-los sobre os fenômenos emocionais, possibilitando a busca de re-significações de suas experiências. Tratase de um estudo qualitativo baseado no método clínico psicanalítico. O grupo é composto por cinco adolescentes, de idade entre 11 e 13 anos. Apesar da pesquisa estar em andamento os resultados encontrados até o presente momento sinalizam que esses adolescentes vivenciam o grupo em um primeiro momento com fantasias predominantemente persecutórias, a comunicação é unilateral (centrada no terapeuta), revivem a situação familiar que motivou a entrada na instituição, podendo elaborá-la. Mostram a insegurança que sentem com a regra de que no grupo podem falar do que quiserem, essa sensação de liberdade faz com que entrem em contato com seus sentimentos, impulsos e também com recursos internos. O grupo vive a ambivalência, percebe-se a individualidade e insegurança. No entanto com o decorrer dos atendimentos passam a realizar as tarefas coletivamente, deixando a subjetividade e assumindo a identidade coletiva, descobrem o prazer de criar e vivenciar o sentimento de pertença que favorece o fenômeno da integração. Esta vivência demonstrou que o grupo constitui um terreno privilegiado, pois favorece as liberações de ilusões, de fantasias de quebra e de experiências que facilitam o 1 Mestranda do curso de psicologia clínica – bolsista do CAPES. 2 Orientador Profº. Dr. da PUC-Campinas. 205 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 desenvolvimento emocional. O grupo como uma sala de espelho, oferece a possibilidade de transformação. 206 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 A psicoterapia de grupo no tratamento da dependência química em mulheres Kátia Varela Gomes 1 Maria Inês Assumpção Fernandes 2 [email protected] Palavras-chave: psicoterapia de grupo; psicanálise; dependência química; gênero. O objetivo desse trabalho é a apresentação de uma pesquisa em andamento, que investiga os processos psíquicos (intrapsíquicos e intersubjetivo) em mulheres dependentes de drogas, utilizando um grupo terapêutico específico em uma Instituição Pública de Saúde (CAPS AD). Atualmente, observamos uma alta incidência da dependência química e conseqüentemente a criação de serviços especializados para o atendimento desta demanda, assim como, a ramificação do atendimento psicoterapêutico em núcleos separados por gênero e idade. Essa estratégia terapêutica busca beneficiar os usuários em tratamento com abordagens mais dirigidas e favorecer maior aderência ao tratamento através dos grupos homogêneos. Na farmacodependência feminina são apontados alguns agravantes – escassez de pesquisas e a menor aderência desse grupo aos projetos terapêuticos mistos, com exceção dos grupos terapêuticos homogêneos. Propomos investigar quais as especificidades e efeitos terapêuticos desse grupo, utilizando as proposições teóricas de René Kaës sobre as funções intermediárias e mediadoras do processo grupal. Consideramos o dispositivo grupal um espaço para um trabalho privilegiado, levando em conta a idéia de um entrelaçamento psíquico intersubjetivo, constituído de lugares, processos e introjeções. Levantamos como hipótese que a dependência química em mulheres pode ser o resultado de conteúdos herdados e transmitidos entre as gerações, conteúdos recalcados (na dimensão intrapsíquica), mas que exigem a manutenção de uma renúncia pela e na intersubjetividade. Professora Universidade São Francisco, Psicóloga do CAPS AD II – Município de Guarulhos, Doutoranda em Psicologia Social no Instituto de Psicologia da USP. 2 Orientadora (LAPPSO – IPUSP) 1 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 207 A psicoterapia é uma antropologia? Mauro Martins Amatuzzi 1 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: antropologia filosófica; psicoterapia; humanismo, ética. No sentido estrito psicoterapia é um tratamento ou uma forma de cuidado prestado por um profissional que visa a resolução de problemas de natureza psicológica. O modo de tal pratica dependerá obviamente de como o profissional concebe o que seja um problema psicológico e as possibilidades mais humanas para sua resolução. Isso supõe uma antropologia, uma visão de ser humano. Se, por exemplo, o psicoterapeuta vê o ser humano como resultante de uma série de determinismos, ele tenderá a atuar como uma determinação mais forte capaz de se contrapor aos efeitos das outras. Se ele vê o ser humano mais como determinante do que como determinado, isto é, se ele o vê como um ser vivo de alguma forma caracterizado por sua capacidade de autonomia, então ele se verá a si mesmo como profissional atuando muito mais no sentido de facilitar o desencadeamento dessa autonomia do que no sentido de substituir uma determinação por outra. Se o profissional vê o ser humano como basicamente solidário não somente porque partilha de um destino comum com outras pessoas que então formam uma comunidade, mas porque é chamado a responder solidariamente aos desafios que se colocam, então ele se verá atuando num sentido que abre os caminhos para uma participação social mais responsável. Minha contribuição a essa mesa redonda pretende suscitar reflexões sobre essas visões subjacentes de ser humano, sobre como elas podem ser articuladas, sobre como deve ser concebida a pesquisa quando essa articulação se dá em torno da capacidade de autonomia como característica humana fundamental. Pretende também evidenciar como uma clareza a respeito desses pressupostos tem a ver com a ética da psicoterapia. 1 Orientador do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 208 Acompanhamento terapêutico: uma intervenção focal na saúde pública Ariane Cristina Massei FUNDAP Valdemar Donizete de Sousa Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: estudo de caso; intervenção; psicológica em instituições; atenção básica em saúde; estratégia saúde da família. O Acompanhamento Terapêutico (A.T) pode ser definido como uma ação de atenção e apoio extra-instituição, tendo surgido com a Reforma Psiquiátrica no final dos anos 80, sendo uma das ações que promove a inclusão de pessoas portadoras de transtornos mental ou que apresentam dificuldade no convívio social. A prática do A.T. visa a re-colocação do individuo em funcionamento com a realidade urbana, utilizando os próprios recursos e capacidades do sujeito. Assim, essas ações são pautadas no principio da clínica ampliada, considerando não apenas o individuo, mas toda a interação e convívio do paciente. Para esse tipo de atendimento, elaboramos o Projeto Terapêutico Individual (PTI). O PTI é um projeto, construído juntamente com o paciente, no qual são pensadas ações e intervenções a serem realizadas durante o acompanhamento do paciente. Nessa construção, a Equipe de Saúde da Família, formada por uma equipe interdisciplinar, tem um importante papel, possibilitando uma construção conjunta com diversos “olhares”. Essas ações são construídas de acordo com as dificuldades e possibilidades do individuo, focando a intervenção nos aspectos possíveis de transformação, para que o individuo possa chegar o mais perto possível das mesmas oportunidades de quem não tem um histórico de atendimento em saúde mental. Para a elaboração do PTI, são levados em consideração alguns critérios: o diagnostico, a configuração familiar, uso de medicação psiquiátrica, o circuito psiquiátrico e resiliência da pessoa. Esse trabalho tem como objetivo avaliar os resultados no PTI de uma paciente em acompanhamento terapêutico em um Centro de Saúde da cidade de Campinas. 209 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Para isso, será avaliado após um ano de atendimento, a alteração dos critérios considerados para a elaboração do PTI, ou seja, a alteração no diagnostico, como se encontra a configuração familiar, uso de medicação psiquiátrica (diminuição, troca ou retirada), o circuito psiquiátrico (mudança na rede social) e resiliência do individuo. 210 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Alexitimia e Psicoterapia Berenice Victor Carneiro 1 Centro Universitário Padre Anchieta, Jundiaí Elisa Medici Pizão Yoshida Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: transtorno psicossomático; transtorno do humor; personalidade; variável disposicional. Alexitimia é um termo desenvolvido por Sifneos, na década de 70 para designar “sem palavras para expressar emoções”. Na França, Marty e M’Uzan usaram pensamento operatório para se referir a pacientes com um estilo de raciocínio voltado para o exterior, e ausência de reação afetiva frente a situações de perda ou traumas. Considerada atualmente, um traço de personalidade, alexitimia e pensamento operatório são conceitos associados na literatura e se referem a indivíduos com a) dificuldades em identificar e descrever sentimentos subjetivos; b) dificuldades em fazer distinção entre emoções e sensações físicas; c) escassez de sonho e incapacidade de simbolizar ou fazer relação entre afeto e fantasia; pensamento operatório. Quando sofrem problemas de ordem d) existencial, intensificam seus esforços no trabalho, para que este ocupe lugar das representações carregadas de afeto. Existem poucas pesquisas sobre os resultados da alexitimia em psicoterapia. A dificuldade em comunicar conflitos psicológicos e relacioná-los a sintomas físicos, e a pouca capacidade de insight, fazem com que psicoterapias breves provocadoras de ansiedade sejam contra-indicadas. Alguns estudos indicam a maior eficácia das psicoterapias baseadas na interpretação para baixo grau de alexitimia. Outros estudos sugerem que o tratamento envolva métodos não verbais, terapia em grupo, biofeedback, uso de movimentos com o corpo e hipnose. É também recomendado que o paciente aprenda sobre a natureza do déficit e que seja levado a identificar emoções nos outros, distinguindo entre presença e ausência de emoções positivas e negativas. São muitas as 1 Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Psicologia da PUC-Campinas Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 211 oportunidades de estudos para avaliar a eficácia da psicoterapia, sendo portanto, necessárias mais pesquisas, onde clínicos e pesquisadores continuem a planejar e avaliar técnicas psicoterápicas para aumentar a compreensão sobre o tratamento da alexitimia. 212 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Alexitimia e Stress de sujeitos hipertensos e normotensos filhos de hipertensos Ana Carolina de Queiroz Cabral 1 Flávia Urbini Santos1 Vivian Cristina Alves Pacola1 Marilda Emmanuel Novaes Lipp 2 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: stress; alexitimia; hipertensão arterial. A alexitimia é um traço de personalidade que se expressa basicamente pela dificuldade de identificar e descrever o próprio estado emocional, sendo representado pela habilidade de identificar e descrever sentimentos de sensações corporais, sonhar acordado, focalizar eventos externos em vez de experiências internas e não ter habilidade de comunicar os sentimentos às outras pessoas. Tais características podem se constituir em fontes internas e externas de stress. O stress é tido como um desgaste geral do organismo causado pelas mudanças psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa se vê forçada a enfrentar uma situação que de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite, confunda ou mesmo a faça imensamente feliz; isto é qualquer situação que desperte uma emoção boa ou má. Em momentos de stress, o corpo se prepara para lutar ou fugir. Também ocorrem algumas mudanças, como por exemplo, a produção de adrenalina e a constrição dos vasos sanguíneos, as quais aliadas a outras fazem com que o coração acelere mais rápido ao mesmo tempo em que a resistência é aumentada nos vasos sanguíneos. Com o aumento da resistência e da atividade cardíaca, a pressão arterial tende a subir. O presente estudo teve como objetivo comparar a prevalência de stress e investigar possíveis relações entre o stress, alexitimia de pais e filhos em função do seu nível de pressão arterial. Fizeram parte do estudo dois grupos de sujeitos, sendo um grupo de normotensos filhos de hipertensos e o 1 Mestrandas 2 PUC-Campinas. Orientadora do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 213 outro hipertensos filhos de hipertensos. Cada grupo foi constituído de 10 sujeitos com idades variando de 35 a 50 anos. Os hipertensos foram encaminhados pelo setor de Cardiologia do Hospital e Maternidade Celso Pierro - HMCP, após ter sido feita uma avaliação do diagnóstico de hipertensão leve ou moderada. Os participantes normotensos foram recrutados através de cartazes afixados no HMCP, em troca pela participação forneceu-se uma avaliação médica e psicológica, além de uma orientação sobre como lidar com o stress excessivo. Alguns critérios foram preenchidos para que os pacientes fizessem parte dos grupos. Para o grupo de hipertensos, os pacientes deveriam ter pressão arterial entre 140x90 e 155x100 mmHg comprovada pela equipe médica, não estar tomando medicação hipotensora e não ter patologia cardíaca, hepática e psiquiátrica, para o grupo de normotensos, a pressão arterial deveria ser abaixo de 140x90mmHg comprovada pela equipe, não estar tomando medicação hipotensora, não ter patologia cardíaca, hepática e psiquiátrica e um critério adicional para esse grupo é eles serem filhos de hipertensos. Ambos os grupos tiveram de comparecer ao Laboratório de Estudos Psicofisiológicos de Stress nos dias agendados previamente. Para a coleta dos dados psicológicos, os pacientes preencheram uma folha de entrevista, assinaram um termo de consentimento, responderam ao Inventário de Emoções de Lipp e Rocha, ao Inventário de Sintomas de Stress – ISS e também responderam um inventário designado Critérios para o diagnóstico de Alexitimia do pai e da mãe “as características que eles conseguiam identificar nos pais”. No total dos 20 participantes, 50% eram hipertensos e os outros 50% eram normotensos, sendo 75% do sexo feminino e 25% do sexo masculino. Entre as mulheres, 53% eram hipertensas e 47% eram normotensas. Entre os homens, 40% eram hipertensos e 60% eram normotensos. Em relação às fases do stress, um normotenso não apresentou stress, representando 5% do total da amostra. Noventa porcento estavam na fase de resistência, sendo que, 50% eram hipertensos e os outros 50% eram normotensos. Na fase de exaustão do stress, encontrou-se um hipertenso, representando 5% do total. Quanto à alexitimia do pai, 70% não eram percebidos como alexitímicos pelos filhos. Dentre os filhos que não percebiam a alexitimia dos pais, 43% eram hipertensos e 57% eram normotensos. Do total da amostra, 15% eram percebidos como alexitímicos pelos filhos. Deste percentual, dos filhos que perceberam o pai como alexitímico, 67% eram hipertensos e 33% normotensos. Quanto à alexitimia da mãe, 5% da amostra, representados por um filho hipertenso, percebia a mãe como tendo esta característica alexitímica. A fim de verificar se Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 214 havia diferença no nível de stress dos filhos que percebiam alexitimia dos pais e daqueles que não percebiam utilizou-se o Test t. Como resultado da avaliação dos sintomas físicos do stress entre os sujeitos hipertensos e normotensos obteve-se t= 0,3860 e o p= 0,70, que revelou uma diferença não significativa no grupo. Para a avaliação dos sintomas cognitivos do stress, obtivemos t= 0,6676 e p= 0,51, revelando também que a diferença não foi significativa entre os dois grupos. Os resultados da presente pesquisa indicam que a percepção da alexitimia dos pais não produz efeito diferenciado no nível de stress dos filhos, sejam eles normotensos e hipertensos. 215 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Algumas considerações sobre psicoterapia breve e psicanálise Emérico Arnaldo de Quadros 1 UNESPAR Elisa Medici Pizão Yoshida 2 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras chaves: psicoterapia breve; psicanálise; escuta psicanalítica; queixa, estruturação do foco. Esta apresentação trata da questão das implicações que a psicanálise tem sobre as psicoterapias breves. Freud já em 1919 apontava para a possibilidade dos conceitos psicanalíticos serem usados no trabalho com população mais abrangente que a população de pacientes psicanalíticos. Nas psicoterapias breves, os fins terapêuticos parecem apontar para o alívio dos sintomas, através da compreensão das expectativas do sujeito em relação a si e aos demais significantes, o que pressupõe em certa medida tornar conscientes aspectos inconscientes. O trabalho, a partir do lugar do terapeuta, numa visão dinâmica, tem como propósito clarificar e resolver, ainda que de modo parcial, parte da patologia do paciente. Outra questão a ser tratada diz respeito à história das psicoterapias breves e como as mesmas se situam no panorama atual das psicoterapias, em que se tem três gerações de pesquisa e práticas em psicoterapias breves, a primeira pode ser associada ao modelo pulsional/estrutural, a segunda ao modelo relacional, e a terceira geração que surge por volta dos anos 90 – o modelo integrativo. Sendo interessante ressaltar que hoje em dia as psicoterapias breves são tão aceitas e já há tantas evidências empíricas que elas passaram a ser praticamente dominante na literatura internacional, sendo que em muitos países as psicoterapias breves são comumente utilizadas pelos profissionais de saúde mental, não apenas com pessoas carentes, mas em seus consultórios ou clínicas particulares, o que não parece ser o caso do Brasil. 1 2 Doutorando PUC-Campinas. Orientadora do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 216 Análise da ocorrência do comportamento verbal de dor de um paciente com Disfunção Temporomandibular. Camila Ribeiro Coelho 1 Paula Brandão Scarpelli 2 Vera Adami Raposo do Amaral 3 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: dor crônica; comportamento operante; comportamento de dor. Aproximadamente, cerca de 50% a 60% da população geral sofre de dor crônica orofacial, especificamente, Disfunção Temporomandibular (DTM). A DTM é definida como conjunto de distúrbios articulares e musculares na região orofacial, músculos da mastigação, caracterizados principalmente por dor, ruídos nas articulações e função mandibular irregular. A DTM é freqüentemente acompanhada por fatores psicológicos e problemas comportamentais que podem contribuir para o estabelecimento e manutenção da dor muscular, sendo um problema significante de dor crônica em que a gravidade, persistência e disfunções psicológicas ou comportamentais também são comparavelmente problemáticas ao sofrimento causado por dores em outras partes do corpo. A terapia comportamental e dor crônica começou a ser estudada há 25 anos por Wilbert Fordyce, pesquisador pioneiro nessa área. Fordyce (1979) descreveu comportamentos de dor como operantes, sendo eles chorar, massagear, tomar medicamentos, repousar e etc. Os comportamentos de dor, na maioria das vezes ocorrem na forma de comportamento verbal. O comportamento verbal, como uma classe ampla de comportamentos, é comportamento operante que ocorre apenas no contexto em que tem probabilidade de ser reforçado (Baum, 1999). O objetivo do presente estudo foi descrever a freqüência dos comportamentos de dor de um paciente com Disfunção Temporomandibular durante uma entrevista. Método: Participou da pesquisa um 1 Bolsitas 22 CNPQ. Curso de Pós – Graduação em Psicologia como CiêNcia e Profissão. Grupo de Pesquisa: Análise do comportamento em saúde e reabilitação, Linha de Pesquisa: Prevenção e intervenção psicológica. 3 Anais do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 217 paciente do Ambulatório de DTM e DOF – UNIFESP/EPM com diagnóstico de DTM muscular por bruxismo diurno e noturno com dor há cinco anos. Sexo feminino, 38 anos, casado, dona de casa. Foi realizada uma entrevista livre com uma pergunta disparadora: “Fale sobre a sua vida e a sua dor” e outras perguntas que estimularam a participante a falar sobre o assunto: “O que mais você diria sobre a sua vida, sobre a sua dor”, “como que era quando você tinha dor?”. A entrevista foi gravada para posterior análise. Resultados: Foi registrada a freqüência do comportamento verbal de dor. A entrevista teve duração de 5,6 min com 38 ocorrências de comportamento verbal de dor, como por exemplo “eu sentia muita dor, eu sentia muita queimação, ia direto no médico, não conseguia fazer nada”. Dessa forma estes comportamentos ocorreram com uma freqüência de 6,8 respostas por minuto. Conclusões: Sendo o comportamento verbal de dor uma classe de comportamento operante, está sob controle de contingências de reforçamento. A alta freqüência de sua ocorrência em uma entrevista mostra que possivelmente estes comportamentos foram reforçados pela comunidade verbal do paciente, mantendo estes comportamentos. Provavelmente comportamentos incompatíveis como comportamentos saudáveis não foram reforçados. 