Capítulo 1. Introdução à Análise Química Profa Alessandra Smaniotto QMC 5325 - Química Analítica Curso de Graduação em Farmácia Turmas 02102A e 02102B Química Analítica • Ciência que estuda o conjunto de princípios, leis, métodos e técnicas cuja finalidade é a determinação da composição química de uma amostra natural ou artificial; • É o ramo da química que se ocupa da identificação e quantificação de um ou vários dos componentes químicos de uma dada amostra. Análise química A análise química pode ser definida como a aplicação de um processo ou de uma série de processos para identificar ou quantificar uma substância, ou os componentes de uma solução ou mistura, ou ainda, para determinar a estrutura de compostos químicos. Qualitativa x Quantitativa • Análise qualitativa Reconhecimento ou identificação dos elementos, compostos ou grupos químicos presentes em uma determinada amostra. (qualificar!) • Análise quantitativa Determinação das quantidades em que tais elementos, compostos ou grupos químicos se encontram na amostra. (quantificar!) Qual a importância da Química Analítica para a Farmácia? Aplicações da Análise Química no campo farmacêutico • Controle de qualidade de matérias primas e produtos; • Estudos farmacológicos, toxicológicos, farmacocinéticos e de estabilidade; • P&D de novos princípios ativos e medicamentos; • Desenvolvimento de kits de diagnóstico; • Fabricação de cosméticos e outros produtos de higiene pessoal; • Etc.. Como garantir a qualidade do medicamento? Para garantir a qualidade, o farmacêutico depende da Química Analítica! ①É necessário garantir a qualidade de cada um dos componentes; ②Durante o processo de elaboração, os parâmetros de produção devem ser checados constantemente; ③O produto final é submetido a uma série de análises para comprovar se está apto para administração. É encontrada a descrição de todas as análises às quais devem ser submetidos tanto as matérias primas quanto os produtos finalizados Critério de qualidade • Matérias primas e produtos importados; • Armazenamento. Método Analítico • Método analítico é o conjunto de operações físicas e químicas que permite identificar e/ou quantificar um componente ou grupo de componentes químicos (os analitos) no sistema material que os contém (amostra); • A complexidade da composição (matriz) da amostra determina o processamento ao qual deverá ser submetida para alcançar os melhores resultados para a análise que se tem por objetivo. • Analisam-se amostras e determinam-se substâncias! Aplicação de um método analítico • Para se aplicar um método analítico, é imprescindível discernir claramente qual é a amostra, quais são as características da matriz e qual é o analito; • Exemplo: comprimidos de KCl - determinação da pureza da matéria-prima KCl; - controle de qualidade de um lote de comprimidos de KCl. Princípios dos métodos analíticos • Reprodutibilidade de reações químicas adequadas; • Medidas elétricas apropriadas; • Medida de propriedades espectroscópicas; • Deslocamento característico de uma substância em um meio definido, em condições controladas; • Dois ou mais desses princípios em combinação. Classificação dos métodos analíticos Classificação de acordo com a natureza da medida final: •Métodos clássicos Envolvem a aplicação de uma reação química da qual o composto que se deseja determinar participa. •Métodos instrumentais Conjunto de procedimentos baseados na medida instrumental de alguma propriedade físico-química das substâncias que proporciona informação sobre a estrutura ou composição química. Métodos instrumentais • Em geral mais rápidos e sensíveis (aplicáveis em concentrações muito pequenas para serem determinadas pelos métodos clássicos); • É necessário calibrar o equipamento usando uma amostra de material de composição conhecida como referência; • Um analista nunca deverá investir tempo e recursos para obter mais exatidão e precisão em uma análise cujos resultados já estejam à altura do nível de exigência requerido com um procedimento mais simples. Classificação dos métodos analíticos Classificação de acordo com os dados gerados: •Análise aproximada quantidade de cada elemento em uma amotra, mas não os compostos presentes; •Análise parcial alguns constituintes da amostra; •Análise de traços constituintes presentes em quantidades muito pequenas; •Análise completa proporção de cada componente na amostra. Escala de trabalho • Macro: ≥ 0,1 g • Meso (semimicro): entre 10-2 e 10-1 g • Micro: entre 10-3 e 10-2 g • Submicro: entre 10-3 e 10-4 g • Ultramicro: < 10-4 g • Traços: entre 102 e 104 μg g-1 (100 a 10.000 ppm) • Microtraços: entre 10-1 e 102 pg g-1 (10-7 a 10-4 ppm) • Nanotraços: entre 10-1 e 102 fg g-1 (10-10 a 10-7 ppm) Escala de trabalho • 1 a 100%: constituinte principal • 0,01 a 1%: constituinte secundário • < 0,1%: constituinte traço • Massa da amostra entre 0,1 e 1 mg: 0,01%: análise de subtraço nível de microtraço: submicrotraço • Massa da amostra < 0,1 mg: nível de traço: ultratraço nível de microtraço: ultramicrotraço Sensibilidade, seletividade e especificidade • Seletividade e especificidade significam a capacidade de distinguir o analito de outras espécies na amostra (evitando interferências); • Um método específico deve ser capaz de medir com acurácia a quantidade da substância de interesse, sejam quais forem as outras substâncias presentes; • Um método seletivo pode determinar um grupo limitado de substâncias na presença de muitas outras substâncias; • A sensibilidade é a capacidade do método de responder de forma confiável e mensurável às variações de concentração do analito. Etapas de uma análise 1. Formular uma questão 2. Selecionar o método analítico 3. Amostragem 4. Preparo da amostra 5. Análise 6. Apresentação dos resultados 1. Formular uma questão Traduzir questões gerais em questões específicas que possam ser respondidas por meio de medidas químicas 2. Seleção do método Encontrar na literatura procedimentos apropriados ou, se necessário, desenvolver um novo