o rural e o urbano como produto do agronegócio em balsas

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O RURAL E O URBANO COMO PRODUTO DO AGRONEGÓCIO EM
BALSAS/MA.
Francisco Lima Mota1
Vera Lúcia Salazar Pessôa2
RESUMO: As transformações ocorridas no município de Balsas (MA) são decorrentes
das mutações significativas no que tange às suas estruturas produtivas e reorganização
social nas distintas porções do território brasileiro. Nesse sentido, o objetivo desse trabalho
é compreender as transformações socioespaciais ocorridas na cidade de Balsas com a
difusão da agricultura modernizada, após a chegada dos agricultores do Centro-Sul. Outro
aspecto para refletir são as causas e consequências da dinâmica recente do agronegócio. A
atividade encontra sustentáculo na modernização agrícola, decorrente da reorientação da
economia nacional desde 1980, sendo, ainda, responsável pela produção de novas
territorialidades no espaço urbano da área em estudo.
Palavras -chave: Campo. Cidade. Território. Agronegócio.
INTRODUÇÃO
As distintas porções do território brasileiro têm experimentado mutações
significativas no que tange às suas estruturas produtivas e reorganização social. De acordo
com Santos (2001), trata-se de uma “reorganização produtiva do território”. Novos arranjos
espaciais têm se apresentado no território brasileiro. Eles têm sugerido a necessidade de se
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de
Uberlândia (UFU), membro do Núcleo de Estudos Agrários e Territoriais (NEAT) e do
Laboratório de Geografia Agrária (LAGEA). Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa e
ao Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico do Maranhão- FAPEMA. E-mail:
[email protected]
2
Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação em Geografia/IG/UFU/MG, membro
do Núcleo de Estudos Agrários e Territoriais (NEAT) e do Laboratório de Geografia
Agrária (LAGEA). E-mail: [email protected]
'Olhares sobre o processo investigativo'
identificar e analisar os projetos e atores responsáveis por estas mudanças e os resultados
obtidos desses processos.
O território brasileiro não escapa à referida lógica, ou seja, à racionalidade
capitalista financeira contemporânea. Ele procura responder às demandas modernizadoras
impostas pelo capital especulativo internacional. O país compreende que a conquista de um
“lugar” no mundo só pode se dar em razão da sua modernização. Ao considerar os diversos
setores da produção, observa-se que as regiões brasileiras incorporam diferentes
externalidades visando à modernização da nação. Conforme Elias (2006b, p. 71),
Na busca pela compreensão do processo de urbanização e das transformações
intra - urbanas vigentes nos pontos luminosos de crescimento econômico
associadas à agricultura científica e ao agronegócio nas fronteiras agrícolas da
fruticultura e da soja no nordeste, foram identificados vários processos que se
repetem, apesar da diversidade da realidade econômica, socioambiental e
cultural presente no semi-árido e nos cerrados nordestinos.
O novo padrão da agropecuária brasileira fundamentado, na maximização dos
lucros e na intervenção direta dos atores políticos e econômicos do sistema produtivo
internacional, tem originado inúmeros conflitos. No caso específico da agricultura brasileira
há um consenso de que sua modernização instalou-se a partir do início de 1970 e a
produção de grãos, em alta escala, tem traduzido uma das peculiaridades desse processo
através da difusão da soja nas regiões de Cerrado com destaque para o Centro-Oeste e,
posteriormente, as áreas úmidas da Amazônia. Para Bernardes (2005, p. 325) “é fato
conhecido que a agroindústria da soja vem se expandindo em Mato Grosso desde 1985, se
caracteriza por ser grande absorvedora de tecnologia, suscitando um maior conhecimento
das articulações que possibilitam o alcance das novas áreas de expansão das culturas de
cerrado”. Com o advento da mecanização agrícola, esses complexos migram para outras
regiões brasileiras, como a Norte e Nordeste. Dentre elas, situando-se numa escala menor,
se comparados aos antigos padrões de localização das regiões geoeconômicas do país,
encontramos a Microrregião Gerais de Balsas, situada na Mesorregião Sul Maranhense.