218 Anais do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Análise do discurso da escolha profissional do adolescente – E AÍ? O QUE VOCÊ VAI PRESTAR? Maria Salete Junqueira Lucas 1 Universidade de Franca [email protected] Esta pesquisa procurou investigar a presença do mito individual inserido no discurso de adolescentes de ambos os sexos, dos grupos de orientação profissional, nos quais trabalho como orientadora. Fundamentada nas perspectivas teóricas da Análise do discurso de “linha francesa” e da Psicanálise, mais especificamente na tentativa de refletir que sentidos existem nas escolhas profissionais a partir de posições discursivas que remetem ao inconsciente e ao ideológico. Objetivo: Este estudo buscou interpretar as escolhas profissionais realizadas por alunos de ensino médio e cursinho, recorrendo aos conceitos teóricos de mito individual, interpelação ideológica e inconsciente. À partir da forma material- o discurso dos vestibulandos- foi possível fazer uma articulação entre o simbólico e o histórico, na tentativa de entender um pouco mais como esses sentidos foram produzidos. Como Psicóloga Clínica, trabalhando com Orientação Profissional, constato que a escolha profissional é um conflito pelo qual os alunos passam extremamente complexo, tão importante quanto inúmeras aquisições próprias da adolescência, tais como, identidade pessoal e identidade sexual. As expectativas em relação ao vestibular e ao caminho que irão percorrer se tornam imensas, com um nível de ansiedade muito elevado. Realizar um trabalho nesta área auxilia ao adolescente a ampliar a compreensão sobre a situação vivida, estimulando-o a uma decisão mais autônoma e madura . É importante distinguir o que é fruto da cultura contemporânea, o que responde aos imperativos pulsionais e a relação que se estabelece entre a cultura e o 1 Endereço para correspondência: Praça Francisco Alves 5163 - Vila Hípica - Franca SP Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 219 psiquismo, ou seja, que os adolescentes são determinados e constituídos pelo inconsciente, tanto ao nível da ideologia quanto ao nível do desejo. Metodologia: Os sujeitos desta análise consistiram em dois grupos de Orientação Profissional:1º grupo: composto por alunos de ambos os sexos, pertencentes a uma faixa etária entre 17 (dezessete) e 22( vinte e dois anos), do Cursinho do S.E.U Serviço de Extensão Universitária vinculado a Universidade Estadual Paulista UNESP de Franca , SP . 2º grupo: Composto por 10 alunos de ambos os sexos, pertencente a uma faixa etária entre 16( dezesseis) e 18 (dezoito anos), da 3 série do Ensino Médio do Colégio Oswaldo Cruz – COC de Franca, SP . O atendimento em OP totalizou 12 encontros em cada grupo, com a duração de uma hora e meia em cada sessão. A participação dos alunos se deu de forma voluntária, após uma palestra ser dada nas duas instituições para sensibilizar os alunos para pensarem acerca da problemática profissional e vocacional. Para os alunos menores de 18 anos foi preciso requisitar o consentimento de seus pais por escrito. As técnicas utilizadas nos grupos são instrumentos facilitadores para que o processo de OP alcance seu objetivo, que é auxiliar o jovem a encontrar um modo de lidar melhor com a busca de uma identidade profissional. As entrevistas iniciais, os exercícios dramáticos, atividades de collage , R.O , contar estórias a partir de pranchas , buscar e dar informações sobre carreiras e as discussões em grupo constituíram o corpus desta análise . Os materiais utilizados foram: papéis de diversos tamanhos e qualidades, lápis, canetinhas , tesouras , colas , revistas , pranchas com material fotográfico e de jornal , fichinhas com nomes de profissionais e carreiras , manuais de faculdade , guia do estudante , provões de cursos , currículos de graduação , etc... Análise de dados:A análise de dados foi baseada na AD e na Psicanálise, ou seja, com pressupostos que permitiram um resgate do sujeito a partir da linguagem, sem contudo reduzi-los a objetos mensuráveis. À partir dos relatos, das narrativas dos membros do grupo, do modo como cada sujeito organiza e elabora sua experiência,.e do funcionamento grupal, foi possível analisar como retomam informações, como reinterpretam manuais, como falam dos amigos, dos pais, para falar de suas escolhas, como imaginam as carreiras, como se relacionam com o trabalho., 220 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Resultados: Com a análise do discurso dos adolescentes, a possibilidade de um novo olhar para a escolha profissional se ampliou, com a perspectiva de uma escuta do sujeito com um inconsciente, dinâmico e atuante, o que pressupõe que, na busca de uma escolha profissional este sujeito não se dá conta do jogo de interpelações e desejos profundos que o constituem. Um dos fatores mais limitantes para a escolha profissional é a condição sócioeconômica, tanto de um grupo quanto do outro. O 1º grupo, no qual os adolescentes têm uma condição sócio-econômica mais baixa enfrenta um grande obstáculo concreto para escolher uma profissão, fica limitado na sua escolha devido aos recursos financeiros. O 2º grupo, provido de melhores condições financeiras, muitas vezes, estabelece uma relação de dependência negativa com sua estrutura familiar e social. Os dois grupos revelaram discursos deficitários em termos de informações sobre carreiras e cursos, geralmente se apoiando no senso comum das carreiras e não se aprofundando em dados mais consistentes. No imaginário dos adolescentes esta conjuntura é caótica, prejudicando ainda mais suas inserções no mundo do trabalho. A tarefa do Orientador Profissional é entender como estes sentidos são produzidos. O objetivo deste trabalho foi creditar a palavra aos adolescentes para formar novas interpretações acerca da escolha profissional, bem como, ampliar a compreensão em relação às práticas de orientação profissional existentes,.e o conhecimento dos processos grupais que facilitam esta intervenção. 221 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Aspectos psicológicos do paciente hanseniano do quadro reacional: um estudo exploratório Helenice Cristina Azevedo e Silva 1 Joel Carlos Lastoria 2 Regina Célia Paganini Lourenço Furigo 3 [email protected] Palavras – chave: quadro reacional, hanseníase,clinica junguiana. Pesquisa de mestrado em andamento com pacientes hansenianos que desenvolveram quadro reacional Tipo I e Tipo II tendo como objetivo avaliar psicologicamente o paciente que apresenta ou apresentou quadro reacional procurando analisar sua qualidade de vida e os fatores psicológicos implícitos na manifestação de tão severa patologia. Entende-se a necessidade de uma pesquisa dessa natureza na medida que, em sendo a hanseníase uma doença considerada ainda como problema de Saúde Pública no Brasil e, tendo o seu aspecto discriminatório mantido historicamente como estereotipo, entende-se a necessidade de pesquisar os agravos psicológicos dessa doença, que tem como característica marcante, a alteração da imagem corporal, através do acometimento do maior órgão do copo humano que é a pele, com marcas, lesões e alterações drásticas. À medida que os aspectos do quadro forem mais bem explorados e compreendidos, poder-seá propor formas de intervenção clínica específica para a ajuda a citado paciente. Este estudo será desenvolvido com pacientes cujo critério de inclusão será tão somente o de apresentarem quadro reacional desde que de total acordo em participar os atendimentos são no Ambulatório de Dermatologia da FMB, local também da coleta de dados. Os participantes serão avaliados por três questionários: entrevista semi-estruturada, com um segundo questionário (DLQI – BRA) com a intenção de compreender o quanto o problema o afetou no decorrer da última semana e um terceiro questionário (WHOQOL – Bref) com a intenção explorar como Psicóloga Clínica, Mestranda pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP – Botucatu –SP. Médico Dermatologista, Doutor em Fisiopatologia em Clínica Médica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP – Botucatu –SP. 3 Professora da Universidade do Sagrado Coração Bauru e Doutoranda em Psicologia pela PUC-Campinas 1 2 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 222 tem sido sua qualidade de vida. Os resultados obtidos serão avaliados dentro de uma perspectiva quanti-qualitativa à luz de um referencial simbólico analítico junguiano. Os pesquisadores procurarão, a partir dos resultados obtidos através de discussões e descobertas, colaborarem para a continuidade do desenvolvimento de uma sólida interface entre a psicologia e a dermatologia. O presente projeto encontra-se devidamente aprovado pelo Comitê de Ética da FMB/UNESP- BotucatuSP. 223 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Auto-tatos sobre a doença: breve relato de um portador de diabetes mellitus tipo 2 Camila Ribeiro Coelho 1 Paula Brandão Scarpelli 2 Vera Adami Raposo do Amaral 3 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-Chave: comportamento; saúde; tratamento. O diabetes mellitus é uma síndrome de evolução crônica, sendo caracterizada por um tratamento altamente complexo e de duração interminável. Embora seja uma doença associada especialmente à hereditariedade, sabe-se que determinados comportamentos do indivíduo contribuem para o agravamento da doença. Este trabalho teve como objetivo relatar o impacto da doença na rotina de vida de um portador de diabetes mellitus tipo 2 através da análise da freqüência dos comportamentos relacionados à doença. Sujeito: E, sexo feminino, 49 anos, realiza acompanhamento médico da doença em um Centro de Saúde da cidade de Campinas. Instrumento: entrevista semi-aberta gravada. Procedimento: o participante foi encaminhado pelo médico do Centro de Saúde para a realização da entrevista que foi agendada com antecedência e transcrita posteriormente. A entrevista teve a duração de 32 minutos com 120 ocorrências de comportamento verbal referentes à doença, dentre a freqüência dos comportamentos relacionados à doença, pode-se destacar os comportamentos de auto-cuidado, tais como: a monitoração dos níveis de glicemia, a auto-aplicação da insulina nas doses e nos horários recomendados, a ingestão de medicamentos e as mudanças de hábitos de vida, principalmente referentes à dieta e a prática de exercícios físicos. Assim, a alta freqüência da ocorrência verbal deste tipo de comportamento mostra o impacto do diagnóstico do diabetes mellitus na vida do individuo. Pesquisas que tenham por objetivo analisar os relatos verbais de pacientes portadores de diabetes são muito Bolsitas CNPQ. Curso de Pós – Graduação em Psicologia como Ciência e Profissão. 3 Grupo de Pesquisa: Análise do comportamento em saúde e reabilitação, Linha de Pesquisa: Prevenção e intervenção psicológica. 1 2 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 224 importantes, pois tais análise têm como objetivo final promover um repertório comportamental mais eficaz de enfrentamento da doença. 225 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Avaliação da Depressão na Obesidade Grau III Jena Hanay Araujo de Oliveira 1 Elisa Médici Pizão Yoshida Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: obesidade severa; avaliação psicológica; revisão da literatura; intervenção psicológica. O presente trabalho é um estudo preliminar com objetivo de revisar a produção científica referente à depressão e obesidade grau III. Utilizou-se duas dimensões de análise: a primeira refere-se às publicações destacando ano, país, número de autores e periódicos de indexação. A segunda abrange as pesquisas descritas nos resumos levando em conta a população descrita e os instrumentos de avaliação da depressão utilizados. A amostra foi composta de 20 abstracts de periódicos indexados nas bases de dados PsycINFO e MEDLINE, de 1998 a 2004, utilizando-se os descritores obesidade mórbida e depressão. Os resultados apontam para um aumento no número de publicações entre 2002 (15%) e 2004 (25%). Levantou-se a predominância de publicações no Canadá (40%), de estudos com três autores (25%), e de publicação no periódico Obesity Surgery (45%). A segunda dimensão de análise aponta para a prevalência de estudos na faixa etária adulta (90%), e o Beck Depression Inventory (BDI) como principal instrumento de avaliação da depressão (40%). Os dados sugerem um crescente aumento de pesquisas que associam a depressão com a obesidade grau III, principalmente estudos relacionados à cirurgia bariátrica. 1 Bolsista de Doutorado CAPES 226 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Avaliando a depressão em crianças portadoras de deformidades craniofaciais Maria Elisa Gisbert Cury 1 Valéria Cristina Santos 2 Ana Lucia Ivatiuk 3 Vera Lucia Adami Raposo do Amaral 4 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: deformidade craniofacial; depressão; desenvolvimento infantil. A depressão infantil é um transtorno capaz de comprometer o desenvolvimento da criança e interferir em seu processo de maturação psicológica e social. A avaliação do desenvolvimento possibilita a descrição do desenvolvimento intelectual, emocional e social nas diversas idades. A partir desta avaliação é possível identificar problemas ou áreas de risco. Esta pesquisa teve como objetivo investigar se existe relação entre crianças portadoras de deformidades craniofaciais com depressão e o seu desenvolvimento atual. Os participantes foram crianças de ambos os sexos, de faixa etária variando de 6 a 11 anos, diagnosticadas como portadoras de deformidade craniofacial. Tais crianças estavam em acompanhamento do desenvolvimento. Os instrumentos utilizados para avaliar o desenvolvimento foram: Raven e Colúmbia (avaliação de nível de inteligência), bateria psicomotora (avaliação psicomotora) e atividade lúdica para avaliar aspectos sócio afetivos. Como forma de avaliar sintomas depressivos foi utilizado a Escala de Avaliação de Depressão para Crianças (Pereira, 2002). Para obter informações sobre o participante, utilizou-se uma entrevista semi-estruturada com os responsáveis, elaborada pela pesquisadora. Após a seleção das crianças Graduanda em Psicologia – Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Psicóloga. 3 Doutoranda - Pontifícia Universidade Católica de Campinas, bolsista CAPES. 4 Docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e SOBRAPAR (Sociedade Brasileira de Pesquisa e Assistência para Reabilitação). 1 2 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 227 que correspondiam à faixa etária da pesquisa, entrou-se em contato com os responsáveis dos participantes, para a realização da entrevista como forma de obter maiores informações, e também, explicar a respeito da pesquisa e solicitar o consentimento. Na sessão com a criança, se a mesma tivesse sido avaliada em um período maior que um ano, esta era refeita. Caso não fosse necessária a Escala de Depressão para Crianças era aplicada diretamente. Os resultados mostraram que os dois participantes que apresentaram sintomas depressivos marcantes demonstraram déficit cognitivo. Três participantes apresentaram sintomas depressivos leves sendo que dois deles evidenciaram déficit motor. O participante que não apresentou atraso no desenvolvimento não apresentou também, sinais de comportamentos ou estados depressivos. Os dados obtidos nas entrevistas com os responsáveis demonstraram que muitas não discriminam os comportamentos depressivos dos filhos, considerando-os felizes. Esta pesquisa confirma a hipótese de que há uma relação entre depressão e atraso no desenvolvimento, porém precisa ser melhor investigado as causas dessa relação efetivamente. Por outro lado há necessidade de continuar a pesquisa com mais sujeitos, como forma também, de haver um melhor controle das variáveis. 228 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Caracterização da clientela infantil de um serviço de psicologia Daniela de Araújo Carvalho 1 Sibele Cristina de Sá 2 Helena Bazanelli Prebianchi Pontifícia Universidade Católica de Campinas. [email protected] Palavras-chave: clínica ampliada; intervenção; saúde mental. Objetivou-se caracterizar sóciodemográfica e clinicamente a clientela infantil atendida pela área de Psicologia na Saúde/Clínica, no Serviço de Psicologia da PUC-Campinas, no período de 2004 a 2005. A pesquisa do tipo documental baseouse nos prontuários de 112 pacientes (57 meninos e 55 meninas). Resultados parciais indicaram que 50,9% das crianças foi encaminhada por médicos; 21,3% pelo Conselho Tutelar 11,1% por outros profissionais de saúde; 9,3% por escolas e 7,4% pela família. As categorias diagnósticas (C.I.D-10) mais indicadas na triagem foram: transtornos emocionais e de comportamento com início na infância e adolescência(17,2%); problemas relacionados a eventos de vida negativos na infância e outros problemas relacionados à criação (15,3%); problemas relacionados ao grupo de suporte primário, incluindo circunstâncias familiares (13,6%); transtornos somatoformes (13,3%); fatores psicológicos e de comportamento associados a doenças (7,6%) e transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares (6,7%). As principais queixas foram: agressividade (19,4%); agitação (12,2%); problemas físicos (11,5%); dificuldades de relacionamento com os pais (8,6%) e dificuldades escolares (5,9%). Todas as crianças foram indicadas para tratamento, sendo 68,3% para psicodiagnóstico, 25,4% para psicoterapia individual, 19% para psicoterapia em grupo e 4,5% para a psicopedagogia. O número médio de sessões de psicodiagnóstico foi 17,8; de psicoterapia individual, 12,9 e, 12,8 de psicoterapia em grupo. Os índices de abandono do tratamento totalizaram 34% dos 1 2 Bolsista PIBIC - PUC-Campinas Bolsista PIBIC - PUC-Campinas. 229 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 psicodiagnósticos; 24,5% das psicoterapias individuais e 13,2% das psicoterapias grupais. Os resultados indicaram predomino do serviço de psicodiagnóstico sobre ambos os tipos de psicoterapias, tanto em relação às freqüências de oferecimento, como às durações médias. Houve problemas de aderência nas três modalidades de atendimento, sendo proporcionalmente maiores em psicoterapia individual. Apontase a necessidade de avaliação das dimensões estruturais e processuais da triagem e do psicodiagnóstico, para aumentar a capacidade resolutiva qualitativa do Serviço, através da reorganização e reorientação de suas práticas relacionadas à população infantil. 230 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Caracterização de um programa de avaliação do desenvolvimento em um ambulatório de deformidades craniofaciais Ana Flávia Mac Knight Carletti 1 Maria Elisa G. Cury22 Valéria Cristina Santos 3 Ana Lucia Ivatiuk 4 Dra. Vera Lucia Adami Raposo do Amaral 5 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: desenvolvimento infantil; deformidades craniofaciais; avaliação psicológica infantil. As deformidades craniofaciais podem causar uma diversidade de problemas ao desenvolvimento global de seus portadores. Por essa razão, um dos programas de um serviço especializado em Reabilitação para pessoas que tenham esse tipo de problema deve ser o acompanhamento de tal desenvolvimento. O presente estudo é uma caracterização deste trabalho, realizado durante o ano de 2005, o qual possibilita a descrição do desenvolvimento intelectual, emocional e social nas diversas idades. A partir dele, podem ser identificados problemas ou áreas de risco e, então, serem utilizadas estratégias ou planos de atendimento que facilitem o desenvolvimento e a prevenção de problemas na criança e/ou adolescente. Todas as crianças atendidas devem passar por este tipo de avaliação, logo depois da avaliação inicial, sendo realizada de 6 em 6 meses com crianças até 2 anos e de 1 em 1 ano com crianças mais velhas. O serviço de psicologia realizou 3823 atendimentos, sendo que destes, 219 (6%) corresponderam a avaliações realizadas no período. Conforme a faixa etária da criança são utilizados escalas e testes específicos, sendo que todas as áreas anteriormente citadas são avaliadas ou na Graduanda em Psicologia – Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Graduanda em Psicologia – Pontifícia Universidade Católica de Campinas. 3 Psicóloga. 4 Doutoranda em Psicologia - Pontifícia Universidade Católica de Campinas, bolsista CAPES. 5 Professora. do programa de Pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e SOBRAPAR (Sociedade Brasileira de Pesquisa e Assistência para Reabilitação). 1 2 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 231 mesma escala ou em testes específicos. Os tipos de avaliações correspondem a três grandes áreas, como: o primeiro ano de vida, a partir de 1 ano, ate 4 anos e 11 meses e acima de 5 anos. Durante as avaliações procura-se estabelecer um bom vinculo com a criança e com a mãe para iniciar a avaliação; após isto faz-se a avaliação com o instrumento adequado para a idade; depois de ter obtido os dados necessários, marca-se a devolutiva e nessa situação já fica agendada a reavaliação conforme a período necessário para a volta. Neste momento de entrega do relatório são dadas algumas orientações aos pais quando necessário, assim como encaminhamentos à outros serviços do hospital. A avaliação do desenvolvimento também pode influenciar na tomada de decisão sobre uma cirurgia. Muitas crianças com craniossinostose quando apresentam um desempenho significativamente baixo, a equipe é informada de que a deformidade está implicando gravemente no desenvolvimento da criança e que é recomendável uma avaliação médica e possível antecipação do procedimento. Ao contrário em alguns casos de fissuras labiopalatinas, crianças com desenvolvimento significativamente inferior a média esperada, é feito o contrário, proposto que se espere para a intervenção e que esta família seja trabalhada, nos sentido de procurar superar os problemas apresentados. Os dados obtidos nesse período foram importantes para decisões desse tipo no período, bem como para a prevenção de problemas futuros de desenvolvimentos. 