O RURAL E O URBANO BRASILEIRO: definições em debate Cláudia Luiz de Souza BISPO M estranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Goiás, Campus Catalão. Núcleo de Estudos e Pesquisas Socioambientais (NEPSA/CNPq/UFG). Endereço eletrônico: [email protected] Estevane de Paula Pontes MENDES Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Goiás, Campus Catalão. Núcleo de Estudos e Pesquisas Socioambientais (NEPSA/CNPq/UFG). Endereço eletrônico: [email protected] Resumo: Propõe-se apresentar uma discussão sobre o que vem a ser o rural e o urbano no Brasil, através de duas perspectivas distintas; a normativa e a analítica. A abordagem normativa baseia-se no Decreto-Lei n° 311 de 1938. Na abordagem analítica destaca-se dois indicativos no pensamento científico. O primeiro indicativo defende que no Brasil encontra-se cada vez mais indícios do desaparecimento das sociedades rurais e, portanto, da sujeição desse espaço social à hegemonia da industrialização e da urbanização. O segundo indicativo identifica as transformações profundas por que passa a modernidade, mas entende que o rural não se “perde” nesse processo, ao contrário, reafirma sua importância e particularidade. Para a realização desse estudo, foi feita uma revisão de referências (livros, artigos de periódicos, revistas especializadas, documentos, monografias, leis, sites) que abordam a temática trabalhada, além da realização de um levantamento e análise de dados secundários, como os do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Acredita-se ser inquestionável a importância de se problematizar as noções de urbano e de rural e de se entender as suas relações. Pois, é a partir da análise das relações, sociais, econômicas, políticas e culturais, existentes entre esses dois espaços que o geógrafo e a Geografia poderão entender melhor as identidades, os territórios e as territorialidades existentes entre eles. Palavras-chave: Rural. Urbano. Brasil. 1 INTRODUÇÃO O campo não é mais um espaço predominantemente rural. De forma semelhante, a cidade não é um espaço exclusivamente urbano, ou seja, nem tudo o que existe no campo é rural e nem tudo o que há na cidade é urbano. Diante dessa situação autores como Veiga (2004), Blume (2004), Abramovay (2000), Wanderley (1997) tem questionado se a normativa brasileira, fundamentada no Decreto-Lei n° 311 de 1938, demonstra corretamente o que é de fato urbano e o que é fato rural no Brasil. Para esses autores a Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1 metodologia que orienta a classificação normativa brasileira é “ultrapassada”, o critério de se considera como urbana a área e a população que estiver localizada dentro de um perímetro urbano da sede de um município (cidade) ou de um distrito (vila) e como rural a área e a população que estiver localizada fora desse espaço físico delimitado, não expressa real e efetivamente o processo que tem transcorrido no campo e nas cidades, no rural e no urbano ao longo das últimas décadas. Assim, frente às novas dinâmicas atualmente em curso no mundo urbano e, principalmente, no mundo rural brasileiro é que pesquisadores de diversas áreas do conhecimento como Sociologia, Economia e Geografia têm atribuído a eles “novas” definições no intuito de captar e explicar a diversidade desses espaços incorporando indicativos diferenciados para as análises. Um dos indicativos a ser apontado nos estudos analíticos dos espaços rurais e urbanos defende que no Brasil encontram-se cada vez mais indícios do desaparecimento das sociedades rurais e, portanto, da sujeição desse espaço social à hegemonia da industrialização e da urbanização. Nela, as diferenças entre rural e urbano deixam de existir, e considera que o campo é cada vez mais identificado com a cidade, submetido a homogeneidade nas formas econômicas e sociais de organização e da produção. Entre os autores que compartilham dessa opinião tem-se Campanhola e Graziano da Silva (2000), Graziano da Silva (2002) e Carlos (2004). Outro indicativo a ser apontado nos estudos analíticos dos espaços rurais e urbanos no Brasil, é representado por uma posição teórica oposta a apresentada, anteriormente. Essa posição teórica advoga que o rural não se “perde” frente às transformações profundas por que passa a modernidade, ao contrário, reafirma sua importância e particularidade. Entre os autores que partilham dessa linha de pensamento destacam-se: Carneiro (1998; 1997), Resende (2007), Bagli (2006) e Rua (2007). Para a realização da pesquisa, primeiramente, buscou-se fazer uma revisão de literatura em livros, artigos de periódicos, revistas especializadas, documentos, trabalhos de conclusão de cursos, leis e sites, principalmente, ao que se referem ás áreas de Geografia Urbana e Agrária, Sociologia e Economia, uma vez que essas são áreas que mais têm contribuído para avanço do debate na atualidade. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2 2 DEFINIÇÕES ACERCA DO RURAL E DO URBANO Uma das maneiras de se compreender e ler o rural e o urbano é o “campo normativo”. Este pode ser entendido como o debate promovido sobre as definições do rural e do urbano por instituições governamentais e de pesquisas. Até 02 de março de 1938 não existia no país uma delimitação normativa para a distinção de espaços urbanos de espaços rurais. Nessa data foi instituído o Decreto-Lei Nº 311 que teve como uma de suas incumbências promover a delimitação uniforme das circunscrições territoriais do quadro da República. Para tal feito, orientou o trabalho pelos critérios da delimitação administrativa. O Decreto-Lei Nº 311/1938 passou a regulamentar as unidades territoriais administrativas no país da seguinte forma: Art. 3º A sede do município tem a categoria de cidade e lhe dá o nome. Art. 4º O distrito se designará pelo nome da respectiva sede, a qual, enquanto não for erigida em cidade, terá a categoria de vila. (DECRETO-LEI Nº 311/1938). Assim, uniformizou-se como cidade toda sede de circunscrição territorial do distrito sede no município, independente de quaisquer características estruturais (como: a) localização; b) número de habitantes; c) número de eleitores; d) número de moradias, e e) densidade demográfica) e funcionais relacionados a existência de serviços indispensáveis á urbe (como: a) hospital com permanência; b) farmácias; c) corporação de bombeiros; d) instalações de hotelaria; e e) transportes públicos urbanos e suburbanos) e também, se uniformizou como vila, toda sede da circunscrição territorial do distrito. Essa normativa atribui a toda sede municipal e distrital a condição de urbana, independente de suas concentrações populacionais, que em alguns casos são dimensões reduzidas, como acontece com a grande maioria das sedes distritais brasileiras. Além disso, segundo essa normativa é urbano quem habita nas sedes urbanas dos municípios, independente das profissões desempenhadas. Comparando com outras definições, “[...] um pequeno comerciante, residente num ‘village’ europeu ou norteamericano, sendo agricultor é um rural enquanto um agricultor brasileiro que more na cidade é aqui considerado em legítimo urbano [...].” (WANDERLEY, 1997, p. 98, grifo da autora). Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3 É importante salientar que desde a promulgação do Decreto-Lei nº 311/1938, o grau de urbanização no país tem avançado consideravelmente em termos percentuais e em patamares relativamente constantes, conforme pode se observar na Tabela 1. Tabela 1 - População residente, por situação do domicílio e por sexo de 1940-2000. Anos urbana rural Taxa de urbanização homens mulheres homens mulheres 1940 6.164.473 6.715.709 14.449.615 13.906.518 31,23% 1950 8.971.163 9.811.728 16.913.838 16.247.668 36,16% 1960 15.120.390 16.182.644 19.935.067 18.832.356 45,10% 1970 25.227.825 26.857.159 21.103.518 19.950.535 55,93% 1980 39.228.040 41.208.369 19.895.321 18.670.976 67,59% 1991 53.854.256 57.136.734 18.630.866 17.203.619 75,60% 1996 59.716.389 63.360.442 17.726.436 16.266.856 78,35% 2000 66.882.993 71.070.966 16.693.22 15.152.189 81,25% Fonte: htpp// www.ibge.gov.br. (População). (1) - População Residente. Acesso em: 25 de out. de 2009. Com base nos dados apresentados na Tabela 1, verifica-se que a taxa de urbanização brasileira, sinônimo da distribuição da população no território nacional, vem aumentando em proporções constantes desde a década 1940. Outro ponto que merece destaque na Tabela 1 é a taxa de urbanização de 81,25%, apresentada no ano 2000. Esse valor tem despertado especial atenção dos pesquisadores, como Veiga (2004), Abramovay (2000) e Blume (2004). Para estes autores, a taxa de urbanização explicita um problema conceitual mais amplo do que a aparente objetividade que o número expressa, pois remete a questão para uma controvertida definição: as fronteiras entre o rural e o urbano. Veiga (2004), além de contestar o grau de urbanização (81,2%), alcançado pelo Brasil em 2000, critica os critérios utilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que considera todas as pessoas que residiam em sedes, inclusive sedes distritais, como urbanas. Para esse autor, o entendimento do processo de urbanização do Brasil vem sendo atrapalhado por esses fundamentos. Conforme Veiga (2004), não existe país que conte mais cidades do que o Brasil. Eram 5.507 quando houve o último Censo Demográfico (2000), desse total de sedes de municípios existentes em 2000, havia 1.176 com menos de 2 mil habitantes, 3.887 com menos de 10 mil e 4.642 com menos de 20 mil, todas com estatuto legal de cidade idêntico ao que é atribuído aos inconfundíveis núcleos que formam as regiões metropolitanas. Um caso Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4 extremo, citado nos estudos do autor está no Rio Grande do Sul, onde a sede do município União da Serra é uma “cidade” na qual o Censo Demográfico de 2000 encontrou apenas 18 pessoas, residindo em 4 casas. Para que a análise da configuração territorial possa de fato evitar a ilusão imposta pela normativa brasileira, Veiga (2004) sugere que é preciso combinar o critério de tamanho populacional do município com pelo menos outros dois: sua densidade demográfica e sua localização. Segundo o autor “[...] não há habitantes mais urbanos do que os residentes nas 12 aglomerações metropolitanas, nas 37 demais aglomerações e nos outros 77 centros urbanos [...]” Essa teia urbana, formada pelos 455 municípios, que concentrava 57% da população em 2000 é o que o autor chama de “Brasil inequivocamente urbano”. O problema, então, estaria em distinguir entre os restantes 5.052 municípios existentes em 2000 aqueles que não poderiam ser considerados urbanos dos que se encontravam no “meio-de-campo”, em situação ambivalente. Veiga (2004) considera a densidade demográfica um critério importante, para permitir a diferenciação entre urbano e rural do restante dos municípios que se encontram fora dessa teia. É o indicador que melhor expressa a “pressão antrópica” e reflete as modificações do meio natural ou o grau de artificialização dos ecossistemas que resultam de atividades humanas, sendo o que de fato indicaria o grau de urbanização dos territórios. Com a combinação da densidade demográfica e do tamanho populacional, o autor rotula de pequeno porte os municípios que apresentam simultaneamente menos de 50 mil habitantes e menos de 80 hab/km² e de médio porte os que têm população no intervalo de 50 a 100 mil habitantes, ou cuja densidade supere 80 hab/km², mesmo que tenham menos de 50 mil habitantes. Diante dessa perspectiva, Veiga (2004) conclui que o Brasil é mais rural do que oficialmente se calcula. Assim, [...] o Brasil essencialmente rural é formado por 80% dos municípios, nos quais residem 30% dos habitantes. Ao contrário da absurda regra em vigor - criada no período mais totalitário do Estado Novo pelo Decreto-lei 311/38 - esta tipologia permite entender que só existem verdadeiras cidades nos 455 municípios do Brasil urbano. As sedes dos 4.485 municípios do Brasil rural são vilarejos e as sedes dos 567 municípios intermédios são vilas, das quais apenas uma parte se transformará em novas cidades. (VEIGA, 2004, p. 10). Face às novas dinâmicas sociais, atualmente em curso no mundo rural Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 5 brasileiro, é que o debate da construção social do espaço rural e urbano tem sido elaborado. Pesquisadores de diversas áreas do conhecimento (Sociologia, Economia, Geografia) buscam atribuir “novas” definições que contemplem a diversidade desses espaços e realçar um conjunto de novas perspectivas que passam a valorizar as dinâmicas sociais em um sentido mais amplo, incorporando indicativos diferenciados para as análises. Para Graziano da Silva (2002, p. 1) o rural, “[...] só pode ser entendido como um continuum do urbano [...]” Essa constatação assenta-se em observações empíricas