Discutir a dinâmica campo/cidade numa localidade onde as transformações
socioespaciais e econômicas são nítidas é um caminho para compreendermos a atual
configuração do município de Balsas/ MA, como resultado direto do meio técnicocientifico -informacional na agricultura. Santos (2001) afirma que essa é a lógica de uma
“reorganização produtiva do território”.
'Olhares sobre o processo investigativo'
A preocupação, aqui, se centra na totalidade dos processos motivadores das
mudanças ocorridas em Balsas/MA, com o advento da modernização da agricultura. Assim,
o presente trabalho objetiva compreender as transformações socioespaciais ocorridas na
cidade de Balsas com o advento e difusão da agricultura modernizada.
1- RELAÇÃO CAMPO CIDADE: discussões preliminares.
Campo e cidade na tradição do materialismo histórico se distinguem e interrelacionam de acordo com o modo pelo qual se divide e organiza o trabalho social e, assim,
se estabelecem as formas de propriedade, fundamentalmente a propriedade da terra. São
partes de um todo, constituídas por relações sociais e de apropriação dos recursos
disponíveis e desigualmente distribuídos no espaço. Dessa discussão inicial, extraímos que
o campo e a cidade são produtos da ação das sociedades humanas, mas, simultaneamente,
são produtos que comportam as próprias condições materiais da reprodução de sujeitos
sociais que eventualmente possa se encontrar em oposição no interior dessas mesmas
sociedades.
Para Corrêa (1989, p. 21), "a relação campo-cidade ao longo da história, tem sido
estudada por historiadores, antropólogos, sociólogos, economistas e geógrafos, porém, cada
área da ciência com o seu objetivo". Pode-se verificar que a diversidade de contribuições
direcionadas ao estudo da relação campo/cidade, rural-urbano não se esgotou e tampouco
há um consenso entre os pesquisadores do tema.
Reafirmando a tese de Corrêa, Vilela (2000, p. 2) reforça ainda que
[...] disciplinas que até agora trataram a questão do desenvolvimento do campo
do ponto de vista setorial, ao se disporem a adotar uma perspectiva territorial,
terão que praticar este exercício de critica ao seu arcabouço conceitual, buscando
uma reestruturação teórica e metodológica que se proponha incorporar à sua
perspectiva analítica, o conjunto das transformações sócio - espaciais que têm
colocado os diversos espaços sociais muito mais próximos do que já foram até
hoje.
A discussão entre o "rural" e o "urbano" ganha, nos dias atuais, um
direcionamento mais profundo no campo das ciências sociais e, esse novo direcionamento
se dá no campo dos debates teórico-metodológicos que a temática necessita. De acordo com
Schneider e Blume (2004) este debate sobre o novo rural no Brasil, ou novas ruralidades
'Olhares sobre o processo investigativo'
pode ser dividido em duas perspectivas distintas, mas não antagônicas entre si. A primeira
focaliza mais os aspectos demográficos e econômicos e propõe que se analise de modo
separado, a dinâmica social do espaço rural dos processos econômicos e produtivos da
agricultura ou da atividade agrícola scricto sensu. Ou seja, a ruralidade seria muito mais
ampla e complexa do que a atividade econômica agrícola que é praticada. A segunda
perspectiva de análise da ruralidade focaliza mais acentuadamente aspectos sociológicos e
etnográficos relacionados às formas de construção e redefinição das identidades sociais, da
cultura, da sociabilidade e dos modos de vida.
Partido da idéia de Schneider e Blume, Giddens (2001, p. 115) afirma que a
sociedade recebe a partir desse momento uma nova dinâmica no sentido de que
[...] na sociedade agrária, o trabalho, essencial mais nada prestigioso, era
predominantemente físico, um trabalho manual, em geral ligado à produção
agrícola. Na sociedade industrial avançada, tudo isso mudou O trabalho físico,
em qualquer forma pura, praticamente desapareceu.
Ainda em Schneider e Blume (2004), a retomada das reflexões sobre a ruralidade,
quer seja pelos cientistas sociais ou formuladores de políticas públicas, chama a atenção
devido ao fato de que até bem pouco tempo, notadamente o inicio da década de 1990, este
debate era tido como superado por muitos estudiosos.
E esta discussão sobre a dualidade campo- cidade acaba ganhando, no decorrer da
própria história, uma conotação local no que tange a compreensão do espaço brasileiro,
que vê na urbanização da sociedade um conjunto de transformações sociais relacionadas à
intensa migração do campo para a cidade.