232 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Comprovações Biológicas do Treino de Controle do Stress Lucia Emmanoel Novaes Malagris 1 Universidade Federal do Rio de Janeiro Antônio Cláudio Mendes Ribeiro Tatiana Brunini Universidade do Estado do Rio de Janeiro – RJ [email protected] Palavras-chave: treino de controle do stress; hipertensão arterial sistêmica; L-arginina; óxido nítrico; transporte celular. Observações clínicas e pesquisas vêm demonstrando que o stress excessivo pode influenciar o surgimento, desenvolvimento e manutenção de doenças crônicas de diversos tipos. No entanto, ainda existe uma necessidade de mais comprovações científicas a respeito da efetividade do manejo psicológico do stress no controle dessas patologias. Uma das doenças crônicas que tem sido associada ao stress emocional é a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), a qual se constitui em uma das patologias crônicas mais freqüentes na população mundial. Um trabalho que vise o controle do stress parece útil como coadjuvante no tratamento da HAS. O Treino de Controle do Stress (TCS) para hipertensos elaborado por Lipp tem essa proposta. Trata-se de um trabalho de base cognitivo-comportamental, que tem como objetivo implementar mudanças no estilo de vida do hipertenso de modo a contribuir, junto ao tratamento médico, para o controle da doença. Na presente pesquisa o TCS foi implementado em um grupo de pacientes hipertensas como parte de um estudo maior em que foram consideradas: hipertensão arterial sistêmica (HAS), transporte celular do aminoácido L-arginina em células vermelhas do sangue (eritrócitos) e o stress excessivo. Dentre os objetivos do presente estudo, buscou-se verificar se o TCS estaria associado a alterações no transporte, em células vermelhas do sangue, da L-arginina, aminoácido necessário para a síntese do Óxido Nítrico (NO), gás inorgânico, que se constitui no maior vasodilatador sistêmico liberado pelas células 1 233 Centro Psicológico de Controle do Stress Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 endoteliais dos vasos sanguíneos, logo implicado na HAS. Resultados anteriores obtidos em uma primeira parte do estudo haviam demonstrado que na hipertensão e no stress há alterações estatisticamente significativas no transporte de L-arginina capazes de explicar a diminuição na ação do NO nesta patologia. Participaram da parte do estudo aqui apresentada 14 mulheres hipertensas estressadas, de acordo com o Inventário de Sintomas de Stress de Lipp (ISSL). As participantes foram submetidas a uma avaliação médica, posteriormente a uma entrevista psicológica, momento em que também foi avaliado o nível de stress e analisado o transporte celular de L-arginina em eritrócitos através de experimentos laboratoriais. Após as avaliações citadas, as participantes foram submetidas ao TCS, o qual se constituiu em 15 sessões em grupo baseadas no Manual do Treino de Controle do Stress elaborado por Lipp. Após o TCS, as hipertensas do estudo foram reavaliadas quanto ao nível de stress, assim como nova análise do transporte de L-arginina em eritrócitos foi realizada. Os resultados encontrados revelaram que das 14 hipertensas estressadas, 10 (71.4%) não mais apresentaram stress após o TCS. Verificou-se, também, que o transporte de L-arginina através de um dos sistemas de transporte celular em células vermelhas do sangue após o TCS aumentou significativamente (p<0.05) a valores semelhantes aos obtidos anteriormente em um grupo de hipertensas não estressadas que foi estudado como parte do estudo maior. Embora seja necessária cautela na observação dos resultados encontrados, os mesmos sugerem que o controle do stress, através do TCS de Lipp, em pacientes hipertensas, parece colaborar positivamente na recuperação do transporte de Larginina e, consequentemente na síntese de NO, e, assim, no controle da pressão arterial. 234 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Construções para teorias de grupo Pablo de Carvalho Godoy-Castanho Maria Inês Assumpção Fernandes 1 Antonios Terzis [email protected] Muito mais do que um campo de psicanálise aplicada, a história das teorias psicanalíticas de grupo nos apresenta questionamentos e inovações sobre as múltiplas ligações e desligamentos, passagens e obstruções nos diferentes níveis da realidade psíquica e desta com as realidades materiais, sociais, econômicas e etc.. Estudar os processos e formações grupais acaba por ter conseqüências na própria visão do que é o conhecimento e de seus processos de produção. Ao pensarmos a produção do conhecimento nos e pelos grupos de cientistas, descortina-se uma rede de investimentos múltiplos, circulação de afetos e representações dentre outros processos e formações psíquicas que nos possibilitam caracterizar processos grupais implicados na formação e desenvolvimento das ciências. Pichon-Rivière e Kaës nos trazem importantes conceitos e reflexões que acabam por questionar a noção corrente de autoria e podem nos levar a compreender a pesquisa científica como emergente de um grupo. Além destas implicações epistemológicas, o estudo do psiquismo no grupo e pelo grupo nos remete a várias questões metodológicas. Bleger realiza importante contribuição ao pensar o enquadre de cada intervenção grupal como invaríaveis necessárias ao processo de pesquisa. Kaës nos alerta quanto à problemática de uma situação paradigmática de grupo e das relações entre dispositivo e objeto de pesquisa. Abordaremos questões mais específicas da pesquisa recorrendo à exemplos de trabalhos já executados. Realizaremos uma breve resenha dos aspectos metodológicos de diversos trabalhos realizados sob orientação da Profa. Dra. Maria Inês Assumpção Fernandes na Universidade de São Paulo. Através deles poderemos apresentar e comentar várias formas de agenciamento das teorias 1 235 Co-autora Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 psicanalíticas de grupo e do dispositivo de grupo operativo com fins de investigação e produção de conhecimento. 236 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Construções para uma Teoria dos Grupos: Uma Perspectiva Psicanalítica Marcio Chevis Svartman 1 Antonios Terzis 2 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: psicologia dos grupos; aparelho psíquico grupal; atendimento em grupo. Este trabalho apresenta uma nova idéia no campo da Psicologia dos Grupos. Levantamos a hipótese de um aparelho psíquico grupal, considerando que os processos mentais inconscientes apresentam características grupais em suas estruturas. Pensamos que o grupo não é uma simples reunião de pessoas, mas a partir dos aparelhos psíquicos individuais tendem a construir-se um aparelho psíquico grupal. Para verificar estas hipóteses é necessário introduzir, de maneira crítica, a questão do grupo na psicanálise para dar forma, conteúdo e sentido às investigações práticas e teorizações que se organizam ao redor do trabalho psicanalítico em grupo. Propomos-nos também a retomar as teorias fundamentais das distintas escolas que surgiram na Inglaterra, na França e na Argentina e elaborar um panorama o mais abrangente possível do campo da psicanálise grupal. Finalmente, baseando-se nessas considerações teóricas, apresentamos um caso clínico de um grupo de crianças com queixas em atividades escolares e queixas de relacionamento, atendidas em um centro comunitário. 1 2 Aluno da Pós-Graduação em Psicologia da PUC Campinas. Professor do Programa de Pós Graduação em Psicologia da PUC-Campinas. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 237 Delineamentos metodológicos e a pesquisa em psicoterapia Maria Leonor Espinosa Enéas Universidade Presbiteriana Mackenzie [email protected] Palavras-chave: produção científica; mudança em psicoterapia; pesquisa clínica; intervenção psicológica. Analisa seções especiais de periódico da American Psychological Association num período de 20 anos e apresenta questões relevantes no campo da pesquisa em psicoterapia. Observa que 17,65% das seções especiais são relativas ao tema e publicadas predominantemente entre 1993 e 1996. As ênfases recaem sobre a complexidade do campo relacional, a busca de evidência científica para os resultados de psicoterapia e a necessidade de articular a pesquisa à prática clínica. Os delineamentos destacados são os estudos de caso único, com avanços metodológicos que viabilizam estudar o contexto das mudanças e que têm consenso entre os pesquisadores, e os ensaios clínicos randomizados, ainda objeto de grande debate entre aqueles que defendem as observações objetivas e os que preferem dados guiados pela teoria. No decorrer do tempo, observa-se que o desenvolvimento dos delineamentos de pesquisa permitiu maior aproximação ao objeto de estudo, com maior refinamento na colocação do problema. O aprimoramento das pesquisas tem levado à maior aproximação com a prática clínica e ao refinamento de “o que” e “como” deve ser investigado em um processo terapêutico. Ainda há críticas quanto a limitações metodológicas e estatísticas, cuja função continua sendo promover o progresso na área de forma que os achados científicos possam captar sempre mais da complexidade da interação humana. 238 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Descrição de algumas variáveis de risco na avaliação psicossocial de crianças portadoras de deformidades craniofaciais Ana Lucia Ivatiuk 1 Vera Lucia Adami Raposo do Amaral 2 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: desenvolvimento infantil; deformidades craniofaciais; fatores de risco. Os estudos sobre fatores de risco e proteção têm sido preconizados na literatura psicológica como uma direção profícua na obtenção de dados para embasar programas de prevenção e atenção aos indivíduos com necessidades especiais. Os fatores de risco se referem às variáveis que aumentam a probabilidade de que ocorra algum efeito deletério para o desenvolvimento do indivíduo. O presente estudo é descritivo e exploratório e visou descrever o desenvolvimento psicológico, social e fatores de risco de crianças portadoras de deformidades faciais e seus familiares. Participaram da pesquisa 70 crianças de O a 12 anos, de ambos os sexos, de nível sócio-econômico baixo, todos portadores de deformidades craniofaciais congênitas, atendidos em uma instituição especializada. Foram constituídos três grupos por faixa etária e tipo de deformidade: o G1 constituído por 24 bebês de O a 1 ano; o G2 por 19 crianças da faixa etária de 1 a 5 anos e o G3 da faixa etária de 5 a 10 anos constituído por 27 participantes. Os grupos foram também divididos por tipo de deformidade: Grupo de Fissuras Lábio Palatinas (GFLP), constituído por 32 participantes; Grupo de Cranioestenose (GDC), constituído por 18 participantes; e Grupo de Deformidades Raras (GDR) constituído por 20 participantes. Realizou-se entrevistas semi-estruturadas que coletaram dados relativos à caracterização da amostra tal como procedência, idade dos pais, estado civil, escolaridade, situação funcional e outros dados que poderiam caracterizar Doutoranda - Pontifícia Universidade Católica de Campinas, bolsista CAPES. Docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e SOBRAPAR (Sociedade Brasileira de Pesquisa e Assistência para Reabilitação). 1 2 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 239 fatores de risco como número de irmãos, relacionamento do casal, apoio social, reação do casal e da família à gravidez, ao nascimento e à deformidade do filho e problemas familiares como agressividade, alcoolismo, drogadição e distúrbios psicológicos. Para as crianças em idade escolar foram avaliados: relacionamento com colegas e amigos, reação dos amigos à deformidade, relacionamento com os pais e familiares. Foram avaliados, também, o desenvolvimento cognitivo e motor, através de escalas próprias para cada faixa etária. Os resultados apontaram que as famílias eram em sua maioria composta por pai e mãe, a maioria estava trabalhando, mantinha bom relacionamento conjugal e rede de apoio social, não planejou a gravidez e principalmente a mãe teve reação de choque ao se saber grávida, a maioria. soube da deformidade da criança no momento do nascimento e a reação foi de choque. As crianças mostraram bom relacionamento social e com amigos, embora fossem vítimas de chacota e risos na escola. O desenvolvimento do grupo de bebês se mostrou adequado para a idade, mas a avaliação cognitiva se mostrou prejudicada para um número maior de participantes do G2 e G3 mostrando que a dificuldade cognitiva pode ser evidenciada com o passar da idade, o mesmo não acontecendo com o repertório motor. O Grupo que apresentou maior comprometimento foi o GFLP, devido aos problemas de fala e linguagem que caracterizam este grupo. Estes dados corroboram a necessidade de programas de prevenção, avaliação e acompanhamento de crianças portadores de anomalias craniofaciais nos anos pré-escolares e escolares, tanto do ponto de vista cognitivo como psicossocial, para que sejam superadas estas dificuldades. 240 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Descrição de um programa psicopedagógico em um ambulatório de deformidades craniofaciais Carolina Porto de Almeida 1 Carina Luiza Manolio 2 Marilia Brandão Blundi 3 Valéria Cristina Santos 4 Ana Lúcia Ivatuk 5 Vera Lucia Adami Raposo do Amaral 6 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: psicopedagogia; queixas escolares; deformidades craniofaciais. Crianças com deformidades craniofaciais congênitas, como as fissuras labiopalatinas, ou adquiridas, em decorrência de traumas, queimaduras ou tumores, apresentam uma face atípica, que na maioria dos casos acarreta problemas desde dificuldades da produção vocal até de inserção social e desempenho acadêmico. Num contexto hospitalar que visa à reabilitação de crianças com deformidades de crânio e face, fez-se necessário o atendimento Psicopedagógico a fim de identificar fatores de risco ao rendimento escolar da população atendida, bem como de avaliar, tratar e prevenir comportamentos não favoráveis à aprendizagem escolar. O objetivo do presente estudo foi caracterizar os atendimentos realizados no ambulatório de Psicopedagogia de uma instituição especializada durante o ano de 2005. Foram atendidas crianças e adolescentes com deformidades craniofaciais, de ambos os sexos com idades entre seis e vinte e um anos de idade, encaminhados após avaliação do desenvolvimento ou entrevista inicial, quando foram detectadas dificuldades de aprendizagem ou queixas relacionadas ao processo de escolarização. A maioria estava regularmente matriculada na pré-escola ou Ensino Fundamental I e II. Os materiais mais utilizados durante os atendimentos foram: atividades lúdicas; material escolar; provas pedagógicas, Protocolo de Entrevista Graduanda em Psicologia – Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Graduanda em Psicologia – Pontifícia Universidade Católica de Campinas. 3 Graduanda em Psicologia – Pontifícia Universidade Católica de Campinas. 4 Psicóloga. 5 Doutoranda pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, bolsista CAPES. 6 Docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e SOBRAPAR (Sociedade Brasileira de Pesquisa e Assistência para Reabilitação). 1 2 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 240 Psicopedagógica; carta de cadastro dos professores, Teste de Desempenho Escolar (Stein, 1994); Roteiro de Avaliação de Auto-eficácia (Loureiro, 2000); Roteiro de avaliação da Autopercepção no Ambiente Escolar (Tonelotto, 2002); Roteiro de Avaliação de Leitura, Escrita e Cálculo (Tonelotto, não publicada).Inicialmente, era realizada a avaliação psicopedagógica, para a verificação do repertório de entrada da criança em relação ao desenvolvimento cognitivo, motor, leitura, escrita, cálculo, habilidades sociais; interesse e motivação para aprender; auto-eficácia e autopercepção no ambiente escolar. Concluída a avaliação, era elaborado um relatório e a devolutiva feita aos pais ou responsáveis. A partir das potencialidades verificadas, planejava-se atividades específicas de estimulação facilitadoras à emissão dos comportamentos esperados no contexto da escola. Estabeleceu-se uma relação de parceria com os pais, acompanhantes e professores das crianças atendidas, com o intuito de auxiliá-los a criar melhores condições à aprendizagem dos filhos-alunos, por meio de orientações para o acompanhamento do desenvolvimento escolar, destacando-se a intervenção com o Grupo de Orientação de Pais e o Primeiro Encontro de Educadores. Constatou-se a realização de 3823 atendimentos do Setor de Psicologia, sendo que 785 foram referentes aos Atendimentos Psicopedagógicos, correspondendo a 21% dos atendimentos totais. Foram recebidos no programa de Psicopedagogia 60 casos novos ao longo do ano. Portanto, pôde-se constatar a eficácia das atividades realizadas devido ao aumento do número de pacientes atendidos em relação ao ano anterior, aos resultados satisfatórios alcançados com as crianças e ao pequeno índice de abandono. 241 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Discriminação de habilidades sociais em crianças com fissura labiopalatina Paula Cristina Bernardes 1 Ana Lucia Ivatiuk Vera Lucia Adami Raposo do Amaral 2 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: fissura labiopalatina; desenvolvimento psicossocial; habilidades sociais. As fissuras labiopalatinas são uma deformidade congênita caracterizada por uma abertura na região do lábio e/ou palato, ocasionada pelo não fechamento destas estruturas durante o período gestacional. Sabe-se que a aparência física e, mais especificamente, a face exercem uma importante influência na interação pessoal e que essa interação é necessária para um desenvolvimento psicossocial satisfatório. Assim, é possível pensar que crianças fissuradas encontrem maiores dificuldades em seu desenvolvimento psicossocial do que crianças sem deformidades físicas, o que pode acarretar déficits em habilidades sociais. O termo habilidade social se refere à existência de um repertório comportamental variado que permita ao indivíduo lidar de maneira adequada com as situações interpessoais. A falta de determinadas habilidades sociais pode se tornar crítica, acarretando relações sociais restritivas e conflitivas que interferem de maneira negativa sobre a saúde psicológica do indivíduo. Por essa razão, a pesquisa pretende avaliar a qualidade das habilidades sociais em crianças portadoras de fissuras labiopalatinas e verificar os efeitos de possíveis dificuldades em suas interações sociais. Para isso serão selecionados pacientes da SOBRAPAR, portadores de fissuras labiopalatinas, na faixa etária de 07 a 12, que serão submetidos a uma avaliação de habilidades sociais através do instrumento SMHSC. Com os responsáveis de cada criança será realizada uma entrevista semi-estruturada com o objetivo de obter Graduanda em Psicologia – Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e SOBRAPAR (Sociedade Brasileira de Pesquisa e Assistência para Reabilitação). 1 2 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 243 informações sobre o comportamento da criança nos diversos ambientes que freqüenta. Os dados serão analisados de maneira a verificar se a fissura labiopalatina, enquanto deformidade facial, pode acarretar prejuízos psicossociais aos seus portadores. Assim os resultados poderão servir de base para investigações futuras e para a elaboração de intervenções preventivas, contribuindo para uma melhor qualidade de vida dos portadores de fissuras labiopalatinas. 244 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Dizer-fazer-dizer: comportamentos de mãe e filho portador de deformidade craniofacial em uma situação de exame médico invasivo Amanda Wechsler Vera Lúcia Adami Raposo do Amaral 1 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: comportamento operante; comportamento verbal; comportamento não-verbal; hospitalização infantil; procedimentos invasivos. A relação entre o que uma pessoa diz e o que ela faz recebe a denominação de correspondência verbal. Neste sentido, a correspondência pode ser uma seqüência dizer-fazer (a pessoa promete algo e faz aquilo que prometeu) ou uma seqüência fazer-dizer (o indivíduo faz algo e relata o que fez). Há também a possibilidade da seqüência dizer-fazer-dizer, uma junção das duas seqüências anteriores. As pesquisas sobre correspondência tiveram grande ascensão na década de 70, mas atualmente não há muitas pesquisas sobre este tema, principalmente no Brasil. Pesquisas mais recentes sugerem que a correspondência possa ser uma condição pré-existente em crianças e, por isto, é necessária a descrição da correspondência em seu ambiente natural para verificar se esse fenômeno ocorre, como ocorre, com que populações e em que condições. Deste modo, este projeto de pesquisa tem como objetivo descrever e analisar a correspondência entre o dizer e o fazer de uma mãe de uma criança portadora de deformidade craniofacial no ensino de alguns comportamentos de adesão a seu filho em uma situação de exame médico invasivo. Participarão do estudo uma mãe e uma criança de 5 a 8 anos, portadora de deformidade craniofacial. Serão utilizadas entrevistas semi-dirigidas e um roteiro de observação livre. Uma primeira entrevista gravada em fita cassete será realizada com a mãe, em que se perguntará como ela irá se comportar durante o exame médico. Após isto, mãe e filho farão o exame médico, que será filmado. Depois do exame, nova entrevista com a mãe será 1 PUC-Campinas e Sociedade Brasileira de Assistência e Reabilitação Craniofacial. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 245 realizada, perguntando como ela se comportou durante o exame. Dessa maneira, pretende-se verificar se a mãe apresenta correspondência entre o que ela disse que iria fazer, o que ela fez e o que ela disse que fez. 246 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Efeitos de Contingências de Reforço sobre a utilização de pronomes na construção de frases Kátia Perez Ramos 1 Nathali Di Martino Sabino 2 Gerson Yukio Tomanari Universidade de São Paulo Vera Adami Raposo do Amaral 3 [email protected] Palavras-chave: reforçamento positivo; contingência de extinção; contingência baseada em perda. Resumo Experimentos que utilizam humanos como sujeitos empregando conseqüências baseadas em ganho e perda de pontos, são considerados, na literatura, como uma das melhores alternativas para se elucidar os efeitos de diferentes pares de contingências, uma vez que a maioria dos experimentos com animais empregam conseqüências apetitivas (alimento) e aversivas (choques) qualitativamente diferentes e que, portanto, não podem ser comparadas sobre a mesma escala de medida sem procedimentos especiais. Além disso, os resultados de experimentos que utilizam adição e subtração de pontos como conseqüência vêm confirmando a capacidade desta alternativa para descrever o processo de reforçamento. Assim o objetivo da presente investigação foi verificar o efeito de diferentes contingências de reforço combinadas sobre a utilização de pronome na tarefa de construção de frases. O procedimento básico desse estudo submeteu 15 participantes a diferentes pares de contingências ao longo de sessões experimentais individuais, constituídas de um número determinado de frases, por meio da manipulação da variável pontos (adicionados, subtraídos e mantidos) de acordo com Doutoranda da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, profissional da SOBRAPAR. Graduanda da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, sem bolsa de Iniciação Científica. 