nas quais foi presenciado que o meio rural brasileiro, nas últimas décadas, apresentou um processo de urbanização acelerada. Por um lado, essa urbanização é resultado de um real e expressivo incremento das atividades industriais na agricultura integrando-a ao restante da economia, a ponto de não poderem mais ser diferenciados os setores de fornecimento de insumos ou de compra de produtos, e, por outro do transbordamento do mundo urbano no espaço rural. O autor denomina as expressivas transformações que o espaço rural vem passando com a “urbanização do campo”. Diante desse cenário, Graziano da Silva (2002) concebe o rural brasileiro como “rurbano”. Nesse rural, as características que demarcam a polaridade dicotômica encontram-se diluídas pelo avanço da urbanização, sendo assim é uma questão de tempo para que este seja superado pelo transbordamento do mundo urbano e ocorra sua total transformação. Os estudos de Graziano da Silva (2002) assinalam, ainda, uma importante modificação nas formas de trabalho. Ao analisar o desempenho do emprego não-agrícola da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1992, o autor realça a emergência de profissões diferenciadas para o meio rural que antes eram exclusivamente urbanas. O estudo em questão evidencia a proliferação de sítios ou chácaras de lazer destinadas à classe média urbana, localizadas nas proximidades dos grandes centros urbanos, com atividades diversificadas, como criação de peixes, aves e outros pequenos animais, produção de chás, flores, plantas ornamentais, frutas e hortaliças e, também atividades de recreação e turismo como os pesque-pagues, hotéis-fazenda e pousadas. Esses estabelecimentos, além de proporcionarem uma alternativa de renda diferenciada para os trabalhadores agrícolas (caseiros e jardineiros), também contribuem para expulsar as “grandes culturas” das cercanias das cidades, da dependência dos agroquímicos e das máquinas Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 6 pesadas a estas associadas. Essa dinâmica contemporânea no rural brasileiro, formada por um conjunto de atividades relacionadas com os importantes tipos de ocupações não-agrícolas que caracterizam esses espaços de forma diferenciada, evidencia novas dimensões para o estudo do rural. Assim, para Graziano da Silva (2002), [...] o espaço rural não mais pode ser pensado apenas como lugar produtor de mercadorias agrárias e ofertador de mão-de-obra. Além de ele poder oferecer ar, água, turismo, lazer, bens de saúde, possibilitando a gestão multi-propósito do espaço rural, oferece a possibilidade de, no espaço local-regional, combinar postos de trabalho com pequenas e médias empresas [...] (GRAZIANO DA SILVA, 2002, p. 28). Já o estudo de Carneiro (1997) adverte que está cada vez mais difícil delimitar fronteiras claras entre cidades e os pequenos vilarejos ou arraiais, a partir de uma classificação sustentada em atividades econômicas ou mesmo em hábitos culturais. Todavia, a autora salienta que tal processo não resulta numa homogeneização que reduziria a distinção entre o urbano e o rural a um continuum dominado pela cena urbana, como a verificada na concepção de Graziano da Silva. Carneiro (1997) avalia que os efeitos da expansão da racionalidade urbana sobre o campo, provocada pela generalização da lógica do processo de trabalho e da produção capitalista e intensificados pelos mecanismos da globalização não podem, de forma alguma, ser tratados com negligencia. Assim, acredita ser precipitado concluir que tal processo resultaria na dissolução do agrário e na tendência a transformação uniformizadora da condições de vida do campo. Conforme a opinião de Carneiro (1997), não há como negar que atualmente existe uma maior aproximação entre os dois ambientes culturais. No entanto, essa integração não leva necessariamente a uma mudança generalizada da identidade local dos habitantes rurais. Um maior contato, como o que ocorre atualmente, pode até proporcionar um efeito contrário. Dessa forma, [...] não podemos entender a ruralidade hoje somente a partir da penetração do mundo urbano-industrial no que era tradicionalmente definido como ‘rural’, mas também do consumo pela sociedade urbano-industrial, de bens simbólicos e materiais (a natureza como valor e os produtos ‘naturais’, por exemplo) e das práticas culturais que são reconhecidos como sendo próprios do chamado mundo rural Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 7 [...] (CARNEIRO, 1997, p. 158, grifos da autora). Nesse caminhar de idéias, a geógrafa Blagli (2006) destaca o fato de ambos os espaços incorporarem atividades e estratégias de vida que não são próprias de suas lógicas, mas isso não significa que a tendência seja a completa homogeneização. “[...] Os espaços não se homogeneízam, pois as especificidades se mantêm. As diferenças são sustentadas, pois são justamente elas que caracterizam cada espaço. O desafio está em compreender essa heterogeneidade [...]” (BAGLI, 2006, p. 68). Carneiro (1998) pontua que a heterogeneidade social, ainda que produza uma situação de tensão, não provoca obrigatoriamente a descaracterização da cultura local. Na verdade, na perspectiva da autora, há a redefinição ou reelaboração de práticas e códigos culturais, a partir da relação de alteridade com o que é reconhecido como “de fora”, de maneira a poder consolidar a identidade local com base no sentimento de pertencimento de um dado lugar. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Há um consenso entre os pesquisadores Veiga (2004), Blume (2004), Abramovay (2000), Wanderley (1997) que essa normativa não corresponde à necessidade de fornecimento de subsídios para o entendimento de dinâmicas mais amplas que se vêm estabelecendo ao longo do processo de formação territorial do país, nas últimas décadas. Estudiosos como Campanhola e Graziano da Silva (2000), Graziano da Silva (2002), Reis (2006), Carlos (2004), Carneiro (1998; 1997), Resende (2007), Bagli (2006), Rua (2007), Veiga (2004), Blume (2004), Abramovay (2000) e Wanderley (1997) atribuem “novas” definições com o objetivo de captar a diversidade desses espaços e enfatizar um conjunto de novas perspectivas que valorizem as dinâmicas sociais num sentido mais amplo, incorporando indicativos diferenciados para as análises. Nos estudos de Campanhola e Graziano da Silva (2000), Graziano da Silva (2002) e Carlos (2004) enfatiza-se que no Brasil o campo é cada vez mais identificado com a cidade, submetido a homogeneidade nas formas econômicas e sociais de organização e da produção. Enquanto Carneiro (1998; 1997), Resende (2007), Bagli (2006), Rua (2007), Veiga (2004), Blume (2004), Abramovay (2000) e Wanderley (1997) defendem que o rural Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 8 não se “perde” frente às transformações porque passam a modernidade, ao contrário, reafirma sua importância e particularidade. Nessa perspectiva destaca-se os trabalhos de Maria José Carneiro (1997 e 1998). Diante dessas colocações, é cabível salientar que o aprofundamento do debate sobre o rural e o urbano, em cada uma das perspectivas (normativa e analítica) aqui expressas, teve o intuito de evidenciar os limites teóricos e práticos das mesmas. Salienta-se a importância em problematizar as noções de urbano e de rural e de se entender as suas relações. Pela análise das relações sociais, econômicas, políticas e culturais, existentes entre esses dois espaços é que o geógrafo e a Geografia poderão entender melhor as identidades, os territórios e as territorialidades existentes entre eles. O rural e o urbano extrapolam os limites espaciais tradicionais, uma vez que nem sempre, os territórios e as territorialidades são edificados respeitando os limites tradicionais de configuração espacial. O território não cabe dentro de uma divisão político-administrativa, na verdade ele deve ser entendido como um espaço socialmente construído por um determinado grupo social na produção e reprodução de sua existência. Por isso, acredita-se que para compreender a realidade brasileira é necessário que se tenha uma visão mais integradora das territorialidades em que o urbano e o rural se mesclam, definindo particularidades e singularidades que marcam cada localidade. Não se concorda, portanto, com a idéia de que o rural brasileiro é um continuum do urbano, mas sim que este é um espaço que influencia e é influenciado pelo urbano, que incorpora valores urbanos, mas mantém seus valores rurais. REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, R. 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