A partir de então, passou-se a advogar que a função do campo seria
univocamente a produção de alimentos e matérias-primas, em quantidade maior possível e
a preços mantidos nos mais baixos patamares, de modo suficiente para abastecer o
crescente contingente de operários nas indústrias e de trabalhadores urbanos em geral, bem
como garantir o suprimento de capital circulante nestas indústrias.
2- ENTENDENDO O AGRONEGÓCIO E O TERRITÓRIO NO PROCESSO DE
MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA.
Não há duvidas de que a expansão e consolidação de um sistema de
agronegócios por todo o globo terrestre constituíram uma das manifestações mais
'Olhares sobre o processo investigativo'
importantes dos processos de globalização no mundo atual e de que têm se implantado de
forma significativa na América Latina. Trata-se de um processo que busca acolher distintas
externalidades modernizadoras.
Ao abordar a modernização agrícola e inserir no rol da discussão, o papel
desempenhado pelo agronegócio, Elias (2006a, p. 221) entende que
Nas últimas quatro décadas, os setores econômicos vêm passando por intensa
reestruturação produtiva. Com a globalização da economia verificam-se
profundas transformações no processo produtivo associado à agropecuária e
reestruturam-se seus sistemas de ação e de objetos mediante a introdução da
ciência e da informação. Resultou, então, um novo modelo técnico, econômico e
social de produção agropecuária, ao qual aqui chamaremos de agricultura
científica, oferecendo novas possibilidades para a acumulação ampliada do
capital.
E uma das características desse processo de globalização é a difusão geográfica
das relações de mercado capitalista e sua expansão a novos âmbitos de reprodução social. É
justamente, no âmbito da agricultura, a que nos referimos mais especificamente, pois esta
compreende a produção agropecuária, sua comercialização, o processamento industrial, a
distribuição e o consumo final dos alimentos.
Com tais transformações, a agricultura passou a ser um empreendimento
totalmente associado à racionalidade do período, apresentando as mesmas possibilidades
das demais atividades para a aplicação de capital e para auferir alta lucratividade, e tornouse mais competitiva, permitindo maior valorização dos setores econômicos. Trata-se de um
processo que busca acolher distintas externalidades modernizadoras.
O espaço rural brasileiro, a partir desses novos vetores, ganhou uma importância,
principalmente com a criação e consolidação dos Complexos Agroindustriais (CAI).
Autores como a Graziano da Silva, (2001), Bernardes (1996), Rua (2002) preferem
denominar esse processo de modernização e/ou industrialização do campo.
A modernização da agricultura está aliada à internacionalização da economia
brasileira nos últimos anos, a partir da década de 1970 e início da década de 1980,
indicando a emergência do agronegócio nos cerrados do país, com a participação direta dos
'Olhares sobre o processo investigativo'
sulistas, principalmente, os gaúchos, que trouxeram consigo a soja. A esse respeito Ross
(2003, p. 469) salienta:
As exportações da soja foram incentivadas pelos governos militares pós-64 com a
finalidade de ampliar o comércio internacional do Brasil com a CEE e com o
Japão. Toda a expansão da cultura da soja na região do cerrado brasileiro está
relacionada com os incentivos oriundos do Prodecer (Programa Nipo-brasileiro
de Cooperação para o Desenvolvimento do Cerrado), assinado em 1974 entre o
governo brasileiro e o japonês.
Considerando o advento da agricultura mecanizada, algumas discussões são
relevantes. Dentre elas as que mencionam processos de mudanças, partindo da idéia de uma
agricultura que utiliza novos padrões (introdução do meio técnico científico informacional)
e heranças naturais (solo, clima e vegetação) para uma agricultura mais artificial, ou seja,
extrema dependência da técnica. Santos (1996) entende que essas transformações, ocorridas
no espaço agrário brasileiro, caracterizado pela substituição dos sistemas agrícolas
tradicionais e pela introdução de atividades agrícolas interligadas às técnicas modernas,
foram possíveis com a materialização do meio técnico científico.