3 Grupo de Pesquisa: Análise do comportamento em saúde e reabilitação, Linha de Pesquisa: Prevenção e intervenção psicológica. 1 2 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 247 o pronome utilizado na construção de cada uma das frases. Em cada um dos pares de contingências combinadas estavam envolvidas: a) uma contingência de reforçamento positivo (quando a frase fosse construída com o pronome selecionado para o fortalecimento) versus uma contingência de reforçamento negativo (quando a frase fosse construída com quaisquer pronomes diferentes do selecionado para o fortalecimento); b) uma contingência de reforçamento positivo (quando a frase fosse construída com o pronome selecionado para o fortalecimento) versus uma contingência de extinção (quando a frase fosse construída com quaisquer pronomes diferentes do selecionado para o fortalecimento); c) uma contingência de reforçamento negativo (quando a frase fosse construída com quaisquer pronomes diferentes do selecionado para o fortalecimento) versus uma contingência de extinção (quando a frase fosse construída com o pronome selecionado para o fortalecimento). Para tanto, foi utilizado o programa de computador Verbal 2.5 para o registro e coleta de dados. "Efeitos de diferentes contingências de reforço sobra a utilização de pronomes na construção de frases" 248 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Epilepsia benigna da infância com pontas centrotemporais: estudo evolutivo do desempenho das crianças na Escala Wechsler de Inteligência para Crianças (WISC-III) e no Teste das matrizes progressivas coloridas de Raven Marcela Berretta Gloria M. A. S. Tedrus 1 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: epilepsia focal idiopática; escala Wechsler de Inteligência para Crianças, teste das matrizes progressivas coloridas de Raven. Na literatura, são referidos alguns estudos de crianças com epilepsia benigna da infância com pontas centrotemporais (EBICT) que apresentam, na fase ativa da epilepsia, alterações cognitivas como déficit de memória e de aprendizagem, em subtestes auditivo-verbais, e dificuldades de leitura. Não temos conhecimento de pesquisas que tenham estudado os aspectos evolutivos neuropsicológicos nesta síndrome epiléptica. Assim, o presente trabalho tem como objetivo estudar os aspectos evolutivos durante o seguimento de criança com EBICT. Serão estudos os aspectos evolutivos no Escala Wechsler de Inteligência para Crianças e no Teste das matrizes progressivas coloridas de Raven de 20 crianças, na faixa etária de 8 a 11 anos de idade, com EBICT, que serão reaplicados após 2 anos de acompanhamento no nosso serviço. 1 Grupo de pesquisa: Neuropsicofisiologia em cognição e epilepsia - Projeto financiado pelo CNPq. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 249 Escala Rutgers de Progresso em Psicoterapia- RPPS: instrumento de avaliação das mudanças em Psicoterapia Breve Fabrícia Medeiros Sanches 1 Elisa Medici Pizão Yoshida Pontifícia Universidade Católica de Campinas. [email protected] Palavras-chave: processo intensivo de caso único; método de avaliação de psicoterapia; mudança em psicoterapia; psicoterapia breve; psicoterapia psicodinâmica. A Psicoterapia Breve utiliza procedimentos que têm sua fundamentação teórica na psicanálise, mas que se distanciam dela, enquanto técnica e objetivos. O termo “breve” emerge em decorrência da necessidade de psicoterapias de tempo limitado, focados na resolução de problemas específicos dos indivíduos. Entende-se por mudanças em Psicoterapias Breve, aquelas que ocorrem em tempo curto, promovendo o restabelecimento de níveis mais saudáveis de conduta para o paciente, com adequação dos padrões relacionais a um funcionamento mais adaptativo. Para a avaliação de mudança em psicoterapias psicodinâmicas vários instrumentos e escalas têm sido propostos. Para a identificação de progresso e de estagnação em processos de psicoterapias psicodinâmicas tem-se a Escala Rutgers de Progresso em Psicoterapia- RPPS ( Rutgers Psychotherapy Progress Scale). Destina-se a medir o processo de melhora do paciente, conforme este conceito é descrito na literatura psicanalítica. Consiste de 8 itens que avaliam os seguintes domínios: a) Expressão de Material Significante - MS; b) Desenvolvimento de Insight - DI; c) Foco sobre Emoção- FE; d) Referência Direta ao Terapeuta e/ou Terapia - RDT; e) Novo Comportamento na Sessão- NCS; f) Colaboração - C, g) Clareza e Vivacidade da Comunicação- CV; h) Foco sobre Si - FSS. É aplicada a cada bloco de 5 minutos de um material de transcrição de terapias breves psicodinâmicas completas. Segundo os autores, a escala demonstrou ter precisão entre avaliadores adequada e consistência interna, com base nas avaliações de 1 250 Bolsista de Iniciação científica -FAPIC Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 quatro juízes. No que respeita à validade preditiva, 6 dos 8 itens e o escore total foram mais altos em processo de psicoterapia com melhor resultado, quando comparado a um com resultado mediano. A validade simultânea foi demonstrada em 6 dos 8 itens e o escore total se correlacionou, como o previsto, com a Vanderbilt Psychotherapy Process Scale. Os resultados foram vistos como um primeiro indicador da precisão e validade da versão de 6 itens da Escala. Em pesquisa brasileira, os coeficientes intra-classes indicaram acordo aceitável (mínimo de 0,40) em três ítens : MS, FE e C, quando se avaliou dois processos psicoterápicos breves. 251 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Estudo de um caso em preparação para procedimentos invasivos de uma paciente com nevus Talita de Sousa Borges 1 Milena Trevizan 2 Ana Lucia Ivatiuk 3 Vera Lúcia Adami Raposo do Amaral 4 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: preparação para procedimentos; nevus melanocitico; estratégias lúdicas. Nevus melanocitico é uma malformação congênita com implicações físicas, sociais e psicológicas que demanda geralmente de várias intervenções cirúrgicas. Para que estas se realizem em pacientes com ansiedade, expectativas e sentimentos negativos reduzidos, é importante que o mesmo seje atendido pela equipe de psicologia no programa de preparação para procedimentos invasivos. Este estudo de caso teve como objetivos: descrever os comportamentos de interação social, de aproximação à equipe e de cooperação apresentados antes, durante e após o término do processo de preparação e realização do procedimento invasivo, e avaliar a eficácia das estratégias lúdicas utilizadas no processo de preparação para cirurgia ministrado pelo serviço de Psicologia de um hospital especializado em deformidades craniofaciais. Os instrumentos que serviram de base para este estudo se referem aos próprios atendimentos realizados durante o procedimento (escala de dessenssibilização e estratégias utilizadas), os relatos dos atendimentos e a análise funcional dos comportamentos manifestados, antes, durante e depois do processo de preparação para cirurgia. Após 8 meses de trabalho com a dessenssibilização considerou-se necessário, o estabelecimento de outros comportamentos essenciais e o entendimento do histórico de vida da paciente e seu modelo de funcionamento comportamental para concretização do procedimento invasivo. Após, avaliou-se positivamente a eficácia das estratégias Graduanda em Psicologia – Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Graduanda em Psicologia – Pontifícia Universidade Católica de Campinas. 3 Doutoranda - Pontifícia Universidade Católica de Campinas, bolsista CAPES. 4 Docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e SOBRAPAR (Sociedade Brasileira de Pesquisa e Assistência para Reabilitação). 1 2 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 252 comportamentais e lúdicas para o desenvolvimento e obtenção dos objetivos, principalmente pelo fato da criança viver sob condições ambientais adversas e aversivas. 253 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Evidência clínica da psicoterapia psicanalítica na ansiedade, depressão e transtorno da “working memory” Renata Otero Faria UMESP [email protected] Palavras-chave: desânimo; angustia; passividade; motivação; tratamento psicanalítico. O presente trabalho tem como objetivo descrever a evolução clínica e mudança psíquica de um paciente a partir do setting da psicoterapia psicanalítica. O paciente apresenta como queixa inicial encaminhamento do psiquiatra, sonilóquio e transtorno de ansiedade. Relata nas entrevistas preliminares os seguintes distúrbios: irritabilidade constante, depressão, desemprego, falhas da work memory e luto não elaborado. Por meio da psicoterapia psicanalítica, segundos os moldes das relações objetais de Melanie Klein, o psicodiagnóstico foi feito com o TAT e entrevistas. Posteriormente iniciou-se o processo psicoterápico, com freqüência de duas sessões semanais, realizadas na clínica escola UMESP. A partir do TAT foram identificadas questões relacionadas á fantasias inconscientes depressivas, sensações de angústia, passividade excessiva, sentimentos de impotência frente à vida, além de dificuldade na criação e desempenho do espaço potencial winnicottiano. Após as entrevistas de psicodiagnóstico, as informações foram passadas ao paciente, através de uma entrevista de devolução e foi iniciada a psicoterapia. No decorrer das sessões houve melhora significativa dos sintomas iniciais, relacionados principalmente a motivo para o trabalho. O paciente que chegou á clínica desmotivado e em estado depressivo, teve melhoras em seu estado de ânimo, pois este foi a principal causa de sua demissão no trabalho. Após esta o paciente não conseguia outro emprego e permanecia inativo sem encontrar saída para sua situação. A psicoterapia levou o paciente a refletir tal questão, de forma que, no momento encontra-se motivado para buscar novos empreendimentos. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 254 Embora o tratamento ainda não tenha sido completado, o paciente prosseguirá no próximo semestre dando continuidade às reflexões sobre sua vida, tendo em vista superação de suas dificuldades emocionais e ao desenvolvimento do espaço potencial, da autonomia do self e da criatividade. 255 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 256 Experiências de um Grupo de Mulheres na Luta pela Cidadania Noeliza B. S LIMA 1 Regina Maria L. Lopes Carvalho 2 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: atendimento comunitário; grupanálise; direitos humanos. A pesquisa pretendeu entender um grupo operativo de mulheres que defendem os direitos do cidadão, e principalmente da mulher, buscando uma compreensão psicológica. Acreditava-se que esta forma de investigação pudesse auxiliar este grupo na aquisição e fortalecimento de uma identidade tanto grupal, como individual. Este trabalho foi realizado com um grupo de 33 mulheres, de vários bairros da cidade. As participantes se aglutinaram com o objetivo de lutar pelos direitos da mulher, e por uma melhor qualidade de vida da população em suas comunidades. O grupo pesquisado é um grupo importante dentro do movimento de cidadania da região. O método utilizado foi o qualitativo. Realizouse a coleta de dados através da observação participante, utilizando-se como material um diário de campo e a gravação de tres reuniões consecutivas do grupo. Optou-se no procedimento por dois tipos de análise: a análise de conteúdo e a análise de temas emergentes. Também na análise dos dados foi feita uma primeira leitura reunião por reunião, e depois uma segunda leitura dos dados segundo todos os temas encontrados. Adotou-se para a análise dos resultados e discussão o referencial psicanalítico, especialmente a dinâmica de grupo, a grupanálise e sua relação com os mitos gregos. Os resultados mostram que o grupo é coeso e forte, os vínculos estabelecidos através do tempo são mantidos pela eficiência em sua operacionalidade, pela discussão de temas que interessam à formação das participantes, e pela valorização que conseguem dentro de suas 1 2 Dissertação de mestrado (2000). Orientadora – Pontifícia Universidade Católica de Campinas Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 256 257 comunidades. Observaram-se necessidades de informações, de ajuda nas tarefas, e suporte psicológico através de grupos de reflexão. 257 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Follow up no serviço de plantão psicológico: contribuição de uma clínicas-escola para a expansão da psicologia clínica. Regina Celia Paganini Lourenço Furigo Vera Engler Cury Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras chave: clinica ampliada; compromisso social; saúde pública. A Psicologia Clínica brasileira tem sido desafiada a responder a novos contextos, da mesma maneira eficaz daquela de seus moldes clássicos, no consultório. Necessário se torna agregarmos ao tradicional lócus de trabalho, possibilidades de serviços clínicos em instituições, comunidades, organizações etc. O Serviço de Plantão Psicológico, dentro de uma nova perspectiva clínica alterando tempo, temenos, agendamentos, objetivos, necessidades burocráticas, mostra-se colaborador desse processo. As Clínicas-Escolas, um elo de transição na formação do graduando em Psicologia, também tem contribuído para tal. Formar alunos com uma nova mentalidade, aptos a enfrentar desafios, munidos de nova instrumentalização e formação pessoal compatível com as demandas atuais, faz-se necessário nesses novos tempos. O objetivo desse estudo é realizar a analise da Atenção Psicológica disponibilizada aos usuários de uma Clinica-Escola Universitária por meio do Plantão Psicológico a partir das experiências de Plantonistas, Clientes e Supervisora. Quanto à questão metodológica vem sendo conduzida uma pesquisa ação, sobre dez pacientes atendidos no Serviço de Plantão Psicológico, conveniado ao SUS, por seis psicólogos plantonistas previamente selecionados os quais realizam supervisão semanal. Os atendimentos consistem em três sessões e uma entrevista de follow up realizada um mês após o termino do processo. A pesquisa tem a duração de seis meses e requer do plantonista a entrega de relatório pormenorizado, o mesmo com a supervisora pesquisadora encarregada das entrevistas de follow up. Está sendo gerado um conjunto de trinta relatórios de sessões clinicas, dez relatos da experiência pessoal do plantonista, dez entrevistas de follow up e dez relatos da experiência da supervisora sobre todo 258 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Processo. Os relatos dos plantonistas os a entrevista de follow up e a participação da supervisora estão sendo divididos em unidades de significado que possibilitam a elaboração de sínteses específicas sobre os respectivos vividos e posteriormente virá uma Síntese Geral, analisada a luz de referencial junguiano e fenomenológico. 259 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Grupo de orientação psicopedagógica para pais de crianças portadoras de deformidades craniofaciais Valéria Cristina Santos 1 Ana Lucia Ivatiuk 2 Vera Lucia Adami Raposo do Amaral 3 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chaves: grupo de pais; deformidades craniofaciais; atendimento psicopedagógico. As deformidades craniofaciais têm implicações em diversas etapas do desenvolvimento. Uma instituição especializada neste tipo de tratamento tem a preocupação em dar suporte psicológico aos seus pacientes durante todo o seu tratamento na instituição, em suas varias etapas. Um dos serviços prestados são os atendimentos psicopedagógicos, implantados em função da necessidade apresentada ao longo dos anos, dadas as queixas escolares apresentadas por esses pacientes. Estas podem ser produtos das contingências do ambiente escolar, os quais podem ser aversivos, em função de rejeição e/ou exclusão. Com tais atendimentos, foi possível discriminar a necessidade de orientar e treinar os pais para aprenderem modelos mais adequados no auxílio à tarefa escolar. Para tal organizou-se um grupo de orientação psicopedagógica para pais ou responsáveis de crianças portadoras de deformidades craniofaciais, com o objetivo de facilitar a generalização de comportamentos adequados, a ampliação de repertórios sociais e do papel de pais, o processo de aprendizagem por modelação e uma melhor compreensão e aceitação dos problemas apresentados pelas crianças. Participaram do grupo 6 mães de crianças, tríadas por meio de um questionário de interesse. O grupo foi composto por 5 encontros, sendo o primeiro destinado ao conhecimento do grupo e do programa, no segundo foi orientado sobre as deformidades e a questão da aprendizagem, no terceiro foram trabalhadas as questões referentes ao porquê dos seus filhos não aprenderem como os demais, no quarto e em parte do quinto foi Psicóloga. Doutoranda - Pontifícia Universidade Católica de Campinas, bolsista CAPES. 3 Docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e SOBRAPAR (Sociedade Brasileira de Pesquisa e Assistência para Reabilitação). 1 2 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 260 trabalhada a questão de como auxiliar nas atividades escolares. Todos os encontros foram programados de forma dinâmica e com estratégias que pudessem motivar as mães na sua participação. Os resultados mostraram a necessidade de orientação e apresentação de modelos adequados para que elas possam acompanhar a vida escolar da criança de forma menos aversiva. Elas puderam se sentir valorizadas quanto à importância de seu papel no processo de aprendizagem de seus filhos e o programa auxiliou na tentativa de generalizar comportamentos adequados que fazem com que seus filhos muitas vezes não obtenham bom desempenho na realização de atividades escolares. 261 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Instrumentos para Avaliação da Depressão: produção científica de 2003 à 2006 Marcelo Salomão Aros1 Elisa Medici Pizão Yoshida Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: depressão, escala; produção científica. O estudo consiste de uma avaliação ampla dos instrumentos que são utilizados na identificação das síndromes depressivas em periódicos nacionais e estrangeiros, nos últimos quatro anos. A depressão é considerada um transtorno muito freqüente na população. Estima-se que aproximadamente 17% da população mundial poderá apresentar um episódio depressivo em algum momento da vida. Do ponto de vista técnico é de vital importância os avanços que os estudos das “escalas de avaliação para depressão” possam promover. Esta contínua remodelação dos conceitos teóricos pode levar a um diagnóstico dos indivíduos com depressão cada vez mais preciso e também a uma melhoria da qualidade das opções de tratamento. Na tentativa de identificação, acompanhamento das terapêuticas e aperfeiçoamento das técnicas disponíveis, desenvolve-se também conhecimento das causas que contribuem para o desencadeamento da depressão. Conseqüentemente a prevenção da população é outro objetivo que norteia as investigações e os estudos referentes a esta doença. A analise das produções cientificas dos últimos quatro anos que mensuraram a depressão, através de instrumentos como: escalas, questionários e inventários, será realizada através de pesquisa nos principais sites de produções cientificas da internet, como: scielo, capes e medline. Posteriormente uma quantificação que cada instrumento de mensuração da depressão apresentou nas produções científicas do período estudado será realizada e exposta em tabela. A variável dependente é a produção científica no período de 2003 à 2006 e a variável independente são os instrumentos utilizados no estudo das síndromes depressivas, no período citado. Dos instrumentos que atualmente estudam as 1 262 Mestrando , Bolsista CAPES Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 síndromes depressivas os mais utilizados na produção científica mundial são: Escala de Depressão de Hamilton (HDS), Escala de Avaliação para Depressão de Montgomery-Asberg (MADRS), Escala de Melancolia (MES) e Inventário de Depressão de Beck (BDI). Durante esta avaliação poder-se-á conhecer os principais fatores constituintes dos instrumentos analisados e verificar a eficiência dos mesmos aos universos que se destinam. 