procedimento para realizar a análise desejada. •Compêndio de métodos: Handbook of Analytical Chemistry (Meites); •Coleções de referência: Treatise on analytical chemistry (Kolthoff e Elving), Comprehensive analytical chemistry (Wilson e Wilson); •Métodos padronizados publicados por entidades oficiais: ASTM, British Standards Institution, ABNT. Revisões seriadas: • Analytical Chemistry, Fundamental Review (ACS): revisão de desenvolvimentos mais significativos nos últimos 2 anos nos mais diversos ramos da Química Analítica. • Analytical Chemistry, Application Review (ACS): trabalhos recentes em áreas específicas como análise de água, química clínica, produtos de petróleo, poluição do ar. Periódicos especializados: • Analytical Chemistry • Analytica Chimica Acta • Analytical Letters • Applied Spectroscopy • Journal of Electroanalytical Chemistry • Spectrochimica Acta • Talanta • The Analyst www.periodicos.capes.gov.br Fatores a serem considerados na seleção do método • Exatidão x custo. • Quantidade de amostra disponível: métodos clássicos e métodos instrumentais. • Complexidade da amostra e possíveis interferentes. • Teor do analito na amostra. • Recursos disponíveis no laboratório, analíticos e reagentes químicos; • Experiência do analista. equipamentos 3. Amostragem • É o processo de seleção do material a ser analisado; • Coleta de uma quantidade suficiente de um material que seja representativo da composição química de todo o material, evitando contaminações e preservando adequadamente o analito. • Etapa inicial crítica – pode significar o sucesso ou comprometimento de todo o processo analítico “porcaria gera porcaria”; Construindo uma amostra representativa • Material aleatoriamente heterogêneo As diferenças de composição ocorrem aleatoriamente e em uma estreita escala; Para coletar uma amostra aleatória, devemos dividir visualmente o material em frações e coletar porções de um número desejado de frações escolhidas ao acaso Construindo uma amostra representativa • Material heterogêneo segregado Nesse material regiões diferentes apresentam composições diferentes; A amostra complexa representativa do todo é chamada de compósito. Obs: um material é heterogêneo se suas partes constituintes podem ser distinguidas visualmente ou com auxílio de um microscópio (ex. carvão, tecidos animais e solo). 4. Preparo da amostra É o processo em que uma amostra representativa é convertida em uma forma apropriada para a análise química. ANALITO Sinal Analítico Formação de precipitado Variação de massa Evolução de gás Variação de volume Mudança de cor Variação de temperatura Fatores a serem considerados na preparação da amostra • Natureza química do analito; • Concentração do analito na matriz; • Caracterísitica da matriz (homogeneidade, estabilidade, volatilidade, solubilidade) • Natureza química dos interferentes; • Características do método analítico selecionado. A amostra é solúvel? sim Realização da dissolução química Propriedade mensurável? não Mudança da forma química sim Eliminação das interferências (clean-up) Análise não Algumas técnicas empregadas no preparo • Diluição; • Extração sólido-líquido; • Clarificação; • Destilação; • Incineração; • Digestão. Réplicas • Réplicas de amostras são as porções de um material que possuem o mesmo tamanho e que são tratadas pelo mesmo procedimento analítico exatamente da mesma forma; • Melhoram a qualidade dos resultados e fornecem uma medida da confiabilidade; • São geralmente expressas em termos da média e vários testes estatísticos são executados para estabelecer a confiabilidade. Eliminação de interferências • Interferência ou interferente é uma espécie que causa erro na análise pelo aumento ou atenuação da quantidade que está sendo medida; • Buscar diferenças em propriedades físicas e químicas; • Não há regras claras e rápidas para a eliminação de interferências, pode ser o aspecto + crítico da análise; • Técnicas e reações que funcionam para um único analito são denominadas específicas; as que se aplicam a poucos analitos são chamadas seletivas. 5. Determinação analítica A condição fundamental é que a propriedade X que está sendo medida deve variar de forma conhecida e reprodutível com a concentração do analito. CA α X CA = kX O processo de determinação de k é chamado calibração. 6. Apresentação dos resultados • Caderno de laboratório - Descrever o que foi feito; - Descrever o que foi observado; - Estar escrito de maneira compreensível para outros. • Representação de dados numéricos Os resultados estão sujeitos a alguma incerteza e é necessário estabelecer a grandeza da incerteza para que os resultados tenham algum sinificado. Média ± Desvio Padrão Interpretação dos resultados • A matéria prima está apta para utilização na elaboração das formulações correspondentes? • Deve ser efetuada alguma correção no processo tecnológico de fabricação do medicamento? • O medicamento produzido está apto para distribuição à população ou exportação? • O novo fármaco apresenta impurezas em níveis de concentração que possam ser prejudiciais à saúde? • O medicamento armazenado manteve a sua qualidade e pode ser distribuído? Habilidades a serem desenvolvidas ao longo do curso • Conhecer e identificar os métodos clássicos de análise quantitativa; • Aplicar os princípios, conceitos e leis em que se fundamentam esses métodos; • Interpretar corretamente a linguagem analítica utilizada na literatura farmacêutica; • Avaliar as possibilidades de aplicar diferentes métodos de análise de acordo com as características físico-químicas de uma determinada amostra; Habilidades a serem desenvolvidas ao longo do curso • Ser capaz de realizar os cálculos necessários para a execução da análise e determinação dos resultados e expressá-los corretamente; • Interpretar cientificamente os resultados e estabelecer conclusões correlacionadas com os objetivos iniciais da análise; • Detectar as possíveis fontes de erro em uma determinada análise e propor a melhor forma de minimizá-las.