O novo padrão da agricultura brasileira, fundamentado na maximização dos
lucros e na intervenção direta dos atores políticos e econômicos do sistema produtivo
internacional, tem originado inúmeros conflitos. No caso específico da agricultura brasileira,
há um consenso de que sua modernização instalou-se no início de 1970 e a produção de
soja em alta escala, uma das peculiaridades desse processo, difundiu-se nas regiões de
Cerrado com destaque para o Centro-Oeste e, posteriormente, para as áreas úmidas da
Amazônia.
Dessa forma, o que se pode extrair da nova ordem econômica vigente no campo
brasileiro são as múltiplas consequências, tanto de ordem positiva quanto negativa.
Observa-se, porém, que não se divulgam os aspectos negativos da agroindústria da soja. O
que era, até então, uma área com atividades tipicamente rurais, deu lugar a um
conglomerado de técnicas, que extrapola os limites naturais que estavam alocados no
espaço, agora, cedido ao agronegócio. Áreas com potencialidades físicas, ou seja, com as
condições adequadas (relevo plano, água abundante, solos propícios aos processos ao
desenvolvimento de técnicas e melhoramento dos terrenos para o plantio de soja) e,
principalmente, com preços relativamente baixos, têm sido apropriadas, pelo capital, para a
'Olhares sobre o processo investigativo'
difusão do agronegócio. Ao estudar a dinâmica do agronegócio da soja nas áreas de cerrado
até então inexploradas pelo capital especulativo (no caso específico de seu estudo) Mota
( 2007, p.5) afirma que
[...] quando se analisam as transformações vivenciadas no município de Balsas
percebe-se que alguns fatores propiciaram a instalação de uma agricultura
mecanizada e ao mesmo tempo para a concentração de terras: o preço baixo da
terra, aliado à topografia plana da região são entendidos como elementos
fundamentais nesse processo, porém, eles não são os únicos elementos que
fizeram o Sul do Estado do Maranhão emergir como uma fronteira econômica.
O autor ainda reforça que
[...] em se tratando dos impactos sociais verificou-se que o crescimento
econômico não contemplou uma melhoria nos indicadores sociais do município,
pelo contrário, fatores como concentração fundiária, êxodo rural, crescimento
desordenado da cidade confirmam que a introdução do agronegócio na região
está longe de se configurar como desenvolvimento social. (MOTA, 2007, p.17).
A inserção do sul do Maranhão, mais especificamente da região de Balsas, no
processo de expansão da cultura da soja ocorreu após a mesma ter percorrido os estados da
região sul, os quais integram a chamada “região tradicional de cultivo”, segundo
denominação da EMBRAPA (1981, p.18) por corresponder ao desenvolvimento inicial do
cultivo, e a seguir ter avançado no cerrado do Planalto Central, expandindo-se nos estados
de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás.
O território Sul do Estado do Maranhão, com a chegada da soja, passou a contar
com novas especificidades que vão desde o uso de técnicas agrícolas, migração campocidade, implantação de empresas financeiras, lojas destinadas à comercialização produtos
agrícolas até aos fixos que favorecem a circulação da produção.
3- A CIDADE DE BALSAS NO CONTEXTO DA MODERNIZAÇÃO DA
AGRICULTURA.
As áreas de cerrado, nos últimos anos (final dos anos de 1970 e inicio da década
de 1980), tornaram-se palco da introdução direta do capital tanto público quanto privado no
que tange à modernização da agricultura e, consequentemente, da construção de novos
'Olhares sobre o processo investigativo'
territórios devido à atividade agrícola. A Mesorregião Sul Maranhense e, de modo
particular, a Microrregião dos Gerais de Balsas onde se encontra a cidade de Balsas/MA,
foi inserida nesse processo “modernizador”. A Microrregião viu, a partir da década de 1970,
a chegada, com maior intensidade, de agropecuaristas oriundos, especialmente, do CentroSul do país, particularmente, os sulistas, instalarem-se nessa região para difundir a
agricultura vinculada à produção de grãos
Embora o ano de 1974/75 seja o marco da chegada do sulista nesta localidade,
sua presença só passou a ser significativa após 1980, com representativa a parcela de
migrantes de todo o Centro-Sul que aí chega. Sobre esse assunto, Haesbaert (1997, p.21)
salienta:
A década de 70 representou o grande boom na expansão dos sulistas pelo interior
do país, tanto pelo agravamento da concentração de terras no Sul e pelos
programas estatais geoestratégicos estimulando a ocupação da Amazônia, quanto
pelos investimentos em tecnologia agrícola que estimularam a agricultura,
especialmente de soja, nos cerrados.