263 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 La investigacion de procesos psicoterapia psicodinamica docal y resultados en Denise Defey Universidad de la República, Uruguay [email protected] Palavras-chave: psicoterapia breve; indicaciones de la psicoterapia focal; evaluación de psicoterapia. La psicoterapia dinámica focal fue primero creada for Alexander y French en EEUU, así como por Balint y Malan en Inglaterra. En América Latina, ha sido desarrollada por Fiorini, Lumberger, Knobel y el grupo del Instituto Ágora en Uruguay. Sus principios fundamentales son el trabajo sobre un tema específico (foco) en base a objetivos definidos, lo cual hace que generalmente sea una forma de psicoterapia breve. Se caracteriza por la actitud activa del terapeuta, la flexibilidad y creatividad de los recursos técnicos y es especialmente indicada para los cuadros agudos y las situaciones de crisis, siendo un modelo terapéutico de creciente aplicación en el mundo dada la necesidad de una psicoterapia que responda a las necesidades de la mayoría de la población y que, al actuar en situaciones de sufrimiento agudo, permite una intervención breve que impide la cronificación de un problema que entonces se transforma en un cuadro psicopatológico. Las primeras investigaciones fueron presentadas por Small y mostraban la diferencia entre intervenciones brevísimas y la ausencia de intervención y fueron seguidas por decenas de investigaciones en diferentes países que demuestran tanto la validez interna como los resultados. Las investigaciones de proceso enfatizan la importanciade la planificación en base a criterios de riesgo, así como la alianza terapeútica característica de este tipo de psicoterapias en las que el yo del paciente no es conducido a una regresión sino estimulado a participar activamente de un trabajo compartido con el terapeuta. La duración de los tratamientos ha sido objeto especial de estudio, dada la necesidad de lograr un equilibrio entre la necesidad de resolver la conflictiva subyacente (conflicto nuclear, muchas veces inconsciente y con raíces infantiles) y no generar una neurosis de transferencia o una cronificación Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 264 de la situación de sostén terapéutico imprescndible en el momento agudo de la crisis. La presentación profundizará en la investigación de procesos y resultados conducida en un servicio psicoterapéutico de inserción comunitaria y asistencia gratuita, el cual hemos elegido dado el activo desarrollo de nuevos planes de salud en Latinoamérica que incluyen la posibilidad de una verdadera psicoterapia para todos en paises donde las situaciones de crisis constituyen parte de la vida cotidiana de la mayoría de la población y generan el imperativo ético de generar, enseñar, perfeccionar y aplicar modelos asistenciales que puedan resolverlas, protegiendo así la salud mental de la población. 265 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Mudança em psicoterapia: produção científica de dois periódicos (2003- 2005) Fernanda Robert de Carvalho Santos Silva 1 Elisa Medici Pizão Yoshida 2 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: mudança psíquica; pesquisa em psicoterapia; modelo teórico; método de pesquisa; avaliação de psicoterapia. As psicoterapias constituem, na atualidade, uma prática profissional da área das ciências humanas voltadas para a promoção de saúde e bem estar das pessoas. Apresenta-se como uma forma social e científica de ajudá-las, por meio da solução de problemas pontuais à reformulação de valores da vida, tanto individuais, grupais e de casal. As psicoterapias passaram a ser objeto de pesquisas voltadas ora para a avaliação de resultados, ora para a avaliação do processo, buscando-se a compreensão dos mecanismos responsáveis pelas mudanças verificadas. Os resultados têm apontado eficiência e eficácia no que diz respeito a mudanças significativas nos pacientes a elas submetidos, mudanças positivas independentemente da orientação teórica do psicoterapeuta e da modalidade na qual ela é praticada: individual, casal ou grupo. O delineamento metodológico é o de pesquisa documental, cujo objetivo será descrever e analisar a produção científica sobre “mudança em psicoterapia” veiculada em um periódico nacional e outro estrangeiro, entre 2003 e 2005, com vistas a identificar como o tema vem sendo pesquisado, o que tem sido considerado mudança, e quem a tem pesquisado. O periódico nacional será a Revista Brasileira de Psicoterapia, editada pelo Centro de Estudos Luis Guedes, do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o periódico estrangeiro é editado pela Society for Psychotherapy Research - SPR, intitulado Psychotherapy Research, ambos quadrimestrais. A identificação dos artigos será feita a partir das palavraschave e da leitura dos resumos de todos os artigos publicados no período. A análise 1 2 PIBIC/CNPQ. Grupo de Pesquisa Psicoterapia breve psicodinâmica: avaliação de mudança e instrumentos de medida. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 266 de dados será quantitativa, com indicação de freqüências relativas e estimativas de qui-quadrados de aderência e a análise qualitativa procurará traçar um perfil da produção de cada periódico, assim como fazer comparações entre ambos, sempre que pertinentes. 267 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Mudança em psicoterapia breve infantil Iraní Tomiatto de Oliveira Universidade Presbiteriana Mackenzie [email protected] Palavras-chave: psicoterapia pais-criança; psicoterapia psicodinâmica; intervenção breve; critérios de indicação de psicoterapia. A idéia de que o processo psicoterápico deve ser planejado de acordo com as características de cada paciente, adotada por muitos estudiosos da psicoterapia breve, em especial os que utilizam modelos integrativos, assume importância e amplitude ainda maiores no caso do trabalho com crianças. Isto decorre das características específicas da população infantil, principalmente no que se refere às diferentes etapas do desenvolvimento e ao nível de dependência emocional da criança, que coloca em foco sua relação com os pais. Em conseqüência, o trabalho de psicoterapia breve infantil exige do profissional grande flexibilidade no planejamento de suas intervenções, realizado a partir da compreensão diagnóstica do caso. Consideramos que essa compreensão deve levar em conta, especialmente, o referencial do desenvolvimento e os modelos relacionais familiares, na determinação dos aspectos que serão focalizados no trabalho terapêutico e das estratégias a serem utilizadas. O tipo de mudança que se busca com a psicoterapia, assim, depende do que for considerado como objetivo principal do processo, e, para atingi-la, pode-se utilizar, entre outras possibilidades: a relação do terapeuta com a criança, como via de mudança nos padrões de relacionamento interpessoal; a relação do terapeuta com os pais, como via de mudança da percepção que eles têm da criança e da relação que estabelecem com ela; o trabalho com dificuldades adaptativas ou conflitos específicos da criança; o espaço terapêutico como propiciador de novas experiências facilitadoras do desenvolvimento; mudanças no ambiente externo. A análise do processo de desenvolvimento da criança, a partir do referencial teórico adotado, ao lado da compreensão da dinâmica psíquica da criança e dos pais, devem fundamentar a indicação e o planejamento terapêuticos, inclusive no que se refere ao tipo de mudança que se busca atingir e aos caminhos 268 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 que se considera mais efetivos para buscá-la. Uma vez realizada a psicoterapia, são também os principais parâmetros para a avaliação de resultados. 269 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Novos cenários de mercado: o papel da psicologia no universo corporativo Marcio Chevis Svartman 1 Antonios Terzis Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras chave: psicologia organizacional; ansiedade; mercado; psicanálise. O trabalho aborda de forma analítica, mas essencialmente questionadora, o estado emocional que se encontra potencialmente disseminado no meio das organizações corporativas, buscando um olhar sobre o indivíduo, ampliando-o para uma olhar sobre o grupo e suas representações. A partir do apontamento de mudanças na estrutura e no contexto atual do mercado corporativo, novas demandas psíquicas sobre as pessoas envolvidas com esta dinâmica são geradas e novos formatos de relacionamento se mostram necessários, bem como a criação de novos espaços de elaboração. Como o mercado está lidando com isso e quais as conseqüências desta postura? Seguindo estes questionamentos abordaremos o potencial de atuação da psicologia nas estruturas de mercado como uma ferramenta potente para gerar nas organizações a retomada do crescimento, a superação de performance e um processo de trabalho criativo, fechando, por fim, numa análise sobre o efeito potencial desta abordagem nos indivíduos. 1 Mestrando PUC-Campinas. 270 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 O acesso a eventos encobertos na pesquisa clínica Roberto Alves Banaco 1 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo [email protected] Palavras-chave: eventos encobertos; pesquisa em clínica; análise do comportamento. O estudo de eventos encobertos tem obtido uma atenção considerável por meio de várias metodologias. Encontram-se na literatura estudos experimentais com infrahumanos e com humanos, mas é na prática clínica que o levantamento desses eventos tem produzido um maior debate. Talvez porque o levantamento de eventos encobertos na clínica possa de uma certa maneira levar a algumas confusões e inconsistências teóricas, é neste âmbito que ele recebe as maiores críticas. O objetivo deste trabalho será apresentar sucintamente alguns estudos experimentais clássicos encontrados na literatura para abordar os eventos encobertos e em seguida abordará estudos clínicos que tentaram controlar especialmente duas variáveis: a produção de verbalizações sobre eventos privados em sessões de terapia e dados a respeito do conhecimento de eventos privados por terapeutas experientes e menos experientes. A discussão procurará aprofundar o debate sobre a utilidade do evento privado como instrumento de conhecimento da contingência na qual o indivíduo estiver inserido. 1 271 Núcleo Paradigma Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 O desabrochar de Rosinha: encontros terapêuticos com uma adolescente gestante Miriam Tachibana 1 Tania Maria José Aiello-Vaisberg 2 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chaves: procedimento desenhos-estórias; jogo do rabisco; gravidez na adolescência; encontro terapêutico. São diversos os estudos que apontam um elevado número de adolescentes que engravidam, todo ano, no Brasil. Pensando nesta problemática social da gravidez na adolescência, propomo-nos a investigar o potencial terapêutico de um enquadre clínico diferenciado, para atendimento a gestantes adolescentes, no intuito de auxiliar esta população a lidar com o possível sofrimento motivado pela gravidez não planejada, bem como favorecer uma clínica de sustentação que, ao invés de pretender promover um maior conhecimento e auto-conhecimento - o que poderia gerar um falso self materno visa proporcionar uma maior integração da adolescente. Assim, foram realizados seis encontros terapêuticos com uma adolescente grávida, a “Rosinha”, nos quais fizemos um uso adaptado do Procedimento Desenhos-Estórias de Trinca (1976), segundo o paradigma do Jogo do Rabisco de Winnicott (1968), de modo que tanto a paciente quanto a pesquisadora faziam desenhos, a partir dos quais eram inventadas estórias que recebiam títulos. Após a realização de cada encontro terapêutico, a pesquisadora elaborava narrativas psicanalíticas, que eram apresentadas ao grupo de pesquisa no qual este estudo foi desenvolvido, no intuito de criar/encontrar campos psicológicos inconscientes relativos ao acontecer clínico. Desse modo, pudemos compreender que a adolescente atendida vive uma relação paradoxal com a própria mãe, a qual passa a ser vista cindidamente como alguém que sabota o desenvolvimento da gestante, mas que, ao Mestranda em Psicologia Clínica pelo Curso de Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas – Bolsista CAPES I. 2 Professora Livre Docente pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Orientadora de Mestrados e Doutorados dos Programas de Pós Graduação em Psicologia do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Coordenadora da Ser e Fazer: Oficinas Psicoterapêuticas de Criação e Presidente da NEW- Núcleo de 272 Estudos Winnicottianos de São Paulo. 1 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 mesmo tempo, é tida como a pessoa que irá promover o holding ao bebê que está por vir. Pudemos, também, observar o desabrochar da paciente na medida em que pôde reconhecer o seu ódio em relação àquela gravidez, abandonando o estereótipo de mãe idealizada para tornar-se uma mãe devotada comum. 273 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 O desenvolvimento infantil de crianças com fissura de zero a um ano Ana Flávia Mac Knight Carletti 1 Valéria Cristina Santos 2 Ana Lucia Ivatiuk 3 Vera Lúcia Adami Raposo do Amaral 4 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: fissura labiopalatinas; desenvolvimento infantil; bebês. Entende-se por Avaliação do Desenvolvimento o acompanhamento da aquisição de repertórios comportamentais característicos a uma determinada idade. Isto pode ser feito desde os primeiros meses de vida, por meio de instrumentos próprios. A pesquisa teve como objetivo realizar um levantamento das avaliações do desenvolvimento de crianças de zero a um ano de idade com fissura labiopalatina, em uma instituição especializada, no ano de 2004. O instrumento utilizado para obtenção de tais dados nesta faixa etária foi a Escala de desenvolvimento do comportamento da criança no primeiro ano de vida (Pinto, Vilanova e Vieira 1997). Primeiramente, foi feito o levantamento de todos os atendimentos a crianças de zero a um ano de idade com fissura no período. Das encontradas, 15 avaliações puderam ser utilizadas. A partir dos dados encontrados, estas foram divididas em dois grupos em função do sexo, pois a própria escala propõe folhas de respostas diferentes para este critério. Descreveu-se o desenvolvimento das crianças, procurando identificar atrasos, regularidade ou adequação ao desenvolvimento esperado para a sua idade. Após este procedimento foi feita outra classificação nas avaliações de pacientes com desenvolvimento não adequado ou regular. Tal classificação foi dividida de acordo com a proposta da própria escala, que é a seguinte: Axial espontânea não comunicativa, axial espontânea comunicativa, axial estimulado não comunicativo, axial estimulado comunicativo, apendicular espontânea não comunicativa, Graduanda em Psicologia – Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Psicóloga. 3 Doutoranda - Pontifícia Universidade Católica de Campinas, bolsista CAPES. 4 Docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e SOBRAPAR (Sociedade Brasileira de Pesquisa e Assistência para Reabilitação). 1 2 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 274 apendicular espontânea comunicativa, apendicular estimulado não comunicativo, apendicular estimulado comunicativo. A partir desses resultados foi feita uma Analise qualitativa comparando-se os sexos e os tipos de atrasos encontrados nas crianças. Os resultados mostraram que a maioria dos meninos estava com atraso em seu desenvolvimento enquanto as meninas estavam com o desenvolvimento entre os conceitos adequado e regular. Entre as meninas o atraso apareceu em 4 áreas específicas de forma equilibrada. Duas no axial espontâneo comunicativo, duas no axial estimulado não comunicativo, duas no apendicular espontâneo não comunicativo e duas no apendicular estimulado não comunicativo. Entre os meninos houve uma concentração maior de atraso na área do comportamento motor axial o qual envolve o controle dos órgãos fonoarticulatórios e o deslocamento e emissão de sons. Tais dados sugerem que nas crianças do sexo masculino a fissura pode estar influenciando negativamente no desenvolvimento, principalmente no que se refere a linguagem. Vale ressaltar que a pesquisa deve ser continuada e que as variáveis devem ser melhor controladas para que se possa ter resultados mais fidedignos e assim, seja possível generalizá-los para grupos maiores. 275 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 O Grupo de casais Eliane V. Rovigatti Gasparini 1 Antonios Térzis 2 Pontifícia Universidade de Campinas [email protected] Palavras-chave: casal, grupos; infertilidade; psicanálise; psicoterapia. O desejo de ter filhos poder gerar, transcender, formar uma família é algo social e culturalmente aceito e cultuado. Atualmente os casais que apresentam dificuldades para engravidar em função de um diagnóstico de infertilidade estão podendo contar com as modernas técnicas da Reprodução Assistida. Tal fato não exclui a presença de angústias, medos e ansiedades relacionados ao tratamento e ao sucesso esperado. O método qualitativo, com enfoque psicanalítico, foi aplicado ao nosso objeto de estudo que neste caso direcionou-se ao grupo casal. Este grupo especial remete a um tipo de estrutura multipessoal, por sua estabilidade e composição vincular mínima, permitindo um desnudamento dos processos psíquicos através da observação psicanalítica. Nosso objetivo era compreender as representações psíquicas do desejo de ter filhos quando vinculados ao uso de técnicas reprodutivas. O grupo de sujeitos desta pesquisa foi composto por casais que estão buscando um tratamento reprodutivo em uma determinada instituição médica da cidade de São Paulo. A estratégia metodológica da investigação foi realizada mediante o uso de Entrevistas Livres com o casal. O plano para análise de dados foi baseado na ‘análise de conteúdo’ definida por Käes, assim como os delineamentos psicanalíticos aplicados ao grupo desenvolvidos por Käes, Anzieu, Bion e particularmente Puget e Berenstein. Os resultados demonstraram a presença de dois dos pressupostos básicos estudados por Bion, Dependência e Luta - Fuga, assim como situações escpecialmente conflituosas entre os cônjuges no que diz respeito às decisões sobre os tratamentos médicos. A situação da infertilidade 1 Doutoranda em Psicologia da PUC-Campinas. 2 Professor da Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 276 também demonstrou desencadear conflitos com relação à situação edípica e préedípicas de cada um dos membros do casal. Os resultados sugerem a necessidade de um atendimento psicoterápico especializado ao grupo casal para que os efeitos do diagnóstico e tratamento da infertilidade possam ser minimizados. Sugere-se que a psicoterapia possa se iniciar antes do tratamento médico. 277 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 O grupo musical e a pertinência grupal João Paulo E. Carvalho 1 Antônios Térzis Pontifícia Universidade Católica de Campinas joã[email protected] Palavras chave: adolescência; música; psicanálise. O fenômeno a ser estudado é um grupo de aprendizagem musical constituído por adolescentes que residem em bairros periféricos da cidade de Campinas. Este grupo tem como intuito não somente desenvolver essas habilidades musicais específicas, mas juntamente de oferecer oportunidade para o desenvolvimento de outras habilidades, como a criatividade, consciência, cidadania, sentimentos de integração social e a auto-estima, considerados importantes fatores a serem desenvolvidos nesse período de formação da identidade, a adolescência. Nossa investigação se dá na tentativa de verificar a eficácia desse grupo em oferecer essas habilidades sociais, focalizando o conceito de pertinência grupal presente na literatura psicanalítica. Serão utilizadas entrevistas semi-dirigidas com os participantes. A análise dos conteúdos será feita com a relação das respostas com a literatura levantada. ¹ 1 Mestrando da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, bolsista CAPES. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 278 Observação do comportamento de seguir regras em situação lúdica Érika Hansen Barbarini 1 Ana Lucia Ivatiuk 2 Marcela Koeke 3 Vera Lúcia Adami Raposo do Amaral 4 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: seguir regras; jogo; observação de crianças. Crianças podem desenvolver conceitos relacionados ao seu ambiente e estratégias para lidar com ele por meio do brincar, praticando manejar situações complicadas da vida, comunicando-se e estabelecendo relações satisfatórias com outras pessoas, estimulando e aprimorando seu desenvolvimento social e suas relações interpessoais. Um jogo com regras é uma situação lúdica, na qual as conseqüências naturais do comportamento são reforçadoras. Os jogos de mesa, como por exemplo, dominó, ludo ou dama, costumam ser indicados para observar ou modelar o comportamento da criança relacionado ao cumprimento de regras e facilitam a tomada de decisões e iniciativas. Objetivou-se, com a aplicação do jogo lúdico, o qual é determinado por regras, verificar se o comportamento de seguir regras foi apresentado entre crianças em idade escolar de ambos os sexos. A amostra da pesquisa foi composta por 2 meninos e 2 meninas, portadores de fissura labiopalatina que freqüentam com regularidade um Hospital Filantrópico e que tinham idades entre 7 e 11 anos. Para a realização da pesquisa, foi utilizado o jogo Dominó e uma tabela a qual continha todas as regras do jogo. A aplicação da atividade teve duração de quatro dias, sendo uma criança por dia. A pesquisadora jogou com cada criança numa seqüência de três vezes. O procedimento de registro das respostas emitidas pelos participantes foi feita por uma observadora, a qual utilizou a tabela confeccionada pela pesquisadora que continha todas as regras Graduanda em Psicologia – Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Doutoranda - Pontifícia Universidade Católica de Campinas, bolsista CAPES 3 Psicóloga. 4 Docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e SOBRAPAR (Sociedade Brasileira de Pesquisa e Assistência para Reabilitação). 1 2 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 279 estabelecidas para o jogo. A aplicação do jogo foi no próprio espaço lúdico do hospital, freqüentado pela criança. Foi possível observar que os meninos, em relação as sete regras do jogo, durante as seqüências, apresentaram o cumprimento de todas elas. Em relação às meninas, o resultado observado foi que, na primeira vez do jogo, elas cumpriram todas as regras propostas, na segunda vez do jogo, não cumpriram as sete regras propostas, apresentando o cumprimento de somente seis delas e na terceira vez do jogo, apresentaram o cumprimento de todas. Conclui-se, então, que se comparados os resultados entre os sexos, os participantes do sexo masculino apresentaram o seguimento de todas as regras propostas pelo jogo; ao contrário, os resultados obtidos pelos participantes do sexo feminino foram o não cumprimento de todas as regras propostas pelo jogo. 280 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Oficina de pintura: um estudo fenomenológico em um serviço de psicologia Giuliana Gnatos Lima Bilbao 1 Vera Engler Cury 2 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: arteterapia; práticas institucionais; criatividade; fenomenologia; terapia expressiva. A pesquisa-intervenção intitulada Oficina de pintura: um estudo fenomenológico em um serviço de psicologia pretende implantar uma modalidade de atenção à saúde mental no Serviço de Psicologia da PUCCampinas e compreender a experiência dos participantes em relação a esta modalidade. A utilização de materiais artísticos em contextos de atenção à saúde vem sendo difundida em diversos países, sob diversas nomenclaturas, tais como: arteterapia, terapia expressiva, oficina de criatividade. Entendemos que encontrar novas modalidades de atenção à saúde mental, fundamentadas cientificamente, e que sejam compatíveis com as características desta população, é uma responsabilidade social dos profissionais da saúde e uma necessidade premente da vida contemporânea. Buscando compreender cientificamente esta nova prática nos contextos institucionais e oferecer uma nova modalidade de atenção psicológica aos usuários do Psicologia da PUC-Campinas, esta pesquisa-intervenção Serviço de já está em desenvolvimento desde Dezembro de 2005 e os encontros na Oficina de Pintura ocorrem semanalmente com duração de duas horas. O grupo foi formado por iniciativa própria dos usuários do serviço a partir da divulgação realizada na sala de espera do mesmo em Dezembro de 2005. Os critérios Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC-Campinas - Bolsista- D-CAPES II; Professora da Universidade Paulista 2 Docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC-Campinas; Pró-reitora de Pesquisa da PUCCampinas. 1 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 281 para participação no grupo foram: idade igual ou acima de 21 anos e ser usuário do Serviço de Psicologia. Das 18 pessoas inicialmente inscritas, formou-se efetivamente um grupo de 7 pessoas. Dentre elas, algumas desistiram por motivos diversos e atualmente o grupo conta com 3 pessoas, incluindo a pesquisadora. A pesquisa visa apreender, a partir de uma abordagem fenomenológica, os elementos da experiência na Oficina de Pintura a partir do método da narrativa sugerido por Dutra(2002). As narrativas são comunicações da experiência vivida e é um método que não pretende explicar fatos e nem alcançar uma verdade absoluta, rompendo com o paradigma positivista da ciência. As narrativas estão sendo elaboradas pela pesquisadora, depois de cada encontro semanal. 282 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Plantão psicológico em hospital geral: um estudo fenomenológico sobre a experiência dos usuários Tatiana Hoffmann Palmieri 1 Vera Engler Cury 2 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: prática psicológica em instituição; plantão psicológico; atenção psicológica. Esta pesquisa é o resultado de uma dissertação de Mestrado que se propôs a analisar uma prática psicológica clínica denominada Plantão Psicológico, ao ser implantada no contexto de um Hospital Geral – localizado no interior do estado de São Paulo - e que foi destinada aos funcionários. Os princípios teóricos que regem esta prática psicológica são baseados na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), desenvolvida pelo psicólogo americano Carl R. Rogers e colaboradores. Optou-se pelo método fenomenológico como caminho para analisar a experiência de funcionários atendidos nesta modalidade de atenção psicológica. Foram participantes desta pesquisa seis funcionários, quatro do sexo feminino e dois do sexo masculino, cujos depoimentos foram estimulados por uma pergunta disparadora em um tipo de entrevista semi-dirigida. Os depoimentos tiveram como foco a experiência vivida pelos funcionários como clientes do Plantão Psicológico, desenvolvido no próprio ambiente de trabalho a partir de março de 2004. A análise fenomenológica dos depoimentos consistiu nos seguintes passos: transcrição das entrevistas para linguagem escrita, divisão dos textos em unidades de significado, elaboração de uma síntese específica individual decorrente da compreensão psicológica das referidas unidades e, finalmente, a construção de uma Síntese Geral como interpretação dos elementos Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC-Campinas - Bolsista- CAPES; Professora da Universidade Paulista 2 Docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC-Campinas; Pró-reitora de Pesquisa da PUCCampinas. 1 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 283 psicológicos apreendidos com base nos depoimentos de todos os participantes em relação ao foco da pesquisa. Concluiu-se que: 1) os funcionários atendidos pelo Serviço de Plantão Psicológico sentiram-se beneficiados por esta intervenção, tanto em suas relações de trabalho, quanto em aspectos de suas vidas pessoais; 2) atribuem uma importância significativa ao fato deste Serviço estar funcionando no próprio contexto de trabalho, possibilitando-lhes um acesso fácil e sem comprometimento para o desempenho das funções profissionais; 3) percebem a função exercida pelas psicólogas-plantonistas como sendo de natureza diferente daquela que é desenvolvida por psicólogas do setor de Psicologia do Hospital, uma vez que tem como prioridade facilitar o processo de autoconhecimento e de promoção da saúde mental dos funcionários; 4) também sentem os participantes que as plantonistas são efetivamente acolhedoras e isentas em relação a questões relacionadas ao desempenho das atividades de trabalho, o que lhes assegura sigilo em relação aos conteúdos discutidos nas sessões e um sentimento de segurança; 5) finalmente, surgiu como significativa a vivência dos participantes em relação à demanda emocional que os remete ao Plantão, quando comparada às queixas de natureza orgânica que associam aos cuidados médicos já disponíveis no Hospital. Portanto, sentemse efetivamente acolhidos de um ponto de vista psicológico, como se lhes estivesse sendo oferecida uma outra dimensão de cuidado. Deve-se ressaltar que a despeito do curto período transcorrido desde a implantação do Serviço de Plantão Psicológico no Hospital, a experiência dos funcionários acerca desta modalidade de prática clínica evidencia sua importância pelo desejo expresso nos depoimentos de que seja mantida sua continuidade para o bem estar, não só daqueles que dele se beneficiam, como também para uma melhoria na qualidade das relações interpessoais vividas no cotidiano da instituição. 284 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Praticas educativas parentais: um estudo da interação familiar de um dependente químico Walter Eduardo Granetto 1 Vera Adami Raposo do Amaral Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: toxicomania; relação pais-filhos, estratégias educativas, análise do comportamento. Esta pesquisa pretende investigar, de forma qualitativa, as práticas educativas parentais recebidas por um adolescente internado numa instituição de recuperação de dependentes químicos. O participante possui a idade de 18 anos, do sexo masculino, proveniente de uma família biparental, de nível socioeconômico médio. Para obtenção dos dados serão realizadas entrevistas baseadas no instrumento “Escalas de Qualidade de Interação Familiar – EQIF” (Weber, Viezzer & Brandenburg, 2006). Uma pesquisa semelhante foi realizada, onde uma versão anterior do EQIF também foi utilizada como roteiro para entrevista semi-estruturada (Weber & Viezzer, 2005), porém os participantes não estavam internados numa instituição de recuperação. O adolescente responderá as questões do instrumento tendo assim o objetivo de conhecer em detalhes as práticas educativas utilizadas por seus pais, e principalmente, como tais práticas foram percebidas pelo adolescente. As categorias serão definidas “a priori” e serão: “relacionamento afetivo”, “reforçamento”, “envolvimento”, “regras e monitoria”, “comunicação positiva dos filhos”, “comunicação negativa”, “modelo”, “sentimento dos filhos” e “punição física”. O instrumento possui ainda mais duas categorias, a saber: “clima conjugal positivo” e “clima conjugal negativo”, entretanto estas serão descartadas, pois não avaliam práticas parentais. Nesse estudo, não se tem a pretensão de estabelecer uma relação causal entre práticas educativas e a drogadicção, afinal o comportamento é multideterminado, entretanto, levando-se em conta os princípios da análise do comportamento, bem como o conhecimento sobre as práticas parentais, é possível 1 Mestrando Pontifícia Católica de Campinas, bolsista CAPES. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 285 investigar se o comportamento de auto-administração de drogas teve alguma influência das práticas educativas recebidas pelo adolescente. 286 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Programa de preparação para procedimentos invasivos em ambulatório de deformidades craniofaciais Talita de Sousa Borges 1 Amanda Menon Pelissoni 2 Ana Thereza Paschoal 3 Marcela Koeke 4 Ana Lucia Ivatiuk 5 Vera Lucia Adami Raposo do Amaral 6 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: preparação para procedimentos; deformidades craniofaciais; adesão ao tratamento. A preparação para procedimentos invasivos é uma estratégia planejada para ensinar a manejar a ansiedade causada por procedimentos invasivos, tanto médicos como ortodônticos ou fonoaudiológicos, desenvolver comportamentos saudáveis e de adesão ao tratamento, eliminar comportamentos inadequados, reduzir a dor, facilitar a recuperação e ajudar o indivíduo a enfrentar procedimentos de forma menos aversivos, porém não apenas os cirúrgicos. No contexto de uma equipe multidisciplinar ele é essencial para a atuação de todos os membros da equipe. Os pacientes do Hospital especializado são submetidos a inúmeros procedimentos invasivos, por serem, na sua maioria, crianças com deformidades craniofaciais congênitas, as quais necessitam de um número variado de cirurgias e outros procedimentos (fotografia, ortodontia, fonoaudiologia) com o intuito de obter não apenas uma melhora estética, mas reabilita-los às suas vidas. O presente trabalho teve como objetivo caracterizar os atendimentos realizados no ambulatório de Preparação para procedimentos invasivos da Sobrapar durante o ano de 2005. Durante o referido ano, o serviço de psicologia realizou 3823 atendimentos, sendo Graduanda em Psicologia – Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Graduanda em Psicologia – Pontifícia Universidade Católica de Campinas. 3 Graduanda em Psicologia – Pontifícia Universidade Católica de Campinas. 4 Psicóloga. 5 Doutoranda - Pontifícia Universidade Católica de Campinas, bolsista CAPES. 6 Docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e SOBRAPAR (Sociedade Brasileira de Pesquisa e Assistência para Reabilitação). 1 2 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 287 que, destes, 947 foram no programa de preparação, correspondendo a aproximadamente 25% do total do serviço. De todos os atendimentos realizados por este programa, apenas um número muito reduzido, cerca de 5% do total de atendimentos, não realizou o procedimento, devido à desistência ou falta de finalização da preparação. Das deformidades atendidas na Sobrapar a mais freqüente é a que se refere às fissuras labiopalatais. Todos os pacientes encaminhados para este programa seguem os protocolos específicos para cada deformidade, sendo que o número de atendimentos pode variar de acordo com a idade e a necessidade de estratégias de enfrentamento a serem desenvolvidas. Em geral, uma média de 4 encontros pode ampliar o repertório do paciente, de modo que ele possa ter uma gama maior de estratégias que permitam enfrentar o procedimento. Quando são crianças, os familiares e/ou responsáveis também recebem orientações com o intuito de serem modelos adequados e facilitadores do procedimento. Os adultos também passaram a ser preparados para alguns procedimentos mais invasivos, a pedido da própria equipe médica. Durante os atendimentos foram utilizadas diversas técnicas, tais como: dessenssibilização, relaxamento, fornecimento de informações, role-playing e modelagem; sendo todas essas com o intuito de fornecer estratégias de enfrentamento, instalar comportamentos de cooperação para com a equipe e auxiliar o paciente no pósprocedimento. Como o programa precisa estar sempre se atualizando para continuar com informações adequadas sobre os assuntos referentes ao ambiente hospitalar, algumas novidades foram implantadas pelo programa: a caixa lúdica da preparação que ganhou novos materiais (soro, luvas, toucas e injeções que podem ser dadas aos pacientes, máquinas fotográficas); foi confeccionado um jogo da memória com elementos da cirurgia e de outros procedimentos invasivos; folha de acompanhamento cirúrgico. Diante de todos esses dados, conseguiu-se não apenas verificar a eficácia do programa, bem como o quanto ele tem obtido respeito e ampliado o seu campo de atuação, uma vez que vem sendo solicitado por membros de todas as outras equipes atuantes na instituição. 288 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Projeto de Grupo de Crescimento com candidatos a vida religiosa: um estudo fenomenológico Thais de Assis Antunes 1 Mauro Martins Amatuzzi. PUC-Campinas Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavra-chave: grupo de crescimento; religiosidade; fenomenologia; desenvolvimento pessoal. Esta pesquisa tem como objetivo compreender e descrever fenomenologicamente qual o sentido de um Grupo de Crescimento para candidatos à vida religiosa católica. Entende-se por Grupo de Crescimento um espaço destinado à promoção de desenvolvimento pessoal, no qual os participantes podem refletir e discutir sobre questões relacionadas às vivências cotidianas dentro do prisma psicológico. È importante destacar que esta pesquisa tem um enfoque qualitativo e uma fundamentação teórica humanista. Participarão da pesquisa cinco alunos do Propedêutico Arquediocesano (futuros seminaristas católicos). O local para o encontro será uma sala dentro do propedêutico. Os encontros terão a duração de aproximadamente de duas horas e ocorrerão semanalmente durante quatro meses. Para a realização dos encontros serão seguidos os sete passos propostos por Amatuzzi (2000). Após a realização dos grupos, serão realizadas narrativas, nas quais a pesquisadora irá descrever os encontros para posterior análise qualitativa-fenomenológica. Atualmente o projeto encontra-se em fase de levantamento bibliográfico. 1 Pesquisa de doutorado financiada pela CAPES (Coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior). 289 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Projetos comunitários num contexto de uma clínica ampliada: um estudo fenomenológico Karine Cambuy 1 Mauro Martins Amatuzzi Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chaves: comunidade; clínica ampliada; pesquisa fenomenológica. Alguns estudos apontam o quanto a formação do Psicólogo clínico é muito deficitária em relação ao trabalho em saúde pública; faltam referenciais teóricos para uma prática mais contextualizada aos espaços territoriais locais. Alguns estudos apontam que o espaço comunitário é um dispositivo importante para o crescimento pessoal e coletivo das pessoas. Os projetos comunitários na área da saúde mental surgem com as propostas dos Centros de Convivência e Cooperativas num enfoque bastante voltado à pessoas portadoras de transtorno mental grave. Em Campinas tais Centros de Convivência, ainda que tenham iniciado como uma alternativa de tratamento ao doente mental, tiveram uma ampliação de ações que se estenderam também à comunidade. Atualmente há dez experiências de Centros de Convivência no Município com o objetivo de oferecer um espaço de convivência para a comunidade, incluindo os usuários da saúde mental e outras populações com vulnerabilidades diversas, através de atividades que promovam cultura, educação e saúde, visando trocas sociais, bem como a promoção de cidadania. Dessa forma, considerando que o espaço comunitário representa uma alternativa importante para ampliação da clinica em saúde mental, esta pesquisa tem como objetivo compreender em que sentido as experiências comunitárias em Centros de Convivência podem ser promotoras de crescimento pessoal e coletivo. Trata-se de um estudo qualitativo e utilizará o método fenomenológico para coleta de análise dos dados. Serão entrevistados profissionais da área da saúde mental contratados pela Prefeitura Municipal de Campinas para desenvolverem sua prática clínica na área da saúde pública e que desenvolvem e/ou assessoram projetos comunitários como 1 Doutoranda Pontifícia Universidade Católica de campinas, bolsista CAPES. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 290 parte de sua rotina de trabalho e pessoas da comunidade que frequentam os Centros de Convivência. Para coleta dos dados serão utilizados diário de campo e entrevista não diretiva-ativa. 291 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Psicanálise baseada na evidência: sintomas e relacionamentos José Tolentino Rosa Universidade de São Paulo [email protected] Palavras-chave: pesquisa em psicoterapia; psicoterapia psicanalítica; paradigmas de pesquisa; evidência. Com métodos atuais de pesquisa em psicoterapia, não é possível fazer válidas comparações uma vez que não há nenhum indicador (variável dependente) que não possa ser aplicado a todos os formulários de psicoterapia. O método padrão de experimentação de drogas na avaliação da pesquisa médica exclui os fatores de relacionamento que são precisamente os que são o foco do tratamento dos delineamentos de pesquisa em psicanálise. Na psicoterapia psicanalítica confia-se muito na observação objetiva, mas esta é muito difícil de conseguir, padronizar, e empregar, quando nenhuma causa orgânica é identificada em situações psicológicas. Atualmente, os métodos de avaliação da mudança no relacionamento interpessoal não são tão válidos como os métodos mais objetivos de mensuração apenas de mudança de sintomas. É completamente possível que nenhum método para avaliação da mudança no relacionamento interpessoal seja desenvolvido no futuro de tal forma que sejam congruentes com as tradicionais suposições da pesquisa clínica, baseada no método da experimentação objetiva, e possa comparar pesquisas sobre a eficácia relativa de diferentes psicoterapias. A escolha parece recair em métodos que fornecem a evidência apropriada para a psicoterapia psicanalítica, baseada no relacionamento interpessoal, ou para usar métodos melhor estabelecidos de mudança de sintoma. O primeiro exigiria um programa principal para convencer periódicos médicos e oficiais sobre a natureza especial da investigação da mente subjetiva; e o segundo teria o risco de por a psicanálise e a psicoterapia psicanalítica em um esquema conceitual impróprio. As terapias embasadas no relacionamento encontraram alguma evidência clínica compatível com os paradigmas não cartesianos de pesquisa. Atualmente, a comunidade Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 292 terapêutica de Henderson recebeu o financiamento extensivo do governo para expandir seu trabalho; e Grendon Prison está tentando escrever um manual sobre seu trabalho. Henderson e Grendon usam um método terapêutico baseado em relacionamentos, mas usa taxas de reincidência para avaliar a mudança do sintoma, que pode ser fàcilmente medida por estatisticos do governo. Entretanto, a preocupação é que a crença da qual eles partem é uma conformidade espúria para o paradigma da mudança de sintoma, uma falha na essência do método de tratamento. A vantagem de proceder dessa maneira é que sem um método válido para testar o que ocorre no conhecimento da dimensão psicologica das relações e atitudes sociais, as psicoterapias de relacionamento podem ao longo do tempo ser doomed a exlucsão do financiamento do serviço publico, levando a um sério detrimento na escolha do paciente. O problema em desenvolver um método mais fidedigno de avaliar a mudança psicológica no relacionamento, que seja objetivo e capaz de comparações cruzadas entre as psicoterapias, significa desafiar um conjunto de atitudes que atualmente são fortemente sustentadas pelo establishment da medicina, pelo Governo, que urgentemente necessita evidência, e pelo poder financeiro das companhias farmacêuticas que podem desenvolver esta parceria. O desafio de um conjunto de atitudes como estas é assunto para discutir de modo mais amplo o tipo de filosofia da prática médica, e desafiar um clima político de atitudes que permanecem arraigadas na quantificação, que o monetarismo exemplifica e idealiza na sociedade. 