É importante ressaltar que o preço baixo da terra, aliado à topografia plana da
região, são entendidos como fundamentais nesse processo, porém, eles não são os únicos
elementos que fizeram o Sul do Estado do Maranhão emergir como uma fronteira
econômica. Não obstante, são os principais elementos que respondem pelas causas da
migração de agricultores do Centro-Sul em direção a esta localidade. Em se tratando do
relevo da região, verifica-se uma topografia plana favorável ao uso de máquinas agrícolas.
A idéia básica deste perfil de relevo é demonstrar que os aspectos fisiográficos tiveram um
papel relevante na instalação da agricultura mecanizada na região.
O que temos que atentar também é que embora os fatores físicos sejam
importantes para a instalação da agricultura comercial, eles não respondem em suma pelo
movimento total dessa dinâmica impressa na paisagem. Assim, constatamos que a formação
de um espaço supõe a acumulação de ações localizadas em diferentes momentos. Para
Matos (2007), a modernização da agricultura no cerrado, além de modificar as relações no
processo produtivo, contribuiu também para o processo de urbanização das cidades. Nesse
sentido, Elias (2007) compreende que a configuração do espaço urbano nas áreas de
introdução sofreu uma reestruturação bem significativa a ponto de se verificar que
'Olhares sobre o processo investigativo'
Uma das consequências da reestruturação produtiva da agropecuária no Brasil é o
processo acelerado de urbanização e crescimento urbano, promovidos, entre
outros, pelas novas relações entre o campo e a cidade, desencadeadas pelas
necessidades do consumo produtivo agrícola, que cresce mais rapidamente do
que o consumo consumptivo, denotando verdadeiras cidades do campo.
Ao reforçar essa discussão e colocá-la no rol desse questionamento, Mota
(2007. p. 6 ) reafirma que
Balsas, por sua vez, não fugiu a esta regra, uma vez que a introdução da
tecnologia no campo, a partir de meados dos anos 1970, foi acompanhada ao
mesmo tempo de financiamentos por instituições bancárias como o Banco do
Brasil, Banco do Nordeste, Banco da Amazônia e mais recentemente pelas
multinacionais já presentes na cidade, como a Cargil, Bunge e Multigrain,
responsáveis pela maioria dos incentivos à produção da soja, conseqüentemente
pela atração populacional que a cidade começa a assistir.
Reafirma-se, portanto, a necessidade de se entender a lógica da interação entre o
urbano e o rural como um processo de territorialização provocado pela modernização
agrícola implementada pelo sulista através da atividade do agronegócio. Trata-se do
encontro e conflito gerados entre áreas de costumes tipicamente rurais e a predominância
do capital. Haesbaert (2005) chama atenção para a necessidade de se compreender esses
conflitos ou a reorganização do espaço para além do processo produtivo (econômico). Eles
também expressam conteúdos de natureza cultural e política.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa dicotomia urbano/rural remonta a antiguidade, quando o homem deixou de
ser nômade ocupando um “lugar" (idéia inicial da ocupação urbana, posteriormente,
substituído por espaço numa escala mais global de ocupação) e passou a acompanhar o
desenvolvimento natural dos produtos agrícolas e dos animais.
No contexto brasileiro, as mudanças no espaço rural foram desencadeadas pelo
processo de modernização que teve inicio na década de 1950, porém a transformação, de
forma mais intensa e ampla, ocorreu após o governo militar (1964 a 1985 ). O processo de
industrialização da agricultura iniciou-se após a consolidação da indústria de bens de
capital ou da indústria pesada no país.
A dinâmica do agronegócio constitui uma relevante questão no âmbito do
movimento recente de algumas regiões brasileiras. Dentre elas, situando-se numa escala
'Olhares sobre o processo investigativo'
menor, se compararmos às grandes regiões geoeconômicas do país, conforme destacado,
encontramos a Microrregião Gerais de Balsas, situada na Mesorregião Sul Maranhense,
objeto de estudo desse trabalho
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