293 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Psicoterapia e Obesidade Jena Hanay Araujo de Oliveira 1 Elisa Medici Pizão Yoshida 2 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: intervenção psicológica; produção científica; revisão da literatura; psicologia clínica; avaliação psicológica. O presente trabalho tem como objetivo revisar a produção científica referente à psicoterapia e obesidade, classificando-a em duas dimensões de análise: a primeira refere-se às publicações destacando ano, país, idioma, número de autores e periódicos de indexação. A segunda abrange as pesquisas descritas nos resumos levando em conta a população descrita, o tipo de delineamento de pesquisa, a estratégia de tratamento e os instrumentos de avaliação utilizados. A amostra foi composta de 98 abstracts de periódicos indexados nas bases de dados MEDLINE, de 2000 a 2006, utilizando-se o descritor obesidade e psicoterapia. Os resultados apontam para um aumento no número de publicações ano a ano, com maior concentração em 2005 (20,40%). Levantou-se a predominância de publicações nos Estados Unidos (46,93%), em segundo lugar Inglaterra (13,26%), idioma inglês (82,65%), de estudos com um autor (17,34%) e de publicação no periódico Eating Weight Disorder (8,16%). A segunda dimensão de análise aponta para a prevalência de população adulta com obesidade, homens e mulheres (48,97%), seguida de adulto obeso com transtorno da compulsão alimentar (17,34%), e em terceiro lugar está crianças e adolescentes (14,28%). Predominou estudo empírico (58,16%), seguido de pesquisa de revisão da literatura (35,71%). Como escolha de tratamento predominou a psicoterapia cognitiva comportamental (34,69%), seguida do tratamento combinado - psicoterapia, atividade física e acompanhamento nutricional (19,38%). Com relação aos instrumentos de avaliação, dos 21 utilizados, preponderou o Eating Disorder Inventory e o Beck Depression Inventory com 1 2 Doutorando PUC-Campinas – Bolsistas D – CAPES. Orientadora do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 294 14,28% cada um, seguido do Eating Inventory (9,52%). Os dados sugerem que as pesquisas na área da obesidade têm aumentado ano após ano principalmente, estudos de pessoas obesas com transtornos alimentares. Em grande parte predomina publicações na área da psiquiatria, no qual autores discutem métodos, procedimentos, técnicas, bem como avaliam o emprego e atestam a eficácia de tratamentos. Os resultados também apontam para a necessidade de pesquisas que enfoquem a obesidade na infância e na adolescência que tem crescido rapidamente. Outro aspecto é que apesar de configurar a psicoterapia cognitiva comportamental como modalidade terapêutica em conjunto com outras intervenções, há carência de publicação na área da psicologia e de enfoque sistematizado na escolha e avaliação das estratégias psicoterapêuticas, assim como de pesquisa em psicoterapia. 295 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Psicoterapia no período de latência: um estudo de caso Emilene Duarte Rocha José Tolentino Rosa 1 Universidade Metodista de São Paulo – Umesp [email protected] Palavras-chave: psicanálise; mecanismos de defesa; relações objetais. Este trabalho traz uma discussão cujo eixo é a psicoterapia infantil, em que através da técnica lúdica criada por Melanie Klein, oferece à criança a possibilidade de expressar-se brincando. Se interpretado adequadamente o jogo permite à criança vencer o medo aos objetos, assim como vencer o medo aos perigos internos, o que torna possível uma ponte entre a fantasia e realidade. A partir de abril de 2006, foi atendida uma menina de 9 anos e 05 meses (Clínica de Psicologia da Universidade Metodista), totalizando 14 atendimentos, trabalhados com material lúdico sob aporte teórico kleiniano e Neokleiniano. Durante os atendimentos a criança apresentou um alto grau de agressividade, mantendo-se fixada a defesas muito primitivas de expulsão e destruição dos objetos ansiogênicos. Às essas alterações de comportamento considera-se a hipótese de que tais sintomas correspondam a equivalentes depressivos, defesas contra a depressão e tentativas (geralmente frustradas), de conseguir atenção e carinho do ambiente. Isso nos leva a concluir de modo parcial, que a função do jogo no processo psicoterapêutico do latente, abrem uma brecha para o inconsciente, desde que encaradas como material autêntico na elaboração das situações excessivas para o ego (traumáticas) cumprindo uma função catártica e de assimilação por meio da repetição dos fatos cotidianos e não apenas como expressão das resistências. 296 1 Orientador Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Quando o corpo reclama: a terapia cognitivocomportamental de distúrbios psicofisiológicos Marilda Emmanuel Novaes Lipp Pontifícia Universidade Católica de Campinas. [email protected] Palavras -chave: psicofisiologia; stress; terapia breve. O vínculo saúde emocional-bem estar físico recebe constante validação científica em que inúmeros estudos mostram essa correspondência com grande clareza. Porem, na sociedade pós-moderna, na qual a tecnologia e o sucesso assumem o papel de liderança, o silêncio corporal é auto-imposto por pessoas com altos níveis de realização profissional na busca constante da transcendência de limites pessoais, sejam eles físicos ou emocionais. A falta de contacto com os sentimentos indesejados e com os sinais corporais de desconforto emocional pode ser vista como uma tentativa de silenciar os sinais de que o stress do dia a dia ameaça transpassar os limites sadios do viver com qualidade. Frequentemente, a fim de que a percepção do desconforto de conflitos, excessos ou carências ocorra, o corpo necessita reclamar com a ferocidade dos momentos emergenciais, seja na forma de hipertensão arterial, de ulceras, doenças dermatológicas, diabetes etc. É o corpo que fala quando a tensão ultrapassa o limite do suportável e o órgão de choque, determinado pela herança genética ou pelos eventos da vida, é afetado. A terapia cognitivo-comportamental oferece uma excelente opção de tratamento para distúrbios psicofisiológicos, pois permite que o ser humano entre em contacto com os pensamentos disfuncionais e os temas de vida modeladores de estilos de vida desajustados e estressantes. O tratamento de hipertensão arterial, psoríase, diabetes e distúrbios gástricos envolve, dentro deste referencial teórico, a mudança do estilo de vida, do padrão da atividade cognitiva e das estratégias de enfrentamento dos estressores da vida. Os resultados da psicoterapia intitulada treino psicológico de controle do stress, de aproximadamente 15 sessões individuais ou em grupo, baseada na TCC, tem sido pesquisados e os resultados apontam para 297 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 sucesso em grande parte dos pacientes. A motivação para mudar é um elemento essencial a afim de que a pessoa se beneficie desta modalidade de psicoterapia. 298 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Relação entre qualidade de vida e stress na fase de quase exaustão em estudantes do 4º ano de Magistério Ana Carolina de Queiroz Cabral 1 Flávia Urbini Santos1 Vivian Cristina Alves Pacola1 Marilda Emmanuel Novaes Lipp 2 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: stress; qualidade de vida; professores; estudantes. Embora a literatura sobre stress e qualidade de vida em estudantes do magistério ser tão pouco estudada, os estudos vem demonstrando presença do diagnóstico de stress em um grande número de professores. Chamamos de stress um “desgaste geral do organismo”, que pode ser desencadeada por fatores positivos e negativos. O professor, ocupa grande parte de seu tempo empenhando-se na área profissional o que faz com que as outras áreas de sua vida acabam sendo esquecidas ou deixadas de lado. Isso acarreta no agravamento do nível do stress e no fracasso no que se refere à qualidade de vida. Chamamos de qualidade de vida um indivíduo que apresente sucesso em 4 áreas: Social, Afetiva, Profissional e de Saúde. Este estudo teve por objetivo avaliar a relação entre qualidade de vida e stress na fase de quase exaustão em estudantes do 4º ano de Magistério. Participaram deste estudo 21 mulheres, na faixa etária de 20 e 50 anos. Todas estudantes do 4º ano de Magistério de uma cidade do interior de São Paulo. Foi aplicado o Inventário de Qualidade de Vida (IQV) seguindo os procedimentos prescritos no instrumento para as aplicações. Entre as que tinham o diagnóstico de stress na fase de quase exaustão (36%), 80% apresentavam fracasso na área afetiva, 20% fracasso na área social, 28% fracasso na área profissional e 36% fracasso na área de saúde. Os dados desta amostra confirmam que o stress do professor se inicia antes mesmo de começar a exercer a profissão e 1 Mestrandas 2 PUC-Campinas. Orientadora do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 299 conseqüentemente a qualidade de vida também se encontra em fracasso. Diante dessa realidade, é necessário avaliar como poderiam se desenvolver medidas preventivas para melhorar a qualidade de vida e os níveis de stress dessas futuras professoras; lembrando que a fase de quase exaustão é considerada a 3ª das 4 fases do stress. 300 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Relato de uma experiência de orientação profissional em clínica escola de psicologia Camila da Costa Olmos Bueno [email protected] Palavras-chave: orientação profissional; adolescência; escolha pessoal. A Orientação Profissional define-se como um processo que auxilia na tomada de conhecimentos dos vários fatores que podem interferir na escolha profissional do indivíduo. Sua meta principal é promover o auto-conhecimento. Isso é possível ao identificar os interesses, habilidades, valores, expectativas, potencialidades e características pessoais do participante. Nesse processo, a tarefa do orientador é facilitar o momento da escolha da pessoa, auxiliando-a na conscientização e compreensão de sua situação de vida. O presente trabalho teve uma fundamentação teórica humanista e, neste sentindo, partiu-se de uma concepção de homem como ser livre e capaz de fazer escolhas, o que significa dizer que facilitar não é orientar. Dessa maneira, o objetivo deste estudo foi oferecer um atendimento de orientação profissional que facilitasse o processo de construção da identidade e da elaboração do projeto de vida de uma jovem. Para a realização do trabalho, foram realizados seis encontros com duração de aproximadamente uma hora e trinta minutos cada um, na Clínica escola de Psicologia da PUC-Campinas. Durante o processo, utilizaram-se diversos instrumentos tais como: testes, dinâmicas de grupo, entrevistas e técnicas específicas. Com o desenrolar dos encontros, observou-se que a participante pôde vivenciar de maneira mais consciente suas potencialidades e limitações em relação aos diversos aspectos de suas preferências profissionais. Ao final do processo, a participante pôde viabilizar sua escolha profissional e, neste sentido, podemos dizer que a experiência de orientação profissional proporcionou, para esta participante, uma ajuda importante no que se refere a sua saúde psicológica. 301 Anais do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Serviço de plantão psicológico de referencial clinico junguiano:um relato de experiência Rodrigo Clemente Ballalai 1 Regina Celia Paganini Lourenço Furigo 2 Universidade do Sagrado Coração [email protected] Palavras-chave – pronto atendimento; saúde publica; ampliação; serviços comunitários. Trata-se de Estágio Supervisionado realizado por alunos do curso de Psicologia da Universidade do Sagrado Coração – Bauru – SP junto a Clínica de Psicologia Aplicada como parte dos requisitos para a conclusão da graduação em Psicologia. Denominado Plantão Psicológico foi introduzido em caráter experimental no ano de 2000, visando atender à grande demanda proveniente da comunidade de pessoas que buscavam atendimento psicológico em momentos de crise. O Plantão Psicológico viabiliza um atendimento emergencial - compreendido como um serviço que privilegia a demanda emocional imediata da pessoa – e que funciona sem a necessidade de agendamento.Para adotar-se o referencial analítico junguiano como seu referencial teórico de atendimentos, partiu-se da premissa que... “Não tem sentido submeter um paciente comum – a quem não falta nada a não ser uma boa dose de bom senso – a uma complicada análise de seu sistema instintual, ou até expô-lo às sutilezas desconcertantes da dialética psicológica”(Jung,2004,p.7). Objetivos: Verificar se o referencial junguiano seria compatível com a prática de prestação de intervenções clínicas breves; oferecer um novo serviço de atendimento psicológico, com enfoque na pesquisa sobre saúde mental comunitária, compatível com as necessidades da comunidade; contribuir com a Clinica/Escola, melhorando a prontidão dos atendimentos; ampliar a possibilidade ao aluno em formação em Psicologia Clínica de atuação em casos diversificados, dentro de uma proposta inovadora de Atenção Psicológica. Materiais e Métodos: Procedeu-se a uma divulgação interna através de cartas, sendo professores do próprio 1 2 Plantonista monitor. Psicóloga supervisora. 302 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Departamento de Psicologia, de outros Departamentos e Clínicas da Universidade, informados sobre a existência do Serviço. Elaboraram-se cartazes de divulgação que foram afixados em alguns pontos estratégicos da Universidade e da cidade. Foram atendidas as pessoas que buscaram ajuda psicoterápica de urgência, sem agendamento prévio e por ordem de chegada. Utilizou-se para atendimento uma hora e trinta minutos de sessão no máximo. Criou-se um roteiro de entrevista específico para que se viabilizasse o estabelecimento de uma rotina no plantão.Cada paciente teve direito a um atendimento e até dois retornos no máximo, sendo então encaminhado para outros serviços, se necessário. Foi recepcionado na sala de espera da Clínica /Escola pelas atendentes do local que fizeram o encaminhamento para a equipe, constituída de seis plantonistas supervisionados por uma docente supervisora, em grupo, freqüência semanal e duração de aproximadamente duas horas e trinta minutos.O Serviço funciona em dias e horários específicos durante a semana e esse esquema é fornecido ao paciente pela Secretaria da CPAF. Resultados: no ano de 2005 foram atendidos 84 casos sendo a predominância de pacientes do sexo feminino. Ocorreram aproximadamente 252 sessões, 160 retornos e em média, cada plantonista atendeu a 36 consultas/ retornos.A grande procura ocorreu nas faixas etárias compreendidas ente os 20 e os 40 anos. Pelo fato do Serviço de Plantão Psicológico caracterizar-se pela sua inserção em Redes de Serviços Comunitários, os encaminhamentos havidos foram, pela ordem, para processos psicoterápicos de longa duração, atendimentos psiquiátricos, Postos de Saúde e Ambulatórios de uma forma geral. Grande parte dos casos resolveu-se no próprio Plantão. Novamente, pela ordem foram as seguintes as queixas predominantes: dificuldades no âmbito familiar, estados depressivos, ansiedade, abuso sexual e tentativa de suicídio. Discussão dos resultados: Entendemos, através dos resultados que obtivemos, que Plantão Psicológico é uma modalidade da Psicologia Clínica que pode e deve atuar de forma complementar à Psicologia Clínica Consultório, nas Instituições, Comunidades etc. dando ao psicólogo clinico uma visibilidade maior, ajudando-a a inseri-se na tão necessária Saúde Publica.Temos tido, entretanto, dentro da Psicologia Clínica, tão necessitada de mudanças urgentes, a vivência de sermos, com o Plantão Psicológico, o OUTRO, um outro ameaçador e até certo ponto não acreditado.O ganho de um número maior de pessoas, aos quais fosse facultada a presença de uma Psicologia Clínica representativa, seria o de que o terapeuta e aqui no nosso caso o Psicólogo/Plantonista favoreceria a esta percepção do humano, privilegiando- Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 303 a, ao possibilitar em maior escala, novos tipos de relações e vínculos dentro do âmbito de seu desempenho profissional. Ajudar as pessoas a retomar sua autenticidade, reaproximar-se de sua mais genuína natureza, seria realmente uma das funções mais nobres da Psicologia, em especial a do Plantão Psicológico enquanto também categorizado representante da Psicologia Clínica. Gostaríamos de perguntar aqui: o que cura o Plantão? De início, devemos atentar para o fato de que, aos termos tempo e objetivos limitados, distanciamo-nos dos conceitos clássicos das Psicoterapias tradicionais.Nossa atuação, entretanto, também contempla ao comprometimento irrestrito com o Paciente. Temos nos esforçado para irmos até o fim, esgotando nossas possibilidades clínicas emergenciais com a pessoa que a nós pede ajuda. Podemos considerar igualmente pertinentes, neste estudo, o conceito de Atenção Psicológica viabilizado pelo modelo do Plantão Psicológico, ao pensamento e à ação junguianas e pós junguiana, desde que não sejam feitas as diferenças conceituais cabíveis. A atuação no Plantão Psicológico vivifica o pensar junguiano sobre o que realmente deveria ser privilegiado no Encontro com a alma humana, ou seja, o imprevisível, o inesperado, o improvável, o imponderável... Para que aquilo que habita a Alma em seus vales, apenas em estado de potência, faça-se presente na consciência, na condição de estrangeiro seja reconhecido, na de hóspede acolhido e na condição de seu seja conhecido e assimilado pelo indivíduo.(BARCELLOS,2006).Considerações Finais: Será possível nos tempos de hoje, início de século, onde os discursos neurobiológicos proliferam tentando capturar tudo o que possa ser da ordem do psíquico, falar de Psicologia. Acreditamos que sim porque vivemos diariamente a validade desta modalidade. Cremos em um Plantão Psicológico que não se interessa em buscar verdades ou explicações. O que visamos é tentar estabelecer uma relação psicológica com as idéias e vivências presentes no mundo e nos indivíduos. Não se separa a experiência da alma de emoções e vivências que procuramos evitar: traição, suicídio, depressão, angústia, repetição, imobilismo, morte que são temas de confronto no cotidiano do nosso Serviço.Para encerrar nosso estudo admitimos e afirmamos sem hesitar, que nossa própria subjetividade esteve sempre presente na base do entendimento desse constructo. Como sempre difundido pela Escola Junguiana, naquilo que há de mais individual, a presença do coletivo se impõe. 304 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Terapia Analítico-Comportamental Wilton de Oliveira Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: pesquisa em psicoterapia; análise do comportamento; eventos privados. Ao escolher um objeto de estudo (o comportamento como relação) fundamentado em uma ontologia relacional a abordagem Analítico-Comportamental se afasta da epistemologia positivista na medida em que não concebe os eventos privados como obstáculos para o conhecimento, a relação pode se dar tanto em espaço público como em espaço privado. A Psicoterapia sempre foi considerada um espaço impróprio para pesquisa segundo a epistemologia positivista, justamente por lidar em grande parte com eventos privados (história passada, sentimentos, pensamentos, comportamentos relatados inacessíveis ao psicoterapeuta, sonhos) inacessíveis à observação direta. Por outro lado, para a abordagem AnalíticoComportamental a Psicoterapia passa a ser vista como um ambiente natural profícuo para o estudo de eventos comportamentais, porém oferece problemas a serem debatidos: como adequar as demandas do pesquisador com as necessidades do cliente? Os delineamentos construídos na Análise Experimental podem ser adaptados ao contexto clínico? Os problemas de pesquisa devem concentrar-se mais em demandas acadêmicas ou clínicas? Além disso, podem ser colocadas algumas questões de interesse para estudo, principalmente sobre comportamento verbal: qual o nível de controle a interação verbal terapeuta-cliente afeta o comportamento não verbal do cliente em seu ambiente natural? O controle por regras derivado da relação terapeuta-cliente produz no cliente insensibilidade a contingências naturais? O comportamento verbal do cliente é alterado segundo contingências programadas pelo terapeuta ou por aspectos arbitrários da relação terapeuta-cliente? A Psicoterapia é realmente um ambiente que promove consciência no cliente ou mais discriminações supersticiosas? O terapeuta descreve acuradamente o que faz (tem consciência de suas atuações) ou responde a contingências de reforço presentes na relação com o cliente? Por fim, vêm sendo 305 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 desenvolvidos no Brasil diversos estudos sobre terapia Analítico-Comportamental e muitas contribuições estão ocorrendo com o intuito de responder as perguntas anteriores e outras mais. 306 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Terapia Cognitivo-Comportamental com Crianças e Adolescentes Valquiria Aparecida Cintra Tricoli Associação Brasileira de Stress [email protected] Palavras-chave:stress; stress infantil; prevenção. A Terapia Cognitivo-Comportamental com crianças e adolescentes fundamenta-se, nos seguintes aspectos: desenvolvimento infantil e da adolescência e enfatiza a necessidade da comprovação empírica das intervenções. Os elementos fundamentais na TCC infantil e da adolescência, são: formulação de caso, psicoeducação, monitoramento do pensamento, identificação de distorções e déficits cognitivos, avaliação do pensamento e desenvolvimento de processos cognitivos alternativos, aprendizagem de habilidades cognitivas novas, monitoramento afetivo, controle afetivo, estabelecimento de alvos, experimentos comportamentais, exposição, role play, modelação e ensaio, reforço e recompensa. As características essenciais são: baseia-se em modelos testáveis empiricamente, é uma intervenção racional e coesa – não é simplesmente uma coleção de técnicas; é um modelo colaborativo, objetivo e estruturado; enfoca o aqui e agora; é um processo orientado de auto-descoberta e experimentação. Há necessidade de mais estudos na aplicação da TCC com crianças, as evidências e a base teórica para essa clientela são mais limitadas do que para adultos, pois a criança não é um adulto em miniatura. Vêm sendo observados benefícios para crianças maiores. O profissional que atua com essa faixa etária deve ser capaz de traduzir conceitos abstratos em exemplos cotidianos simples e concretos, com os quais a criança pode se relacionar, as intervenções devem ser projetadas para o nível de desenvolvimento cognitivo da criança. As tarefas necessárias á criança para engajar-se na TCC, são: acesso e comunicação do pensamento; aprender a atribuir alternativas para os eventos; estar consciente das diferentes emoções e estabelecer a ligação entre evento, pensamento, sentimento e ação. 307 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Transplante Cardíaco – O ninho da Fênix. Um estudo sobre as relações objetais de pacientes em processo de transplante cardíaco Ana Augusta Maria Pereira José Tolentino Rosa [email protected] Estudos anteriores demonstram que fatores psicológicos intervêm nos resultados de um transplante cardíaco. Diferem, em seus achados, em função dos paradigmas a que estão vinculados, que incluem ou não o campo intersubjetivo nos quais os fenômenos emergem. Nesta investigação objetivamos descrever o funcionamento mental de pacientes candidatos ao transplante, a partir de suas relações objetais inconscientes, delimitando uma vivência emocional comum nesta situação, bem como, buscamos averiguar se existem diferenças entre os pacientes, em função da realização ou não da cirurgia. Utilizou-se, como procedimento, o Teste de Relações Objetais de H. Phillipson (TRO), aplicado em 63 cardiopatas com indicação ao procedimento. O material clínico proveniente do acompanhamento psicológico destes pacientes também é utilizado para completarmos as observações. Os resultados apontam a presença de indicadores psicopatológicos, de acordo com a classificação de Grassano (1996) para depressão clínica em 60 casos. Em dois casos observaram-se indicadores para psicopatia e um caso para funcionamento psicótico, com repercussões negativas sobre o vínculo com o tratamento. Constataram-se diferenças estatisticamente significantes na performance dos pacientes frente às lâminas BG e C2, mas não podemos afirmar que as dificuldades de ajuste perceptual nestas lâminas, mais freqüentes entre aqueles que não fazem a cirurgia, seja fator de obstáculo ao procedimento. Sugerimos, como hipótese teórica deste trabalho, a presença de refúgios psíquicos, de acordo com Steiner (1997) como estratégia de sobrevivência psíquica, nesta situação, tendo em vista o predomínio, regressivo, de relações de objeto persecutórias, em virtude da extrema ansiedade depressiva. Assim, neste refúgio (ninho da Fênix), o paciente abriga-se da dor da perda (luto pela vida, pelo coração a ser retirado) e da aniquilação (devastação da doença, risco cirúrgico e da Anais do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 308 imunossupressão), conseguindo enfrentar o processo de transplante cardíaco. Caso contrário, o paciente sucumbe ao quadro depressivo. 309 Anais do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Um estudo sobre stress e assertividade, levando em consideração níveis escolares Ana Carolina de Queiroz Cabral 1 Flávia Urbini Santos1 Vivian Cristina Alves Pacola1 Marilda Emmanuel Novaes Lipp 2 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: inabilidade cognitiva e afetiva; reatividade cardiovascular e nível escolar. A inassertividade se caracteriza pela dificuldade de defender seus direitos pessoais, expressar opiniões e afetos, ela também pode se constituir em uma fonte interna de stress emocional. O stress é uma reação do organismo diante de uma situação nova, boa ou ruim, que exija dela uma adaptação. Esse processo divide-se em 4 fases: a fase de alerta, que ocorre quando há a percepção do estressor e o organismo prepara-se para lutar ou fugir; a fase de resistência, onde o estressor continua presente por um período prolongado ou de forma intensa e organismo utiliza reservas de energia adaptativa; a fase de quase-exaustão, onde o desgaste pela tentativa de reequilíbrio aumenta e o indivíduo começa a adoecer; e a fase de exaustão, na qual as doenças se estabelecem, devido tanto à exaustão física quanto à psicológica. O presente estudo teve como objetivo verificar a presença do stress e assertividade entre um grupo de pessoas. A amostra foi composta por 234 pessoas, sendo 40% do sexo masculino e 60% do sexo feminino, com idades entre 19 a 64 anos. Quanto ao grau de escolaridade, 7% tinham o Ensino Fundamental Incompleto, 13% tinham o Ensino Fundamental Completo, 3,5% tinham o Ensino Médio Incompleto, 33% tinham o Ensino Médio Completo, 6% tinham o Ensino Superior Incompleto e 37,5% tinham o Ensino Superior Completo. A coleta de dados foi realizada no Laboratório de Estudos Psicofisiológicos do Stress, utilizou-se o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) e a Escala de 1 Mestrandas 2 PUC-Campinas. Orientadora do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Anais do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 310 Assertividade de Rathus. Resultados indicaram que 8% da amostra não apresentavam sintomas de stress, 4% estavam na fase de alerta do stress, 60% na fase de resistência, 22% na fase de quase-exaustão e 6% na fase de exaustão do stress. No que se refere à assertividade, 92% eram inassertivos e 8% assertivos. Conclui-se que a maioria dos participantes estava na fase de resistência do stress, na seqüência, a fase de quase-exaustão foi a segunda mais preenchida, eles também eram na sua maioria inassertivos, mesmo que a maioria possuía um nível de escolaridade superior. Estudos posteriores devem ser feitos com uma população que não possua ensino superior para verificar os níveis de assertividades delas. 311 Anais do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Um modelo de ação de adolescentes em sala de aula: um estudo grupoanálitico Valéria Cristina Pereira Verzignasse 1 Antonios Térzis 2 Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: grupoanálise; adolescente; funcionamento grupal. Objetivo: Estudar o funcionamento da mentalidade grupal em adolescentes de uma sala de aula. Amostra: Escola pública, localizada na cidade de Americana, num bairro de classe média-baixa. Ao lado deste bairro existe um outro ainda mais carente. Os adolescentes observados possuem 13/14 anos, de ambos os sexos, e que estão na sétima série. Método: Observação de uma situação grupal em sala de aula, utilizando como corpo teórico à psicanálise, especialmente a abordagem desenvolvida por W. Bion. Resultados: Conforme nos ensina Bion, existem no grupo dois níveis de funcionamento mental. O primeiro deles está ligado ao processo secundário, ou seja, o nível da consciência, denominado grupo de trabalho ou de tarefa. A segunda mentalidade de grupo descrita por Bion é denominada mentalidade primitiva. No presente estudo, o grupo tinha por tarefa aprender a matéria Língua Portuguesa. Essa tarefa foi o tempo toda perturbada e interrompida. O funcionamento do grupo de trabalho em relação ao cumprimento da tarefa manifesta se vê dificultado por um clima emocional subjacente, pelo surgimento de pensamentos e emoções que se encontram enraizados em fantasias. São três as fantasias que penetram na mentalidade primitiva, revezando-se no grupo. Bion as define em "supostos básicos”. O objetivo do suposto básico é evitar a frustração inerente à aprendizagem por experiência, ele está a serviço do principio de prazer. A linguagem é de ação, e não uma expressão do processo de pensamento. No grupo observado, vemos que esta ação encontra-se na agressão física interpessoal, na Aluna do curso de pós-graduação em Psicologia como Profissão e Ciência da Pontifícia Universidade Católica de Campinas 2 Professor titular da pós-graduação em Psicologia como Profissão e Ciência da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. 1 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 312 falta de atenção ao que a professora fala, na falta de realização da tarefa e, enfim, na total indisciplina. O grupo age e não pensa. As três classes de fantasias que caracterizam os supostos básicos são: dependência (onde domina a idéia de depender totalmente de um chefe ou líder absoluto); luta e fuga (o grupo se forma somente para se ocupar da própria conservação, e esta depende exclusivamente do comportamento de atacar em massa o inimigo ou evitá-lo); acasalamento (quando o produto da reprodução seja este uma pessoa ou idéia, é tido como um Messias que ainda está por vir). O grupo observado se identifica com o segundo suposto básico, pois fica caótico: ataca e se defende da tarefa de aprender a Língua Portuguesa. Conclusão: Observamos níveis diferenciados no grupo. Os seus integrantes entram numa regressão, cuja característica principal é a de por em primeiro plano os aspectos mais primitivos do funcionamento psíquico (conversam, não escutam a professora, não levam o livro, gritam, etc.). Como o grupo está funcionando pelo suposto básico de luta e fuga, eles não reconhecem um processo de desenvolvimento, nem buscam compreensão por parte de seus membros. Não consideram a realidade externa, nem o fator tempo, portanto as atividades que reclamam seu conhecimento, tendem a provocar sentimentos de perseguição. Daí o caos estabelecido dentro da sala de aula. 313 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Uma psicoterapia centrada no grupo Márcia Maria Carvalho Luz 1 Mauro Martins Amatuzzi Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chaves: escuta; confiança; apoio; empatia; evolução.Este estudo configura-se numa atuação psicológica em um grupo sob o enfoque da Abordagem Centrada na Pessoa. Foram realizados no total 18 encontros, com 1 hora e 40 minutos de duração cada. Como forma análise foram realizadas versões de sentido, ou seja, ao final de cada encontro a estagiária redigia a versão daquele encontro, procurando se aproximar o máximo possível da vivencia daquele grupo. Este grupo era formado por 7 mulheres de meia idade cuja queixa inicial foram problemas psicossomáticos. Estas senhoras foram encaminhadas do hospital universitário da Puc-Campinas para atendimento psicoterápico na clínica escola da universidade. O que todas tinham em comum eram dificuldades conjugais. Todas sofreram e ainda estavam sofrendo com o casamento e muitos sentimentos penosos foram expressos. No decorrer do processo houve o autoconhecimento destas mulheres. Elas olharam para si mesmas, algumas mudaram modos de agir e de ver a vida, buscaram novos hobbies, a auto-estima se elevou e a vida ganhou nova perspectiva. O quadro médico de algumas também melhorou durante esta psicoterapia de grupo. Houve altos e baixos. O passado veio à tona e com ele sentimentos de tristeza, ódio e mágoa. Buscou-se resgatar o que aconteceu de positivo em meio a tantas experiências de vida negativas. Uma árdua conquista foi alcançada, pois a escuta empática estabeleceu-se mais ao final do processo. A mensagem deste grupo foi o apoio mútuo e um re-significar da própria vida. Assim, fazer do grupo um momento para o crescimento pessoal é estabelecer a confiança entre seus integrantes. A confiança facilita a expressão de sentimentos e pensamentos. A escuta, a compreensão, o respeito e a aceitação são importantes para que o grupo tenha uma direção própria. Na psicoterapia de grupo os participantes caminham em direção a um compartilhar vivencias, apoiando-se mutuamente. Coube ao facilitador 1 Mestranda da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 314 comunicar suas percepções, além de criar um ambiente favorável para a ajuda psicológica. Conclui-se então que, a vivencia deste grupo acarretou mudanças significativas na vida destas participantes. O apoio do grupo fez com estas não se sentissem mais sozinhas em seus problemas, além do fato de ter havido uma identificação entre elas. Esta identificação facilitou a relação e o vínculo entre as mesmas. Portanto, se pôde constatar a importância das atitudes descritas por Rogers durante a evolução desta psicoterapia de grupo. 315 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Vivências de pessoas internadas em enfermaria de um hospital geral: um estudo fenomenológico Tatiana Gomez Espinha 1 Mauro Martins Amatuzzi Pontifícia Universidade Católica de Campinas [email protected] Palavras-chave: hospitalização; cuidados; abordagem centrada na pessoa; fenomenologia. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de tipo fenomenológico que se encontra na fase de coleta de dados por meio da realização de entrevistas. O objetivo é compreender fenomenologicamente a vivência de estar internado em uma enfermaria de um hospital geral. Pretende-se também, a partir daí, discutir o cuidado prestado a essas pessoas do ponto de vista psicológico, tanto por parte do psicólogo como também de outros profissionais que no hospital lidem com elas. A pesquisa está sendo desenvolvida em um hospital no interior do estado de São Paulo onde a psicóloga-pesquisadora atua atendendo pessoas internadas a partir do referencial da Abordagem Centrada na Pessoa. As entrevistas seguem a modalidade nãodiretiva ativa (Mucchielli, 1991) e serão registradas sob forma de narrativa. Até o momento foram realizadas três entrevistas, duas com mulheres e uma com um homem. Estas entrevistas sugerem alguns resultados. As pessoas já chegam no hospital com um histórico de sofrimento em decorrência de uma doença física. Ao se internarem, o sofrimento físico é amenizado, no entanto, o sofrimento psicológico permanece, pois a hospitalização favorece a reflexão e o contato consigo mesmo, por estarem sozinhos a maior parte do tempo e se sentindo fragilizados. A internação proporciona segurança às pessoas, pois elas sentem que podem contar com uma equipe de profissionais em grande parte do tempo, devido a isso, é melhor estar no hospital do que em casa. Por outro lado, nem sempre os clientes se sentem à vontade para chamá-los. Há um sentimento de estar atrapalhando, já que existem outras pessoas para serem cuidadas. Uma das pessoas entrevistadas comenta que os internos acabam se ajudando entre si para não solicitar tanto a enfermagem. 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da PUC Campinas, bolsista CAPES. Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 316 Apesar da segurança uma equipe especializada por perto, parece haver um distanciamento entre clientes e profissionais. 317 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Trabalhos A Arteterapia como um novo campo do conhecimento P.10 A escolha profissional na prática psicoterapêutica: pesquisando um enquadre clínico diferenciado P.11 Alexitimia e sintomas psicopatológicos em pessoas idosas P.17 Apego e posse em psicoterapias psicodinâmicas P.27 Da flor frágil e despetalada ao brotar da Florzinha: menina super poderosa P.36 Da terapia comportamental à terapia cognitivo-comportamental: Uma história de 35 anos P.45 Dimensões de mudança em psicoterapia psicodinâmica P.68 Encontros e Consultas Terapêuticas : Uma proposta de pesquisa intervenção no Hospital Psiquiátrico P.72 Envelhecimento e Depressão: O uso de instrumentos projetivos como mediadores no contato terapêutico P.81 Infertilidade e Adoção: Reflexões sobre a Importância da Psicoterapia no Tratamento da Infertilidade P.91 Instrumentos de avaliação de mudança em psicoterapia breve P.95 Intervenção breve em organizações: adaptação às mudanças através do coaching P.102 Mudança em psicoterapia: avaliação intensiva de caso único P.112 O Método do Tema Central de Relacionamento Conflituoso e a pesquisa em psicoterapia psicodinâmica P.125 O viver positivo: uma experiência psicoterapêutica inovadora com meninas soropositivas P.132 Pesquisas do Laboratório de Análise do Comportamento, Saúde e Reabilitação P.141 Pesquisas Psicanalíticas do Laboratório de Psicologia Clínica Social P.145 População alvo atendida em psicoterapias breves psicodinâmicas: produção nacional e estrangeira (1980/2002) P.150 Psicoterapia breve psicodinâmica conduzida por psicoterapeuta inexperiente: pesquisa de resultados e acompanhamento P.160 Psicoterapias psicodinâmicas breves com enfoque preventivo: pesquisa de resultados e acompanhamento P.166 Ser e Fazer na Arte de Papel: artepsicoterapia na clínica winnicottiana P.176 À guisa de “resultados de pesquisa” P.184 318 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Resumos “Brincando de ser mamãe”: Um estudo clínico-qualitativo sobre gravidez em idade precoce, no Sudeste do Brasil P.200 “Criança-problema”: intervenção junto aos pais P.202 A análise do comportamento e o transtorno dismórfico corporal P.203 A Grupoterapia com adolescentes institucionalizados P.205 A psicoterapia de grupo no tratamento da dependência química em mulheres P.207 A psicoterapia é uma antropologia? P.208 Acompanhamento terapêutico: uma intervenção focal na saúde pública P.209 Alexitimia e Psicoterapia P.211 Alexitimia e Stress de sujeitos hipertensos e normotensos filhos de hipertensos P.213 Algumas considerações sobre psicoterapia breve e psicanálise P.216 Análise da ocorrência do comportamento verbal de dor de um paciente com Disfunção Temporomandibular P.217 Análise do discurso da escolha profissional do adolescente – e aí? o que você vai prestar? P.219 Aspectos psicológicos do paciente hanseniano do quadro reacional: um estudo exploratório P.222 Auto-tatos sobre a doença: breve relato de um portador de diabetes mellitus tipo 2 P.224 Avaliação da Depressão na Obesidade Grau III P.226 Avaliando a depressão em crianças portadoras de deformidades craniofaciais P.227 Caracterização da clientela infantil de um serviço de psicologia. P.229 Caracterização de um programa de avaliação do desenvolvimento em um ambulatório de deformidades craniofaciais P.231 Comprovações Biológicas do Treino de Controle do Stress P.233 Construções para teorias de grupo P.235 Construções para uma Teoria dos Grupos: Uma Perspectiva Psicanalítica P.237 Delineamentos metodológicos e a pesquisa em psicoterapia P.238 Descrição de algumas variáveis de risco na avaliação psicossocial de crianças portadoras de deformidades craniofaciais P.239 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 319 Descrição de um programa psicopedagógico em um ambulatório de deformidades craniofaciais P.241 Discriminação de habilidades sociais em crianças com fissura labiopalatina P.243 Dizer-fazer-dizer: comportamentos de mãe e filho portador de deformidade craniofacial em uma situação de exame médico invasivo P.245 Efeitos de Contingências de reforço sobre a utilização de pronomes na construção de frases P.247 Epilepsia benigna da infância com pontas centrotemporais: estudo evolutivo do desempenho das crianças na Escala Wechsler de Inteligência para Crianças (WISC-III) e no Teste das matrizes progressivas coloridas de Raven P.249 Escala Rutgers de Progresso em Psicoterapia- RPPS: instrumento de avaliação das mudanças em Psicoterapia Breve P.250 Estudo de um caso em preparação para procedimentos invasivos de uma paciente com nevus P.252 Evidência clínica da psicoterapia psicanalítica na ansiedade, depressão e transtorno da “working memory” P.254 Experiências de um Grupo de Mulheres na Luta pela Cidadania P.256 Follow up no serviço de plantão psicológico: contribuição de uma clínicas-escola para a expansão da psicologia clínica P.258 Grupo de orientação psicopedagógica para pais de crianças portadoras de deformidades craniofaciais P.260 Instrumentos para Avaliação da Depressão: produção científica de 2003 à 2006 P.262 La Investigacion de Procesos y Resultados en Psicoterapia Psicodinamica Focal P.264 Mudança em psicoterapia: produção científica de dois periódicos (2003- 2005) P.266 Mudança em psicoterapia breve infantil P.268 Novos cenários de mercado: o papel da psicologia no universo corporativo P.270 O acesso a eventos encobertos na pesquisa clínica P.271 O desabrochar de Rosinha: encontros terapêuticos com uma adolescente gestante P.272 O desenvolvimento infantil de crianças com fissura de zero a um ano P.274 O grupo de casais P.276 O grupo musical e a pertinência grupal P.278 Observação do comportamento de seguir regras em situação lúdica P.279 Oficina de pintura: um estudo fenomenológico em um serviço de psicologia P.281 Plantão psicológico em hospital geral: um estudo fenomenológico sobre a experiência dos usuários P.283 320 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006 Praticas educativas parentais: um estudo da interação familiar de um dependente químico P.285 Programa de preparação para procedimentos invasivos em ambulatório de deformidades craniofaciais P.287 Projeto de Grupo de Crescimento com candidatos a vida religiosa: um estudo fenomenológico P.289 Projetos comunitários num contexto de uma clínica ampliada: um estudo fenomenológico P.290 Psicanálise baseada na evidência: sintomas e relacionamento P.292 Psicoterapia e Obesidade P.294 Psicoterapia no período de latência: um estudo de caso P.296 Quando o corpo reclama: a terapia cognitivo-comportamental de distúrbios psicofisiológicos P.297 Relação entre qualidade de vida e stress na fase de quase exaustão em estudantes do 4º ano de Magistério P.299 Relato de uma experiência de orientação profissional em clínica escola de psicologia. P.301 Serviço de Plantão Psicológico de Referencial Clínico Junguiano: um relato de experiência P.302 Terapia Analítico-Comportamental P.305 Terapia Cognitivo-Comportamental com Crianças e Adolescentes P.307 Transplante Cardíaco – O ninho da Fênix. Um estudo sobre as relações objetais de pacientes em processo de transplante cardíaco P.308 Um estudo sobre stress e assertividade, levando em consideração níveis escolares P.310 Um modelo de ação de adolescentes em sala de aula: um estudo grupoanálitico P.312 Uma psicoterapia centrada no grupo P.314 Vivências de pessoas internadas em enfermaria de um hospital geral: um estudo fenomenológico P.316 321 Trab. do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006